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PROJETO NURC-RJ

DIÁLOGOS ENTRE INFORMANTE E DOCUMENTADOR (DID):

Tema: "Transportes e viagens"
Inquérito 0088
Locutor 0102 - Sexo feminino, 25 anos de idade, pais cariocas, psicóloga. Zona residencial: Norte
Data do registro: 28 de agosto de 1972
Duração: 40 minutos

 

Som Clique aqui e ouça a narração do texto


DOC. -  Transportes e viagens e você acha que você pode vir um pouquinho mais para cá, ficar mais pra perto. Está ótimo. Você tem vontade de viajar?
LOC. -  Tenho muita vontade, sempre tive e não sei por que que quase não saio, sabe? Acho assim que, não, eu queria mesmo já estar viajando, sabe?
DOC. -  Hum.
LOC. -  Principalmente depois que eu me formei eu queria fazer um curso de pós-graduação no exterior. Mas não, não sei por que realmente eu não consegui. Procurei e tal mas sempre muita dificuldade, CAPES, esse coisa toda então acabei ficando. Acho que muito assim por ... Não consegui sair daqui, né, mas tenho sempre vontade de sair.
DOC. -  Mas viagem de estudos você mencionou, mas outro tipo de viagem.
LOC. -  Não (sup.)
DOC. -  (sup.) Se você gosta de viagem em geral, enfim. Quando se fala nesse tema, que que ele evoca?
LOC. -  É, não, realmente assim prin... agora eu só estou pensando em viagem estudo, entendeu? Eu acredito que, nem sei quando, é uma coisa assim tão lon... longínqua pra mim esse, eh, o fato de eu poder viajar, eh, enfim, passeando só, eu nem, não estou cogitando ainda nisso. Mas, pôxa, eu acho que seria formidável pra mim, entende? Está difícil. Por enquanto é difícil ainda sair, sair assim, pensar em outra coisa que não seja viagem de estudo, só. Sabe, quer dizer, acho que poderia aproveitar inclusive agora mesmo surgiu uma oportunidade de eu passar um ano na Argentina. E você sabe como é que estão as coisas lá, né? Está tudo muito bem e tal, o pessoal, eh, os psicanalistas argentinos estão com tudo (risos) então acho que poderia aproveitar muito lá. Pra mim e pro L. A., sabe? Mas eu não, não quis.
DOC. -  Por quê?
LOC. -  Não quis porque já tenho uma clientela aqui já formada e cada vez tende a aum... a aumentar tudo isso e acabei não podendo sair por causa disso. Também por causa da minha análise. (risos) Ainda tem esse problema. Eu comecei há pouco tempo então acho que agora não seria o momento, sabe? Mas aí eu, aí, aí me dá assim um pouco de tristeza pelo fato que, acho que vai ser mais difícil daí pra frente sair. Você está entendendo? Talvez eu pudesse ficar uns dois ou três meses, hum, hum, fazendo alguma coisa ou mesmo só passeando no exterior, mas é só isso, quer dizer, acho que nunca mais eu po... teria oportunidade de passar dois ou três anos fora.
DOC. -  Mas você não pensa na possibilidade de nas suas férias já que a Argentina não fica longe aproveitar pra entrar em contato com o pessoal? (sup.)
LOC. -  (sup.) Ah, sim. É, isso nós já, inclusive nós já pensamos assim os dois queren... Talvez o L. A. vá, sabe? Então inclusive eu entusiasmei muito a ele que ele vá e mesmo que eu não possa ir não tem importância, ele vá. E, e talvez eu pudesse ficar dois meses lá, né, fora fins de semana que, se eu conseguir dinheiro e tal, posso ir de avião de vez em quando passar um fim de semana longo, não é? Uma semana, uma coisa assim de vez em quando é possível isso, sim. Ah, isso eu acho mesmo muito importante. Mas eu estou falando assim viagem e tudo pra fora, né? Eh, porque estou pensando sempre em termos de estudo, entendeu? Mas aqui, aí sim, aí eu tenho muita vontade de passear. Mas aqui dentro, no Brasil mesmo, entendeu? Aí sim, aí eu tenho von... Estou doida pra, pra ir lá pra cima, sabe? Meu negócio é lá em cima. Estou doida pra ir ver aquilo tudo. E o mais breve possível. Isso eu acho que talvez eu possa em fevereiro. Acho que está chegando a hora.
DOC. -  Você, o que que você acha dos motivos que levam as pessoas a viajar em geral?
