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PROJETO NURC-RJ

DIÁLOGOS ENTRE INFORMANTE E DOCUMENTADOR (DID):

Tema: "Vestuário"
Inquérito 0092
Locutor 0106 - Sexo feminino, 38 anos de idade, pais cariocas, médica. Zona residencial: Sul.
Data do registro: 28 de agosto de 1972
Duração: 45 minutos


Clique aqui e ouça a narração do texto


DOC. -  Você pode começar. Você pode começar então fazendo um, uma espécie de comentário, de apreciação a respeito da moda atual de homem e de mulher, como é que você vê as tendências. Se você vê muita diferença entre a moda atual e, e de uns cinco anos pra cá por exemplo.
LOC. -  Bom, em meu ponto de vista, eu acho que a moda atual ela se apresenta descontraída, eh, o negócio é esse.
DOC. -  Por exemplo o tipo de roupa que você está hoje, você podia descrever e se esse tipo de roupa você usa constantemente.
LOC. -  Exatamente. Esse tipo de roupa que eu estou usando hoje, eu atualmente de uns dois anos pra cá eu uso mais ou menos esse traje que você está me vendo. Calças compridas, umas, uma blusa, eh, bem esporte, o meu tipo é mais esporte do que um tipo elegante, sofisticado, em tipo passeio, entende? Esse é o meu tipo. Atualmente eu me visto assim de manhã, de tarde. Só à noite, quando eu sou convidada pra determinados lugares então, de acordo com o lugar que eu sou convidada, ou se é um jantar, ou se é um, uma casa de, com um coquetel na casa de uns amigos, eu então eu gosto de ser sofisticada e não o traje passeio comum. Então eu passo do esporte descontraído pela manhã e à tarde, que eu uso normalmente, ao sofisticado à noite.
DOC. -  E você costuma usar calças compridas mesmo pra trabalhar?
LOC. -  Mesmo pra trabalhar eu, eu uso exatamente como você me vê em pessoa agora.
DOC. -  E por exemplo, eh, modelos, modelos diferentes, de calça comprida, você, algum corte especial que você ache que fique melhor em você?
LOC. -  Eu, bom, eu realmente, eu, como leio muita revista de moda estrangeira, por sinal são as únicas que eu compro, eu não compro revista brasileira, dificilmente eu compro revista brasileira, mas eu gosto da "Cláudia" por exemplo, isso quando não tem na banca de, do jornaleiro revistas estrangeiras que eu gosto de comprar, que também são umas quatro ou cinco tipos, eu não fujo dessas cinco revistas. Então, se nesse jornaleiro não tem, porque ... Eu compro, passo a comprar "Cláudia", pra me distrair, porque a revista eu acho que também à noite é uma forma de me descontrair, às vezes eu não leio, eu não consigo ler à noite, deitada numa cama, um bom livro, eu apenas vejo, vejo umas figuras, que é uma coisa que se torna mais leve pra poder conciliar melhor o sono. Então esses, esse tipo que você me vê de manhã, que eu vou trabalhar e de tarde, como eu compro essas revistas, eu formo na minha cabeça um tipo de roupa, então dificilmente eu compro roupas aqui, feitas. Eu desenho num papel, levo pra minha modista que mora aqui em frente e ela faz exatamente como eu quero.
DOC. -  Inclusive esse tipo de, assim, roupa esporte, calça comprida?
LOC. -  Exatamente. Ela sempre tem um, um toque, uma coisa diferente, uma coisa que é meu, que eu criei vendo nestas revistas. Não é que eu copie as revistas, mas eu faço na minha cabeça uma determinada forma de modelo, levo pra minha costureira e ela faz.
DOC. -  E esses ... Porque há, há vários tipos de calças compridas, né, eh, feitios diferentes, você, você tem alguma preferência?
LOC. -  Bom, tenho sim. Primeiro que eu sou, o, o meu tipo, meu biotipo não é um tipo alto, meu tipo baixo e mais pro gordinho, quer dizer, é um tipo mais, não digo pícnico, mas é um tipo, um tipo bem formato da brasileira, tenho os quadris largos, a coxa também um pouquinho larga, de maneira que eu procuro dar o talhe das minhas calças afinando essa parte e, embaixo eu, geralmente ou ela vai reta ou ela geralmente ela se torna evasê embaixo. Isso evidentemente para dar um pouco mais de elegância ao meu biotipo.
DOC. -  Agora você falou que dependendo de ... À noite por exemplo que você usa um tipo diferente de roupa, independente, dependendo da situação, né?
LOC. -  Exatamente. Bom, à noite ...
DOC. -  Por exemplo.
LOC. -  Por exemplo quando eu vou a um co... a um coquetel, todos esses modelos geralmente eu desenho, eu gosto de desenhar. Porque eu trago fazendas do exterior, que eu acho que são bonitas, uma estamparia bem original que eu sei que eu não vou encontrar aqui a maria chiquinha do meu lado igual a mim. Então eu trago essas, esse, esses, essas fazendas e guardo pra uma determinada ocasião que eu pretendo usar. Então com o modelo que eu crio, que eu gosto de criar, eu então eu faço uma roupa. Geralmente ela não tem praticamente feitio nenhum, apenas um camisolão solto, com umas mangas largas, mais pro curto, e é o suficiente. Um bonito colar, uns colares muito bonitos, um, uns brincos. Eu sou comple... estou completamente diferente das demais da festa. Geralmente é longo esse traje que eu gosto de usar. Sandálias bem altas, pra favorecer o meu tipo, porque eu sou muito pequenininha, de maneira então que o, minha veste é assim.
