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PROJETO NURC-RJ

DIÁLOGOS ENTRE INFORMANTE E DOCUMENTADOR (DID):

Tema: "Corpo Humano"
Inquérito 0056
Locutor 0065 - Sexo feminino, 27 anos de idade, pais cariocas, assistente social. Zona residencial: Norte
Data do registro: 31 de maio de 1972
Duração: 45 minutos


Som Clique aqui e ouça a narração do texto


LOC. -  Bem, então vou falar de mim mesma, que eu já estou aqui presente, né? Bem, eu sou baixa, tenho um metro e cinqüenta, um metro e meio, sou castanha, eh, espera aí, olhos castanhos, cabelos castanhos, sinais particulares eu não tenho nenhum, que mais? É chato falar da gente! (riso)
DOC. -  Que é mais?
LOC. -  Faz alguma pergunta aí.
DOC. -  Como é que você, por exemplo, oporia seu tipo físico ao meu. Há alguma diferença?
LOC. -  Bem, há muitas diferenças mas agora ... É enjoado, sabe, falar do físico. (riso) É horrível! (sup.)
DOC. -  (sup./inint.)
LOC. -  Ahn?
DOC. -  Fala dos ausentes, dos (sup./inint.) ausentes, pois é (inint.) É, alguém que a gente não conheça. Por exemplo, a sua mãe. É. Como é sua mãe? Fisicamente.
LOC. -  Minha mãe também é baixa, minha mãe é morena, cabelos pretos, olhos castanhos, magra. Bem, chega. Eu acho que de físico eu só noto isso nas pessoas, as pessoas me falam muito mais por dentro. Eu não sei descrever, assim, fisicamente, uma pessoa, me prendo muito pouco a isso.
DOC. -  A que é que você se prende assim, ao ver a pessoa pela primeira vez, que é que mais lhe atrai assim numa pessoa, à primeira vista?
LOC. -  Não sei, às vezes o modo de falar, a segurança ou insegurança que a pessoa apresenta assim pra falar com a gente. Agressividade ou suavidade, muita coisa assim.
DOC. -  Mas em termos de aparência, você não tem assim (inint./sup.)
LOC. -  Não sei, a beleza sempre chama atenção mas pra mim não, eh, eu não dou muita importância ao físico da pessoa, tanto que a pessoa falou comigo dali a pouco eu esqueço, eu não, não guardo, fisicamente eu não guardo. Eu guardo mais alguma coisa que tenha me impressionado na personalidade dela.
DOC. -  Você não, não descreveria ... Em sua atividade profissional, você, eh, se sente inclinada assim a fazer alguma associação entre o tipo físico e o temperamento?
LOC. -  A gente sempre faz (sup.)
(sup./inint.)
LOC. -  A gente sempre faz essas associações, sabe? A gente olha pra uma pessoa às vezes lembra uma, uma outra pessoa, que já marcou, eh, alguma coisa, a gente sempre faz essas, esses ... Relaciona a pessoa sempre com o outro fato. Por exemplo, na, na, na minha parte que eu trabalhei mais foi a psiquiatria. Deixa eu ver se eu lembro de um caso assim, interessante.
DOC. -  (inint.) uma pessoa assim, de um determinado tipo físico, apresentasse problemas (inint.) circunstâncias (inint.)
LOC. -  Sei lá, eh, agora eu não tenho assim nenhum exemplo, não estou me lembrando, não está ocorrendo nada (sup.)
DOC. -  (sup.) Você disse que não é, assim, que não presta muita atenção a esse problema de beleza, etc. mas como é que você descreveria uma pessoa que você considera bonita, assim, em termos assim de ideal de beleza (inint.) fotografia.
LOC. -  Nao sei, olha, vamos dizer, me vem uma, uma imagem assim viva: Dina Sfat. Eu acho a Dina Sfat bonita, pode ser até que os outros não achem mas eu acho, não sei, tem um quê.
DOC. -  Mas o que ela tem?
LOC. -  Não sei. Ela tem uma luminosidade no olhar, uma coisa, assim, incrível. É única. Eu acho ela muito bonita, a Dina Sfat. Tipo assim físico que eu acho bonito. Bem, no momento, porque amanhã ou depois pode ser outro, outra pessoa que eu acho bonita. Faz mais pergunta, não tem ...
DOC. -  Está bem. Vou fazer mais pergunta. Você, por exemplo, com a sua aparência física, você tem cuidados com ela?
LOC. -  Tenho, eu tenho cuidado com, com a minha pele, que eu tenho uma pele horrível, né? Mas eu vivo sempre cuidando da pele e tudo (sup.)
DOC. -  (sup.) Qual é o problema que você tem com a pele e quais são os cuidados que você toma?
LOC. -  Eu sempre tive problema de acne, eu tenho pele muito gordurosa, então os cuidados é limpar sempre a pele o mais possível. São esses os meus cuidados e remédios. Eu sempre (inint.) de remédios diferentes pra aparentar uma coisa boa, me disseram que é bom, passo na pele, não quero nem saber se é ou não é.
DOC. -  E é só com a pele, com a sua pele que você se preocupa?
LOC. -  Tem a limpeza corporal que todo mundo faz: tomar banho todos os dias, escovar os dentes.
DOC. -  E problema de dentes, você tem problema de dente (inint.)
LOC. -  Já tive, atualmente não.
DOC. -  Que problemas (inint.)
LOC. -  Problemas comuns de cárie, assim, só.
DOC. -  Você tem boa saúde (sup./inint.) que medidas você tomou?
