ELOCUÇÃO FORMAL (EF)
Inquérito 356
Tema: Criatividade e
redação no nível superior de ensino
Duração: 40 minutos
Data do registro:
3/5/77
Informante: sexo
feminino,30 anos, formação universitária: Letras, carioca, pais
cariocas, área residencial: Zona Sul.
Clique aqui e ouça a narração do texto
INF.: eu
vou ler a introdução do trabalho para... vocês terem uma noção do que
se trata... ((inicia leitura de texto)) "este trabalho visa a analisar
o problema da redação e o da criatividade na expressão lingüística...
focalizando especificamente o nível superior de ensino... ater-nos-emos
à forma escrita da linguagem... já que esta modalidade lingüística é
que nos interessa mais de perto... a expressão ORAL... é sem dúvida
alguma um fenômeno relevante e criativo da atividade verbal...
entretanto... embora o trabalho dos professores das faculdades de
Letras e de Comunicação... não consista apenas... em observar a mani...
manifestação escrita do idioma... consideramos o fato de que nossos
universitários têm mostrado maior dificuldade nesta... do que naquela
modalidade do idioma... o nosso objetivo é através de uma visão crítica
do ensino de Língua Portuguesa nas escolas e nas universidades do Rio
de Janeiro... o de procurar um caminho que desenvolva no aluno... a
capacidade de redigir correta... E/OU... artisticamente... julgamos que
para o desenvolvimento pleno da expressão oral... seriam necessários...
em nível superior... cursos específicos de arte dramática... visando ao
teatro... e de retórica... campo fértil e interessante sem dúvida...
mas que foge um pouco aos nossos interesses imediatos... no presente
estudo... tenta-se fazer uma análise do ensino de português...
comunicação e expressão... nos primeiro e segundo graus... uma vez que
partimos do pressuposto... de que o estudante universitário não pode
ser analisado como um fenômeno isolado daquela realidade... ele é
conseqüência da formação que recebeu anteriormente... e... precisa de
um apoio no sentido de melhorar os erros... e as deformações que traz
de seu nível médio... abordaremos criticamente os métodos empregados
naqueles dois níveis de ensino... não deixando de levar em conta o
fenômeno dos cursinhos... e do vestibular que tanto influenciam e
prejudicam a formação de nossos discentes... a partir disto...
tentaremos analisar a nossa estrutura universitária... tomando por base
principalmente a realidade da Faculdade de Letras da U.F.R.J. ... na
qual exercemos atividades docentes e a qual conhecemos mais de perto...
far-se-ão sugestões... de modificações do programa de língua portuguesa
que se prendem sobretudo ao possível e não ao ideal... já que todos os
planos visando a alcançar o ótimo... têm acabado por limitar-se ao
satisfatório... este trabalho não quer... portanto... ser uma
reforma... do ensino universitário em termos de redação e cria...
criatividade... uma vez que isto implicaria medidas e mudanças radicais
que alterariam to... todo o sistema... embora concordemos com ele...
não temos a pretensão de cumprir o pensamento de George Kneller "para
que possa realmente nutrir a criatividade a educação deve ser
RECRIADA..." visando apenas contribuir com a nossa experiência pessoal
e nossas observações de sala de aula para o ensino mais eficaz de nosso
idioma... mormente naquilo que se refere à redação e à criatividade..."
((termina leitura do texto)) bom a partir... desse... dessa
introdução... nós podemos... ver o primeiro ponto... que... eu
focalizei aqui no trabalho... que é justamente uma análise... uma
abordagem crítica dos métodos e dos livros... éh... adotados... no...
primeiro e segundo graus de ensino... eu parti da análise... eu fiz a
análise de mais ou menos:... vinte e cinco livros didáticos... mas
também utilizei os resultados... que saíram... numa reportagem do
Jornal do Brasil... do escritor éh... Osman Lins... ele tinha analisado
quatrocentos e trinta e cinco trechos de livros didáticos... e chega à
conclusão de que... realmente... éh... esses livros didáticos... esse
novo ensino de Comunicação e Expressão... tem... deixado muito a
desejar... no que tange à parte de literatura... à parte de formação
literária... ele faz... uma espécie de levantamento estatístico e
diz... que os autores mais citados pelos livros didáticos de
Comunicação e Expressão... são Carlos Drummond de Andrade...