DOC. -  E outras coisas, outros acompanhamentos, outros adereços por exemplo não ... Quando você vai com uma roupa dessas (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Bom, à noite, eu não uso fantasia, admi... eu uso jóias, pulseiras de ouro, anéis de ouro, não tiro meu anel de grau do dedo e a minha aliança. Isso são duas coisas que eu não consigo tirar do dedo. Então eu não dispenso uma boa jóia à noite. De dia eu ainda uso uma pulseira, plástico, eh, que combine com a roupa. Quer dizer, se a calça é verde, as pulseiras são verdes, se a calça é, é abóbora, as pulseiras são abóboras, entende? Então eu gosto muito de pulseira, não uso relógio, não gosto de usar relógio, eu tenho, mas não os uso. Porque eu me prendo muito à hora então eu prefiro não saber que horas eu ando, entende?
DOC. -  E ainda nesse, nessa ocasião por exemplo, eh, a parte de pintura e arrumação do cabelo, você prepara especialmente ou não, você mesma se arruma (sup.)
LOC. -  (sup.) Bom. Isso não. Isso, eu não sei me pentear. Eu vou a uma cabeleireira, próxima à minha casa, e ela me atende na hora, então eu cheguei, ela tem uma consideração enorme por eu ser médica e ela me atende em uma hora ela me larga do, do salão. Então eu cheguei, eu passo na frente de todas aquelas fulanas que estão ali e ela me atende. Geralmente eu prendo o meu cabelo. Meu cabelo não é como vocês estão vendo hoje. Eu não uso esse cabelo solto, eu fico com cara de muito broto, muito jovem, e eu não gosto de me apresentar tão jovem assim aos meus clientes porque eles têm medo de uma certa forma, ainda que me conheçam pelo nome, conheçam meu trabalho cirúrgico e tudo mais, mas quando eles vêm pela primeira vez a uma consulta e dão com a minha cara, eles se espantam, porque eles jamais podiam imaginar que a doutora J. é aquela: mas é a senhora mesmo que é a doutora J., que vai me operar, que operou a fulana? Eu digo: exatamente, sou eu. Então eu prendo o meu cabelo, sempre ele está preso, está preso. Mas como eu estou agora essa semana de folga, não trabalho, eu solto o cabelo que é pra ele respirar um pouco, não cair tanto da cabeça.
DOC. -  E você costuma usar cabelo preso também pra essas ocasiões?
LOC. -  Constantemente. Meu cabelo é sempre preso. É alto. Eu faço um coquezinho alto (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) você que, você que diz pra, pra pessoa que lhe penteia como é que você quer o, o feitio?
LOC. -  Não. Ela já me conhece, ela já me conhece há muitos anos e eu prendo o meu cabelo num coquezinho alto que também me favorece a altura e, como eu não sou muito alta, por sinal eu não sei quanto eu meço, não, não tenho nem idéia realmente, então eu, tudo que eu faço é pra levantar um pouco o, minha altura, já que eu tenho um marido que tem um metro e oitenta e três, que vocês viram ali, que é altíssimo. Então eu procuro fazer a minha figura um pouco mais esbelta.
DOC. -  E a, e o rosto?
LOC. -  Ah, o rosto é o mesmo que você me vê. É assim: uma base discreta, um pó, batom, uma sombra nos olhos, isso de manhã e de tarde, só à noite é que eu carrego um pouquinho mais evidentemente mas não uso pestana postiça.
DOC. -  Agora, você tem uma, uma profissão que é tão ligada assim, não é, com esse, com (sup.)
LOC. -  (sup.) Com a beleza.
DOC. -  É, e com problema estético também e tal ... Por exemplo vo... a parte assim de, de limpeza, de cuidado com, com o corpo, com, com o rosto, com a pele, você tem essas preocupações?
LOC. -  Não, não tenho esta não, de jeito nenhum. Eu, eu lavo o rosto com água e sabonete. Água morna pra tirar esse pó, essa sujeira que a gente tem no rosto e depois no final água e sabonete, morna, água corrente realmente, não é com a mão jogando a água na, no rosto. Eu ponho o rosto debaixo de uma torneira e eu lavo o meu rosto e depois eu abro o frio e lavo o rosto com água fria pra fechar os poros. Só isso, não uso (sup.)
DOC. -  (sup.) E esses produtos todos que existem (sup.)
LOC. -  (sup.) Produtos de limpeza, adstringente, não sei o quê, não uso nada disso.
DOC. -  Agora outra coisa. Você disse que sempre traz fazendas, não é, da Europa por exemplo existe assim algum, algum tipo especial de tecido que você prefira pras suas roupas, porque você acha que fica melhor?
LOC. -  Bom, eu vejo pelas cores e a estamparia, se elas me agradam, eu trago, principalmente as da África, eu tenho muitas da África porque eu acho que são lindíssimas, trouxe também umas da Guiana Inglesa que também no fundo elas são africanas. Mas por sinal essas fazendas são usadas em homens, lá em homens, não em mulheres, as mulheres se vestem, são mais feias no vestiário do que os homens. Mas justamente eu trouxe camisas por exemplo de homem para eu usar no Rio de Janeiro. Então eu faço o maior sucesso do mundo com aqueles camisolões, né?
DOC. -  Como são essas camisas?
