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PROJETO NURC-RJ

DIÁLOGOS ENTRE INFORMANTE E DOCUMENTADOR (DID):

Tema: "Alimentação"
Inquérito 0080
Locutor 0093 - Sexo masculino, 44 anos de idade, pais cariocas, professora de desenho. Zona residencial: Suburbana
Data do registro: 23 de agosto de 1972
Duração: 52 minutos


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DOC. -  Por exemplo, basicamente o senhor podia descrever, eh, o que que o senhor come, de manhã, na hora do almoço, na hora do jantar, do lanche. Pode falar.
LOC. -  Bom, eu, desde ce... desde criança mesmo, a minha alimentação da manhã sempre foi a mingau. Eu fu... eu sempre toma... eu fui sempre alimentado a mingau, né? Outras vezes por exemplo assim uma gemada, mas de um modo geral eu dificilmente tomo café, café, pão e manteiga de manhã. Aliás fa... honestamente mesmo eu confesso que eu estou até destreinado. Quando eu sou obrigado a mastigar de manhã eu sinto o maxilar cansado, porque eu não estou acostumado a mastigar de manhã. Por exemplo, o pão, de manhã, eu só como assim talvez aos domingos, durante a semana dificilmente eu como pão. O meu café de manhã é prato de mingau e café.
DOC. -  Mingau de quê?
LOC. -  Aí varia, aí varia. Não, não tem um ... Há umas diversas farinha. Por exemplo, lá em casa a, a mãe usa muito por exemplo creme de arroz, aveia Quacker, às vezes de tapioca, creme de milho, digamos, tem uma, tem uma outra que usa atualmente. Acho que é farinha láctea, né? Tem farinha láctea. Quer dizer o café da manhã mesmo se resume sempre nisso, né? Agora após essa refeição de manhã eu geralmente eu fico até a refeição na base de cafezinho. Também dificilmente eu mastigo antes do almoço. Agora na hora do almoço eu pego bem. Na hora do almoço eu sou um bom garfo. A minha, a minha alimentação, principalmente a do almoço, tem de constar o feijão. Se não entrar o feijão eu fico meio desarmado. Agora se tiver um arroz, bom, de modo geral lá em casa varia muito, sabe? Eu por exemplo muito embora seja muito comum talvez a, a maioria dos carioca ... Comigo é muito raro por exemplo comer um bife, bife, batata frita, ovos estrelados, isso é muito difícil comigo, porque geralmente lá em casa é o feijão, arroz, agora não sai ... O complemento varia. Pode ser um ensopado, aí pega aquelas, como se diz, aquela cozinha toda peculiar do carioca, né?
DOC. -  Essa é que eu queria que o senhor dissesse qual é?
LOC. -  Bom, nós por exemplo lá em casa o que mamãe usa muito, por exemplo o ensopado. O ensopado, agora o ensopado é variado, né? De um modo geral entra sempre carne, lá em casa pelo menos às quartas-feiras, hoje, mamãe gosta de comer peixe. De um mo... ah, eu afirmo, de um modo geral, a nossa cozinha é muito variada, porque não se repete lá em casa pelo menos o mesmo ensopado dois dias consecutivo. Agora tem por exemplo dia para se, ela usa, existe por exemplo o ensopado de batata, batata e, tem batata e carne fresca, carne-seca, tem abóbora com carne-seca, tem, nós aqui usamo muito aquele, batata, batata, lombo, batata, lombo, lingüiça, tripa, couve, a, a couve com carne-seca, o que mais? Em casa usamos também umas, eu sei o nome da, são uns legumes que é por exemplo assim: cenoura, cenoura ... Entra, são va... vários legumes, acho que é cenoura, cenoura, vagem, às vezes também um ensopado de chuchu.
DOC. -  E assim dia de sábado, domingo, tem um almoço diferente?
LOC. -  Ah, bom, de um modo geral sempre, sempre se melhora o domingo. Eu por exemplo domin... Ah, lá em casa minha mãe é apaixonada por um pato, né, por um ... Inclusive até domingo passado, por ocasião do aniversário de minha mana, nós tivemos a oportunidade de comermos pato. Se bem que eu já criei pato, né? Atendendo às exigências de casa, aliás a ge... eu quando chego a tomar uma gemada de ovos, ge... ge... gemada na parte da manhã, normalmente a minha gemada são de ovos de pato, que dizem ser um, uma gemada mais forte, né? Aliás eu quando estive criando pato eu tive um colega que esteve doente e eu presenteei ele com meia dúzia de ovos de pato, realmente ele não suportou. Ele tomou acho que uma gemada só, porque inclusive ele era meio fraco, ele não conseguiu, porque a reação para ele foi muito violenta. Porque lá em casa quando nós tomamos gemada de manhã, é gemada de ovos de pato. Agora a parte do domingo assim varia, por exemplo um peixe assado, acom... acompanhado daqueles molho, por exemplo com camarão, às vezes farofa, galinha, aí ali tem, tem galinha a molho pardo, galinha assada, aí varia, varia.
DOC. -  Esse pato que fizeram no aniversário da sua mãe foi preparado de, de que modo?
LOC. -  Bom, esse pelo menos foi assado normalmente. Agora pelo menos mamãe gosta muito por exemplo no nor... no natal, ela gosta muito de fazer o pato recheado, quer dizer que ela tira o ... Esvazia o pato, né, tirando todos os seus ingredientes internos, e faz aquela farofa e geralmente nós mandamos até assar na padaria, né? É is... ah, inclusive nessa farofa entra alguns artigos de natal por exemplo, acho que é ameixa, acho que é ameixa, entra castanha, nessa farofa entra castanha. Me parece, eu não vou precisar, mas me parece que entra também abacaxi. E fica um prato agradável, sabe?
DOC. -  Essa farofa tem um nome assim especial?
LOC. -  Ah, não, não. É uma farofa comum, né, que geralmente é feita com ingrediente do que foi retirado do pato, por exemplo de, bom (inint.) é o coração, fígado, aquele negócio todo do pato, acompanhado de farinha, farinha, ovos, azeitona, aquele tempero característico, né?
DOC. -  E à noite normalmente como é a sua refeição?