Stanislaw... éh... Stanislaw Ponte Preta... muitas vezes Edson Arantes
do Nascimento... Pelé... e... Chico Anysio... e pessoas... vinculadas
sobretudo aos meios... de comunicação de massa... televisão... rádio...
cinema... etc... e ele discute esta escolha... na medida em que não é
que ela não seja válida... e eu particularmente sou a favor... da
inserção de meios de comunicação de massa na divulgação do ensino do
idioma... mas ele mostra que houve uma troca... em vez... de se
estudarem os autores literários pela literatura em si... se estuda um
autor literário a partir dos meios de comunicação de massa... ou
seja... o fato de Carlos Drummond de Andrade... que é um dos nossos
maiores poetas... encabeçar a lista... dos mais citados não se deve ao
fato de ele ser um grande poeta... e sim... ao fato... de ele escrever
crônicas no Jornal do Brasil... ou seja... ele é um nome conhecido
através de um meio... de divulgação de massa... então para que o
trabalho tomasse uma estrutura... tomasse corpo... eu parti da análise
dos manuais tradicionais... e cheguei... aos manuais... aos últimos que
nós temos em termos de Comunicação e Expressão... parti... éh... dos
antigos... manuais... que apenas aquela visão que todos nós
conhecemos... e eu não preciso ficar repetindo aqui... ou seja... de
trazer um texto de Camões... né? d` Os Lusíadas ... e mandar o aluno
simplesmente fazer uma análise sintática... o que acontecia é que o
aluno nem sabia fazer a análise sintática... NEM aprendia nada do
texto... nem entendia o texto lido e passava a odiar Camões... então o
ensino se mostrava totalmente inoperante... os textos eram...
escolhidos sobretudo ATÉ Camilo Castello Branco... ou seja... Camões...
Dom Dinis... Almeida Garrett... e... até Camilo Castello Branco se
ia... até Olavo Bilac se ia... mas depois disso não havia mais citações
de texto... não é que eu tenha nada contra... contra Camões... ao
contrário... não tenho nada contra Camilo Castello Branco... mas eu
acho que no primeiro e no segundo graus... o... aluno ainda não tem a
capacidade e a maturidade para entrar em contato com um texto deste
tipo... bem... estes manuais tradicionais não funcionavam... eles
ensinavam o idioma a partir de textos que não atingiam o nível do
aluno... a parte de gramática era dada totalmente DESVINCULADA do
texto... ou seja... havia um texto de Olavo Bilac por exemplo... e
vinha uma ques/ uma... um capítulo sobre fonética... no capítulo sobre
a disciplina... dizia-se que... havia vogais e consoantes... e que eram
vogais... o que eram consoantes... classificavam-se as vogais e as
consoantes e a partir daí o aluno decorava uma lista... enorme... de...
éh... fonemas ou de sons... no caso da fonética... que não tinham...
éh... a menor utilidade... a menor vinculação com a língua que ele
falava... um dos primei/ primeiros manuais a trazer... uma nova
visão... uma visão mais vinculada entre teoria e texto foi o "Manual de
Português Para Terceira e Quarta Séries... do professor Celso Cunha...
que... hoje em dia... já está antiquado... já não é mais dotado... mas
na época... inovou bastante... a metodologia do ensino...ou seja ele
trouxe citações de escritores modernistas... não só modernistas...
havia uma mistura EQUILIBRADA entre Camões... Dom Dinis... Camilo
Castello Branco... Olavo Bilac... Carlos Drummond de Andrade...
