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PROJETO NURC-RJ

DIÁLOGOS ENTRE INFORMANTE E DOCUMENTADOR (DID):

Tema: "A cidade, o comércio"

Inquérito 0099

Locutor 114
Sexo feminino, 27 anos

Data do registro:19 de setembro de 1972
Duração: 40 minutos


Som Clique aqui e ouça a narração do texto


#L
Bem, eu vivo na cidade desde... desde que nasci, acho que sou realmente uma pessoa urbana por natureza, mas adoro volta e meia sair da cidade, ir pro campo, descansar, mudar de ares. Mas sinto uma falta imensa da vida da cidade. A vida aqui do Rio é uma vida assim agitadíssima e nós, volta e meia, sentimos até a poluição sonora, a poluição do movimento, que... que...que acarreta um pouco o nosso equilíbrio, que acaba influindo no meu...no meu equilíbrio emocional. Mas, adoro par... uhn...conhecer novas...novos bairros e fazer compras e ver os aspectos assim pitorescos que a cidade sempre traz pra gente. Sinto que no Rio nós exploramos o Rio rapidamente, porque o Rio não é tão grande assim, então nós te... rapidamente já conhecemos tudo. Agora, quando vou a uma cidade, procuro analisar tudo, movimento, tipo de comércio e a gente que vive, os hábitos das pessoas, sou profundamente observadora, e gosto de perceber essas... fazer comparações de uma cidade com outra. Sinto assim, quando vou pra outra cidade brasileira que aqui me parece uma grande metrópole, enquanto as outras umas cidadezinhas de interior. Isso até no Sul, comparando com Curitiba que estive algum tempo, senti assim uma cidade muito sem movimento, uma cidade muito precária de...de...de comércio, então sen...senti assim como se o Rio estivesse a... muitos anos à frente, de Curitiba.
#D
E as cidades européias?
#L
As cidades européias, eu estive na Europa no inverno, e não... não notei o...o movimento que nós temos aqui. Fiquei impressionada com a diferença de vida, como a vida é muito mais calma, como o... o povo europeu tem aquele equilíbrio de trabalho, equilíbrio de de horas de lazer, bem diferente das...das...das nossas horas. Então, eu achei que nós aqui temos uma vida muito mais angustiante que... que eles lá, porque não via o movimento que eles têm. Inclusive fui pra Portugal, é uma cidadezinha, uma capital nossa das menos movimentadas. Posso comparar inclusive com Curitiba, Lisboa. Achei muito pacato, mesmo. Agora, realmente Paris, eu, achei já bem mais movimentado, como era de se esperar. Londres também. Eu tenho a impressão de que a nossa vida é bem mais apa... parecida com a vida americana. Não se assemelha tanto. É claro que a. o clima, a época do ano que eu fui, influiu também. Não há aquele volume de turistas, e um período bem mais calmo, em que o europeu geralmente se... é...ele se recolhe cedo, então você não tem oportunidade, talvez as mesmas características, pra poder comparar. Agora, eu fico impressionada com a vida que nós estamos levando aqui, porque eu acho uma vida de correria, insana, uma vida assim muito movimentada demais, para o próprio equilíbrio da pessoa.
#D
Você morou muito tempo na Tijuca, não é (sup.)...
#L
Morei (sup.).
#D
  ... e agora está morando em Ipanema...(sup.)
#L
Exato (sup.).
#D
Você podia comparar os dois bairros, descrever...? (sup.)
