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PROJETO NURC-RJ

RECONTATO:
Inquérito 096 (masculino / 45 anos)
Tema: Vestuário
LOCAL/DATA: Rio de Janeiro, 18 de novembro de 1992
TIPO DE INQUÉRITO: Diálogo entre informante e documentador
DOCUMENTADOR: M A


Clique aqui e ouça a narração do texto 


DOC. - Bem, o tema [ você já deve tá] sabendo né, aí vem, você falou agora que, que a sua esposa é que ia ser boa pra, pra falar de vestuário, por quê? Como é que, o senhor descreveria a sua esposa em relação à roupa?
LOC. - Porque ela é uma pessoa que, que curte, que valoriza-se né, essa, essa, produção, é uma pessoa que se cuida que, que gosta de, ir ao shopping center comprar, roupas e aquele negócio, ela tá sempre, querendo ficar atualizada em relação à moda.
DOC. - Como é que é o ...
LOC. - Critica o meu modo de vestir, acha que eu não sou, sou relaxado com a, na verdade ela é que me veste né. Eu não vou a, assim, eu sou tão desligado dessas coisas, não procuro ir a loja comprar etc, quando chega no limite que eu, fico, realmente sem, sem, roupa como agora por exemplo, há coisa de um mês eu fui comprar roupa, que há dois anos eu não comprava, então, é assim, mas ela não, ela valoriza muito, isso, tá sempre atrás, da moda, da última moda, coisa desse jeito.
DOC. - E, como é que o jeito dela se vestir, como é que o senhor descreveria, a moda dela?
LOC. - Bom é um jeito que, que vai acompanhando, não só a moda mas também o próprio, amadurecimento né, é uma pessoa que, por exemplo, quando nós nos conhecemos, ela curtia, a moda da época, que era, mini-saia. Então ela procurava se vestir, daquela maneira. Hoje em dia ela se veste bem, eu acho que ela se veste bem e, vai acompanhando quer dizer, hoje, de uma forma mais solene, de se vestir mas, nem por isso deixa de ser uma coisa assim, é, atualizada, última moda, eu acho que ela se veste bem.
DOC. - E o que que o senhor chama, moda solene de se vestir?
LOC. - Não, solene no sentido que vai ... a pessoa que, quer dizer, há vinte anos atrás por exemplo, era uma, era uma pessoa né, jovem, é, hoje, ela já tem os seus, seus quarenta anos. Então, você não pode se vestir da mesma maneira. Eu acho que é, juntamente com o amadurecimento da pessoa também vai, vai amadurecendo outras coisas né, vai acompanhando esse, amadurecimento e a forma que, de se vestir, é uma das coisas que, fazem parte desse amadurecimento, né. A pessoa não vai ter, como se vestir como um jovem de vinte anos tendo quarenta e, poucos anos. Então eu acho que é isso quer dizer, ela, acompanha a linha da, do tempo né.
DOC. - Mas eu queria saber assim, se o senhor fosse descrever o, por exemplo: Ah o senhor vai se encontrar com a minha esposa lá no aeroporto! A pessoa que não conhece ela, como é que o senhor: Ah! Ela vai estar vestida assim ... Como é que ela estaria vestida?
LOC. - É o tal negócio, é, agora, acho que eu tô até me lembrando da entrevista de vinte anos atrás, ou seja, eu não tenho, é, diria até, é, palavras vocabulário pra poder descrever ela. Ela tá vestida com, com estampado, de, de seda, um outro tecido quer dizer, eu até desconheço a, os detalhes né e tal. Mas tentando ser, responder a sua pergunta, seria uma pessoa, que estaria com uma roupa assim, uma né, uma roupa muito, um tecido, que não é uma coisa, aí, quando eu falo solene, não quer dizer que seja também uma coisa, de luto né, a pessoa, vestida assim. Não, ela estaria, num, tecido vistoso, é, provavelmente em, estampado, um corte moderno, uma coisa que chamaria certamente atenção, tá, essa é uma forma, seria o melhor que eu poderia dizer a respeito.
DOC. - É, e, por exemplo, você falou aí que ela, ela é médica né. Ela tem, uma roupa especial pra ir trabalhar?
LOC. - Não, ela não, ela trabalha, quer dizer, eu acredito que, lá no hospital, ela coloque algum, avental, algum jaleco né. Mas, é, ela sai de casa pra, trabalhar com o mesmo, com as mesmas roupas que ela iria, por exemplo, fazer compras, num lugar, levar, as crianças em algum lugar, à escola etc., quer dizer ela não tem uma roupa, específica para o trabalho ou pra os outros lugares. Ela tem um vestuário que é, que é, padrão, né. Serve pra, vários propósitos.