Fernando Pessoa... Fernando Sabino... Rubem Braga... Graciliano
Ramos... etc... mas... esse manual também não funcionava ainda em
termos estruturais... ou seja... a gramática... e as noões teóricas não
emergiam TOTALMENTE do texto proposto... bem... houve um um uma outra
etapa... da... da: didática brasileira e esta veio ... no Rio de
Janeiro... eu estou falando em termos de Rio de janeiro que é a
realidade que eu conheço melhor... não posso falar em termos de São
Paulo e dos outros estados... mas no Rio de Janeiro apareceu... uma
série didática da professora Maria Helena Marques e do professor
Domício Proença Filho... os três primeiros livros eram de Maria
Helena... e de Domício... os dois últimos... número quatro e número
cinco... só de Domício Proença Filho... éh... este livro trouxe uma
série de inovações... ou seja... desenhos... imagens coloridas...
pertinentes ao texto... uma vinculação maior... eu gostaria de ler um
trechinho mínimo pra vocês do prefácio de um dos livros... da Maria
Helena... Marques... e do Domício Proença Filho... em que eles
definem... o objetivo... da didática... e do livro... de português...
nós vamos ver que... a gramática passa a emergir do próprio texto... e
passa a ser... vinculada à realidade brasileira... então... aqui está o
trecho do livro deles... do livro número quatro... não... do livro
número três... se não me engano... ((inicia leitura do texto)) "tendo
em vista que o ensino da gramática... visa... a conduzir o discente à
consciência dos processos que espontaneamente utiliza ao falar... ou
escrever... o fato gramatical... foi examinado... em função... do TOdo
significativo em que ocorre... procurou-se evidenciar a atitude dos
escritores... ao selecionarem as palavras e estruturá-las em frases...
houve também... a preocupação... de vincular o estudo da língua ao
conhecimento da realidade cultural brasileira..." ((termina leitura do
texto)) ou seja... davam-se informações não só de literatura... mas da
realidade brasileira... ao introduzir um texto de Graciliano Ramos...
era importante colocar o aluno em contato com a realidade em que
viveu... Graciliano Ramos... ou seja... para compreender o
regionalismo... o aluno tinha de entrar de contato... em contato com a
região... obviamente... bom... mais tarde houve a reforma do ensino...
eu ainda faço a análise de outros livros mas eu acho que eu iria...
encompridar muito... eu ainda tenho aqui... vinte minutos e eu gostaria
de chegar ao cerne da questão até o final do meu tempo... bem... outros
livros... a partir da reforma de ensino... o/ a disciplina que se
chamava Português... ou Língua Portuguesa... passa a se chamar...
Comunicação e Expressão... então... a partir da Lingüística... a partir
de uma visão mais ampla... do que seja língua... do que seja cultura...
né? nós temos uma modificação no ensino de Língua Portuguesa... o que
fazem os livros? um dos... melhores e um dos principais... não sei se
vocês conhecem... ((ruído)) é este aqui... desta série... da Maria
Helena Silveira... vocês já devem ter entrado em contato... quem foi
aluno de Maria Helena Silveira... ou mesmo quem não foi... me parece
excelente... o que Maria Helena faz... ou seja... ela parte da
comunicação em geral... ela parte... do código... lingüístico mas
também... focaliza outros meios de comunicação que não sejam... o da
linguagem articulada... ou seja... a linguagem de trânsito por
exemplo... ela utiliza... onomatopéias e interjeições para
introduzir... o código de linguagem articulada... e a partir daí ela
entra no texto literário... e não só no literário... ela traz também
textos de jornal... ela traz... textos... éh... como linguagem de
requerimento... por exemplo... ela traz a Declaração dos Direitos do
Homem... ou seja diversas modalidades... de... linguagem... bom... mas
ao lado deste bom livro de Maria Helena Silveira... há também o da Ada
Rodrigues que é muito bom... aparecem livros... deste tipo... os
livros... são muito coloridos... eles são muito... atrativos... e uma
das críticas que o Osman Lins faz naquele artigo que eu já citei... o
artigo se chama "O que os alunos desaprendem de literatura
Brasileira..." uma das críticas que Osman Lins faz... é justamente... o
fato de os alunos serem atraídos NÃO pelo... hábito de ler... NÃO...
pelo texto em si... não pela língua que eles vão manipular... e que
eles vão usar pela vida a fora e sim eles são atraídos pelo que é mais
fácil... o que é mais digerível... ou seja... o alu/ o professor
escolhe... o texto... porque o aluno... vai ficar satisfeito com aquele
texto na medida em que ele conhece o Chico Anysio da televisão... mas
nem sempre um trecho do Chico Anysio vai trazer... elementos estéticos
ou elementos literários pertinentes à matéria a ser transmitida...