LOC. -  Tem gente que viaja muito, né? Tem razão, quer dizer, o fato da gente poder sair assim por sair só de vez em quando eu acho isso assim até bastante saudável, sabe, assim a gente poder se desligar dessas coisas todas que a gente está sempre muito presa. Isso que eu acho que é um dos motivos por, pelos quais eu não saio. Muito presa ainda e tal. Eu acho isso importante e acho que a gente deve fazer de vez em quando. Mas até pens... comecei a me lembrar disso, de outras pessoas que só fazem viajar, né? Tenho uma colega que ela faz viagem Rio-São Paulo toda semana, entendeu? E, e isso aí eu, aí eu já acho que o negócio muda um pouco de figura porque está sempre fugindo, entendeu? Sempre fugindo assim das coisas. Hoje mesmo me telefonou uma colega e, até eu convidei ela pra vir aqui mas ela me falou que, que ia viajar. Ela teve um problema lá no mestrado da PUC e está muito aborrecida, não sei quê (ruído buzinas) então ia viajar. Por causa disso, entendeu? E ela, aí eu disse: escuta, mas seria ótimo pra você viajar, já pensando que ela ia porque ela me disse: ah, eu vou pro exterior, vou fazer outra coisa lá e não sei quê. E eu achei que seria ótimo pra ela mas, mas acabou que ela me disse: não, não, é só pra fugir mesmo. Foi bem clara: é só pra fugir mesmo. Acho que o negócio não é muito saudável não. Só pra fugir. Estou precisando sair daqui correndo. Acho que essa minha viagem realmente não tem finalidade nenhuma. Assim, entende, as coisas, por isso que eu acho que eu ainda não, sei lá, eu acho que eu teria que estar preparada para também, entendeu, pra eu poder aproveitar. A gente sair, se ter logo vontade de voltar, não tem graça nenhuma. Eu já saí alguma vezes em fins de semana e tal. Aí é sempre tão, tudo tão rápido, né? Não dá muito pra gente sentir, mas quando, eh, o fato de fi... ficar mais tempo já é alguma coisa que me preocupa. Então acho que não ia aproveitar, não ia aproveitar tanto, né?
DOC. -  Agora você acha que uma viagem feita com esse objetivo de fuga pode ter um resultado positivo? Quer dizer, mesmo do ponto de vista psicológico.
LOC. -  Hum, hum.
DOC. -  Quer dizer, a indicação inicial pode ser simplesmente uma fuga, mas seria possível, não sei, do ponto de vista, não é, psicológico. Eu acho (inint.) se beneficiar psicologicamente numa viagem assim?
LOC. -  Ah, isso eu acho, entende? Quer dizer, dependendo do caso eu acho que sim. Eu, eu tenho uma amiga também psicóloga que ela no ano passado, é, no final do outro ano, sessenta e nove, eu acho, não, setenta, ela, ela resolveu sair assim, sabe? E ela estava mesmo, ela, ela, ela estava trabalhando num serviço que não dizia nada a ela e tal e tinha acabado de se formar e foi, teve assim a possibilidade de, de uma bolsa de estudos no exterior. E lá foi ela. Ela é uma pessoa assim mais velha, ela tinha se formado há pouco tempo por aqui mas, mas acontece que de qualquer maneira eu acho que pra ela foi importantíssimo porque ela tinha uma grudação com a família incrível, sabe? Chegou aqui, logo conseguiu, conseguiu assim muita coisa. Conseguiu mesmo muita coisa que eu acho que não conseguiria se estivesse aqui até hoje sem ter saído, entendeu? Foi uma terapia pra ela mesmo, eu acho.
DOC. -  Você tem carro, você ...
LOC. -  Hum, hum.
DOC. -  Você podia falar um pouco sobre os meios de transporte que nós usamos normalmente pra nos locomover?
LOC. -  Olha, eu, eu acho, as... esse, esse carro que eu tenho, entendeu, é assim importantíssimo pra mim, sabe? Porque, sei lá, eu acho assim tudo tão longe aqui, entendeu? Acho o Rio de Janeiro tão longe, tão difícil a gente chegar quando a gente não tem carro, sabe, acho tão difícil mesmo! Eh, es... esse período assim que eu fiquei sem carro por conserto ou qualquer coisa desse tipo sempre muito difícil. Eu realmente não saio nesse período porque andar de ônibus, enfrentar condução pra você ir pra outro, pra outro lu... enfim zona norte, entendeu, eu não tenho o menor entusiasmo. Ainda mais eu que viajava pra Jacarepaguá e Méier, não sei quê, quer dizer, tem que, precisa mesmo muito de carro, sabe? Porque não, não dá mesmo pra gente se locomover, eh, pelo fato de que, eh, não sei, dá uma volta ao mundo, né, pra chegar lá, né? Eu não sei, é muito difícil mesmo. Me dá essa impressão.
DOC. -  Você entende alguma coisa de carro?
LOC. -  Não, eu não entendo nada. O carro enguiça, como já enguiçou várias vezes, eu fecho e chamo o L. A. (risos) rápido, né, o mais urgente possível chamo o L. A., quando não deixo no meio do caminho e, e vou me embora e depois só aviso a ele que está enguiçado, entendeu? Mas na maior dependência mesmo porque não quero nem saber. Quando, (risos) quando acontece de, dele não poder, por qualquer razão, eu já tenho um mecânico certo, na hora certa. Telefono e mando buscar, entendeu? E não consigo nem dar um recado ao mecânico. Dizer que, enfim, o cabo da embreagem quebrou eu nem sei o que quer dizer isso, entendeu, eu simplesmente repito às vezes quando é necessário, me disseram que foi isso que aconteceu mas eu não, não tenho a menor noção, sabe? Não tenho mesmo. E mesmo dentro do carro eu mexo pra lá, botãozinho pra lá e pra cá, mas também não sei o que que vai dar, quer dizer, eu sei o efeito, causa e efeito, só.
