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PROJETO NURC-RJ

DIÁLOGOS ENTRE INFORMANTE E DOCUMENTADOR (DID):

Tema: "Ensino e igreja"
Inquérito 0005
Locutor 0008 - Sexo feminino, 42 anos de idade, pais não-cariocas, professora de filosofia. Zona residencial: Sul
Data do registro: 25 de outubro de 1971
Duração: 43 minutos


Som Clique aqui e ouça a narração do texto


LOC. -  Eu não exerço.
DOC. -  (inint.) que você fez antes da Filosofia?
LOC. -  Eu fiz, acabei o clássico e entrei logo pra faculdade de Filosofia, fiz vestibular, entrei pra faculdade de Filosofia.
DOC. -  E antes do clássico o que que você fez?
LOC. -  Ah, bom, jardim da infância, fiz primário, depois ginásio, clássico, faculdade de Filosofia.
DOC. -  E entre o curso (inint.) clássico e a faculdade de Filosofia foi direto ou ...
LOC. -  Fui direto, acabei o terceiro ano e dois meses depois fiz o ...
DOC. -  Mas hoje em dia tem uma série de outros cursos, também, né (inint.) entre o clássico e, e a faculdade.
LOC. -  Bom, eu fiz assim, fiz Aliança Francesa, fiz Cultura Inglesa e, e s... e só.
DOC. -  Só. E essas escolas em que você estudou, como eram?
LOC. -  O, o primário era um colégio ótimo, pequeno e (tosse) todo mundo se sentia muito à vontade. Quando acabei, fiz o exame de admissão prum colégio maior, de freiras, detestável. Então nesse todo eu detestei. Eu não consegui desligar do gravador, viu, M.H.
DOC. -  É?
LOC. -  É, eu acho melhor tirar esse troço daqui, aqui. Eu fiquei segurando esse troço aqui. Esse negócio aqui está pare... sentindo que eu estou igual a, uma pessoa assim, entende? O colégio era um, um, uma bomba. Colégio muito tradicional, cheio de, umas freiras assim quadradas e eu me sentia muito mal nesse colégio e fiquei sete anos lá (inint.) de lá estava cheia, lotada e fui pra faculdade de Filosofia.
DOC. -  Você não gostava dos professores (inint.)
LOC. -  Professores de fora eu gostava, eu não gostava era do espírito do colégio, que era um colégio medieval.
DOC. -  Mas medieval em que sentido?
LOC. -  Ah, a gente não podia dar uma palavra o dia inteiro. A gente entrava, não dizia nada, tudo em fila e no refeitório não se dizia nada, a gente vivia assim umas freiras soterrando a gente. Era um ...
DOC. -  Elas impingiam a religião?
LOC. -  Religião não impingiam não, impingiam uma disciplina, uma disciplina assim ridícula. Ninguém tinha vez, ninguém podia discordar de nada. Todo mundo tinha que dizer amém. Quem discordava, aí era fogo, né? Não era bem ... A religião não era muito impingida não, era, era uma disciplina que era, era impingida.
DOC. -  E as colegas como eram?
LOC. -  Ah, as colegas eram muito boas. Geralmente, a maior parte abaixava a cabeça, eram poucas aquelas que se rebelavam contra essas, essas monstrengas.
DOC. -  E como é que elas se rebelavam?
LOC. -  Ah, contestavam, o que hoje todo mundo faz, isso era há vinte anos atrás, né, M.H., então a gente tudo que a freira dizia a gente, eu, por exemplo, eu (inint.) eu não concordo, eu quero fazer assim e tal, de modo que dava os maiores enguiços. Ninguém podia dizer nada.
DOC. -  E você como aluna como é que foi?
LOC. -  Aluna mesmo? Eu era mais ou menos regular, mais pra bom do que pra ruim, na faixa da, das, das melhores, melhores, é.
DOC. -  Com relação aos companheiros por exemplo?
LOC. -  Ah, não, eu me dava com todo mundo, gostava de todo mundo, sempre fui assim o tipo do, da pessoa abana-rabo, sabe como é que é?
DOC. -  Você estudava. E as suas colegas?
LOC. -  A minha t... que a turma era dividida em turma, em duas, em duas classes: a e bê. A era o pessoal mais estudioso e eu estava nessa turma, de modo que geralmente todo mundo era mais ou menos um, um nível bem bom de, de estudo. Estudávamos bastante.
DOC. -  E na faculdade? Como eram as diferenças (inint.) de estudo? (sup.)
LOC. -  (sup.) Ah, de estudo era, porque a gente primeiro ia fazer aquilo que a gente gostava, né? Quer dizer, eu fui pra, pra filosofia, outras foram pra matemática, outras foram pra física, cada um foi, cada macaco no seu galho. Mas, quer dizer, a gente estava felicíssimo, primeiro não tinha aquele constrangimento das freiras e depois a gente estava fazendo aquilo que a gente queria mesmo, estudando aquilo que a gente queria, o corpo de professores era realmente excepcional no meu tempo.
DOC. -  Havia união entre vocês, professores e alunos por exemplo?
LOC. -  Existia, na faculdade existia. Existia. Mas existia ainda no tempo, no meu tempo de faculdade, o catedrático era uma pessoa muito inatingível, que eu acho que no tempo de hoje já existe mais diálogo. Nós tínhamos uns catedráticos lá que entravam, davam a aula como se fossem assim, rei de França, e saíam. Agora tinha outros não, que, que depois da aula vinham, conversavam, que havia diálogo. Existiam uns dois ou três que eram assim inatingíveis. Acho que o pessoal da faculdade do, da, da, da turma era todo muito ...
DOC. -  Nunca procurou chegar até eles?