então... este livro aqui... que... é da... maria Gessi Militão e Marisa
Serrano Feseli... me afirma na página cinqüenta e um... da oitava
série... o seguinte... ((inicia leitura do texto)) "os modernistas da
primeira fase... vão se importar APENAS com o significado... isto é...
o conteúdo..." ((termina leitura do texto)) ponto... acabou a
informação... então o que acontece... é que... se por um lado a
Comunicação e a Expressão... ampliaram a visão da língua... ou seja...
a... questão de comunicação não está restrita ao código verbal... e
isto é válido... e istso é desejável porque como diz o... o Samir...
o... o Samir Curi Messerani... que é o autor de uma série didática
chamada "Criatividade"... que eu acho excelente... visando ao ensino de
redação... ele diz... não adianta nós lutarmos contra os meios de
comunicação de massa... porque... se nós não o... os colocarmos nos
livros... nós estaremos fora da realidade dos alunos... porque os...
eles já entraram no aluno... não adianta afastar essa possibilidade...
mas no momento em que nós ampliamos demais... né? nós corremos o
risco... de dar informações deste tipo... quer dizer... ((cita texto
lido)) "os modernistas da primeira fra... fase se preocuparam apenas
com o conteú... com o conteúdo da mensagem..." ((termina citação))
ora... o que acontece nestes livros de Comunicação e Expressão e no
exame dos quinze livros... com... raras exceções... com três ou quatro
exceções... o que me pareceu haver... é uma tremenda mistura de
conceitos... ou seja... o professor começa... dando um conceito do que
seja signo lingüístico... por exemplo... bom..,. no capítulo
seguinte... ele não... vai jogar com semântica... né? com... com as
variações de significado ou de significante... no caso da fonética...
não... ele passa pro conceito... por exemplo de sintagma... dois
minutos depois ele me vem com função poética do Jakobson ... né? ele me
dá todas as cinco funções... bom... há uma mistura terrível de noções
de teoria literária... com noções de lingüística... porque o próximo
capítulo é de modernismo... então ele me afirma alguma coisa deste tipo
que eu acabei de ler... então... o que acontece é que em vez de se
ampliar... pertinentemente o âmbito do ensino... o que está ocorrendo
nos nossos alunos é uma fragmentação do ensino... ou seja... ele perde
a noção do todo... e fica com uma série... de aspectos teóricos...
isolados... que ele não sabe vincular à realidade nenhuma de seu
idioma... isto é válido também para a Faculdade de Letras... ou seja...
né? há uma série... de conceitos teóricos... que têm nomes bonitos e
sofisticados... mas que... na hora de serem empregados... deixam muito
a desejar... eu não digo que nós não devamos... éh... estudar
lingüística... não é esse o meu ponto de vista... eu acho... ao
contrário... altamente pertinente -- estudei lingüística nesta
Faculdade e não faço outra coisa... durante a minha carreira... senão
utilizar os conceitos de lingüística -- mas não ... a lingüística pela
lingüística... ou seja... né? o aluno... apenas operar com o que seja
um sintagma... então... por que que é importante a noção de seqüência e
a noção de sintagma? por que que nós não vinculamos isso... à
coordenação... e a subordinação... tradicionais? por que é que na hora
que o professor... que vem... com um aparato... né? com livros
coloridos... os livros cheios de imagens e fotografias... e ele motiva
o aluno... de repente ele corta a sua aula... e diz... hoje nós vamos
estudar orações... dois pontos... as orações se dividem em...
coordenadas e subordinadas... as coordenadas podem ser... sindéticas e
assindéticas...ou seja... ele quebra toda... a estrutura da língua...
quando ele... chega em sala de aula... com um esquema pronto e lança
isso... ao aluno... sem perguntar sequer ao aluno se o aluno sabe o que
é uma subordinação... o que é uma coordenação... bom nesse ponto... nós
vamos chegar a um ponto agora... eu ainda teria muito a dizer...
