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PROJETO NURC-RJ

DIÁLOGOS ENTRE INFORMANTE E DOCUMENTADOR (DID):

Tema: "Casa"
Inquérito 0042
Locutor 0051 - Sexo feminino, 60 anos de idade, pais cariocas, bibliotecária. Zona residencial: Sul
Data do registro: 12 de julho de 1972
Duração: 75 minutos


Som Clique aqui e ouça a narração do texto


DOC. -  A senhora nasceu em, em Laranjeiras, né?
LOC. -  Não.
DOC. -  Não?
LOC. -  Eu nasci no Alto da Tijuca.
DOC. -  Sim.
LOC. -  Na Estrada Velha da Tijuca.
DOC. -  Mas a senhora, eh, até doze anos morou em Laranjeiras.
LOC. -  É, na rua São Salvador.
DOC. -  Sim. A senhora morava, eh, em casa.
LOC. -  (sup.) Em casa.
DOC. -  Apartamento? Como era a casa?
LOC. -  A minha casa era casa grande. Eu perdi pai muito pequena e mamãe ficou morando em casa do pai dela, casa do meu avô. E a casa muito grande, casa de dois andares mas tinha quartos fora, de maneira que ...
DOC. -  Quartos fora como?
LOC. -  A... al... além do corpo da casa.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Fora da casa, no fundo ainda tinha mais quartos, banheiro, a parte toda de empregados fora.
DOC. -  Hum.
LOC. -  E além de minhas tias solteiras tinha tios também solteiros ainda e depois mais tarde ainda tinha um outro tio que também veio morar com a mulher e dois filhos. Sempre foi casa grande com muita gente. E mesmo mais tarde depois da morte de meu avô, morei também com, junto com minha avó, mas com outra tia ...
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Também casada, com muitos, muitos filhos. Sempre morei em casa com muita gente.
DOC. -  A senhora disse que fora da casa tinha, eh, quartos pros empregados, etc.
LOC. -  É.
DOC. -  A casa era, estava em centro de terreno? Como era?
LOC. -  Não. A, a casa era geminada, mas tinha jardim na frente, de um lado e no fundo. No fundo tinha terreno grande com árvores frutíferas. Tinha cajá-manga, tinha mangueira, abacateiro. Era casa com terreno grande.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Nós tínhamos inclusive estufa pra plantas, pra avencas e tinhorões, essas coisas tinha sempre em casa.
DOC. -  Agora, a senhora disse que ela tinha dois andares.
LOC. -  Dois andares.
DOC. -  Eh, como é que ela era embaixo?
LOC. -  Bo... emb... na, na frente havia o salão grande com, ah, a ja... dessas janelas-porta, inteira, com sacada e a, e a porta inteira, não era meia janela só, e entrava pelo lado. O lado era toda uma varanda grande que tinha uma porção de portas, tanto da sala de entrada, como uma porção de portas da sala de jantar, e tinha a escadinha e no ... E tinha a entrada do fundo, então a estra... a entrada de serviço que dava na coz... na, na copa e cozinha.
DOC. -  Ah, tinha copa e cozinha separado?
LOC. -  Copa, copa, cozinha tinha uma, uma sa... uma saletinha onde as crianças comiam que dava pruma, uma área, tinha sala de jantar grande, um 'hall' da escada onde ficava o telefone e em cima também havia uns quartos todos grandes.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Me lembro que nós, nós em pequenos morávamos com, num quarto com mamãe. Mamãe tinha mobília de casal e mais as quatro caminhas. É quarto grande, é.
DOC. -  Isso que eu ia perguntar. Como eram os móveis da casa, a senhora se lembra (inint.)
LOC. -  Ah, a mobília de mamãe eu me lembro que (inint.) muito tarde, muitos anos depois, já crescida, que ela se desfez da mobília. Eram dois armários, dois armários grandes, cama de casal, tinha cômoda, tinha toalete, né, com espelho de três faces.
DOC. -  Hum.
LOC. -  E a cadeirinha baixa que eu ainda guardo até hoje essa cadeirinha.