LOC. -  Procurava, mas eles realmente ... Tinha um, então, que era o, o professor de filosofia mesmo, que esse era bastante inatingível. Era um padre. Era um homem de um saber imenso, mas que ele chegava, dava a aula e depois ... Eu, eu sabia por que que ele agia dessa maneira, porque ele era uma pessoa de imensa timidez, então ele tinha horror de ter contato assim mano a mano com os alun... com os, os alunos, entende?
DOC. -  Agora me diz uma coisa, você acha que hoje, já que você tem filhos e estudando, há uma diferença muito grande do que você viu pra ensino dos seus filhos e pro que foi o seu?
LOC. -  No gi... no ginásio e no clássico, muito.
DOC. -  Só?
LOC. -  Na faculdade eu não posso saber muito.
DOC. -  Não, antes.
LOC. -  Antes? Ah, sim, completa diferença. É. Eu adoraria ter sido criança no tempo do meus filhos.
DOC. -  Por quê?
LOC. -  Porque pode tudo. A, a vez é, a bola está com eles, entende?
DOC. -  E eles fizeram que tipo de curso antes do ginásio? (sup.)
LOC. -  (sup.) Porque criança, crian... Ginásio, eles eram felizes, eles estudavam com alegria.
DOC. -  E antes do ginásio, o que que eles fizeram?
LOC. -  Primário e jardim da infância. Exatamente o que eu fiz.
DOC. -  Sim, mas o que que você acha que era a diferença assim fundamental? De instalação por exemplo.
LOC. -  No colégio?
DOC. -  De, do que foi o seu colégio (inint.) primário e o que foi o colégio (sup.)
LOC. -  (sup.) Bom, isso não tinha. Não, instalação o primário, eu acho que o meu colégio foi muito, foi muito formidável o meu primário, porque era um colégio que já tinha atividades extra escolares, que eles chamam extra-escolares, teatro e recreação, arte e tudo isso, que ninguém ... Mas não com o nome disso. Hoje em dia era tu... é tudo rotulado assim. Eh, e nós fazíamos um teatrinho pro dia da festa da professora, da, da diretora. E sobre isso então seis meses a gente trabalhava com, com isso, entende? Tinha muito, muita representação que eu sei agora vocês dão o nome de sociogra... sociodrama, qualquer outra porcaria assim, mas que naquele tempo era a festa da, da superiora. Mas era tudo isso que, isso os meninos fazem, eu tive no primário (inint.) no meu primário.
DOC. -  E você lem... E você lembra como é que eram as instalações do colégio? Áreas dentro do colégio? (sup.)
LOC. -  (sup.) Ah, eram geniais, imensas, assim um ja... (sup.)
DOC. -  (sup.) O que que tinha? Você pode descrever? (sup.)
LOC. -  (sup.) Posso. Eram as classes muito grandes, completamente diferentes geralmente desses colégios hoje, pequenos, que é tudo coisa, eram salas imensas, que era uma casa muito antiga no, em, no Flamengo, enorme, e essa casa tinha um porão. Neste porão era assim: tinham organizado um palco, que a gente representava sempre. Todo dia tinha tal, tal, tal ensaio pra festa ou do fim do ano ou da professora. Mas todo dia tinha o tal teatro, que era o máximo, depois a gente ganhava uma bala genial e depois tinha, tinha a arte, eh, tinha colagem, modelagem, aquela coisa toda.
DOC. -  Que mais?
LOC. -  Eh, bordados, e depois tinha um jardim assim cheio de árvores, que a gente corria e que a gente era inteiramente feliz. A gente era tão feliz que quinta-feira não tinha aula no colégio eu, eu...
DOC. -  Esse dia que não tinha aula tinha um nome?
LOC. -  Não, era quinta-feira. É. Era quinta-feira. Então, neste dia, eu de manhã ia pro colégio e passava o dia inteiro no colégio, de tanto que eu amava o colégio.
DOC. -  Apesar de não ter aula.
LOC. -  De não ter aula. Eu ia pro colégio porque ...
DOC. -  E por que que não tinha aula?
LOC. -  Porque era o dia de descanso. Em vez de ser sábado, era quinta feira, era no meio da semana, era dia de descanso, mas pra mim não existia não. Eu ia de manhã cedo. Era muito religioso, o colégio era muito religioso, sem ter o caráter religioso, porque eram professoras que eram freiras, mas que não tinham hábito. Elas se vestiam como as pessoas comuns. Muito mais tarde depois, quando eu já tinha saído do colégio, eu soube que elas eram, elas tinham o voto de castidade, de obediência, aquele negócio todo, mas que eu nunca soube. Elas eram pessoas normais. Elas se dedicavam ao ensino. Era uma ordem belga de pessoas todas muito inteligentes. Tinha brasileiras também. Já tinham sido ... A diretora ainda era belga, veio aqui e implantou essa ... De modo que elas eram umas professoras geniais, entendeu? E eu então passava o dia no colégio, como eu, eram várias, então a gente ajudava elas a fazer as fantasias, ajudava a fazer bonequinhos no caderno, essas coisas todas, ficava lá o dia inteiro, almoçava lá, porque elas me convidavam. Eu me sentia muito feliz almoçando (inint.) voltava só de noite. Era o dia mais feliz da minha vida. (sup.)
DOC. -  (sup.) E nas classes. E nas classes? Você disse que tinha classes antes. O que que vocês faziam nas classes?
LOC. -  A gente, no primário a gente brincava, né? No, no maternal a gente brincava e no jardim, e depois no primário a gente estudava mesmo. A professora dava ...
DOC. -  Estudava o quê?