sobre... o... os livros didáticos que me parecem... éh... bons na
intenção... mas bastante deficientes na realização... éh... o que me
parece que fica... em geral... a crítica geral que se pode fazer é
esta... há uma mistura de conceitos... lingüística e gramática
normativa se misturam... teoria literária... e... lingüística se
misturam...semiologia e lingüística se misturam e o aluno acaba não
sabendo o que fazer com tudo aquilo que ele aprendeu... então eu
sugiro...quer dizer... um dos outros problemas é que... a redação...
que é o principal e objetivo primeiro... do ensino do primeiro e
segundo graus... tem sido marginalizada... né? vocês devem ter contato
com alunos... né? em colégio esta... em colégios estaduais e... e...
e... mesmo ... éh... particulares e também foram alunos de colégios...
e sabem perfeitamente que são RARAS... as aulas dedicadas à redação...
ou seja... o que acontece é que precisa haver uma nota de redação...
geralmente de dois em dois meses o professor um dia chega em sala de
aula e diz... redação... tema tal... o aluno senta e escreve... o
professor dá uma nota... baseado normalmente em critérios formais... ou
seja... ele corrige ortografia... sintaxe... morfologia e acabou a aula
de redação... ele passa pra noções teóricas... então... nesse trabalho
eu sugiro... um outro método... ou seja... primeiro... a primeira
coisa... é óbvio... né? que tem de haver uma reforma... no sentido de
que os professores sejam bem remunerados... porque com a remuneração
que os professores recebem não é possível eles terem tempo para
corrigir essas redações... para dar essas redações... para discutir o
tema com os alunos... para motivar o aluno... tudo o que seria
desejável... ele já não tem... porque o que acontece é que ele é mal
remunerado... então ele dá trinta e cinco aulas por semana e mal tem
tempo para chegar em casa e poder realmente... corrigir essas
redações... bem... então a primeira sugestão é que o governo apóie...
os professores... aumente a carga horária e a remuneração... em segundo
lugar... que se... motive o aluno... ou seja...se proponha um tema que
seja discutido em sala de... por exemplo... saiu um artigo no jornal
interessante... de interesse geral... alguma coisa que possa despertar
polêmica... esses alunos debateriam numa aula... seriam duas aulas
seguidas... debateriam o tema... um grupo iria discutir... discutir
esse tema... e o resto da turma não participaria... e isso foi sugestão
de um outro grupo do ano passado de Problemas Brasileiros que eu
adotei... citando o grupo naturalmente... e achei muito boa... ou
seja... na hora que um aluno... quer dar a sua opinião sobre o tema
debatido... ele então... vai escrever a sua opinião... quer dizer...
ele não... se permite que o aluno fale até determinado momento...
quando ele está querendo participar... então o professor diz... não...
escreva o que você está pensando... e... no início o critério de
avaliação... poderá ser bastante flexível... ou seja... éh... nós vamos
procurar... despertar no aluno uma capacidade de expor o conteúdo de
uma maneira lógica... e com pertinência ao tema... a partir daí... num
segundo estágio... nós poderemos colocar algumas questões de gramática
e... o que eu achei excelente -- isso também foi sugestão de outro
grupo... não é sugestão minha -- é que o... o... o grupo disse... nós
não devemos corrigir... ou seja... pegar a redação e colocar a forma
certa... nós devemos... assinalar o erro... colocar um número ao lado
desse erro e o aluno... estaria de posse de uma apostila... de alguma
coisa... um... um roteiro... em que os números corresponderiam aos
erros... por exemplo... número um seria ortografia... então em vez de o
professor riscar aqui o arbitrário com agá... o professor apenas
sublinha o arbitrário e dá ao aluno as fontes onde ele pode encontrar
essa palavra corretamente escrita... ou seja... um dicionário..
então... número um seria ortografia... onde o aluno pode procurar a
palavra correta? em um dicionário... então... o professor sugeriria um
bom dicionário... né? que não se sugira o do MEC... que saiu agora uma
reportagem contra do Silveira Bueno... né? que se sugira um outro...
bem... em segundo lugar... por exemplo... o problema de concordância...
então... número dois seria concordância... em vez de colocar a
concordância correta... o professor colocaria a... fonte de pesquisa...
ou seja... Evanildo Bechara... "Moderna Gramática Portuguesa"... Celso
Cunha... "Gramática da Língua portuguesa"... páginas tais e tais...
