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PROJETO NURC-RJ

DIÁLOGOS ENTRE INFORMANTE E DOCUMENTADOR (DID):

Tema: "Cinema, televisão, rádio, teatro, circo"
Inquérito 0085
Locutor 0099 - Sexo masculino, 37 anos de idade, pais cariocas, arquiteto. Zona residencial: Sul.
Data do registro: 18 de outubro de 1972
Duração: 40 minutos


Clique aqui e ouça a narração do texto


LOC. -  Vocês, vocês, vocês querem que eu fale de, de cinema pra começar (sup.)
DOC. -  (sup.) É verdade (sup.)
LOC. -  (sup.) Mas que, que tempo seria mais ou menos pra cada assunto desses?
DOC. -  Não, aí não tem tempo não. A gente vai (sup.)
LOC. -  (sup.) Não tem tempo não? (sup)
DOC. -  (sup) Conversando, eu vou marcar o início.
LOC. -  Está.
DOC. -  E aí na hora que estiver mais ou menos pra terminar eu faço uma (inint.)
LOC. -  Já pode ir falando?
DOC. -  Pode, pode.
LOC. -  É.
DOC. -  Eh, assim dê sua opinião por exemplo.
LOC. -  Bom, eu acho o seguinte: eu acho que cinema é o que todo mundo acha que é uma diversão, eu acho que não deixa de ser uma diversão mas também é muita arte, quer dizer, quando o, o para exemplificar, se existe uma comédia banal assim água-com-açúcar e, e geralmente o grande público gosta, não é, não é querer ser diferente não mas se ela não diz, se ela não dá al... algo de arte, algo, algumas tomadas, a inter... própria interpretação, enfim, o colorido e tudo, se ela é apenas uma rotina, um lugar comum, isso já não me agrada muito por mais gozado que seja porque cinema hoje em dia, pela técnica e pelo que eles levam tanto a sério, eu acho que é uma, uma, como diz mesmo, diz uma sétima arte, entendeu? Eh, triste, o filme triste, o filme alegre, o filme monótono, nada disso tem muita importância pra mim. O importante é que ele dê algo de, de artístico, não só na parte técnica de, de tomada de cena como na parte de colorido ou na parte de interpretação, então por que que eu estou falando isso, porque tem muita gente que acha que: ah, eu não vou ver esse filme não porque esse filme é muito triste. Ou então: eu não vou ver esse filme não porque esse filme é monótono. Às vezes o filme monótono é uma obra de arte e o diretor fez o filme monótono pra exatamente transmitir, comunicar ao espectador essa sensação de monotonia porque ele quer depois dizer qualquer coisa ou então transmitir ou expressar ou dar alguma razão desta monotonia. Quando eu digo monotonia digo violência, digo alegria, comédia e drama enfim. Eu vou muito ao cinema. Sempre que posso vou. É lógico, numa cidade como essa o, a gente pensa três vezes pra ir ao cinema porque o bom, a boa hora seria de duas às quatro, de quatro às seis mas a gente nunca pode. A gente sempre pode de oito às dez, de dez a meia-noite e com esse trânsito infernal a gente, a gente perde bons filmes porque é passado em determinados cinemas ruins pra estacionar e tudo, mas é uma pena, mas, viu, sempre que posso então a gente faz um sacrifício e enfrenta as filas e vai ver as coisas boas. Quando eu estou falando essas coisas não estou querendo ser besta não porque entendo muito pouco, nunca li um livro sobre cinema nem nada. Mas eu estou me lembrando agora de um filme chamado "Love Story", que todo mundo chorou aí, eu achei uma droga, filme de nada, é uma papagaiada, é uma água-com-açúcar e tudo e foi até sucesso de bilheteria não no Brasil mas no mundo inteiro, compreendeu, e outros filmes que não são tão sucessos mas que me dize... me dizem mais porque, como estou dizendo, desde o começo transmitem alguma coisa, entende? Então o, em matéria de qual é o melhor cinema, se é o brasileiro, se é o italiano, se é o inglês ou se é o americano, eu acho que como toda arte necessita de muito tempo, de muito dinheiro, principalmente cinema e se o filme, o cinema brasileiro não é ainda bom é porque falta um pouco de tradição e também falta muito dinheiro, quer dizer, acredito que as cenas que deveriam ser passadas e repassadas dez, vinte, trinta vezes, no cinema brasileiro por falta de película, por falta de dinheiro público, por mau pagamento dos artistas, é feito em muito menor tempo que um filme de um grande diretor desses, um Antonioni, um Hitchcock que fica naquela coisa até acertar o que eles querem, entendeu?
DOC. -  Vem cá, você tem uma idéia, já que você está falando sobre isso, de como é que se faz um filme, que que está por trás do filme pronto (inint.) filme?
LOC. -  Idéia mais ou menos (sup.)