LOC. -  Bem, a medida que eu tomei foi ir, ir ao dentista e tratar do dente, tratar da cárie.
DOC. -  Fazer o quê?
LOC. -  Uhn?
DOC. -  Fazer o quê?
LOC. -  Tratamento de, de canal, só. Nunca tive problema mais sério.
DOC. -  E outros problemas assim de, de saúde, de doença, você já teve? Você tem boa saúde?
LOC. -  Olha, de um modo geral sim. Às ve... de vez em quando uma, um fígado meio ruinzinho mas, no mais não tenho problema nenhum.
DOC. -  Agora, passando pra outro assunto. Você falou que não se preocupa muito com a aparência física das pessoas, né?
LOC. -  Ham, ham.
DOC. -  Agora, assim o que você consideraria um homem interessante, por exemplo?
LOC. -  Um homem que soubesse prender a atenção da gente, humano, personalidade marcante.
DOC. -  (inint.) você nunca se preocupa assim com, eh, o tipo físico que ele tem, nunca te chama atenção? Você disse que acha a Gi... a Dina Sfat bonita. Existe algum homem que você ache bonito nessa área de televisão, cinema, que você ache interessante?
LOC. -  Chico Buarque de Holanda como tipo físico (sup.)
DOC. -  (sup.) Por que você acha?
LOC. -  Não sei, eh, não sei se é bem por isso mas, mas eu re... eh, como eu disse, eu relaciono muito as pessoas à, à personalidade delas. Eu acho que ele deve ser assim um cara muito humano. Muito preocupado assim com os problemas sociais, que ele transmite isso nas músicas dele, aquela angústia em relação ao futuro e à, e à sorte das pessoas.
DOC. -  Você acha ele bonito?
LOC. -  Eu acho ele bonito.
DOC. -  Por quê? O que é que ele tem de bonito fisicamente?
LOC. -  Tem os olhos também.
DOC. -  (sup./inint.) tem alguma coisa que lhe chama atenção (sup.)
LOC. -  (sup.) Me chama atenção muito.
DOC. -  Você tem assim alguma predileção por cor de olhos?
LOC. -  Não, só o tipo de olhar. Não o tipo dos olhos (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) tem algum problema (inint.)
LOC. -  De vista?
DOC. -  (inint.) com olho (inint.)
LOC. -  Não, não tenho. Que eu saiba não. Nunca fiz um exame de vista. Mas eu, eu devo estar tendo porque eu agora quando eu começo a ler eu vou ficando com a vista um pouco cansada, sabe? Vai me dando uma dor de cabeça e eu tenho a impressão que eu devo estar com algum problema de vista (sup.)
DOC. -  (sup.) Alguém na sua família tem problema de vista?
LOC. -  Na minha família, pai, mãe, irmã, não, agora meu avô tinha problemas, usava óculos, tenho um tio que usa óculos com bastante grau.
DOC. -  Mas por que (inint.)
LOC. -  Sabe que eu nunca ... Eu acho que meu tio, acho que é astigmatismo e meu avô eu não sei o que que era não.
DOC. -  Sua irmã é parecida com você ou ela é diferente? Como ela é fisicamente (sup.)
LOC. -  (sup.) Tem traços. Minha irmã é alta, magrinha, magrinha, tipo assim da Audrey Hepburn. Minha irmã é muito bonitinha também, ela é bem magrinha, cabelo curto, curtinho.
DOC. -  O rosto dela, como é? Como é o tipo de rosto? Tipo de nariz (sup.)
LOC. -  (sup.) Também tipo de rosto como ... Ela tem o rosto um pouco comprido também, olhos grandes, olhos muito grandes minha irmã tem, enormes.
DOC. -  E nariz, boca?
LOC. -  Nariz, eh, nem grande nem pequeno, boca também.
DOC. -  E já que você falou em cabelos, quais são os cuidados assim que você toma com o seu cabelo?
LOC. -  Lavar o cabelo de, de dois em dois dias porque eu tenho o cabelo também muito gorduroso, só.
DOC. -  Você lava com algum produto especial ou ...
LOC. -  Sabão neutro e xampu de neném, só.
DOC. -  E você cuida assim em termos assim de ir a cabeleireiro (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Não, eu não tenho paciência pra ficar sentada no cabeleireiro. E nem gosto de cabelo arrumadinho, engomadinho, nada disso.
DOC. -  Quer dizer que quando, quando você vai a alguma, eh, parte, algum local, uma reunião assim especial, você não tem esse tipo de preocupação não, né?
LOC. -  Não. Eu arrumo meu cabelo em casa mesmo.
DOC. -  E quando você (sup.)
LOC. -  (sup.) É.
DOC. -  Como é que você poderia dizer que o seu cabelo está agora? Tipo de cabelo, assim?
LOC. -  Não sei, já tomou tanto vento na condução que eu não sei mais. Meu cabelo agora?
DOC. -  É.
LOC. -  Está semi... semi-curto ou semi-longo, não sei. Está ondulado que eu enrolei ontem.
DOC. -  Ele é ondulado naturalmente?
LOC. -  Ele é, tem ondas largas. Eu enrolo pra ficar um pouquinho mais armadinho. Só, é a única coisa que eu faço no meu cabelo.
DOC. -  E sua irmã, como é o cabelo dela?
LOC. -  Liso, curtinho e liso. Cortou quase igual ao da, da Elis Regina, só bem maior.
DOC. -  E assim, na sua maneira de vestir, você se preocupa com, com, em arrumar o seu tipo físico, né, hum, com as roupas que você veste, com os tipos de roupa?