onde o aluno poderia procurar... o que é concordância... então ele
começaria a... ter uma certa... noção... de que... a gramática serve
pra aquilo que ele escreve e não só pra aquilo que o escritor
escreve... ele não vai aprender a gramática como alguma coisa
isolada... do contexto dele... aluno... e não do profes... do... do
escritor... então ele iria à gramática... e tiraria dali as normas...
isso seria dado em termos de trabalho de casa... ou seja... o aluno
teria de trazer a sua redação corrigida por ele mesmo... com a forma
correta após este aluno pesquisar... na fonte aquilo que ele errou...
quer dizer... o professor não assume aí uma atitude paternalista de
está errado e eu dou a forma certa... ele assume uma atitude de
orientador da pesquisa... quer dizer... eu acho isso muito válido e
muito eficaz em termos de ensino... e uma outra sugestão também é
que... se faça... na Faculdade de letras... além de um curso de
redação... não do mesmo nível do primeiro e segundo graus... quer
dizer... um curso... de dissertação propriamente dita... porque os
alunos... pelo visto... não sabem... né? redigir... não sabem
estruturar seu pensamento... porque ensinar... a escrever é ensinar a
pensar... como diz o Othon Moacyr Garcia... eles provavelmente não
sabem nem pensar... então o curso... na Faculdade de Letras... poderia
dar... essa orientação... ou seja... o professor daria princípios de
lógica... cobraria do aluno uma certa pertinência ao te... ao tema
proposto... daria uma redação... o próprio aluno pesquisaria... os
problemas que essa redação apresentasse... e... ao lado disso...
poderia haver um outro curso... e este curso eu acho que deveria ser
optativo... que visasse mais a despertar a criatividade do aluno... ou
seja... do estudante no caso... né? de nível universitário... ou
seja... existem... éh.... pessoas aqui que querem ser escritores...
poetas... cronistas... contistas... etc... eles não recebem o menor
apoio na Faculdade de Letras... eles não em um curso dedicado a isso...
então se houvesse... por exemplo... um curso optativo... né? porque nem
todo mundo pretende abraçar esta carreira... em que o... estudante
pudesse treinar... exercitar esse seu talento... ou seja... ele
escreveria crônicas... contos... poemas e um professor julgaria e a
turma julgaria também... e haveria então uma coordenação entre as
cadeiras de teoria literária...de lingüística e de língua portuguesa...
para que os critérios de correção... pudessem ser pertinentes... não é?
éh... a partir daí... também uma sugestão que eu dou no meu trabalho é
que se promovam concursos na Faculdade de letras... ou seja... estes
alunos que criam... crônicas... ou contos ou... poemas ou... mesmo...
romances... poderiam concorrer... a algum prêmio aqui dentro da
Faculdade de Letras... isto seria apoiado pela direção... e nós
poderíamos inclusive convidar escritores... e pessoas interessadas no
assunto para julgarem estas obras... isso motivaria o aluno a
escrever... mas acontece que... nós não temos essas condições e o que
eu sugiro no meu trabalho... e a minha conclusão é a de que ensinar é
saber lidar com o possível... ou seja... eu não pretendo aqui... uma
reforma estrutural... básica do sistema... porque esta é desejável
mas... no momento impossível e improvável... o que eu desejaria é que
houvesse uma mudança... no próprio programa de Língua Portuguesa... da
cadeira de que eu faço parte... esta... este problema de redação...
deveria ser encarado no primeiro ano da faculdade... em que o aluno
apresenta maior dificuldade de redigir... e este outro... de
criatividade... seria então... éh... adiado para... os níveis
profissionais um e dois... né? quando o aluno teria oportunidade de
opção... agora rapidamente... que o... o tempo já está se esgotando...
