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PROJETO NURC-RJ

DIÁLOGOS ENTRE INFORMANTE E DOCUMENTADOR (DID):

Tema: "Tempo cronológico"
Inquérito 0043
Locutor 0052 - Sexo masculino, 29 anos de idade, pais cariocas, economista. Zona residencial: Sul e Norte
Data do registro: 09 de maio de 1972
Duração: 45 minutos


Som Clique aqui e ouça a narração do texto


DOC. -  Está legal.
LOC. -  Vamos lá? Bom, então vamos repetir. (riso) Então a idéia de tempo, eh, colocada assim genericamente, eh, pra mim, eh, tem a ver muito com a idéia que eu faço da existência humana, da minha existência. Então eu penso no, no que me foi o tempo, eh, no passado, no que vai ser o tempo futuro, o que que eu fiz dele, o que é que pretendo fazer, eh, dele no futuro. Eh, evidentemente que uma análise do, do, do, do que o tempo significou, significa e vai significar é um, praticamente um balanço existencial que aí é uma conversa incrível, né? (riso) Mas eu acho que se vocês queriam ter só uma idéia do, do que me evocava, eh, o termo é esse, é a primeira idéia.
DOC. -  Eu vou perguntar mais concretamente se você acha que empregou bem o seu tempo até agora.
LOC. -  Olha, eh, uma grande dúvida existencial que eu tenho é se não fosse o que sou o que é que eu seria, compreendeu? Quer dizer que eu acho que é um negócio que é um, é um questionamento que, com a idade que eu estou, com o posicionamento profissional, eh, que eu tenho, eh, é muito difícil de, de responder esse negócio, entendeu, porque teve um momento, na minha história, no meu tempo, que eu tive que decidir, eu devo ter tido opções, né, profissionais, eh, sociais, essas coisas todas e eu optei por uma coisa e aí a partir do momento que me profissionalizei, que me socializei, eh, dessa maneira, da maneira, eh, pela qual eu optei, há tempos atrás, quer dizer, eu acho muito difícil responder essa pergunta, quer dizer, responder essa pergunta, tendo em vista a opção que eu fiz, não é, quando eu estava, sei lá, no ginásio ou no científico, numa época assim indefinida da, da, da adolescência, eu acho que eu tenho usado o meu tempo, não é, minha história tem sido razoável, agora eu realmente não, não, não sou capaz de dizer se essa teria sido a melhor história. (riso)
DOC. -  Agora e no cotidiano você acha que aproveita bem tudo que você tem na sua vida normalmente?
LOC. -  Não, eu acho que, que as atividades profissionais ocupam muito o meu tempo diário, né? Eh, além de, de funcionário aqui, eu sou professor universitário e aqui tenho que praticamente, eh, ficar o dia todo, porque eu coordeno uma série de pessoas e, quando não estou aqui, eu estou em casa, ou aqui mesmo eu estou preparando aula pra faculdade ou eu estou dando aula, quer dizer, os chamados dias de semana são praticamente profissionais, só uma noite ou outra que, que eu não estou às voltas com atividade intelectual.
DOC. -  Posso perguntar, fora da sua atividade profissional (inint.)
LOC. -  Ah, diversões, mesmo, mesmo as leituras não profissionais são muito poucas, é mais diversão, eh, visual, né, cinema, teatro.
DOC. -  Mas você segue uma rotina. É difícil você ficar (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Nos dias de semana sim, no fim de semana não (sup.)
DOC. -  (sup.) Como é que é essa sua rotina (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Eu quebro completamente o meu tempo se... eh, semanal, ahn? (riso/sup.)
DOC. -  (sup.) Como é essa rotina semanal e a outra rotina?
LOC. -  Bom, a rotina de, de segunda a sexta-feira é a rotina de trabalho, não é, quer dizer, isso é, é três quartos, né, praticamente, do, do tempo da sem... (sup.)
DOC. -  (sup.) Você tem horário muito rígido nos dias de semana?
LOC. -  Tenho, tenho horário, horários bastante (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) horário rígido, quer dizer, como é que você começa o seu dia e como você termina em termos de distribuição do seu tempo?
LOC. -  Bom, invariavelmente (sup.)
DOC. -  (sup.) Mesmo falando de coisas muito simples (sup.)
LOC. -  (sup.) Hum, hum (sup.)
DOC. -  (sup.) Muito, um tanto corriqueiras, não tem importância, porque pra gente o que é importante é o vocabulário (inint.)
