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PROJETO NURC-RJ

RECONTATO:
Inquérito 071 (masculino / 80 anos) (No 24 - Amostra Complementar)
Tema: Família, ciclo de vida, saúde
LOCAL/DATA: Rio de Janeiro, 03 de novembro de 1971
TIPO DE INQUÉRITO: Diálogo entre informante e documentador
DOCUMENTADOR: Yonne Leite


DOC. - O senhor estava me contando que a sua senhora não esta passando muito bem. Tá fazendo uma fisioterapia, né. O senhor podia nos contar isso?
LOC. - Pois não. Ela teve um problema... Tem um problema neurológico. De forma que...com isso... a fala...dela, ficou muito difícil. E além disso a letra, que era uma letra bonita. Ela foi professora primária. Formou-se na escola normal, aqui do Rio. E a letra dela hoje, no instante depois de... escrever, nem ela própria, consegue ler. Quer dizer, a letra ficou muito pequenininha. Além disso, tem, tinha uns problemas também de queda. Que ela já melhorou. Queda assim de desequilíbrio, né. E...isso ela está felizmente melhor. E uns probleminhas aí, ligados ao quadro, que é um quadro, que não é de doença de Parkison, mas é de uma doença... mais ou menos, da mesma área, da doença de Parkison.
DOC. - Você me parece que está muito bem. Que não faz tratamento nenhum, não é?
LOC. - É. Eu, felizmente, estou a caminho dos oitenta anos. Farei oitenta anos no ano que vem. E naturalmente tenho... faço um certo controle médico. Tomo uns remedinhos aí, mas nada de importante, graças a Deus. A minha saúde... posso considerar... excelente. O próprio médico que me atende tem confirmado isso. De modo que eu espero, enfim, acho que já vivi muito, porque... eu fui... fiquei órfão, aos... cinco anos, de minha mãe, e aos sete, de meu pai. De modo que a partir dos sete anos, eu fui educado por um casal de tios-avós. E eu sempre comento, que eu já vivi muito mais, que meu pai e minha minha mãe juntos. Minha mãe viveu trinta e dois anos, e meu pai viveu trinta e três. Então eles dois juntos viveram sessenta e cinco. Eu já estou com setenta e nove, então, eu já estou com com um mocado de lucro nesta vida, mas, cada um tem o seu destino. Eu fui filho único. E cada um tem o seu destino, de modo que a gente tem... eu não... acho que já vivi bastante, mas... tem que viver, paciência, a gente tem que viver enquanto... Deus quer. De forma que... vai se levando a vida um pouco sem... agora um pouco... sem objetivo mais, mas, trabalhei, praticamente até...até mil novecentos e oitenta e nove, agora que estou, tá... tá... de lá pra cá, e que fiquei meio na malandragem. Quer dizer, trabalhei realmente cinqüenta e um anos... da minha vida, eu trabalhei, de modo que...acho que... foi o bastante.
DOC. - O senhor é advogado, não é? E tinha escritório de advocacia ou não?
LOC. - Não. A minha... a minha atividade... profissional...foi como procurador. Eu fui procurador, inicialmente, do antigo IAPI, que era o instituto dos industriários, e depois da fusão foi incorporado pelo INPS, que é o ... o atual INSS. Mas, além disso, eu trabalhei em atividade de consultoria, de forma...já... no final da minha carreira, eu trabalhei na CEPLAN, trabalhei no Ministério da...da... Reforma... simpli, simplificação da reforma administrativa, com o Ministério Beltrão. E boa parte... deste meu tempo, eu trabalhei em Brasília. Eu estive em Brasília de mil novecentos e setenta e quatro, a mil novecentos e... final de mil novecentos e oitenta e oito. Mas, escritório eu tive uma atividade muito pequena, muito, assim... de pouca duração, um escritório com outro amigo, mas, nunca, realmente advogado, no sentido... correto, do termo, eu nunca fui. Fui... um consultor, um assistente jurídico, um procurador.