LOC. -  Bom, eu atualmente, eu atualmente eu estou reduzindo um pouco a minha refeição, sabe? Estou, porque eu estou meio gordo, e geralmente quando eu chego em casa eu chego cansado. Quer dizer que aí janto, quando mais ou menos no máximo uma hora após eu estou me recolhendo. Quer dizer que eu estou procurando aliviar. Quer dizer que nós estamos, ah, ah, por exemplo procurando fazer sempre, sempre uma refeição leve. Pode ser uma sopa, pode ser uma salada, uma salada tipo maionese, arroz, eu por exemplo eu sou amante do pão. Eu, eu além de comer farinha, porque quando eu como feijão, farinha acompanha. A minha farinha normalmente é uma farinha torrada, que eu, que há muitos anos mesmo que eu deixei de comer farinha crua. Não sei por quê. Talvez por ter tido a oportunidade de me aproximar da farinha, da farinha torrada, me agradei mais, aí passei a usar mais a farinha torrada. Agora dizem que quem come farinha não come pão, mas eu por exemplo na minha refeição eu noto, e para mim a minha refeição não será completa se o pão estiver ausente. Eu como muito pão na minha refeição.
DOC. -  E o senhor, o senhor faz três refeições por dia? Pelo que o senhor falou, não é?
LOC. -  Olha, o certo mesmo é, por exemplo, é o café, é o prato de mingau de manhã, o almoço e o jantar. Difícil, difícil, eh, dificilmente eu faço um intermediário. Tanto do café matinal pra man... pro almoço, como do almoço pro jantar, mas é muito raro mesmo. Agora, quer dizer, as... sempre fico na base de cafezinho. Por exemplo, se eu tiver fome, por exemplo, quer ver, se eu vier à cidade, eu venho à cidade, eu não ... Dificilmente faço refeição fora de casa. Eu não gosto mesmo de ... Eu fiz a refeição ... Na minha época de universitário, se eu não fizesse a minha refeição ou no restaurante, de início lá no Calabouço, se eu não fizesse lá, e posteriormente nas faculdades, eu dificilmente eu faço uma refeição, uma refeição fora de um desses ambientes, sendo que agora eu estou desligado disso, quer dizer que a refeição ou faço em casa de parente que moram, meus parentes moram na zona sul ou então faço refeição em casa. A não poder, eu prefiro mil vezes, e me sinto bem, por exemplo ficar na base de cafezinho, até chegar em casa. É muito raro por exemplo quando eu entro numa, numa, numa lanchonete pra comer um sanduíche, tomar uma Coca-cola, é muito difícil mesmo. Eu posso contar a dedo o tempo que eu fiz isso, acho que, acho que talvez nunca tenha acontecido isso. Porque se eu fizer isso, se eu fizer isso eu sinto até mal, né? Agora se eu ficar na base de cafezinho eu posso, digamos assim, almoçar duas, três, quatro horas da tarde.
DOC. -  Agora, tem muita gente que não faz refeições em casa, né? Faz ...
LOC. -  Faz fora.
DOC. -  Fora, faz na cidade, quando vem trabalhar na cidade, aí o senhor podia dar uma idéia assim dos lugares a que essas pessoas vão e o que que elas comem geralmente.
LOC. -  Bom, as pouquíssimas vezes que eu fui obrigado a almoçar fora ... Por exemplo, eu me lembro que uma vez eu almocei no Reis, um restaurante famoso que teve aqui na Almirante Barroso, defron... defronte ali onde está a atual Caixa Econômica, aquele prédio ali teve um restaurante famoso, conhecidíssimo aqui na Guanabara, restaurante Reis. Ali por exemplo, quem fosse fazer refeição ali, tinha oportunidade. Ao entrar tinha várias panelas aonde escolhia o prato que quisesse (inint.) por exemplo não havia um prato típico pra ser servido. A pessoa chegava assim, examinava naquelas panela o que queria. Agora, em pensões, na época que eu fui bancário, isso lá por volta de cinqüenta, cinqüenta e, digamos, de cinqüenta e seis aos cinqüenta e oito, mais ou menos, em pensão o pessoal já tem um prato feito, né, que geralmente é feijão, arroz, que aliás, o feijão e o arroz na verdade é o seguinte: o feijão e o arroz é a, é a tônica do carioca. É muito raro mesmo o carioca que não coma isso. Agora feijão e arroz e acompanhamento de um complemento. Esse complemento aí varia. De um modo geral, em pensão de um modo geral entra sempre a carne, sob, ou sob forma de bife ou ensopado com batata-inglesa, né, batata-inglesa. Ah, e até sobre isso eu me esqueci, eu por exemplo, eu gosto da ... Aliás, na época que, há muitos anos, que eu levava, levava comida de casa, um prato que lá em casa foi feito, que eu gostei mesmo e gosto até hoje, é a batata-doce. Ela é cozida e após cozida ela é passada na frigideira. Faz uma espécie de batata frita, mas ela é cozida anteriormente. Atualmente lá em casa também a mamãe usa muito aipim, o aipim ele é, ele é frito, né, mas antes ele é cozido, cozido, depois é passado na, na banha tostando, digamos.
DOC. -  O senhor falou que o senhor levava comida?
LOC. -  Ah, levava comida, e na minha, e na minha comida ... Ah, por exemplo um ensopado que até hoje, também foi bom vir a lembrar, é um ensopado de quiabo com carne fresca. Inclusive na época que eu levava ... Isso, eu digo na época, porque eu antes de ser bancário, ser securitário, eu fui operário e na época de operário levava-se, levava-se a marmita, né, que eu nunca me dei em alimentar-me fora de casa, quer dizer que eu preferia mil vezes levar comida. Quer dizer, pelo menos na minha, na minha refeição, na minha marmitazinha constava sempre o feijão, arroz, tônica dominante, e se pudesse, botasse na minha (inint.) botasse na minha marmita, a semana toda, um ensopado de quiabo com carne fresca e a batata-doce frita, estava satisfeito.
DOC. -  E os outros? Todos levavam também ou ...
LOC. -  Não, estou dizendo eu.
DOC. -  Sei, mas e os outros que trabalhavam com o senhor também levavam?
LOC. -  Ah, levam marmita. Mas aí varia, né?
DOC. -  Varia?
LOC. -  Ah, varia, porque eu pelo menos tenho ... Vai, vai entrar muito em, vai entrar muito em evidência a origem do elemento. Eu por exemplo, eu sou compadre de uma família, de uma, de uma moça que inclusive sou, fui padrinho, eu com a minha irmã, fui padrinho de, de casamento e padrinho do primeiro filho que é tradicional na Espanha, né, o padrinho de casamento batiza o primeiro filho. Por exemplo, essa família é uma família espanhola eles, pelo menos eu vi, de ficar horrorizado de comerem peixe cru. Agora, é comum pra eles, o carioca não aceita isso de jeito nenhum. Eu por exemplo aqui em casa mamãe faz, por exemplo, peixe frito, peixe cozido, aí sai. Mas por exemplo um peixe cru, mas pra eles isso é comum.
DOC. -  O senhor costumava, eh, fazer refeições com eles, eventualmente, uma vez ou outra, almoçar ou jantar na casa deles? O senhor se lembra?
