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PROJETO NURC-RJ

DIÁLOGOS ENTRE INFORMANTE E DOCUMENTADOR (DID):

Tema: "Casa"
Inquérito 0084
Locutor 0098 - Sexo feminino, 30 anos de idade, pais cariocas, professora de sociologia. Zona residencial: Sul.
Data do registro: 18 de outubro de 1972
Duração: 43 minutos


Som Clique aqui e ouça a narração do texto


LOC. -  Eu morava com duas crianças numa casa pequeninha, num apartamento de dois quartos e sala.
DOC. -  (inint.)
LOC. -  Já pensou, né?
DOC. -  Você deve ter sentido uma diferença enorme, né?
LOC. -  Ah! Agora é outra coisa ... E o mais engraçado é que me aconteceu que eu fiquei esperando neném, sem saber que estava esperando, e quando eu soube a notícia, quando eu saí do consultório médico, desespero que me dava. Como vou sair da minha casa? Como é que vai ser, né? Problema tremendo! Como é que eu vou botar mais uma criança num apartamento de dois quartos? Meio complicado. E depois meu marido também estava com ... Nós estávamos com uma série de dificuldades, aí resolvemos deixar pra lá. O neném nasce quinze de outubro, nasce quinze de outubro e no dia trinta de junho, de julho, nós não t'inhamos um lugar ainda pra ficar, né? Pensando em sair, etc. etc. aquele negócio, compra apartamento, não compra apartamento, aluguel caríssimo e, e entrada de apartamento idem, idem na mesma base. O maior problema. Até que meu marido resolveu ver um, um, um anúncio de jornal e encontramos este atual em circunstâncias maravilhosas pra nós. Uma semana depois estava, estava comprado, tudo direitinho, três, dez dias depois nós estávamos mudando. Depois de tudo acertado. Dez dias! Um espetáculo. Eu estou adorando o apartamento, que pra mim é maiorzinho e (inint.) uma sorte tremenda, cortina, tapete, armários, tudo pronto! Não tive que fazer absolutamente nada.
DOC. -  Tudo pronto como? Você comprou pronto?
LOC. -  Comprei.
DOC. -  Ah, sim ...
LOC. -  Sem a mobília, mas com todos os melhoramentos possíveis.
DOC. -  Ah, o apartamento já tinha essas coisas?
LOC. -  Tinha tudo, cortina, eh ... Eu acho engraçado que vocês têm que se interessar por um assunto que absolutamente não tem nada que (riso/inint./sup.)
DOC. -  (sup.) Mas interessa, sim (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Acho isso engraçadíssimo! Mas tudo, armários maravilhosos, os banheiros, tem dois banheiros, coisa que pra mim é uma novidade tremenda, dois banheiros lindos com bancadas. E eu normalmente que não ligo muito pra casa estou absolutamente encantada, né?
DOC. -  Tem dois quartos?
LOC. -  Tem três. Três quartos, tem dois banheiros. A sala aqui é pequena mas é bem jeitosa, né?
DOC. -  É ótima. Boa.
LOC. -  A parte de dentro também é bem jeitosinha. Nos deixaram a máquina de lavar roupa, encantador, né?
DOC. -  Morava outra pessoa aqui?
LOC. -  Morava. Trocaram por nosso apartamento.
DOC. -  Trocaram?
LOC. -  Trocaram.
DOC. -  (comentários inint./sup.)
LOC. -  Eles ficaram com o nosso, menor. Foram transferidos pra Brasília, então interessava ter um apartamento menorzinho. E nós ficamos com o deles e demos a diferença. Quer dizer que pra mim foi ótimo. Vocês estão com problema de gravação? Porque eu estou (falas sup./inint./interrupção)
DOC. -  Quais eram os problemas assim que você tinha no outro apartamento? Por que que ele não, não satisfazia (inint.)
LOC. -  Porque era muito pequeno. Com duas crianças de idade inferior a seis anos de idade, evidentemente que as exigências da criança em matéria de espaço é muito grande. Então tinha uma série de problemas. Em primeiro lugar, guardar a bicicleta. Onde guardar bicicleta? Em segundo lugar, onde colocar criança brincando sem me estragar os móveis, né? Em terceiro lugar, como satisfazer a criança, em relação ao fato de estar num lugar e ao mesmo tempo não atrapalhar o adulto (inint.) um momento que você precisa ficar só e o marido chega cansado do trabalho, etc. etc. Você precisa ter seus livros, precisa ter seu estudo, ter seu, seu lugar pra ser alguém, né? E a criança inteiramente sem, deslocada.
DOC. -  Quantas peças tinha?
LOC. -  Tinham duas peças, três peças, não. Uma sala, dois quartos, dependências normais.
DOC. -  E, assim, onde é que as crianças podiam brincar, tinha área externa, não tinha?
LOC. -  Não, não tinha área externa. Elas brincavam normalmente na casa da minha sogra, o que já me acarretava sempre uma série de problemas porque sempre ficava um pouco distante da minha casa, tinha problema de quem levar, eu tinha de estar sempre disponível pra carregar as crianças e assim ...
DOC. -  Esse apartamento antigo era de vocês?
LOC. -  Era, era nosso. Sacri... comprado com bastante sacrifício (riso). Esse agora também.
DOC. -  É aqui no Leblon?
LOC. -  Também, General Artigas. Bem perto.
DOC. -  E esse apartamento aqui, como é que vocês compraram? Você disse que viu, seu marido viu um anúncio, etc., mas, aí, o processamento assim normal de compra você sabe?