#L
Posso, posso comparar, sim. É ma vida, eu quando morava na Tijuca achava que não havia diferença entre um bairro de Zona Sul e um bairro de Zona Norte, sentia que era uma vida perfeitamente igual. Atualmente, não, eu vejo que o tijucano é muito mais caseiro que o... ah... que o elemento da Zona Sul. As mulheres... as mulheres, inclusive as mulheres que não trabalham, de classe alta na Zona Sul, sistematicamente, às trê... quatro, cinco horas da tarde, saem para...para badalar, para...para conhecer, pra ver...ahn...as vitrines, saem sistematicamente todos os dias. O movimento também de... de carros, é um movimento assim exagerado, a essa hora, cinco, seis horas. Alem de... de...das crianças saindo da escola, há as pessoas que saem para ver o comércio. Então a vida da Tijuca é uma vida muito mais caseira, é uma vida que você sai em determinadas horas, pra fazer compra e depois se recolhe, fica em casa, descansa. É claro que... (inint.l)... trabalham o dia inteiro, não...não...não têm essa vida. Mas estou dizendo da mulher, a mulher que não trabalha fora. Eu sinto assim também o tipo de comportamento diferente. Então você, na... na...na Tijuca, você as vezes chegando às dez horas da noite, todas as pessoas observam, enquanto em Ipanema isso é comuníssimo, você pode an...andar onze, meia-noite, não há problema algum de você estar sozinha numa rua daquelas, muito mais movimento, um movimento assim que até meia-noite você está tranqüila porque há sempre gente nas ruas. E eu moro numa das... perto de umas ruas transversais que são muito pacatas, mesmo assim, você pode andar tranquilamente, sem receio. Já na Tijuca e uma diferença! Você... eu, outro dia, tive uma experiência, passei na... sai pela Praça Saenz Peña às...às nove horas da noite e fui assim bastante olhada e...e um...um movimento mínimo nas ruas, senti, estranhei. Inclusive eu estava com uma amiga, que mora na Tijuca, comparei: "Mas vocês ainda estão nesta fase?" Porque eu não havia... não sentia isso quando morava lá. É realmente uma diferença muito grande de...de hábitos, de comportamento, de costumes, sabe?
#D
E em relação ao comércio, a Tijuca é um bairro enorme... (inint./sup.)
#L
É um bairro enorme, concentrando muito... é...na Praça Saenz Peña. Eu, senti uma diferença tremenda de cin... cinco anos atrás pra agora. Acho que a Tijuca vem crescendo bastante, todas as lojas do centro praticamente já estão com filiais na Tijuca. Eu acho que ela está crescendo bastante, a. atualmente. Agora, não se compara com o movimento de Copacabana, que é um movimento que você se sente ate mal em ir a um sa... um sábado de manha fazer compras, em Copacabana. Agora, muita variedade, você pode perfeitamente fazer todas as suas compras na Tijuca, porque há filiais pra isso.
#D
Essas todas as compras significam o quê? ...(inint./sup.)
#L
Inclusive apa...(sup./inint.)
#D
 ...(inint.)...aproximadamente?
#L
Aparelhos, eletrodomésticos... e...tudo que...que você precise pruma casa inclusive pra decoração, para...ah...vestimenta, para uso, você pode... você tem de tudo na Tijuca, concentrado na, Praça Saenz Peña. Agora, no... no resto, não, e muito mais, é...é...muito mais assim esparso. Você já não... não...não acha tanto. Eu morei numa rua... é...transversal à rua Uruguai, uma rua residencial, praticamente residencial, em que só havia um supermercado em esquina com a rua Uruguai e uma... e uma lojinha, uma mercearia. Então depende do comércio de... da Praça Saenz Peña, perto de Andara!. Já na...em Ipanema, não, você tem, em todos os lados, alguma loja, alguma butique, concentrado na rua Visconde de Pirajá...(interrup­ção na gravação, após trecho ininteligível por superposição de vozes)...Então na...em Ipanema, você pode a qualquer hora, inclusive a parte assim de alimentos, supermercados, até meia-noite você pode comprar alguma coisa que você precise. Já na Tijuca não há essa... essa condição de...de tanta facilidade de vida, como há na Zona Sul.
#D
Bom, você podia estabelecer em termos... (inint.)... essa diferença entre...(inint.) configuração mesmo da cidade...(inint.)?
#L
Sim. Em termos inclusive de clima e...? Físico que você diga... diz de...? (sup.)
#D
(inint) ...como é que são as ruas, o que há nas ruas... (sup./inint.)?