DOC. -  Ainda tem?
LOC. -  Cadeirinha de palhinha, né, cadeirinha baixa que as mobílias todas tinham aquela cadeirinha de quarto.
DOC. -  Nessa, nesse, no, nesse salão que a senhora falou, esse salão grande embaixo, né, como era decorado os móveis?
LOC. -  Ah, era a, a mobília ... Havia um jogo de sofá grande de palhinha, jacarandá e cadeiras e havia também um jogo desse, dessa mobília dourada, estofada, com tapeçaria.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Agora havia muito lá em casa do meu avô eram quadros. Ele tinha muitos quadros de valor e obras de arte mesmo, isso em quantidade. Basta dizer que quando o meu avô faleceu, ele tinha onze filhos, pra dividir os quadros foram feitos onze lotes. É, três vezes onze. (risos) Cada filho recebeu três lotes de quadro, de acordo com o valor. Fora os objetos.
DOC. -  É. Que objetos assim de enfeite, decoração, como eram?
LOC. -  Ti... tinha os, o que a gente sente muita diferença dagora nos quadros princi... que eu acho a, muito a, as molduras, né, que antigamente as molduras trabalhadas, de madeira trabalhadas, douradas, todas naquele gênero. E ele tinha mui... muito quadro francês e português também. Tinha também nacionais: Parreiras, Décio Villares, essa, eu tenho até hoje em casa. E tinha também estatuetas, tinha muito e va... ah, jarras também. Tinha uma mesa grande de, trabalhada com, com tampo de mármore também na sala. Isso realmente é uma diferença dagora porque não havia essa parte de estofado, esses, não er... não eram esses estofadões de agora, né? Piano, que isso toda casa tinha piano, tinha, isso em toda casa tinha piano e era, fazia parte, toda criança tinha que aprender a tocar piano (risos) de maneira que toda casa tinha um piano, né?
DOC. -  E a louça, a senhora se lembra?
LOC. -  Louça.
DOC. -  Louça, eh, (sup.)
LOC. -  (inint.) mui... muito grande, não sei, lá em casa a família muito grande, de maneira que talvez por isso sempre louça muito grande e o serviço não era em, em prato de louça, em geral era em Christofle, não é, aquela, aquelas travessas grandes de Christofle, era onde era feito o serviço. E o, o mesmo talher do diário também era talher de Christofle ou talher de prata. Não havia o aço como hoje, né, tanto que eram as lâminas oxidáveis que eram amoladas e tudo isso, né? Isso havia muita diferença.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Também outro costume é que muita empregada, empregada dormindo em casa, cozinheiro homem.
DOC. -  Ah, cozinheiro?
LOC. -  É, era cozinheiro. E nós naturalmente nesse tempo de casa de vovô tínhamos sempre ama, né? Com quatro ... De maneira que tinha sempre ama também. Havia sempre empregada, lavadeira que morava em casa, também diferença agora, né?
DOC. -  Ah, a lavadeira morava ...
LOC. -  Morava, em geral ela morava em casa, lavadeira. Nesses quartos de fora em geral dormia lavadeira e, e a ... Sempre tinha den... dentro de casa também ao lado da cozinha também tinha quarto de empregada.
DOC. -  Ah, na própria casa.
LOC. -  Na própria casa também tinha quarto de empregada dentro. E fora então era o quarto de lavar, de passar, o quarto da roupa e a parte de, de, de outros empregados que dormiam fora.
DOC. -  A senhora falou em, em banheiro social na parte de baixo?
LOC. -  O banheiro social na parte de baixo.
DOC. -  Era muito diferente dos banheiros de agora?
LOC. -  Bom, a banheira não era embutida, não é?
DOC. -  Ah, que engraçado.
LOC. -  E a banheira tinha uns pezinhos, ela não era embutida e o sistema do aquecedor de gás também era outro, não era esse sistema do aquece... do aquecedor automático. A água saía do aquecedor, o aquecedor tinha como que um braço, um cano que saía direto do aquecedor. Isso ainda se encontra hoje em dia em algumas casas antigas, esse tipo de aquecedor, não é? E, em cima tinha um banheirinho, mas não era com... banheiro completo, com banheira.