LOC. -  É. O processo foi, pra nós, foi excelente, porque nós, acho que como todo casal mais ou menos novo, sempre quando se vai comprar alguma coisa, a gente tem o problema de dar uma entrada grande, certo? Então o fato de você não ter aquele dinheiro grande dificulta todos os seus negócios. Como nós já tínhamos um apartamento pequeno, o nosso interesse era dar uma entrada, dar como entrada o nosso apartamento, mas realmente era um pouco difícil, né? Permuta nem sempre é muito fácil de se fazer. E este aqui foi exatamente o anúncio no jornal aceitava uma permuta, era uma condição inclusive pra venda desse apartamento. E este aqui ainda tem um financiamento enorme de dez anos pela COPEG. Quer dizer que nós estamos, além de termos dado a nossa, o nosso apartamento como entrada, o que facilitou muito a nossa vida, nós estamos pagando por este uma amortizaçâo menor do que teríamos dado por um aluguel.
DOC. -  Alguma vez você já morou em ap... apartamento ou casa alugados?
LOC. -  Já. Quando eu me casei morei num apartamento alugado.
DOC. -  E você tinha problemas em relação por exemplo aluguel? Assim (inint.) de uma pessoa que tem um apartamento alugado? As obrigações ...
LOC. -  Não, problema não. Problema em relação ao fato de você estar num edifício de apartamento alugado, não. Você fica realmente um pouquinho preso a, a uma série de reclamações que às vezes são necessárias de fazer. Às vezes você acha que o edifício está mal organizado, que o condomínio está mal feito, enfim, que há um gasto qualquer que talvez não seja muito justo e você fica um pouco i... inibida de fazer as reclamações necessárias, ao passo que no edifício em que você é co-proprietário do edifício, você está sempre muito mais apto a fazer as reclamações necessárias e organizar conforme você quiser, certo?
DOC. -  Mas vocês, mesmo, mesmo sendo donos do apartamento, você está, você disse que, eh, quer dizer, uma parte vão pagando aos poucos, não é? Mesmo assim vocês têm outras despesas, apesar de serem donos, não têm?
LOC. -  No edifício?
DOC. -  Sim.
LOC. -  Sim, você tem condomínio. Lógico, você tem manutenção do edifício, você tem salário de porteiro, salário de faxineiro, vai por aí afora.
DOC. -  Hum, hum. E carro, vocês têm?
LOC. -  Eh, Opala.
DOC. -  Tem garagem no prédio (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Tem. É, o prédio está uma verdadeira bagunça. Nós mudamos de um edifício já bem antigo e quer dizer que com condomínio superorganizado, regulamento interno e essas coisas todas. Nós chegamos nesse aqui que é um prédio novo e todo de casal novo, que é um, é financiado pela COPEG, você já viu, quem compra pela COPEG é porque é casal, (riso) tem seus problemas. Então é uma verdadeira bagunça. Domingo de manhã o, o infeliz que bota o carro no final da, da garagem sofre horrores, porque às oito horas da manhã tem alguém que está querendo sair, né? Então bate na sua campainha, não tem manobreiro, aí você tem que descer, acordar o pobre do marido, com um mau humor ter... tremendo. Aí essas coisas. Hoje inclusive tem uma reunião, vamos tentar organizar o edifício.
DOC. -  Já tem uma pessoa que é encarregada assim de (sup.)
LOC. -  (sup.) Tem, mas puseram uma pessoa que não sabe dirigir. Então não adianta você entregar a chave do carro, porque ele não pode fazer nada, né? Então você tem que descer, tirar o seu carro, às vezes você está dormindo às oito horas da manhã, quer dormir até as dez (sup.)
DOC. -  (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Chatérrimo. Esse fim de semana passado foi o primeiro nosso aqui. Foi um transtorno.
DOC. -  Você podia descrever como é, contar como é a decoração do seu apartamento? Aqui, os outros cômodos, os quartos que são de suas filhas (sup.)
LOC. -  (sup.) Tá (sup.)
DOC. -  (sup.) O que tem aqui e o que que tem no quarto (sup.)
LOC. -  (sup.) É, o quarto das minhas filhas é o lugar que eu mais gosto. Ele é, não é muito grande, mas é bem jeitoso. Nós encontramos já com uma cortina, uma cortina branca que combinou com a mobília delas que é laqueada toda de branco também. As almofadas da, são vermelhas e laranja se não me engana, vermelhas e laranja. Tem um armário bem grande, no, no quarto, com gavetas.
DOC. -  Esse armário já estava?
LOC. -  Já estava. As paredes são branquinhas também, me deu trabalho de colocar milhões de bonequinhos lindos de morrer, todos espalhadinhos no quarto e elas estão felicíssimas. E a mãezinha também.
DOC. -  E o seu quarto?
LOC. -  Bom, o meu quarto é uma maravilha! No meu quarto tem um banheiro dentro, o que eu acho maravilhoso. Um banheiro dentro muito bonitinho. O quarto também é todo acarpetado, como é acarpetada a sala, o corredor, o resto do apartamento. Tem um armário enorme também, com as portas em madeira. As portas são todas trabalhadas em madeira talhada, beleza, bonitinho. Também deixaram as cortinas que são muito bonitas de tafetá, cor coral. A colcha da cama combina com a cortina. Agora a minha mobília é muito feia porque é da fazenda do meu marido.
DOC. -  Como é a mobília?
LOC. -  (riso) A mobília é de madeira daquelas antigas, pesadas, mas sem, absolutamente sem nada torneado, retinhas, típica mobília de fazenda. Quando nós casamos, nós não pudemos comprar nossa mobília, então mandamos vir da fazenda e até hoje continua conosco. Está aí.
