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PROJETO NURC-RJ

DIÁLOGOS ENTRE INFORMANTE E DOCUMENTADOR (DID):

Tema: "Profissões e Ofícios"
Inquérito 0070
Locutor 0003 - Sexo feminino, 25 anos de idade, pais não-cariocas, professora de biologia. Zona residencial: Norte
Data do registro: 04 de julho de 1972
Duração: 40 minutos


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DOC. -  Pode começar. Podia começar falando de sua própria profissão.
LOC. -  Olha, eh, a profissão é o tipo da coisa que a gente vai escolhendo de acordo com as opções e as oportunidades que a gente vai tendo, né? Dentro da biologia, eu acho que me surgiu essa oporti... oportunidade de eu começar a fazer biologia por um fato, eh, talvez vocacional e talvez de oportunidade mesmo, porque eu já trabalhava no ramo. Eu já era professora primária. Eh, a oportunidade que a gente tem dentro da profissão eu acho que é muito pouca. É bem, eh, o mercado faz com que haja uma seleção assim rigorosa, as oportunidades vão sendo cada dia mais difíceis e eu acho que o biólogo, principalmente o cara que se dedica à parte de pesquisa, está muito prejudicado.
DOC. -  Por quê?
LOC. -  Pelo fato dele não, não ter, eh, incentivo, ele não ter, eh, remuneração adequada, certo? Então isso faz com que se esvazie a parte de, de pesquisa. Já o magistério, a concorrência enorme, a parte com que a gente vai, vai ter que encontrar uma série de dificuldades, por exemplo, dentro do, do magistério você vai ter, eh, como recursos os mínimos possíveis, a, o incenti... o incentivo monetário também muito pouco. Então isso faz com que o biológo e o próprio professor de biologia ainda não tenham seu lugar à altura. Certo? É, é isso que eu sinto no início da carreira, porque eu estou começando agora, j... (sup)
DOC. -  (sup.) Você (sup.)
LOC. -  (sup.) Apesar de que eu já dou aula há bastante tempo.
DOC. -  Exato. Você trabalha com, você é professora de biologia. Você, eh, fora do, do magistério, você, por exemplo, trabalha como pesquisadora?
LOC. -  Não, porque justamente as chances que me apresentam são pouquíssimas, entende, eu acho que pra eu começar dentro desse campo agora seria bem mais difícil do que eu continuar o q... fazendo, o que eu estou fazendo, que eu gosto de fazer, que é justamente dar aula e começ... ter muito mais contato assim vivo, com, com pessoas, com a educação, com a parte de formação do adolescente que é a faixa que eu estou, eh, lidando atualmente, do que, por exemplo, largar isso tudo e começar a parte de pesquisa, que é muito, muito importante, mas que no Brasil eu acho que, até hoje, a gente não tem assim total apoio, já que se vive em função de bolsas de, de, de entidades que são vinculadas a uma série de, de, de preconceitos.
DOC. -  Isso que eu ia perguntar, as pessoas que trabalham, eh, que são pesquisadoras, ne... nessa parte de biologia, essa, esse tipo de trabalho ele é, ele é financiado, digamos assim, por, por entidades particulares ou órgãos governamentais (sup.)
LOC. -  (sup.) É. Existe uma parte de, de, um incentivo do governo quanto à parte de, de bolsas, e entidades particulares, também. Agora, pra que isso seja, eh, conseguido é preciso que se dê uma dedicação exclusiva e a remuneração então é pouca. Por isso eu acho que o pessoal foge um pouco, ou então, quando tenta isso e vê que, eh, não, não tem assim grande vulto o trabalho, porque o trabalho, você importa praticamente toda a pesquisa, você não tem uma pesquisa pura aqui, que possa ter um avanço contribuindo pra tecnologia ou pra qualquer, qualquer ramo da, da ci^ência, então você está importando toda essa pesquisa. Pra que que você vai investir um capital muito grande nisso? Eu acho que nesse ponto é que se resume o problema da pesquisa no Brasil. Principalmente porque não há aplicação dessa pesquisa, não há intercâmbio. E pelo pouco que eu conheço de Manguinhos, por exemplo, é o tipo da coisa que, eu já estive lá algumas vezes e eu não vi, assim, correlação, pode ser que eu não, um elemento de fora não tenha o mecanismo da, da organi... da organização do, da instituição, né? Mas eu não vejo aplicação direta da pesquisa, que seria o fato mais importante, né? Por exemplo uma pesquisa médica, se você tivesse, eh, condições de aliar a pesquisa à aplicação direta na medicina, em todos os ramos possíveis de se aliar a isso, seria muito mais vantajoso do que você ficar somente tentando fazer o que outras, outros países já fazem com muito maior condições e que ele, a pesquisa pode ser chegada aqui pronta. Eu acho que também do governo não interessa muito a parte de incentivar essa pesquisa, que há outras áreas talvez que tenham maiores, eh, vamos dizer, interesse, não é, pra que possa se levar à frente outro trabalho. Não sei. Essa é a minha opinião.