#L
Ah, certo. Posso. Bom, a Tijuca é um bairro que foi crescendo aos poucos, portanto não tem, você não sente, aquela...é... facilidade de encontrar determinadas ruas. Se você não an... conhece a Tijuca, você simplesmente se perde, porque ela foi crescendo...uhn...aos poucos, desordenadamente. Enquanto Ipanema, não, é um bairro recente, e Copacabana também, um bairro planejado, em que você tem facilidade de saber q...que aquelas são paralelas, que as outras são perpendiculares. Então você já sabe a seqüência exata, muito mais fácil de memorizar.. Na Tijuca elas... geralmente o que eu estranho é que as ruas são de mão dupla, enquanto na Zona Sul o transito é maior, mas talvez seja mais fácil de você andar, porque...uhn... são ruas de mão única. Agora, a Tijuca é um bairro assim bastante complicado, né, tudo e englobado pela Tijuca. Então você não sabe bem se você está realmente na Tijuca ou se você ja esta no Andaraí, se você esta no Engenho Velho... no...ou...no...é... há um outro bairro também ali em Andaraí, um outro bairro que...que...que eles englobam na Tijuca. Portanto... Rio Comprido, Rio Comprido também fica muito mesclado com Tijuca. É uma região bastante grande e bastante assim mesmo desordenada. Ruas mais estreitas, bem arborizadas, com uma vida assim um pouco mais calma, embora eu ache que... ah...Ipanema também e assim bastante calmo pra você viver em determinadas ruas. Não aquelas que... que concentram o comércio, mas é também uma... uma rua...uma...um bairro fácil de você viver, viver com uma certa tranqüilidade. Agora, lá já pra Zona Sul, as ruas são mais largas, avenidas mais largas, maior acúmulo de...de...de carros, mas, como eu já disse, com...com mais facilidade de você transitar. Tijuca tem a...ali o aspecto também da...o aspecto geográfico.

Elas são... estão divididos pela...pela...por uma serra, né, e que agora nós temos os túneis para nos facilitar. A serra divide o...o...o parte Norte da parte Sul. E agora é muito fácil o acesso de um lado para o outro, coisa que não...não se fazia com tanta facilidade há dez anos atrás. Há dez anos atrás, para você vir à Zona Sul era quase que uma dificuldade. Atualmente, não, há esse trânsito diário Tijuca-Zona Sul e que...com...com muita facilidade. Tanto é que o túnel Rebouças é um... um símbolo dessa facilidade, sempre cheio. Bom...
#D
Você tem carro?
#L
Tenho, tenho carro... (sup.)
#D
Que que você acha do trânsito do Rio de Janeiro?
#L
Bom, eu estou assim bastante apavorada com...com o trânsito da Guanabara, inclusive soube há pouco tempo que...é...cerca de trezentos carros são emplacados diariamente, coisa que me assusta bastante, porque eu não sei aonde vão ficar esses mais trezentos carros todo dia, embora eu...eu...não... sin...sinto que os que param não são...não param na mesma proporção. Portanto... e eu não sei onde nós vamos parar, o trânsito está cada vez mais difícil, você nunca sabe a hora que você deverá sair de casa para chegar num determinado local à hora X. Eu acho que vai ser...realmente é um problema muito serio desse... esse, de trânsito, eu não sei como as autoridades pretendem resolvê-lo, não. Eu acho que eles vão ter muita pesquisa pela frente pra poderem chegar a uma conclusão disso. Acho que talvez a solução sejam esses elevados, porque não acho que o problema seja...O problema também...é... do metrô. Me parece que eles têm que optar pelos coletivos o mais rápido possível. Uma cidade pequena como a nossa em que não há... (sup.)
#D
Fazer como Nova York, não é?
#L
Ah, bom, Nova York é um terço pra construção, dois terços pra... pa...qua... Não, Nova York, não, as outras cidades, as outras, os outros 1ocais...(inint./sup.)
#D
Ninguém anda de carro particular como no Brasil, só coletivo... (sup.)
#L
Ah, sim, é exato. Eu acho que nós temos que chegar a uma... a essa conclusão. Eu estava falando em outros... em outras cidades...e... americanas em que um terço eles constroem, dois terços eles deixam pra parqueamento. Agora, eu sinto que...que eles aqui têm que tomar uma medida dessas. Bem breve vão ter que tomar...(su­p.)
#D
Você acha que... (sup./inint.)