DOC. -  Além do armário, da cama, você tem outros móveis no seu quarto?
LOC. -  Tem uma cômoda, só.
DOC. -  Você disse que tem banheiro dentro. O banheiro que você tem dentro do quarto é um banheiro completo? O outro banheiro é (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) É, o banheiro do meu quarto é completo. Tem banheira, pia, box, bidê, etc. etc. O outro banheiro tem todas as peças menos o bidê. É das crianças. Existe uma bancada embaixo da pia com armário com gavetas, etc. apliques.
DOC. -  E essa parte aí de cozinha, como é?
LOC. -  A parte da cozinha não é muito grande, mas tem uma coisa que eu acho ótimo: é ladrilhada até o teto, cabe muito bem uma geladeira, armário e as cadeiras pras empregadas, certo? A parte da área tem dois secadores, o tanque, a máquina de lavar e ainda dá lugar prum armário pequeno que eu posso guardar as coisas de mantimento.
DOC. -  E as bicicletas?
LOC. -  As bicicletas tem uma área dentro do edifício, fechada, em que você pode guardar tranqüilamente, sem maiores problemas. E aqui ainda tem um quarto pequeno, um quarto menor que vai ser do bebê futuramente e atualmente não tem nada. Não, não tem nada, só está arcape... acarpetada.
DOC. -  Agora, eu estou vendo a, a iluminação pelo menos da sala ela não é como a gente está acostumado a ver, né? Normalmente, sempre a gente vê ilumina,cão ...
LOC. -  Ah! Iluminação direta?
DOC. -  Sim. Isso foi você que fez? Já estava no apartamento?
LOC. -  Não, essa aí foi eu que fiz. A iluminação direta em cima da mesa e a indireta no estofa... no sofá. Não sei, eu tenho a impressão que dá um ambiente mais íntimo (ruído telefone) cada um ...
DOC. -  Como é a sua sala? (ruído telefone superposto)
LOC. -  Bom, espera aí. Dá pra desligar?
DOC. -  Vê aí. (interrupção)
LOC. -  Vamos ver. Bom, a sala, a sala tem forma de ele, apesar de não ser grande, né, dá dois ambientes perfeitamente separados. O primeiro ambiente dá a sala de estar e tem um sofá forrado de couro, uma forração verde, as almofadas verdes, ladeado com duas mesinhas de mármore, eh, abajur, um quadro, reprodução de Van Gogh. Em frente tem uma mesinha de mármore e em frente a esta mesa e portanto defronte do sofá tem um estrado com almofadas areia, o aparelho de som, um baú preto. À esquerda desse, desse estrado tem uma televisão enorme, horrorosa. Depois tem em frente à televisão duas poltroninhas vermelhas, de jacarandá, e aí termina o primeiro ambiente. Depois, então no outro, na, no alargamento da sala tem uma sa... tem, tem uma mesa grande com seis cadeiras com um abajur em cima, um abajur vermelho. A sala é toda pintadinha de branco. Acho que é só o que tem aqui, né?
DOC. -  Perfeito. Mas você falou que você trouxe a cama e a sua mobília da fazenda. Você conhece essa fazenda do seu, da família do seu marido?
LOC. -  Eu conheço, sim, nós todo, todas as, durante o período de férias sempre nós vamos pra lá.
DOC. -  Onde é essa fazenda?
LOC. -  É em Friburgo. Que mais?
DOC. -  (inint.) descrever a fazenda.
LOC. -  Hum ... A fazenda é um bocado grande. Bom, a fazenda é, fica em Friburgo, vinte minutos depois de Friburgo, portanto no município de Friburgo. A fazenda é bem grande, tem uma casa tipo colonial, a casa é toda cercada por um varandão com, com, com cerquinha de madeira e depois então dentro tem uma sala muito grande, com duas portas em que se abrem duas alas, que são duas alas de quarto diferente. Cada ala com seu banheiro, servindo. Depois tem uma porta bem grande de ferro que separa da copa. A copa não é absolutamente como nós vemos na cidade, a copa é uma sa... uma sala de jantar, aquelas mesas enormes, cadeiras enormes, pronta a receber uma família com muitos filhos. (riso) A cozinha, logo em seguida vem a cozinha, também muito grande, uma coisa maravilhosa que aqui na cidade não se vê, que é fogão a lenha. Vocês já viram fogão de lenha? É espetacular, né?
DOC. -  É (inint.)
LOC. -  E esse fogão da fazenda é uma maravilha, conservado por uma empregada antiqüíssima, então, o grande prazer dela é depois que termina toda função de alimentação e de alimentar aqueles vândalos, de arear os metais, passar Brasso, então o fogão fica lindo, maravilhoso. Aí chega na hora do jantar bota lenha fica tudo pretinho outra vez, não tem importância, todo dia ela faz a mesma coisa. Bom, tirando a cozinha, nós temos um pátio bem grande, nesse pátio tem uma reserva de lenha, a parte fechada, tem uma escadaria de pedra, em cima tem um morro e nesse morro tem uma pequena cabana que foi feita pras minhas filhas, é uma cabaninha de boneca. Então nessa cabana de boneca tem uma reprodução do fogão de lenha da fazenda sem os dourados. Isto é muito importante. Logo a seguir depois tem uma outra casa, que é a continuação da fazenda, então na parte, dois andares, na parte de baixo tem uma sala grande, que está vazia atualmente, mas que futuramente seria uma sala de jogos, jogo-de-botão, pingue pongue, etc. etc. E em cima tem três quartos, esses três quartos estão mobiliados com uma mobília idêntica à que eu tenho no meu quarto, e tem um banheiro, um banheiro e uma sala. Aí normalmente ficam os rapazes da casa totalmente isolados. Agora, bem longe da casa, dessa fazenda, mas dentro ainda do, do território familiar, tem uma piscina, piscina natural. Aliás, a piscina é até muito interessante, descobriram esse ano que esta piscina foi escavada há cem anos atrás. Fizeram, sabe? Porque o, a piscina furou, o fund... Não sei se isso tem interesse ...