LOC. -  Bom, estudava português, aritmética, eh, geografia, história, eh, conhecimentos gerais e francês, a, a potes, ah, inglês, neca, e muita poesia de cor, que meus filhos não entendem, que nunca na vida deles eles foram obrigados no primário, aí a grande diferença, de decorar uma poesia. Então quando eu abro a boca e digo um soneto de Olavo Bilac, eles ficam inteiramente embasbacados: mas, mamãe, você aprendeu isto quando? Eu digo: no primário, eu tinha sete anos de idade. Não é possível, mamãe! Nunca decoraram nada, nada, nada e nós decorávamos muitas poesias. Em francês então, em quantidade.
DOC. -  Como eram as salas (inint.)
LOC. -  As salas eram simpatiquíssimas. No primário era assim essas mesinhas baixas, com, com cadeirinhas assim bem pequenininhas pra gente e depois eram carteiras, no primeiro, segundo e terceiro ano eram carteiras individuais.
DOC. -  Só havia carteiras na sala?
LOC. -  E a mesa da professora.
DOC. -  Só?
LOC. -  Só. Agora era muito enfeitado, com bonecos e, e, e desenhos, cartazes que nós chamamos, que agora chamam pôster, era cartazes naquele tempo. Era até muito bem arrumado tudo.
DOC. -  Onde vocês escreviam ou desenhavam?
LOC. -  Nas, cada um na sua carteira.
DOC. -  E o material?
LOC. -  O material nós guardávamos dentro dessa carteira. A carteira abria e lá dentro a gente botava as coisas da gente.
DOC. -  E naquela época vocês só usavam caderno?
LOC. -  Era caderno e um, um bloco grande de fazer desenho, onde a gente desenhava (sup.)
DOC. -  (sup.) E o professor se tivesse que dar uma anotação?
LOC. -  Bom, tinha o quadro-negro. Tinha um quadro-negro. Ela escrevia bastante no quadro-negro e se a gente precisava a gente (inint.) a gente copiava, né? O quadro-negro e a mesa da professora.
DOC. -  E o que que vocês usavam pra copiar?
LOC. -  O lápis. E depois passamos à caneta, assim a gente se sentiu o máximo, porque a gente estava usando caneta.
DOC. -  E como é que vocês levavam esse material pra escola?
LOC. -  Numa pasta. E além da pasta tinha a merendeira. Merendeira era uma cestinha de vime, onde a gente, cada um levava o seu lanche.
DOC. -  E hoje? Como é que os meninos levam?
LOC. -  Hoje, os meninos levam embrulhadinho num papel e geralmente não levam. Eles comem na cantina do colégio.
DOC. -  Além da cantina, o que eles têm mais no colégio que não, hoje, que não tinha antigamente?
LOC. -  Cantina? Ah, tem o tal do sorveteiro na porta que no meu tempo não tinha, Coca-cola não existia, guaraná não existia, a gente levava era uma garrafinha dentro da merendeira com, eh, laranjada, limonada, Ovomaltine, Toddy, leite. E eles, hoje em dia não existe isso, eles hoje em dia cada um compra o seu refrigerante lá ou compra o seu sorvete, né?
DOC. -  E me diz uma coisa, na, no ginásio, no, coisa de ginásio, quais eram as disciplinas no ginásio? Era como é hoje?
LOC. -  Não, muito diferente. Primeiro, nós tínhamos desde o primeiro ano pri... do ginásio, nós tínhamos latim. E latim, francês, inglês. Hoje em dia geralmente eles têm uma língua. No terceiro ano eles têm parece que duas, mas começam só com uma língua. Eu tinha português, latim, francês e inglês. Só de línguas eram quatro. Depois tinha ciências, que hoje em dia eles têm, eh, matemática, geografia e história.
DOC. -  E a aferição de conhecimento?
LOC. -  Eu acho que hoje em dia eles talvez tenham mais conhecimento geral, mas talvez eles não saibam ... É diferente, M.H., porque a gente estudava mais, era um negócio mais morto talvez.
DOC. -  E como é que era aferido o que vocês estudavam? Como vocês prestavam contas do que tinham estudado?
LOC. -  Eu sei. Deixa eu pensar. Ah, no, nós tínhamos provas no primário, nós tínhamos provas mensais e no fim do ano tinha prova e exame oral. E ...
DOC. -  Como é que eram feitas essas provas?
LOC. -  Você quer saber no primário ou no ginásio?
DOC. -  Ou no primário ou no ginásio. O que que (sup.)
LOC. -  (sup.) No primário você, realmente, eram ... O, esse, o colégio em que eu estive que os métodos já eram tão modernos pra aquele tempo que você não tinha a impressão que você estava fazendo prova, você fazia assim um dever mais caprichado, então aquilo já era a prova, você não tinha aflição. Agora no, depois que eu entrei pra esse outro colégio que era o ginásio, onde eu cursei o ginásio, então eram quatro provas, além das provas mensais, nós tínhamos quatro provas parciais.
DOC. -  (inint.)
LOC. -  Eh, de três em três meses ou de dois em dois meses. Depois mudou o sistema e nós tínhamos só duas provas parciais. Houve uma reforma.
DOC. -  Como é que eram feitas essas provas?
LOC. -  Ah, era um negócio que a gente ... Eh, era um ponto, sorteava-se o ponto dentro duma cumbuca.
DOC. -  Dentro de quê?
LOC. -  Dentro duma cumbuca.
DOC. -  Eu não ouvi. Realmente eu não tinha ouvido. Eu ouvi dentro de um (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Era uma cumbuca. Era de uma cumbuca. Sorteava-se um ponto, uma das meninas era chamada pra sortear o ponto e aí tinha um papelzinho e esse ponto tinha um número e na lista, tinha uma lista que correspondia esse número ao ponto. Esse ponto eram três questões que você tinha que fazer dissertação, três dissertações. Ou então, conforme a matéria, uma dissertação ... Matemática, por exemplo, um teorema que você tinha que demonstrar e o resto eram problemas, questões menores. Uma, sempre a primeira questão valia mais. Então você tinha quatro provas dessas e depois eu peguei pouco tempo de quatro provas. Eu acho que só no primeiro ano, depois eram duas provas: uma em junho ...
