ELOCUÇÃO FORMAL (EF)
Inquérito 382
Tema: A Revolução
Francesa
Duração: 45 minutos
Data do registro:
16/5/78
Informante: sexo
feminino, 56 anos, formação universitária: História, carioca, pai
cearense e mãe fluminense, área residencial: Zonas Norte e Sul.
Clique aqui e ouça a narração do texto
INF.: nós
vimos aqui ah:... o pro/ o:... o novo ponto do nosso programa... eu
comecei aqui... Revolução Francesa... e dando a Revolução Francesa...
eu indiquei a vocês uma bibliografia... BÁSICA... a bibliografia
BÁSICA... sobre a Revolução Francesa... que nós vimos... eu botei...
primeiro... o livro do Burnes... todo mundo conhece... o livro do
Burnes... "Revolução... Francesa"... está muito interessante o modo
como o Burnes coloca a Revolução... vocês já estudaram... já viram pelo
Burnes... a Revolução Industrial... que foi assunto da prova... agora
nós entramos na outra aula... na Revolução Francesa... o Burnes... se
não me engano... é o capítulo... vinte e dois... vinte e três é a
Revolução Industrial... nós voltamos atrás... é o capítulo vinte e
dois... "Revolução... Francesa de mil setecentos e oitenta e nove"...
além do Burnes... que é o livro... de textos de vocês... básico... nós
temos... outras obras... que o aluno... que vai estudar a Revolução
Francesa... não pode deixar de lado... é... o livro do Sobul...
"Revolução Frencesa"... Sobul... era professor da Sourbonne... é quem
nos dá... uma colocação... mais moderna... mais atual da Revolução
Francesa... além de Sobul... vocês têm também... sobre Revolução
Frencesa... a obra de... Alberto Mathiers... Mathiers... ((ruído))...
Mathiers... Alberto sobul... e Alberto Mathiers... sobre a Revolução
Frencesa... ah:... do Sobul... eu pediria a vocês que comprassem... é
barato... "Revolução Francesa"... Sobul... professor da Sourbonne...
vocês leiam... a orelha do livro... que está excelente... e... é da
Coleção Saber Atual... e é da Difel... em qualquer livraria vocês
encontram... nós vimos aqui... na outra aula eu perguntei a vocês...
vimos aqui... as CAUSAS da Revolução Francesa... naturalmente...
sabemos que a Revolução Frencesa (é muito) grande... há um complexo de
causas que nós estudamos aqui... vimos as causas... políticas...
econômicas... sociais e intelectuais da Revolução... naturalmente...
ninguém... pode... naturalmente... ninguém pode separar essas causas...
nós vimos que as causas políticas... econômicas... e sociais... elas
estão pro-fun-da-men-te... entrelaçadas... você não pode separar uma
causa da outra... a causa política... por exemplo... quando você vê uma
das causas apontadas para a Revolução... causa política... você pode...
colocar... a política despótica dos Bourbon... da casa reinante... da
França... mas você não pode... separar... essa causa política... das
causas sociais e das causas econômicas... nós vimos que tudo isso se
entrelaça... nós vamos ver hoje... aqui... quem já falou... já viu
alguma coisa sobre o Sobul... nós vamos ver... o que a Revolução
Francesa... o que a caracteriza... FALA GILDA... que que você... que
que caracteriza a Revolução? nós falávamos na outra aula sobre isso...
Gilda... então... aí... vamos lá...
AL: não estava na outra aula...
INF.: não estava? ( )
mas você já viu alguma coisa e pode dizer o que que caracteriza a
Revolução Francesa? ... ((vozes)) quem substitui? Grasiela... também
faltou à outra aula... quem disse... aqui? Gelson...
AL: estava...
INF.: que que
caracteriza a Revolução Francesa?
AL: eles fizeram a Assembléia Nacional...
INF.: eles fizeram a
Assembléia Nacional... mas isso não é a característica... uma
revolução... que é uma revolução?
AL: ( )
INF.: ah... muito
bem...
AL: ( )
INF.: muito bem...