DOC. -  Tem, tem. Claro! Todo interesse.
LOC. -  O fundo da piscina deu defeito e tiveram que esvaziar e, e pintar e limpar. Aí perceberam que estava toda quebrada então resolveram tirar, porque a piscina natural é toda de pedra, então resolveram tirar aquelas pedras e botar um cimento, quando começaram a, a tirar a parte, a parte externa, começaram a perceber que tinha mais pedras pra dentro, todas, eh, manuseadas, quer dizer, um negócio assim engraçado, né? Aí começaram, meus tios ficaram assim meio curiosos e chamaram pessoas interessadas e pessoas que entendem disso, então começaram a dizer que realmente há muito tempo atrás, não foram definidos, tiraram amostras de pedras, não sei mais o quê, pra saber quanto tempo que realmente aquela piscina tinha sido, sido cavada, né? Engraçado. E agora está lá como relíquia histórica, não sabemos o que vamos fazer da bendita da piscina, né? Todo mundo sem coragem de cobrir a parte antiga. Um negócio assim espetacular! (sup.)
DOC. -  (sup.) Você disse que tem uma piscina de água natural, quer dizer que a, a água vem de, de (sup.)
LOC. -  (sup.) A água vem de um rio e ela é represada num pequeno lugar, e este lugar justamente quando os tios mandaram fazer, eles acharam que seria o lugar ideal porque alargava ligeiramente, quer dizer, o rio dava um alar... um alargamento e tinha uma ligeira queda. Então acharam engraçado que realmente parecia que estava formado aquilo ali, mas formado com terra dentro e mato etc. etc. Então eles represaram o rio, fecharam, mandaram cavar, mandaram limpar e conservaram as pedras naturais. E abriram, o, o rio formou o poço, o poço depois cai e faz uma outra cachoeira e é um lugar maravilhoso.
DOC. -  A água é tratada?
LOC. -  Não, a água não é tratada. A água é limpinha de rio sem ...
DOC. -  Que corre.
LOC. -  É. Rio sem casebres pra cima, a nascente. Não tem problema. Que mais que vocês querem saber? (sup.)
DOC. -  (sup.) Bom, e, e a casa fica por exemplo, assim, é presa a outra casa da fazenda ou ela é solta, como é que é?
LOC. -  Não, a casa é bem ... Vamos dizer, se nós, nós não temos o problema da cidade de ficar devassado absolutamente. Agora, temos vizinho pertos. O, este, o terreno da fazenda era muito grande, então foi loteado uma parte. Então você tem pessoas perto, sim, na base de cinqüenta metros de distância, cem metros, quer dizer, você não fica inteiramente isolado, mas a casa é, não é devassada absolutamente, nós não temos vizinhos próximos ou muito próximos.
DOC. -  A casa fica assim no centro do terreno?
LOC. -  Fica no centro dum terreno alto. Quer dizer, ela, de cima, ela fica, ela pode ver todo o resto da fazenda, certo?
DOC. -  O que que tem no resto da fazenda?
LOC. -  Ah, o resto da fazenda ... No resto da fazenda você tem, perto da piscina, você tem uma outra casa bem grande que era a fazenda antiga, seria a sede da fazenda antiga, certo? Mas essa sede atualmente é tida como mal-assombrada, então, apesar de sermos todos pessoas esclarecidas, nós não temos muita vontade de ficar nela. (riso) Isso é evidente. (riso)
DOC. -  Vocês nunca entraram lá?
LOC. -  A gente entra, a gente faz aposta, sabe, de passar tempo lá, etc. etc. Você sabe, todo mundo tem filho, então chega assim sete ho... horas da noite, oito horas, tem que dar jantar apesar de ter babá. Você sai da fazenda pra ficar supervisionando, então essas coisas assim que absolutamente não te afetam muito (sup.)
DOC. -  (sup.) Está vazia a casa? Não tem nada no lugar? (sup.)
LOC. -  (sup.) Inteiramente vazia. Nada.
DOC. -  É muito grande ela?
LOC. -  Enorme!
DOC. -  E do mesmo jeito, o mesmo, a mesma construção que a ...
LOC. -  É muito mais bonita porque é muito mais antiga. Ela deve ser, está se presumindo que essa casa já foi, nós encontramos, quer dizer, nós não, meus tios encontraram com, quando compraram a fazenda já tinha essa casa, aí mandaram construir essa que nós moramos, quer dizer, é recente, é moderna. Esta outra casa presume-se agora que seja do tempo em que ...
DOC. -  Eh, da piscina (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Da piscina. Agora, corre sobre ela milhões de lendas, né? De que andam ...
DOC. -  Por quê? Qual lenda? O que é que dizem?
LOC. -  Dizem que foi um, um lugar, uma sen... uma antiga senzala, tem realmente uma, uma parte subterrânea em que poderia ser uma senzala de escravos, entende? Então parece que houve histórias de que houve fugas de escravos, etc. etc. durante o período da, do século passado, então que os escravos ali se refugiaram, mas que descobriram e fizeram morticínio. Então que os escravos, as almas dos escravos clamam por vingança, etc. etc.