DOC. - O senhor tendo sido consultor e tudo...feito esse trabalho de consultoria, o senhor não acha que seria possível, assim, ainda hoje, é... fazer consultoria... para... no seu campo de trabalho, ou o senhor não está mais interessado, quer mais gozar, ir à praia de Copacabana, Copacabana que é muito divertida?
LOC. - Não. A rigor eu sinto falta, e me arrependo até, de quando voltei de Brasília, quando parei realmente de trabalhar, em oitenta e nove, não ter... tive até amigos meus e colegas de meu filho, gente mais moça, que queria até que eu ficasse, assim, no escritório, com eles, assim, fazendo uma atividade mais de consultoria. Mas eu na época não aceitei, de modo que agora, eu acho já... já está um pouquinho tarde pra isso. Então, não sei se já me habituei, mais, essa vida de malandragem , que eu vivo atualmente, e... faço os meus passeios, procuro não ficar muito enclausurado, né, então tenho... tenho assim grupos de... de amigos, com quem eu me encontro de vez em quando, né, pra um ... um almoço semanal, pelo menos, mas, atividade, propriamente, eu acho que nessa altura já... não daria mais. Às vezes eu colaboro, né, não é que eu não colabore, eu tenho um amigo, que tem mais ou menos... tem a minha idade. E esse está em plena, (...), está em plena atividade, produz até muito, e...me honra até com... e me pede assim pra colaborar, pra rever uns trabalhos dele. De modo que um trabalhinho ainda faço, um pouco, dentro da minha especialidade, da minha formação. Eu faço isso, mas, faço em casa, de modo que... atividade assim de... de horário, e tudo não tenho mais nenhuma. E agora com esse problema de minha mulher, a coisa ficou mais difícil, porque eu tenho que dar um... um pouco de assistência a ela, e também a minha cunhada, que tá bem fisicamente, mas tá começando a ratear na parte... na parte de cabeça. De modo que... então, eu, dos três, sou o que estou em melhores condições, de modo que eu tenho, também esta tarefa de... de ajudá-las um pouco, é... a tocar a vida para frente até... que... as nossas vidas terminem.
DOC. - O senhor tem filhos...ou... tem netos... tem tudo isso, né, né? Tem tudo isso...
LOC. - Tenho sim, nós... nós tivemos, eu e minha mulher, quatro filhos, graças a Deus, são todos vivos. São três homens, e uma mulher. E eu costumo dizer que são... nós tivemos, assim, muito espaçados, né, do primeiro, do mais velho, que nasceu, realmente, um ano depois de nós estarmos casados, um ano e pouco, aí tivemos um intervalo de... quatro anos... nasceu o segundo filho, aí tev... houve um um intervalo de oito anos, nasceu a nossa filha, e... houve um intervalo grande, que eu até perdi a conta, nasceu o nosso caçula, que é outro homem. Então, são... quatro filhos, todos eles casados, e... todos eles com filhos. De modo que eu tenho quatro filhos e... tenho dez netos. Desses dez netos, tenho sete homens, e três mulheres. E eu costumo dizer que... esses netos... eu tenho dois segmentos de netos. Quer dizer, eu tenho... um primeiro segmento, que são os netos, dos meus dois filhos mais velhos, que vai de um... o meu neto mais velho, que fez vinte nove anos, agora, no dia doze deste mês de julho, até a minha neta, que é do meu segundo filho, que vai fazer vinte e dois em novembro, então, esse é o meu primeiro segmento: de vinte nove a vinte dois. Depois vem um segundo segmento, que começa com... o filho mais velho de minha filha, fez quatorze anos, e vai até o filho mais moço dela, e o filho mais moço, do meu filho mais moço, que... estão com... estão fazendo dez anos. Então são... são dois grupos assim, bem diferenciados, né. Agora... para mim o que eu sinto falta é que... aqui no rio de janeiro, está morando apenas o meu filho mais moço. Eu até, a guisa de blague, eu digo a ele que... ele para mim não mora mais