DOC. -  (sup.) Vai contando
LOC. -  Mais ou menos. Eu imagino que eles armem uma, uma equipe fabulosa onde naturalmente o cabeça é o diretor, orientado, porque o problema também é de dinheiro, pelo produtor, que é quem é o empresário afinal de contas. O produtor naturalmente diz, compra uma determinada novela, uma determinada história e pede ao diretor para dar aquilo, eh, dirigir a, o filme. A parte do, de quem é o artista, quem não é, eu acho que é um comum acordo porque o produtor naturalmente procura um artista que tenha bilheteria. Esse artista também tem um preço, tem que ver o preço dessa película. Naturalmente acredito que o produtor chega pro diretor e diz: olha, eu quero um filme de tantos mil dólares, e se for, a caixa for muito alta, o artista pode ser um famoso, se for a caixa baixa tem que procurar um, um, uma pessoa qualquer que não tenha tanto cartaz. O, o Ingmar Bergman, que é um diretor sueco, tem lá um, determinados artistas que ele não abre mão daquilo, quer dizer, volta e meia é aquele artista, aquela me... artista. O, todo mundo tem a sua preferência e tudo. Depois eles vão procurando o fotógrafo, o coreógrafo, o arqui... o arquiteto, o montador enfim aquela equipe toda que a gente vê no começo do filme, são mais de cem e tudo e começa a coisa. O, ao contrário do teatro, aí o teatro eu teria que falar depois porque é outro assunto (sup.)
DOC. -  (sup.) Não, pode falar.
LOC. -  Mas ao contrário do teatro onde o artista tem uma interpretação contínua e é de fato uma coisa todo mundo diz maravilhosa porque é uma coisa que o artista está sentindo o público de perto, não há solução de continuidade, o que eu tenho ouvido falar por aí é que um artista de cinema é um boneco, quer dizer, ele é dirigido pelo, pelo seu diretor, as cenas são, são intermitentes e pode estar filmando hoje o, a última cena do filme, amanhã, eh, o meio, não há continuidade, então é uma coisa mais mecânica e o artista, o artista me parece que depende quase que exclusivamente do diretor. Eu me lembro um filme com Alan Ladd, que é um, que é um ar... como é um, como é, como é que eles dizem quando um artista é ruim, eh, tem um nome, eh, enfim, faz careta, é um artista fraco, nesse filme ele foi excelente. Como é o nome daquele filme com ele e o Jack Palance, um filme aí clássico, então o Alan Ladd nesse dia estava perfeito e é possível isso acontecer porque o diretor naturalmente deve ter pedido pra eles fazerem quinhentas vezes a tal cena até ficar boa. Então arma aquela equipe e tudo e, e vão em frente com, me parece que deve ser muito desagradável para o artista porque, eh, repete dez, vinte, cinqüenta vezes determinada cena até ficar boa, então artista nenhum se vangloria de ser um bom, quer dizer, um bom artista de cinema. Os grandes artistas fazem cinema porque dá dinheiro, dá público e tudo, mas eles gostam mais é de teatro porque o teatro, por menor que seja a platéia, sempre com aquela solução de continuidade, ele sente o papel muito mais do que em cinema, entende? Eu acho que cinema é isso, quer dizer, eh, muito trabalho, muita pesquisa e tudo mas honra quase que exclusiva o diretor.
DOC. -  Agora me diz uma coisa. Se ele é feito assim, eh, interrompido, assim em pedaços, eh, que processos seriam utilizados pra depois lhe dar uma seqüência lógica (inint./forte barulho de trânsito)
LOC. -  É o, a, naturalmente há um, há um, há um `script', né, que, e depois faz determinadas cenas de acordo com a conveniência, se por exemplo, mal comparado, se o filme começa na Europa, termina, no meio volta pros Estados Unidos e no fim é Europa novamente o, aquela editora não vai pra Europa, depois volta pros Estados Unidos, vai pra Europa, então faz o que é Europa, faz o que é interior, faz o que é exterior, faz o que é Estados Unidos, faz o que é Brasil enfim e depois então tem os cortes, deve ter alguém montando aquela coisa toda pra dar então a, a continuidade do filme. Eu não sei se, o nome específico dessa pessoa mas deve existir quadros que são montadinhos depois pra fazer essa seqüência toda certinha. É isso que você queria saber ou não?
DOC. -  É sim. Eu queria saber assim (sup.)
LOC. -  (sup.) Porque naturalmente é a grosso modo, né, o detalhe eu não sei se é (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) eu não nabia. Tem uma idéia assim (inint.)
LOC. -  Mas é ...
DOC. -  E em termos de, por exemplo, de vez em quando vai ao cinema. Então vai ao cinema com trânsito, todos esses problemas.
LOC. -  É.
DOC. -  Você poderia descrever assim uma ida sua ao cinema, quando vai, tudo que acontece até você chegar lá (inint.)