DOC. -  (inint./risos/comentários dos documentadores)
LOC. -  Exato. E que só atacam, só atacariam, quer dizer, as almas atacariam, os fantasmas, sei lá quem, atacariam os brancos, principalmente sendo donos de terra. (risos)
DOC. -  (inint./comentários/risos)
LOC. -  Como você vê não é muito interessante. Eu mesma levei um susto agora esse fim de, esse fi... Estou fugindo do meu problema de casa, né?
DOC. -  Não, não, não está não, pode contar.
LOC. -  Nós levamos um susto tremendo essa, agora em julho. E normalmente eu sempre, a gente sempre conta as bravatas, que você não tem medo disso, que você não tem medo daquilo, imagine, alma do outro mundo (inint.) bobagem. Então eu falei pras minhas crianças que absolutamente não acreditassem nessas histórias porque isso era coisa de gente ignorante e as pessoas da fazenda não, não, não vinham à cidade, não tinham meios de comunicação, etc. etc. Então eram pessoas burrinhas, pobrezinhas, coitadinhas, então que não tinham a menor possibilidade, que cabia a nós, como pessoas esclarecidas, ensiná-las e mostrar as coisas como deveriam ser, elas, como meninas da cidade, aquela lenga-lenga toda, né? Então uma noite nós fomos ao chiqueiro que fica perto desta fazenda e escureceu muito rapidamente porque estava ameaçando chuva. Então o negócio era o seguinte: nós não vamos passar perto da casa velha. Sim, nós vamos passar perto da casa velha, absolutamente não tem perigo. Está bom. E foi aquela coisa, uma pilha de crianças, sete crianças, eu e mais duas moças: vamos passar em frente na casa velha. E passamos. Aí: vamos entrar? Vamos entrar. E entramos. As crianças, sh... apavoradas, mas ninguém com coragem de demonstrar. Nós não tínhamos nada. Bom, começou realmente a chover porque estava ameaçando a chover e um vento, sabe dessas coisas de cinema, aquele "Morro dos Ventos Uivantes", o vento batendo, as janelas batendo, aquela coisa toda. Aí nós ficamos meio assim, vamos esperar passar a chuva, não sei mais o quê. Está bom! Aí sentamos no chão, ficamos contando história pras crianças, brincando. De repente, nós escutamos um barulho, mas uma coisa assim, nós nos olhamos, nos entreolhamos e fo... Alguém tem que saber o que que está havendo, né, porque o barulho não é normal. Aí fomos ver, as três juntas de mãos dadas, pálidas, brancas, só faltava os cabelos estarem eriçados, disfarçando pras crianças. Dois cavalos entraram dentro da casa e começaram a, a ficar, ficaram desesperados, estavam presos, né? Mas faziam um barulho ensurdecedor, mas não foi nada de mais não. Deu susto, deu.
DOC. -  Foi no chiqueiro, né?
LOC. -  Fomos ao chiqueiro.
DOC. -  Tem mais outras coisas assim, em termos de (inint.) assim?
LOC. -  Tem, tem o chiqueiro, tem um frigorífico que não está funcionando e uma fábrica de lingüiça que não está funcionando, quer dizer, tudo pra aproveitar, que aproveitaria o, a criação de porcos. E tem um curral pequeno também e cocheira, duas cocheiras, com sete, oito cavalos.
DOC. -  E gado tem?
LOC. -  Não, o gado morreu todo. Atualmente não temos.
DOC. -  Vocês têm porcos e cavalos ...
LOC. -  É, porcos e cavalos.
DOC. -  Como é o clima?
LOC. -  O clima de Friburgo é excelente: frio, muito frio mas muito seco.
DOC. -  E vocês costumam ficar lá fim de semana, passar temporada?
LOC. -  Não. Nós normalmente vamos só na época de férias.
DOC. -  E assim essa questão de roupa que se chama roupa de cama e mesa normal, como é? Vocês sempre têm lá ou vocês levam?
LOC. -  Não, nós temos lá, nós temos os quartos, cada quarto tem uma cor e cada roupa de cama conserva a cor do quarto, para justamente não haver confusão.
DOC. -  Qual é a roupa de cama normal que vocês usam, normalmente?
LOC. -  Lá?
DOC. -  Sim.
LOC. -  Lá nós usamos os lençóis de forrar a cama, evidente, o lençol de cima, uma colcha, dois ou três cobertores, fronhas e a ...
DOC. -  Na casa você tem alguma coisa assim que pra esquentar (inint.)
LOC. -  Temos lareira. Que aliás foi bastante usada nessas férias, que o frio era grande.
DOC. -  Neste mês agora?
LOC. -  É. Mês de julho. Aliás é uma sensação deliciosa ficar na beira da lareira, né, gostoso!
DOC. -  E os tios moram lá?
LOC. -  Não, moram no Rio. Normalmente a casa não é nem aproveitada pelos tios. A casa é aproveitada pelos filhos dos tios, pelos sobrinhos, porque todo mundo mais ou menos da mesma idade, todos têm filhos pequenos, então em vez de ficarmos confinados no apartamento pequeno, apartamento tolhe inteiramente a criançada, aproveitamos o período de férias e largamos soltas no pasto, por lá.
DOC. -  Quais são os cuidados assim que você toma com a se... com a segurança da casa?
LOC. -  Em relação a eletricidade e ...