LOC. -  Ah, sempre. Eu não uso nada que não esteja muito assim de acordo comigo não. Sempre procuro vestir coisas que fiquem bem em mim, mesmo que elas, às vezes elas não estejam nem na moda. Nunca visto moda por vestir moda. Eu visto o que fica bem em mim.
DOC. -  Que que você acha assim do que está em moda em termos assim de cabelo (inint.) de rosto?
LOC. -  Olha, isso é muito difícil dizer porque hoje em dia se usa de tudo, de todo o tipo de cabelo. Eu acho que a, a moda antiga está voltando. Se a gente for pegar figurino antigo e figurino de agora, né, a gente vê isso, tudo voltando, então, não tem uma, uma moda assim definida, eu pelo menos não vejo. Usa-se de tudo: cabelo curto, cabelo comprido, cabelo semi-curto, não tem uma coisa ... Roupa a mesma coisa.
DOC. -  Você disse que se preocupa com certos tipos de roupa que não ficam bem em você, né? Quais são? (sup.)
LOC. -  (sup.) Que eu me preocupo (sup.)
DOC. -  (sup.) Tipos que você acha que não ficam bem em você e que você não gosta de usar.
LOC. -  Ah, eu não gosto de usar nada extravagante (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) por exemplo (sup.)
LOC. -  (sup.) Nada que chame demais atenção, assim, por exemplo, bijuterias, bijuterias dessas assim, brincos grandes e essa, essas coisas assim que não ficam muito bem pro meu tipo porque eu sou baixa, colares e mais colares, pulseiras, nada disso, eu sou muito simples, eu nem, nem gosto de jóias, nem nada disso.
DOC. -  Em relação a, às roupas mesmo?
LOC. -  Roupas eu uso, nem, nem uso micro, não gosto nem uso máxi, nem mídi. Eu uso quatro dedos ou cinco acima do joelho, minissaia, né? E também não gosto de roupa que chama atenção.
DOC. -  Por quê? Você acha que não fica bem ou ...
LOC. -  Eu não gosto de chamar atenção.
DOC. -  Mas não, não que você tenha assim algum ... Porque algumas pessoas têm preocupação por exemplo com as pernas, então, não fica bem, ou então com o tipo de, de corpo, não é?
LOC. -  Não, isso eu não tenho problema nenhum não. Nunca tive problema assim. Mas eu não gosto é de chamar atenção. Vestir uma roupa que saia na rua e que a gente pareça assim uma, uma 'avis-rara', que todo mundo olha, que todo mundo comenta, eu não gosto disso.
DOC. -  Você controla o seu peso?
LOC. -  Não.
DOC. -  Você tem esse, essa preocupação?
LOC. -  Não, também não tenho problema de peso, eu como de tudo. Porque a, a gente vivendo numa cidade como o Rio de Janeiro, cheia de problemas, todo mundo nervoso, todo mundo neurótico no meio da rua, hoje a gente está passando muito bem, mas amanhã está passando muito mal, então, o dia-a-dia controla o meu peso.
DOC. -  E você sempre teve mais ou menos esse peso?
LOC. -  Eu tenho, peso quarenta e três quilos. Quando eu estou com quarenta e cinco eu estou gorda. Se eu estiver com quarenta e um ou quarenta eu estou magra, quer dizer, o meu peso é esse, quarenta e três.
DOC. -  E sua irmã, é mais magra?
LOC. -  Minha irmã é mais alta e mais magra do que eu. Minha irmã parece que pesa quarenta e um quilos e tem, deve ter um metro e sessenta e dois, por aí.
DOC. -  Você disse que se acha muito baixa, né? Tem um metro, um metro e meio?
LOC. -  Eu não me acho, eu sou.
DOC. -  Você faz alguma coisa para parecer mais alta? Porque às vezes certos tipos de roupas ou, ou certas outras coisas fazem com que as mulheres pareçam mais altas ou às vezes mais, mais magras, etc.
LOC. -  Não, eu acho que não adianta. A gente quando é uma coisa é mesmo, né, pra que disfarçar? Eu sou aquilo que eu sou. Então eu não faço nada. Também eu não tenho complexo, eu vou ter complexo por ser baixa ou ser alta, não vale a pena não, esquentar a cabeça com essas coisas, eu não faço nada pra disfarçar não.
DOC. -  Agora (inint.) você disse que tem problema com a pele, etc. Agora, o que que você usa assim, né, de pintura no seu rosto?
LOC. -  Bem, dia de semana assim pó-de-arroz só, um pouquinho de, de, de 'blush' e sombra, rímel, só. Agora, quando tem uma festa aí já faço uma coisa, já passo base, pinto os olhos com delineador, sombra, faço uma, uma pintura mais completa.
DOC. -  (inint.) e aqui?
LOC. -  Lábios. Geral... geralmente eu não uso batom. Eu es... esqueço. É uma coisa que eu sempre esqueço, eh, brincos, batom, colar, essas coisas geralmente eu esqueço. Hoje estou com essa, com esse fiozinho aqui, com esse, hum, como é o nome? Cacau (sic) de, de, alpaca.
DOC. -  Você, por exemplo, que que você notaria de modificação, na aparência, na pele (inint.) de uma pessoa quando é mais jovem e de uma pessoa quando é, já é mais velha?
LOC. -  Bem, a pessoa mais jovem tem uma pele, vamos dizer, mais, não é, vamos dizer, mais sadia, mais uma pele mais luminosa, uma pele lisa, esticadinha. (riso) A pessoa jovem, eh, velha, não, a pessoa velha já apresenta o problema de rugas, pele ressecada, daí pra frente. E mesmo, eh, eu estive lendo agora no "Livro da Vida", diz que a pele da pessoa mais velha inclusive custa mais a, a cicatrizar. É isso que eu noto.