DOC. - Eu ia perguntar sobre isso, e, bem, [ ?] como é que o senhor descreveria por exemplo, é o seu modo de vestir, é, nas várias situações do dia, quer dizer, quando o senhor vai trabalhar, quando o senhor tá em casa, quando o senhor vai dormir, tipo quais são as peças, quais são, como é que o senhor descreve?
LOC. - Não não é possível porque, eu tenho, quer dizer, pro trabalho eu procuro, uma roupa mais cômoda possível né mas. Então geralmente é uma, calça jeans, como essa que eu tô usando aqui, é, sapato, confortável, quer dizer, tipo, um mocassim, uma coisa que, realmente, que dê pra, pra mim andar, que cê já notou que nesses corredores aqui a gente vai de um lado e pro outro, no fim do dia a gente andou alguns quilômetros né, então a gente anda muito aqui, então eu digo que a minha roupa é , é assim, é um dia eu uso uma camisa, que é a primeira que eu pego no, no guarda-roupa. Às vezes, eu tenho até que, voltar e tirar, porque quando eu chego na sala ela diz: Mas você vai com essa combinação e tal! [ ? ] Não, mas tá ruim? Já, eu volto e atendo a, não só minha esposa, meu filho também, critica: Ah pai, você vai assim! Então, então eu volto, e, mudo a, ponho a calça ou a camisa pra, satisfazer assim a, ao povo doméstico né, porque eu acredito que se eles reclamam os outros que tão lá fora, também devem, então para o trabalho é assim. Em casa, dependendo da estação né, eu, por exemplo, agora aqui nesse clima, quente, eu chego e tiro a roupa, é, uso uma bermuda, né, já nos climas, no clima, na estação mais fria, eu uso, um desses jogging, né, um macacão, e eu procuro. Eu uso a roupa pra, pra, me proteger da né da estação. Se tá calor eu quero ficar com uma roupa leve, não importa o tecido, não importa. Se tá frio, eu quero ficar bem agasalhado. Por exemplo, eu detesto frio, é. Ontem, vim, cai na asneira de vir sem, pulôver, passei mal aqui, porque esse Fundão, ele é, muito, né, no dia que, eles só trabalham com os extremos, exatamente, são paredes grossas, [ muito espaço ]? Então, ontem eu me senti mal né, então, hoje eu não esqueci de trazer um pulôver, que foi o primeiro que eu peguei. Se a minha mulher tivesse em casa ia dizer: Ah você vai com esse pulôver?! Que tem mais de quinze anos que tá lá na sala, todo surrado. Mas o meu problema é o frio. Eu não quero sentir frio. Então, eu vim com aquele pulôver mas não sei se ele tá bonito, se ele tá combinando, eu sei, você, por exemplo, né, uma camisa, verde né de, esse tecido é o que, viscose né?
DOC. - [ É ]
LOC. - Viscose, com aquele pulôver, eu acho até que combina, mas enfim. Como eu disse eu não procuro, eu não me, pauto por essas, combinações, por tecido cores etc., é a funcionalidade que me interessa, quando eu, penso em roupa tá.
DOC. - É, mas não tem, tem algum tipo de tecido que o senhor prefira?
LOC. - Tem, tem, isso sim, mas não é que eu prefira, porque eu não me dou bem com tecidos sintéticos, tá, então eu, por exemplo quando eu vou comprar roupa eu realmente procuro ver se a proporção de, fibras, sintéticas, porque realmente, me incomoda. Eu gosto muito de algodão, se pudesse ser, tecido assim, todo de puro algodão eu, eu gosto porque, realmente é o que me me, dentro no meu, princípio de me sentir bem, é o que mais me dá conforto, então, o meu critério é evitar fibras, sintéticas, tá?
DOC. - As fibras sintéticas, quais delas?
LOC. - É, tipo nylon, né, essas fibras que, não são de, é produtos, naturais né, tipo algodão.
DOC. - E, no inverno, teria algum tipo de tecido também especial?
LOC. - Não, é, tem, lã, tecido, né.
DOC. - Lã é perigosa. Porque dizem que a lã natural é mais perigosa que a sintética.
LOC. - É, não sabia disso não.
DOC. - Normalmente as pessoas têm alergias né.
LOC. - Eu não tenho, a lã não tenho.