DOC. -  Tudo. Não entrar ninguém na casa ...
LOC. -  Sim. Normalmente na porta nós temos, eh, o fecho de segurança, o fecho de segurança interno é chave com fechadura, com segredo de fechadura, certo? Na cozinha nós temos corrente por dentro justamente porque é o lugar mais soli... solicitado de, em matéria de abertura, né? Então a, a empregada fica sem a chave com uma corrente passada. Quer dizer, quando ela abre a porta dá uma pequena passagem pra você se comunicar com a pessoa que está do lado de fora, sem haver o perigo de uma intromissão. Agora atualmente em matéria de segurança também nós pretendemos colocar grades na janela. Isso aí é uma coisa engraçada, é uma tese que eu, no meu tempo de fazer curso de psicologia infantil nós discutíamos muito: se devíamos ou não confiar nas crianças em relação à segurança delas. Se você deve ou não confiar que você falando que uma, pra uma criança não chegar numa janela de um edifício, de um apartamento, se seria suficiente ou não. Eu até a semana passada achava que era, mas há dois dias atrás eu peguei minha filha se pendurando ali no parapeito, então azar pras teorias e pras teses e vamos botar grades. É mais seguro.
DOC. -  É mais tranqüilo também, né?
LOC. -  É, exato. Em matéria de segurança em eletricidade, nós mandamos colocar aquelas, são chaves que você põe na caixa de luz e, eh, havendo qualquer circuito ela desliga automaticamente. E, só. Agora uma coisa que eu tenho notado por exemplo neste edifício, neste apartamento, eu até estava pensando nisso ontem, é que se haver, se houver algum problema de incêndio só tem uma escada, né?
DOC. -  (inint.)
LOC. -  É impressionante isso. Porque você no caso de um incêndio, você não vai se trancar num elevador, você vai usar a escada. Agora, se a escada estiver tomada, você não tem passagem.
DOC. -  E por exemplo para entrar, pode entrar assim qualquer pessoa assim no edifício? Tem alguém que fica na porta?
LOC. -  Bom, teoricamente não poderia. Na realidade entra. O porteiro não fica as vinte e quatro horas do dia vigilante. Entra sim.
DOC. -  Bom, nós quando entramos perguntaram.
LOC. -  Perguntaram?
DOC. -  Perguntaram.
LOC. -  Foi ...
DOC. -  Em que apartamento nós íamos.
LOC. -  É? Então foi uma exceção porque normalmente não tem acontecido, não.
DOC. -  Ele fica, durante a noite ele também fica aí ou vocês ...
LOC. -  Tem outro porteiro.
DOC. -  Ham.
LOC. -  Aliás não é nem outro porteiro, é uma família de porteiros. É o pai e o filho. O filho trabalha de dia e o pai, muito alquebrado, muito velhinho, fica de noite.
DOC. -  Porque isso varia de prédio pra prédio, né, alguns prédios não usam porteiro durante a noite, então as pessoas usam chave da portaria, né?
LOC. -  É, mas nesse aqui tem porteiro de noite, ele fica ... Aliás uma maldade, que a portaria não está pronta ainda e o velhinho fica em pé a noite inteira encostado aqui nas, nas pilastras do edifício, dá uma peninha, dá vontade de pegar uma cadeira e dar pro homem sentar.
DOC. -  Agora, você falou que na fazenda o, os, os quartos, cada quarto tem uma cor então a, a roupa de cama combina.
LOC. -  Certo.
DOC. -  Você tem esse tipo de preocupação aqui na sua casa?
LOC. -  Não. Absolutamente. Não tenho não.
DOC. -  E ro... e a sua rou... essa rou... esse tipo de roupa. Por exemplo, você tem um, um tipo especial pra, re... em relação à mesa, por exemplo jantar, almoço, pra determinadas ocasiões (inint.) especiais (sup.)
LOC. -  (sup.) Ah, sim, você fala em, em matéria de roupa de cerimônia, roupa de casa de cerimônia e roupa de diário. É, tenho sim. No diário eu uso normalmente uma roupa mais simples e mais bonitinha que me agrada mais inclusive, porque é muito mais prática, e pra cerimônia eu deixo aquelas que eu ganhei do meu enxoval de pessoas que normalmente não tinham muita preocupação, então resolveram me dar coisas maravilhosas, achando que a vida de todo-o-dia era muito simples. Então essas roupas ficam guardadas.
DOC. -  Como são essas especiais?
LOC. -  Ah, essas especiais são aquelas maravilhosas assim de renda, da ilha da Madeira e bordadas a mão por fulano ou por sicrano que você nunca escutou falar, sabe?
DOC. -  Mas são, são pra, mas são o quê, são pra mesa (inint.)
LOC. -  São pra mesa, tem pra cama. Aquela que você bota e no dia seguinte a empregada te olha assim com uma cara de que você é assim a própria megera, que vai ter que engomar aquilo tudo, passar, vai ter que lavar na mão, porque se puser na máquina vai estragar. Então realmente esse tipo de roupa to... eu acho que todo mundo tem, mas ninguém gosta.
DOC. -  E essa distinção que você faz em relação a roupa de mesa, você faz em relação a louça, por exemplo?
LOC. -  Não, não faço muito não. Não faço muito não. Eu acho o seguinte, eu não sei, não sei se vocês concordam, mas eu acho que o fato de você, do seu dia-a-dia ser diferente do dia de que vem visita não tem o menor sentido mais. Eu acho que o seu dia-a-dia é que tem que ser bonito. No seu dia-a-dia é que você tem que estar com coisas que te agradam. A mim me agrada muito mais ter tudo arrumado dentro de casa no dia que está só o meu marido e eu, do que num dia que tem visita. Apesar de me agradar receber visita e mostrar coisas bonitas pra visita também. Mas essa distinção entre dia de visita e dia do dia-a-dia realmente eu não gosto de fazer muito não. Vocês entenderam o que eu estou falando?