DOC. -  Agora ...
LOC. -  E a casa também outra coisa de, que hoje em dia não se vê mais, é clarabóia.
DOC. -  Clarabóia. Como era clarabóia?
LOC. -  Clarabóia porque as casas grandes, o respiradouro do banheiro de cima era uma clarabóia. É, é um avidraçado, não é? Envidraçado que ficava alto do teto. E então ali vinham os bem-te-vis fazer ninho. (risos) E era muito comum. Era, era como que hoje equivalia aos respiradouros dos edifícios de apartamento, não é? Mas era comum. Toda casa tinha essa clarabóia. Também outra coisa que era muito diferente é que os, o pé direito era muito alto e junto ao, ao teto, que era sempre de madeira, havia uma, uma, uma barra de mardeira (sic) à volta que era um respiradouro, todo trabalhadinho, de maneira que respirava, tinha ... O ar saía pro teto, né, eu acho que era por causa do clima, de maneira que não, não ficava tão quente a casa, mesmo que você fechasse a porta havia sempre aquela, não sei como chamar isso porque era, era trabalhado, fazia uns desenhozinhos, respirava para o teto. #DOC. -  E o chão como era?
LOC. -  Ah, o chão madeira corrida, mas já encerado.
DOC. -  Ah, sei.
LOC. -  Sempre encerado. Tanto os quartos ...
DOC. -  (sup.) Mesmo a cozinha?
LOC. -  Não, isso eu não me lembro mas eu, eu tenho a impressão que devia ser já ladrilho ou algum tipo nesse gênero. Porque eu me lembro que era lavado, banheiro, cozinha, tudo isso era lavado, de maneira que de... deve ser um, algum tipo de ladrilho, de azulejo, não, isso não, não exa... lembro exatamente.
DOC. -  A senhora se lembra bem da copa e da cozinha, os móveis?
LOC. -  Ah, cozinha, mesa grande com tampo de mármore, isso eu lembro. O fogão também grande. O, o filtro era sempre talha, não é? Não era como hoje em dia que o filtro tem, tem encanamento próprio.
DOC. -  Ah, sei, sei.
LOC. -  Era sempre talha.
DOC. -  Não tinha geladeira?
LOC. -  Geladeira tinha, mas não geladeira elétrica, não é?
DOC. -  Como era?
LOC. -  A geladeira era de madeira, com porta tudo mais ou menos como dagora, menor e talvez ... Mas elas tinham dentro um, um recipiente onde a gente comprava o gelo, o gelo vinha o fornecedor, trazia o gelo em casa e era posto ali dentro, era uma, era uma, uma folha-de-flandres, uma coisa assim, um latão onde ficava o gelo ali.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  E tinha o, o encanamento que descia, embaixo havia então uma bac... uma, um recipiente pra apanhar a água, como que uma gaveta que atualmente as geladeiras modernas que têm refrigerador também têm uma gaveta embaixo pra sair.
DOC. -  Exato.
LOC. -  Pois era nesse, nesse estilo, mas era o gelo que era colocado.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Em geral o entre... entregador vinha duas vezes por dia em casa da gente trazendo as pedras de gelo.
DOC. -  Sim.
LOC. -  Que eram guardadas aí.
DOC. -  Hum.
LOC. -  E talvez (inint.) todo mundo tinha, não é, não, não precisava ter condição financeira boa. Eu acho que essa ...
DOC. -  A geladeira?
LOC. -  Esse tipo de geladeira era comum em casa de todo mundo.
DOC. -  Ah, isso que eu ia lhe perguntar. O fogão como era?
LOC. -  Ih, você sabe que o fo... eu ...
DOC. -  (sup./inint.)
LOC. -  A lembrança que eu tenho, eu não tenho lembrança de fogão que não fosse de gás. A minha lembrança é sempre de fogão de gás. Se houve outro, eu não tenho lembrança.
DOC. -  E agora, dona ... esses outros utensílios normais de cozinha pra cozinhar, etc. a senhora tem alguma lembrança?