DOC. - E, bem, o senhor falou aí que morou em Londres, né? O senhor poderia é, falar, então do jeito de se vestir certamente as pessoas lá não se vestem do mesmo jeito. Como é que o senhor compararia, quais as diferenças que o senhor notou, sei lá, de repente, nunca pensou nisso né? Falando agora ...
LOC. - Não, não é não. É até interessante, eu por exemplo, é, apesar de eu, ter esse comportamento em relação à roupa, digamos, não me produzir né, não cuidar disso, eu valorizo as, pessoas que fazem, que se produzem, quer dizer, eu acho isso interessantíssimo, faz parte de, é, digamos assim, de uma sensualidade, né, normal das pessoas, então, uma coisa, que, me chamou muito a atenção, comparando Londres com o Brasil, que aliás dá pra comparar em vários aspectos né, cultura, forma de alimentação e forma de se vestir também, é que lá eles são, muito mais parecidos comigo, quer dizer, eles, colocam a roupa pra se proteger do frio. Não interessa a combinação, às vezes, eles usam aquelas roupas, por meses a fio, entendeu, não tão preocupados se aquilo tá cheirando bem, se tá limpinho, eles querem né, isso você sente muito bem, por exemplo, no metrô, que é um lugar fechado é uma coisa, às vezes, é insuportável, mas, então, eu acho que isso faz uma diferença marcante. Aqui no, Brasil, particularmente no Rio, mas acho que isso vale pro Brasil, inteiro, as pessoas gostam de se vestir, gostam de, não é, porque gosta de chamar atenção, acho que isso faz parte de uma sensualidade do povo brasileiro né, acho que a maneira de, mostrar, tô aqui, tô vivo, tô, e o inglês não tem isso não, não tem isso, mesmo, e isso se reflete também na roupa, quer dizer é uma, um povo né que, que não tem essa sensualidade, ele não valoriza isso, não, sabe, de chamar atenção, de ser notado, entendeu, pelo menos, pelas pessoas que, não fazem parte do círculo, deles né. Se tem uma festa, eles procuram né, se abrir um pouco mais, se mostrar um pouco mais, mas no dia-a-dia na rotina, não há isso, então acho que é uma diferença marcante, entre o modo de vestir por exemplo do brasileiro, que procura mais ser sensual, tar sempre na moda, né.
DOC. - E quais seriam é, eu quero que o senhor descreva, que tipo assim de roupa, o senhor acha assim que é [ do brasileiro] que é exuberante, que tá se mostrando e que tipo de roupa que [ ininteligível ] cores tecido.
LOC. - Não, acho que, é o tal negócio, se ele, valoriza, se ele valoriza, exatamente, procura uma combinação de cores, né, que seja, adequada ao, clima. Hoje tá sol tá um dia né, acho que eles vão acompanhando, tá um dia sol, ensolarado, a pessoa sai, com uma coisa que combine com aquilo, com aquela situação, né, então, é, [quais são] cores, a escolha do tecido, é, adequado compatível com aquilo, a moda, são pessoas que procuram, seguir a moda, da época da estação, e lá não, é uma mesmice apesar de, é, entra ano sai ano tão usando casaco de, quinze vinte anos atrás, quer dizer, então é a questão é a, funcionalidade, eles não querem saber se aquele casaco tá demodé, tá fora né, tá fora de moda, careta, né, eles tão usando, aquilo protege do frio, enquanto aquilo tá, funcionando, eles usam.
DOC. - E lá também [ se tá fazendo frio é mais ] [ ] né, as pessoas tem que andar de casaco no inverno.
LOC. - Sim, nesse aspecto muda, quer dizer, como lá as estações são mais marcantes você nitidamente vê o povo, mudando em bloco, da forma de, vestir, não é, aqueles casacos pesados, no inverno né, depois, a, na, primavera, a coisa já fica um pouco mais leve, no verão eles ficam, se despem né, eles ficam praticamente, que pra eles o verão é, assim, quando fica verão mesmo é uma maravilha, então as pessoas, ficam praticamente nuas, na rua, e eles, nesse ponto, é até, muito mais, vamos dizer assim, liberado, no ponto de vista, quer dizer, em relação ao nosso, povo, liberado no seguinte sentido, eles são capazes como você já deve ter visto, nos jornais, eles vão pro parque e, as mulheres por exemplo, tiram a blusa, ficam à vontade, e isso é uma coisa feita com a naturalidade que é outra com a questão da sensualidade, isso não é sensual nada, do ponto de vista, acho que sensual é você, colocar uma coisa provocante, uma roupa que insinua, né, que leva a pessoa, exatamente, a fantasiar, não, essa objetividade, isso não é, no meu modo de ver, sensualidade, eu acho que o povo, o brasileiro, gosta de investir nisso, nessa questão da, da intenção, da fantasia, de deixar, eu acho que isso é que é sensualidade, que a, que faz parte da, que é importante na vida logicamente, né.