#L
...porque você... com...tem que chegar à... à... à conclusão de que os coletivos, para uma cidade como a nossa, são mais importantes do que um carro em que uma pessoa vai para a cidade, tem o problema de estacionar e esta pessoa na hora do rush volta, uma pessoa sozinha. Isso não é... não e possível continuar, entende? Eu acho que no momento que eles resolverem, que derem condições pra isso, nós, acho que nós nos acomodaremos. Embora o carioca seja um pouco comodista e gosta muito do seu conforto, gosta também de aparecer, de ter carro novo, último tipo, eu tenho a impressão de que nós vamos chegar a nos adaptar perfeitamente a isso...(inin­t./sup.)
#D
E você não acha que essa loucura toda do trânsito é porque cada vez mais as pessoas têm carro? Será que a própria cidade não contribui, o tra... tra... não contribui o traçado da cidade, do centro da cidade, por exemplo?
#L
Ah, sim, exato. Eu acho que nós... trezentos carros para a nossa cidade, isso é um absurdo. Talvez pra outra cidade, uma cidade planejada, uma cidade bem distribuída, não fosse problema, agora pra nossa cidade, que é uma cidade de uma concentração enorme de gente, uma densidade de população absurda e...e pequena do jeito  e ela é e mal dividida, com ruas estreitas, você vê que o...o centro da cidade é um...é um... são ruas estreitíssimas, você não pode es...estacionar, um movimento incrível. Eu acho que é um problema sério para a nossa cidade, pra outra não... não sei, se seria esse problema. Talvez haja necessidade realmente de... de jogar muitos prédios abaixo, alargar avenidas, fazer elevados, uma nova fo...estrutura, uma nova forma física para a cidade, isso não há dúvida. O que eu percebi em todas as cidades assim européias era exatamente isso: a diferença de ruas. Só em Roma eles permanecem com aquela mesma... aquela mesma... aspecto físico, com ruas estreitas, bem estreitas, agora, o movimento, péssimo, também em Roma. Nas outras cidades todas, com um movimento bem... é... arejado, se se pode dizer assim, e... com avenidas largas, tudo muito planejado.
#D
Agora, por enquanto, você podia voltar atrás e nos dizer... é... do ponto de vista da moradia, a diferença entre a Tijuca e a Zona Sul? Onde é que moram as pessoas, como moram.
#L
Bom, ai, em Zona Sul nós temos que analisar vários aspectos de Zona Sul. Então, as moradias de classe média alta e baixa, né, teríamos que analisar. Já na Tijuca você sente um maior equilíbrio, famílias residindo em apartamentos que cabem para...para a família ...é... residir. Já na Zona Sul você tem um disparate total. Você tem famílias com às vezes sete ou oito elementos residindo num quarto só. (Quem é, hem? Interrupção: informante, ­faz a pergunta para alguém no local e, em função da resposta, foi desligado o gravador) Bom, então, eu...eu sin... eu sinto que na Tijuca você então tem uma...um...um maior equilíbrio. Talvez se more melhor, a classe média more melhor. Agora, na Zona Sul, você encontra principalmente aqui pra...mais pra Botafogo e...e...também Copacabana, apartamentos sem a mínima condição de vida e com famílias imensas morando. Já encontra o...o contrário, exatamente o contrário, famílias às vezes de duas, três pessoas morando em...em duplex, apartamentos, com seis, sete quartos, coisas assim incríveis, você encontra também. Então eu acho que há um...um disparate total na Zona Sul, enquanto há mais equilíbrio na Tijuca. Agora, mora-se bem também, na... na Zona Sul, entende, muita família de classe média. Pensar também que só mora aqui... e... elementos de Zo... de classe alta e classe baixa, eu também não chego a esse extremo, não. Eu acho que há muita família de classe média, com os mesmos padrõezinhos, burgueses, mesmo tipo de... de conduta...é... de famílias tijucanas. Existe isso também. Agora existe os contrários, os opostos, os polos, enquanto na Tijuca você encontra uma... um maior equilíbrio, quanto a moradia, quanto a padrão de vida. Mais alguma pergunta? Não sei mais...
#D
Se você pudesse comparar, por exemplo, uma pequena cidade do interior e o Rio de Janeiro, do ponto de vista dos serviços que a gente dispõe e que dispõe uma pequena cidade, digamos, de cinco mil habitantes...(inint.)...o que é que o morador de uma grande cidade tem à sua disposição, como serviços públicos, por exemplo?