LOC. -  Certo, eh, de segunda a sexta-feira, quer dizer, tenho que estar aqui no IPEA teoricamente às nove horas, que é hora de início do trabalho e é geralmente a hora que eu chego, nove, nove e meia, por aí. Fico aqui até meio-dia e agora eu estou fazendo um curso de inglês de meio-dia às duas horas (risos) e depois volto pra cá e fico até as seis, seis e meia, por aí. Nos dias que eu tenho aula na faculdade, ou eu não vou em casa, continuo aqui na ... As aulas são de noite, duas vezes por semana, então eu continuo aqui no escritório até a hora da faculdade e chego em ca... Dou aula em Niterói, quer dizer, atravesso aí a barca e tal, chego em casa nesses dias assim onze, onze e meia, por aí. Nos outros dias (tosse) ou eu fico um pouco, até um pouco mais tarde aqui estudando ou, ou lendo qualquer coisa pra não pegar o, o 'rush`, né? Então eu fico aqui até seis, sete horas, depois quando eu vou pra casa, eh, desligo completamente.
DOC. -  Se bem que o horário do IPEA ele, ele não é tão rígido assim, não é, o horário?
LOC. -  Não, não, eh, as minhas ativ... Não é, não é, nem tanto o horário nem as atividades, o, o que acontece é que eu tenho um, um, um, quer dizer, as atividades não, não são, eh, presas a momentos no tempo, certo, quer dizer, não tem uma coisa que eu tenha que fazer de dez às onze, não tem outra que eu tenho que fazer de três às quatro da tarde, enfim, eu tenho que responder por determinadas coisas. Então eu, eu tenho que dar conta delas, eh, num determinado período, pode ser num dia, numa semana, num mês, então aqui no IPEA, quer dizer, eh, é até mais fácil de lidar com essas responsabilidades do que por exemplo num, num, num, numa atividade de professor, que eu tenho que ter um, uma aula preparada pra dar aquela aula, quer dizer, eu diria que na, na, na, na, na, na faculdade eu tenho que programar muito melhor o meu tempo, quer dizer, o tempo de aula ou a leitura e a preparação que eu fiz, eh, da aula, que é aquilo que eu vou ter que, eh, transmitir num, numa hora ou numa hora e meia que é o período de aula, quer dizer, há, há muito mais, eh, rigidez na minha atividade de professor em relação a esse, essa, essa programação estrita do tempo do que aq... aqui no IPEA, porque no IPEA são ene atividades, quer dizer, eu não sou um, unicamente um pesquisador, quer dizer, eu sou um, um chefe, né, coordenador, como se diz aqui, então eu tenho que ficar acompanhando atividade de várias pessoas, etc. então é um negócio assim bastante flexível. Ainda que eu tenha responsabilidades, quer dizer, eh, eu posso estar conversando com vocês agora e deixar o que eu tinha que fazer ou não fazer, fazer depois ou deixar de fazer alguma coisa pra fazer depois, quer dizer, não, não afeta muito a programação do, das atividades durante o dia de trabalho. Já uma coisa como a faculdade, como a atividade de professor é bem mais rígida nesse sentido, isto é, se eu faltar não tem aula, não é, aqui se eu faltar lá ao, à exibição do filme que vai ter, o filme continua tendo.
DOC. -  E o fim de semana?
LOC. -  Bom, o fim de semana é, é desligado completamente das atividades profissionais, eu passo com os meus amigos, praia, fim de semana fora do Rio, coisas dessa ordem.
DOC. -  Quanto por exemplo é o tempo que você dedica ao sono, eh, no período da semana e no fim de semana?
LOC. -  Olha, isso é um negócio que eu estou querendo, eh, diminuir minhas horas de sono, eu, eu não sei por que eu cismei que eu posso fazer isso através de um processo mental, isso pode ser besteira, vocês podem até achar gozado, mas (riso) eu, eu estou com esse negócio encasquetado e vou, e vou, e vou fazer isso, quer dizer, se a gente diminuir ... Quer dizer, eu estou dormindo uma média de sete horas, oito horas por dia indiferentemente durante a semana, durante o fim de semana, eu acordo sempre cedo, mas eu estou com um projeto de reduzir essas horas de sono, não é, pra umas cinco horas e por... simplesmente porque, porque isso aí vai justamente multiplicar meu tempo, meu tempo de existência, ahn, por essa diferença, é elementar, independente do, do aproveitamento que eu dê a essas horas, não quer dizer que eu vou aproveitar as horas pra estudar, pra ler, pra me divertir, independente disso, quer dizer, a simples redução das horas de sono significa um aumento da, da existência, admitindo que você não, não vive, né, enquanto dorme. (riso)
DOC. -  Não acha que esse acréscimo agora pode representar uma (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Uma (inint.) bom, isso daí é um, uma opção, né? (riso) Não sei, é uma brincadeira que eu estou, que eu estava na cabeça.