DOC. -  E você como mulher, você tem preocupação com esse passar do tempo, ah, eh, a velhice que vai vir depois, que (inint.) as mulheres sempre se preocupam com isso, não é?
LOC. -  Eu tenho preocupação com as coisas que eu não vou poder fazer e que eu gostaria de, de ter feito. Eu nunca parei pra pensar no dia que eu for velha. (riso) Você perguntou isso agora, eu nunca parei assim pra pensar. Eu te... acho ... A preocupação, eu não sei, eu acho que a preocupação de todo mundo no fundo é isso, quer dizer, das coisas que a pessoa vai perdendo, as coisas que não vai fazendo e que não vai poder fazer. O tempo vai correndo e não pára, né?
DOC. -  Como é que você se caracterizaria, a gente não conhece quase, praticamente não conhece você, né, assim em termos de temperamento, como você é? Que tipo de pessoa você é em termos de temperamento?
LOC. -  Olha, geralmente eu sou calma. Não ... Tenho uma estabilidade de humor. É difícil me verem zangada assim, é difícil eu fazer uma grosseria a alguém. Eu sou muito controlada. Eh, por dentro eu sou um vulcão, eu sinto tudo mas ... Eu tenho um, um mundo interior, entendeu, que muita, muito poucas pessoas conhecem. É mais fácil, eu não, não, não digo como é que eu sou, as pessoas que descubram, sabe? Mas de um modo geral eu sou bastante calma, não tenho ... Aparentemente assim, eh, o nervosismo a gente vê pelas mãos, né, pelo modo da, da pessoa sentar, tudo, mas quem tiver, quem observar bem vê que (inint.) aparenta um certo nervosismo, mas no tratar as pessoas eu sou bem calma.
DOC. -  Quer dizer, por, por essa descrição a gente pode perceber mais ou menos que você é um pouco fechada, não é? Isso não cria problemas de ordem profissional pra você não (sup.)
LOC. -  (sup.) Até agora não (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) sua profissão (sup.)
LOC. -  (sup.) Até agora, olha, trabalhei em psiquiatria, que é uma área, uma área bem difícil da gente trabalhar, e sempre tive bom relacionamento. Trabalhei em favela, sempre tive bom relacionamento. Não sei, mas eu acho que eu tenho aquilo que chama empatia, eu, eu tenho isso, entende? É muito fácil pra mim estabelecer amizades, embora eu seja, de um certo modo, fechada. Mas eu tenho amizades mesmo, nunca foi problema pra mim fazer amizade com as outras pessoas, as mais diferentes possíveis.
DOC. -  (inint.) a gente falou assim das modificações que a pessoa fica velha tem de ter, mas há outras modificações, em outras parte do corpo, não só quando a pessoa fica velha, por exemplo, a mulher quando tem filhos, etc. depois, né, do parto ela tem que tomar certos cuidados pra manter, né, o corpo que tinha antes. Então, o que é que muda nela?
LOC. -  Bem, os quadris que alargam. A barriga (riso) que fica mais volumosa. E os cuidados dela. Dieta, não, mas ginástica pra o corpo voltar um pouco, pelo menos, ao que era antes, né? Só, que eu saiba é isso, só, ginástica.
DOC. -  Você não tem ... Você tem quantos irmãos?
LOC. -  Eu tenho uma irmã só.
DOC. -  Ah, só. Solteira?
LOC. -  Não, casada.
DOC. -  Casada. Já, já tem filhos?
LOC. -  Tem duas meninas.
DOC. -  Você não sabe mais ou menos assim os problemas que ela teve, etc.?
LOC. -  Não, sabe que a minha irmã é tão magrinha, (riso) que a minha irmã tem um filho hoje, amanhã você jura que aquilo é mentira, porque ela está mas retinha como ela era, né? Agora ela teve, a neném dela vai fazer dois meses dia dezenove, mas não parece. Ela tem duas filhas, você olha pra ela você diz que não. Não tem problema algum. Na é...
DOC. -  Por que você diz que não? Quer dizer o que que não dá a idéia? Só porque ela é magra? Não. Mas há outras características, né, o corpo, todo ele, né?
LOC. -  Todo ele, ela fica como ela era, ela fica, ela engorda essencialmente a barriga, teve neném, volta tudo ao que era antes.
DOC. -  Ela não aumenta aqui, nem aqui?
LOC. -  Bem, o busto só enquanto está amamentando, parou de amamentar, volta ao que era antes.
DOC. -  Você disse que ela é bonitinha, ela tem o corpo bonito também?
LOC. -  Bem, se quem acha corpo bonito, acha que o corpo bonito é o da mulher magra, acha o corpo da minha irmã bonito. Eu não sei, dep... depende da concepção de, de achar bonito.
DOC. -  E qual seria a outra possibilidade de achar bonito, seria o quê? A mulher que tivesse o quê?
LOC. -  Bem, tem gente que gosta de mulher um pouco mais cheinha, né, gordinha em todos esses pontos, do pé à cabeça e tem outros que gostam mais ou menos, outros ma... macérrima. Depende muito da pessoa.
DOC. -  Por exemplo, se você vai (inint.) falar só do corpo (inint.) roupas, eh, você compra as suas roupas sempre prontas ou você tem uma costureira que pode fazer, etc.
LOC. -  Bem, lá em casa, eh, mamãe e a minha irmã costuram.
DOC. -  Costuram? Então que tipo de medidas é que se tira e de onde se tira assim pra fazer o vestido?