LOC. -  Bom, o caso é o seguinte: como sempre acontece com sujeitos casados você marca a sessão às dez horas e cinco pras dez você ainda está em casa. Dá uns pulos e tal e já vai bronqueado, como se diz na gíria, pra lá porque o normal, meu Deus do céu, é o sujeito sair de casa nove e meia porque a vaga demora uns dez ou quinze minutos e entrar na fila. O brasileiro, você repara, toda sessão que começa às dez horas quinze pras dez ou vinte pras dez não tem ninguém. É o mal brasileiro, não sei se é o mal mundial. Agora cinco pras dez começa a chegar gente, dez horas a fila está do tamanho, vira o quarteirão todo e ainda tem gente chegando e tudo. Enfim eu nunca consigo sair na hora certa, sempre é em cima da hora e aí, sei lá, como você falou muito bem, enfrenta-se o problema do trânsito, faz-se a vaga, vai, anda-se depressa, pega uma fila, às vezes não tem mas é raro e tudo e compra-se e
 entra-se lá dentro e às vezes está mal localizado e tudo. Eu acho que, eu tenho a impressão que é o que todo mundo faz, né, porque o, o que o normal seria sair mais cedo e até antes do cinema, estar com a passagem no bolso, a entrada no bolso e olhar umas vitrines (sic) e tranqüilamente entrar na fila não é possível porque os problemas domésticos não permitem. Agora o, como não há muito, mui... é uma cidade grande e os bons filmes não são muitos então o que eu costumo fazer mas correndo o risco de contarem algumas partes melhores do filme é deixar os bons filmes pra segunda ou terceira semana e não ir na, na, no primeiro, segundo dia porque você vai enfrentar todos esses problemas agravados com o problema de ser ou uma 'avant-premi`ere` ou então um, um filme que está fresco ainda e piorar mais os problemas que já existem, entendeu?
DOC. -  Como é essa escolha, por exemplo, sua senhora gosta de um filme ou um quer ir pra um, outro quer ir pra outro. Como é que vocês (inint.)
LOC. -  Não, não há muita briga não porque havendo uma certa comunh~ao de pensamentos no casamento ela também é partidária do mesmo tipo de filme que eu, quer dizer, não é bem o tipo do mesmo, um, de, de achar que se deve ir a um cinema de um pelo menos aparentemente de um bom diretor, isso é que é importante, entende? Esse negócio de, de ler no jornal antes a, a crítica ao filme é bom e não é. É bom porque você já vai mais ou menos na certa porque afinal de contas eles entendem e tudo e não é bom porque também há, na crítica eles costumam contar um pouco do filme e isso me, perde um pouco a graça e eu ouvi falar também que determinados críticos têm preferência por determinadas nacionalidades de filme e há, há, deve ser, deve haver uma briguinha entre eles lá, escola, uma espécie de escola, um prefere a escola americana, outro prefere a escola italiana e tudo e às vezes eles criticam m... m... criticam mal um determinado filme porque não é da escola dele, quando o filme merece toda a nossa consideração. Mas de qualquer maneira, como, não pelo preço, mas como nessa vida agitada nem sempre a gente pode ir ao cinema, de qualquer maneira é válido antes escolher um bom crítico aí do Globo ou Jornal do Brasil e tudo que oriente melhor se o filme é bom ou se o filme é mais ou menos porque às vezes o filme pode ser de um bom diretor mas ser um filme mais ou menos. Eu vi um filme do, do Ingmar Bergman chamado "Morangos Silvestres" que eu achei horroroso e às vezes um filme de um diretor que não é tão bem conhecido então é um bom filme, enfim, é a, o tal negócio.
DOC. -  E que tipo de filme você vai ver, que gênero de filme você prefere ver?
LOC. -  É como eu estou dizendo, o gênero eu não tenho, gênero assim 'cowboy', ou drama ou, ou de amor eu não tenho muito não, qualquer filme é bom pra mim desde que ele seja pra mim um bom filme, não sei se é porque eu sou arquiteto e que a gente vê a coisa com um outro ângulo, um ângulo mais artístico, certas tomadas de cena, certos ângulos, certas interpretações e tudo, às vezes o, o filme vale por uma interpretação, vale por uma fotografia, como é o caso daquele "Dois mil e um", vale pelo esforço de certas tomadas, como é aquele "Grand Prix", vale pelo, uma interpretação, uma Silvana Mangano, uma assim, enfim, qualquer outro artista assim que (sup.)
DOC. -  (sup.) Agora me diz uma coisa, eh, chega lá no cinema você senta, só tem o filme que você vai ver?
LOC. -  Como?
DOC. -  Quando você chega lá no cinema, senta, só tem o filme que você vai ver?
LOC. -  Se só tem o filme? Não, antes tem aqueles complementos nacionais, é isso?
DOC. -  (inint.)
LOC. -  Aquilo não vai, eh, aquilo não me agrada a não ser quando tem futebol. (risos)
DOC. -  É.
LOC. -  Quando é o canal Cinco o futebol (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) o que é que normalmente tem?
LOC. -  Normalmente tem aquelas matérias pagas de indústrias, de próprio governo, de desenvolvimento de nordeste e MOBRAL e amazônica, aquele negócio, né? O, como aquilo não é muito bem feito a meu ver, é um pouco cansativo e está se vendo que é uma matéria paga, não é uma coisa espontânea, eles o, o, o fingimento da coisa é que eles deviam dizer logo que aquilo é uma matéria paga e é um filme quase comercial, está entendendo? Mas não, eles botam, eles envolvem numa nuvem assim de uma coisa espontânea, uma coisa que a gente sabe que foi paga, uma coisa forçada, esses Jean Manzons e não sei quê Rosemberg, né?
DOC. -  É.