DOC. -  Você tem algum tipo de problema com relação a (inint.) algumas pessoas acham que funcionam mais numa parte do, do dia desse quadro de vinte e quatro horas, não é? Alguns preferem dormir durante o dia porque assim eles acham que funcionam mais (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Não, não, eu, eu gosto mais da manhã, da manhã e, e do período assim vespertino, toda a manhã até uma hora assim e depois de cinco horas até nove horas.
DOC. -  Agora, você que viveu no estrangeiro acha que há alguma diferença entre o modo de utilizar o tempo, aproveitar o tempo, nosso, do brasileiro de um modo geral, durante esses dias que esteve no Chile, na Europa e nos Estados Unidos, que o uso do tempo difere de alguma maneira?
LOC. -  Ah, bom, no, no cotidiano difere bastante, né? Por exemplo no Chile há o hábito, eh, latino, né, Ibérico, de fazer um, um período do, de almoço bastante prolongado, né, com toda a atividade, eh, da cidade pelo menos, não é, de uma cidade grande como Santiago, toda, todas as atividades cessam uma hora e só recomeçam três horas, quatro horas.
DOC. -  E o dia começa, dia de trabalho lá normalmente a que horas?
LOC. -  Acho que é mais tarde, não tenho certeza, mas começa nove horas, oito horas.
DOC. -  Agora (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Também é mais prolongado, né? (sup.)
DOC. -  (sup.) Sim.
LOC. -  Por exemplo na Espanha eu fiquei bastante surpreso, as atividades comerciais, eh, vão até nove horas da noite, todas as lojas ficam abertas até nove horas, também só abrem quatro e meia da tarde, é bem diferente. (riso)
DOC. -  Agora do ponto de vista assim do tempo dedicado ao lazer nesses países, você acha que é diferente do que nós fazemos aqui, nós nos divertimos mais, nós gastamos mais tempo com o lazer ou com a praia, enfim, como é que você acha isso?
LOC. -  Não, não sei responder, eu acho que com relação ao Chile é, é a mesma coisa, isso aí vai depender da, da, da, da, da posição dos indivíduos, né, varia de, de classe social pra classe social. Agora na Europa eu não sei responder.
DOC. -  Essa minha pergunta se deve ao fato de, por exemplo, eu observei que na França, como aqui, ah, se trabalha muito durante a semana, quer dizer, digamos, estudante, né, cidade universitária, dedica se muito ao estudo durante a semana mas dificilmente estuda no fim de semana, entende, e se dá por satisfeito do trabalho feito durante a semana e usa realmente o fim de semana pra se divertir. E eu não creio que isso se dê (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Bom, eu acho que isso, pois é, é por isso que eu dizia, isso depende muito do que a pessoa esteja fazendo, por exemplo, quando eu estava no Chile eu estava fazendo um curso que me exigia bastante, então não havia fim de semana, certo? Agora desde o momento que, que eu, eh, eh, estou trabalhando num, num lugar que tem um, um ritmo, eh, de dias de semana, quer dizer, então eu me adaptei a esse trabalho, quer dizer, eu não levo trabalho pra casa. Já quando eu estudava eu tinha que estudar no fim de semana porque invariavelmente tinha uma prova segunda feira, uma coisa do gênero, então não havia fim de semana pra mim, daí ser difícil eu observar o comportamento, eh, de outras pessoas nesses países porque eu estava muito envolvido nisso, eh, no, no geral eu acho que, que, que esse problema de, de, depende muito do que você estava fazendo, quer dizer (fala à parte de circunstante)
DOC. -  (inint.) e você quando combina um encontro com alguém você costuma chegar na hora?
LOC. -  Costumo. (riso)
DOC. -  O que que você acha disso? (sup.)
LOC. -  (sup.) Agora às vezes eu não vou, é diferente, eu furo muito, muito a combinação, às vezes eu combino sair com amigos, uma coisa qualquer, e na última hora me dá preguiça, eu telefono desmarcando, agora quando eu combino eu cumpro horário.
DOC. -  O que que você acha dos que não cumprem, como é que você se sente?
LOC. -  Hum, indiferente, desde que não, não me afete diretamente, eu não esteja esperando em pé na porta do cinema, não me incomodo não.
DOC. -  Você acha que existe uma espécie de tradição em relação ao brasileiro de não chegar na hora, na hora marcada?
LOC. -  É. Olha, eu não uso nem relógio, viu, vocês devem ter notado, né, realmente eu não ... Esse tempo de, assim, cinco, dez minutos, quinze minutos, quer dizer, a gente tem a preocupação, a primeira preocupação que eu demonstrei quando vocês chegaram: puxa, quarenta minutos, é muito tempo e tal. Eu tinha aquele negócio (inint.) antes de terminar vão me chamar aí. Mas paciência, não vou lá no negócio.