DOC. -  Eu ia perguntar, Manguinhos o que é, como é que funciona, pra quê, que pessoas trabalham lá, fazem o quê?
LOC. -  Bom, pelo que eu conheço da instituição, trabalham lá técnicos e, eh, o prof... o, o, o pessoal gabaritado e, vamos dizer, eh, o pessoal, zoólogos, biólogos e, botânicos, talvez, não sei se tem a parte de botânica lá, que possa contribuir então pra uma pesquisa, acho que mínima. Eles fazem um, uma aplicação, sim, na parte de, eh, vacinas ou qualquer coisa desse tipo. Pelo que eu conheço é isso, entende? Manguinhos sempre me atraiu mas nunca foi assim a meta da minha vida não.
DOC. -  Agora outras pessoas que a gente já entrevistou de outras profissões sempre falam, eh, coisas aproximadas em relação à, à própria profissão, de cada uma delas, né? Como é que você vê o quadro das outras profissões? Por exemplo, no Rio, né, assim em termos de, de mercado de trabalho, de oportunidades, de coisas que são feitas. Essas profissões que são, que são mais, digamos assim, consideradas mais nobres, aliás pelo menos são as mais procuradas, não é? Cada ano o vestibular a gente sempre vê o mesmo fenômeno, né?
LOC. -  É, o fenômeno de procura de maior, vamos dizer, na área de, eh, engenharia ou medicina. Dentro do quadro, acho que, da nossa cidade, da nossa vida em geral, as profissões cada dia mais tendem a se esgotar, não é? Você vê que dá margem a um excesso de, de, de médicos e, enquanto que outros lugares no Brasil estão vazios dessa, dessa, de pessoal capacitado pra que possa haver um mínimo possível de condições de vida. Na cidade, na nossa cidade, eu acho que, em quase todos os ramos o mercado está esgotado e tende a cada dia mais superlotar isso. A não ser ramos novos como por exemplo no caso do, eh, das pessoas que estão se dedicando agora à programação e, e à, à área mais assim ligada a esse, não sei, me parece que agora há oportunidade pra esses, essas pessoas que se dedicam a essa, essa parte nova. Mas acredito que dentro de pouco, se o desenvolvimento não for tão grande quanto a, a necessidade, então vai esgotar também.
DOC. -  Essa parte nova que você diz é o quê exatamente?
LOC. -  Pois é, surgem agora novas opções. Por exemplo, o programador, o analista, não é? Então todas as indústrias, todas as, tudo que você possa imaginar está sendo substituído pela parte de computação, né? Então, o que que está ocorrendo? Eu acho que há necessidade de pessoal que trabalhe nisso e a procura está sendo grande. A cada dia que você abre o jornal, por exemplo, você vê, eh, empresas procurando e oferecendo condições, até bastante boas, pra quem está se dedicando a essa área. Quer dizer, nessa parte, nessa profissão, eu acho que o mercado ainda não está esgotado, mas em relação às outras, acho que em quase todas. Se você for analisar ... Por exemplo, advocacia. Você vê advogados aí, sem emprego, fazendo outra coisa totalmente diferente. Médicos. O médico tem que se sujeitar a fazer um concurso pro estado, ganhar o mínimo possível, não é, e acumular, às vezes, dois cargos e dar mau rendimento no seu trabalho porque o, o mercado está tão esgotado que ele não tem opção.
DOC. -  E os professores?
LOC. -  Também. Os professores, cada dia mais a gente se sente num, num nível parece que inferior. Agora mesmo com, com a parte da reforma, grande coisa que se esperava não se, não se obteve.
DOC. -  O que exatamente que se esperava dessa reforma?
LOC. -  O que se esperava? Um, uma melhora, uma, uma readaptação das coisas que estavam se fazendo erradas ...
DOC. -  A reforma que você diz é a reforma do currículo ou, ou ...
LOC. -  A reforma em termos de, de, de, de todas as, as possibilidades que se tenha de dar ao, ao jovem, à criança, ao adulto, uma educação diferente do que se dava, aplicando métodos, inclusive, modernos, coisa que não, nós não, não temos capacidade ainda e não temos condições de fazer. Eu acho que a reforma, dentro do que eu estou trabalhando, ela está sendo muito mais, eh, muito mais, assim, encarada com idealismo do que com realidade, porque a realidade quase que não mudou.