LOC. -  Depois eu mostro. (riso)
DOC. -  Descreva aí pra nós. Como é?
LOC. -  Bom, é um tipo papagaio, daqueles que se vende em Copacabana, entende? Duplo. Com um buraco no meio, viu? Enfia tudo pela cabeça e solta aquilo na frente e atrás. Agora as estamparias são sensacionais, é na estamparia (sup.)
DOC. -  (sup.) Você gosta muito mais de tecidos estampados.
LOC. -  Muito mais de tecidos estampados.
DOC. -  E lisos, você não tem?
LOC. -  Não, eu gosto de tecido liso também não resta a menor dúvida, entende, mas tem que ter assim alguma coisa diferente, entende, ou então eu saio assim muito pro clássico. Mas nunca procurando copiar ninguém. Se eu sentir por exemplo que tem um terninho assim que eu posso por uma eventualidade encontrar alguém com aquele terninho, eu prefiro não comprar o terninho, entende? Eu gosto das coisas mais assim ... Que eu não veja ninguém com a mesma coisa que eu uso.
DOC. -  Agora você tem uma, uma modista que, que faz suas roupas. Mas quando você viaja por exemplo, você está indo sempre à Europa e Estados Unidos, você costuma comprar roupas lá?
LOC. -  Não, Por incrível que pareça, eu só gos... eu só compro lá fora suéter e às vezes algumas calças compridas, o mais suéter e casaco. Não compro vestido fora.
DOC. -  E já ocorreu de, eh, de, de você ir pra, pra, pra esses países da Europa e pros Estados Unidos em períodos assim muito frios de inverno por exemplo, como é que você resolve?
LOC. -  Bom, evidentemente que eu tenho que usar um traje adequado. Por exemplo quando eu vou pra montanha esquiar, está a dezessete graus abaixo de zero, vinte graus abaixo de zero, a gente tem que usar, ah, uma malha de lã, uma calça comprida de lã, geralmente presa debaixo do pé com um elástico e uma bota adequada àquele frio. Camiseta, suéter, uma ou duas, às vezes, dependendo da grossura da suéter, ou uma, ou um casacão até a montanha e lá então seria trocado por uma ... Eu não sei, eu emprego muito a palavra `jacket'-de-vento (sic). Nós não usamos aqui essa, esse termo, não é?
DOC. -  Não. Eu acho que não.
LOC. -  Esse é um termo italiano. Mas eu acho que é tão próprio realmente. É uma, é um tipo curto, ah, tipo capa de náilon que protege do vento e do frio, daquela friagem. É um, é um, é um suéter curto de náilon, transpa... é leve. O tecido é leve. Lá eles usam muito `jacket'-de-vento (sic). E eu gosto de empregar esse termo, por incrível que pareça, eu nem sei se realmente tem, se existe, se nós temos alguma coisa, eh, algum termo especial para esse tipo de vestimenta.
DOC. -  A gente sempre vê no cinema essas estações de, de inverno ... Quando a gente vê em filmes são sofisticadíssimas, né, as mulheres muito sofisticadas, sei lá. Roupa de inverno é um negócio bonito?
LOC. -  Realmente é bonito pelo seguinte, eh, a beleza é extasiante. Vocês não conhecem não, né, nunca estiveram. Bom, então é uma beleza tão indescritível que dá vontade de chorar. Por incrível que pareça. Depois você acostuma com aquilo, entende, mas o sol brilha intensamente e o frio é de cortar. Quer dizer, é um contraste muito grande. O sol brilha, tem um brilho extraordinário mas não tem calor. Ele não dá aquele calor que nós gostaríamos que desse. Então eu tenho a impressão que, como não existe o calor dado pelo sol, as pessoas procuram através das roupas coloridas levar calor porque as, as cores, como vocês sabem, elas irradiam calor: se é vermelho, se é amarelo, verde ... O verde eu acho que é frio. O verde e o amarelo eu, eh, sei lá, eu, eu ... Determinadas cores levam ao frio e levam ao, ao calor. Bom, o vermelho eu tenho certeza que leva ao calor. Então as pessoas procuram usar o máximo de roupas coloridas pra transmitir esse calor que falta no sol. E a cabeça real... as orelhas têm que ser protegidas com, ou com um turbante de lã, um gorro de lã, ou às vezes só uma, uma tira de lã pelas orelhas. Quer dizer, isso varia muito com o gosto de cada um, evidentemente. Cachecol, que também se usa muito. E o mais ...
DOC. -  E à noite, por exemplo, porque de dia está todo mundo esquiando, né, à noite o que, eh, como é, o que as pessoas fazem nessas cidades?
LOC. -  À noite o pessoal vai pros barezinhos, entende? Tem uns barezinhos que são muito aquecidos, de calor extraordinário. Então ali se, se dança, se bebe cerveja. Eles, eles gostam muito de cerveja, geralmente nesses, no alto dessas montanhas tomam muita cerveja, eh, essas bebidas alcoólicas mais leves. Os homens, eu não sei, estou falando, eh, do meu ponto de vista e do grupo que eu geralmente estou com eles, entende? É mais a cerveja e um vermute, um cinzano, esses, esses alcoólicos leves, como (inint.) esses, que eles tomam. E dança-se, à noite, à noite, mas geralmente com o mesmo traje. O traje de montanha é um só. É sempre esse: é calça comprida, aqueles sapatões grossos, eh, suéter e, dentro, eles tiram o, o gorro e o casaco. Permanece mais ou menos com aquela mesma fantasia, de manhã (sup./inint.)