DOC. - Mas, é, por exemplo, mesmo no verão de lá eles usam os mesmos tipos de roupas que aqui, os tecidos são os mesmos?
LOC. - Agora essa é outra " tricky question ", porque eu não, como eu não reparo não valorizo, é, realmente, eu volto a insistir você devia ter entrevistado a minha esposa, ela ia, dar detalhes aqui, incrível, é. Eu não ... não sei, realmente não sei te dizer sobre isso ( ininteligível )
DOC. - Você não notava quando você ia comprar roupa lá ... assim o tipo de materiais diferentes, ou mesmo conte essas coisas ...
LOC. - Eu acho que eles, eu acho que eles são, o critério é sempre o da, da liquidação, fazer, comprar, procurando gastar o mínimo, né, eles procuram liquidação, as coisas que tão em liquidação, eles procuram, é, por exemplo tem, é muito comum a, eles procurarem lojas de, moda, de roupa infantil, porque lá, tudo que é pra criança é subsidiad né, desde leite, as coisas, que é uma coisa correta, então a roupa de, até quinze dezesseis anos, é uma roupa bem mais barata do que a roupa de adulto, então muita gente vai a, às lojas de, roupa, pra jovens, pra se, tiver, servir, [ um "fit "] o ajuste da roupa, a pessoa fica, porque, paga bem mais barato, então, quer dizer, nós mesmos, usávamos esse expediente, verificava, se a gente podia se vestir, numa loja de, roupa pra criança. Se não encontrasse, é que a gente, recorreria, no meu caso, a minha mulher não, ela gostava de uma roupa ela ia, não importa, se, o preço, mas enfim, mas se ela gostasse realmente de uma roupa ela compraria, custasse o que custasse né.
DOC. - Bem, vou fazer uma pergunta bem objetiva ... vamos supor que o senhor vá viajar, tá, foi viajar e, de avião e a sua bagagem foi extraviada, aí a empresa aérea vai lá e te dá uma indenização pra você ir comprar roupa, tá sem roupa nenhuma, quais são as peças que o senhor vai entrar numa loja e vai comprar? Quais são, o essencial?
LOC. - Compraria, camisa do tipo, como eu disse, camisas, de algodão pra poder, camisas confortáveis largas, sempre tudo largo, calça, jeans, com pano em jeans, pra, dependendo do tempo que eu for ficar lá né. Se eu tô viajando, eu certamente vou participar de alguma, palestra, algum ato que eu precisarei de uma roupa mais formal. Pensaria, primeiramente, pensaria nessa calça, é, mais assim pra, uma ocasião de, mais solene né, então uma calça por exemplo, de algodão, enfim. Agora, pijama, eu não uso, então não, certamente não compraria pijama, cuecas, é, meia, compraria um par certamente, embora eu não goste de usar meia, né, então, [ ? ] básica, cueca, um sapato, confortável de preferência da cor marrom, eu gosto, não gosto muito de preto, não tenho nada preto.
DOC. - De que material seria o sapato?
LOC. - Ah, couro, seria couro com, sola, de borracha, uma coisa, então, quer dizer, não dá pra mesmo pra mudar o tema da pergunta e perguntar sobre outro assunto, não?
DOC. - Agora assim no meio
LOC. - Agora realmente depois desse, massacre, desse suadouro eu tô me lembrando da entrevista de vinte anos [ ? ] se você comparar você vai ver que, tá a mesma coisa, eu tenho certeza, tá a mesma coisa.
DOC. - E, bem, questão de item, vamos mudar um pouco, eu vou falar de roupa, mas em questão de acessório, quais são os tipos de acessórios que as mulheres usam que os homens usam, além da roupa né, que as pessoas colocam assim pra enfeite?
LOC. - Eu por exemplo você vê não uso nada, não tenho, relógio, não tenho, pulseira, não tenho, nem aliança, eu não uso mais, não tenho brincos, então, se eu fizer um strip-tease aqui você vai ver que eu tô, com a indumentária, não tem nada, supérfluo aqui, é tudo coisa, em número necessário né, mulher, usa essas coisas, é, bracelete, né, é uma pulseira, anéis, coisas de, fantasia né, não é mais jóias, fantasia, coisas, enfim, essas coisas.