LOC. -  Bem, quadris, busto, cintura, ah, no, antebraço, né? Pra ver, eh, comprimento de manga, largura, que mais? Comprimento, costas, só.
DOC. -  (inint.) costura toda a roupa (inint.)
LOC. -  Minha e delas, são elas que fazem.
DOC. -  Agora, outra coisa. Você falou que a gente, a gente vive numa cidade grande, muito cheia de problemas, todo mundo neurótico, não sei o quê. Então, o trabalho é uma coisa muito cansativa, não é? Como é que você faz pra recuperar esse cansaço da semana?
LOC. -  Olha (sup.)
DOC. -  (sup.) Dia de semana, por exemplo, você dorme as horas que são consideradas como, eh, ideais?
LOC. -  Eu agora estou dormindo muito pouco. Dormindo uma ... Não sei, eu ando com uma insônia, uma coisa horrível. Eu não sei, certos problemas que estão acontecendo agora e que eu fico sem sono mesmo. Eu estou dormindo uma média de cinco, cinco horas e meia por dia, mas fora isso, quando eu não tenho problema nenhum eu durmo bem. Agora pra descansar mesmo, só indo pra fora, né, fim de semana fora. Isso eu aproveito, eu tenho um tio que se aposentou, comprou um sítio em Paraíba do Sul, de vez em quando a gente vai pra lá fim de semana ou então pra casa da minha irmã que está morando em Barra do Piraí. É assim que eu descanso. Se ficar no Rio, eu não descanso não.
DOC. -  Você ficando em Barra do Piraí, o que que você faz pra descansar?
LOC. -  Eu ... (riso) É ler (riso) e escutar disco, o dia inteirinho.
DOC. -  E você não gosta assim de praia?
LOC. -  Gosto, às vezes também eu vou pra, verão, eu vou pra Araruama.
DOC. -  E você acha, por exemplo, que muito sol faz bem pra você? Saúde e pele?
LOC. -  Pra pele, não muito não. Eu tenho (sup.)
DOC. -  (sup.) Por quê?
LOC. -  Sei lá, acho que eu tenho alergia ao sol. Se eu ficar muito tempo ao sol depois, daquele sol de, de... depois de onze horas, meio dia, é uma desgraça, eu fico com a pele toda encalombada (inint.) inflamando, sabe, os poros, não é bom. Agora, de sete horas da manhã até dez e meia não tem problema, aí eu gosto, eu gosto muito de praia.
DOC. -  Você acha que é uma característica assim, sua, de, de alergia ou você acha que tem a ver também com a tonalidade da pele?
LOC. -  Sei lá, eu nunca parei pra pensar sobre isso não. Eu acho que é minha porque as outras pessoas não apresentam isso. Só uma prima. Não sei (sup.)
DOC. -  (sup.) Outra coisa, no seu trabalho você falou que já trabalhou em favela, né? E fora de favela, você já, já teve outro tipo de trabalho, contato com outro, outros tipos de pessoas?
LOC. -  Fora da favela? Bem, eu já participei duas vezes do projeto Rondon.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Da primeira vez eu fui para o norte de Minas.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Em Paracatu.
DOC. -  Você esteve também no norte, né (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) No norte em Parentins, Amazônia.
DOC. -  Você notou assim algumas características que fossem peculiares dessas pessoas, dos nortistas, em termos físicos?
LOC. -  Bem, no norte é aquele tipo índio, as pessoas morenas, cabelos pretos, lisinhos, olhos pretos, estatura mediana.
DOC. -  O tipo de rosto?
LOC. -  Tipo de rosto, geralmente é aquele rosto redondo.
DOC. -  E as mulheres como eram?
LOC. -  Também. Cabelo geralmente comprido, né? No lugar que eu fui. Engraçado, eu não vi um preto na cidade onde eu, onde eu estive, eram ... Eu, pode ser que haja, mas eu não vi. Todos morenos, bem morenos, tipo de índio, agora preto nenhum. E branco também eram raros, os, os brancos, mesmo brancos, que a gente considera branco, castanho, louro, eram uns padres italianos. Agora as mulheres, você falou, geralmente as pessoas são magras, pelo tipo de alimentação, pelo tipo de vida, pelo tipo de clima, são magras, de estatura mediana também.
DOC. -  Hum. Alguma vez você teve contato ou trabalhou com alguma pessoa que tivesse, eh, deficiência física, ou aqui no Rio ou fora?
LOC. -  Colega, assim de ...
DOC. -  Não, pessoas que ... Dentro da sua profissão?
LOC. -  Ah, den... Ah, já.
DOC. -  Que tipo (inint.)
LOC. -  Olha, no, no norte de Minas a gente vê muito.
DOC. -  O quê? Vê muito o quê?
LOC. -  Pessoas assim com deficiência física e principalmente deficiência mental.
DOC. -  E as deficiências físicas são como, de, de que tipo?
LOC. -  É raquitismo, paralisia infantil, isso tem muito, muito mesmo. E tem também, que não é deficiência física, mas são doenças, lepra, ah, leishmaniose.
DOC. -  Que é isso?
LOC. -  É uma, uma, um, acho que é uma doença derivada também, da, da família da, da lepra. E tem a (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) tem também manchas (sup.)
LOC. -  (sup.) Doença de Chagas. São ... Apresenta Chagas também. Doença de Chagas que lá é, dizem que é o coração do, do barbeiro, da doença de Chagas é lá, é o, o foco do barbeiro é lá. Tem muito mesmo e a gente vê pelo tipo de habitação, aquelas palhoças, né, cobertas de folha de buriti.