DOC. -  (sup.) E mesmo quando tem festa, qualquer coisa (inint.)
LOC. -  Bom, na montanha não, na montanha não tem festa, compreende? Tem festa mais pra baixo, eh, lá em cima é nessa base, na base do barzinho, do inferninho, do, lá é mais assim, né?
DOC. -  Agora ainda fa... falando da Europa, eh, as mulheres européias por exemplo, todas as cidades que você já, já conheceu, você já viveu na Itália e conhece Paris, conhece todas essas cidades, essa lenda que existe, não é, de, de moda francesa ... Se as mulheres realmente são elegantes?
LOC. -  Não. Não, absolutamente. Eu acho que a mulher brasileira é muito mais elegante, inclusive do que esses povos todos que eu conheço. Eu só noto realmente à noite, elas são muito mais elegantes que as brasileiras, à noite realmente eu acho que, por exemplo eu fui à ópera, eu vou à ópera aqui e não tem nem comparação o vestiário (sic) de lá com o daqui. Isso realmente é completamente diferente. Lá é uma elegância londrina, quer dizer, o máximo da elegância. Elas usam ... Sapatos, eh, combinam perfeitamente com o toalete e luvas, jóias belíssimas, colares os mais lindos possíveis, muito bem pintadas. Aqui não. Aqui a situação é muito, muito mais pobre, vamos dizer assim, né, vestiário (sic) mais simples, não se preparam.
DOC. -  Inclusive isso daí é um sintoma, por exemplo até algum tempo atrás, eh, pra ir ao Municipal as pessoas iam vestidas de uma determinada maneira, mas a gente está percebendo que o Municipal começa a ser invadido por uma faixa, né, faixa de idade, né, mais jovem (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Eu tenho a impressão que o brasileiro ele confunde um pouco as coisas. Se lá fora foi, foi ditada uma moda que mais ou menos alguns a usam, o brasileiro praticamente todos passam a usar. Quer dizer, ele não tem esse discernimento pra determinadas coisas. É o que eu acho. Por exemplo se lá fora foi ditada uma moda de, dessas sandálias altas na frente e atrás, são só algumas pessoas que usam isso, em determinados lugares. Realmente foi lançado isso, ou algum costureiro lançou isso. Agora você não vê nas ruas todo mundo com aquele sapato, com aquela sandália que foi usada. Copacabana é assim. Se foi ditado lá ou fulano passou a usar, caiu no gosto, ou, ou Jane Fonda, ah, uma dessas qualquer, toda Copacabana está usando isso. Quer dizer, então não há um discernimento, entende?
DOC. -  Quer dizer que essa, essa moda `hippie', que a gente chama de moda `hippie' você acha que afinal de contas é um uniforme, né (inint.)
LOC. -  Total, total. Está todo mundo fantasiado. É gozadíssimo. Por isso que chamam o brasileiro de macaco. Porque realmente ele tem uma imitação assim gozadíssima. Vamos ver, atualmente o que está se usando em Copacabana que ... E depois, outra coisa, já era, lá, já passou o negócio e aqui estão começando a usar. Então é todo mundo assim, por exemplo essas, essas calças desbotadas, é uma coisa que você não vê lá fora assim, você vê é um estudante muito mal nutrido que tem, um bolsista com dificuldade, que a calça começou a desbotar, mas se aquilo saiu na revista, você sabe, todo brasileiro, pode ser filho de papai rico, papai pobre, ele está com a calça desbotada pela rua afora. Então você sente que não há um discernimento aqui do brasileiro. Quer dizer, é gozadíssimo, chega a ser ridículo. Isso 'e o que eu noto, o que eu percebo.
DOC. -  Agora fale um pouquinho das roupas de seu marido, como é que ele se veste, qual é o seu gosto.
LOC. -  Ah, meu marido é muito elegante. (risos)
DOC. -  Descreve. Como é que você gosta que o homem se vista.