DOC. -  Durante o período que você estudou, quer dizer, nível primário, médio, superior, você estudou sempre no mesmo, no mesmo período do dia?
LOC. -  Não, o, o ginásio e o científico eu fiz à tarde, estudava à tarde, e a faculdade eu estudava de manhã. Você quer saber o que que eu acho? Eu acho que de manhã é um período muito melhor pra, pra uma atividade intelectual, pelo menos pra mim, de, de recepção de conhecimento e transmissão de conhecimento do que à tarde (sup./inint.)
DOC. -  (sup.) E a distribuição da, das horas de aula era a mesma de todos esses cursos?
LOC. -  Não, hum, na, na faculdade eu tinha três aulas por dia, né, enquanto que no ginásio, científico eu tinha até cinco horas com aquela coisa de recreio, né (inint.) é bem diferente.
DOC. -  Agora, outra coisa, você esteve na Espanha durante muito tempo?
LOC. -  Não, só uma semana.
DOC. -  Você estava trabalhando (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Não, não, turismo, turismo, passeando.
DOC. -  Você observou que o povo espanhol tem um, uma distribuição de horário estranha pra nós (sup.)
LOC. -  (sup.) É, exato (sup.)
DOC. -  (sup.) Como é que você fazia pra resolver o problema da alimentação por exemplo, das refeições?
LOC. -  Não, nada disso me chateou, a única coisa que me chateou foi ... Eu estava visitando o Prado, né, e tem uma sala lá, sa... um andar superior, onde estão as melhores pinturas, né, Velasquez, etc. Eu vi lá embaixo o horário do, de abertura do museu, agora a sala de cima tinha um horário mais limitado e eu não sabia e, eh, foi justamente no, no penúltimo dia, eh, da minha estada lá, no dia seguinte eu não ia poder voltar ao museu e aconteceu que, quando eu estava começando a visitar a sala de, superior, que eu tinha visto a inferior primeiro, encerrou o negócio, né? Eu fiquei irritadíssimo e tal. Agora quanto à comida eu inclusive, eu não, não tenho assim horário pra comida não, eu faço uma refeição, um almoço ou um jantar sem hora marcada, eu não cozinho em casa, né, estou fazendo agora esse curso na hora do almoço, quer dizer, não tenho, não tenho hora, eu não tenho almoçado agora.
DOC. -  Agora me diga uma coisa: o que você acha que essa diferença de etapas da vida por que a gente passa, que você mencionou no tempo em que você viveu em Francisco Xavier, cobria duas dessas etapas. Você podia nos falar um pouco sobre uma dessas duas etapas que você viveu em São Francisco Xavier, ah, se uma é melhor do que a outra, como é, em geral, que uma se passa, né, dentro de uma sociedade (inint.) mais tradicionais, relativas a uma e a outra (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Não, o, o, é, isso aí é ... Quer dizer, eh, são dados biográficos, né, quer dizer, a minha vida em São Francisco Xavier estava presa à minha dependência a meus pais, não é, quer dizer, foi o período que eu vivia em casa deles e estudava às custas deles, etc. estava preso a, às condutas sociais deles e chegou um momento que eu rompi com isso.
DOC. -  (sup.) Você acha (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) E esse rompimento não, não tem, não é, não foi nem bom nem, nem mau, nem, nem bom, quer dizer, eu acho que não, não, não pode fazer isso, desde o momento que eu sofri um processo de socialização diferente do deles, eu passei a ter outros valores, e eu não podia coexistir com os valores deles, é um dado da realidade, não, não posso fazer esse julgamento, se foi melhor antes ou ... E eu estou preso à realidade que eu vivo hoje (inint.)
DOC. -  A minha pergunta, é que talvez não tenha formulado bem (sup.)
LOC. -  (sup.) Hum (sup.)
DOC. -  (sup.) Eu queria saber se principalmente a infância por exemplo (inint.) que tipo de cultura que é a nossa, não é, costuma ser uma coisa especial, particular dentro, em relação a, digamos, a outras culturas da América Latina, principalmente, às mais próximas de nós, ou se não, é como no mundo inteiro, eh, relações, eh, pais e filhos, etc. nesse período da vida, tem certas características próprias, diferente, digamos, da, do período que se segue, mais tarde e tudo, por tudo (sup.)
LOC. -  (sup.) Hum (sup.)
DOC. -  (sup.) E (inint.) são os dados biográficos que eu pessoalmente (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Não, mas eu, eu gosto de enfatizar os dados biográficos porque a minha história eu acho que é, que é muito singular, entendeu? (sup.)
DOC. -  (sup.) Hum (sup.)