DOC. -  E sempre escrito?
LOC. -  Escrito.
DOC. -  Todo escrito?
LOC. -  Tudo escrito. Junho e dezembro. Agora depois tinha o exame oral mais ou menos no fim de dezembro. Fim de dezembro, não, quinze de dezembro mais ou menos nós tínhamos o exame oral. Tivesse média ou não tivesse, tinha exame oral, onde a gente era arguída. Eu, e sempre entrei pro exame oral com o pé nas costas porque o exame oral eu nunca tive medo, que eu, papo, era um papo que eu ia bater. E, mas, e eu já tinha notas boas, porque todas as provas mensais contavam e a prova parcial também contava, então era um passeio.
DOC. -  Agora nesses exames tinha aluno assim que burlava os exames?
LOC. -  Ah, colava? Muito, cola grossa.
DOC. -  Como era?
LOC. -  Cola grossa. Eu tinha uma colega que era o maior gênio da cola. Ela só tinha dez. Nunca ninguém, nós todos queimávamos a, o, o bestunto pra saber como é que ela conseguia colar. Ela colava e ninguém nunca percebeu como ela colava. Ela di... a prova dela era absolutamente as palavras do livro e eu sei que ela colava. Não sei se ela escrevia dentro duma cola dentro da manga ou se ela abria a carteira sem ninguém perceber. Eu não sei o que que é, mas ela era uma pessoa que só tinha média dez. Era na base da cola, mas era um gênio. Eu nunca vi, por exemplo, cola também de falar, tinha umas que eram especialistas, porque era um colégio que você não podia dar uma palavra. Você só tinha meia hora, porque você entrava às oito horas da manhã e saía às quatro horas da tarde. Você não, só tinha meia hora, aliás eram vinte e cinco minutos que você podia falar com alguém, o mais você no, no corredor você não podia abrir a boca, no recreio, no refeitório não se abria a boca, não falava nada. Na sala de aula, nunca, jamais, em tempo algum. Então tinha colegas minhas que conversavam o tempo todo sem mover os lábios. Mas era uma ... Eu nunca consegui. Então era assim, ram, ram, ram, ram, elas contavam filmes inteirinhos assim, ram, ram. Mas e... eram um gênio.
DOC. -  E essa cola de boca tinha um nome?
LOC. -  Não. Sopro. Estava soprando.
DOC. -  Mas era sempre só assim cola de, de boca, mais nada?
LOC. -  E também tinha a tal que colava eu acho que no livro, ela abria a carteira e deixava, eu desconfio que era isso. Ela desconfi... ela deixava o livro aberto e ela de vez em quando abria assim, enquanto o professor ficava rondando, passeando entre as carteiras, ela abria, copiava mais um bocadinho, abria e copiava um bocadinho. Ou então ela trazia os pontos dentro da manga, tudo escritinho. Eu nunca (sup.)
DOC. -  (sup.) Você (inint.) a maioria (inint.) fácil ou difícil?
LOC. -  Eram. Eram. Eu por exemplo, eh, eu nunca colei. Nunca. O que eu não sabia eu botava: não sei, entende? Mas essas outras, tinha umas que colavam e pra mim era assim o máximo, como é que elas conseguiam, ficava de olho duro, assim, olhando.
DOC. -  E não tinha os professores assim que eram bonzinhos?
LOC. -  Tinha. Os professores de, de fora.
DOC. -  Vocês davam nomes aos professores por exemplo, de acordo com, se ele era bonzinho, se ele não era, se ele não era bonzinho?
LOC. -  Ah, sim, os professores de fora eram todos muito nossos amigos (inint.) que eram ... Isso foi que melhorou esse, esse, o colégio, essa barbaridade toda, foi justamente os professores que vinham de fora, que não eram freiras, né? Tinha o professor de matemática, era o professor Melo e Souza, que nós chamávamos de Melinho (inint.) a gente quer um bem louco a ele, tinha o professor, o Clóvis Monteiro, que era o nosso professor de português, que esse era mais ou menos inacessível.
DOC. -  E assim quando eles eram muito exigentes, tinha algum nome pra eles?
LOC. -  Não.
DOC. -  E qual era (sup.)
LOC. -  (sup.) Nós, nós botávamos de apeli... (sup./inint.)
DOC. -  (sup.) Como eram os apelidos?
LOC. -  Ah, fulano de t... ah, é uma mãe, fulano de tal é um pai. Eh, era isso. E quando era muito ruim, é, é um carrasco, eu me lembro da gente dizer. É capaz de ter outros nomes, mas assim eu não me lembro. O fim, é um carrasco. Mas uma mãe e um pai era como a gente usava.
DOC. -  E hoje em dia, como é que se chama esse tipo de professor? Seus filhos devem dizer.
LOC. -  Devem dizer, mas nunca prestei atenção muito não, pra dizer o que que eles dizem (inint.)
DOC. -  E me diz uma coisa, quando, quando havia esses exames (inint.) tempo ela levava em conta o aluno que faltava muito, aluno que não faltava?
LOC. -  É porque ninguém faltava.
DOC. -  Ninguém faltava?
LOC. -  Não. Só quando estava muito muito doente, com febre (inint.)
DOC. -  Não havia (inint.) um jeitinho de deixar de ir à aula não?
LOC. -  Ah, nunca!
DOC. -  E os meninos aí? Você acha que hoje em dia é a mesma coisa?
LOC. -  Não. Hoje em dia quando eles não querem ir eles simplesmente dizem: eu não quero, não estou com vontade de ir, então não vou ao colégio.