LOC. -  Então quando tem essas coisas de fato não são muito aceitas por mim e eu acredito até pelo grande público porque volta e meia eu vejo vaiando esse tipo de filmes. Complemento nacional o "Canal Cem" a meu ver é bem superior àquele outro, "Cinegráfica São Luís", era, acho que era do Severiano Ribeiro. O "Canal Cem" é mais avançado em técnica principalmente quando tem futebol que eles estão muito bem, muito bem em matéria de técnica de filmar futebol que sempre é um assunto gostoso, não é? Quando há um, um complemento estrangeiro, por exemplo, como "Atualidades Francesas", que de fato estão dez furos acima da gente em matéria de, de filmagem, de, de novidades e tudo, é de fato um bom entretenimento, entendeu? Um "Tom e Jerry" é gostosíssimo também quando tem um desenho animado e tal, enfim a gen... a gente vê, ouve, vê e vê com, aceita, quer dizer, é gostoso um pouco antes do filme passar um negocinho desse a não ser quando é enfadonho, como nesses, nesses, essas matérias pagas que eles mascaram como, como uma coisa espontânea.
DOC. -  Agora me diga uma coisa. Televisão não estou vendo aqui. Você tem televisão?
LOC. -  Televisão nós temos, está lá no quarto. Mas televisão sinceramente eu não gosto, entendeu?
DOC. -  E de filme na televisão?
LOC. -  Também não gosto muito não.
DOC. -  Nunca viu?
LOC. -  Não gosto pelo seguinte, mas aí a culpa não é do filme, pelo contrário, passam grandes filmes, filmes clássicos e tudo mas é que eu estou sempre com o sono atrasado porque eu tenho a impressão que isso, muita gente responde isso. Eu acordo cedo e aquela, essa vida agitada que nós temos e tudo, então a gente ouve a televi... a gente vê a televisão sentado ou semideitado, numa tela, numa tela pequenininha no escuro e a dublagem não é muito boa, ah, geralmente a televisão são filmes antigos e tal, bons, está certo, mas, ahn, acabam, ahn, aquilo sendo um remédio pra dormir, você acaba dormindo, está entendendo, embora de fato tenha bons filmes. É a única coisa a meu ver que presta em televisão são bons filmes, naturalmente tem algumas outras coisas que prestam, não tem dúvida alguma, festival de música, uma boa entrevista, um programa mais inteligente e tudo, mas é tanta porcaria no meio disso tudo, está entendendo, que não vale a pena nós ligarmos uma televisão a noite inteira para daí tirar cinco ou dez minutos daquela noite e ouvir vinte, duas, três, quatro horas de anúncios e novelas que eu acho abominável, entendeu? Não gosto de novela, de jeito nenhum, não também por causa da interpretação dos pobres dos artistas nem do enredo, mas aquilo, primeiro aquilo é uma coisa que, que como diz o Barbosa Lima Sobrinho, quem é o diretor de uma novela não é o diretor e sim o Ibope, está entendendo? O Ibope é que diz que a novela deve passar mais dois ou três meses porque tem boa aceitação e tudo, então aquilo vai se arrastando e tudo e eu não tenho paciência de ficar a noite inteira, eh, ouvindo novela e sabendo que na outra noite tem que ouvir também ou se não ouvir pelo menos passar, acompanhar como é que está a coisa, então eu prefiro sair assim ir a um cinema, um teatro e um, um, até num, um 'show` qualquer de um comediante desses, Chico Anysio, Jô Soares (inint.) que entretém mais do que aquela novela assim. Eu compreendo perfeitamente por que que existe de tudo, porque já disse um amigo meu que foi um dos pioneiros da televisão que a, a televisão não foi feita pra nós, como, eles, eles classificam a gente de classe a, não sei se por, pela parte de intelectualidade ou pela, ou como, pela parte de, de, de poder aquisitivo nem eu estou querendo ser classe a nem bê nem cê, mas enfim os homens da televisão classificam nós assim da classe a e bê mais modesta e cê o pessoal que não sai de casa, está entendendo, e eles dizem que televisão não é feita pra classe a porque é feita pra classe cê que tem uma audiência muito maior.
DOC. -  Você tem assim uma idéia do que que essa classe cê gosta de assistir?
LOC. -  É, deve ser novela, deve ser Chacrinha, deve ser o Flávio Cavalcanti, deve ser esses programas águas-com-açúcar, água-com açúcar porque não sei se por, pelo grau de, de cultura ou de educação deles, eu sei que eles, a eles se, deve ser bom isso porque os homens de televisão não são bobos, se eles fazem esse determinado programa para a massa que ouve, eh, eles fazem o programa para agradar essa massa. Então é natural então que nós não gostemos e a classe cê goste. (buzina de carro)
DOC. -  (inint.) que tipo de aparelho você tem de televisão?
LOC. -  O, a marca?
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  É Philco.
DOC. -  Philco?
LOC. -  É.
DOC. -  Como é que é? Você pode descrever como é que é?
LOC. -  É Philco, extraportátil que é doze polegadas, quer dizer, é fácil de manobrar (inint./sup.)
DOC. -  (sup.) Você tem uma idéia como é que é um aparelho de, aparelho de televisão?
LOC. -  Bom, aparelho de televisão é um, é um prisma de base retangular.
DOC. -  Assim não vale (risos) me diz o que que tem nele, pra que que servem as coisas que ele tem, etc.