LOC. -  Não, não, jantar na, é muito, muito difícil, jantar, não. É que eles eram meus vizinhos, né?
DOC. -  É pra ver se o senhor via muita diferença no tipo de comida deles e da sua casa aqui.
LOC. -  Ah, isso há. Há porque, por exemplo, olha, eu, eu, por exemplo nessa família, esse problema do peixe cru, eles comiam peixe cru, nós, eu vou, vou me arriscar em dizer que talvez o brasileiro não coma, talvez o brasi... mesmo o índio, né? Eu acho que ele não coma, porque inclusive ele deve pegar o peixe, deve dar algum tratamento, pra tirar aquele, aquela condição de totalmente cru. Agora por exemplo eles também (inint.) muita, muita facilidade. Alguns brasileiros fazem isso. Eu já ... Apesar de gostar muito de tomate, nós geralmente pegamos o tomate e preparamos o tomate, acompanhado por exemplo de um sal. Por exemplo, com eles não, eles apanhavam por exemplo um tomate, eu estou com fome passa... passava a mão num tomate e mastigava, como se o tomate, se o, se o tomate já estivesse preparado. Nós, brasileiro, e acredito mesmo que ... Eu, por exemplo, eu gosto muito de uma salada de alface, agrião, cebola e tomate. Agora isso depois de bem lavado e acompanhado por exemplo de sal, azeite, um pouco de vinagre.
DOC. -  E na época que o senhor, eh, fazia refeição no Calabouço na sua, na sua época de universitário, como costumava ser?
LOC. -  Bom, as refeições lá do restaurante, tanto do Calabouço como do, da faculdade de Filosofia, porque posteriormente eu quando passei pra, pra esfera da Filosofia, porque esse curso de Belas-Artes fazia os três, os três anos de formação e aquela didática nós nos desligávamos da Belas-Artes pra pertencer à Filosofia. E eu sou formado pela Filosofia. Agora o restaurante lá de um modo geral é variado. Muito variado mesmo. Pelo menos ali a pessoa tem ... Agora apesar dessa grande variedade do prato, predominando sempre feijão, arroz, carne, sempre uma sobremesa ... Que aliás uma das relíquias que eu tenho do, do restaurante tanto do Calabouço como lá da Filosofia, o problema da sobremesa comigo é imprescindível. Se eu fizer refeição e não constar antes do café uma sobremesa, seja qual for, porque muitas vezes lá em casa, lá em casa mamãe faz a, serve o jantar, serve as refeições e após a refeição tem de ter uma sobremesa, qualquer coisa diferente do almoço.
DOC. -  E que que o senhor costuma ...
LOC. -  Às vezes (inint.) nós usamos muito fruta, né, banana, laranja, principalmente nós estamos na época da laranja-lima, né? Agora, banana-prata, banana-dágua, doce lá em casa é uma coqueluche porque lá, lá em casa pode a, o visitante pode talvez no momento não ter a comida pronta, mas que o doce está reservado, porque isso pelo menos lá em casa tanto a minha mãe como as minhas irmãs fazem doce. Não é por serem minha família.
DOC. -  Quais são os doces assim (sup.)
LOC. -  (sup.) Ah, vamos lá. Por exemplo elas fazem uma cocada que na escola, na escola essa cocada já está característica, sabe? Na, na reunião dos professores toda sexta-feira um professor leva uma merenda, fornece uma merenda ao grupo. A minha está imposta, porque a minha tem que ser a tal cocada. Porque a cocada, não sei por que a, a mana tem uma, uma mão bendita pra isso, né? Ela faz uma cocada que o pessoal lá disse que nunca comeram uma cocada igual.
DOC. -  E como é que é? Sabe como é que faz essa cocada? Tem idéia assim de como é que elas fazem?
LOC. -  Ah, eu sei que rala coco, coloca, acho que coloca água e açúcar, pra pegar um determinado ponto e depois associa o açúcar, associa o coco ralado. Quer dizer que aí depois quando tem determinado ponto, ela tira, tira da panela, coloca na, na pedra mármore, ela esfria, então vai tomando aquela consistência da cocada. Agora o pessoal que entende de cocada dizem que a coisa é espetacular, né?
DOC. -  E a... além de cocada há outros doces?
LOC. -  Ah, tem, lá em casa quase, tem a (inint.) lá em casa mamãe ou, ou as manas fazem bolo ao domingo, que leva bolo de domingo a sábado. Agora doce por exemplo, doce de banana, doce de banana, isso feito em casa. Às vezes ela compra essa bananada cascão também pra sobremesa.
DOC. -  E, e nessa merenda da escola, eh, o que que os outros levam?
LOC. -  Bom, de um modo geral, eles quan... eles quando levam a merenda, eles mandam, eles levam sempre uma, uma espécie de um empadão que eles man... tem uma panificação lá por perto da escola que eles mandam fazer, que cons... É uma, uma, é um sanduíche, porém um sanduíche levado ao forno, porque se nota que, eh, são aquelas duas, as duas rodela de uma massa, agora recheada por exemplo de presunto, de alguns ingredientes. Quer dizer que leva aquilo ao forno fechado, formando um tipo de empadão. Que agora de um mo... quem leva mais, quem leva mais merenda assim feita em casa sou eu, tem uma outra professora que leva uns docinho de coco, porque o grosso mesmo dos colega, o grupo mesmo se preocupa mais, se preocupa, não, talvez por falta de tempo, né, eles passam na padaria manda, ah, o, também a pizza. E aí também é muito usada a pizza, come-se como merenda lá do pessoal.
DOC. -  E na sua casa vocês costumam comer massas?