LOC. -  (sup.) E, e eu, e eu vejo ela ... Quer dizer, eu não, não procuro generalizar minha história da mesma maneira que eu não procuro me adaptar à história normal, ahn? Quer dizer, isso de o país, a in... a, a infância, as pessoas, eu não, não sei, entendeu? Eu acho que, que isso aí depende mais do que, eh, diferença de países, diferença do, do posicionamento social e econômico da família dentro de um país e, eh, no meu entender há uma identificação de, de, de, de interesses de, eh, condutas enfim de comportamentos muito grandes entre uma família da alta burguesia do Rio ou do Pará e, sei lá, San Francisco, Estados Unidos. Pra mim é muito parecido essas coisas, do ponto de vista de comportamento da família, né, não quer dizer que não existam, eh, padrões culturais nacionais que afetem isso também, mas eu, na minha biografia eu fui muito mais atingido por dados familiares, eh, particulares do que por essas coisas, eh, nacionais, certo?
DOC. -  Você acha que pode ter resposta uma pergunta como essa: você acha que é bom ser criança na idade adequada? É bom vida de criança?
LOC. -  Hum, não sei se essa resposta se coloca, entendeu?
DOC. -  Se a pergunta se coloca?
LOC. -  É, a pergunta pode se colocar, qualquer pergunta, agora não sei se ela tem a resposta, certo? (riso)
DOC. -  Hum. Bom, eu pessoalmente acho que uma criança feliz, ser criança feliz é ótimo!
LOC. -  Não, qualquer pessoa feliz é ótimo, independente de ser criança ou não, entendeu, eu não sei por que você está valorando a infância (sup.)
DOC. -  (sup.) O que que caracteriza ser criança com relação a ser adolescente ou ser adulto e vice-versa (sup.)
LOC. -  (sup.) Por quê? Você acha que a criança tem menos conflitos que o adolescente, que o adulto? Não sei, (riso) a criança pode ser muito mais, eh, eh, como é que se diz, muito mais dependente, muito mais submetida a, a condutas que não sejam próprias a ela do que um adulto que tenha se superado, se liberado dessa, dessas, dessas dependências, quer dizer, aí o conceito de felicidade fica totalmente prejudicado, não é?
DOC. -  Você acha (sup.)
LOC. -  (sup.) Por exemplo eu a... eu me acho liberto de uma série de, de, de condutas que, que me foram impostas durante a infância e adolescência, mas nem porque eu estou liber... libertado disso eu não me acho feliz, entendeu? Quer dizer, são duas coisas diferentes, eh, duas coisas diferentes condicionadas pela, pela mudança social que se verificou na minha história pessoal.
DOC. -  Você acha que há uma etapa da vida de maneira geral que seja melhor do que as outras ou é sempre relativa à história pessoal de cada um?
LOC. -  Acho que é sempre relativa à história pessoal de cada um.
DOC. -  E nesse caso, no seu caso pessoal, pelo que você escolheria (inint.) etapa melhor, vamos dizer, é bem melhor, por quê?
LOC. -  Bom, eu acho que, eh, a juventude, quer dizer, o desejo de sentir-se jovem, né, é, é, é um ideal pro homem adulto muito maior do que o desejo de se... sentir-se menino, certo?
DOC. -  O que que é juventude?
LOC. -  Juventude é (sup.)
DOC. -  (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Diria que é o, que é o período de, de transição do sujeito onde, eh, se colocam aquelas opções existenciais que eu disse que se colocaram pra mim e eu optei ser economista como podia ter optado, se tivesse aptidões, eh, musicais ser compositor, poéticas, ser poeta ou, ou se fim, enfim não quisesse trabalhar não trabalhasse, ser um vagabundo, quer dizer, eu acho que esse período da vida onde você socialmente você é, é levado a, a, a tomar uma opção, certo? Agora, eh, tomar essa opção hoje, pra mim, já é um troço falso porque eu sou o que eu sou aqui no meu trabalho, nessas coisas todas, quer dizer, por mais que eu queira me ligar a esse tipo de, de época, não é, seja convivendo com pessoas mais novas do que eu, eh, na faculdade tendo um bom relacionamento com os meus alunos, procurando ser igual a eles etc. eh, isso está prejudicado pelo, pelo que eu sou hoje, ao passo que se eu fosse, eh, realmente dez anos mais novo, né, se eu estivesse optando por essas coisas, esses caminhos, hoje, eu, eu estaria ... Sei lá, eu me sentiria muito mais, eh, em condições de, de me determinar do que hoje, entendeu? Entendeu, hoje eu, eu me considero determinado socialmente enquanto que há dez anos atrás eu me consideraria, eh, ainda que obrigado socialmente a optar por alguma coisa, mas eu me sentiria, eh, optando, entendeu, como optei de fato.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Então eu acho esse período mais rico, quer dizer, que você tem ene, ene alternativas e escolhe uma. Eu escolhi a minha alternativa por vontade própria, quer dizer, eu não, não fui pressionado por pais, por nada disso porque eu já estava, eh, fora da, da, da, da intervenção deles nesses assuntos. Mas, eh, hoje, por exemplo, eu vejo, quer dizer, e nisso deve ter um sentimento qualquer de nostalgia, quer dizer, que se colocam muito mais opções pra, pra, pra juventude, né, que, que, que, que, que está vivendo o que eu vivi, né, há dez anos atrás do que se colocou pra mim.