no Rio, para mim ele já tá num outro município, porque ele se mudou recentemente para Barra da Tijuca. Eu considero a Barra como se fosse Petrópolis, Teresópolis, você tá num outro município. Antigamente, eu dizia que tinha um filho no Rio, agora eu já não posso mais dizer isso, porque o meu filho mais velho é diplomata, de modo que está sempre no exterior, no momento tá no Chile; o meu segundo filho... foi trabalhar em São Paulo, há mais de vinte cinco anos, erradicou-se, e ficou por lá; e minha filha, casou-se com um engenheiro da Telebrás, que é de um centro de pesquisas, e documentação da... da Telebrás em Campinas. Então , ela casou-se... foi pra Campinas, e tá lá há quinze anos. De forma que... tem assim um filho em cada lugar. Isso me... me deixa um pouco... triste, assim, de não poder tê-los mais... freqüentemente comigo. E, para reunir, então, muito mais difícil. Nós agora até fizemos uma reunião, em maio, que o aniversário de minha mulher, coincidiu com o dia das mães, né, foi... por coincidência, meu filho... diplomata estava no Rio nesse dia, de modo que foi fácil trazer. Minha filha veio de Campinas. Meu filho de São Paulo veio. E aí fizemos então, no aniversário dela, no dia das mães, fizemos um almoço aqui com... com todos os netos, menos um. Que tem um, dos meus netos, que está trabalhando nos Estados Unidos. Fez Marketing, e... de modo que fez uma escola muito conceituada lá... formou-se em Filadélfia, e a escola dele é muito conceituada, então recebeu uma proposta e, não que ele quisesse ou fizesse questão de trabalhar lá, mas, recebeu uma boa proposta, de uma empresa de consultoria e no momento trabalha em Washington. De modo que o único neto que não pode... estar presente, foi uma reunião familiar quase completa, mas é... isso hoje em dia, para nós, é muito difícil acontecer.
DOC. - O senhor tem um família grande, né. Bem constituída, mas, o senhor acha, por exemplo, que houve muita mudança na constituição da família, no Brasil, depois que houve a lei do divórcio, a possibilidade de divórcio, ou não? O senhor acha que mudou, as coisas estão mudando muito, ou o senhor acha que isso é apenas, alguma coisa... passageira? Que que o senhor acha, assim, sobre a situação atual da família, que assim no... no Brasil? O que tá acontecendo, né, no Rio de Janeiro? Se está havendo alguma mudança? O senhor sente alguma coisa?
LOC. - Olha... para mim ... é um pouco difícil, porque, felizmente, no nosso caso, aqui, no nosso caso não houve problemas assim, pelo menos até agora. Então, os filhos que se casaram continuam casados. O mais velho já fez bodas de prata, eu já fiz bodas de ouro, e o segundo filho também está caminhando para... não, aliás o segundo também já fez bodas de prata, minha filha tá com mais de quinze anos casada. De modo que eu assim, no meu ambiente familiar, eu não senti mudança, mas evidentemente, que a gente acompanhando... o movimento...familiar, o movimento de... através de conhecidos, de amigos, e tal, sente-se que... eu não, não, não, não colocaria, propriamente, o divórcio. Eu acho que o divórcio até tinha que vir. Eu acho que quando duas pessoas não tem mais condições de viver juntos... Eu acho que... seria... um pouco... era um pouco... violento, assim, obrigar estas pessoas a ... a continuarem com vínculo, e não poderem... constituir uma nova família normalmente. Então, eu até... eu sou partidário. Eu acho que... o divórcio era uma medida necessária. Agora, eu observei, mas isso antes até do divórcio, alguns casos curiosos, por exemplo, de pessoas que... que... continuam, às vezes separam, depois, reatam, e ficam, cada uma delas, morando num lugar. Isso é um fenômeno, que eu acho curioso, mas já tenho visto... e não é só... eu vejo às vezes... no meio artístico isso é mais comum, mas vejo