DOC. -  Isso eu ia perguntar. Eu não, eu não estou a par porque eu não trabalho com nível médio e tal. Mas você trabalha com nível médio, não é?
LOC. -  É, eu estou dentro do plano da reforma que é a adaptação da quinta série. Seria o primeiro ano ginasial (sup.)
DOC. -  (sup.) É. Isso que eu ia perguntar. O que é exatamente essa reforma e, porque parece que está, existe da parte do governo uma, um interesse em modificar o currículo, né (sup.)
LOC. -  (sup.) Sim.
DOC. -  Colocar certas cadeiras, digamos assim, certas matérias que não havia antes.
LOC. -  Exato (sup.)
DOC. -  (sup.) Seria uma, um objetivo mais prático pra preparar o aluno, assim, sem (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Profissionalmente, talvez. Agora isso é o que a gente sente que não vai funcionar dentro de um tempo pelo menos curto. Porque o que você tem? Uma reforma, um plano em que se tende a fazer do, do, do aluno, dentro de um, de oito anos, quando ele vai completar a fase de escola fundamental, vamos dizer, e depois ele vai ter um, uma adaptação à vida normal, vamos dizer. Ele vai sair com uma capacidade talvez de, uma profissionalização quase que imediata. Mas acontece que as escolas não estão equipadas. Não tem, não há condição de você profissionalizar o ensino sem você ter na escola um ambiente próprio pra isso. Certo? Então o que ocorre? Está se sentindo essa dificuldade desde o início, desde a, do primeiro ano de aplicação dessa reforma. Porque ao invés de fazerem uma adaptação muito mais, eh, real, estão fazendo uma adaptação muito mais, eh, em termos de ideal, que não se tem. A escola que eu trabalho, por exemplo, eu dou a parte de ciências e não se tem nem um laboratório. E poucas as escolas possuem isso. E, na parte profissionalizante, os, e as, as oficinas e a parte técnica que eles teriam e que não têm. São te... parte quase que teórica, a técnica se, eh, volta pra teoria porque não, não existe ambiente pra que ela possa ser desenvolvida.
DOC. -  Essa, essa parte de profissionalização, ela prevê exatamente o quê? Ela vai, eu não, porque eu não sei, ela parece que vai orientar os alunos pra determinados, determinadas atividades, né? Quais seriam especificamente essa, essas atividades?
LOC. -  Olha, as atividades eu acho que são as mais diversas. Eu trabalho num colégio que é dirigido pra contabilidade e secretariado. Outros deve haver que possam, cada escola, diz a lei, que pode oferecer ao, ao aluno opções as mais diversas, né, desde técnicos em geral até a parte de, vamos dizer, se ele puder seguir depois a universidade, então ele teria uma formação também, eh, geral e ele poderia depois ser flexível a essa mudança. Ele pode não só sair um técnico mas ele pode depois ser adaptado a uma nova situação que só, se ele quiser, se ele puder, galgar a universidade, né, tender a fazer uma universidade. E as opções acho que são as mais diversas possíveis. Desde de técnicos, aí, de contabilidade do, do caso que eu conheço, a técnicos industriais, a técnicos, a parte comercial também, a parte de secretariado, tudo isso tem sido opção que as escolas têm dado.
DOC. -  E essa, essa parte que seria a, a de, eh, não profissões, essas profissões institucionalizadas, né, essas profissões mais valorizadas, etc. mas uma parte que a gente poderia chamar de ofícios, por exemplo, de pessoas que, que fazem determinadas coisas, mas que, que são profissionais também mas que não têm a mesma valorização que os outros, né, que um médico, um engenheiro, um advogado, etc.
LOC. -  Na parte de ofícios de mais, vamos dizer, em termos de artesanato, coisas assim?
DOC. -  Sim, pode ser.
LOC. -  Há essa opção também, mas aí não, não, eu desconheço também essa parte, já que foge um pouquinho ao, ao que eu me, ao que eu tenho lidado, atualmente. Mas eu acredito que, em termos de artesanato, se não me engano, fica assim mais pra, pra quem não consegue chegar a um nível, eh, intelectual maior, então eles poderiam ser aproveitados em oficinas neste tipo. Não, não tenho certeza, mas parece que o ensino supletivo vai oferecer essas opções. É, seria uma, vamos dizer, um nível intelectual mais, abaixo da média que poderia ter a opção ainda de seguir alguma profissão nesse ... Eu não conheço bem esse pessoal, essa parte.
DOC. -  Você dá aula em mais de um colégio?
LOC. -  Dou.
DOC. -  E você ... Qual é o regime de trabalho que você tem nesses colégios?