DOC. -  Você podia descrever algumas, alguns desses enguiços que você já teve com o carro?
LOC. -  Enguiços? Olha, quando eu tinha ... Os, os, os primeiros carros que eu tive não deram enguiço quase. Quer dizer, um, um, o primeiro que eu tive mesmo era um velhinho, muito velhinho mas, coitadinho, não dava enguiço. Só dava enguiço de lataria. Quer dizer, aí isso eu sabia. A porta batia e, e, uma ... Aconteceram várias coisas engraçadas porque uma vez, duas ou três vezes aliás, mas uma principalmente foi muito ridículo mesmo. Eu fiquei presa na rua. O carro simplesmente não abria a porta, entendeu? Já tinha acontecido isso uma outra vez mas sempre eu conseguia abrir. Com mais esforço mas conseguia entrar no carro. Mas essa vez não houve jeito. Nós estávamos em Copacabana, eu estava com um rapaz, meu namorado e tal e, e aí que eu tive que conseguir uma ... Ele, né, saiu catando uma vassoura, um cabo de vassoura, uma coisa qualquer assim nesse tipo pelos porteiros dos edifícios vizinhos, entendeu, ali onde estava o carro estacionado pra conseguir abrir a porta do carro, porque foi dificílimo mesmo. Isso pra evitar quebrar o vidro porque uma vez nós, eu quebrei o vidro, entendeu? Uma ou... da ou... na terceira vez aí eu não esperei mais, eu quebrei o vidro pra poder abrir o carro e entrar. E saí andando. Porque esse carro dava esse problema, entendeu? Acabei desistindo dele porque já não agüentava mais ficar, ficar na rua. Não havia jeito. Consertava e depois dava um enguiço de novo. Eu não sei o que que tinha. Mas depois, aí, quando eu tive um outro carro não deu enguiço nenhum, estava ótimo e... Só uma batida que houve que aí provocou assim maiores problemas mas não, não me afetaram realmente não. Mas com o Corcel aí eu comecei a aprender um pouquinho de mecânica, entendeu? Aí eu já sabia o que era embreagem, o que era, o que era cabo de embreagem, o que era não sei quê, quer dizer, eu já consegui aprender alguma coisa, sabe?
DOC. -  Quer dizer um pouco disso que você aprendeu?
LOC. -  Que que eu aprendi?
DOC. -  É.
LOC. -  Não, eu, eu já sabia que, enfim, sempre dava um enguiço assim muito, muito característico do Corcel mesmo, que era o tal da embreagem manual. Ele tem uma pecinha que se chama boca-de leão, entendeu, uma coisa assim e que sempre quebrava, sabe? Essa pecinha me deixava na rua cada vez que eu, quando eu ia, eh, acelerar e tal já o carro não andava mais porque não engatava a marcha porque a embreagem tinha quebrado, sabe? Tinha esse problema. Agora no resto não me lembro mais dos termos não. Tem umas outras coisinhas. E esse último carro agora que eu me, deu outro dia, caiu o, o, eu sei que o silencioso dele quebrou, não sei bem o que, quer dizer, sei onde fica o silencioso mas, eh, mas eu sa... o que eu via mesmo era o cano de descarga que consegui perder na rua, sabe? Ele que saiu correndo, enfim, eu só ouvi o barulho. E, e saí correndo pra buscar mas não, não consegui mais porque num trânsito muito movimentado, aí deixei lá mesmo. Então fui levar pro mecânico. Aí, nesse, nisso eu sabia dizer. Cheguei lá e disse pra ele que o cano de descarga tinha quebrado, o silencioso também e tal. O silencioso eu não sei bem por quê, eu só ouvia que fazia muito barulho então imaginei que o silencioso devia estar furado. Estava mesmo porque silencioso fura. Que bom, né? Agora eu já sei. Mas o resto assim não me lembro bem não, sabe? Não sei assim que ...
DOC. -  Você podia dizer quais são as peças que normalmente quebram mais, quer dizer ...
LOC. -  Hum, hum.
DOC. -  Que dão mais enguiço e tal. Se você se lembra assim. Quais os problemas maiores que em geral as pessoas têm com carro? Você já mencionou um aí, a porta.
LOC. -  É.
DOC. -  Que não abria. Você teve que chamar esse mecânico.