também, assim, criaturas que não são... ligadas... nem à televisão, nem a teatro, nem à coisa nenhuma , que tem... tem experiência deste tipo, quer dizer, então, vivendo juntos, às vezes não dava certo e vivendo separado dá, né. Mas, eu não acho que... propriamente, que eu tenha sentido, nenhuma motivação. Eu acho que antes do divórcio, as pessoas se separavam... às vezes constituíam novas famílias, né, faziam casamentos... Antigamente, iam casar no Uruguai. Isso depois desapareceu. Não era mais necessário. A sociedade recebia, né, e eu... eu mesmo, quer dizer, não, pessoalmente, mas, assim na... nas minhas relações, eu tenho casos que a gente recebe, casos até que...de casais separados, que, às vezes, convivem muito bem, quer dizer, às vezes vão constituindo uma família... um deles constituiu e o outro não, mas, tem filhos e... continuam... convivendo, assim, vamos dizer, socialmente, sem... sem que isso tenha...representado uma... uma guerra, né. Em compensação, há outros casos que eu conheço também, que... as pessoas não se conformam, né. Isso... às vezes até mais da parte da mulher. Em geral a mulher é que fica mais... revoltada, né, pelo... nos casos que eu conheço. Mas, de um modo geral, não, não senti, assim, não senti, a partir da lei de divórcio, não senti modificação.
DOC. - O senhor se formou em direito, não foi? Aqui no Rio de Janeiro? E a Universidade ainda era...era no Largo de São Francisco? Onde é que era naquela época? Era no Largo de São Francisco, não?
LOC. - Não, a ... a ... a universidade que eu... a faculdade de direito que eu me formei... é atualmente, a que é a da Federal do Rio de Janeiro, que está, me parece, na... ali no campo de Santana. Mas, quando eu me formei, ainda não havia universidade federal. Eh... chamava-se... Universidade do Rio de Janeiro, me parece, sem... sem essa conotação de federal ou estadual, porque não havia... era distrito federal naquela época, né, quando eu me formei. Mas, a minha faculdade era na rua do Catete, que hoje é um pardieiro, tá meio... e depois, ela foi a universida... foi a faculdade de direito da Universidade do Estado do Rio, também não é mais. Hoje, a ... a Federal está... ali no, me parece, que ainda está ali na... perto do Senado, né, na Praça da República, e a ... a do Estado do Rio está no Campus universitário, no Maracanã, né, a UERJ é ali no Maracanã. De modo que... Mas, quando eu me formei era no Catete, era no Catete, de modo que... eu me lembro bem, que se... eu morava em São Cristóvão nesse tempo, ia de bonde, né, andava de bonde, trocava de bonde, às vezes, na cidade, na...na Galeria Cruzeiro, onde os bondes davam a volta, aí tomava um bonde até a Rua do Catete, outras vezes, saltava, ia até a Praça da Bandeira, a pé, lá de casa, tomava um ônibus na Praça da Bandeira e saltava na Lapa, e tomava a condução na Lapa, e fiquei assim durante... cinco anos, né. Na minha turma de faculdade... deu dois ministros do Supremo, ambos já falecidos. Um foi o Ministro Vítor Nunes Leal, que foi um... Todos os dois, aliás, foram muito conceituados, e... O Vítor Nunes morreu mais cedo. Morreu... relativamente moço. E o segundo ministro... minha turma... teve no Supremo foi o ... Clóvis Ramalhete, que também, é... autor até de um famoso... [ ? ] Milhas Marítimas. Era um advogado conceituado. Foi Consultor Geral da República, e depois foi ministro Supremo, mas pouco tempo. Ele teve, como Ministro Supremo, pouco tempo. Enfim, tivemos na turma vários desembargadores, aqui no Rio, no Estado, e tal; alguns advogados, também conhecidos; assim, escritores, como Rogério F... foi orador na minha turma, hoje escreve uma coluna... semanal, né; e... como advogados... militantes, tivemos o Alfredo Tanjan, que era... na área criminal, um advogado muito brilhante. E temos