LOC. -  Como assim? Em termos de horário?
DOC. -  De horário, de, eh, a parte monetária, a, a (sup.)
LOC. -  (sup.) Olha (sup.)
DOC. -  (sup.) o vínculo que existe entre você e esses colégios?
LOC. -  O vínculo que existe, num dos colégios eu sou, eh, efetiva do estado, certo? Então toda regimentação é baseada nas, no estatuto do, do estado. Outro é particular, o vínculo é trabalhista, é, é um vínculo sob todas as condições que se tem na profissão, em qualquer uma. Você tem a, o trabalho por hora, mas a remuneração em termos de semanas, quatro semanas e meia, né? Há outros colégios que têm outros regimes, por exemplo, pagam além das quatro semanas e meia, um repouso remunerado, coisa que eu não ganho, porque o meu colégio não dá essa opção. Quanto à parte de, eh, um outro colégio ainda que eu trabalho, eu ganho só por hora. Não tenho vínculo nenhum trabalh... trabalhista.
DOC. -  Há quanto tempo que você trabalha lá?
LOC. -  Eh, dois meses. Mais ou menos dois menos que eu, do início do ano pra cá.
DOC. -  Bom, então parece que (sup.)
LOC. -  (sup.) Há, há uma diversidade, né, no (sup.)
DOC. -  (sup.) É. Por exemplo, nesse, você é efetiva do estado, trabalha num outro como contratada, não é, pelas leis trabalhistas.
LOC. -  Não, como contratada não, como funcionária, eh, pelas leis trabalhistas, né, porque seria, eh, vamos dizer, o velho problema da carteira assinada.
DOC. -  Exato. Você não tem carteira assinada?
LOC. -  Tenho. Neste particular. Agora, como horista não. O horista, o vínculo nenhum, é somente um trabalho remunerado.
DOC. -  Agora, nesses outros que você tem a carteira assinada, etc, além de ganhar durante o período de aulas você não ganha no (sup.)
LOC. -  (sup.) É, é computado (sup.)
DOC. -  (sup.) Dia feriado, férias ...
LOC. -  Sim. Lógico. São, são computadas quatro semanas e meia. O mês previsto, o pagamento é previsto com quatro semanas e meia. Quer dizer, aí já estão incluídos os feriados e os, os (sup.)
DOC. -  (sup.) Período de férias, também?
LOC. -  Também. Férias remuneradas.
DOC. -  E em dezembro, você não ganha mais?
LOC. -  Décimo-terceiro salário.
DOC. -  Eles também lhe pagam, né? Você é sindicalizada?
LOC. -  Sou. Sou, pelo fato do próprio colégio fornecer essa opção e (sup.)
DOC. -  (sup.) Mas, digamos, se você não fosse professora, se você não trabalhasse como professora, se você fosse só pesquisadora na área de biologia, existe sindicato?
LOC. -  Olha, existe uma, uma associação que não sei se posso chamar de sindicato. Eu não pertenço a ela. Já fui a algumas reuniões mas não me filiei a ela. É uma organização dentro da parte de pesquisa, que tende, inclusive, a defender a, a autonomia do, do biólogo, do zoólogo, do botânico, que nós não temos. Não há reconhecimento dessa profissão, certo? Então há associações que fazem isso. Mas eu não, não posso falar nada sobre elas porque eu não pertenço.
DOC. -  Essas profissões não são oficializadas?
LOC. -  Não são reconhecidas. Não há reconhecimento.
DOC. -  E isso significa o quê, em termos práticos?
LOC. -  Significa que você não, não tem reconhecimento profissional como biológo. Você, voc... simplesmente você tem uma profissão, como por exemplo no caso do pessoal que trabalha em Manguinhos, eles são bolsistas, podem ser contratados, talvez efetivados, mas não sei como é a, o enquadramento deles. Só que não existe a profissão de biólogo, essencialmente. O biólogo, como o, vamos dizer, o médico não é, porque não se tenta, não, não se tentou até agora ou não se teve condições de que isso acontecesse. E essas associações a que eu me refe... me referi, justamente tentam fazer alguma coisa nesse sentido. Eu acredito que até o psicólogo também, no caso eu não sei se ainda foi reconhecido, mas eu acho que não. O sociólogo (sup.)
DOC. -  (sup.) Penso que não, não sei. O sociólogo eu tenho certeza que não (sup.)
LOC. -  (sup.) Que não. Pois é (sup.)
DOC. -  (sup.) Inclusive nós já, eu já entrevistei um sociólogo e ele disse que praticamente ele não existia porque (sup.)
LOC. -  (sup.) Exato (sup.)