LOC. -  Bom, tudo depende da hora evidentemente. E do nosso calor. Porque o nosso calor é inimigo da moda. Nosso calor não deixa o meu marido se vestir às vezes como eu gostaria que ele se vestisse evidentemente. Mas como ele é um tipo muito alto, ele ... As roupas lhe caem muito bem. Ele faz as calças praticamente por encomenda. Toda a roupa dele é feita de encomenda. E como ele é muito alto, ele também entrou no mesmo feitio que eu. Não gosta de usar uma calça que tenha ali no, no (inint.) ou em qualquer outras casas dessas, Windsor, daqui a pouco ele vai ver meia dúzia usando a mesma calça. Então eu meti isso na cuca dele, entende, e ele realmente faz o que eu quero. Então nós, ele, nós compramos a fazenda, numa casa de modas de mulher. Eu compro a fazenda pra ele, ele junto comigo evidentemente, que ele tem que mais ou menos dar o, o plá dele nesse sentido de cor. Mas geralmente aceita muito a minha crítica. Ele compra o tecido, geralmente sempre puxado para um tecido trabalhado. Então não é assim, vamos dizer, uma seda pura, uma coisa, né, que ele tenha, porque geralmente ele trabalha, como ele trabalha de, quase o dia inteiro, quer dizer, de manhã à tarde, as roupas têm de ser esportivas para enfrentar a manhã e a tarde juntos e chegar de tardinha em casa. Então essas, essas calças, esse tecido são geralmente de uma fazenda trabalhada, não sei como dizer, é assim uma, uma malha de algodão por exemplo. Então ele tem várias, várias calças nesse sentido. Levamos para um calceiro e ele faz as calças. E as camisas a mesma coisa. Compramos o tecido, porque ele não tem camisa que dê nos braços dele, porque ele, ele é muito alto, então as camisas são curtas, se fica bom no colarinho, não tem manga que dê. Então levamos para um camiseiro, ele faz as camisas para ele também. Sempre com um tecido geralmente muito bonito, que ele vá ao hospital e que todos os colegas vibrem pela, pelas roupas dele porque eles não têm assim igual. Quer dizer, ele não entra numa, numa Windsor, numa José Silva e não compra uma camisa, entende, geralmente é um tecido mais fino e com corte que geralmente eu vejo nas revistas da Europa e eu acho per... os cortes na camisa esportiva. E pra noite então ele tem roupas que nós mandamos fazer numa fábrica de um amigo meu, amigo porque ele era cliente, se tornou amigo depois. É uma das melhores fábricas que nós temos aqui no Rio de Janeiro: Chamovitz, em Bonsucesso. Então lá ele compra as roupas noturnas: calça de seda pura, que não é um traje que se use normalmente muito aqui no Rio de janeiro, porque realmente é muito difícil ir a um lugar, um, um lugar superelegante aqui no Rio de Janeiro. Então como se vai a, a poucas, poucos lugares elegantes, então são roupas que têm de ser guardadas por algum período de tempo, não se faz toda hora, como, como são as calças e as camisas esportivas que ele tem. Então vamos nessa fábrica desse amigo nosso e ele manda fazer os paletós de acordo com os lugares que nós vamos, para ser guardado durante um ou dois anos e usar praticamente o mesmo traje.
DOC. -  E o feitio, o corte, como é? Se ele tem preferência, porque tem vários, várias, são diferentes, não é, por exemplo, o número de botões, se é mais (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) De manhã ele não usa paletó. De manhã ele normalmente ele não usa paletó e nem à tarde. Ele tem uns quatro casacos, eh, paletó curto, de lã, ele tem dois ingleses, e como se usa muito pouco, em poucas ocasiões, porque o Rio faz muito calor, ele normalmente ele não tem, ele tem mais, vamos dizer assim, suéter e um tipo de blusão que sai pela manhã por cima das camisas, entende? E à noite esses trajes especiais assim tem que ser uma coisa, como é muito sofisticado, vamos dizer assim, um paletó jaquetão longo, com meia dúzia de botões, branco, com uma calça preta de seda pura e uma camisa preta, aberta a gola, com uma écharpe verde de, verde bandeira, de seda pura, ele está superelegante, à noite por exemplo. Mas isso em poucas ocasiões que tem oportunidade de usar no Rio de Janeiro. Porque geralmente, mesmo nós sendo convidados, hoje, à noite, pra determinados lugares, a gente sente que o ambiente não vai ser aquele que nós gostaríamos. Mas por exemplo se nós viajamos pra São Paulo, lá o ambiente já mudou totalmente. Então à noite, um traje elegante, é elegante ainda, é muito parecido com a Europa. Mas o carioca é muito descontraído. Ele vai com a roupa que ele acha que deve de ir, ele não, não segue muito aquele protocolo que nós gostaríamos que tivesse.
DOC. -  Você acha que o paulista é mais elegante que o carioca?
LOC. -  Muito mais, nem se compara, tanto a mulher quanto o homem.
DOC. -  E numa, mum, numa ocasião especial, em que, eh, ele não iria, mesmo assim com, com essa roupa sofisticada, uma calça sofisticada, uma camisa sofisticada, mas com outro traje também que a gente não vê quase nunca, né, que é assim toda especial por exemplo, sei lá, um, um `reveillon', uma rece... uma recepção no Itamarati, coisas desse tipo?
LOC. -  Bom. Isso então ele tem o `smoking' que geralmente ele usa.
DOC. -  Agora, como é o dele, porque a, a gente está sentindo que esse traje, sei lá, está assim se modificando, não é, no tecido, a cor por exemplo, antigamente tinham uma, ele tinha sempre a mesma cor, agora a gente já vê modelos diferentes, não é? Você não percebeu isso não?
LOC. -  Não, à noite assim não. O `smoking' eu não, não posso dizer se realmente tem diferença, eu, eu acho que não. Não, pelo menos nos lugares que eu vou assim eu não percebo.
DOC. -  Como é o dele?
LOC. -  O tecido?
DOC. -  O que, o que que caracteriza esse traje, por exemplo, tem de ser uma especial (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Eu sei que tem uma gola de cetim. A gola, por fora, é de cetim. É uma lapela (sup.)
DOC. -  (sup.) E a calça é comum também como as outras?
LOC. -  O tecido ... Ah, eu não sei, tecido, eu sou triste (sup./inint.)
DOC. -  (sup.) Porque é um traje tão especial, que você vê um homem, né, vestido assim você percebe logo que ele está vestido com um traje especial.
LOC. -  Bom, isso eu estou falando no `smoking', né? Eu estou falando no `smoking', à noite, nessas recepções assim, Itamarati. Mas é tudo mais ou menos igual, entende? Antigamente ainda tinha uns curtinhos, eram umas casaquinhas tipo garçom, agora não tem mais disso. Eu não sei, não me lembro nem o nome daquele negócio, entende?