LOC. -  Ah, sim. Tem uns probleminhas, eu tenho, eu já, já mandei pro mecânico por causa de vela, entendeu, que vela suja, entendeu, essas coisas assim. Eh, também tem um, um problema de platinado que de vez em quando tem que trocar, entendeu? Isso mais ou menos eu sei aonde é que fica, sabe, quer dizer, já vi assim no motor isso. Tem que trocar e tal e, e naturalmente nunca me lembro, né, dessas coisas, só quando já não anda mais por causa disso é que ... Ou então dá o defeito, né, é que eu, é que eu vejo. E acontece que de vez em quando, eh, tem muito esse ... Meu, meu carro também tem muito esse problema porque eu saio pouco com ele, então de vez em quando ele está desregulado, sabe? Aí tem que ir pro mecânico pra ver o que que é. Às vezes basta ele dar um jeitinho lá e, e, e não tem problema, entendeu, mas outras vezes tem esse tal do, do, do platinado, eh, velas, filtros, não sei quê, isso não sei bem que que é, que se refere mas ele tem que consertar isso, sabe? Mas isso são os maiores defeitos que meu carro dá. E esse carro está me dando assim um pouco de amolação, sabe? Tem uns trocinhos chatos aí.
DOC. -  Quais são esses trocinhos chatos (inint.)
LOC. -  Deixa eu pensar o que que aconteceu com ele nesse tempo aí. Ele precisou mudar, precisou, inclusive a lataria dele esteve amassada e precisou mudar tudo, a parte toda in... interna da porta e maçaneta, não sei quê, sabe? Isso precisou mudar também. Eh, o que ele teve mais? Um assim que ...
DOC. -  O carro da N. teve um problema nesse mês. Você podia contar o que que houve com ele?
LOC. -  Bom, o carro dela foi batida mesmo, né? Mas eu não, eu não vi como ficou não, sabe? Eu não vi como ficou mas diz ela que amassou toda a parte dian... dianteira, né? E quebrou farol e aquele, eh, pára... pára o quê, heim? Aquele pára da frente. (risos) Não, é o pára-choque se amassou todo e aí furou o radiador, sabe? Furou o radiador. Eu sei que esse negócio de furar o radiador é uma coisa séria mas não sei bem por quê não mas sai algum, algum líquido de lá que não é uma coisa muito, muito bonita não. Deu ba... maiores despesas pra ela aquilo, né? Apesar que parece que alguém pagou. Não sei como é que foi, parece que quem bateu pagou, né? Mas isso assim foi, acho que foi isso que aconteceu com o dela. Eu não vi não o carro, sabe, não vi mesmo.
DOC. -  Você acha que esses são os problemas que os carros têm em geral?
LOC. -  É. E outros que eu não, não sei quais são mas que esse, esse, um outro, um outro probleminha que meu carro dava, não esse, esse felizmente nunca deu não, era problema de chuva. Quando chovia sempre o limpador de pára-brisa estava enguiçado, você entendeu? Assim bem na hora que chovia e aí eu saía sempre tendo que não enxergar nada pelo caminho. Isso acontecia sempre com o outro mas com esse não, não tem acontecido não por pura sorte porque Volkswagen todos eles quebram, né, esse limpador de pára-brisa não presta mesmo. Mas o meu, esse felizmente não sei por quê ainda não quebrou não. E, e eu assim não, não tive maiores problemas de, de parar assim na rua não, sabe? Só com o Corcel mesmo que parei algumas vezes mas sempre em lugares accessíveis. E depois eu aprendi a trocar pneu inclusive. Eu já sabia trocar pneu, botava macaco e tudo (sup.)
DOC. -  (sup.) Você podia explicar pra gente como é que troca pneu?
LOC. -  Não, eu mandava brasa, entendeu? Eu logo aprendi como é que era o negócio de macaco lá, tinha um buraquinho que eu não, acho que aquele buraquinho não tem nome não, enfiava o macaco ali e mandava brasa e força mesmo, né, porque ...
DOC. -  Mas como é mandar brasa, pra fazer o quê com o macaco?
LOC. -  Não, o macaco eu suspendia o carro, com o macaco eu suspendia o carro. Depois eu pega... antes eu pegava o pneu lá na frente ou atrás, dependendo do carro que fosse e, e botava, aí ti... tinha uma tal duma manivela que é uma chave que tem o carro pra desatarraxar o, os parafusinhos do pneu, né, mas eu não, não sei como é que é o nome da, da chave não. E desaparafusava aquilo tudo, encaixava o pneu lá. Isso eu fiz duas vezes no Corcel porque aí eu nunca vi um carro pra furar tanto pneu como aquele. Vivia no borracheiro com ele, tinha que recauchutar o pneu, inclusive porque estava sempre furado. Acho que os pneus também estavam velhos, né, mas eu não tive dinheiro pra comprar outros porque eram muito caros. E daí ia levando assim mesmo, sabe?
DOC. -  E você comparando o Corcel com o Volkswagen você vê vantagem em (inint.) o Corcel?
LOC. -  Não, eu vejo sim porque acontece que pra quem é duro assim feito eu, eh, o Volkswagen é muito mais barato, sabe, a manutenção dele é muito mais barata. O, o Corcel, cada pneu que, pneu não porque pneu é tudo o mesmo, mesmo preço pra, pra, como é que se diz, pra recauchutar ou qualquer coisa é tudo a mesma coisa. Mas qualquer pecinha do Corcel que quebrava era muito mais cara. E aí o Volks não, o Volks é fácil, sabe, é tudo mais baratinho e trinta cruzeiros você conserta as coisas mas no, no outro não, é sempre duzentos, trezentos e sempre zeros a mais atrás.