LOC. -  Não que fosse diferente não. As panelas, tudo comum. Hoje em dia o que pode haver era o que antigamente nós chamávamos de alguidar que era de ...
DOC. -  Ah, alguidar?
LOC. -  Era de, era de barro, meio vidrado, que fazia as vezes de hoje dessas vasilhas que se compram pra, pra batedeira, né, pra fazer bolo. Então eram usadas e nós chamávamos de alguidar. Isso realmente hoje não se usa mais. Mas no mais eu acho que era tudo igual.
DOC. -  Agora ...
LOC. -  A escumadeira, faqueiro, tudo isso não há diferença.
DOC. -  Hoje em dia existe uma série de aparelhos elétricos, não é, na cozinha, que ...
LOC. -  Que não havia (sup.)
DOC. -  Como era (inint.) naquela época se resolvia?
LOC. -  Não, realmente o bolo era tudo batido à mão, com garfo. Isso não tem dúvida. Agora, tanto que minha avó era uma doceira de mão cheia, fazia muito e quando a empregada desandava o bolo, ela já não deixava mais bater, porque ela dizia que só desandava quem queria, que era pretexto pra não bater outra vez, que ela não admitia que ninguém desandasse, então ela achava que era sempre proposital. (risos) Ela não acreditava que fosse acidental.
DOC. -  E as coisas que hoje são feitas em liqüidificador, por exemplo?
LOC. -  Não, o, o, o espremer le... fruta já era ... Agora o outro era ralador, os ralos, não é? Que isso sempre houve esse ralo mais grosso, mais fino. Realmente agora se... me lembro, toda vida sempre a máquina de moer, que servia pra moer, uma maquininha própria pra moer noz, noz e amêndoa. Isso sempre houve uma maquininha própria, uma espécie de uma ma... um moedor de carne, só que com um ralo muito mais fino e que era própria pra moer amêndoa ou, ou, ou noz.
DOC. -  Outra coisa, a parte de iluminação da casa? Era mais ou menos como agora?
LOC. -  Não, não se usava tão luzes indireta. Isso não, isso eu me lembro mesmo quando comecei a ver luz indireta bem eu já crescida, já moça, trabalhando. Antigamente não, era sempre a lâmpada pendurada, não é? Agora eu ... Muito lustre de cristal, essas coisas todas, isso sempre houve.
DOC. -  Era muito bonita a casa?
LOC. -  Eu não sei se ... Lembrança assim mais criança porque eu saí, por exemplo, dessa casa antes dos doze anos. Mas eu, a lembrança que eu tenho é que era. (risos)
DOC. -  Ah, sei.
LOC. -  Depois era muito cuidada. Meu avô sempre cuidou muito. Lá em casa havia o costume todo domingo ele ia de automóvel ao mercado das flores comprar as flores pra enfeitar a casa, de maneira que sempre foi muito cuidada a casa, né?
DOC. -  Por fora como ela era?
LOC. -  Hum, seria uma, uma casa em estilo mais antigo por causa desse balcão que havia na, essa, nas janelas da sala embaixo, mas em cima não, em cima eram janelas comuns com veneziana, que também hoje usam pouco veneziana, né? E naquele tempo era, as janelas em cima eram todas de veneziana. A vidraça ficava por trás da veneziana. E, e as, e as de baixo, do, do andar térreo tinham as, por, por dentro, as portas inteiriças de madeira.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Pra fechar completamente, né? Pra fechar à noite principalmente.
DOC. -  Depois dessa casa a senhora foi pra Botafogo. É isso?
LOC. -  É.
DOC. -  Desde doze anos que a senhora mora em Botafogo?
LOC. -  É.
DOC. -  Não no mesmo local.
LOC. -  Não, não, primeiro eu morei na ...
DOC. -  (sup.) A senhora chegou a morar em outra casa?
LOC. -  Como?
DOC. -  Chegou a morar em outra casa?
LOC. -  Ah, morei. Quando eu saí daí eu fui pra, que era a rua da Passagem que hoje se chama General Góis Monteiro. Aí morei em casa.