AL: ( )
INF.: muito bem...
olha o Michel tá ficando... tá ficando um "expert" em História...
começou... no princípio foi ótimo... não ter ido muito bem na primeira
prova... não foi? foi ótimo foi ótimo porque ele se interessou de tal
maneira... que agora dá aula... nós vimos que ela assinala... como
disse o colega aí... a elevação da sociedade burguesa... e
capitalista... à História da França... ou melhor... ah:... assinala a
subida... ao poder... da sociedade burguesa... e capitalista... ora...
pode-se já ver nisso... o que é uma revolução... uma revolução
significa o que? uma mudança... de classe... em assumindo o poder...
você vê por exemplo... a Revolução Francesa... o que que ela significa?
nós vimos... você tem uma classe que sobe... e outra classe que
desce... não é isso? a burguesia cresceu...ela ti/ a burguesia
possuía... o poder... econômico... mas ela não tem prestígio social...
nem poder político... então... através desse poder econômico da
burguesia... que controlava o comércio... que tinha nas mãos... a
economia da França... tava nas mãos da classe burguesa... que
crescera... desde o século quinze... com a Revolução Comercial... nós
temos o crescimento da burguesia... essa burguesia quer... quer... o
poder... ela quer o poder político... e o prestígio social... ela quer
entrar em Versalhes... então nós vamos ver que através... de uma
Revolução... ela vai... de forma violenta... ela vai conseguir o
poder... isso é uma revolução porque significa a ascensão de uma classe
e a queda de outra... mas qual é a classe que cai? é a aristocracia...
tanto que... o Rei teve a cabeça cortada... não é isso? caiu... o poder
das classes privilegiadas e uma nova classe subiu ao poder... você
diz... por exemplo... que a Revolução RUSSA de dezessete... é uma
verdadeira revolução... por que? porque significa... a ascensão duma
classe nova... que tem o poder... ou melhor... que assume o poder... o
proletariado... e a queda... das outras classes... não é isso? o poder
decisório... o poder de dirigir... vai caber a essa classe que
emerge... e as outras classes decrescem... PERdem o poder... é a
mudança do poder... uma classe que sobe e a outra que cai... isso é que
é o que mostra... o que é uma revolução... a Revolução Burguesa
então... como nós vimos... nesse ( ) aqui... ela assinala... a subida
ao poder da cla/ da burguesia... essa burguesia que se enriqueceu com o
comércio... e queria O QUE... essa burguesia? o abandono da política
mercantilista... essa burguesia capitalista... liberal... ela quer o
que? o abandono da política mercantilista... essa política
mercantilista... que fortaleCERA... o Estado forte absolutista... o Rei
e o burguês... que formavam um binômio... que você não separava... um
se apoiando no outro... agora... nós vemos o seguinte... que essa
burguesia... ela não precisa mais da realeza... ela cresceu... nós
vimos... em número... em força... ela tem o comércio nas mãos... ela
controla as finanças... ela tem o poder... agora... ela não tem o pre/
ela não tem... o prestígio social e o poder político... que ela quer
atingir a esse poder... e para atingir esse poder o que? ela quer...
ela quer o que? o abando:no da política mercantilista... que...
fortalecia o Estado absolutista... além disso ela quer também... o que?
a liberdade do comércio... dentro da política mercantilista... dentro
do governo absolutista... era... essa... -- um momentinho meu filho --
essa política... essa liberdade de comércio era limitada o que? pelas
Corporações de Ofício... pelas Manufaturas Reais... que estabeleciam os
preços... a burguesia... ela quer o que? o abandono da política
mercantilista... ela quer o livre comércio... ela quer o que? a
concorrência... ela quer o lucro... são as ca/ as características do
sistema capitalista... a liberdade de comerciar... o lucro e a
iniciativa privada... ela não quer mais que o governo... que o estado
mercantilista... controle... os preços... as Corporações de Ofício... e
ela vai conseguir isso... o que? através de uma revolução... é preciso
que fique claro o seguinte... a situação da França... às vésperas da
Revolução... não era uma situação de miséria... não era uma situação de
fome... a Revolução... Francesa de mil oitocentos e oitenta e nove não
é uma revolução do POvo... de forma nenhuma... não é o povo... é a
burguesia... hoje... os historiadores ligados à economia... como
Labruce... eles mostram que... o que fez a Revolução... foi muito menos
a miséria... do que o preço dos tri/ o preço do trigo... não é isso...
era a subida dos preços... se você analisar... a situação do camponês
francês... às vésperas da revolução... você vê que esse camponês...
francês... ele tinha uma situação... relativamente boa... quando eu
digo... boa... era de forma relativa... se você comparar... com os
outros camponeses do continente... não em relação à Inglaterra....
porque na... em relação à Inglaterra... nós vimos que o nível de vida
era mais alto... uma vez que a renda... nós vimos na Revolução
Industrial... estava mais uniformemente dividida... na Inglaterra do
que na França... a França... vocês viram... ela teve TOdas as condições
pra Revolução Industrial eclodir nela por uma série de razões...
fala... Gelson...