DOC. -  E do ponto de vista do ...
LOC. -  Ah, do conforto?
DOC. -  Conforto.
LOC. -  Ah, do conforto era muito mais o Corcel. Eu adoro andar no Cor... de Corcel. Eu adoro carro grande, sabe? E se mamãe me empresta eu saio passeando com o dela sempre. Eh, quer dizer, sempre que ... Eu não, não peço porque não há necessidade que eu tenho o meu, né, mas enguiçou o meu eu peço logo o dela e saio muito feliz de casa. Toda satisfeita com o carro dela porque é muito mais confortável, me sentia sentada mesmo. E, e meu pé dá lá na frente, sabe, dá pra eu, pra eu acelerar, pra fazer as marchas tudo direitinho. O Volks não. Eu fico assim encarapitada lá em cima e, hum, tem que esticar muito as pernas, sou muito pequena, sei lá, é muito inco... muito desconfortável mesmo.
DOC. -  Você podia completar um pouco mais essa descrição? Dizer como é o Corcel internamente e o Volkswagen?
LOC. -  Hum, hum. Não, o Corcel, o que assim o que eu achava importante no Corcel é que, eu senti muito essa diferença porque eu trabalhava em Jacarepaguá, fazia uma hora de viagem até lá e, e ia de Volkswagen antes. Depois mamãe trocou comigo o carro e fiquei com o Corcel. Aí a diferença que eu senti foi logo assim em termos de cansaço, entendeu, que aí eu fiquei, me senti assim lépida e faceira quando eu andava de Corcel e o Volks eu chacoalhava de, daqui até Jacarepaguá, né? E vice-versa. Então o, o Corcel era macio, entendeu, eu, eu se... me sentava e, e, e as poltronas, eles chamam de modelo anatômico, qualquer coisa mas isso tem algum fundamento, sabe, porque realmente a gente se sentia embalada ali. Eu me sentia aconchegada no Corcel. E o Volks não, umas cadeiras duras, uma, uma coisa assim por dentro, o plástico inclusive é incômodo, é tudo em plástico duro e, e mal feito, sei lá. O outro não, eh, o plástico é macio, a gente fica melhor sentada, a cadeira é individual assim mas, eh, não, o outro, o Volks também mas não sei, a gente se sente melhor. Nesse sentido. E depois é mui... muito melhor revestido, né? O teto era assim, era uma, uma espécie de, de feltro, uma coisa assim. E do Volkswagen não, é tudo plastificado, sujava logo, o Volks fica logo imundo por dentro, a gente fica até com vergonha, tem que mandar trocar o teto mas, mas assim é. Eu me sentia realmente melhor com o Corcel. Nesse sentido. E só não fiquei mesmo, mas um dia hei de voltar a ele, só não fiquei mesmo com o Corcel por causa de problema financeiro, só, que é mais barato ter Volkswagen.
DOC. -  Se você tivesse que ensinar alguém a dirigir quais seriam as instruções que você daria?
LOC. -  Ah, sim. Eu já, já tentei ensinar a minha irmã, sabe? E já comecei mesmo e ela, a primeira aula foi comigo. Até todo mundo achou que eu era bem corajosa de ir com ela saindo por aí. Mas eu botei ela sentada lá e primeiro ensinei os pedais a ela, sabe, ensinei, disse a ela o que que era embreagem: olha, embreagem nesse canto. (riso) Aqui vo... é o freio no meio e, e ace... acelerador do outro. Você tem que fazer assim. E daí eu dizia que ela tinha que primeiro pisar, aí depois ensinei as marchas, né, e mostrei pra ela onde é que era a mudança, né, e e, e disse pra ela: olha, aqui, primeiro você tem que botar esse pé aí e botar em primeira. Ensinei as marchas, quais os lados que faziam, tal, primeira, segunda e tal e to... mandei tocar pra frente, entendeu? Isso é o principal. Você agora toca pra frente, porque o negócio é isso mesmo. Aí é claro que ela deu logo aquele sacolejo que todo mundo dá (riso) quem não sabe dirigir, eh, tira logo o pé do acelerador com muita rapidez, né, e deu aquele sacolejo. É claro que ela quase bateu no primeiro poste (riso) depois freou rápido demais. Eu disse: freia. Pronto. Freou que eu quase quebrei a cara no vidro. E uma outra vez eu disse: não, não freia tão rápido. Aí, ela, ela não fre... não freou simplesmente. Estou vendo a hora de bater no carro da frente, puxei o freio de mão eu. Aí eu do lado já puxando o freio de mão quase sentada em cima dela pra guiar, né? E, e daí foi. Porque guidom não tem maiores, maiores mistérios, basta você virar prum lado e pro outro, isso ela já sabia fazer. Desde, desde que a gente é criança todo mundo dirige o seu carrinho, né, de brinquedo com isso. Então isso ela já sabia e mandei tocar pra frente. Lá foi ela, sabe? Mas depois acho que ficou desiludida, nunca mais quis reiniciar a experiência.
DOC. -  Você se lembra e podia contar, ahn, como foi o seu exame para tirar a carteira?