DOC. -  Como era?
LOC. -  (sup.) Mesmo mais tarde, quando eu saí daí, mesmo em, em mil novecentos e trinta e cinco, trinta e sete, eu sempre morei em casa. Eu só fui morar em apartamento em mil novecentos e cinqüenta e oito, sessenta ... Antes sempre, toda vida morei em casa.
DOC. -  Essa segunda casa que a senhora morou, ela era (inint.) primeira?
LOC. -  Não, era um, já um bangalô tipo inglês de la... ah, tijolo. Essa já foi construída por meu avô mesmo, ele que construiu pra nós morarmos, de tijolinhos.
DOC. -  Como era?
LOC. -  Também dois andares, essa ficava dentro de terreno, jardim toda volta, a parte atrás dava pro morro, tinha escadaria, em cima então tinha as estufas pra, de plantas. Mas também não e...
DOC. -  Era muito grande?
LOC. -  Não. Bastante, não sei, também tinha duas salas de visita, sala de entrada, sala de visita, sala de jantar. Ao lado da copa tinha um quarto que era o quarto que ele dizia que era pra vovó fazer os bolos, mas que nunca ficava pros bolos que sempre aparecia um hóspede. (risos)
DOC. -  E como é que ela era arrumada. Os móveis, a senhora se lembra ainda?
LOC. -  Não, não.
DOC. -  A decoração.
LOC. -  Mais ou menos mesma coisa. Não, não, nesse ponto não muda, não. Talvez aí era uma casa já menor, naturalmente, mobílias menores, mas a sala de jantar com cristaleira.
DOC. -  Ah, cristaleira.
LOC. -  Que hoje em dia também já não se usa, não é?
DOC. -  É tão bonito cristaleira, né? Acho lindo cristaleira.
LOC. -  Sempre se tinha cristal muito fino, de modo que havia muita cristaleira e relógio sempre de carrilhão. Isso também sempre tenho na lembrança de relógio de carrilhão, que aliás eu guardo até hoje. (riso)
DOC. -  A senhora ainda tem?
LOC. -  Tenho. Eu acho graça até às vezes pessoas de fora que dizem: não sei como é que você dorme com esse relógio! Mas a gente dentro de casa não sente nem ouve mais.
DOC. -  (inint./sup.)
LOC. -  Ele bate de quar... cada quarto d'hora. Ele bate os quartos d'hora, bate a música, né, e na hora então depois da música, bate a hora.
DOC. -  Que graça!
LOC. -  Mas eu só vim a morar em apartamento agora há pouco tempo.
DOC. -  E esse apartamento é o mesmo que a senhora mora até hoje?
LOC. -  Não, eu primeiro morei em apartamento alugado e hoje é que eu moro num outro que eu comprei mesmo. Todos em Botafogo.
DOC. -  Os dois do mesmo tamanho ou não?
LOC. -  É, sempre mais ou menos. Apartamento de dois quartos.
DOC. -  Esse apartamento que a senhora mora hoje como é?
LOC. -  É dois quartos, sala, quarto de empregada, banheiro, cozinha, dois banheiros, né, um social e um de empregada. Tem um bom quarto de empregada e não quis mais de frente porque com os barulhos das ruas ... Que hoje passa muito trânsito amanhã não passa mas amanhã pode passar.
DOC. -  Claro.
LOC. -  Então eu sempre preferi apartamento de fundo. Esse apartamento em Botafogo ...
DOC. -  (sup.) Esse apartamento é seu, né?
LOC. -  (inint.) normal. É, esse é meu, esse é que eu comprei.
DOC. -  Agora eu queria que a senhora, eh, descrevesse assim detalhadamente cada um, eh, cada um dos cômodos da casa. Por exemplo, a sua sala, como é que ela é, os móveis?
LOC. -  Atual?
DOC. -  É, esse atual.