LOC. -  Bom, a forma é um prisma, embora hoje em dia com essa tec... esses desenhos, esse 'designers` famosos que, que desenham televisão a idéia até é outra, já mudou até pra umas, uns cones, umas coisas assim, bom, mas a forma não interessa muito. O, eh, primariamente é uma, uma, uma tela com um, um, um, transistorizada, antigamente era válvula, agora é transistorizada e aquilo sofre um processo e que tr... modifica a, as, as ondas sonoras em ondas visuais, muito primariamente, não sei também o princípio daquilo mas enfim ele é composto de alguns botões como todo mundo sabe e tal.
DOC. -  É, mas pra que que servem esses botões?
LOC. -  Servem para, são quatro ou cinco, um é o volume, outro é, é acertar imagem verticalmente, outro horizontalmente, outro claro, escuro e brilhante, não, brilhante, né, tem uma sintonização daquilo, né?
DOC. -  Sei, agora você tinha falado na classe a, classe bê, classe cê. Você já fez alguma observação sobre o tipo de aparelho que funciona pra cada uma dessas classes, assim em termos (sup.)
LOC. -  (sup.) O que, o que, a cl... o tipo de aparelho que a classe cê gosta?
DOC. -  É.
LOC. -  O que eu tenho visto por aí, não posso lhe assegurar não, é que geralmente quanto maior o aparelho mais é da classe cê, quer dizer, são aqueles, são aqueles aparelhos que ocupam a sala toda, né, aqueles móveis antigos de me... de caviúna, antigos não, até modernos, mas a madeira é caviúna ou jacarandá imitando caviúna ou caviúna imitando jacarandá, geralmente são uns móveis muito pesados e muito grandes, vinte e quatro polegadas, ou sei lá se existe isso, ou vinte e seis, ou vinte e duas polegadas, quanto maior melhor pra eles, entendeu? Aquilo pra eles é um, é um, aliás eu vi uma comédia italiana assim sobre um sujeito que comprou uma televisão em prestação, botou a televisão no centro da sala (inint.) ou foi uma geladeira, foi uma coisa assim então aquilo era um símbolo, aquilo era o máximo pra ele, e o pior, não sei também se é classe a, bê ou cê, quantas vezes você entra numa sala numa casa pra fazer uma visita social, você é convidado nessa sala e você é obrigado a ficar conversando com o dono da casa com a televisão ligada então é aquela conversa e olha pra televisão, aquela conversa e olha pra televisão então a televisão faz parte do papo, entendeu, então a televisão vive ligada, eh, o dia inteiro então pra eles é uma maravilha. E o tamanho, por que que eles gostam daquele tamanho? Porque eu, me parece que aquilo pra eles é a vida deles, eles não saem de casa e, e têm que ver aqui... aquilo então quanto maior melhor, não tem dúvida nenhuma e aqu... aquilo é um símbolo da casa dele, quer dizer, eu tenho a impressão que deve haver até uma, uma concorrência, a do fulano é maior do que a minha e tudo, tipo carro de americano, né, um é Lincoln, outro é Cadillac e tudo, então há uma concorrência entre eles, talvez pra qual é a mais bonita ou qual é a maior e tudo, né? Já me parece que essas televisões portáteis são mais um accessório de uma casa. Do mesmo jeito que as pessoas têm um aparelho de som, têm um gravador, têm uma vitrola e têm um, um, um, uma máquina de passar um filme super-oito ou qualquer coisa, têm uma televisão que ouvem uma vez ou outra e de fácil transporte porque aquilo não é um, não é uma coisa muito essencial pra ele, então ele usa aqui, sai, usa lá, um quer dormir bota no quarto, quando quer ouvir alguma coisa bota na sala e tal mas o que eu tenho reparado é que geralmente não fica na sala ou quando fica na sala fica discretamente colocada na sala e tenho reparado que algumas pessoas, não eu, têm até dois, três aparelhos, uns até pequenininhos, de seis ou sete polegadas, que são uns aparelhos de televisão de cabeceira e têm o, o principal na sala assim discretamente colocado e tal.
DOC. -  Agora me diga uma coisa. Também pra atuação, atividade assim em televisão há todo um grupo de pessoas que desenvolvem atividades as mais diversas. Você teria assim idéia de como é que se desenvolve essa atividade para a produção de um programa de televisão?
LOC. -  Idéia mais ou menos, mais ou menos, também nunca entrei num estúdio de televisão. O, a televisão brasileira, pelo que eu ouço falar, é muito de, não há, porque um programa pra sair bem feito é um programa que necessita de, como o cinema, necessita de muito trabalho ou de muito treinamento, me parece que a televisão brasileira ainda é muito de improvisação, não sei, porque talvez também seja aquele mesmo problema do cinema, falta de dinheiro e tudo, a não ser novela que parece que a coisa é séria mas esses programas assim de, de, por exemplo, eu vejo porque esse bai... tem uns bailados lá no meio, não sei qual é o programa que tem umas danças e tudo, você vê que é muito mal treinada a coisa, entendeu, ao contrário da, como às vezes a gente vê num filme italiano de um programa, qual é o programa, o "Estúdio Um", se não me engano, tenho uma idéia, não sei se ainda existe isso. Fiquei muito impressionado com a, com a categoria do programa. Naturalmente aquilo é passado não sei quantas vezes e tal e, e reensaiado até a coisa ficar boa mas isso demanda tempo e dinheiro e tudo. Eu, me parece que no Brasil ainda há muito de improvisação. Com o videoteipe a coisa melhora porque a pessoa já pode corrigir alguns defeitos e tudo mas enfim você me perguntou, deve ser uma grande equipe também tipo parecido com o cinema, com diretor, com o diretor artístico e com o, o contra-regras, etc. e tal que deve fazer lá o seu programa. Na parte de propaganda, de, de anúncio a coisa é melhor. O Brasil está bem nessa parte de propaganda, de anúncio. Eu reparo que os anúncios são de alta qualidade, boa qualidade, tão boa como qualquer outro aí, nos Estados Unidos eu não conheço bem mas na Europa é igual, estão bem adiantados nesse ponto, a técnica e tudo de como filmar um, um anúncio de um carro, de um cigarro, é bem feita a coisa.