DOC. -  Vem cá, você falou muito em calça, em paletó, camisa, que, que mais que o homem veste?
LOC. -  Meia, sapato?
DOC. -  É. Por aí afora. Que mais?
LOC. -  Cueca. (riso)
DOC. -  Por exemplo ele tem, ele tem preferência por ... Sabe, porque isso tudo nos interessa em termos de vocabulário.
LOC. -  Pois é, mas justamente por isso que você tem que procurar, porque não vou citar normalmente no traje do meu marido cueca, meia, nem nada.
DOC. -  Não, é claro. É lógico. Porque existem modelos diferentes, né, os homens têm preferências. Porque tem modelos diferentes, né?
LOC. -  (sup./inint.)
DOC. -  Descreve uma cueca aí que você prefere, que você acha mais elegante.
LOC. -  Cueca elegante ...
DOC. -  Porque inclusive está havendo uma modificação nisso.
LOC. -  Eu gosto de cueca de cor lisa e discreta. Branca, cor de carne. Geralmente são as pref... as de minha preferência e as que ele usa, porque eu gosto, ele passa a usar. Já eu vejo as cuecas dos meus colegas, vermelhas, cuecas de florzinhas, cuecas de bolinhas, isso ele não usa. Eu vejo meus colegas porque, eh, as roupas são muito bem feitas pra nós operarmos, entende, de maneira que quando você levanta um braço a gente vê as cuecas embaixo, (risos) são transparentes e, e tipo, vamos dizer assim, calça de pijama, que tem aquele cadarço pra dar na bunda de todo mundo. (riso) São três tipos: o pequeno, o grande e o médio, entende? Então normalmente eu vejo os meus colegas e às vezes critico: puxa, mas como é que uma mulher deixa você sair com uma cueca dessa? Ele diz: ah, minha mulher gosta. Outro dia tinha um de verde alface. Quer dizer, são esses gostos que variam, não é?
DOC. -  E você, em relação à roupa íntima?
LOC. -  A minha? (sup.)
DOC. -  (sup.) Qual a sua preferência? É.
LOC. -  Bom, eu uso calça e sutiã americana. (risos)
DOC. -  E feitio? O corte? Porque tem um ... Né?
LOC. -  O feitio, o corte. Bom, eu uso uma calça, não biquíni, uma calça que não tem perna, uma calça média que me pega a cintura até o, o início da coxa. Então ela me dá um formato e uma sustentação abdominal boa e não me marca nas calças compridas, porque eu também não gosto de colocar calça comprida e aquela marca de biquíni. Eu acho aquilo horrível, triste. E o sutiã é um sutiã que quando eu coloco qualquer blusa não ap... não apresente assim um, um bico, um, uma costura. Então meu sutiã é um sutiã elástico, quando eu visto molda perfeitamente as minhas mamas, como eu gostaria que fizesse, sem marcar do lado de fora (inint.)
DOC. -  Agora roupa íntima de mulher é só isso que você conhece, você pode não usar, mas deve conhecer outras coisas.
LOC. -  Ah, combinação? Acho que não se usa mais, né? (interrupção)
DOC. -  Só?
LOC. -  E usa mais alguma coisa ainda? Porque eu não uso.
DOC. -  Por exemplo, essas, as mulheres já usaram (inint.)
LOC. -  Liga, meia?
DOC. -  É, exato. Você usa liga, é?
LOC. -  Eu uso uma calça, que é essa que eu uso, que ela tem uma, uma adaptação que tem umas presilhas de elástico que prende a meia. Eu não uso aquela liga separada, entende?
DOC. -  Agora, você disse que, eh, a sua roupa íntima, calça, sutiã, são americanas. Você compra? Como é? Você manda buscar nos Estados Unidos?
LOC. -  Não. Tem uma mulher que faz contrabando. (riso) Contrabandista. E então eu compro. Ela sabe que eu gosto e então vem sempre trazer.
DOC. -  E essas butiques, que agora tem uma, assim uma inflação, não é, de lojas assim?
LOC. -  Não, eu não compro praticamente nada em butique, nem olho (sup.)
DOC. -  (sup.) Em lojas, nem em Ipanema e tal, você não gosta não?
LOC. -  Nem, nem sei, não freqüento, não olho, não vejo. Não tenho nem interesse em olhar, honestamente, de uma coisa por aqui assim.
DOC. -  Agora passando pra outro tipo de roupa. Roupa de dormir por exemplo para dormir, você e seu marido.
LOC. -  Bom. Nós dormimos vestidos, por incrível que pareça. Com calça, eu de calça e camisola e ele de pijama, entende? Então o que, você quer que eu diga o quê?
DOC. -  Por exemplo tecido, porque existem algumas pessoas que não gostam de um determinado tipo, né, por causa da fazenda, sei lá, preferência.
LOC. -  Eu uso algodão, bem fininha, náilon eu não gosto muito, apesar que eu tenho mas não uso, e geralmente, trabalhadas à mão assim tipo tricotadas, de linha. Eu não uso nada de lã que eu sou alérgica, então eu não gosto do uso, assim como o cobertor, também não é de lã, meu cobertor é esse sono-leve, entende, pela minha alergia, assim como o meu lençol, por baixo, é forrado com plástico, porque eu não posso ter contato com o colchão, meus travesseiros são de espuma de náilon.
DOC. -  E por exemplo, dependendo de, de ser inverno ou verão, você usa roupa diferente pra dormir?