AL: ( )
INF.: com a
liberdade...
AL: de comércio...
INF.: a liberdade de
comércio... porque a ca/ a Inglaterra muito
cedo adotou medidas PROtecionistas no comércio... nós vimos que há uma
tese... em relação à Revolução Industrial dizendo que... foram
capita:is acumula:dos pelo comércio exTERNO... que possibilitaram a
eclosão da Revolução Industrial na Inglaterra... não é isso? agora...
nós vemos então... o seguinte... que essa revolução... então... que
assinalou... a elevação da sociedade burguesa capitalista liberal... ao
poder e que deu acesso à burguesia... ela... se caracteriza também...
porque no momento que essa burguesia sobe... ascende... ela vai o que?
destruir... ela vai aniquilar... ela vai apagar... aquelas
reminiscências feudais... e nós vemos... que... no momento que essa
burguesia... sobe... ao poder... toda a Europa... sentiu... as cabeças
coroadas da Europa toda... os outros monarcas absolutos da Europa...
sentiram... que tinha soado sua hora... que uma força nova se
levantava... e que o poder absoluto... dos reis estava em perigo... nós
vimos aqui... quando vimos as fases da Revolução... nós vimos que a
primeira fase da Revolução... foi a fase da Assembléia Nacional...
reunida na França... vai elaborar... a primeira constituição do
mundo... do mundo moder/ constituição... no sentido moderno da
palavra... limitando o poder absoluto... dos governantes... por meio...
da vontade expressa pelo povo... não é isso? pelos representantes dessa
burguesia... nós vimos... então... que esse exemplo... é seguido de
pronto... por todos os outros países... você vê... na Espanha... nós
vamos ter a limitação do governo absoluto de Fernando sétimo por uma
carta constitucional... em Portugal... vocês lembram... temos a
Revolução Constitucionalista de mil oitocentos e vinte... na América
Latina... todos os países se tornando independentes... da América
latina... quando os vice-reinos espanhóis se desagregaram... todos eles
vão entrar o que? num regime constitucional... não é isso? as
constituições... limitando o poder... dos governantes... certo? mas...
a primeira Constituição Francesa... que surge nessa fase... nós vemos
que ela é elaborada pelos representantes da burguesia... mas a segunda
fase da Revolução... vocês viram... foi a fase da Convenção... essa
fase foi uma fase inteiramente... diferente da primeira... nós vimos
que ela... é diferente por que? nós vimos isso na outra aula... fala
Feliciana...
AL: ( )
INF.: por que...
Feliciana?
AL: eu estou chegando agora...
INF.: está chegando
agora? quem é que me diz... quem é capaz de caracterizar a fase da
Convenção? ((vozes))
AL: ascensão da burguesia tentando
evitar...
INF.: ascensão da
burguesia na Convenção?
AL:(...) tentando... tentando evitar o
movimento proletário?
INF.: ao contrário...
ao contrário... a fase da Convenção o que foi? a primeira fase... é a
fase... uma fase moderada... em que o poder é limitado... o Rei
continua... Luis dezesseis continua como Rei... mas não é mais o
soberano absolutista... isso vocês vejam o imPACto que isso causou na
Europa... um soberano tendo o seu poder limitado... a Europa toda se
liga... contra a França... a Rainha... Maria Antonieta... era
austríaca... nós vemos que... Locutor acidental: Roberta...
INF.: pois não... o
que é? Roberto?
Loc. ac.: ROBERTA...
INF.: Roberta... é
aqui da sala? o colega está perguntando...
Loc. ac.: obrigado...
INF.: nós vemos...
então... o seguinte... que... a Europa toda se coliga contra a
França... quer dizer... colocaram... destruíram essa força nova que
surgiu... não conseguem... mas dentro da França... começa a haver
antagonismo... porque no fim... nós vimos... de quase três anos de
Revolução... em que a burguesia assume o poder e está... com as rédeas
do governo na mão... no fim de quase três anos de governo... o povo
francês... principalmente o proletado... plo/ o proletariado de
Paris... o homem da cidade... ele viu que a sua situação não tinha
melhorado em coisa nenhuma... pelo contrário... tinha até piorado... os
preços subiram... o contrabando... a inflação... e ele viu que não
decidia coisa nenhuma... ele chega à conclusão... que ele tinha mudado
de senhor... do Rei tinha passado pra esse outro grupo... então essa
segunda fase... foi a fase mais violenta e mais radical da Revolução...