alguns, que ainda estão em atividade, já mais idosos, mas que ainda... ainda estão em atividade. Mas uma turma... tinha muita gente... neste tempo, tinha muita gente..., de São Paulo. Minha turma tinha trezentos e poucos alunos. De modo que... vinha gente de São Paulo, vinha gente de Minas, do Sul de Minas. De modo que... alguns de nós, perdemos contato, e outros... ainda às vezes vêem... Fazemos um... ainda fazemos um...um almoço...anual, que vai diminuindo o comparecimento a cada ano. Bom, esse ano devemos até ter um comparecimento muito maior, porque esse ano eu completo sessenta anos de formado. Eu me formei em mil novecentos e trinta e seis, então completamos sessenta anos é possível que tenhamos aí alguma comemoração. Aos cinqüenta... tivemos um boa comemoração, ainda tive... um grupo muito grande, tivemos um jantar, uma missa, etc... Mas, vamos ver se nos sessenta conseguimos reunir também um bom número.
DOC. - E o senhor está morando aqui em Copacabana há muitos anos ou... é morador recente aqui, de Copacabana ?
LOC. - Não, eu moro em Copacabana há quarenta e seis anos. Mudei para aqui em mil novecentos e cinqüenta, para esse apartamento onde moro até hoje, na rua Raimundo Corrêa. E... a não ser o período que eu estive em Brasília, que é, mais ou menos, uns... quase quinze anos, né, só morei aqui. De modo que sinto... sinto realmente um... em relação... ao bairro, eu senti uma mudança muito grande, né. Quando eu me mudei, vamos dizer, um bairro de Copacabana... era um bairro mais... aristocrático, não é. Hoje ele... se democratizou, porque começaram a surgir os apartamento pequenos, não é, com isso... muita gente pode vir morar em Copacabana, quando antigamente era mais difícil isso, né, e também, né, as próprias praias, com os ônibus que... que vem do subúrbios, que passam pelos túneis, então, as praias que a gente vê hoje tem, pelo menos nos fins de semana, tem assim uma... uma movimentação muito maior. De forma que... eu acho diferente. O que eu acho... muito negativo, em relação à época que eu... eu mudei para cá e a época atual, é que a quantidade de pessoas que dormem nas ruas. E isso é uma coisa que...se sente...eh... eu, pessoalmente, fico um pouco até...um pouco...um pouco, porque a gente se acostuma tanto com esta situação que, antigamente, quando a gente via... uma família, ou alguém... na rua, você tinha... um sentimento, assim, de pena, de pesar. Hoje, ficou uma coisa, quase, que rotineira, né. Aqui nesse trecho que eu... moro, tem pelo menos dois permanentes. Um, que está há algum tempo, e outro, que está mais recente, mas que dorme na rua, né, que dorme debaixo de... de marquizes, que recebem comida de... de pessoas, de lanchonetes, e recebem cobertores, e tal. Mas, esse é que é um aspecto... que eu acho negativo, em relação à época que eu vim pra cá e que não... não se tinha esse aspecto, assim, tão... tão negativo, tão deplorável. Mas no mais... eu acho que... inclusive hoje, dizem que Copacabana é o maior... é o maior contingente de pessoas de terceira idade. Eu acredito que seja. E acho que é um bairro excelente, para quem... está... na terceira idade, porque você tem tudo perto. Você pode ir à praia. Você pode andar na praia. Você tem supermercados, tem lanchonetes, tem bancos, tem tudo, né, então, eu acho que... é muito bom, né. Eu, pelo menos, faço sempre um... à praia, agora, não vou quase, mas, andar na Avenida Atlântica, eu ando muito. E acho que é uma coisa muito boa. Então, nesse período, agora, de inverno, não... um dia...não como o de hoje, mas tivemos uns dias lindíssimos, né. Dias de sol. Sol agradável. De modo que ainda acho que Copacabana... não pretendo sair daqui, só morto mesmo. Eu pretendo ficar aqui. Meu filho mais moço, até, fala muito em Barra, mas, eu não... não me entusiasmo.