DOC. -  (sup.) Ou ele dava aulas (sup.)
LOC. -  (sup.) Aulas (sup.)
DOC. -  (sup.) Como professor ou então pra ele fazer pesquisa, eh, as entidades eram pouquíssimas, eram do governo, era um grupo, assim, muito restrito que tinha acesso (sup.)
LOC. -  (sup.) Exato. O mesmo caso se verifica na biologia (sup.)
DOC. -  (sup.) Ele não tinha sindicato. Quer dizer, qualquer problema profissional que ele tivesse, onde ele tivesse que, eh, impor os direitos dele, ele não tinha pra quem apelar. Está entendendo?
LOC. -  Exato. É a mesma situação do, do, do pesquisador (sup.)
DOC. -  (sup.) Como professor, não, porque existe um sindicato. Então se você tiver um problema com, com (sup.)
LOC. -  (sup.) Exato (sup.)
DOC. -  (sup.) O patrão, digamos, n~ao é? (sup.)
LOC. -  (sup.) Você tem a quem recorrer e a quem, vamos dizer, defender algum interesse da sua parte. Mas como biologista, por exemplo, você não tem. Você tem, sim, uma ajuda financeira, e acredito que, por exemplo, na SURSAN, é o caso de uma das pessoas que eu conheço, me relaciono, ele é biologista da SURSAN, concursado. Nesse caso então ele tem o reconhecimento. Mas é só em órgãos oficiais, entende, quando há a opção, não só ele, biologista, mas o médico sanitarista também vai concorrer com ele. Então não há uma, eh, um 'status` do biólogo não. O biólogo está perdido no meio. Ele pode concorrer, inclusive, com outras profissões que não seja tão específico da área dele. Como o médico sanitarista e o engenheiro sanitário, ele vai ter uma (sup.)
DOC. -  (sup.) Isso que eu ia perguntar. Você não acha que existe uma espécie de confusão entre, eh, a parte de biologia, na medida em que ela, ela tem certos contactos com outras profisso... com outras (sup.)
LOC. -  (sup.) Áreas (sup.)
DOC. -  (sup.) Outras áreas profissionais. Por exemplo, medicina, e você falou também em engenharia. Então não ... É como se o, a parte de biologia fosse um, um subsidiário, está entendendo, um acessório, não é isso não, que acontece?
LOC. -  Olha, eu acho que isso vai acontecer em qualquer campo. Porque a especialização vai levar a cada um se, se, eh, ter um, uma área restrita de conhecimentos. Mas na, há pontos comuns. Há pontos em que você não pode ficar só na sua área, você tem que avançar mais um pouco. Eu acho que isso até na sociologia, na psicologia, vai ocorrer.
DOC. -  Quais seriam, assim, por exemplo, na, no setor de medicina, quais seriam os pontos de contato com, da biologia com a medicina, com certas especialidades dentro de me... da medicina?
LOC. -  Olha, eu acho que toda a parte de pesquisa médica vai cair justamente na biologia. Porque quando você vai fazer uma técnica, uma, uma patologia de um tecido, uma, qualquer exame que você vá fazer vai cair dentro das, vai cair dentro de conhecimentos bem mais específicos da biologia do que, que é lógico que a medicina sabe, que a medicina tem esses conhecimentos, mas o biólogo é o, o indivíduo capaz de responder muito mais do que um médico, porque ele tem ... Só se ele for um médico especializado naquele ramo. Em patologia, por exemplo. Por isso se tende, eu acho, que a dar agora uma formação básica pra todos esses, eh, campos. Agora, pelo que eu sei, na universidade na parte de biologia é feita com a medicina. As cadeiras básicas de biologia e medicina se misturam. Isso porque você não pode delimitar tanto uma área. Ela vai ter pontos comuns.
DOC. -  A biologia dentro da Universidade Federal ela é um instituto separado, faculdade ou o que é?
LOC. -  É. Ela é um instituto separado. Quando eu fiz a faculdade ainda não. Ainda havia só um vínculo com a Faculdade de Filosofia antiga. Depois de dois anos, não sei bem o tempo, houve o desmembramento. Então cada área começou a se individualizar num instituto. Mas esse instituto agora tende a fazer um, um intercâmbio com a sua área de trabalho. Seria, no caso, em medicina, as matérias básicas serem dadas em conjunto. Dividiram mas, de certo modo, ainda há uma, um intercâmbio de, de, de conhecimentos, né?
DOC. -  Você tem amigos médicos?
LOC. -  Tenho.
DOC. -  E você sabe as especialidades deles? São especialistas em alguma coisa?