DOC. - E tem algo que seja assim exclusivo de homem [ ou, exclusivo de quer dizer, que só possa ser exclusivo de homem ou exclusivo de mulher?]
LOC. - Não, eu acho que hoje em dia isso, as pessoas tão no, modo de se vestir, as pessoas tão, muito unissex, você vê homem usando brinco, usando rabo de cavalo, usando bolsinhas, que, antigamente eram exclusivas de mulher, essas bolsas a, tiracolo, né, então eu acho que, hoje em dia, falar em, em vestuário de homens, vestuário exclusivo de mulher, fica meio complicado, é, depende do local né, na cidade que você se encontra, aqui no Rio mais ou menos, cidades você já, mesmo em alguns bairros, em outros bairros do Rio, quer dizer, se comparando, bairros você vê diferenças, flagrantes, quer dizer, você pode certamente falar, [ se você for num ] bairro do subúrbio.
DOC. - Você acha que tem diferença?
LOC. - Ah, tem, isso, não tenha dúvida.
DOC. - O que que você vê assim de diferença?
LOC. - Eu vejo o comportamento né das pessoas, você vai, um bairro como, Ipanema as pessoas têm um comportamento mais, é, liberal a esse respeito do vestuário do que se você for, num bairro assim, do subúrbio onde as pessoas, ainda estão, presas a certos conceitos ou preconceitos não sei, sobre essa, questão da, roupa pra homem pra mulher você pode, você é posto pra correr num lugar desse, se você aparece de, brinquinho, de rabo de cavalo enfim, pode tá sujeito a um, a uma vaia, coisas assim enfim, chamar de bicha, eu acho que certamente existe essa diferença, entre bairros e entre regiões do país, e aqui mesmo no Rio eu acho que não tem dúvida, né, isso.
DOC. - Bem, não sei, realmente, é capaz né, normalmente porque é mais conservador né, o que que a gente poderia ah... o senhor falou dos seus filhos né, e, o senhor nota, vamos supor, quando os seus filhos eram menores, eram crianças mesmo. O jeito diferente de criar ... de quando o senhor era criança?
LOC. - Ah, certamente né, vou pegar meu filho né, que, é melhor do que comparar, meu modo de vestir com o da minha filha, fica mais, difícil, mas o meu filho ele nesse aspecto é bem diferente de mim, porque esse meu comportamento vem desde garoto, quer dizer, sempre fui, assim, com relação a roupa, né, agora, pra pegar num exemplo, minha mulher, até hoje fala, no dia em que a gente, se conheceu, que foi numa festa, ela fala da calça que eu tava usando, uma calça, que era, que eu, pelo que eu me lembro não era nem uma calça minha, era emprestada do meu irmão, quer dizer, é uma coisa que eu usei para ir àquela festa, tinha que ir né, ir um pouco melhor, só que, mas enfim, ela até hoje fala da combinação terrível né, meu filho não, meu filho é uma pessoa que curte, roupas, ele procura, comprar as roupas dele nas lojas, que têm griffes né, as griffes mais, mais , famosas [ interrupção] então ele, como a gente tava dizendo ele é uma pessoa que se preocupa muito com isso, né, então, as roupas dele tão sempre, seguindo a moda, é uma coisa que me chama a atenção por exemplo, eu às vezes eu peço a ele pra ir, comprar o jornal pra mim no jornaleiro né, coisa que meu pai fazia comigo também, e eu, pegava na hora o dinheiro começava e descia e ia comprar o jornal não me preocupava se eu tava, de calção sem camisa ou com uma camiseta, eu saía comprava o jornal. Se eu peço a ele para ir comprar o jornal, nunca ele sai imediatamente, porque tá, a roupa de casa não é a mesma, de sair. Então ele vai ao quarto, bota lá uma camiseta, uma camiseta diferente da que ele estava, que combine melhor e [ tal ] né, e sai, vai comprar jornal, coisa que me chama a atenção, coisa que eu nunca fiz, eu saía direto, voltava. Então tem todo esse, preocupação, de se vestir, de uma forma, combinada, consciente de tar na moda. Ele é um dos que me criticam, sobre a, o meu modo de vestir.
DOC. - Isso é mal dos filhos.
LOC. - É. Essa geração é muito mais, é ditatorial, né.