DOC. -  Geralmente esses anúncios são como? Quem que faz esses anúncios?
LOC. -  Não, geralmente são, quem anuncia em televisão geralmente são esses anúncios de, de coisa de consumo, né, porque é uma, é muito cara a, o minuto de televisão então geralmente é usado mais para, para mercadorias, geralmente alimentos, cigarros, carros, em coisas de consumo de modo geral. Já não seria, por exemplo, se eu quisesse anunciar um trator maravilhoso não ia anunciar em televisão porque naturalmente das cem pessoas que estão ouvindo noventa e nove vírgula nove não querem saber de trator, então aí já seria um veículo especializado, enfim como é que são esses anúncios é difícil porque se é um carro o, ele procura, um, ah, avivar a velocidade do carro então aquele carro em disparada, freando, não é, tem até um anúncio que tem um avião por cima, o carro por baixo, acho que pra mostrar que, pra ativar assim o, o, as qualidades de cada motorista e tal. Quando é um, quando é um cigarro o que que eu tenho visto por aí é mais uma cena bonita de um homem e uma mulher ou numa lancha ou passeando num bosque até em câmara lenta e tudo pra, eh, coisa mais artística assim interessante, ah, comida é que é coisa fraca (sup.)
DOC. -  (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Comida que também é difícil fazer algo de comida assim artístico.
DOC. -  Se junta a imagem a outros elementos de apelo para quem vê aquele anúncio além da imagem.
LOC. -  O som que você fala ou não?
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Com música assim, fundo musical assim?
DOC. -  É.
LOC. -  É, geralmente tem. E eles usam muito aquele princípio primário de botar sempre uma mulher bonita e tudo, que é sempre agradável e tal, é um artifício de propaganda, qualquer coisa que se coloque, colocar uma moça bonita porque quem que não gosta, né, mas fora a parte de, de visão, a parte, ah, sonora é sempre acompanhada de uma música bonitinha e tal.
DOC. -  Você tem assim uma idéia do que que a televisão no Brasil herda do rádio?
LOC. -  É, a tele... a televisão herda do rádio, televisão é uma coisa, complet... rádio é complet... é outra completamente diferente mas como os artistas são mais ou menos i... da mesma, da mesma, da mesma atividade, o que acontece é que a televisão é muito ingrata, então programas, os ar... de rádio que tiveram, ah, uma grande existência, eu me lembro até de "PRK Trinta", um programa todas as segundas-feiras se eu não me engano na rádio Tupi, era um programa famosíssimo, um programa que durou vinte ou quinze anos, muito gozado e tudo, quando foi pra televisão não demorou, não durou seis meses porque a televisão mata mesmo, é mui... a televisão é um veículo terrível para o artista, tem que ser muito bem dosado porque cansa à toa. Eu me lembro aquela menina Angela Maria, que sempre fez sucesso no rádio, chegou na televisão saturou em menos de um ano, nem se ouve mais falar em Angela Maria porque de fato não é brincadeira todo dia ou toda semana ver aquela pessoa, aquilo cansa um pouco e mata o artista, o artista tem que ter muito cuidado ao se apresentar na televisão. Dizem que até o Frank Sinatra pra manter aquela, aquele Ibope americano ele se apresenta uma vez ou outra num programa e cantando no máximo duas músicas por mais bis que receba, ele está certo, pra não saturar o público. Então o que eu tenho reparado é que programas importantes no rádio morrem quando vão pra televisão e a conexão de rádio pra televisão eu não vejo muita, não vejo muita, ahn, comparação porque uma coisa, eh, ex... praticamente a visão, quer dizer, a imagem e outra coisa é mais a parte sonora, entendeu?
DOC. -  (inint.) tem rádio?
LOC. -  Tenho radinho.
DOC. -  Quantos?
LOC. -  Ele estava aqui mas ele enguiçou.
DOC. -  Hum.
LOC. -  E ele foi e ele foi pra, foi pro conserto e já está pronto. É um rádio portátil (sup.)
DOC. -  (sup.) Quando enguiça como é que faz? Quando enguiça como é que faz? Quando enguiça uma televisão, um rádio, como é que faz?
LOC. -  Como é que eu faço? Bom, por sorte, (barulho) por sorte, como eu trabalho neste lugar, como te falei ...
DOC. -  Sei.
LOC. -  Eu tenho facilidade de mandar consertar então se eu não tivesse essa facilidade teria que mandar consertar em algum lugar porque televisão sempre é desagradável porque é, a não ser que você conheça uma pessoa de confiança mas às vezes fica nas mãos assim de pessoas inescrupulosas e tudo e eles acabam te cobrando muito caro por um serviço que não, não merece o que eles cobram mas enfim...