é a época em que... liderado... liderados por Danton... por Marah...
por Robespierre... nós vamos ver que o proletariado de Paris assume o
poder... é a época em que o Rei vai preso... quando tentava fugir... é
julgado... é decapitado... é a época radical... que é a época chamada
"época do terror"... é a época duma verdadeira revolução... em que o
proletariado de Paris... assume o poder e quer tomar medidas em seu
benefício... Diante dessa atitude... dessa tomada do poder pelo
proletariado... a burguesia se assusta... a burguesia não queria
isso... ela não queria que o proletariado emergisse... porque ela...
assim... naturalmente ela caía... nós vamos ver... então... que as
forças burguesas se coordenam... e conseguem... destruir... colocar de
lado... por abaixo... a força desse proletariado que ascendera... com
Marah... com Danton... com Robespierre... promovendo mesmo a discórdia
entre os dirigentes... as cabeças desses líderes rolaram... uma após
outra e nós temos... então... em noventa e cinco... a fase da Revolução
que é a fase do Diretório... esta fase é em que... novamente... a
burguesia toma as rédias do poder e a França... passa a ser governada
por um Diretório de quatro... de cinco líderes... este Diretório vai...
então... rever... vai se precaver... revendo... a Constituição...
elaborando uma NOVA Constituição... essa Constituição estabelece...
então... ela vai tomar medidas para que na/ não haja uma avanço...
dessas classe que poderiam prejudicá-la... e nós vemos... então... que
é estabelecido o que? a Constituição estabelece o direito do voto... o
"sufrágio universal"... mas agora... este direito... de votar... va/
todos têm direito a votar... todos os cidadãos são iguais perante a
lei... não é isso? o direito de VOTO... era... pertencia a todo
cidadão... mas... agora... nessas terceira fase... só vão poder ter o
direito a votar... só vai ter dieito a votar... os indivíduos que
tivessem uma determinada renda... isso vai mostrar o que? que o poder
vai ficar nas mãos do que? da burguesia... o poder deciSÓRIO...cabe
àquele que tem uma determinada renda... então... as classe
privilegiadas não teriam nunca o poder decisório... estabelece...
também nessa fase... que a propriedade é sagrada... inviolável... quer
dizer... estabelece o... as garantias... os direitos... da burguesia...
os direitos do cidadão são limitados agora pelos deveres do cidadão...
nós vimos que essa fase foi uma fase difícil... da história da
Revolução... foi uma fase... em que a França... teve que sustentar as
guerras externas... teve que... enfrentar conflitos... antagonismos
internos... e também... nós vamos ver... foi marcado de grande
corrupção... uma fase da grande desvalorização da moeda... os ( )
perderam inteiramente o valor... uma gran/ época de contrabando... de
falcra/ falcatruas... uma época extremamente difícil... nós vemos
então... que essa própria burguesia que ascendera... ela sente que está
em perigo... e... no momento que a burguesia se sente em perigo... --
vou mudar agora a questão -- no momento que essa burguesia se sente em
perigo... ela vai se voltar ... para o exército... o exército... tinha
grande prestígio... que estava vencendo as guerras no exterior... que
vai se voltar... então para o... vai procurar dar o poder... ao homem
de prestígio... que iria consolidar as vitórias da Revolução
Francesa... esse homem de prestígio... que vai consolidar... a
Revolução Francesa... nós podemos dizer que ele foi o "consolidador da
Revo/ da Revolução"... é Napoleão... Bonaparte... que já tivera grandes
vitórias fora da França... no Egito... na Itália... um homem... de uma
visão extraordinária... de GRANde prestígio militar e:... grande
prestígio dentro da França... e o próprio Diretório... colabora... para
que ele assumisse o poder... membros do Diretório mesmo... vão procurar
dar o poder a ele... e nós vemos que... em mil setecentos e noventa e
nove... dezoito brumário... brumário porque a Revolução Francesa
mudou... o nome dos meses do ano... brumário é o mês de novembro... mês
das brumas... do inverno que tá chegando... nós vemos... então... que
pelo dezoito brumário... cai o Diretório e Napoleão Bonaparte assume o
poder... instituindo o Consulado... Napoleão... ele é o verdadei/ é o
"consolidador da Revolução"... ele vai manter as conquistas da
Revolução... como um representante... das forças burguesas que
assumira/ que assumiram o poder... o poder na França... ora... nós
vemos... então... que vamos ter agora... de mil setecentos e noventa e
nove... o penúltimo ano do século... até a queda de Napoleão... em
Waterloo... nós vamos ter... a chamada "era napoleônica"... na
França... o que que caracteriza este período... napoleônico na
França... é o que nós vamos ver... e quais foram ... vamos ligar ... os
resultados da política napoleônica e... naturalmente... da política
comercial inglesa ao Brasil... eu disse aqui... já numa das nossas
primeiras aulas... que nós não somos produtores de História... que nós
somos consultores da História... nós não podemos fazer uma História do
Brasil... independente da História Geral... a França... teve um grande
crescimento... com Napoleão Bonaparte... aliás... vamos ver um
pouquinho... quem já ouviu falar e sabe alguma coisa de Napoleão? fala
Bragança... que que você sabe de Napoleão?