LOC. -  Bom, sim. Quando é verão eu uso sem manga, um pouco mais decotado. Quando é inverno eu geralmente com manga, mais fechado, mas não de, com lã, sempre sem lã. Quando é verão eu ligo o ar condicionado e quando é inverno então eu me cubro e fecho as portas e janelas geralmente.
DOC. -  E o seu marido, ele tem preferência por (inint.)
LOC. -  Não. No verão (sup.)
DOC. -  (sup.) Cor, tipo, fazenda.
LOC. -  Não. Verão, pijama de perna curta e, inverno, de calça comprida.
DOC. -  E sobre roupa de dormir, camisola, pijama, vocês costumam usar alguma coisa?
LOC. -  Usar alguma coisa como?
DOC. -  Eh, por exemplo, quando levantam de manhã, vão ao banheiro. Porque algumas pessoas usam, né?
LOC. -  Ah, sim, usam um sobretudo, um, um ... Como é o nome daquele negócio? Espera aí. É um, um robe. Não, eu não uso nada disso. Eu saio direto do banheiro e já saio correndo pra ir me embora. Não dá nem tempo de usar o tal do robe, eu tenho uma porção, eu tenho chineses, tenho americanos, mas não uso nada, italianos, mas não uso, nem dá pra usar.
DOC. -  Agora você falou de tecido, roupa, feitio de vestido, calça comprida, blusa, e a parte de sapato?
LOC. -  Bom, de manhã eu uso um tamanco e opero com o mesmo tamanco. Geralmente eu saio com este tamanco já de casa, assim como eu vou dirigindo também com este tamanco. Não tenho dificuldade, inclusive na direção com o tamanco, ainda que eu saiba que seja preju... prejudicial à direção, mas eu não sinto esta dificuldade. Saio com este tamanco e volto com o mesmo até mais ou menos as quatro, cinco horas. É a hora que eu então me, eu troco-me e vou para, para o consultório, já com um outro traje, um sapato de, de salto médio, nem alto e nem baixo. Sempre na base do confortável, sem me cansar muito, porque eu já passo muitas horas em pé, eu trabalho praticamente sempre em pé, então isso me cansa muito, e este tamanco inclusive me, me dá esta oportunidade de conforto, de, de me descontrair o pé sem fazer, sem, sem doer a sola do meu pé, entende?
DOC. -  E, à noite por exemplo, eh, você falou por exem... que quando você vai assim a certas ocasiões, você vai de vestido longo e tal (sup.)
LOC. -  (sup.) Sim (sup.)
DOC. -  (sup.) Vai de sandálias altas.
LOC. -  Eu procuro usar uma sandália alta, mas que a frente também seja alta, então há um equilíbrio e esse taco, esse salto que seria alto se torna médio, ainda que eu esteja muito alta.
DOC. -  E você usa sempre sandálias, não usa outro tipo de, de calçado?
LOC. -  Não, se eu, se eu puser um sapato, fechado, de determinada fazenda por exemplo assim de uma fazenda de seda pura, então eu nunca, eh, nunca esse salto é tão alto, é sempre médio.
DOC. -  E você manda fazer esses sapatos? Você compra prontos?
LOC. -  Geralmente esses de noite assim, a gente manda fazer, manda fazer de acordo com o traje que estou usando.
DOC. -  E outra coisa. Você também ... Assim fazendo comparação com outros países que você já conheceu, tal, em relação a calçado, você prefere sapatos estrangeiros, de um determinado país ou você acha que os brasileiros são bons?
LOC. -  Não, eu gosto que meu marido compre sapatos lá fora, no exterior, porque por exemplo os sapatos para direção, aqui não tem, que são sapatos de sola de borracha e por trás acompanha a sola toda de borracha. Então o salto do sapato não estraga tanto. Você pode observar que quem dirige muito, como ele que muda muito de hospital, ele vai a três hospitais por dia, ele dirige muito, de um lado pro outro e então o, o salto do sapato se gasta muito rapidamente atrás, quer dizer, fica horrível o sapato dele ainda que seja novo. Então esses sapatos dão um, um pé confortável, porque ele é todo maleável e não deforma, quer dizer, ele, ele continua sempre sendo um homem elegante, como eu gosto que seja.
DOC. -  E voltando outra vez aos adereços, você já falou em, em jóias, pintura, arrumação do cabelo, vestido, sapato. Outros, outra, outros acompanhamentos?
LOC. -  Bom. Eu uso brincos. Brinco de ouro, que eu gosto, que eu, que eu uso geralmente. Ou então não uso brinco nenhum. Colares, eu gosto de variar, isso sim, fantasias. Ou então um colar de pérolas, um colar de ouro, ou então assim bem pra frente por exemplo de manhã às vezes eu vou, eh, um colar, vários colares por exemplo juntos, mas tudo dentro de um padrão, vamos dizer assim, de correntes prateadas, com determinados balangadãs típicos de determinados lugares.
DOC. -  E a parte de bolsas?
LOC. -  Eu tenho uma variedade enorme de bolsas. (riso)
DOC. -  Então como é? Que tipo você prefere? Tamanho, feitio?