LOC. -  Tenho. Tenho um médico que é dermatologista, um conhecido, e que justamente a área dele é muito mais específica do que um médico clínico que atualmente, eu acho que, não sei como é que está a parte de, de escolha da, da especialização, mas acredito que um dermatologista, em relação ao médico clínico, ele tem uma área muito mais especializada. E outros. Na parte de psiquiatria, também, que já vai desvincular, não sei, a parte assim ...
DOC. -  Psiquiatria vai ficar separado de medicina agora?
LOC. -  Não, não, não vai ficar separada, mas, além do curso normal (sup.)
DOC. -  (sup.) O psiquiatra, ele tem que fazer o curso de medicina todo pra (sup.)
LOC. -  (sup.) Todo (sup.)
DOC. -  (sup.) Depois fazer uma especialização?
LOC. -  (sup.) Ainda é, eu acho que é o curso mais, eh, vamos dizer, mais longo. Eu a... eu tenho, ele faz residência agora. Eu tenho um conhecido que veio de Juiz de Fora, ele fez, concluiu o curso lá, e veio ser residente aqui no Rio. Faz o estágio na Universidade do Rio de Janeiro, ali no Pinel. Então a especialização dele está sendo dentro da área dele, em pós-graduação. É o que acontece também com o professor, né? Ele tem um curso de quatro anos, mas ele tem a opção de ainda, depois, poder se especializar.
DOC. -  Agora uma coisa, um pouquinho fora. Você, você vê alguma diferença entre o biólogo e o biologista? Porque você falou em biólogo, depois falou em biologista. Você vê alguma diferença nisso?
LOC. -  Olha, eu acho que é mais de nomeclatura do que de, profissionalizante mesmo, já que nenhum dos dois ou, ou a carreira de biólogo ou biologista não é reconhecida.
DOC. -  Mas existe diferença (sup.)
LOC. -  (sup.) Eu não vejo, eu não vejo. Pode ser que existam e eu não conheça. Mas eu não vejo essa diferença. Seriam sinônimos dentro do, da, da profissão.
DOC. -  Agora outra coisa. Você, não sei se você tomou conhecimento, leu em algum jornal, revista, saiu uma matéria na Veja, está havendo uma tentativa de, eh, não, não sei, ou enquadrar ou dar oportunidade, por exemplo, essas, as, as chamadas, as baianas, né, essas baianas de rua que vendem doces etc. de se filiar ao INPS porque não tinham, eh, que eram, eram mais ou menos (sup.)
LOC. -  (sup.) Clandestinas (sup.)
DOC. -  (sup.) É. É. Quer dizer, tinham determinado trabalho mas que ...
LOC. -  Não tinham (sup.)
DOC. -  (sup.) Não tinham nenhum conhecimento, não sei, qualquer coisa desse tipo.
LOC. -  Que que você quer saber? Sobre a minha opinião (sup.)
DOC. -  (sup.) Exato (sup.)
LOC. -  (sup.) Se isso é válido ou não? Dentro do que a gente tem de, de opção de profissão eu acho que até a delas deve ser reconhecida. Por que não? Por que um, um sujeito que pode montar uma casa de doces, ele é um comerciante, ele é um cara sindicalizado, e o indivíduo que não, que pode viver daquele trabalho mínimo que ele dá não tem reconhecimento de sua profissão? Eu acho que pode. Os próprios vendedores ambulantes são reconhecidos, não são?
DOC. -  Não sei.
LOC. -  Aí seria o caso de, se eles fossem reconhecidos, por que não as baianas?
DOC. -  Mas eu acho que isso existe também pra, pra área de empregadas domésticas, não é?
LOC. -  Ah, existe uma sindicalização das empregadas domésticas, né?
DOC. -  E outras, outros ofícios assim, eh, por exemplo, a gente ut... utiliza tanto essas pessoas, né, em casa, às vezes tem problema. Por exemplo, problemas no banheiro. Você vê reparos que tem que fazer, problemas na cozinha, ou então (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) O biscateiro, né? Seria, no caso? Como eu encaro, também? Olha, ele está fazendo algum serviço, ele está, ele não teve talvez uma opção melhor. Então eu acho que eles deveriam ser sindicalizados também. Seria o caso não de, vamos dizer, o trabalho não qualificado, porque se eles vão se organizar em alguma parte de, de trabalhista, eles deveriam ter uma qualificação também. Seria o caso de dagora pra, pra di... diante a própria educação fornecer essa condição a eles, né, os novos que seriam formados. Porque existe a parte de trabalhador autônomo, né? Você tem um meio, como professor você pode ser autônomo. Não é o meu caso, porque eu acho que não, não sei, desconheço até qual seria a validade ou se era mais, eh, vantajoso ou não ser autônomo. Mas por que não esses, a profissão em menor escala não poderia ser, ele contribui pra sociedade, né?