#L
Bom, ele tem uma... uma variedade de serviços, realmente tem mais facilidade. Agora, eu acho que há um entrave muito grande nesses serviços. Então você sente a dificuldade...é...de um conserto, a dificuldade de ser atendida em determinadas horas pelo... por uma falta de...de... eu acho que pelo entrave administrativo, que está ocorrendo não em termos de...de...de Rio, em termos de...de Brasil. Você sente então uma ten... uma vontade de melhorar esse serviço, mas às vezes com...com dificuldades sérias. Agora, o que eu vejo no Rio também é um problema de falta de planejamento e que esses serviços foram crescendo assim assustadoramente, sem um conseqüente planejamento. Portanto, há entraves enormes nesses serviços. Agora, comparando com uma cidade de interior, você, na cidade de interior, geralmente, não bem cidade de interior, uma cidade com poucos... com poucos habitantes, é impressionante como todo mundo se conhece e como as coisas são feitas quase que pessoalmente. Você... é... resolve o problema de fulano e não o problema da casa número tal. E eu vejo assim, eu não sei nem em que termos comparar isso. Agora, aqui, é uma dificuldade muito grande, no Rio de Janeiro, em termos de serviços. Ah...
#D
Agora esses serviços seriam concretamente quais...(inint.)
#L
Quais os servi... Bom, vocês estão analisando em termos gerais... Vocês querem... (sup./inint.)
#D
(inint.)... nós queríamos saber exatamente em que tipo de serviço que há dificuldade...(inint.)...Por exemplo (sup./inint.)
#L
Bom, os serviços... (sup.)
#D
Administração, para que uma cidade funcione, ela tem que providenciar um mínimo, uma infra-estrutura... (sup.)
#L
Uma infra-estrutura... (sup.)
#D ­
... mínima, né? Em que consiste essa infra-estrutura mínima, para você se comunicar com as pessoas...(sup.)...
#L
Exato. É... (sup.)
#D
... entre outras coisas, para você se locomover à noite, as ruas estarem, é...(sup./inint.)
#L
Você quer que eu faça um comentário sobre isso dentro do Rio, comparando com uma outra...(sup.)
#D
(inint.)... se você puder compará-los, se você não puder, fala sobre o Rio...(inint./sup.)
#L
 É. Certo. Eu... eu sinto... Bom, o... os serviços, de uma infra-estrutura, serviços ligados à comunicação. Então, além da parte de telefones, a parte de correios e telégrafos, a parte de comunicação de vias, vias que se comunicam, túneis, além disso o serviço...serviços de...de atendimento. Não sei bem explicar o... o termo, deveria saber mas talvez não saiba. O... serviços prestados às residências, água, luz, esgotos. Eu acho que em... em termos, eu acho que no Rio, não é que nós não tenhamos um mínimo, nós temos, agora, diante do crescimento que o Rio sofreu, há certos... certas dificuldades. Temos as Secretarias todas, temos uma divisão administrativa relativamente boa, uma descentralização... é...ne... nessa prestação de serviços, mas com alguns entraves...é... burocráticos e com algumas dificuldades surgidas pelo... pelo envelhecimento do Rio de Janeiro, pela...pela situação inclusive geográfica do Rio e pelas dificuldades que eles.. .que... que o Rio tem de modificar, de...de reformar coisas que eles... que eles já têm envelhecida. Então, no momento em que se toma uma medida para o Rio de Janeiro, às vezes a medida custa a se efetuar e quar'do se efetua já não era a melhor medida a ser tomada. Por exemplo, os te... é... telefones, agora. O telefone, estão abrindo campos enormes pra linhas de telefone, uma medida, eles estão tomando medidas, mas já soube que as centrais que eles...que eles estão instalando não são as melhores centrais de telefone, já estão ultrapassadas, em termos de uma grande cidade. Quer dizer, certas medidas são tomadas e não a melhor medida para a época. Isso minora o problema, mas não vai resolver o problema. Não sei, estou meio... estou meio embotada (sup.)
#D
Vou perguntar uma coisa assim que parece banal, mas pra o nosso caso é importante: a existência de iluminação numa cidade supõe a presença de que coisas?