DOC. -  E como é que eles chamam isso, deixar de ir voluntariamente a uma aula?
LOC. -  Faltar à aula, né? Sabe que eu nunca prestei atenção o que que eles dizem?
DOC. -  No, no, na sua escola não tinha isso?
LOC. -  Ah, não. lá era uma coisa medieval. Vocês nunca poderão ...
DOC. -  E na faculdade? Na faculdade tinha liberdade maior, então (sup.)
LOC. -  (sup./inint.) ah, bom, quem queria ia, quem não queria não ia, azar quem ...
DOC. -  E quando não ia, como é que fa... e como é que se chamava isso de não ir a uma aula? A aula vai ser desagradável, então eu não vou lá, eu vou ...
LOC. -  Eu sei que tem um nome mas eu não me lembro agora não, de faltar, engolir a aula.
DOC. -  E quanto à direção, como é que eram dirigidos? Sa... você sabe como é que era dirigido a, esse colégio?
LOC. -  Que colégio?
DOC. -  Ginásio (inint.) colégio, a direção, os órgãos de direção, os (inint.)
LOC. -  Era uma, era uma, era uma, era, era, tudo estava enfeixado na mão de uma superiora. Era bastante velha e, e era uma pessoa inatingível. A gente tinha que fazer reverência antes de falar com ela. Reverência. E a gente vivia acovardada. Era uma velha assim, parecia uma tartarugona, de óculos, e a gente tinha que fazer uma reverência. Então a gente não tinha nem coragem, a gente gaguejava antes de falar com ela e ela era francesa e queria que a gente falasse em francês, então a gente ficava muda. Muda, muda.
DOC. -  E na faculdade? Você falou que tinha professor catedrático. Tinha outra categoria de professor, além do catedrático?
LOC. -  Não, nós, nós, no nosso tempo de, de colégio, de, de faculdade, tem, tinha o, os catedráticos, tinha os assistentes. Não existia essa auxiliar de ensino (inint.) catedrático e assistente.
DOC. -  E os órgãos de direção?
LOC. -  Era o di... Tinha o diretor. Só. Nós, no nosso tempo tinha o diretor da faculdade, tinha o, espera aí, tinha o diretório acadêmico que tinha muito importância, que conseguia muitas coisas (inint.) diretório acadêmico que, o diretório acadêmico que pressionava. Nesse diretório acadêmico tinha cada um o representante de uma turma. Cada turma tinha o seu representante junto ao diretório e tudo que a gente queria a gente ia ao diretório e o diretório resolvia pra gente.
DOC. -  Assim como ... O diretório então era um órgão dos estudantes (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Era, exatamente (sup.)
DOC. -  (sup.) Não havia um órgão dos professores?
LOC. -  Existia a congregação (inint.) não tomava muito conhecimento do congresso não. Era uma coisa que realmente no meu tempo de faculdade não me lembro. Me lembro muito do diretório, que inclusive eu fiz parte do diretório, foi assim muito ... Que agora não tem mais na faculdade de vocês não, tem? Ah, não pode perguntar, só posso falar. Então tá.
DOC. -  E (inint.) primário, no ginásio, havia algum órgão para os pais?
LOC. -  Ah, isso ... Isso no primário, neste nosso colégio que eu estive no primário que era pra frentex (sic), nesse tempo não havia uma reunião de pais assim que eu saiba não. Mas os pais tinham contato permanente com os professores, porque era realmente uma família, entende? Mamãe, qualquer coisa, ligava pra professora, batia um papo, ia me buscar, batia um papo, e como tinha muitas festas de, tudo era festejado, são João tinha festa e mês de maio tinha outra festa. Então todo mundo se reunia e todo mundo levava o prato de doce, todo mundo representava. Era assim exatamente. Não, não havia esse problema. Quando sentia que o menino estava mais fraco, batia o telefone: olha, fulano, seu filho está estudando pouco e tal, manda ele vir quinta-feira que a gente dá um jeito. Era uma família.
DOC. -  Você já foi chamada a atenção?
LOC. -  Heim?
DOC. -  Foi chamada alguma vez a atenção?
LOC. -  Bom, mas no primário, chamar a atenção era muito assim, com muito, com muita psicologia que hoje em dia. Nesse tempo dizia: muito jeito. A professora era muito jeitosos. Agora é isso de psicologia. Agora no ginásio era uma parada! No ginásio não podia nada, não podia nada, a mãe não sabia de nada. Era um, um monstro, tudo.
DOC. -  Nesses órgãos quem ia, eh, mais, dos pais?
LOC. -  Nesses, nos órgãos da, do, giná...
DOC. -  (inint.) contato com os professo... com os professores era, qual era (inint.) o pai ou a mãe?
LOC. -  Geralmente é a mãe. Os pais estão sempre muito ocupados. Ah, não havia aquele negócio de pai e mãe ser chamado pra entender a psicologia, no ginásio não existia isso não. No primário ia porque a gente enchia tanto a paciência do pai pra ir lá pra festa de são João, pra festa do, que estão fazendo agora, pra festa do, do natal, pra não sei o quê, que eles viviam lá no colégio, né? Mas no pri... no ginásio, não. No ginásio realmente não existia nada, nada, nada. Só assim no dia da festa final é que os pais iam, todos endomingados e tal e coisa. Meu pai nunca foi não, porque ele achou sempre isso muito chato. Mas minha mãe ia (inint.) ia de chapéu.
DOC. -  E, e pra passar da, do curso primário pro curso de ginásio e do curso médio pro curso superior tinha exame?