DOC. -  Alguma vez você já teve problema já como, assim, como profissional, como professor, de parada de trabalho, problema com o patrão, qualquer coisa desse tipo?
LOC. -  Não, porque eu vou te dizer, eu comecei a trabalhar mais assim no ensino médio este ano. Então está sendo uma experiência bastante nova pra mim. Porque eu sempre fui efetiva do estado quando era, quando, eh, fui nomeada, porque não havia concurso naquela época, como professora primária. Então dentro do estado, por menos que você tenha remuneração, você tem todas os apoios legislados, né, tem todas as, toda a parte de, de, de ... É uma instituição que já te dá o direito de, você por exemplo falta, você tem o abono de falta mediante uma lei que já te prevê isso. Já no ensino particular ocorre diferenças nesse setor, mas até agora não tenho encontrado nenhum problema não.
DOC. -  E quando você era aluna, alguma vez houve esse tipo de problema? Não que você tenha, eh, tenha participado diretamente, mas que você tenha visto, etc.
LOC. -  Como assim? Eh, de um professor, vamos dizer, ser exonerado do cargo ou então (sup.)
DOC. -  (sup.) É. Coisas desse tipo, né, de ter havido uma parada total do trabalho.
LOC. -  Não, que eu me lembre, que não, porque só na época da faculdade que havia bastante confusão, vamos dizer, e às vezes as aulas eram suspensas mas não por parte de professores e sim por uma, mesma contingência da situação precisava ser suspensa a aula. Mas não porque o professor tivesse se exonerado do cargo ou houvesse algum empecilho que ele não pudesse dar aula. Quando isso acontecia, outro substituía.
DOC. -  Agora outra coisa. Existe, por exemplo, dentro da, de engenharia, medicina, especialidades, eh, certas, certas especificações, não é, dos profissionais. Então você tem o médico não sei o quê, médico não sei o quê, engenheiro não sei o quê, engenheiro não sei o quê. Isso ocorre em, com biologia também?
LOC. -  Ocorre. Ocorre porque nós não so... Tem a parte do profissional que se dedica só à zoologia. Ele vai muito mais, eh, lidar com a parte de animais, talvez, o próprio comportamento animal agora está ganhando maior incentivo do que tinha. Então já está surgindo uma outra coisa nova, uma outra pesquisa dentro da zoologia mesmo, que seria o caso do comportamento animal, que está sendo feito na Gama Filho, que eu conheça, pelo menos, que já é uma ó... um novo campo, uma nova opção, né? O botânico, por exemplo, apesar dele não ser reconhecido ele se dedica muito mais exclusivamente à botânica do que à biologia geral. Se bem que ele vai ter que recorrer à biologia em algum caso, não é? Ele não, não vai poder só dentro da botânica ter a, a resposta pra tudo. Ele vai ter que buscar na biologia uma, um auxílio. Toda vez que as duas disciplinas forem comuns, ele vai usar a biologia e não só a parte botânica, porque seria impossível. Mas na sis... na sistemática é que ele vai ter uma botânica mais pura, vamos dizer, não é, porque ele vai precisar conhecer a f... forma e fisiologia do vegetal. Mas mesmo aí, mesmo assim eu acho que a biologia tem que estar presente.
DOC. -  Porque sempre pare... parece que cada vez mais há uma tendência (sup.)
LOC. -  (sup.) À especialização (sup.)
DOC. -  (sup.) À especialização, não é? Indivíduos que, que se restringem (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Que a área fica muito mais restrita.
DOC. -  Pra que o conhecimento seja mais profundo também.
LOC. -  É, aí há um, uma certa contradição, né? Porque, vamos dizer, ele tem fundamentação naquilo que ele faz especificamente. Mas ele tem que ter um conteúdo maior porque senão ele não vê além daquilo. É, eu acho, que o grande erro da especialização. Cada vez que um indivíduo se especializa demais, se ele não tiver uma visão maior, ele não vai poder nunca ser um cara excelente. Nunca. Eu acredito que a especialização dê a ele maiores condições dele desenvolver o trabalho naquela área. Mas ele sempre vai precisar de outros conhecimentos.
DOC. -  Agora outra coisa. Você trabalha em, em mais de um lugar, em mais de um colégio, então o salário, o seu salário, quando você recebe, ele vem integral?
LOC. -  Como assim? Se, se existe o (sup.)
DOC. -  (sup.) Quer dizer, você tem determinado salário, né? Eu quero saber se esse salário oficial você recebe ele todinho em dinheiro.