LOC. -  Ah, meu exame foi muito interessante, foi muito engraçado até. Eu, eu já tinha feito um curso de motorista, pra motorista mas não ... Foi um mês só. Eu tinha pegado um professor muito ruim, um garoto, um garoto mesmo, quase adolescente ele. De mentalidade porque realmente ele não era tão, tão garoto em idade não. E saí com ele algumas vezes pra aprender mas ele não ensinava coisa nenhuma, estava mais interessado em mexer com as, com as empregadas domésticas na rua, entendeu? Ficava soltando piadinha pra fora e eu que me danasse ali do lado. Ora, a gente sente um insegurança tremenda quando a gente está começando, né? Precisa de um professor assim mais decidido. A'i eu arranjei um outro que tinha sido professor da família há muito tempo e tal. Mas esse outro foi terrível porque ele era muito durão. Acho que ele era meio maluco também. E cada vez que eu não fazia uma coisa certa ele me dava uma bronca que ... Teve um dia que eu chorei à beça no carro, sabe? Porque ele ... Eu passei várias vezes por um guarda de trânsito, passei três vezes. Na primeira vez ele disse: vai, vai. Isso o professor. Vai, vai e o guarda fazia um sinal com a mão pra eu, pra eu ir, pra eu ir em frente, quer dizer, o sinal estava aberto. Mas me dava uma inibição total de ver a, um guarda na minha frente, entendeu? Eu, eu olhava o sinal verde, eu posso passar. Mas não havia jeito, entendeu, eu ficava naquele tremor e pum, o carro morria. E, e daí foi, a primeira vez foi assim, a segunda foi assim e na terceira eu fiz a mesma coisa. Eu só sei que o guarda já estava cansado também de olhar a minha cara e eu fazendo toda vez a mesma burrice. O professor me de... quase me sacudiu e disse: ahn, não sei quê, a senhora tem que prestar atenção, não sei quê lá, não é possível. Assim, mas deu um ataque. E eu comecei a chorar. Aí ele ficou muito culpado e disse: não, vamos dar mais uma voltinha. Agora a senhora vai acertar, me deu o maior apoio assim depois de ter dado aquele esculacho, né? Aí lá fui eu e acertei. Passei pelo guarda toda satisfeita e não houve maiores problemas. Aí estava muito ruim ainda na direção, bem ruim. Mas acontece que eu não estava mais a fim de pagar aula porque eu já tinha meu carro, já tinha comprado o carro. E meu irmão que dirigia, meu irmão era o chofer. Aí eu disse: olha, R., você, você é o chofer e o carro fica com você sempre, você tem obrigação moral de me ensinar a dirigir. Enfim, os últimos, ahn, porque eu só precisava andar mais um pouco pra me sentir melhor. Aí lá fui jo... lá fui com ele fazer aquela subida da Timóteo da Costa ali. E, e fiz uma ou duas e tal, umas duas e marquei o exame. Digo: não, vai ser hoje ou nunca. E lá fui eu. Acordei o R. nesse dia porque ele era o, eu não podia sair de casa com o carro sozinha. Então ele era o instrutor, pelo menos devia ser. Aí fomos os dois. Mas aí ele acord... se acord... acordou tarde. Não hou... não houve jeito de eu conseguir acordar o R. e perdi o hora do exame. Cheguei lá já tinham feito a chamada do exame. E então não consegui entrar nesse dia mas então o, o homem lá, o tal instrutor que fazia o exame disse pra mim: olha, vá ao DETRAN. Talvez você consiga marcar pra de tarde hoje mesmo se você alegar um bom motivo, não sei quê. Eu cheguei lá e consegui, consegui realmente.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  É, mas foi uma coisa assim fora do comum porque eu ... Um rapaz lá simpatizou comigo no DETRAN e disse: não, pode deixar, eu vou ver que que eu posso fazer pra você. E foi lá e conversou com C.F. Então o C.F. escreveu um bilhete de, do, do próprio punho dizendo: essa moça, L. não sei quê pode fazer exame hoje à tarde. Assinado C.F. Daí eu fui com aquele bilhete. Então aquele bilhete, eu passei com aquele bilhete, entendeu? Não, mas foi realmente isso. Eu não sabia dirigir. Aí lá fui eu. Eu digo: bom ... Eu nem sabia, entende, eu nem senti que era o bilhete que tinha feito esse efe... que tinha tido um efeito tão, tão decisivo na minha vida assim. Eu fui com o bilhete, entreguei ao, ao instrutor e entrei no carro e lá fui eu. Então o homem disse pra mim: a senhora vai, engata a primeira e siga em frente. E por uma ladeira, uma ladeira ali do lado da Timóteo da Costa. E agora a senhora pára. Eu parei meio metro na frente. A senhora encosta aí no meio-fio. Eu não encostava no meio-fio, simplesmente não, não via o meio-fio, (riso) eu estava num outro lado, eu não, não via. Então eu ficava dois metros assim do meio-fio mas não, não tinha problema. Aí o homem disse: não, a senhora já passou. Bom, isso logo que eu entrei no carro. A senhora já passou e tal e me deu um bilhete que, que se tinha escrito: amanhã pode buscar a sua carteira no Departamento de Trânsito. Mas nisso os outros dois de trás diziam assim pro da frente: essa se... essa senhora não tem condições de passar. Entendeu? Ela não tem condições. E o homem olhava assim e dizia: não, ela vai, ela pode. O carro é dela, ela vai aprender depois. (risos) E aí eu ia, entendeu, eu, eu não estou entendendo bem por quê, mas depois eu liguei as coisas todas. Porque aquele bilhete, eles pensaram que eu era uma empistolada qualquer do C.F., sobrinha do C.F. ou neta ou qualquer coisa desse tipo. E daí eu passei mas realmente eu