DOC. -  (inint.) enguiça ou dá defeito, você tem uma idéia (inint.)
LOC. -  Ou é válvula, que agora é transistor, geralmente é um defeito mesmo técnico lá de dentro e às vezes é um defeito mecânico de quebrar um botão, de quebrar uma antena mas aí por alguma travessura de alguma criança mas a maioria das vezes, eh, queimou um elemento qualquer lá de dentro, entende?
DOC. -  E esse rádio (inint.)
LOC. -  Bom, esse rádio é um rádio portátil, aliás muito bom, é japonês, muito bom mesmo, é National, e ao mesmo tempo ele é usado pra, pode ser usado pra, em, em corrente elétrica normal de casa e é um rádio como eu estou dizendo é portátil e não precisa ser, ter mais que isso. Eu acho que aquela era do rádio de cabeceira, do rádio grande eu acho que acabou com o advento aí desses rádios, desses mini-rádios tão gostosos de poder se movimentar dentro de, dentro de casa ou até fora de casa quando se vai a alguma atividade que precisa ouvir qualquer coisa de rádio.
DOC. -  O que que você ouve no rádio?
LOC. -  Em rádio? Olha, eu vou ser sincero, de rádio eu ouço mais o futebol e jóquei e dificilmente música, música normalmente, dificilmente ouço algum outro programa porque novelas e, e programas cômicos dificilmente o, a gente tem tempo de ouvir isso, mas uma música, principalmente em carro, rádio de carro bota na música e deixa correr e um, quer ouvir um pouco de futebol, um pouco de jóquei ou, ou uma atividade esportiva qualquer, mais a parte de esportes e música, quase isso, então seria mais nessas, nessas rádios especializadas assim mais em músicas assim constantes e...
DOC. -  Tem rádios (inint.) especializadas?
LOC. -  Tem.
DOC. -  Eu não sabia, tem outras especializadas?
LOC. -  Não, a, a rádio Mundial, a rádio Tamoio, a Jornal do Brasil, intercalada com um pouco de, de notícias, são rádios mais ou menos espe... especializadas em, em músicas, quer dizer, especializadas que eu digo é não tem novela, não tem programa humorístico, não tem, não tem muito anúncio entre uma música e outra e isso é mais pra entreter o ouvinte em, na parte musical mesmo, isso é uma música popular. Tem a rádio Ministério da Educação, que é uma música mais erudita.
DOC. -  E as outras?
LOC. -  As outras são mais, ahn, programas assim de, cômicos, parece que tem um programa na, na Globo, muita notícia, tem, tem, um programa negócio de policial e ronda policial, uma coisa assim, que é que se passa pelo Rio de Janeiro em matéria de assaltos e crimes, essas coisas todas. Que mais? Tem, sei lá, deve ter uma infinidade de coisas, né? Não ouço muito não. (risos)
DOC. -  Não ouço também por causa da aversão (riso do locutor)
LOC. -  Não, eu tenho a impressão que quando a gente quer ouvir um pouco de música a gente bota mais nessas três ou quatro. Tem a outra também, aquela Eldorado, né, também tem.
DOC. -  E teatro? Teatro já vi que você gosta, né, e tem hábito assim de ir.
LOC. -  Eu gosto de teatro, eu gosto de teatro mas, gozado, o povo brasileiro vai ao cinema com uma rotina, não é problema financeiro não, porque ele gasta seus seis ou sete cruzeiros lá no cinema, ainda vai tomar um lanche, você acaba gastando quinze ou vinte cruzeiros, se não vai jantar depois. Mas o gozado é o seguinte: o povo brasileiro não está acostumado com teatro. Eu, por exemplo, quando vou ao teatro até eu mesmo, quando eu vou ao teatro pra mim é um programa, é um programa. Não sei se é o medo de chegar na bilheteria e estar tudo reservado ou não ter lugar, não, nem deve ser isso porque os teatros andam vazios mas o fato é que eu reparo que quando eu vou ao teatro boto uma roupa melhor do que quando eu vou ao cinema, entendeu? É um programa, eu vou ao teatro hoje, entendeu? Cinema você resolve dez minutos antes. Vamos ao cinema, vamos embora, vamos ao cinema? Teatro não. Uma semana de antecedência a gente combina com um amigo e reserva, chega lá tem meia dúzia de gatos pingados mas reservou, entendeu? Então é um programa, é um programa, está entendendo, falta de hábito. Cinema a gente entra em tudo que é porcaria aí e vê um filme uma droga e sai contente e tal. Teatro você pergunta: como é, gostou, é bom, é bom mesmo? Olha, que se é bom mesmo e tal. Então a, forma aquele, aquela cena pra se ir a um teatro, que afinal de contas num, lá nos, nos outros lugares é a coisa mais tranqüila, mais normal do mundo, entendeu? E o teatro, o tea... agora o teatro tem um problema. Enquanto no cinema um filme ruim ainda se salva porque o filme, o cinema tem mais, tem mais possibilidades de, mesmo um filme ruim ele tem mais possibilidades de filmar assim diversos lugares, eh, umas cenas bonitas assim e tal e vai divertindo, o teatro ruim é uma parada, o mau teatro é de enlouquecer, está entendendo? Agora o contrário um bom teatro é muito melhor do que qualquer filme bom.