eu gostaria de falar de um problema que eu toco aqui no meu trabalho
com alguma profundidade mas aqui eu vou ter que ser um pouco
superficial... mas eu acho fundamental que se fale disso... agora... é
o problema dos cursinhos... e do vestibular... bem... o diretor da
Cesgranrio... veio... aqui o ano passado fazer uma conferência sobre o
problema da redação no vestibular... ou seja... as vantagens... de se
colocar a redação... a partir do ano que vem no vestibular... durante a
sua conferência eu perguntei a ele... se paralelamente... o Governo
estava tomando alguma medida... para melhorar a condição dos
professores e dos alunos... ele me disse... "absolutamente nenhuma... a
medida... está tendo o maior apoio no vestibular... nós somos
responsáveis pelo vestibular... mas com o primeiro e segundo graus nós
não temos nada... e nós não vamos mexer nesse sistema..." ora... eu
pergunto... a qualquer pessoa... daqui. vocês acham que um... um aluno
que me freqüenta o primeiro e segundo graus... de repente... no ano do
vestibular... vai aprender a escrever? não há possibilidade... né?
então vai ser tão ineficaz quanto... a solução de prova de cruzinhas...
né? porque ele está colocado num funil... ou seja... o aluno vem... e
de repente se vê obrigado a escrever... escrever bem... escrever
claramente... escrever corretamente... sem ter tido a menor...
infra-estrutura para chegar a este ponto... bem... ele me disse que não
se tomavam medidas neste nível... então eu desisti de discutir... achei
que não valia a pena... comecei a examinar também... no trabalho... os
livros adotados nos cursinhos... quer dizer... fora as apostilas...
né... que são assim os macetes tradicionais... né? do vestibular... mas
os livros... de vestibular... e os dois livros mais famosos são... o do
Gualda Dantas... né? José Gualda Dantas... e do Celso Luft... muito
bem... eu trouxe aqui alguns exemplos de exercícios... que esses livros
apresentam... gostaria também de ler o objetivo do Gualda Dantas... e o
que ele faz em termos de exercícios...
aliás... eu não sei se eu vou escrever porque eu acho que não vai dar
tempo... eu prefiro ler pra vocês rapidamente as palavras do próprio
Gualda... na sua introdução... ele diz o seguinte...((inicia leitura do
texto)) " com base em textos apropriados e significativos... procura-se
medir... não só conteúdos programáticos... mas ainda e sobretudo...
capacidade de compreensão... análise... síntese... avaliação dos fatos
lingüísticos presentes na comunicação... tendo isso em vista...
atenuou-se a CARGA... de memorização... e a indagação a respeito de
designações... terminologia... morfologia e fonética..." ((termina
leitura primeiro parágrafo)) atenuou-se a carga... dentro do seu
livro... ((reinicia leitura do texto)) "assim... este programa... não
objetiva que o candidato armazene conhecimentos especializados dos
principais centros de interesse do idioma... mas reúna condições... que
provem... sua capacidade de entendimento... e expressão... ou seja...
revele domínio... efetivo do idioma... sistema de regras... que permite
gerar e interpretar... frases..." ((termina leitura do texto)) e ele...
entre muitos... me... me dá o seguinte exercício... ((reinicia
leitura)) "assinale a forma correta... precavenha ... interviu ...
entretesse ... precavesse ... manteram ... ((termina leitura)) então eu
pergunto... aonde está... esta visão estrutural do idioma? aonde está
esta carga de memorização atenuada... que ele prega no seu prefácio? o
que ele faz aqui... é colocar quatro formas erradas e uma certa... ou
seja... a probabilidade é de o aluno gravar a forma errada... porque
ele lê... quantitativamente quatro formas... e tem que saber que uma
está certa... então a probabilidade é de ele gravar a forma errada...
não a certa... ele vai... continuar... a dizer precavenha ... ele vai
continuar a dizer manteram ... porque... este exercício é
fragmentário... e não leva a estrutura nenhuma... do mesmo Gualda...
aliás... este aqui eu acho que é do Celso Luft... diz o seguinte...
((inicia leitura)) "assinale a classificação da oração subordinada
adver:bial em... "chamam-te ilustre... chamam-te subida"... éh... --que
mais... hem...? -- "chamam-te subida... sendo dina de infames
vitupérios..." Camões ((termina leitura)) em vez de ele me perguntar ao
aluno se ele entendeu o que ele leu... se ele sabe o que é vitupério...
se ele sabe o que é dina... se ele sabe o que que é subida... se ele
entendeu... enfim... a frase... ele me dá as seguintes... as seguintes
opções... (( reinicia leitura)) "causal... condicional... modal...