LOC. -  Não. Ah, teve. Tudo teve exame. Do primário pra passar pro ginásio tinha o exame de admissão, que eu fui fazer nesse novo colégio. Foi uma das coisas piores que eu já passei na minha vida, porque eu não conhecia ninguém e tive que fazer uma prova assim e todo mundo me olhava. Horrível realmente. E depois, entre o ginásio e o clássico não houve exame, porque foi no mesmo colégio, era uma coisa só, primeiro ciclo e segundo ciclo, no próprio ginásio. Agora pra faculdade teve o exame vestibular. Fiz o exame vestibular.
DOC. -  Como é que foi isso?
LOC. -  Em que ano?
DOC. -  Como que foi? Que que é um exame vestibular?
LOC. -  Ah, o exame vestibular é que você vai prestar (inint.) eu fui dizer lá se eu sabia realmente bastante o que eu tinha aprendido no ginásio pra entrar pruma faculdade. Então me deram uma prova de história da filosofia, depois a dissertação assim sobre, mais ou menos no mesmo sistema do, do, do colégio. Era uma disser... Três questões: uma dissertação maior e duas outras perguntas sobre a história da filosofia e um... uma de língua.
DOC. -  A senhora acha que foi diferente o seu vestibular do atual?
LOC. -  Olha, pra dizer toda a ver... a, a verdade eu não sei como é o vestibular hoje em dia pruma faculdade de Filosofia, nem pra faculdade de Letras, eu não tenho, eu tinha, eu sabia como era antigamente, porque eu tive muitas amigas que fizeram Letras, que entraram. Nesse tempo eram o, anglo-germânicas, ah, neolatinas e línguas clássicas. Várias das minhas colegas fizeram pra essas três. Eu sei. Agora atualmente eu não conheço ninguém que fizesse vestibular pra línguas, eu não sei. Eu tenho contato hoje em dia pra vestibular de ciências porque eu tenho um filho que está se preparando pra ma... pra engenharia.
DOC. -  Como é que ele está se preparando?
LOC. -  Eu acho que é, eu, ele está fazendo um cursinho pré-vestibular, em convênio. No meu tempo não existia nada desse negócio.
DOC. -  Você não fez curso pré-vestibular?
LOC. -  Nenhum, nenhum. Bom, vou te contar. Eu fiz um cursinho pré vestibular durante um mês, organizado pelo diretório da faculdade. A faculdade, um dos favores que o diretório fez, bolou, é fazer um cursinho. Então chamou os alunos de terceiro ano, de, que já estavam, do segundo ano e terceiro ano e perguntaram: vocês querem ganhar um, uns trocados? Então o diretório tem um dinheirinho aqui, então está aqui a sala, vocês dão, e a gente pagava uma taxa e a gente assistiu durante um mês aulas. Então eles diziam mais ou menos o que ia cair no vestibular, o que, como seria o vestibular e assim. E a gente fez então durante um mês esse curso. Estavam começando, foi esses cursinhos de diretório, foram os pais desses cursinhos hoje em dia pré-vestibulares. Estavam começando. Isso foi em mil novecentos e quarenta e oito, quarenta e nove. Há muito tempo.
DOC. -  E pra passar no vestibular?
LOC. -  (inint.) era facílimo.
DOC. -  Não, não, eh, a, a questão de (inint.) o que que era preciso em matéria assim de, eh, resultado dessas provas? Como é que era dado o resultado dessas provas?
LOC. -  Davam, quando, no dia (sup.)
DOC. -  (sup.) Como é que se classificavam as pessoas que eram aprovadas?
LOC. -  Eu acho que no, no meu, no meu, desde que eu, o que eu, quando eu fiz vestibular não tinha o negócio de classsificação não. Ela lá dava a nota que a gente tinha e aprovado ou não-aprovado.
DOC. -  Quais eram as notas? (sup.)
LOC. -  (sup.) Quem tinha mais de cinco era aprovado. Quem tinha menos de cinco rodava.
DOC. -  E hoje?
LOC. -  Hoje em dia?
DOC. -  É só nota que se usa pra aprovação e reprovação? (sup.)
LOC. -  (sup.) No vesti... no vestibular é. Não existe essa parte de conceito.
DOC. -  E fora do vestibular?
LOC. -  Ah, existe. Existe (sup.)
DOC. -  (sup.) O que que, o que que é conceito? (sup.)
LOC. -  (sup.) conceito. É a opinião que o professor faz do, eh, da, do aproveitamento do aluno.
DOC. -  No colégio de algum de seus filhos tem esse tipo de coisa?
LOC. -  Tem.
DOC. -  Quais são os conceitos? (sup.)
LOC. -  (sup.) Só, não existe, não existe nota no colégio dos meninos, é só conceito.
DOC. -  Quais são, você sabe?
LOC. -  Excelente, bom, regular, eh, insuficiente e deficiente. São cinco.
DOC. -  Agora me diga uma coisa, você estudou num colégio religioso.
LOC. -  Estudei.
DOC. -  Então você deve ter assim lembrança de toda a coisa de, de solenidade, de que ... Você estava dizendo (inint.) tinham que ir à missa sempre (sup.)
LOC. -  (sup.) Ah, isso. Ah, isso ... No cur... no (inint.) primário nós íamos à missa, a missa era um, era muito bom.
DOC. -  Será que vai ser muito difícil você me descrever uma missa? Mas eu queria uma descrição de missa assim com todas as coisas que são usada na missa, usadas na missa e o que que faz na missa.
LOC. -  Você quer que eu descreva o que o padre faz ou por exemplo ...
DOC. -  O que que o padre faz (sup.)
LOC. -  (sup.) Faz, o que que ele usa e tudo? (sup.)
DOC. -  (sup.) O que que a gente faz, o que que a gente vê.
LOC. -  Missa do tempo antigo ou missa de hoje?
DOC. -  Ah, o que você quiser.
LOC. -  Bom, então vamos ver as diferenças. Hoje em dia, o padre entra na igreja vestido com os paramentos, de acordo com a, com a festa litúrgica, ele tem uma cor de paramento.