DOC. -  O que que você acha assim das instalações do teatro aqui no Rio?
LOC. -  As instalações, as instalações não são das piores não. Geralmente não são muito grandes os teatros mas Maison de France, o teatro Glória, boas instalações, o tea... (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) instalações, dá uma descrição assim ...
LOC. -  Geralmente as paredes são revestidas acusticamente ou com madeira ou com tecido, quase sempre atrás tem também uma cortina pra absorver o som para não haver reverberação, as poltronas são geralmente estofadas gera... ou de veludo ou de camurça ou qualquer coisa também prevendo-se a parte do som. Não são muito grandes, são teatros para quinhentas, seiscentas pessoas, o palco também não são muito grande, não dá pra fazer grandes encenações e grandes peças e tudo e, e são relativamente bem decorados. Eu estou agora me lembrando do Ginástico, o Maison, o teatro Glória, o teatro do SENAC, são bons, bons teatros, sem contar o Municipal, né?
DOC. -  Que tipos de coisas normalmente são levadas?
LOC. -  Teatro de comédia, né?
DOC. -  De comédia.
LOC. -  De comédia, eh, geralmente são (sup.)
DOC. -  (sup./inint./forte barulho do trânsito) pra outro tipo de espetáculo que não só as comédias (inint.)
LOC. -  Não, o, o, tem, esses, esses, esses, esses espetáculos de Jô Soares, Chico Anysio e aquele outro, o, como é, aquele rapaz, aquele da televisão que eu não gosto muito em teatro, o Golias, né, como é o nome dele, é, sei lá, sei lá, o nome é Golias, né, enfim é 'one-man show` que eles chamam, né, quer dizer, o José Vasconcelos e tudo. São homens que têm certas qualidades e procuram entreter o público com mais, eh, risadas, quer dizer, mais diversão, eh, piadas e tal, eh, intercaladas com um, um pequeno conjunto pra fazer um pouco de música e tudo mas é difícil esse tipo de, de espetáculo, esse negócio que o, o que nós chamamos 'one-man show` porque o, a verdade só duas pessoas fazem bem isso, o Zé já está um pouco passado mas foi o iniciador desse tipo de, de, de uma pessoa só fazendo, é o Chico Anísio e o Jô Soares, até o Golias é fraco e tudo. O Simonal andou fazendo isso bem, teve uma época boa, ele é cantor, ele tem um, uma boa comunicação, era bem agradável também os 'shows` dele, e, agora, é difícil. Você vê que o Chico Anysio dessa terceira vez já, já não é tão, já não estava tão bom porque não é brincadeira você sozinho entreter duas horas um público, está entendendo, não é brincadeira, é preciso ser uma pessoa espetacular mesmo.
DOC. -  Uma outra coisa que eu gostaria de saber. Você tem uma filha?
LOC. -  Tenho.
DOC. -  Você tem hábito de levá-la a teatro?
LOC. -  Não, minha, minha mulher é que leva domingo de tarde nesses teatrinhos infantis.
DOC. -  Não tem idéia de como são essas peças infantis?
LOC. -  Não tenho a menor idéia.
DOC. -  E circo?
LOC. -  Circo eu gosto.
DOC. -  Gosta.
LOC. -  Gosto. Quem não gosta de um circo, né?
DOC. -  Por quê?
LOC. -  Mas um circo, um circo com toldo de lona, com aquele cheiro ruim e gente vendendo pipoca. Não é circo de Maracanãzinho não, é circo no duro, está entendendo? É gozado, é pena que no Brasil os circos não valem nada, né, e comparados com os circos russos, os circos alemães enfim os circos europeus, Sar... Sarraceni, eu me lembro que passou um, um circo aqui há uns anos atrás famoso, Sarraceni, maravilhoso. Um circo brasileiro é um circo que é uma brincadeira mas mesmo assim é gostoso, ahn, não sei se é porque a gente revive um tempo, o tempo de, de quando nós éramos crianças e tudo mas enfim aquela papagaiada, aquele negócio é gozado, é gozado e é um bom, é um bom, uma boa diversão, embora seja raro, uma vez ou outra que aparece isto mas sempre que aparece a gente vai, até no Maracanãzinho mesmo o, a última vez eu fui mas não é a mesma coisa porque já dá um, uma impressão assim de espetáculo e não de circo, o circo é como eu estou dizendo define bem é aquela cobertura e pipoca, que é muito característico de circo, aquela venda de pipoca e aquela, aquela, aquele piso, como é, um, enfim, aquele, aquele, aquela raspinha de madeira, eh, eu me esqueci.
DOC. -  E assim as coisas do circo?
LOC. -  Bom, tem o quê, tem os palhaços, tem os trapezistas, tem aqueles animais domesticados, tem os equilibristas, ahn, aquela coisa toda que nós conhecemos que é sempre muito gozado, o, os animais enfim e naturalmente o mais espetacular, o mais gostoso, o mais sensacional são os trapezistas, né? É bonita aquela cena, um balé no ar assim necessita de muito treinamento, é bonito o, tudo é gozado. Quando é bem feito tudo é bon... tudo é gostoso.
LOC. -   Sei (inint.).