DOC. -  Quais são pra você os limites dessa juventude a que você se refere, os limites temporais?
LOC. -  Temporais? Acho que, eu diria que é o, o período de formação universitária, o período ...
DOC. -  Que vai de dezoito até ...
LOC. -  É, de dezoito até os vinte e três, vinte e quatro.
DOC. -  Você já se considera uma pessoa que ultrapassou a juventude (inint.)
LOC. -  Cronologicamente sim, é um dado temporal, né? (riso) E é isso que eu estou dizendo a você, quer dizer, desde o momento que eu ganho tantos milhões aqui, eu estou pressionado, estou condicionado a manter esses tantos milhões, é um comportamento social como outro qualquer, quer dizer, não vou, eh, largar isso pra, pra ser 'hippie`, certo? Ao, ao passo que, eh, se eu não ganhasse nada eu teria muito mais opções, né, de, de, eh, saber o que é que eu queria. Eu me colocaria, será que eu quero ganhar dinheiro ou não quero? Agora hoje, já não posso mais responder isso.
DOC. -  Você acha que é uma espécie assim de, de (inint.) as pessoas amadurecem mais cedo (inint.)
LOC. -  Hum, acho que amadurece mais cedo quem, quem se conhe... conscientiza mais cedo, quem tem acesso a, a informação mais cedo, não sei se ...
DOC. -  Quem sofre mais?
LOC. -  Não, eu, eu acho que é um, o amadurecimento acho que é um processo mais intelectual do que emocional.
DOC. -  Eu queria perguntar se você vê alguma relação entre juventude e beleza, por exemplo, juventude e amor, são dados comuns em que as coisas estão relacionadas, o que você acha?
LOC. -  É, eu acho que elas estão correlacionadas, quer dizer, ver um, um, um corpo bem feito, ver um, uma pessoa, eh, saudável, acho que tudo isso é bonito. Isso está associado a, a uma determinada época da vida da pessoa, né, justamente à época da juventude, não quero dizer que um sujeito de trinta anos seja um decrépito, mas evidentemente que um sujeito de vinte anos tem muito mais condições de, de estar próximo do, do, do meu ideal, por exemplo, de beleza do que um sujeito de trinta ou de quarenta, mas isso também varia de pessoa pra pessoa, né?
DOC. -  Você, eh, porventura, eh, já pensou na possibilidade de uma pessoa de vinte anos ser muito angustiada e uma de quarenta anos ser muito tranqüila, e isso fazer alguma diferença em termos de aparência? Quer dizer, em outras palavras, a juventude é um fato meramente físico?
LOC. -  Não, não é um fato meramente físico, mesmo, mesmo um, uma, um jovem atormentado como você diz aí, que eu posso dizer que é um, que é um jovem optando, não é, eu acho, acho bom, entendeu?
DOC. -  Mas você conhece, por acaso, jovens velhos mentalmente, emocionalmente (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Não, exatamente, exatamente, por isso que eu, que eu, que eu estou muito ligado a esse ideal de juventude, eu não, entende, quer dizer, o que, o que vai levar que o sujeito seja velho ou, mentalmente ou, ou não, é justamente a, o sentido que ele dá a esse, a isso, àquilo que ele quer ser, né?
DOC. -  O que que você diria de alguém que já (inint.) digamos, ultrapassando a faixa dos trinta anos, e se dispusesse a fazer essas opções que você diz que normalmente se faz aos dezoito, dezenove, com essa liberdade que o jovem de dezoito anos (inint.) quando muitos jovens de dezoito anos não são capazes de fazer, já estão completamente determinados e escolhem, né, quer essa determinação seja cultural, seja social, seja familiar (inint.) então o que que você diria da juventude (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Aí, eu acho que um, um sujeito de trinta anos, eh, fazer isso ele está limitado fisicamente, certo? É justamente a oposição que eu quis dar, quer dizer, eu posso, por exemplo, me considar... me considerar mentalmente jovem, mas fisicamente, eu estou limitado a viver a juventude que eu quero ter dentro de mim, enquanto que o jovem, eh, ele tem, pelo menos potencialmente, as duas condições, certo? Fisicamente, e se não estiver preso a essas, esses condicionamentos familiares, sociais econômicos e etc. ele pode ... É exatamente isso que eu quis dizer.