LOC. -  Ah, comemos. Comemos e inclusive lá em casa a mãe também gosta muito de fazer sopa, muito embora eu particularmente não seja amante de sopa, porque eu acho que eu quando como sopa eu me sinto um pouco vazio, tanto so... a sopa ... Inclusive um prato também que às vezes lá em casa dia de domingo aparece é o mocotó. Não sei se já comeram mocotó com, mocotó com batata ou pode ser mocotó com batata, eh, moco... mocotó, batata, azeitona, lingüiça, paio, ou então pode ser o mocotó com grão-de-bico, a sopa por ma... também lá em casa mamãe usa muito, a sopa com, é de massa com feijão-manteiga, feijão-manteiga, aqueles ingredientes. Quer dizer, para quem gosta de sopa porque eu, não resta menor dúvida, tenho, não vou dizer que eu tenho a vida muito agitada, não, atualmente eu estou com a vida relativamente calma, agora eu dispendo muito energia, porque desde a hora que eu acordo até deitar de um modo geral eu estou me locomovendo. Quer dizer que pra mim, eu não sei, né, eu estou muito preso a ... Se eu tomar um prato de sopa, ela pode ser muito substanciosa, mas eu sinto vazio. Eu por exemplo, eu pra me sentir bem após uma refeição em que conste a sopa, eu sou obrigado a mastigar qualquer coisa. Aí pode ser pouquinha, pouquíssima coisa, mas que dê pra mim mastigar, porque se eu não mastigar, eu sinto vazio. Quer dizer que aque... aquele, aquele processo por exemplo, na refeição, na refeição matinal, se eu mastigar de manhã eu sinto o maxilar cansado, agora se na, se após a refeição eu tomar um prato de sopa na refeições e não mastigar, eu sinto que eu estou vazio. Muito embora, por exemplo, eu levei uns colega lá em casa da faculdade, inclusive um sergipano, né, eles comeram na minha casa um moco... mocotó com grão-de-bico, dizem eles que deram na fraqueza. Eu por exemplo, eu como, normalmente eu saio, não há problema nenhum, me sinto bem porque ... Agora já esse rapaz, inclusive esse rapaz era advogado, esse rapaz aí disse que quando acabou sentiu uma fraqueza, suou e tudo, porque ele disse que é uma alimentação forte. Se é verdade ou mentira ...
DOC. -  O senhor falou nos pratos, da sobremesa, e acompanhando a refeição além de, da própria comida, da sobremesa ...
LOC. -  Bom, lá em casa, eu por exemplo, na parte de bebida?
DOC. -  É, exato.
LOC. -  Na parte de bebida, atenção, eu não sou santo não, mas não sou muito, não sou muito de bebida. Não sou muito de bebida. Haja visto por exemplo eu fui na, eu estive na Foz de Iguaçu em dezembro do ano passado, eu trouxe duas garrafas de 'caña' paraguaia. Mas a 'caña' paraguaia, uma ainda está fechada, uma está fechada que eu ainda não abri, a outra eu abri porque recebi uns colegas lá em casa, nós devemos ter tomado mais ou menos, do litro, talvez menos de um quarto, porque eu não sou muito de bebida. Quer dizer, a bebida que nós usamos muito lá em casa nas refeições ou água ou, as manas fazem muito, problema de refresco: laranjada, limonada ou então usa muito essa, esse suco concentrado, aí pode ser por exemplo de maracujá, maracujá, tem cajú, tem limão. Agora a bebida, bebida alcoólica usa-se, mas é muito raro.
DOC. -  E em ocasiões especiais, eh, dias especiais, eh, aniversário, essas festas de fim de ano por exemplo.
LOC. -  Podemos usar, eu por exemplo, eu estou com uma garrafa de uísque que eu comprei e a garrafa de uísque está fechada há mais de dois anos. Porque eu não me animo a abrir não. Não que eu não, não goste, porque eu por exemplo comigo acontece uma coisa interessante: eu não sou muito de cerveja. Agora se eu fizer um movimento violento ou pro... proveniente de um futebol, uma pelada lá entre os colegas, ou um serviço braçal, principalmente que eu gosto muito de trabalhar embaixo do sol. E tanto é que em casa eu ando, eu uso muito calção sem camisa. A gente em casa o meu, o meu traje característico em casa é descalço, de 'short' sem camisa. Agora se eu fizer movimento debaixo de um sol, ou se for à praia, a, na hora da refeição se tiver uma, duas e talvez umas três cerveja, agora, bem gelada, porque cerveja pra mim quando servida ela tem se... te... se... tem de ser tirada do congelador. Quer dizer, nessas condições eu não sei se talvez por concentrar muita caloria interna, aí eu tenho muita vontade da cerveja. Mas fora disso, por exemplo no dia de hoje, se eu tivesse de tomar, se eu ti... se o, vamos, vamos, se me chamarem pra tomar um copo de chope hoje posso tomar por uma cortesia, mas não que haja a menor atração. E bebida alcoólica, por exemplo Parati, Parati é muito raro mesmo. Aliás eu nunca fui chegado a Parati. Agora não, atenção, não digo que eu não tomo. Por exemplo, estou numa reunião assim com um colega, uma, uma cuba, um uísque, um drinque assim que, em que pese mais, tomo. Agora não sou um elemento viciado não. Inclusive eu quando trabalhava em transporte, um colega meu trouxe de Alfenas, ele trouxe meia dúzia de garrafas de aguardente destilada, que ele passou lá e me trouxe. Inclusive era, era, eram até azuis. Aquilo o que levou comigo lá em casa, talvez uns dois anos, sem eu abrir as garrafas.
DOC. -  E nas festas de fim de ano o senhor (sup.)
LOC. -  (sup.) Ah, bem ...
DOC. -  (sup.) Costuma tomar alguma bebida em especial (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Tomamos, tomamos porque, principalmente, aqui na Guanabara nessa época, a época de fes... de fim de ano geralmente aqui é quente, natal, ano-novo, aqui é quente. Quer dizer que, aí, o que tiver de gelado é uma coisa, né? E principalmente lá no Irajá eu moro há quarenta anos, sou conhecidíssimo, tem casa que eu entro como se eu estivesse entrando na minha casa. Eu entro direto vou à cozinha. Se eu tiver sede eu tenho a liberdade de abrir uma geladeira, apanhar o que eu quiser, pela convivência, né? Quer dizer que eu saio por exemplo no dia de natal assim, eu saio de minha casa, vou fazer visita a colegas, quer dizer que geralmente sou recebido com copo de vinho, copo de cerveja, às vezes copo de uísque, quer dizer que quando se mistura assim, eu por exemplo, eu por exemplo, eu nunca, nunca perdi o tino, eu nunca perdi o tino, isso honestamente mesmo, nunca perdi o tino. A única vez que houve a possibilidade de eu perder o tino, o organismo não reteve a bebida. Foi até um dia que eu me lembro bem que foi um natal e nesse dia de natal faltou, faltou luz lá no Irajá. Quer dizer que naquele calor e tudo, quer dizer que saí assim, entrava na casa de um colega, quer dizer que a cerveja estava, uma brahma-chope, estava meia, não chegava nem a estar fresca, estava iniciando a ficar fresca. Aí tomo um copo e, chega na casa de outro, tomo outro copo, aí cheguei por fim na casa de um colega onde ele tinha uma geladeira portátil e ele tinha vinho de laranja. Oh, pra quem está com calor, aquele calor causticante mesmo, quer dizer, quando ele me deu um copo de, daquele vinho de laranja, por sinal maravilhoso, aquilo bateu lá dentro, quer dizer que a minha sorte foi que o organismo n~ao resistiu, porque bateu lá, mexeu com o estômago aí tudo, eu devolvi tudo. Foi a única possibilidade, ora eu estou com quarenta e quatro anos, foi a única possibilidade que houve, que aliás eu já previa, heim! Pelo que eu estava fazendo, eu já previa a possibilidade de eu, de perder a lucidez. Fora disso, nunca.