LOC. -  Eu gosto muito de alça longa para a manhã e, e ... Depois das cinco geralmente alça curta. Pela manhã eu uso as bolsas de acordo com o vestido que eu estou, as cores. Então se eu estou com uma, com uma camisa amarela, um negócio assim, quando eu vou geralmente com este tamanco que eu falei pra vocês, é um tamanco branco, sola grossa de cortiça, então eu vou com a bolsa de acordo com a roupa que eu estou. Por exemplo eu estou assim, vou com a bolsa amarelinmha, que a minha blusa é amarelinha, se vou, se vou com uma verde, eu uso geralmente uma bolsinha verde, quer dizer, então eu puxo pra esse lado, mas sem nenhuma formalidade. Eu não me preparo elegantemente pra enfrentar o meu hospital, de jeito nenhum, eu chego por uma porta, saio pela outra, com o traje que eu estou, eh, o traje mais horrível possível. E depois das cinco, que eu vou ao consultório, então eu uso uma bolsa de alça curta, pequena. Geralmente eu, eu uso uma bolsa mais puxado pro toalete, ou de camurça ou de pelica, entende, bonitas, com uns fechos dourados, umas coisas assim mais pro elegante. E à noite, de acordo com o lugar como é que eu vou, é lógico, minhas bolsas variam, ou, ou tipo `trousse' ou em pedra... pedrarias pretas, se o traje é todo preto, ou então uma bolsa tartaruga, se é um esporte elegante. Que mais?
DOC. -  Quando você vai à praia? Como é que você, como é que você vai à praia?
LOC. -  Como eu vou à praia? Bom, o meu maiô é comprido. Eu não tenho corpo pra usar biquíni. Eu acho que quem usa biquíni tem que ter um corpo muito espetacular, senão não deve usar o biquíni. Então, meu, meu maiô é longo, de uma peça só, uso um tamanco, não o mesmo que eu vou operar, um outro tipo de tamanco pra praia, e uma saída de praia, curta, não tão curta, até o joelho mais ou menos, e um chapéu de palha amarrado com um lenço e uma bolsa de palha ou uma bolsa de lona, uma bolsa de pano. Também tenho algumas que eu trago de determinados lugares de acordo com o lugar que eu vou, por exemplo se eu vou com meu marido pescar, vou à praia pescar, então eu já levo uma bolsa maior de lona, que tenha maior compartimento pra, eh, pra levar maior número de material. Enquanto se eu vou a uma praia apenas tomar sol, e mais próximo, então eu vou com uma bolsa mais curta e praticamente não levo nada dentro.
DOC. -  Agora pra terminar, você já deve ter observado que, eh, os homens de uma determinada faixa, assim mais ou menos jovem, né, sei lá, eles estão se vestindo assim muito igual, né, rapazes e moças, inclusive os homens estão usando adereços, né, que são femininos, que até há determinado pon... tempo só as mulheres usavam. Você observou isso?
LOC. -  Já. Já observei sim. Realmente, eh, agora existe a moda unissex, n'e? Mas essa turma que usa isso é tão ... É uma geração tão diferente já da, da que, vamos dizer assim, da que eu aprecio que eu nem olho direito, realmente pra esses balangadãs, pra essas coisas que esses rapazes usam. Precisa que eles, que seja assim uma coisa, seja muito gritante, o que eles usam, por exemplo os cabelos muito grandes, ou muito, barba muito grande, um tipo tão agressivo de desleixo que me chame atenção. Ou então um tipo, vamos dizer assim, que perdeu a sua masculinidade, ele já é um pouco, um pouco, já é, já é homossexual. Então se ele é muito agressivo, ele me chama atenção. Então eu olho. Mas normalmente esses meninos que andam com essas, esses balangadãs, aquele, eu nem olho direito porque realmente eu nem gosto de ver.
DOC. -  E como é que você explica essa tendência de cada vez mais, eh, moças e rapazes se vestirem do mesmo, do mesmo modo por exemplo os rapazes usando sandálias, bolsas, né, aquelas bolsas?
LOC. -   Eu realmente eu não sei o que eles esperam ou o que eles querem, entende? Eu realmente eu não sei, eu estou assim até um pouco desligada disso, eu não sei, eh, onde eles pretendem chegar? No domingo eu fui à feira `hippie' ali, pra tentar compreendê-los um pouco melhor mas, sabe, eu saí de lá sem entender praticamente nada. Eu não entendi o que eles pretendem com aquilo, se eles estão satisfeitos com aquilo, se eles fazem aquilo forçado, quer dizer, eu realmente eu não, não entendi, eu não entendo realmente. Até agora não, não entendo. Por exemplo lá fora eles são assim muito mais autênticos, devido a uma série de circunstância. Porque eu conheço aqui rapazes por exemplo que são metidos a `hippie', que o pai e a mãe levam sanduíche na praia. Então eu, eu não entendo realmente aqui, se é igual aos de lá, se realmente é como ... Na América, já é completamente diferente. Não sei realmente a que eles pretendem chegar, realmente eu não sei. Apenas eles deram um pouco de descontração no mundo, isso deram, deram sim, realmente. À moda, tudo isso, isso realmente foi um benefício que eles trouxeram. Mas realmente, no fundo, o que eles pretendem, se eles estão felizes assim ... Dizem, eh, que o mundo está na mão dos jovens, né, não sei, o que, o que que eles fazem que, que o mundo que está na mão deles. Não sei. Absolutamente não vejo isso. Honestamente não sei. Porque eu tenho minha idade, sou jovem, faço cirurgia e tudo mais. Mas há dez anos atrás tinha gente da mesma idade que eu, que fazia a mesma coisa que eu, que eu faço, que não tem mistério nenhum. Eu não entendo realmente. Palavra de honra. É meu ponto de vista.