LOC. -  Não. Eu recebo. Mesmo no estado ele é, existe um salário bruto e um salário líquido, não é? Você recebe aquela parte com descontos.
DOC. -  E esses descontos, descontos são pra quê? De quê?
LOC. -  Bom, no estado, no caso, seria, eh, a parte hospitalar que você paga, que tem direito a, a médicos do estado, como o IASEG, que é um hospital que você tem direito a, o funcionário, inclusive, tem direito a fazer operações e tratamentos médicos, já que ele está sendo contribuinte pra aquele hospital, né, pra aquela, pra aquele setor. Existe a parte também de, no caso de você ter um empréstimo, uma coisa que você, há vários sistemas de empréstimo. Então você vai também ser descontando e receberá somente uma parcela daquilo que deveria receber, dependendo das condições em que você fez esse empréstimo. Há o empréstimo imobiliário (voz em off) há o empréstimo, eh, pra várias situações de vida: casamento e uma série de outras coisas, que vai ser também descontado no salário. Agora no caso (sup.)
DOC. -  (sup.) E além disso (sup.)
LOC. -  (sup.) Do ensino particular, você é descontado, eh, para o sindicato uma vez, ou, ou alguma coisa assim.
DOC. -  Ah, existe desconto pro sindicato (sup.)
LOC. -  (sup.) Existe, existe. Uma vez por ano, eh, um trinta avos do seu salário fica para o sindicato. Existe também o INPS, no caso seria correspondente ao, do estado, ao IASEG, né, em que o funcionário também teria direito ao tratamento médico, hospitalização, etc, licença.
DOC. -  E são só esses descontos que você tem?
LOC. -  Eu acho que sim (sup.)
DOC. -  (sup.) INPS, sindicato?
LOC. -  É, e o próprio imposto de renda que você vai ter de abater, pode ser em fonte, né, em fonte direta, na fonte. Vai ficar retido na fonte dependendo do teu salário, se é alto ou não.
DOC. -  Quando você estava na faculdade havia hierarquia entre os professores, uma hierarquia de professores?
LOC. -  Havia. E há, eu acho, né?
DOC. -  Qual era, mais ou menos. Como é que era o quadro, mais ou menos? Assim, em termos de hierarquia de professores mais ou menos importantes, por quê?
LOC. -  Bom, hierarquia, no caso de, de cátedra, seria depois o professor assistente, o professor, o diretor do departamento. Todos esses eram funções que havia uma, um desnível, vamos dizer, de até de salário, né? Seria uma hierarquia tanto profissional como salarial.
DOC. -  Essa parte de salário, por exemplo, do, o, o, o biólogo, eh, você já disse que existem especializações, né, dentro de biologia. Essas especializações determinam maior ou menor salário? Existe uma diferença (sup.)
LOC. -  (sup.) Vai depender da oferta do, do, e de quem estiver te empregando. Isso é muito va... muito vago. Dentro da pesquisa, por exemplo, surgiu até uma oportunidade pra biologistas em São Paulo, há pouco tempo, pela Johnson-&-Johnson. Então o salário que eles apresentavam seria um, eh, três mil cruzeiros e um salário mínimo. Daí ele poderia ser mais remunerado dependendo da função que ele tivesse. Mas isso vai depender muito. Acho que não existe um, um salário-base. Só mesmo dentro do magistério, eu acho que sim.
DOC. -  É isso que eu ia perguntar, porque parece que existe entre os médicos por exemplo a, a, na área particular, não é, de clínica particular, parece que eles têm um certo acordo de, de cobrar um, um mímino.
LOC. -  Eu desconheço (sup.)
DOC. -  (sup.) Nenhum médico, nenhum médico cobra um mínimo por consulta. Agora daí pra cima, isso é de cada um deles. Porque, às vezes, o nome é mais famoso, é menos famoso, então, cobra mais, cobra menos. Mas de qualquer maneira existe um certo controle na parte de, ness... nessa parte de, de preço de, de cobrança de (sup.)
LOC. -  (sup.) Isso seria uma valorização.
DOC. -  Exato, é.
LOC. -  Mas eu não, não sei não, dentro da biologia eu não sei, não posso te informar (sup.)
DOC. -  (sup.) Poderia, por exemplo, haver uma espécie de salário base, não é, pra profissão, pra sua, no caso, em que nenhum profissional poderia receber a menos, digamos. Poderia receber mais, segundo a oportunidade dele, o (sup.)
LOC. -  (sup.) Não, isso eu desconheço que exista. Não sei mesmo. Talvez isso seja debatido nessas associações que eu citei e que eu desconheço também, quer dizer, não posso, não posso, não posso ter nenhuma informação sobre isso não.
DOC. -   Está bom.