#L
Bom, a existência supõe o problema de uma rede hidrelétrica... e... boa, de uma usina hidrelétrica boa, de bons encanamentos, de... não, ilu... iluminação, não. Estou falando já na água, estou misturando. De boas centrais de eletricidade e de uma boa distribuição e... Você só quer saber o que que ela...(inint./sup.)
#D
(inint.)... eu quero saber nas casas também, o que que há para que a gente tenha luz, de repente? Coisas. Com que coisas que você lida, você olha na cidade, você vê sinais luminosos, você tem nas casas também. Isso não acontece miraculosamente... (sup./inint.)
#L
Sim. Você quer saber tu... (superposicão)
#D
(inint.)... eu quero saber os materiais? (sup.)
#L
Como, como vêm até... (sup.)
#D
(inint.)... na medida em que você se lembrar...(sup.)
#L
É. Na medida que...que eu me lembrar. Bom, precisamos, então, de relógios, precisamos de lâmpadas, fiação... é...fusíveis, precisamos de cabos, né, cabos. Bom, eu agora já estou saindo, posso sair de casa?
#D
Pode, perfeitamente... (sup.)
#L
Posso sair de casa? (sup.)
#D
 ... esteja à vontade.
#L
Cabos, postes e... centrais. Há algumas coisas ai no meio que eu não...não...não conheço o nome. Centrais, geradores, represas, que a nossa...a nossa iluminação é hidrelétrica, poderia ser outro tipo. Represas e... não...não sei mais, acho que não sei mais. Vem cá, eu falei de geradores?
#D
Deixando o problema de iluminação... é... e falando de segurança, segurança no Rio de Janeiro, dá pra você falar de pessoas (inin­t./sup.)
#L
Segurança é um problema sério aqui no Rio. Eu não havia lembrado em termos de serviço. Eu, aliás, lembrei, mas na hora de falar não... é... não falei. Segurança é um problema aqui sério, a nossa...a nossa polícia é ineficiente, ao extremo. Posso inclusive falar assim de cadeira, porque tenho um pai ligado a... a essa profissão. Acho assim um problema muito sério aqui dentro. Eles, além de não ter preparo pra isso, não têm condições materiais pra trabalhar, são muito mal remunerados, toda a parte de serviço público aqui na Guanabara, e isso também é outro entrave que eu falei pra...pra vocês, administrativo, é o problema de má remuneração. Posso depois inclusive lembrar da parte de... de educação po... educação pública, inclusive os problemas surgidos dentro desse serviço. Agora, voltando assim à parte de segurança, eles então não têm enfim incentivo algum para trabalhar e é gente da pior espécie, às vezes, que não tem condição, nunca teve condição, porque uma... no... sendo uma função que não...não dê atrativos, você simplesmente não pode ter um elemento bom, um elemento que muitas vezes tem capacidade de...de fazer uma coisa, de... de fazer uma...uma outra profissão e às ve... eu conheço até um caso de um rapaz, um caso individual que talvez não...não interfira muito, de um rapaz de classe média querendo ser realmente policial, ele tinha vontade de ser, ele deve ter algum... vontade de controlar os outros, assim, talvez seja um mecanismo qualquer psicológico, e ele foi simplesmente cerceado por toda a família, um rapaz assim de muita...muita estrutura, porque não é uma profissão condizente. Você quase que relaciona atualmente o profissional ao marginal de uma sociedade. Não há assim grande diferença, é até uma vergonha se dizer isso no... “Ah, eu tenho um parente policial”. Você sente até um certo receio. Realmente há dois grupos dentro desse serviço, o grupo que realmente quer fazer isso, praticar, né, desempenhar sua função, dentro daquilo que ele acha que e uma atribuição sua, e o outro grupo que pretende, com aquilo, tirar benefícios que não estão ou que não são atribuídos à função. É um serviço precariíssimo e eu acho que nós não temos segurança nenhuma no Rio de Janeiro. Em termos de... de trânsito, em termos de...de segurança mesmo, pessoal, e não temos nenhuma segurança, mesmo. É um entrave grande e eu não...não... talvez... não conheço a fundo o problema, mas sei que e um problema que alarma o próprio pessoal de dentro do serviço. A falta de material é uma coisa incrível, que ele se queixam muito, e a falta também de gente, de gente capaz c de gente que eles possam confiar para uma tarefa.