DOC. -  Agora passando (inint.) nessas viagens que você fez na Europa, Estados Unidos e Chile, você ficava sempre no mesmo lugar, não se deslocava (inint.)
LOC. -  Não, eu me deslocava bastante, mesmo no Chile eu procurei viajar bastante, mesmo fazendo curso sempre que havia uma oportunidade assim num intervalo maior.
DOC. -  Essas viagens eram longas, curtas (sup.)
LOC. -  (sup.) Não (sup.)
DOC. -  (sup.) O meio que você usava (inint.)
LOC. -  Geralmente curtas, né, mas eu procurava passar pelo mais variado número de lugares possível. Por exemplo, eu quando voltei do Chile, eu voltei por terra, pelo, pelo sul, passei lá, pelo, aqueles lagos, eu, eh, Bariloche, depois vim pra Buenos Aires, passei uma semana em Buenos Aires.
DOC. -  (inint.) disponibilidade, não é (inint.)
LOC. -  Claro! Não, eu tenho aproveitado o máximo as viagens, inclusive essas viagens que eu fiz à Europa, Estados Unidos, foram viagens aqui do trabalho, mas eu aproveitava um período de férias e tal e viajava mais quinze dias, um mês, sempre aproveitando.
DOC. -  Quando a gente fala em tempo cronológico, evidentemente pensa em história, né (inint.) se você não, nessa época, não (inint.) eh, não tivesse que viver nessa época, se você pudesse escolher passar uma temporada numa outra época histórica, qual seria a sua escolha?
LOC. -  (riso)
DOC. -  Escolheria o passado ou futuro?
LOC. -  É, eu não ... Acho que eu escolheria o presente modificado. (riso) Já que estamos no, no plano da, hipotético, né, eu gostaria de viver essa mesma época mas de uma maneira diferente.
DOC. -  E que que você (inint.) essa maneira diferente?
LOC. -  Ah, escolher o ambiente que me formaria socialmente.
DOC. -  Você poderia definir esse ambiente?
LOC. -  Ah, eu preferia ser classe dominante, pra ser assim bastante, (riso) bastante genérico, né, coisa que evidentemente não fui. Acho que teria muito mais condições de, de viver bem, pelo menos economicamente, do que ... Estou usando coisas objetivas, certo, não vou dizer que queria que fulana e fulano fossem meus pais.
DOC. -  Ano passado, no passado a Veja publicou (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Hum (sup.)
DOC. -  (inint./sup.) havia uma espécie de aceleramento existencial, sei lá, então no período de dez anos o avião que era a maravilha era o Constelation (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Hum (sup.)
DOC. -  (inint./sup.) o jato (inint.) um aceleramento muito grande na época contemporânea (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Hum, hum (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) você concorda com isso (inint.)
LOC. -  (sup.) Ah, ah, eh (sup.)
DOC. -  (inint./sup.) no nosso ritmo, tal como está, acelerado demais, onde é que isso vai levar?
LOC. -  Acho que isso não depende da, da vontade das pessoas, são dados históricos e acabou-se. Nos Estados Unidos a gente nota lá uma série de, de, de opiniões contrárias, né, ao, à medição do bem- estar unicamente através de 'status` econômico, não sei se isso aí tem, tem algum futuro esse tipo de, de abordagem, não sei enfim se os homens são capazes de, de modificar esse estado de coisas.
DOC. -  Você com isso diz que prefere o presente, o que que você entende por viver no presente, de uma maneira geral diz-se de alguém que vive no presente.
LOC. -  Hum.
DOC. -  Se isso é a regra, tá, e no que isso consiste, as pessoas normalmente vivem no presente? As pessoas das suas relações?
LOC. -  Acho que sim.
DOC. -  E o que que tem de (inint.)
LOC. -  Tirar, hum, formulação tipicamente hedonista, tirar o máximo de prazer da situação atual com um mínimo de esforço, com um mínimo de sacrifício.
DOC. -  Isso tem alguma relação com o aspecto da angústia existencial, da instabilidade humana, pode haver uma guerra atômica, não é (inint.) você tem esse tipo de colocação (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Não, nem eu nem as pessoas que (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) no mundo, as ameaças? (sup.)