precisava só desse documento, entendeu, porque coragem eu tinha. No dia seguinte me mandei pro centro da cidade sem fazer, sem saber fazer uma manobra, sem saber fazer nada. E cheguei lá tinha que apanhar minha carteira, né? Aí apanhei, quer dizer, fui na tal rua lá pra apanhar a carteira e daí que eu sabia estacionar? Eu nunca tinha estacionado em lugar nenhum. Não tinha feito baliza, não tinha feito nada. Aí eu chamei um chofer de táxi e pedi, um chofer assim de frente e tal, eu digo: por favor e tal, o senhor pode botar esse carro no lugar pra mim? E ele botou. Na saída aí ele resolveu me ensinar. O mesmo chofer disse: não, a senhora tem que aprender. A senhora vai pra frente, engata a primeira, engata a segunda. Eu nem estava sabendo o que eu estava fazendo. (riso) E lá ia eu, marcha a ré e mais pro lado, joga pra cá e tal, desfaz e não sei quê, esse linguagem que eu nem entendi. Mas enfim eu, eu consegui desfazer tudo porque saí, né? E daí fui porque ... Eu me mandei pro aterro e sempre ... Sabe? Coragem eu tinha, eu precisava só do, do, da carteira. E sozinha sempre. Mas a... acabei aprendendo, né? Realmente o homem tinha razão, o professor lá.
DOC. -  O que que você acha do trânsito do Rio?
LOC. -  Ah, eu acho de mal a pior, sabe, já acho que vai mal pra chuchu, sabe? Porque não é só o trânsito não. Primeiro que você vê, pra eu chegar ali na esquina, entendeu, tem que sair com quinze minutos de antecedência de casa porque eu não sei o que que eu vou encontrar no meu caminho, sabe como é? Está sempre tanto sinal, tem sempre tantos sinais e está sempre entupido. Tudo entupido, milhões de carros na minha frente, a gente nem entende por quê. Às vezes são consertos, outras vezes não é nada não, é só entupimento mesmo. Não entendo por quê, mas está sempre tudo entupido e a gente não consegue chegar e dá aquela, aquele desespero total porque você não, nem sempre você tem muito tempo pra poder se deslocar, né, se deslocar. E aí você tem que ir assim mesmo e é horrível, sabe, mas enfim ... E fora isso os buracos, né, que a gente encontra por aí a gente sai sacolejando aí porque Volkswagen é esse problema, né, que não tem, os amortecedores não são muito bons, então é terrível, sai sacolejando à beça e cai em cada buracão tremendo. É difícil, sabe, muito difícil. Mas eu acho que eu já me acostumei. Eu agora não dou muita bola não, sabe? Eu vou, ahn, vou indo assim mesmo e seja o que Deus quiser.
DOC. -  Agora você podia falar de outros meios de transporte além do automóvel? O que é que você acha deles, enfim, os mais usados na cidade.
LOC. -  Hum, hum.
DOC. -  Fora da cidade, etc. Enfim ...
LOC. -  Olha, eu, eu, eu só conheço ônibus. (riso) Realmente só conheço ônibus e trem, sabe? Porque eu nunca andei de avião e barca acho que só a de Niterói porque as outras também ... Enfim, navio realmente nunca andei, a não ser, visitei, isso realmente eu visitei. Por pessoas às vezes que iam viajar e eu tinha oportunidade de visitar. Mas eu tenho loucura pra fazer uma viagem de navio, sabe? Eu tenho muita vontade porque me sinto muito bem no mar. Eu acho que, que eu ia gostar muito. Mas e avião também, avião eu tenho curiosidade só. Porque eu acho que eu não tenho medo. Acho que teria vontade de sair voando por aí e, mas aí avião eu já sinto um pouco diferente, avião a gente entra pra sair logo, entendeu, e acho que o navio não, navio a gente entra pra curtir um pouco o mar. E essa é a diferença que eu sinto. Mas esses dois eu nunca experimentei não. Agora ônibus é horrível, né, da gente andar, é horrível e, apesar que em estrada ainda vai, entendeu? Em estrada eu acho que ainda vai porque você não, não sente aquele negó... aquelas paradas assim a todo tempo, então você tem realmente a impressão que você vai indo pra algum lugar. Porque você tomar um ônibus daqui pra você ir até o centro da cidade você tem a impressão que você não está indo. Tanto você pára e tanto você, entendeu, é engatado o tempo todo. Mas, mas ônibus ainda assim. Inclusive eu acho que a viagem de ônibus é preferível do que a viagem de carro. Eu me sinto melhor num ônibus assim quando vou de um lugar pra outro, daqui pra São Paulo por exemplo, do que, do que ir de automóvel. Automóvel, ainda mais um automóvel pequeno, eu me sinto assim muito insegura em estrada. Agora o ônibus não, ônibus eu, eu viajo bem, sabe, assim durmo, inclusive durmo e leio e tal. Aí me sinto bem. Agora ônibus no centro da cidade, no centro da cidade não há ... Tudo horrível, entendeu, tudo horrível porque não há como você andar. Eu tive oportunidade também, quando eu trabalhava lá pra aqueles lados, subúrbios carioca, eu, eu tive oportunidade de, de andar de trem, sabe? Aí, aí eu gostava também. Trem eu gostava de andar. Porque o trem que eu andava não era aquele cheio, sabe, eu pegava o trem militar. Então era aquela deferência tremenda com as professoras primárias. Eu era professora e tal. Elas sentavam sempre nos melhores lugares, se é que tinham melhores lugares porque o trem é muito desconfortável, né, que é muito maltratado, todo quebrado e tal. Mas enfim a gente ia num lugar, ao menos ia sentada e, e aí eu gostava porque a viagem rápida e dá inclusive pra gente ler. Uma viagem assim é boa a viagem de trem, sabe?