#D
Você se recorda assim dos nomes que na cidade se dão às pessoas que ameaçam a segurança dos outros?
#L
As pessoas que... você quer dizer em termos de gíria, de...de...(sup.)
#D
(int.)... como você quiser...(sup.)
#L
Nomes de pessoas que ameaçam...(sup.)
#D
(inint./sup.) ...alguém diz: vinha passando de noite numa rua e encontrei um...
#L
É. Você sabe que eu... Eu vou tentar me lembrar, mas não sou muito assim desse tipo de gíria, não, sou um pouquinho por fora, sabe, uso aquelas gírias banais(sup.)...
#D
(inint./sup.)... ao pé da letra...(inint.)
#L
Não, eu sei... (sup.)
#D
(inint.)... nomes que você daria.
#L
Marginal, eu daria o marginal, um ladrão, um assaltante...
#D
Não faz mal, se você se lembrar depois você pede pra interromper em qualquer lugar...(sup.)
#L
É... um assaltante. Agora, as minhas crianças usam nomes incríveis, sabe, dali da Cruzada são Sebastião, do Jardim de Alá, usam nomes assim dos mais variados, mais... lalau e...Eu não, realmente não... não...não sei, não lembro agora, talvez saiba mas não lembro.
#D
Você ia falando a... a certa altura sobre o serviço de água e, depois é que você mudou pra... (inint./sup.)
#L
Realmente eu estou variando um bocadinho. De água... (sup./inint.)
#D
Não, eu é que estou insistindo para você falar sobre... (superposiçào)
#L
Não, não há problema... (sup.)
#D
 ...assunto de... (inint./sup.)
#L
...E você gostaria que eu falasse da água? (sup.)
#D
(inint./sup.)
#L
Eu ia também falar na... sobre o problema da educação, nó, o problema de... (sup.)
#D
(inint./sup.) ...pode falar o que você achar melhor... (sup..)
#L
Não, vamos pra... para o problema da água. A água eu acho que esta vinculada muito àquele problema da canalização velha. Então, se você... e... tem assim um problema qualquer de...de rutura de uma...de um cano que já não está muito bom, tudo feito assim a toque de caixa, pra um... pro,o plano tal tem de ser feito pro dia tal, porque o governo tal quer apresentar, então eles fazem...e... com uma pressa incrível, então às vezes o... antes de terminar, o... eles já estão dando funcionamento. Isso e problema brasileiro, né? Já deixam funcionando porque tem que inaugurar no dia tal, que vai passar a autoridade tal, ali, tem que inaugurar. Então, o problema dessas...dessas obras do Rio de Janeiro, eu tenho a im...
Foi uma obra necessária mesmo, nos tínhamos problemas incríveis aqui de água. Não sei se vocês duas são cariocas, não. Estou falando como se vocês não fossem... (superpo6i~ão)
#D
Não, não somos...(sup.)
#L
...É... a minha preocupação é de falar como se vocês não...não fossem cariocas. Você, eu sei que não é, mas ela eu não sei. Então, eu...eu... Eram problemas assim muito sérios, de você ter que guardar água. Eu me lembro ainda em criança, sistematicamente, nós tínhamos banheira cheia de água, no bairro de Fátima. Era in... é centro da cidade, era incrível o problema de fornecimento dágua. Atualmente, a coisa melhorou assim acho que em oitenta por cento. Mas volta e meia você tem assim aqueles problemas de má distribuição, má distribuição, não acre... não...não...não acho que haja, não. Acho que o problema de rutura de materiais que talvez não sejam os melhores empregados. Agora, eu acho que a CEDAG está cumprindo bem o seu... está desempenhando relativamente bem a sua função dentro do serviço de uma cidade, sabe, os serviços que ela tem que prestar. Não acho que seja um órgão dos piores, administrativamente, não. Acho que é um órgão dos mais bem estruturados, aqui da Guanabara. Agora, quanto à... à educação. Já está para terminar?
#D
Não, temos ainda tempo... (inint./sup.)