DOC. -  Quem é que faz as compras na sua casa de comida?
LOC. -  A minha irmã. Eu tenho uma irmã que faz.
DOC. -  E onde?
LOC. -  Geralmente ela está, ela faz ou no mercado, porque agora eu estou com carro, né, quer dizer, por exemplo tem dia que eu vou, por exemplo sábado. Sábado eu largo da escola quatro e meia, quer dizer que então ela vai no mercado de Madureira, ela vai, digamos, umas quinze horas, aí faz as compra toda e fica no ponto me esperando, que eu saio da escola, estico a Madureira e apanho. Porque ela faz, por exemplo, lá no Irajá tem duas feiras, uma feira domingo, uma feira quarta-feira, hoje, quer dizer que então se abastece a casa.
DOC. -  No mercado e na feira?
LOC. -  Não, no mercado e na feira inclusive também tem uma, essa parte por exemplo de arroz, feijão, massas, assim, existe uma, um departamento da COBAL aonde nós vamos lá, ela compra a comida toda do mês (inint.) esse problema de verdura, tem sempre um verdureiro que passa lá na porta, tem verdura fresca, carne também ela não costuma comprar carne pra, pra conservar na geladeira, isso não funciona.
DOC. -  E a quantidade que vocês costumam comprar normalmente, vocês, o senhor falou em abastecimento, é por quanto tempo, pra quanto tempo?
LOC. -  Bom, geralmente leva quase que um mês, né? Por exemplo eu acho que arroz por exemplo, eu me lembro de arroz, eu não vou lhe garantir se ela, se ela compra vinte ou trinta, porque ela compra os pacotes de cinco quilos. Acho que é, acho que é isso, vinte ou trinta quilo, ela compra que dá pro mês. O feijão também, o feijão acho que é dez quilos, porque de um modo geral mamãe quando faz feijão lá em casa é pra, leva dois, três ou quatro dias, né?
DOC. -  Quantas pessoas são?
LOC. -  Lá em casa somos eu, minha mãe e duas irmãs e tem a afilhada da mamãe, que já é uma moça feita, que vive conosco. Nós éramos, éramos ao todo, éramos três casais: os pais e três filhos e, dois casais de filhos, o meu mano, o que era mais velho que eu faleceu, quer dizer que então agora fiquei, de filhos eu e as duas irmãs e com o falecimento do meu velho ficou minha mãe. E agora tem essa garota que é afilhada da mamãe e vive conosco, é praticamente irmã de criação, né? Ela foi pra casa, lá pra casa, talvez com uns, uns três anos, três ou quatro anos, ela já deve estar com vinte e pouco, quase trinta.
DOC. -  E cada um tem uma preferência assim de comida ou ...
LOC. -  Não, nada, lá em casa a comida que é feita pra um é válida pra todos. Lá em casa, todos lá em casa são bom boa (sic), são boa boca. Não se faz comida especial.
DOC. -  E assim, e na feira, o que que é comprado na feira que o mercado não oferece?
LOC. -  Bom, na feira, a feira, que eu me recorde assim de pronto, porque a fruta é comprada tanto na feira de domingo como na de quarta, as de hoje, né? Agora, por exemplo, na de hoje, mamãe compra, costuma muito comprar peixe, porque tem uma barraca de um peixeiro lá que tem, fornece a mercadoria fresca. Agora o que mais? E geralmente a, na feira, pelo menos na de hoje é peixe, frutas.
DOC. -  Que frutas?
LOC. -  Banana, banana, laranja. A laranja lá em casa, porque inclusive eu tenho uma mana que ela já gosta mais da fruta ácida, ela já não, eu pelo menos eu não aceito, não aceito fruta ácida de maneira alguma. Por mais simples que seja. Eu muitas vezes por exemplo uma laranja seleta, uma laranja seleta, uma sa... uma laranja relativamente doce, mas a, o, o pouquíssimo que ela tem de acidez pra mim eu já não aceito. E pra mim a laranja tem de ser do tipo laranja-lima. Agora a banana, compra-se muita laranja, laranja-lima, laranja seleta, às vezes a pera, laranja pera, maçã, pera, uva, agora, e verduras, né?
DOC. -  Quais?
LOC. -  Agrião, o agrião, o alface paulista, essa alface comum, a mamãe usa ce... celga, né celga? Acho que tem uma, é celga, sim. Celga, chicória, o que mais? Bertalha, bertalha também se usa, inclusive existe em ensopado, aliás lá em casa minha mãe costuma fazer, eh, bertalha com carne fresca. Bertalha com carne fresca funciona.
DOC. -  O senhor falou em alface paulista e em alface comum, qual é a diferença?
LOC. -  Olha, eu não, não, não entendo de dona de casa, mas, mas existe sim, existe alface, a alface paulista é uma alface, ela é uma es... uma espécie de um repolho, e a alface comum ela é tipo uma chicória.
DOC. -  E outra coisa que eu gostaria assim de saber em relação a alimentação, eh, o senhor trabalha numa escola né? E deve ter a oportunidade de ver assim o que que os alunos de um modo geral, eh, tomam na escola de, nos intervalos assim de aula, no recreio (sup.)
LOC. -  (sup.) A criança, a criança até seus, a criança de um modo geral, sempre ... Eu sou professor secundário, né? Porque não existe aquele problema de merenda escolar, lá na escola nós não temos esse problema. Quer dizer que o que geralmente as criança usam muito esse refrigerante atuais por exemplo, eh, Crush, Crush, Coca-cola, Pepsi, raramente, raramente um aluno leva uma merenda de casa, porque eles chegam lá compram o que a cantina fornece, né? Aí é pastel, sanduíche, essas gulodices todas, esses bolinhos que, é muito difícil uma criança atualmente levar merenda de casa.
DOC. -  E essa cantina oferece assim só ...
LOC. -  Bom, eu digo, eu digo oferecer o seguinte, oferece de, a criança adquirindo através de pagamento, né?
DOC. -  Hum, hum. Mais o quê? Além dessas coisas? Normalmente (sup.)
LOC. -  (sup.) Bom, não, sei lá, por exemplo esse refri... refrigerante, pastéis, que inclusive tem uma senhora que acho que fornece, fornece pra cantina, pastéis, pão doce, pão doce, esses bolinho por exemplo, tem um bolinho, bolinho, uma espécie dum bolinho de chocolate. E o mais mesmo é bala, esse, bala, chocolate em tubo.