DOC. -  O que que você chama de paramentos?
LOC. -  São a casula: é um, é um vestido sem mangas, se você quiser, que o padre usa. Bastante enfeitado. E ele vem assim um pouco fantasiado pra, pra dizer a missa. Aí ele entra e ele começa a rezar (inint.) antigamente ele rezava em latim. Hoje em dia ele reza, reza em português. E, eh, e o, e o povo que está na igreja responde. Antigamente respondiam em latim. E eu que sabia a missa toda em latim respondia toda a missa em latim. (riso)
DOC. -  O que que você levava pra missa?
LOC. -  Eu levava o meu véu e o, o, o missal que é um livro grosso e que tem todas as orações.
DOC. -  Só?
LOC. -  Só. Aí o padre dizia uma coisa, a gente respondia, em latim. Dizia outra e respondia e tal. E a missa tem uma, uma, uma um seguimento. Então primeiro ele dá, reza o 'confiteor', que hoje em dia, eu não sei como chama em português, porque ainda estou um pouco antiga. "Eu me confesso", agora chama "Eu me confesso". Depois ele lê o, o intróito, lê a oração, lê a epístola, lê o, o evangelho (sup.)
DOC. -  (sup.) E onde que ele lê isso? (sup.)
LOC. -  (sup.) No altar.
DOC. -  E o que mais que tem no altar?
LOC. -  Bom, aí isso é a pré-missa, que chamam pré-missa. Aí começa verdadeiramente a missa, como chamam, a verdadeira missa. Então ele, quando ele entra, ele traz na mão o cálice. Não, ele traz um embrulhinho, (riso) traz um embrulhinho embrulhado num pano da cor do, da tal fantasia dele.
DOC. -  Você sabe o nome desse embrulhinho? E o que que tem dentro? O nome das coisas que tem dentro?
LOC. -  Se eu me lembrar, eu vou dizer.
DOC. -  Claro (inint.)
LOC. -  Então ele, ele, isso quando ele chega ele bota o embrulhinho em cima da mesa, do altar, que tem uma toalha, geralmente toda bordada de linho engomado. Aí ele, aí ele vai dizer tudo isso, lê o evangelho, lê a epístola e tal, faz, geralmente faz assim um sermão e tudo, aí acaba essa parte, a pré-missa e ele vai começar a missa propriamente dita. Aí ele destampa esse, esse embrulhinho que é um, de pano, levanta e lá dentro tem um cálice, uma patena, em cima da patena tem uma hóstia e tem um sangüíneo, que é um paninho que se parece com um lencinho de linho, onde ele vai enxu... com isso, mais tarde ele vai enxugar o cálice e lava... e limpar os dedinhos. Então ele, ele começa a missa verdadeiramente, que é a parte da consagração. Então ele vai consagrar a hóstia. Então ele reza uma porção de rezas e o povo responde até que ele consagre a hóstia.
DOC. -  Como é que ele consagra a hóstia?
LOC. -  Ele diz: "Isto é meu corpo".
DOC. -  E faz algum ...
LOC. -  E fa... e ajoelha, toca uma campanhia e depois ... Mas, eh, antes dele consagrar a hóstia, veio o sacristão e trouxe pra ele dois vidrinhos, um tem água, outro tem vinho. Ele despejou no cálice. Então ele consagra a hóstia e consagra esse líquido que vira o sangue.
DOC. -  E o nome desses vidrinhos?
LOC. -  Galhetas. Duas galhetas. Duas galhetas. Aí, depois, ele tira a hóstia da patena, consagra e tal, aí ele comunga a hóstia e, e bebe o vinho. Ele comunga sobre as duas espécies, o povo, não, o povo mais tarde vai comungar sobre uma espécie só, nesse nosso rito. Depois ele acaba de, de lavar o cálice com agüinha, enxuga com o tal sangüíneo, arruma de novo o embrulhinho dele e diz as orações finais, o povo sempre respondendo, depois acaba a missa.
DOC. -  E tem um lugar pra guardar a hóstia?
LOC. -  Ah, tem a parte da comunhão, eu esqueci isso. Porque depois que ele comunga, ele toca uma campainha e está na hora do povo comungar. Então ele vai ao tabernáculo, que é um, uma casinha que lá dentro tem uma âmbula. Com, cheio de hóstias que já est... geralmente já estão consagradas. Quando falta, ele consagra naquela hora. Ele vai e distribui pra toda a mi... pra todo mundo uma hóstia, quem vai até a mesa da comunhão. E debaixo da, do queixo de cada um se bota uma patena pra não, pra não cair uma mi... migalhinha, porque aquilo é o san... é o corpo de nosso senhor Jesus Cristo.
DOC. -  Você falou em, falou em comunhão, você fez primeira comunhão?
LOC. -  Fiz.
DOC. -  Pode descrever pra nós mais ou menos como foi?
LOC. -  Foi uma missa.
DOC. -  Mas eles exigiam alguma coisa, não exigiam, pra se fazer a primeira comunhão?