concessiva... conformativa..." ((termina leitura)) e o aluno tem que
saber que é concessiva... né? então... não se perguntou... o que é uma
concessão... o professor não chegou e disse... ah... "chamam-te
ilustre... chamam-te subida..." ou seja elogiam... embora sejas
digna... né? de... difamações públicas... por exemplo... isto não foi
dito... foi dito apenas... e exigido do aluno que ele saiba classificar
a oração "sendo dina de infames vitupérios..." então é óbvio que este
aluno... aprende a ver a probabilidade maior de uma resposta correta...
porque ele não está entendendo nada do que ele está lendo... né? que
esse aluno -- ih... agora eu caí pra um registro informal... né? -- ele
está... fazendo este exercício pra chegar a esta sintaxe que eu escrevi
aqui... porque quando ele faz aquele tipo de exercício... ele só pode
escrever deste modo... na minha opinião... de modo que... o que eu
proponho e vocês que estão saindo da Faculdade de Letras -- eu nem
sabia que eu ia falar a vocês... eu pensei que eu ia falar pra meus
colegas... quer dizer eu tive que mudar um pouco o tom e mudar... toda
a idéia inicial... mas isso não tem importância -- e vocês estão saindo
da Faculdade de Letras e eu peço a vocês que... revejam tudo aquilo que
vocês aprenderam e... se vocês não aprenderam... que vocês aprendam
autodidaticamente ... porque isto funciona... também... que vocês leiam
a gramática normativa... e leiam também... os princípios de
lingüística... e saibam tirar aquilo que é essencial... aquilo que é
realmente necessário... para o aluno... mostrem ao aluno que quando ele
pega um texto e faz a análise sintática... ele não deve...
absolutamente achar que gramática é uma coisa e língua é outra...
comecem... da própria redação do aluno... mostrem a ele a necessidade
de ele entender... o porque daquela frase dele... em todas as resenhas
que eu corrigi desse primeiro ano... eu coloquei... "faça uma análise
sintática do seu período"... porque há vários períodos de subordinadas
sem principal... então... a partir daí... pode ser que o aluno
comece... a vincular aquilo que seja estrutura do idioma... não só em
termos de gramática normativa... com... a realidade que ele fala e
escreve... porque na realidade o que ele faz não é absolutamente...
utilizar os conceitos de gramática... ele continua a falar na gíria
dele... no no... registro informal e... quando escreve alguma coisa...
ele tem sempre medo... ele acha que aquilo não está correto e acaba
cometendo mesmo... ultracorreções... ou seja... coloca formas que estão
incorretas mas que ele pensa que estão corretas... porque... ele é
sempre corrigido quando ele diz "me dá um livro" e... o professor --
antiquado... naturalmente... porque o de hoje em dia nunca faria isso
-- diz a ele "não se começa frase com pronome átono"... então aparece
na redação e aparece na resenha dos meu;S alunos da Facudade um ...
verbo desse tipo... "poderia-se"... ham? porque ele foi tão
corrigido... porque ele nunca podia usar a próclise... né? ele não
podia dizer "me dá o livro"... então acha que quando ele escreve... ele
tem de usar a ênclise... então... ele nunca... usou a mesóclise... que
realmente... não é de... de uso corrente... e muito menos pensaria...
que se ele colocasse "ele" ou "ela se poderia transformar"... isto
estaria correto porque há um sujeito antes... há uma palavra que
permite a próclise... mas ele acha que a próclise por princípio está
errada... porque a ênclise é mais certa... e me comete um erro desse
tipo... né? a mesóclise realmente é muito pouco usada... embora em
registros formais... em conferências... em... requerimentos a gente
ainda use... mas pelo menos a próclise correta... ou seja... ele passa
a usar uma linguagem do século dezesseis... né? porque a ênclise... ao
futuro só se deu no século dezesseis... então... de tudo -- e eu já
estou passando da hora -- de tudo eu só queria deixar a sugestão pra
que vocês no nível médio procurem fazer a gramática... os conceitos
normativos emergirem do próprio texto do aluno... que vocês não
isolem... uma realidade da outra... e... dentro da Faculdade de
Letras... no que for possível... nós estaremos aqui pra transformar
aquilo que for transformável... tá? ((palmas))