#L
É. Quanto à educação da Guanabara também, o problema da educação pública, de serviços. Eu não sei, sinceramente, eu estou um pouquinho cética em relação a tudo isso. Sou... estou assim estudando muito a reforma do ensino, pela parte particular, e não sei aonde vamos parar, se eles não pararem e pensarem um pouquinho o que deverão fazer com este ensino público. Há elementos maravilhosos, embora a profissão de professora primária esteja completamente desacreditada, tem que estar, e não há nenhum incentivo, e uma... uma função que eu acho bastante importante pra, não pra Guanabara, em termos de Brasil, eu acho bastante importante. Agora, eles terão... deverão pensar seriamente aonde vamos parar com essa educação pública do Estado, ­porque há elementos que estão se degenerando totalmente dentro daquela estrutura. É uma estrutura muito mais preocupada em termos de número do que em termos individuais, em termos da criança, em termos de desenvolver aquilo que a criança...é... possa dar. Então você se preocupa em abrir quinhentas matriculas, em ter turmas pra todo mundo, mas não se preocupa em que uma turma de quarenta e duas crianças pra al...alfabetizar é uma turma que não vai poder aproveitar. Então os resultados estão ai, em jornais e revistas, setenta e cinco por cento de...de reprovados na primeira série e a professora é que é culpada, uma professora que ganha praticamente uma miséria e que é interrompida cinqüenta vezes na sala de aula, com circular disso e concurso disso, concurso daquilo, que não têm incentivo nenhum, muitas vezes não tem nem cadeira. Eu... eu acho mui... um problema muito sério a educação pública dentro de...do nosso Estado e, não. posso nem falar em termos de Brasil, o nosso Estado é um dos que já esta obrigando à educação pri... primária, mas eu acho que eles têm que pensar muito em reformular várias coisas. Eu tenho impressão de que há elementos que estão muito preocupados com estatística e não...e...eu...eu até levantei outro dia, esse problema com alguém e disse: "Mas escuta, se vocês estão perdendo as melhores professoras" - porque estão perdendo, é lógico que perdem ­"porque não tentar chamar essas pessoas outra vez, essas...esses elementos, com incentivo, com incentivo de...de... inclusive de remuneração, porque a remuneração não é tudo, mas é alguma coisa, você é profissional? Por que não trazer?" Realmente nos não podemos aumentar o...já o ordenado de professora, porque o maior cargo, o maior número dentro do quadro do Estado. Portanto seria...é... uma despesa imensa pro Estado, e o Estado não pode ter. Então tenta-se dar educação sem dar a infra-estrutura necessária pra isso.
#D
E agora, que os professores primários vão dar aula até o... (inint.)­... com essa reforma, não é?
#L
Não, só até a quarta série. Elas deverão... (inint./sup.)
#D
(inint.)... os dois anos que correspon...é... que corresponderiam aos dois primeiros anos de ginásio antigamente, elas não vão dar? (sup.)
#L
Não, não são professoras primárias só, não, são professoras com faculdade. Agora, surgiu o...o tal ano, o quin...quarto ano Normal, e que poderá aprontá-las. Sinceramente, eu acho que há elementos maravilhosos, mas eu não sei o que vai ser isso, não, viu? Fico um pouco... também estou um pouco cética em relação a isso. Não sei o que vai ser essa quinta e sexta série, embora a professora primária tenha uma outra visão do aluno que o professor de ginásio não tem. Então esse problema de primeira série ginasial antigo, em que o alu... o professor não entende... não entende o desenvolvimento da criança, não entende as necessidades que a criança tem, isso também trazia problemas sérios e eu... eu sou testemunha de...de elementos, muitas crianças, que voltam para nos rever, para ver as professoras antigas, porque eles sentem falta, eles vêem que o professor não entende aqueles problemas todos que eles estão passando. O desenvolvimento que eles estão, aquela adoles... a fase da adolescência. Então eu acho que há prós e há contras. Então eu acho que você tem que... é o... é a contra, você tem que desenvolver o aluno, o professor você tem de desenvolver o professor, numa parte muito grande de conteúdo, mas na parte psicológica talvez ele já esteja mais bem preparado do que um professor que fez uma...uma universidade. O professor que fez essa Faculdade, ele está muito bom em conteúdo, mas em termos de entendimento do aluno ele deixa muito a desejar.