DOC. -  E não costuma ficar também esses vendedores de, nas portas? (sup.)
LOC. -  (sup.) Ah, bom, no, no, por exemplo no, no José do Patrocínio que eu trabalho, José do Patrocínio, a criança, o, o prédio o, o terreno da escola é todo murado, quer dizer que de um modo geral na hora do recreio fecha o portão, não há contato de aluno e pessoas fora do colégio. Quer dizer que o vendedor, se é que aparece, ele não tem contato com as criança. Quer dizer que as criança, se não levarem a merenda de casa, eles serão obrigados a fazer uso da canti... da cantina. Agora, em, em outros, como por exemplo no João Batista de Matos, tem um vendedor. Aí eu não, não posso discutir, mas deve, deve ser mais essas gulodice toda, né? Por exemplo já, es... esses amendoim da Kibon, problema de sorvete.
DOC. -  Que sorvetes?
LOC. -  Sorvete é da, sorvete da Kibon, né, esse sorvete que, que usa, que usa, comum.
DOC. -  Quais são os tipos?
LOC. -  Ó, que eu me lembre, bom, tem o sorvete de coco, é, acho que é coco, creme. O que eu uso da Kibon que aliás é o único que eu gosto é aquele Eskibon, é Eskibon, né, aquele tabletezinho de chocolate recheado de coco, né? Aquele é que eu gosto e que eu uso.
DOC. -  O senhor falou que faz três refeições, agora o senhor se lembra quando, da sua época de criança, se havia qualquer diferença, se vocês costumavam fazer três refeições ou não? O senhor lembra de alguma coisa?
LOC. -  Bom, estou dizendo eu, porque pe... pelo menos as minha, o meu pessoal lancha. O meu pessoal lancha no período de, de almoço pro jantar, eu não, que eu sou muito difícil, agora aí por exemplo tem, lá em casa por exemplo mamãe faz, ela, por exe... por exemplo: bolo de aipim, tem, tem bolo de fubá e geralmente um mate, um refrigerante, um mate, pode ser um mate, uma limonada, uma laranjada. Por exemplo, quando não tem o bolo de aipim, quando tem um cus... um cuscuz, aí usa por exemplo a, aí fazemos um sanduíche, porque inclusive nós temos uma, lá perto temos uma panificação que fornece um presunto fresquinho, agradável ali, né? Porque geralmente elas fazem uso disso. Agora eu não, eu sou muito difícil mesmo.
DOC. -  E o senhor conhece por acaso assim pratos típicos que não sejam cariocas? Brasileiros, outro tipo de cozinha, de comida?
LOC. -  Olha, eu por exemplo, nessa viagem que eu fui ao sul agora, nós saímos do Rio e paramos na churrascaria Comanche, lá na serra de Itape... Itapericica (sic), se não me falha a memória. Olha, de São Paulo, eu passei acho que foi, acho que foram seis dias. Durante seis dias de São Paulo a Foz de Iguaçu e volta, o que eu me fartei foi de churrasco.
DOC. -  Como é que é esse churrasco?
LOC. -  Ah, churrasco, vou lhe contar. Inclusive nessa, nessa churrascaria de Comanche é uma parada. Inclusive eu não conhecia, heim? Eu não, realmente eu não conhecia. Lá por exemplo, você conhece? Conhece essa, essa churrascaria?
DOC. -  Não. É diferente das daqui?
LOC. -  Ah, é.
DOC. -  Porque que é diferente?
LOC. -  Totalmente diferente. Inclusive quando a, a, eles só servem o churrasco. Só servem a carne. A pessoa chega assim, na hora da refeição entra, tem uma, uma mesa enorme, mesa muito variada, mas muito mesmo, mesmo. Ali a pessoa vai tem mai... tem de tudo, tem maione... eu con... confesso, me confesso incapaz de descrever o que, o que consta a mesa. Maionese, banana cozida, banana frita, e, mas tem uma porção de coisa. Quer dizer que a pessoa pega uma, um prato, chega ali se serve à vontade, à vontade. Aí vai à mesa, come aquilo. Quando está terminando, aí é que o garçom vai servir o churrasco. Ele não serve nada diferente de churrasco. Ele só serve a carne. Agora a carne por exemplo vem filé, depois do filé vem acho que maminha da alcatra, vem, depois que a pessoa come isso, eles aí trazem lombinho, termina o lombinho a pessoa já não está aceitando mais nada, mas aí vem o galeto, não, minto, antes disso tudo, começa a lingüiça. Eles trazem uma lingüiça. Depois da lingüiça é que vem filé, vem maminha da alcatra e ainda vem, tem uma outra, tem uma outra carne, carne verde. Eu sei que depois dessas, aí vem a, vem o lombinho, o lombinho a pessoa já, já não pode mais, né? Mas aí, é, aí vem o galeto. Inclusive isso nós, eu fui ob... eu fui observando da, desde São Paulo até o Paraná. E me parece, eu não afirmo, me parece que da, todo o sul é nesse sistema.
DOC. -  E Minas? O senhor conhece Minas, né?
LOC. -  Minas conheço.
DOC. -  Da cozinha mineira o senhor gosta? (sup.)
LOC. -  (sup.) Eu confesso, eu sou um bom garfo, sabe? Eu sou um bom garfo. Eu gosto muito da cozinha mineira.
DOC. -  Quais são os pratos assim mineiros que o senhor lembra assim que gosta?
LOC. -  Bom, eu por exemplo, quando eu estive nessa, nessas visita que eu fiz a, a Cambuquira e a São Lourenço, eu chamava o garçom logo de início e dizia a ele que a, a tônica pra mim é o feijão. Eu chamava e dizia mesmo, porque eu sei que na, aí pra fora, por exemplo, nesse período que eu fui agora pra, pra Foz de Iguaçu, eu acho que eu só devo ter comido feijão uma vez. Eu só comi uma vez lá, lá no, na Foz do Iguaçu. Porque daqui até lá, não. Daqui até lá geralmente predominava esses prato assim. Agora por exemplo em Minas, predomina muito a carne. Tanto a carne verde, como a carne de galinha.
DOC. -  Carne de quê?
LOC. -  Galinha.
DOC. -  De galinha.
LOC. -  Bom, agora, principalmente a carne verde. O, o fi... o filé, filé, carne assada, bom, carne assada já não é tanto, mas o filé quase, eu acho, eu acho que o, o mineiro, pelo menos, São Lourenço e Cambuquira, pelo menos São Lourenço e Cambuquira, o problema da carne no almoço e galinha no jantar, eu acho que isso é diário. Por exemplo num domingo assim, eu me lembro que em Cambuquira, num domingo eles comem esse, eles ofereceram a feijoada. Mas já não é uma feijoada tipo da carioca.