DOC. -  Hum.
LOC. -  É um coqueiro que eles têm lá. As casas cobertas com aquilo. Eles fazem pulverização com B... BHC, tomam todas as medidas, ah, o pessoal do, do lugar, da prefeitura, mas não adianta porque quando eles vão lá pulverizam o BHC os, os barbeiros entranham pela aquela, aquela palha e fica lá até passar o efeito do, do pulverizante, depois eles saem e continuam, né, na ação deles.
DOC. -  E além desses tipos assim que você enumerou, raquitismo e essas doenças e tal, al... alguma doença de pessoas com ausência de, ausência de determinado membro, falta de determinado membro, por exemplo?
LOC. -  Não. Ah, eu vi também muito, eh, casos assim, muitos casos mesmo, eh, de lábio leporino, sabe? Muito mesmo.
DOC. -  E eu queria saber em que medida esses, esses fatores, não é, influ... influenciariam a, enfim, o comportamento dessas pessoas?
LOC. -  Olha, eu vou dizer, nesse lugar que eu estive eu acho que é uma coisa a ser estudada assim com mais profundidade. Olha, o lugar é tão atrasado, mas tão atrasado, que eles não conheciam nem o Pelé. É uma coisa assim absurda porque Pelé é conhecido em todas as partes do mundo, né? Eles não conheciam. As pessoas, você chega, você olha, tem a impressão que é todo mundo abobalhado, sabe? Eles não têm consciência deles, eles não, eh, a consciência deles é só daquele pedacinho onde eles vivem. Eu não sei até que ponto essa deficiência deles influi no comp... no comportamento porque eles têm, não sei, parece que é um, um, uma, uma uniformidade de comportamento que eles ... Nunca vi igual em lugar nenhum. Aquela parte de, de Minas devia ser estudada com mais profundidade. Que é uma coisa horrível! Olha, eu fiquei mais impressionada do que com a Amazônia. Eles não têm consciência de nada. O lugar, olha, era uma colônia da, da SUVALE, Superintendência do Vale do São Francisco, eles desapropriaram três fazendas pra formar essa colônia e distribuíram algumas terras, formaram núcleos e entregaram a lavradores e abandonaram. Há vinte anos, sem assistência de espécie alguma. Então essa gente vive lá dentro feito bicho, sabe, feito bicho mesmo. Tem gente que nem em palhoça mora, mora mesmo ao relento. Passam fome, passam sede porque o, o clima tem, é um pouco igual ao do nordeste, quer dizer, eh, essa colônia fica no vale do, do rio São Francisco, então, tem vezes, na época de seca, que eles passam fome mesmo. A gente vê a marca do, do rio, ele seco. E a, a comida eles vivem é de feijão, de arroz que eles conseguem plantar. Tem muita coisa que pode ser industrializada, como algodão, eu vi eles fazerem fazenda, eles cultivam o algodão, fazem fazenda e fazem roupa, sabe? Essas coisas assim, mas vivem num completo abandono.
DOC. -  Eles devem ser então muito magros, né?
LOC. -  Magros, brancos, desdentados (sup.)
DOC. -  (sup.) Eles não têm princípio de higiene nenhum, né?
LOC. -  Nenhum, nenhum. Exi... a higiene simplesmente não existe.
DOC. -  O trabalho de vocês lá era qual?
LOC. -  Bem, o nosso trabalho foi assim quase que, que só paliativo, porque nós não tínhamos muito recursos, tínhamos pouco tempo, então o trabalho que apareceu mais foi o trabalho do pessoal de medicina, porque nós chegamos com remédios, dar remédio pra aquela gente então era aquilo assim, era aquele enxame, né, de gente.
DOC. -  (inint.) remédio pra quê?
LOC. -  Vermes, remédio pra vermes, anemia, foi o que mais saiu e a gente via que às vezes chegavam pessoas que precisavam mais do que isso, mas que nós não podíamos dar. Naquela situação que nós estávamos não podíamos dar mais. Era só coisa que, só o, o governo mesmo, ou do estado ou o governo federal poderia tomar uma medida que viesse a satisfazer mais àquela gente.
DOC. -  As crianças como são, as crianças, lá?
LOC. -  Magrinhas, as crianças. Pálidas, a gente vê o, o cabelo sabe? Aquele cabelo feito palha, que a gente vê que é falta mesmo de, de vitaminas. Eu vi muito também é gente com os lábios à flor, eh, os nervos à flor da pele, os nervos labiais, sabe? Falta de vitamina, acho que é vitamina B, né? Beribéri. Gente uivando de dor, os lábios, aquilo tudo em carne viva, sabe? Vi muito disso. Vi que mais? Tinha uns outros, uma doença que eu nunca vi, nunca ouvi falar, nunca, não sabia que existia uma doença chamada calabar.
DOC. -  Não sei também não. Como é?
LOC. -  É um, um (inint.) só. Parece que também é da, da família da lepra. Não sei bem (sup.)
DOC. -  (sup.) Como é que a pessoa fica, qual é a aparência?
LOC. -  Esse homem eu não vi lá. O pessoal de medicina é que viu. Minha parte era mais social, eu tratava mais de pesquisa. Fazia muita palestra. O pessoal de medicina atendeu a esse caso, não vi as características físicas, mas nunca tinha ouvido falar dessa doença calabar. Agora, eh, lá também apareceu um caso, também, um menininho que tinha seis dedos na mão e o pessoal operou, tirou o dedinho, que tinha mais um, do lado do dedo mínimo ele tinha um outrozinho, sabe? Não tinha osso, osso, osso não, osso nem nada por dentro, eles cortaram. Tinha oito meses esse neném. Caso assim de doença ...