DOC. - [ ? ]
LOC. - Pois é, essa geração é muito, ficou uma geração sanduíche né, porque os nossos pais eram, eram ditadores né, e os nossos filhos agora são ditadores, em relação à gente, então a gente levou, tá levando o [cacete dos nossos filhos], mas enfim, é isso, então é bem diferente, né, ele realmente, se cuida muito, e a turma dele eu vejo, que ele não é um, fato isolado, a geração, por exemplo, a turma da escola, eles todos, têm esse, cuidado, e minha filha, nem se fala né, muito vaidosa, tá sempre, é, reclamando da mãe, às vezes ela pede pra mãe, escolher uma roupa pra ela, porque ela tá na casa da avo, e nós vamos sair, então nós vamos pegá-la e ir pra algum lugar, aí ela, invariavelmente, reclama da escolha que a mãe fez né: Mas minha mãe você trouxe essa blusa, essa blusa, né, não combina, né. [Não, não posso não Flávio] Então, a, é isso, eu acho que há uma diferença muito grande.
DOC. - Mas quando o senhor era, bem pequeno, quer dizer, seus filhos já são adolescentes, quer dizer, já têm essa coisa de: Eu escolho o que eu vou vestir! Mas quando eles são crianças, os pais que vestem né, que escolhem o que os filhos vão vestir, tinha alguma coisa assim. E seus pais vestiam de alguma forma diferente. Você acha que os pais hoje em dia vestem os filhos diferente de como os pais vestiam antigamente?
LOC. - Eu acho que, os pais de hoje não vestem, as crianças é que se vestem, não há esse negócio de.
DOC. - Mas desde pequenininho?
LOC. - É, eu acho que eles hoje, são muito mais, independentes, né eles não aceitam essa, essa ingerência, principalmente pra se vestir, já, eu acho até que, mas, antigamente, meus pais, é que compravam roupa pra mim, eu saía com a minha mãe pra comprar roupa né, e ela, basicamente é que escolhia, a última palavra. Agora, porque ela não era assim: Não, você você vai levar isso! Mas, prevalecia a, visão dela né. Por exemplo, me lembro, na minha época a questão de, de usar calça comprida né, o jovem, o jovem, queria passar da fase da calça curta pra calça comprida, então havia uma briga com os pais, quando é que ia começar a usar calça comprida, hoje em dia, isso tá fora, de questão né, não só, não se discute mais isso como a criança vai lá e se ele quer compra uma, uma roupa dessa griffe aí, digamos a [ ?], [ ? ] sei lá, como é que chama, cê vê, eu devia pelo menos saber o nome de uma delas né, eu sei da Adonis. Eu não sei se você já reparou, eu cheguei com uma sacolinha da Adonis porque, como eu te disse, há um mês atrás, eu, depois de dois anos, eu comprei roupa, e eu vou sempre nessas lojas é, Adonis, Casa José Silva, então eu, faço um crediário e compro assim, umas, duas três camisas, duas calças pra, eu não procuro, sair, ficar olhando na vitrine uma roupa não. Onde eu posso né em bloco, me vestir, quer dizer, ou seja comprar a camisa, calça é na Adonis, essas lojas tradicionais né, mas ele jamais faria isso, ele jamais, por exemplo, aceitaria se vestir, né, indo numa loja dessas fazer um crediário, tem que comprar uma camisa tem que ser dessa, loja, o sapato tem que ser né, daquela loja, então, são muito [ ? ], então, analisando essa questão, quer dizer, eu acho que eles hoje, decididamente eles se vestem, não aceitam, pode haver uma opinião aqui mas no final prevalece a opinião, deles na nossa época era o contrário, quer dizer, a gente dava uma opinião, que eles não pediam opinião, mas a gente, tentava dar uma opinião mas no fundo prevalecia, era a visão o gosto dos pais, né.
DOC. - E, bem, o senhor dá aula só aqui?
LOC. - Só aqui.
DOC. - O senhor, não é muito de reparar não, mas, o senhor reparar também como os outros se vestem, mas eu vou tentar, o senhor vê assim diferença de como os jovens, se vestem, de como eles vêm na faculdade hoje em dia, de como era na sua época?
LOC. - Não só os jovens como alguns colegas, por exemplo, não vou falar de bermuda, porque os alunos hoje em dia, no verão eles vêm com bermuda de qualquer tamanho, né, camisetas, assistir aula de camiseta aquelas camisetas bem cavadas, etc., isso é uma coisa que na minha época de estudante não tinha, né, a pessoa vinha sempre, de calça comprida.