DOC. - Eu também não. Eu também, como o senhor, acho que a Barra é um outro município. É muito longe para mim. Está entendendo? Copacabana, realmente, tem tudo, é.... muito agradável. Eu acho ótimo. Sou moradora daquelas convictas de Copacabana, não é. Agora, o senhor viaja? O senhor tem um filho diplomata. O senhor viaja muito? Ou não viajou? Ou gosta de viajar? Tem alguns planos... nesse sentido?
LOC. - Eu gosto, realmente, de viajar. A ... agora, com esse problema de minha mulher, a viagem, para mim, se tornou um pouco mais difícil, porque... eu não me sinto, assim, com coragem, por exemplo, para ir com elas, sozinho, para um hotel. Então, eu, para viajar com ela, para algum lugar, assim, diferente, eu teria que ir com outra pessoa, ou com um filho, ou com um neto. Mas, eu fiz... vamos dizer, mais recentemente, já depois... dela doente, eu fiz... eu fiz uma viagem à Roma, quando o meu filho estava servindo no Vaticano. Então, em mil novecentos e noventa e dois, eu fui com ela, mas, aí fiquei com o meu filho lá. E... fiz umas duas viagens aí... com os meus netos mais velhos... fiz uma viagem a Paris, e uma viagem a Lisboa. E passei cerca de dois meses... fora. Isso em noventa e dois. No fim do ano passado, princípio deste ano, então eu fui ao Chile. Eu passei o Natal, eu passei o Ano Bom, este último Ano Bom, eu passei no Chile. Também aí fiquei, na ca... lá na Embaixada, eu fiquei com meu filho. Mas, fora disso, às vezes, vou... eu tenho um neto em Brasília. Às vezes vou a Brasília, com ela, ou vou a São Paulo, ou a Campinas. Nas nossas viagens, agora, eu tenho que ir sempre assim tendo... um apoio, logístico. De modo que... sem esse apoio eu não... não me aventuro, com ela, sozinho, não me aventuro. Mas, eu não gostaria. Eu gosto de viajar. E aconteceu conosco, o seguinte, minha mulher não... não viajava de avião. Viajou de avião, umas duas vezes, há muitos anos, mas, depois, ficou com medo de andar de avião. E quando eu... no princípio, em Brasília, eu, quando vinha ao Rio, com ela, eu vinha de ônibus leito. Levava dezessete horas, dezesseis horas de ônibus leito. Eu viajo bem. Nós viajávamos bem de ônibus leito, dormia, inclusive. Mas, ela se cansou, determina... ir a São Paulo também. De Brasília, às vezes, eu ia a São Paulo, e ia também de ônibus leito. Mas, em uma das viagens a São Paulo, foi uma viagem assim, [ ? ] mas, uma pessoa reclamava muito, em todas as paradas, que a cadeira dela estava com defeito, a poltrona não estava abrindo direito, e aí minha mulher ficou um pouco... e tudo isso... desagradou um pouco e quando nós chegamos em São Paulo ela resolveu experimentar o avião. Então, fizemos uma viagem de São Paulo ao Rio. Aí ela resolveu voltar a Brasília de avião e daí em diante, nunca mais quis viajar de ônibus. Agora, quem não quer, às vezes, é ela .