DOC. -  Isso que eu ia perguntar. As mulheres, as mulheres grávidas dessa região, como é que elas fazem normalmente, você sabe? (sup.)
LOC. -  (sup.) Ah, tem aquelas curiosas, né, aquelas parteiras e o atendimento é feito por elas ou então elas têm os filhos sozinhas. A empregada que estava, deram uma empregada pra gente, era (inint.) nossa casa, então os filhos dela, todos nasceram com ela mesmo, né? Ela tinha os filhos, levantava e continuava o serviço dela, sozinha. Aqui na cidade, eh, tudo, a mulher é cercada de tudo que é cuidado, né? Lá é sem assepsia alguma, a maior falta de cuidado possível.
DOC. -  (inint.) mas parece, você disse que é um vulcão por dentro, aparentemente assim é tranqüila, você sempre foi assim, em criança, assim tranqüila, nunca fez coisa assim pra, pra acidentes?
LOC. -  Ah, não! Eu fui a criança mais levada do mundo. Eu tive uma infância, graças a Deus, eu tive uma infância felicíssima, sabe?
DOC. -  Mas assim em termos de, de acidentes?
LOC. -  Ih! (sup.)
DOC. -  (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Eu, engraçado, eu sempre fui muito levada, mas sempre fui de paz com os outros, sabe? Era levada assim mas sempre liderei brincadeiras, bagunças era comigo, né? A minha irmã, que era a mais quieta, mais calada, sempre se machucava. Na hora que ela resolvia participar de alguma brincadeira ela se machucava. (riso) E eu não, eu sempre fui muito mais levada mas nunca sofri acidentes sérios. Só tive um corte aqui, que eu tenho uma cicatriz até hoje, na testa que eu ...
DOC. -  Você precisou fazer alguma coisa?
LOC. -  Só costurar, né? Mais nada. Também não tive problema mais algum com isso, mas fui muito levada.
DOC. -  (inint.) alguma fratura, assim?
LOC. -  Não, nunca, graças a Deus.
DOC. -  E essas doenças que são comuns em crianças, você teve?
LOC. -  Tive todas.
DOC. -  Quais que você teve?
LOC. -  Ah, sarampo, coqueluche, catapora, que mais, caxumba. Todas as que, essas doenças infantis, eu tive.
DOC. -  (inint.) doenças normais (inint.) acidente (inint.)
LOC. -  Normais (sup.)
DOC. -  (sup.) Mas sua irmã você disse que ela se machucava, mas se machucava muito como (inint.)
LOC. -  Caía. Porque ela, não sei, eu acho que ela não ... A gente que participa mais das coisas parece que vai treinando, vai, vai avivando mais, mas ela não. Ela ficava parada, ela gostava de brincadeiras mais tranqüilas, sabe? Arrumar casinha e brincar de escola. Na hora que ela resolvia participar de uma brincadeira assim de pegar, nós chamávamos de brincadeira de pique, né, aí ela, geralmente ela era a primeira acidentada, né? (risos) Ela foi já, minha mãe de vez em quando corria com ela pro pronto socorro. Era braço quebrado, uma vez ela caiu da rede, outra vez a cabeça, ela teve um, um corte na cabeça. Tinha uma outra, nós éramos quatro, duas vizinhas, casas geminadas, nós morávamos numa vila e uma casa antes da nossa tinha duas meninas: a mais velha da idade da minha irmã e a mais nova da minha idade. A mais velha era (riso) o diabo em figura de gente, então ela ia andando de velocípede e levando a minha irmã atrás. De repente ela levantou e minha irmã caiu, sabe? Aí foi minha mãe correndo pro pronto socorro. Outra vez ela estava na rede se balançando, né, a minha irmã parada, ela com um lápis, enterrou o lápis, eh, perto dos olhos da minha irmã, sabe? A outra menor me mordia, mas me dava cada mordida de ficar roxa, mas uma coisa horrorosa. Minha mãe nunca brigou com a mãe dela porque de vez em quando a gente ia à forra também, né? Eu, uma vez eu apanhei, apanhei, no dia que eu pude taquei a vassoura na cabeça da menor e deixei ela desmaiada. (riso) Até hoje nós somos amigas, tanto a mãe dela com a minha e as duas, né, nossas amigas mesmo.
DOC. -  Vocês tinham o hábito de dormir em rede na sua casa?
LOC. -  Não, tinha rede assim como distração, né? O pai de... o pai das meninas, não na minha casa, na casa das meninas, o pai delas gostava muito de ler na rede, sabe?
DOC. -  Ele era carioca?
LOC. -  Carioca.
DOC. -  Engraçado, porque não é muito comum, não é, no Rio, rede.
LOC. -  É, no norte a gente não vê cama. Em Parentins, pelo menos, eu não vi (sup.)
DOC. -  (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) É, bebezinho mas de meses, a gente com medo de cair, né? A gente vai, olha, eu nem abria a minha boca porque não adianta nem falar, né? Aquilo já é um hábito enraizado neles, né? Mas você fica nervosa, você fica imaginando aquela criança caindo.
DOC. -  E você acha que esse hábito de dormir em rede, por exemplo, as crianças novinhas, bebês, né, como você falou, você, vai, vai prejudicar depois a, a, a, o desenvolvimento físico da criança, qualquer coisa?
LOC. -  Eu não sei, eu só podia responder isso a você se eu fosse médico, mas de observar assim (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) pois é (inint.)