DOC. -  Qual é a diferença entre a feijoada mineira e a feijoada carioca?
LOC. -  Bom, falan... falando lá pela minha casa, que aliás minha velha gosta muito de fazer, agora feijoada lá em casa por exemplo eu acho que do, do porco, do porco entra todo o ingrediente do porco. E a, e a ...
DOC. -  Quais são esses ingredientes de porco que entram na feijoada?
LOC. -  Ah, vamos ver: ore... orelha, orelha, tripa que é bucho, né, orelha, bucho, cabeça, rabo. Ah, não, como é, os pés, pezinho de porco, o que mais? Existe também uma parte do porco que é acho que é, não sei se é denominada pele do porco. É a pele do porco. É a pele do porco que se compra e coloca na feijoada.
DOC. -  Mas isso é ao natural ou, ou já compra com algum preparo?
LOC. -  Ah, não, ao natural. A pessoa compra ao natural e prepara em casa. Prepara que eu digo é o seguinte: chega em casa, cozinha isso antes de misturar com o feijão, né? Antes de botar no feijão cozinha tudo isso. Cozinha, limpa, pra depois quando che... quando chegar a ser, porque me parece, me parece que a duração de, de, de cozinhar esse material 'e mais demorada do que o feijão, quer dizer que não, não mistura não, lá em casa pelo menos mamãe não mis... não cozinha junto, mistura depois.
DOC. -  Mistura depois (sup.)
LOC. -  (sup.) Mistura depois, mas é cozido separado.
DOC. -  Não, porque tem, às vezes eu vejo umas que já vêm mais ou menos preparado, nos supermercados assim ...
LOC. -  Está, inclusive tal... talvez com o advento do modernismo, talvez o progresso das grandes cidades, isso, está se tornando comum as pessoas comprarem nas mercearia a alimentação quase que pronta. Eu pelo menos lá em casa, um pastel lá em casa, tanto a minha mãe quanto as minhas irmãs fazem a massa. Mas já disse que essas mercearia estão vendendo massa pronta, né? A pessoa compra, compra o pastel pronto é só che... é só chegar em casa, botar na banha e está pronto. Lá em casa não usamos isso.
DOC. -  Quer dizer, eh, como, essa, esses ingredientes todos do porco, isso deve ser difícil de encontrar, não?
LOC. -  Não, compra na, compra bem lá nos açougue.
DOC. -  Nos açougues?
LOC. -  Compra. Bucho, bucho, orelha, cabeça, tudo isso compra.
DOC. -  Até ao natural vende? (sup.)
LOC. -  (sup.) Ao natural, não, porque inclusive ele, eles matam o animal, matam o animal e retalha.
DOC. -  Retalha?
LOC. -  Retalha o animal.
DOC. -  É diferente desses que a gente acha em supermercado que é, sei lá, assim, salgado?
LOC. -  Não. Ah, não, atenção! Tem, tem, tem de, tem de, salgado ou não. Tem de salgado ou não. Me parece que o, o da feijoada, me parece que o da feijoada é o salgado. Já ele, ele é salgado. Agora a pessoa pode, a pessoa pode usar ao natural. Pelo menos lá no Irajá nós na, aliás no Irajá, nessas feira aí do subúrbio é comum. A pessoa vai assim, inclusive eu tenho um tio que mora em Copacabana e constantemente está indo lá em casa porque ele gosta muito do bairro. E quando ele vai lá em casa, nós vamos sempre à feira. Pelo menos na feira, o elemento mata um porco, mata um porco, retalha o porco e vai vender na feira. Agora na feira já (inint.) a pessoa quer, digamos, um quarto, apanha um quarto, eu não quero um quarto, eu quero a cabeça, quero a orelha, quero o rabo, quero ... É chispe, o pé do porco, o pé do porco é, porque o mocotó é o do boi, e o do porco é chispe.
DOC. -  Sei, mas aí dessa feijoada carioca, eu estou, agora eu estou interessada na receita (sup./risos)
LOC. -  (sup.) É chispe, é chispe.
DOC. -  Entra tudo do porco e o que mais? (sup.)
LOC. -  (sup.) Bom, e o que mais? Mais lingüiça, paio, lingüiça, paio, carne-seca, carne-seca, lombo, os ingredientes do porco mais carne-seca, lombo, paio e lingüiça.
DOC. -  O que que é esse lombo? Não é de porco?
LOC. -  Não sei, esse lombo comum. Esse lombo deve ser esse lombo salgado. Me parece que também é de porco, né? É, parece, parece que é de porco. É de porco? Não, acho que o lombo não é de porco, não. Eu não vou garantir não, mas eu acho que o lombo não é de porco não, não é feito do porco não.
DOC. -  E o feijão?
LOC. -  Ah, o feijão lá em casa é o feijão-preto. Pra, pra feijoada é o feijão-preto. Geralmente o Ube... o Uberabinha.
DOC. -  E o senhor come dos outros também?
LOC. -  Comemos. Inclusive hoje eu comi um que eu não sei o nome, sei que é um pequenininho assim, não sei se é chumbinho, é um que tem uma pinta preta. Agora esse, ele não é feito no tipo, por exemplo, ele é servido, esse, esse, por exemplo foi o almoço de hoje. Esse feijão ele é se... ele é preparada juntamente com bacalhau, bacalhau, legumes, por exemplo: abóbora, cenoura, chuchu, batata- doce, batata-inglesa, nabo, abóbora, e geralmente esse, esse pa... esse, eh, faz aquela panela, é quase que uma, que nem o pessoal lá em casa está dizendo que é uma comida, dizem que é uma comida forte, quer dizer, comple... ele completa geralmente o arroz, quer dizer que é servido sempre com o arroz, né, esse prato. É um prato frio, que esse tipo de feijão, ele não é, não é servido quente, ele é um prato frio. E é acrescido de um, de uma, de ar... é acrescido de arroz.
DOC. -  E na feijoada mineira o que que o senhor notou assim diferente?
LOC. -  Bom, aquele toque, aquele, pelo meno comparando com a feijoada lá de casa, aquele aspecto do feijão, porque pelo meno lá em casa, o feijão, o feijão Uberabinha, por exemplo, quando ele é bem tra... bem, bem trabalhado, ele fica meio viscoso, ele, ele, ele tem um caldo grosso. Eu, me parece que a feijoada, a que, pelo menos a que eu comi em Cambuquira quando estive lá no hotel Silva, aque... aquele engrossamento do caldo, aquilo, comparando com a lá de casa, não tinha, entende? Agora é aquele problema, né? Ah, inclusive na fei... na feijoada mineira, vem, vem também servido o, é o arroz, é o feijão, com a, feijão com os ingredientes, arroz e a clássica couve, né? E nessa, nessas altura é indispensável a clássica, o clássico aperitivo, né? Esse entra.