LOC. -  Ah, isso exigiam. Você tem que ter uma preparação, você tem que ser, ir ao catecismo muitas vezes, que ensinam à gente uma porção de coisas. Você responde. Decora. Decora. Que o meus filhos foram completamente, a primeira comunhão deles foi (inint.) eles não decoraram nada. Mas eu decorava. Era um livrinho bastante grosso, devia ter umas cem páginas. Sabia todo de cor. E, e depois o (inint.) na véspera da comunhão você então vai fazer a confissão. Confissão então você conta todos os seus pecados e você sai dali muito feliz da vida, porque você está limpinha. É uma espécie de banho. A igreja católica é muito sabida e inventou esse negócio de análise muito antes de Freud. Então você sa... A gente, a gente ia lá, dizia os pecados e ó, a pesso... a pessoa que matou chegava lá: matei. Disse pro padre (inint.) livre de culpa, sentia assim que nem um passarinho, seguia em frente, alegre, alegre, are... alegre. Tinha a função de, de, de aliviar o peso da consciência. Então você confessava na véspera da, da primeira comunhão e no dia seguinte você ia comungar pela primeira vez. Aí você botava um vestido lindo, muito bonito e tinha uma missa dessas com tudo isso, mas assim mais solene, que tinha música, tinha, tinha cantorias e, e a igreja cheia, muita flor, muita vela. Era uma coisa muito importante, depois você, você se sentia assim, era, era um superaniversário de criança, sabe, porque criança adora aniversário. Então, depois tinha um café maravilhoso, uma mesa muito bonita e você ganhava muito presente e depois de tarde iam na casa da gente, tinha outra mesa cheia de doce e você ganhava mais presentes, era assim o máximo.
DOC. -  Onde é que você se confessava?
LOC. -  No colégio. Confessava no colégio com o padre que ia lá, onde neste colégio tinha uma capela. Então você ia lá, o padre se... sentava no confessionário e você se ajoelhava e você contava os pecados.
DOC. -  Falou em capela. Qual é a diferença entre capela e igreja?
LOC. -  Capela, geralmente, é menor de tamanho, mas pode não ser, e geralmente serve a um grupo pequeno, a um convento, a um hospital. Então, é capela. Não é, não é aberto ao público em geral. Já a igreja é aberta ao público em geral.
DOC. -  Ah, então haveria uma diferença também quanto à hierarquia dos padres, por exemplo. Padre e além de padre. Podia fazer uma descrição pra nós disso?
LOC. -  Padre, tem o monsenhor, que é um padre um pouco sofisticado, que usa uma meia assim um pouco arroxeada (inint.) coisa. E tem o bispo, que esse então manda em todos e de... tem o cardeal, que é delegado do papa e, e o papa propriamente dito.
DOC. -  E as igrejas, além de capela e igreja (inint.)
LOC. -  Paróquia. Tem a paróquia. Essa é a igreja ma... mãe. É aquela que serve ao bairro em geral. É a paróquia.
DOC. -  Mas existem outros tipos além dessas?
LOC. -  Existe a catedral, que eu, pra dizer a verdade, eu não sei. A catedral tem um, tem uma, uma designação especial, tem alguma coisa que ela é mais do que as outras, mas eu não, pra dizer a verdade eu não sei o que que é. Mas a catedral é assim o, é a superigreja, a catedral. Tem paróquia e catedral. Aqui no Rio eu acho que só tem uma catedral. Eu acho que é a igreja que o bispo geralmente oficia. Eu acho que é isso, mas não tenho certeza.
DOC. -  Me diz uma coisa, e na, na igreja aquela parte da missa que o padre, quem estiver celebrando a missa, fala para as pessoas, tem um nome?
LOC. -  Tem. É ...ção. Espera aí, pre... Eu agora me esqueci. É pregação, né? O padre está pregando.
DOC. -  Como é que é isso? (sup.)
LOC. -  (sup.) Geralmente ele (sup.)
DOC. -  (sup.) Na Candelária, por exemplo, como é que é? Já viu algum (inint.)
LOC. -  É, geralmente o padre parte de um, um texto qualquer sagrado, um pedaço da bíblia geralmente ou o evangelho e ele faz um ou então uma outra parte qualquer, geralmente daquele dia, da missa daquele dia, e ele faz então considerações sobre isso, e levando o povo a, a fazer aquilo, entende? Ele faz ... É um comentário que ele tira uma conclusão para a vida de cada um.
DOC. -  E o lugar onde ele faz isso?
LOC. -  Púlpito.
DOC. -  Dentro da igreja, eh, você pode descrever as outras partes além do altar?
LOC. -  Nave, que é a parte principal. O transepto, que é onde a nave se encontra com a parte horizontal, geralmente é uma cruz. Altar. Altares laterais, porque geralmente quando a igreja é muito grande, uma catedral, uma matriz, tem os altares laterais. Batistério, que é geralmente na, ah, do lado numa dessas capelas, é uma, uma bacia grande que as crianças se batizam. E deixa eu ver. Mesa da comunhão.
DOC. -  E aqueles bancos?
LOC. -  Banco. Bancos estão na nave.
DOC. -  Tem aqueles bancos que sentam várias pessoas e tem aquele, aquelas cadeirinhas isoladas. Tem algum nome pra essas ca...
LOC. -  As cadeiri... as cadeirinhas chamam-se, que geralmente é lá na frente, chama genuflexórios.
DOC. -  Por quê?
LOC. -  Porque você se ajoelha.
DOC. -  Pra que que serve? (sup.)
LOC. -  (sup.) Pra você se ajoelhar. Ajoelha assim com o joelhinho.
DOC. -  E a parte do banco que ajoelha tem um nome (inint.)
LOC. -  Eu nunca, não soube não. Geralmente a gente diz banco. Deve ter, né? Mas eu não sei.
DOC. -  E uma coisa de conta que a gente leva pra igreja?
LOC. -  Ah, terço. Está ultrapassado (inint.)
DOC. -  Está ultrapassado?
LOC. -   Completamente, porque você tem que participar da missa. Então você rezar outra coisa durante a missa, não. Terço, quem reza terço está, está por fora. Pode rezar em casa, numa hora sem nada, mas na igreja não, não se deve não, deve participar da missa. Ela tem o órgão, geralmente toda igreja tem, tem o coro, lá onde geralmente é o órgão, é lá no fundo que ficam as pessoas que cantam. Que mais que tem? Altar. Altar principal, altar laterais.