LOC. -  Eu nunca observei uma pessoa que tivesse dormido sempre em rede, eh, nunca observei mais tarde, não sei. Eu acho que não. Pelo, pelo que eu observei nas pessoas lá, todas elas têm um porte bom. Não vi pessoas andando assim curvadas. Não vi, é difícil você ver. Você vê no norte de Minas, as pessoas andarem muito curvadas, as pessoas olham muito pro chão. No norte não, a pessoa te encara mesmo, te olha nos olhos, eles não abaixam a cabeça. E têm um porte ereto, bom. Quer dizer, não deve atrapalhar muito, né, o uso da rede (sup.)
DOC. -  (sup.) Sabem a maneira, né, de colocar, né, a criança na rede (sup.)
LOC. -  (sup.) Pois é. Eles colocam um pau, sabe, na, na largura da rede, então fica retinho enquanto é bebezinho. Agora, os adultos não, dormem naquela rede curvada mesmo. Agora eu nunca consegui dormir numa rede, né? (riso)
DOC. -  Eu ia te perguntar uma coisa que você disse que não li... não, esquece assim em termos de aparência física uma pessoa, deixa eu aproveitar que o professor R. saiu, você saberia assim descrever o tipo físico dele, você se lembra?
LOC. -  Olha, dele o que me marcou mais foi o sorriso dele. (riso) Ele tem um sorriso assim um pouco irônico, não tem? (riso) Agora aparência física, ele não é muito alto, ele tem uma estatura normal, um pouco careca, não é? (riso) Cabelo meio grisalho, usa óculos.
DOC. -  E que mais (inint.)
LOC. -  Vou te dizer, eu acho que ele tem um rosto assim, rosto pequeno, curto. A pele é mo... morena, só.
DOC. -  Você acha ele bonito?
LOC. -  Não sei, eu, eu, não ... As pessoas pra mim, acho que são assim alguma coisa mais do que físico. Se vocês convivessem comigo vocês iam ver isso. Eu não dou, não dou muita atenção (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) observar.
LOC. -  Ah, mas ele saiu há muito pouco tempo.
DOC. -  (inint.) ele tem, obviamente, nós somos todas mulheres, né? Ele tem, né, algumas coisas que você não falou, né?
LOC. -  Ah, barba, né? É, eu sei lá. Eu não sei se ...
DOC. -  Você não se lembra como é?
LOC. -  Ah, acho que ele estava com a barba um pouco crescida, não é? Não é isso não? Sei lá, sinceramente eu não, não me detive muito nele não. Tanto que ele estava ali do lado, eu quase não estava olhando pra ele.
DOC. -  (inint.) você falou que ele tem sorriso assim um pouco irônico, você (sup.)
LOC. -  Gozador, assim. (riso) Ele deve ser assim. (riso)
DOC. -  Pois é, você acha que as pessoas, como, como você não, não conhece nem nada a pessoa, você acha que, você identifica logo as pessoas, o tipo físico com o temperamento delas, como elas devem ser? Você acha que ele poderia ser uma pessoa tranqüila?
LOC. -  Se ele é tranqüilo? Ele não deve ser muito tranqüilo não mas deve ser uma pessoa assim muito bacana da gente lidar. Não sei, não sei se é um caso de intuição, eu tenho muita intuição, sabe? Mas ele pareceu ser uma pessoa assim muito bacana da gente lidar. Muito acessível, amigo, não sei se é. Só, isso eu só poderia confirmar com a convivência, né?
DOC. -  Exato. De qualquer maneira (inint.)
LOC. -  Sinceramente, eu não me detenho muito nas pessoas não, assim fisicamente não. Eu tenho amigas de tudo que é jeito: alta, baixa, morena, preta, branca, amarela. (risos) Não tem ... Pra mim não ... Eu faço amizade, eu, eu faço questão das pessoas serem honestas comigo, como eu sou com os outros. É a única coisa que eu faço questão, mais nada.
DOC. -  Você tem alguma amiga sua (inint.) que tenha assim a maior preocupação com aparência física?
LOC. -  Tenho, mas tudo é insegurança.
DOC. -  Mas como é que essa pessoa é?
LOC. -  Ela é morena, bem morena. Ela é bonita, tem dentes bonitos, perfeitos. Ela ... Nariz afiladinho, sabe? É uma pessoa muito bonita mas é uma pessoa completamente intranqüila. Eu tenho a impressão que ela é muito preocupada assim com a aparência dela, porque ela não está satisfeita com, interiormente, então ela procura compensar isso com a aparência externa.
DOC. -  De que maneira (inint.)
LOC. -  Ah, se vestindo bem, ela tem, se ela não estiver certinha de um fio de cabelo até a ponta do pé ela não sai na rua, aquele medo do julgamento das pessoas, sabe? Que as pessoas vão pensar dela, de as pessoas ... Porém ela assim em xeque, ela tem um medo horrível disso. Ela não diz mas a gente percebe. É muito minha amiga.
DOC. -  E ela vai a cabeleireiro (inint.)
LOC. -  Vai. Vai sempre a cabeleireiro (sup.)
DOC. -  (sup.) Que é que ela faz (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Se veste em butique.
DOC. -  Que é que ela faz com o cabelo?
LOC. -  Ahn?
DOC. -  Ela vai ao cabelereiro fazer o quê no cabelo?
LOC. -  Ela faz muita rinsagem no cabelo, pinta cabelo, despinta, faz ... (risos) Cada vez que, que eu a vejo ela está de um jeito, sabe? Mas eu tenho certeza de que se ela estivesse mais tranqüila, ela não ia se preocupar com nada daquilo. (riso)