DOC. -  Perfeito. Entendo.
LOC. -  Entende? Eu acho que o, a sua vida é uma continuação sempre. Não tem essa distinção, tem coisas boas, coisas grandes que acontecem. Eu estou saindo inteiramente do assunto da casa, né?
DOC. -  Não (inint./falas superpostas dos documentadores)
LOC. -  Mas o que eu acho é isso. Você, acontecem coisas bo... acontece, vai acontecer o nascimento do meu filho, eh, minha filha está tendo aquele 'insight' de aprender a ler, isso é muito importante, isso é muito bacana, dá pra gente comemorar. Eu por exemplo gosto de comemorar essas coisas. Agora, não importa que tenha gente de fora ou não.
DOC. -  Suas duas filhas estão no colégio?
LOC. -  As minhas duas filhas estão no colégio. Eu acho que isso é uma continuação. Ontem eu recebi gente pra jantar, pessoas de quem eu gosto, então evidente que nós fizemos um jantar gostoso, mas a, a quantidade é que aumentou, não a, a qualidade, certo? Agora, o importante foi o fato dessas pessoas terem vindo na minha casa, eu não fiz distinção, as coisas normalmente, a rotina da minha casa continuou (ruído externo) sendo a mesma. Quer dizer, a rotina que se emprega, a rotina do dia-a-dia, as coisas que são usadas no dia-a-dia eu gosto que sejam usadas no dia de visita sem a menor diferença.
DOC. -  E como é a sua louça?
LOC. -  Ah, minha louça? Minha louça é branca, com frisinho dourado em volta, sóbria e simplesinha, moderninha, os pratos sem, sem bordas, só fundinho. Os copos são de, branquinhos, de meio cristal, a ... Que mais? Meus talheres são de, de, essa, aço inoxidável. Acho que é Wolf, não sei bem qual é a marca. As, as travessas do diário e do uso também normal são de aço inoxidável, os descansos também são de aço inoxidável. Que mais? Só. Hum? Só.
DOC. -  E assim pra limpeza da casa?
LOC. -  Eh ...
DOC. -  O que que você faz? Como você mantém limpa a casa?
LOC. -  Como é que eu mantenho? Bom, eu normalmente no princípio do mês eu faço uma compra grande, comprando aquilo que, eh, as, as empregadas pedem, eh, sabão, sabão em pó, pasta Rosa, pasta Clean, Brasso, Silvo, óleo pra móvel, eh, detergente, desinfetante pra banheiro, flanela, Bombril, normalmente é só. O resto você tem, aspirador, vassouras (sup.)
DOC. -  (sup.) É, isso porque a casa é acarpetada, né? (sup.)
LOC. -  (sup.) É, exato. Normalmente você não compra todo mês, não é? Compra quando termina ou quando quebra. Que mais que vocês podem ...
DOC. -  Agora eu vi, você tem um, eh, tem plantas dentro de casa, né, você gosta, você, foi você mesmo que arrumou a sua casa, você ...
LOC. -  Foi. Tudo.
DOC. -  Chamou alguém?
LOC. -  Não, não chamei, eu pretendo chamar a... agora talvez até semana que vem, pra ver se conseguem colocar nessa sala um armário grande, porque nós temos muitos livros e temos que ter um local, um lugarzinho pra guardar e eu ...
DOC. -  Você não modificou a estrutura do apartamento não, não é (sup.)
LOC. -  (sup.) Não, absolutamente (sup.)
DOC. -  (sup.) Porque às vezes as pessoas modificam, derrubam parede, assim (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Não. Não, exatamente o que eu tinha falado no princípio, nós demos uma sorte tremenda, porque nós mudamos pra um apartamento exatamente do jeito que nós faríamos se estivéssemos aqui dentro. Quer dizer, não tivemos absolutamente que mudar nada. Inclusive até conservando a disposição que nós tínhamos no outro. Porque nesse ponto a pessoa é muito conservadora, né? Os móveis começam a entrar você, normalmente, você pensa em colocar do mesmo jeito que você tinha antes. Então mais ou menos nós conservamos até a disposição dos móveis.
DOC. -  Agora, você tem uma mesa grande. Vocês fazem as refeições aqui?
LOC. -  Fazemos. Fazemos sim. As crianças também.
DOC. -  Esse prédio aqui ainda está acabando, né, de construir. Você tem idéia assim de como é que se constrói edifício? Quais são as pessoas que trabalham?
LOC. -  Bom, eu quando me ve... me lembro de construção não sei mais o quê, eu sempre me lembro do, do (riso) operário caindo do andaime, caindo na contramão e atrapalhando o trânsito. Não. Eu tenho a impressão que deve começar em primeiro lugar num gabinete, é evidente, né? Com alguém, uma mente qualquer trabalhando em função do edifício, certo? Aí você bota o, o engenheiro, o arquiteto, você bota pro papel, do papel você bota num, pra prática e depois de passar por uma burocracia tremenda de aprovação de planta, eh, compra de terreno e divisão de terreno e sondagem de terreno, acho que tem isto também, não tem, tem sondagem de terreno e não sei mais o quê, e depois você deve comprar material, material enorme, né, nessas alturas todas tem dinheiro rodando até dizer chega. Você bota os pobres dos operários trabalhando. Os operários trabalham, constroem o edifício, etc. etc. aí vem uma série de pessoas, outro trabalho burocrático, incorporam o edifício, vendem o edifício, compram o edifício, compram os apartamentos. Sei lá, acho que deve ser assim.