DOC. -  E, por exemplo, assim, dois tipos de comida que são muito falados: comida italiana?
LOC. -  Gosto. Inclusive na época da, da faculdade aqui nós fazíamos, aliás eu com os colegas aqui às vezes nós íamos comer aqui na, ali na rua Álvaro Alvim tinha, não era na, era o prato é lasanha, acho que é lasanha. Tem uma, tem uma, tem uma, uma casa especializada ali.
DOC. -  E além de lasanha, que mais?
LOC. -  Bom, tem a macarronada, né? Lá em casa também nós usamos macar... macarronada com carne assada, carne assada recheada. Bom, se bem que eu, acredito que conheçam uma casa que tem ali na Cinelândia, não, eu sei que é na rua Álvaro Alvim, é esquina, quem vem, quem entra pela, pela, pelo edifício Aranda, lá pela frente, é primeira ... Tem uma primeira transversal, é lá, me esqueço o nome da casa agora. Agora por exemplo lá em casa nós usamos a, a, o macarrão, né, a macarronada acompanhada de carne assada recheada.
DOC. -  E de comida baiana, nenhuma?
LOC. -  Ah, comida baiana pelo menos lá em casa sai, né, às vezes um peixe com coco, peixe com coco, feijão com coco eu já comi. Agora o peixe com o coco é uma parada, né?
DOC. -  O senhor acha?
LOC. -  Nunca comeu não?
DOC. -  Já.
LOC. -  Ah, peixe com coco ... Vamos ver de baiano o que que eu mais comi, que eu já tenho comido. Eu me lembro que eu já comi feijão, peixe com coco, feijão com coco. Eu aqui na faculdade o que que eu comi já, foi uma coisa que, que inclusive entra, entra camarão fresco, camarão frito, camarão salgado aliás, é uma espécie de um, de um, de um mingau. Me falha a memória agora, que por sinal é um senhor prato, né? Eu sei, eu sei que entra uma série de ingredientes, principalmente produto do mar, né?
DOC. -  Produto do mar, além de peixe, o que o senhor já comeu assim?
LOC. -  Bom, eu já comi. Eu já comi polvo, polvo eu comi, comi aqui no restaurante mas uma farra entre colegas, nós fomos almoçar no restaurante que tem ali na rua São José. Aliás são, são três restaurantes. Tem dois na São José e tinha um no mercado. Inclusive são, são restaurante credenciado mesmo, pra esse tipo de comida. E ali eu comi polvo. Posteriormente cheguei em casa comentando, mamãe comprou pra fazer, não gostou. Não gostou de polvo. Mas tem um outro prato, na, na, teve um prato, tem uma, teve um almoço de confraternização no curso de inspetores, lá no Samurá, o que nós comemos: estrogonofe. Inclusive lá no Samurá comi estrogonofe acho que de camarão. E em casa por ocasião de um, de um dos meus aniversários a minha madrinha fez estrogonofe de galinha, que também entra uma porção de coisa. Eu sei que entra, então no, no, no, no de camarão, entra uma porção de peixe. E no estrogonofe de galinha inclusive entra cogumelo, usa se cogumelo. Entra lá, nessa parte eu confesso que eu sei que alguma coisa, porque inclusive quando eu fui buscá-la ela comprou, na passagem ela comprou esses ingredientes.
DOC. -  Agora outra coisa, espera só um instantinho, o senhor é o, é o filho mais velho?
LOC. -  Agora sou. Porque era me... tinha um, além de mim tinha o mano. Era meu mano, eu e as duas irmãs. Com o falecimento dele fiquei eu.
DOC. -  Agora outra coisa, o senhor disse, é, o senhor disse que já foi operário, foi bancário, e outra coisa, o que foi, não me lembro?
LOC. -  Securitário.
DOC. -  Quanto tempo o senhor exerceu essas profissões?
LOC. -   Bom, a minha, a minha ati... eu por exemplo terminei meu primário em quarenta e um, quarenta e um. Treze anos. Mas aí, por falta de posses não continuei os estudo. Aí fiquei parado de quarenta e um a quarenta e oito. Não, em qua... não, eu terminei em quarenta e um, eu, eu levei uma grande temporada parado. Agora, depois, eu comecei, eu co... não, mais ou menos quarenta e três, quarenta e dois, quarenta e três eu comecei a minha carreira profissional. Aí trabalhei, trabalhei no Aeroclube do Brasil, mas influenciado pelo problema de aviação que aliás até hoje eu gosto muito, né? Agora daí trabalhei pouco tempo na fa... na, no Aeroclube do Brasil. Dali me transferi para a fábrica do Galeão, também o ambiente, o, o meio todo é aeronáutico. Aí no aeroclu... na fábrica do Galeão eu passei uma grande temporada. Eu devo ... eu me lembro que eu fiz o, o tiro de guerra no último ano lá, foi em quarenta e quatro. Depois saí, quando eu saí dali eu trabalhei numa, no comércio, numa firma lá na Tijuca. Não, trabalhei antes numa empresa de transportes rodoviários na rua do Camerino, trinta e dois, Empresa de Transportes São Luís. Dali eu pulei para essa firma lá na Tijuca: Casa Menezes de Ferragens. Da Casa Menezes de Ferragens saí, fui trabalhar em seguro. Trabalhei na Companhia Sul América Nacional, seguro de vida. Ali passei uma grande temporada, sendo que aí o, o Banco Hipotecário Lar Brasileiro na época pertencia ao (inint.) eu me lembro que eu fiz o concurso pro banco, me desliguei da Sul América no dia trinta e um de maio, que era um sábado, pra tomar posse no banco na segunda-feira. Aí comecei no banco no dia dois de junho, porque sábado, trinta e um foi sábado, passei o domingo em casa e segunda-feira comecei no banco. Aí de, de segunda-fei... aí isso, se não me falha a memória, acho que foi em cinqüenta e dois. Aí eu fiquei no banco de cinqüenta e dois a cinqüenta e nove, quando cinqüenta e nove já estava terminando o terceiro ano da Belas- Artes, quer dizer que em sessenta já comecei no magistério. No final de cinqüenta e nove eu já estava me aproximando do magistério. Agora em sessenta, em cinqüenta e nove me desliguei, porque eu teria de fazer o quarto ano de didática lá na Nacional, não havia condição. Aí me desliguei do banco e só fiquei no magistério, de sessenta pra cá.