LOC. -  (sup.) Não, eu acho que pra ter medo dessas coisas, a gente tem, tem, tem perigos muito mais próximos da gente, pelo menos eu vejo assim e as pessoas com que eu relaciono, me relaciono, também acho que vêem as coisas dessa maneira, enfim, existe violência muito mais perto da gente do que, eh ... Enfim, a gente não precisa se preocupar com a violência, eh, assim, ainda que objetiva, né, distante, ainda que talvez mais, eh, nefasta, distante, o fato é que existe violência perto de todo mundo aqui pra, pra gente se preocupar com essa violência mais distante. O próprio medo, tem muito mais medo dentro da gente mesmo do que, do que fora, né, eu acho, pelo menos essas coisas não me afetam nem um pouco. (riso)
DOC. -  O que que a palavra nascimento evoca pra você?
LOC. -  Nascimento? Evoca o começo de uma existência nova, tanto um ser novo como um ser, eh, renascido, né? Acho que a gente pode aplicar a palavra nascimento, tá, eh, pra mim é quase sinônimo de renascimento.
DOC. -  (inint.) haveria um só ou mais de um nascimento? (sup.)
LOC. -  (sup.) Acho que vários, né? Agora isso aí é muito, muito utópico, né? (riso)
DOC. -  (inint.) paralelo a esse tipo de colocação (inint.) que a gente está numa aldeia global, uma e tal (inint.) precariedade humana (inint.) ou teria outras razões?
LOC. -  Não, acho que, que tem outras razões, eu acho que não, não, eles não colocam a alternativa deles em termos sociais, ao contrário, isso me parece, pelo menos, pelo que eu tenho visto e lido, me parece bem pouco, eh, socializado, quer dizer, no sentido que eles não procuram, eh, através das idéias contestar um determinado padrão, através das idéias, ao contrário, eles preferem, eh, através de, de, de, de, de uma maneira de viver, colocar em prática as suas idéias, quer dizer, eles não usam as idéias pra contestar outras idéias, eles simplesmente (sup.)
DOC. -  (inint./sup.) contestação, né (inint./sup.)
LOC. -  Eles se omitem (sup.)
DOC. -  (inint./sup.) de uma determinada situação?
LOC. -  Não, eu não sei a que atribuir isso não, eu acho que é, que é a maneira mais cômoda, né, quer dizer, se, eh, se eles sabem o que eles querem, se eles não estão dispostos a convencer os outros do, de que o que eles querem é o melhor, então, o melhor a fazer é eu viver da minha maneira e os outros viverem da maneira como quiserem.
DOC. -  (inint.) e esse tipo (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Um pouco de, até egoísmo nisso, mas é muito, é muito conveniente, né?
DOC. -  (inint.) não poderia se explicar como uma espécie de precariedade (inint.)
LOC. -  Não, eu acho que não é isso, eu acho que não tem nada a ver com ... O que talvez, eh (sup.)
DOC. -  (sup.) Parece que existe uma certa, certa urgência, não é, em se viver imediatamente (inint.)
LOC. -  Não sei.
DOC. -  Bom, uma última pergunta antes de terminar a fita, o que que você acha da idéia (inint.) vida eterna, isto é, a vida sem interrupção?
LOC. -  No plano fantasioso ou ...
DOC. -  A escolha é sua, né, qualquer plano que você quiser (inint.) toda vida tem um momento em que ela se interrompe. De um lado, o que que você acha disso (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) No fantasioso, eu acho maravilhoso o sujeito, o sujeito viver eternamente, mas viver eternamente com pleno domínio, né, de, das suas aptidões físicas e mentais, acho maravilhoso, é uma fantasia que, que eu já fiz várias vezes, estar podendo viver numa época onde ... Pelo me... não digo a vida eterna, mas um, um, um prolongamento maior do tempo de vida, se... possa ser um, uma realidade concreta.
DOC. -  (inint.) é uma personagem que aparece em cada época da história (sup.)
LOC. -  (sup.) Hum (sup.)
DOC. -  (sup.) Parece um jovem (inint.) a coisa que ele mais deseja é morrer.
LOC. -  (risos)
DOC. -  (inint.) entediado.
LOC. -  É, o Peer Gynt também, né, do Ibsen.
DOC. -  Você pensa na morte alguma vez?
LOC. -  Não.
DOC. -  Não tem esse tipo de preocupação (inint.)
LOC. -  Hum, não é pre... não, não, não, não existe como preocupação o negócio, entendeu, quer dizer, é uma fantasia, quer dizer, que bom se fosse assim, mas não ... Entende, quer dizer, a gente realmente não tem essa ... As minhas dúvidas existenciais são muito mais ligadas à minha realidade cotidiana, entendeu, do que esse negócio, por exemplo, toda, toda a carga que eu tenho, que eu tenho da atividade profissional, da responsabilidade profissional, todo esse negócio, eh, me remete a uma dúvida existencial muito maior do que, ah, a guerra mundial, ah, a morte, ah!... Acho que é isso. (riso).