DOC. -  Agora, outra coisa que eu estou vendo, vo... você gosta de ouvir música? Você e seu marido (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Bom, meu marido é advogado da Philips do Brasil, discos, e além de ser advogado ele é gerente de edição da, da (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) toca-discos Philips.
LOC. -  Pois é, por isso que eu perguntei se o tocador, o toca-fitas, eh, o gravador não era do tipo da Philips.
DOC. -  Hum!
LOC. -  Mas ele é gerente de edição de músicas, tá?
DOC. -  Sim ...
LOC. -  Então quer dizer que música é a nossa vida.
DOC. -  Porque o, a gente pode, esse tipo de aparelho é um mais ou menos recente, né? Antigamente era, eh, pra se ouvir música, sei lá, tinha um mono só, era diferente, né? (sup.)
LOC. -  (sup.) Exato, é totalmente diferente. Hoje em dia você não pode dizer mais nem que seja uma vitrola, uma eletrola, é um aparelho de som, né? Nós aqui nem falamos de vitrola ou eletrola, dizemos os nossos aparelhos de som. Que a falha disso aqui é que aqui não cabe. Tem milhões de coisas, tem o gravador (sup.)
DOC. -  (sup.) E como é que é? De que que se constituem, porque eu estou vendo que é diferente do (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Este aqui tem a, a parte do, do toca-discos, tem os, os amplificadores de som, aqui tem dois, mas tem mais amplificadores, tem maiores inclusive. Tem a parte de gravador. Você bota o cassete, você liga atrás da vitrola e você usa como, como cassete, e é só. Temos a parte também de gravação, nós fazemos muita gravação de fita.
DOC. -  Hum. De música.
LOC. -  De música. Porque são músicas que não saem no disco, não vai pro acetato, então que você pra conservar, você pra guardar como recordação, você passa pra sua fita particular. Então a gente guarda. E isso, esse problema pra quem está se referindo à casa é tremendo pra uma dona de casa, viu, porque é uma coisa enorme pra se guardar.
DOC. -  Vocês têm muitas fitas gravadas?
LOC. -  Fita e disco.
DOC. -  E aí? Como é que vocês fazem? Porque eu não estou vendo discos.
LOC. -  Não, nós temos algumas. Eu ontem peguei algumas. Tem um pouco aqui, um pouco ali. Mas isso aí é, é uma parcela mínima do que nós temos. Tem metade na casa da minha sogra, a parte de cima dos meus armários estão cheias. Quer dizer que é muito complicado. Disco e livro é uma parada!
DOC. -  Agora uma última coisa assim antes de terminar (sup.)
LOC. -  (sup.) Hum (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) está quase acabando. Assim, quais são, eh, assim, tipos de lugar onde a pessoa pode morar, assim a depender se mora na cidade ou se mora, eh, no interior, né, quer dizer, numa zona mais rural ou de acordo com o nível social, etc.
LOC. -  Mas ... Ih, eu não entendi bem a sua pergunta, não.
DOC. -  Por exemplo, você mora num apartamento, você pode morar numa casa, né?
LOC. -  Certo.
DOC. -  Pode ser uma casa, pode ser uma fazenda, que outros tipos existe assim de assim de lugar para se morar? Variando assim, na cidade, no campo, na praia, né, ou se a pessoa é pobre, ou se a pessoa tem ...
LOC. -  Ah, você quer (sup.)
DOC. -  (sup.) Se é rica, né? Os tipos de moradia.
LOC. -  Tipo de moradias. Bom, você sai desde uma casa suntuosa, um palácio magnífico até um casebre miserável, ou como eu já vi lá em Friburgo, um lugarzinho cavado na terra, cobertinho de folhinha de sapê e ali, por incrível que pareça, moravam, duas pessoas, feito uma toca. Quer dizer que você tem o quê? Você tem um palácio maravilhoso, como eu tenho uma amiga que mora, uma amiga, senhora já idosa, mora sozinha, numa casa suntuosíssima, maravilhosa, com piscina, não sei quantos quartos, etc. etc. até essa pobre toca que eu encontrei num, num lugar que é cidade, que é Friburgo, com duas pessoas dentro. Quer dizer que você tem a casa enorme, tem um apartamento maravilhoso, você tem um edifício de duzentos apartamentos, você tem um edifício enorme com cinco apartamentos, você tem a casa da classe média, classe de subúrbio, que é inteiramente diferente da classe, da casa da, da, da zona sul, aquela casa tão engraçadinha, com as calçadinhas, aqueles lampiõezinhos antigos. Eu acho a coisa mais linda, né? Aquelas cadeirinhas colocadas nas calç... nas calçadas, as pessoas de cabecinha branca, tão bonitinho. Você tem a favela, a coisa, o barracão, o casebre, enfim, como tem no ... Agora meu irmão me escreveu uma carta, ele está no Amazonas, trabalhando na Transamazônica, as casas tristes, em cima de rios com aquelas, os pilotis pobres, né, colocados em cima de, de sujeira e, enfim, eu nem sei como é que são, como é o nome dessas, dessas casas em cima de rio, como é que é? Você sabe, essas com ... Tem um nome, eu esqueci agora. Enfim ...
DOC. -  Está bom.
LOC. -   Acabou?