DOC. -  Você podia descrever um trem?
LOC. -  Olha, o trem que eu andava não era um trem muito bonito não porque, enfim trem da Central é fogo, né? Mas enfim o trem, o trem ao menos eu viajei em alguns trens melhores, inclusive eu acho assim um veículo bonito, sabe, achava bonito. Tinha uns azuis que os vidros estavam em perfeito es... em perfeito estado e, e por dentro os, os bancos eram um pouco mais confortáveis e depois tem uma outra coisa: o trem, que eu acho assim muito importante também, no trem dá pra você passear. Então você, você pode ficar meia hora dentro de um trem e, e se sentir mais ou menos livre, o que não acontece no ônibus, né? No trem você pode passar de um vagão pro outro. Isso tudo é, é, é engraçado mas realmente dá assim uma sensação melhor pra gente. Você não se sente assim muito preso, você passava ... Eu ainda mais que tinha, hum, várias colegas viajando no mesmo trem, tinha conhecidos porque os militares todos se davam conosco, tal. Então às vezes a gente mudava de vagão, um vagão pro outro. Olhe, fulano está no vagão tal, a gente passava pra lá. E, e achava mais interessante servir um cafezinho lá dentro e tal. O negócio era, era bom, sabe? E depois a gente não tinha problema de, depois tem um, também não sacode muito, você anda assim deslizando, né? Anda deslizando e ainda mais quando você resolve levantar você tem sempre uns, umas pilastras assim que você pode ir se segurando. Então não tem esse problema de, de cair nem nada. E eu me sentia bem, sabe, andando de trem, achava até bem divertido, inclusive tinha a oportunidade de ir de ônibus mas preferia ir de trem.
DOC. -  Você já viajou no trem noturno?
LOC. -  Não, não. Eu uma vez eu catei um trem. Eu queria vir de São Paulo pro Rio e eu cismei que vinha de trem. Eu queria vir de qualquer jeito de trem porque apesar que a viagem demora mais, mas não tinha importância. Eu queria viajar de trem porque achava que ia ser tão confortável poder dormir e tudo, né? Mas não consegui entrada, foi a frustração da minha vida, entrada não, ingresso, sei lá como é que chama. Não consegui não. Nunca viajei de trem assim.
DOC. -  E de ônibus à noite você já viajou?
LOC. -  Ah, já, de ônibus já. E ônibus à noite eu acho bom, sabe? Porque eu durmo tranqüilamente e um ... Elas põem um cobertorzinho, tem cafezinho, tem umas balinhas (riso) pra gente se distrair um pouco. Então acho ótimo. Eu dormia mesmo, a não ser quando aparece um chato que resolve ligar a luz pra ler, né, a viagem é muito tranqüila, me sinto muito bem. A única, eu acho que a única coisa chata é que de vez em quando você acorda. Então é sempre um frio, sei lá, do Rio pra São Paulo é sempre um frio.
DOC. -  Há alguma diferença no tipo de assento do ônibus comum e do ônibus que você viaja à noite?
LOC. -  Ah, sim, tem. Eu, eu viajei, ônibus-leito, né, eu ... O ônibus leito é um pouquinho mais confortável. Mas ...
DOC. -  Por quê?
LOC. -   Porque a cadeira declina mais, né, a cadeira ... E depois tem um, eles oferecem maiores comodidades em termos de travesseiro e cobertor e, e além disso tem uma partezinha assim pra você botar os pés que deixa seu corpo mais à vontade. Mas, mas é muito pequena, acho que podia ser um pouco melhor. Eu acho que ainda tem, é muito deficiente. O ônibus podia realmente ter, a gente podia deitar mesmo no ônibus, né? Isso não há mesmo não.