AL: ué, um general...
INF.: general...
claro... imperador...
AL: imperador... saiu de baixo... veio de
baixo...
INF.: quem mais
diga...
AL: se coroou...
INF.: se coroou...
ele mesmo se coroou...
AL: (...) só na guerra...
AL: ganhou conflitos...
INF.: ganhou guerras
e per/ perdeu a guerra a guerra sem querer... ah... e aí... quem mais?
((vozes)) quem mais diz alguma coisa de Napoleão?
AL: ele se apoderou do governo da França...
INF.: se apoderou do
governo da França... Napoleão é um dos personagens da História... que
tem uma bibliografia enorme sobre ele... nunca se tem falado tanto bem
e tanto mal de napoleão... quem... já viveu na França... algum tempo...
vê que o francês... ele tem... assim... uma verdadeira idolatria por
Napoleão... e eu... estive na França algum tempo... e... minha irmã
tava na França... e tinha uma sobrinha pequenininha de três anos... que
tava na França... ela no jardim de infância... um dia ela chega pra
mim... e diz... "tia... você que gosta da França..." -- ( )
nacionalismo... assim... quase radical que veio com Napoleão -- "você
que gosta... olha aqui... caixa de fósforo com Napoleão... pra você"...
quer dizer... ela já se sentiu imbuída... por aquele espírito... e
agora... então... vamos ver quem era Napoleão Bonaparte...
naturalmente... os biógrafos de Napoleão e os críticos dizem... que ele
não teria passado de um brilhante oficial do exército francês... um
briLHANte oficial do exército... se... não fosse a Revolução
Francesa... a Revolução é que deu... oportunidade... a Napoleão de...
de crescer e se tornar Napoleão... claro... a Revolução deu a
oportunidade a ele de ascender... se não tivesse havido Revolução...
ele jamais... teria chegado ao... poder de dirigir... a França... mas (
) Napoleão... ele não era... vamos dizer assim... francês...
praticamente... ele nasceu na...? onde é? Napoleão nasceu aonde?
AL: na Córsega?
INF.: na Córsega... e
a Córsega tinha pertencido... até poucos anos antes da... do nascimento
de Napoleão... à Itália... a Itália vendeu a ilha de Córsega à ::...
França... Napoleão era corso... e... durante o início... da sua vida...
quando ele entrou... rapazinho... se não me engano de quatorze ou
quinze anos... pra Escola Militar de Zurieri... a grande... o grande
sonho de Napoleão era libertar a Córsega da França... ele pertencia a
uma pequena burguesia... muitos irmãos... tanto que no... Napoleão
nunca falou bem o francês... cometia mesmo muito erro... muitos erros
de grafia... eu visitei em sessenta e nove... na França... a
exposição... do "Grand Ballet"... sobre: Napoleão Bonaparte... foi uma
das maiORES exposições que a França já cultuou... você levava seis
horas... quase percorrendo a exposição... a exposição começava... com a
certiDÃO de batismo de Napoleão... que é interessante observar...
escrita em italiano... Napuolione Buonaparte... era em italiano... e
aí... partindo dessa certidão de batismo... a mãe dele era uma
italiana... dona Letícia Bonaparte... todo um temperamento... do sul da
Itália mesmo... quando napoleão deu a mão pra ela beijar... depois de
coroado... que que ela fez? deu-lhe uma mordida na mão... onde já se
viu filho... a:... mãe... o filho... a mãe... quer dizer... beijar o f/
ela deu... ele deu... a mão à... à dona Letícia... deu e fez dona
Letícia... levar a mão para ele beijar... não é? ela aí... dona Letícia
resistiu ao poder... ela não ia beijar a mão do filho... porque o filho
é que beija a mão da mãe... deu- lhe uma mordida na mão... e ela era
italiana temperamental... quando ela via Napoleão subindo... Napoleão
dando títulos de nobreza a todo mundo... aquela grandeza toda... que
que ela dizia?... ((vozes)) "contanto que isso dure"... pensativa...