-Vamos para São Paulo de ônibus, é muito mais barato, é uma viagem... os ônibus são confortáveis. - Não, vocês não queriam que eu viajasse de avião, agora, tem que agüentar, tem que ir de avião. De modo que ela viaja bem, quer dizer, depois disso, nós viajamos algumas vezes, de avião, mas, agora, eu só posso ir para, assim, tendo, realmente, uma base, ou viajando com uma outra pessoa, tendo uma base, enfim, um filho, e tal. Mas, eu gosto, realmente, gosto. Eu estive nos Estados Unidos, duas vezes. Uma das vezes, até fiz uma viagem, pelo Estados Unidos, soltei em Miami, estive em Nova Orleans, estive em São Francisco, estive em Washington, terminei em Nova York. E da outra vez, só estive em Nova York. Mas, gostei muito. E da Europa [ ? ] Eu achava sempre que... Paris, para mim, era o lugar mais bonito, fora, aqui do Brasil, né. Sob certos aspectos superior até ao Rio [ ? ] Mas, eu achava que se eu tivesse que voltar... me oferecesse uma viagem, e dissesse: - você pode voltar a Europa ou ir aos Estados Unidos, eu preferiria voltar a Europa. Mas depois que eu fui a Nova York, eu reformulei um pouquinho. Eu vi que Nova York... que Nova York tem tudo. Que Nova York tem museu, tem diversão, tem parque, enfim, é uma cidade admirável, de modo que se equipara a Paris, no meu modo de ver. E hoje, não teria... tenho, até uma certa dúvida, qual das duas, seria... mais interessante... e é uma cidade também muito fácil de... mesmo que a pessoa não tenha um domínio pleno da língua inglesa, ela se torna muito fácil de se andar, de ser passear, de modo que... eu reformulei, nesse particular, o meu conceito inicial. Eu acho que sim. Europa, a vantagem é que... você tem distâncias curtas, né. Então quando você vai a Paris, você vai a Roma, você... vai a Londres, você vai... a Lisboa, vai a Madrid, então, a Europa tem esta vantagem, a distância é muito curta. Estados Unidos é como o Brasil, né. Você vai aos Estados Unidos, você tem que ir aos Estados Unidos. No máximo. você tem o Canadá, o Canadá eu não conheço, mas, as pessoas que já estiveram lá, dizem que é um país admirável, né. Que é um país muito civilizado, sem os atropelos, de Nova York... do Canadá são muito... você tem tudo, né, tem todo o conforto... mas eu não... Canadá eu nunca fui. Mas, Nova York, eu apreciei muito.
DOC. - Pelo que eu me lembro, a família Paranhos é muito conhecida na diplomacia brasileira, não é. É do lado do senhor? O Paranhos é do lado de sua mãe, do seu pai, é de quem que é? [ ? ]
LOC. - [ ? ] Eu não posso, quer dizer, o Paranhos é o Barão... o Barão do Rio Branco. O Barão do Rio Branco era... era da Silva Paranhos, né. Era da Silva Paranhos. O meu avô... o lado Paranhos, meu, é o lado paterno, né. Então, o meu avô, paterno, era Paranhos da Silva. Era Paranhos da Silva Veloso. E meu bisavô também. Mas... conversando com um descendente do Barão, um dos netos do Barão, que é diplomata, inclusive, ele me disse que... esta ques... a questão do Paranhos, que Paranhos é uma aldeia, próxima do Porto, e que os portugueses, que vinham para o Brasil, no tempo da colonização portuguesa, eles...eles costumavam, acrescentar, ao seu nome, de família, o nome da aldeia, de onde eles provinham, de modo que é possível que este Paranhos... eu nunca consegui estabelecer, uma... vinculação, perfeita, com... com o Barão, né. É uma coisa assim, de família - Ah, nós temos um parentesco com o Barão, mas isso nunca foi... isso nunca foi... vamos dizer, confirmado. E depois que eu conversei com um dos netos, aí, do Barão, mesmo, eu cheguei a conclusão de que... eu acho que não há, assim, uma vincula...