"contanto que isso dure"... bom... nós vemos então... há um
historiador... -- um instantinho só -- há um historiador...
argentino... Carlos Perera... que ele tem um trabalho muito
interessante... sobre o estudo do homem... e a obra que esse homem
realiza... ele classifica o homem de acordo com a obra... ele... por
exemplo... diz que há homens... que são maiores do que a obra... homens
que são menores do que a obra... e homens que são iguais à obra... por
exemplo... pra exemplificar aqui... Carlos Perera diz... que Colombo...
quando você compara Colombo... com a obra que ele realizou... o homem é
muito menor do que a obra... ele descobriu a América por um acaso...
agora... a obra é muito maior do que ele... não é? a descoberta da
América é o maior acontecimento ocorrido no planeta... vamos dizer
assim... depois do nascimento de Cristo... depois da Revolução Russa...
quer dizer... o::... a obra... o homem... e a obra... não é isso? você
vê então... que:... grandes homens... obras (que são) maiores... (do
que os homens) inclusive... você vê... então... que ah... voltando aqui
a:... descoberta da América foi de muito maiores... de conseqüências...
muito maiores do que... do que Colombo... já o homem se igualando à
obra... ele coloca... por exemplo... o César... e o homem maior do que
a obra é Napoleão... Napoleão... ele queria realizar uma obra...
extraordinária... que que Napoleão queria... quando ele conquista a
Europa toda? ele queria formar... os Estados Unidos da Europa... com a
França no centro... e por que que ele queria unir a Europa toda? pra
fazer frente à Inglaterra... ele queria... criar os Estados Unidos da
Europa... unindo o continente todo contra... a Inglaterra... nós
vemos... então... que você tem aí uma concorrência... que ele sente...
entre a França e a Inglaterra... a França tinha perdido a Guerra:...
dos Sete Anos para a Inglaterra... tinha perdido... o seu comércio
exterior... o comércio colonial... que a Inglaterra com a Guerra dos
Sete Anos... tinha ficado com as colônias francesas... nós vemos
então... que Napoleão ele sente... que o continente tem que crescer...
mas como é que ele ia diminuir o poderio inglês? qual é a medida que
ele toma... para diminuir o poderio inglês? para diminuir o poderio
inglês... nós vemos que Napoleão... quando ele entra em Berlim... em
mil oitocentos e sete... depo/ vai conquistando a Europa Central todos
os países da Europa Central... a Prússia... a Áustria... quando ele
entra em Berlim... em mil oitocentos e sete... que que ele
declara...com todos os estados? Bloqueio Continental... o que foi o
Bloqueio Continental quando Napoleão entra em Berlim em mil oitocentos
e sete... ele declara o Bloqueio Continental... vocês conhecem isso
desde os bancos do ginásio... o que foi... Gelson... o Blo/ Bloqueio
Continental? ((vozes)) ninguém me diz?
AL: éh... eu sei... é a parada da...
INF.: a parada...
AL: ( ) do comércio... do... da
Inglaterra...
INF.: a parada do
comércio da Inglaterra... Napoleão dizia que
ele ia... vencer a Inglaterra pela força... o Bloqueio Continental...
-- vamos falar nisso numa linguagem mais universitária -- é uma medida
PROTECIONISTA... que Napoleão ADOTA... para as indústrias dos
franceses... quando ele proíbe todos os países do continente... de
comerciarem com a Inglaterra... o nome já tá dizendo... Bloqueio
Continental... ele per:mite os países que tavam no seu domínio... o
continente todo... de negociar com Inglaterra... porque ele visava com
essa medida... enfraquecer o comércio... enfraquecer o comércio...
inglês... ele visa enfraquecer o comércio inglês... como? que a
Inglaterra... vivendo a Revolução Industrial... já nos fins... quase...
da primeira... então... a Inglaterra já na primeira fase avançada da
Revolução Industrial... ela quer colocar os pro/ produtos manufaturados
no mercado... e isso... naturalmente... causava prejuízos à França...
que estava também desenvolvendo... as indústrias... a medida...
então... é protecionista... como? pras indústrias francesas...
PROIBINDO a... o continente de comerciar com a Inglaterra... ele ado/
adotando uma medida protecionista ... para os produtos franceses...
e... naturalmente... nós vemos que os países dominados por Napoleão
cortaram... aderiram... ao Bloqueio Continental...Mais dois países...
furaram o Bloqueio... e aí nós vamos entrar na História do Brasil...
quais foram os dois países que furaram o Bloqueio Continental? que não
aceitaram o Bloqueio... por trás continuaram a negociar com a
Inglaterra? um deles... foi Portugal... a política... adoTADA... pelo
príncipe regente Dom João... qual foi? Portugal... era aliado da
Inglaterra desde tempos... muito antigos... desde a dinastia de
Borgonha... Portugal tava ligado por tratados de aliança... de
comércio... à Inglaterra... então... Portugal não podia romper com a
Inglaterra... além disso... os mi/ os ministros de Dom João... você
tinha uma grande maioria de ministros que eram anglófilos... quer
dizer... que defendiam a política... ligada à Inglaterra... havia
também os francófilos... mas a maioria era anglófila... então... Napo/
Dom... Dom João teve que dar uma satisfação a Napoleão... ele... disse
que adere ao Bloqueio Continental... mas... por trás... continuou... a
negociar com a Inglaterra... confiscou grandes empresas... devolveu por
trás... etc... Napoleão... então... vendo que ele estava... que ele
estava sendo ludibriado... pelo Rei de Portugal... pelo Regente de
Portugal... o que ele fez? preparou tropas para invadir Portugal...
(todo mundo leu que) o General Onofre Girau... invade Portugal...
diante da invasão francesa... de Portugal... que que Napole/ que que o
Príncipe Regente teve que fazer? ele veio para o Brasil... mas ele veio
para o Brasil atendendo aos imperativos da política comercial
inglesa... Lord Straintford... Ministro inglês de Portugal... dá um
ultimato a ele... ele vinha pro Brasil nem que fosse à força... a
medida que ele vai tomar em chegando ao Brasil... o que é? Abertura dos
Portos? por que? Abertura dos Portos ao comércio inglês... com a...
então...
AL: por que antes não era aberto... é?
INF.: não... só...
era o regime do monopólio... Portugal só comerciava com o Brasil...
tudo era o Brasil... era o regime do monopólio... era o pacto
colonial...
AL: mas o Brasil mandava pra Portugal...
Portugal distribuía pelo Brasil...
INF.: Portugal
distribuía... não é?
AL: mas Portugal... Portugal...
INF.: você o nosso...
próprio algodão... o algodão brasileiro... ele ia... nós tínhamos a
matéria-prima... ele ia em fardos daqui pra Portugal... Portugal
mandava esse algodão pra Inglaterra... o algodão era transformado em
panos... voltava pra Lisboa... os panos ingleses... o dobro ou o
triplo... e depois vinha pro Brasil... o Brasil... o Brasil comprava
seu próprio algodão umas cinco ou seis vezes mais... com o preço mais
alto... certo? é o regime do monopólio... quer dizer... a colônia... só
podia comerciar com a metrópole...
AL: se o Brasil tivesse um desenvolvimento
grande seria a tomada de Napoleão... do poder real... né?
INF.: ah... sim... a
política inglesa... e a política francesa... a política Napoleônica...
e a política inglesa... trouxeram o Príncipe... Regente... para... para
o Brasil e naturalmente houve o que o historiador... o historiador
Oliveira Lima diz... a inversão brasileira... por que a inversão
brasileira? o Brasil ficou na posição de metrópole... e Portugal ficou
numa situação de dependência... agora a verdadeira independência... é
feita por Dom João... no momento que ele vem... abre os portos... com
aquele jeito bonacheirão... parecendo que era um príncipe meio tolo...
Dom João era um político habilíssimo... Dom João era... tinha um senso
político muito grande... a nossa independência foi feita por Dom
João... todas as medidas de Dom João visavam à independência (do
Brasil)... eu acabei de ler agora... um livro muito interessante...
que:... "As Quatro Coroas de Pedro Primeiro"... em que ele transcreve a
série de documentos... que mostra essa política de Dom João... Dom
João... ele pensava até... em fazer a união... do Brasil com
Portugal... fazer uma coisa só sendo que Dom Pedro... seria o Pedro
Primeiro do Brasil e o Pedro Quarto de Portugal... ia ser o mesmo Rei
dos dois... dos dois impérios... das duas... dos dois... da Colônia...
que não era mais Colônia... e do... e de Portugal e da Metrópole...
tanto que ele elevava o Brasil à categoria de Reino... Unido... quer
dizer... não existe mais a Colônia nem a Metrópole... ele queria fazer
uma coisa só...
AL: Silvia... e os russos... que que tem a
ver?
INF.: ah... os
russos... teria a ver? eu disse aqui... que dois países...
AL: é...
INF.: (...) furaram a
política protecionista de Napoleão... não aceitaram o Bloqueio
Continental...
AL: qual é o segundo?
INF.: um... desses
países...
AL: por favor... podia repetir o Bloqueio
Continental?
INF.: Bloqueio
Continental? Napoleão... tomando aqueles países da Europa Central...
sucessivamente todos eles... a Prússia... a Áustria... a Polônia... ele
entra em Berlim... e quando ele chega em Berlim... mil oitocentos e
sete... ele declara... o Bloqueio Continental... o que era o Bloqueio?
o Bloqueio era um cerco... um cerco do continente...quer dizer...
proíbe o continente de negociar com a Inglaterra... que medida é essa?
enfraquecer a Inglaterra... a Inglaterra não tinha compradores... ele
enfraquecia o mercado inglês... entendeu? todos os produtos
industrializados entravam no continente... que entravam no
continente... eram produtos ingleses... então... no momento que ele
declara o Bloqueio Continental... ele...
AL: ele tira o dinheiro da Inglaterra...
INF.: ah... o
grande... é a rivalidade da Inglaterra... quando eu disse que Napoleão
visava fazer os Estados Unidos da Europa... o que era? era unir o
continente contra a Inglaterra... era con/ o problema da
concorrência... da França com a Inglaterra... certo? e então... nós
vamos ver ele proíbe todos de comerciarem com a Inglaterra... mas
Portugal... Dom João começou a negociar por trás com a Inglaterra... de
maneira que Napoleão viu a questão... mandou invadir Portugal...
Portugal foi invadido pelos franceses até a França... até... até os
franceses...
AL: e a Espanha nessa história?
INF.: a Espanha nessa
história... eu vou te dizer... a Espanha... Napoleão... prendeu
aprisionou o:... o Rei... o Carlos... Carlos quarto... eu acho... e o
filho... Fernando sétimo... recebeu a coroa... a coroa... que era irmão
de Carlota Joaquina... Carlota Joaquina era mulher de Dom João...
princesa espanhola... nós vemos... então... que o Carlos... o Fernando
sétimo... eu disse Carlos... era o pai... Fernando sétimo... então...
tem a coroa da Espanha... na entrevista de Baioneni... Napoleão TOMOU a
coroa de Fernando sétimo e deu a seu irmão... José Bonaparte... no
momento... que...José Bonaparte se torna Rei... da ESPANHA... muitos
historiadores vêem aí... o início da queda... de Napoleão... porque o
espanhol... guerrilheiro... o espanhol nunca aceitou... José
Bonaparte... começaram as lutas... as guerrilhas... José Bonaparte
nunca dominou... a Espanha... e isso... esse Rei estrangeiro...
francês... na Espanha... fêz com que? que as Colônias... Americanas...
da Espanha... os Vice- Reinos Espanhóis se tornassem... o que?
independentes... porque ficaram acéfalos... sem governo... não
aceitaram o Rei espanhol... não aceitaram o Rei francês... na
Espanha... e... os Vice-Reinos... todos eles... vão se tornando
independentes... é a época da emancipação dos países da América...
Latina... da América Espanhola... da América Hispânica...
AL: Napoleão mudou as histórias... né?
reconhece...
INF.: ah ele reco/
ele mudou... evidentemente... então... você vê o seguinte... mas outro
país não aceitou também o Bloqueio Continental... foi a Rússia... a
Rússia... um país agrícola... o Czar Alexandre... terceiro não
aceita... o Bloqueio Continental... também quis enganar Napoleão...
porque a Rússia agrícola... ela abastecia de trigo... e outros produtos
agrícolas a Europa toda... comerciava com a Inglaterra... e Napoleão...
AL: chega...
INF.: quando viu a
Inglaterra...