LOC. -  Ah, bem, eu tenho uma mesa redonda e quatro cadeiras. Nós somos dois em casa, de maneira que comecei logo diminuindo o número das cadeiras. (risos) Tenho o, a, a, o, o bifê, que nós chamavamos antigamente o aparador, que hoje não se chama mais assim, né? Cada um da... a arca, o que seja, mas é grande porque é o único onde eu guardo toda a louça, que tem cinco portas, é onde eu guardo as, louça e talheres e tem uma banqueta onde ponho telefone, tenho um outro banquinho onde ponho o ventilador, tenho o sofá.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  E televisão.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Depois no primeiro quarto eu tenho as, a estante de livros, ma... uma mesinha com máquina de escrever e uma vitrola grande, que é estéreo.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Rádio-vitrola, de maneira que é um móvel grande, então esse ficou aí nessa, nesse quarto em separado.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  E o nosso quarto, que além de cama e das duas mesas tem um armário embutido.
DOC. -  (sup.) Ah, o armário.
LOC. -  Que é um armário grande e o, o banheiro em cor, eh, o assoalho branco, mas a louça amarelinha.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Já com esse tipo de aquecedor moderno.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Compridinho, e como o, o banheiro não tem janela pra fora, o respiradouro dele, ele tem um respiradouro grande, que é, é, é todo, que dá pro rebaixo de corredor. O corredor do edifício é rebaixado.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  E dá pro respiradouro desse banheiro.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  E a porta também do banheiro, a parte baixa tem também veneziana, também já por exigência nova.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Da companhia de gás.
DOC. -  É grande o seu banheiro?
LOC. -  É, tem banheira, e mais as outras peças todas, não é, inclusive chuveiro.
DOC. -  O chuveiro é separado da banheira?
LOC. -  Não, o chuveiro é em cima da banheira.
DOC. -  Ah, sim.
LOC. -  O chuveiro é em cima da banheira. E o, o banheiro de fora então tem chuveiro também e a privada, tem a área com um tanque muito bonzinho, o quarto de empregada também é muito bom e é onde eu, não tenho empregada dormindo em casa de maneira que é onde eu faço, tenho os armários onde eu guardo tudo quanto é, é mat... panelas e todo mat... a, a, alimento, toda parte, mesmo a parte de material eletrodomésticos, guardo tudo aí.
DOC. -  E na sua cozinha?
LOC. -  Não, a cozinha eu não tenho armário.
DOC. -  Não?
LOC. -  Não, porque botei justamente os armários no quarto.
DOC. -  Sei.
LOC. -  De maneira que a cozinha ficou só com o fogão, geladeira e pia.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Embaixo da pia tem um armário.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Onde eu ponho as panelas mais de uso diário.
DOC. -  Hum.
LOC. -  E na, no armário da sala, que é grande, é onde eu guardo a parte de pirex. Essa parte mais fina que eu guardo então aí dentro.
DOC. -  Vocês costumam fazer refeições na, na própria sala?
LOC. -  Fazemos a refeição na própria sala, sempre na sala.
DOC. -  Outra coisa. A senhora tem na sua casa objetos decorativos?
LOC. -  Não, eu tenho um pou... eu tenho esses quadros, que eu tenho quadros ainda de valor afetivo grande, ainda da casa de vovô, tenho alguns quadros pintados também por minha mãe que também pintava.
DOC. -  Ah, sua mãe pintava?
LOC. -  É, ela, de maneira que eu tenho alguns quadros pintados por ela. E modernos, o que eu tenho mais moderno é, são duas paisagens de Curitiba pintadas por um pintor moderno de lá ...
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Garfunkel.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Mas o... objeto tenho ...
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Também muito peças de prata assim de casa também, mas também de estimação.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Comprado por mim mesmo. Não, não, não ... Eu, como sou só eu e meu marido, a gente não tem pra quem deixar, de maneira que nunca anima muito comprar coisa de muito valor.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Sem razão de ser. Depois também não tenho vida social. Nós vivemos muito sós, nós dois, sabe como é ...
DOC. -  Eu sei.
LOC. -  A gente trabalhando o dia inteiro, de tempo integral, não sobra muito tempo pra ...
DOC. -  Claro.
LOC. -  Vida social. De maneira que o que nós gostamos mais e que temos mais é a parte de justamente estéreo, a parte de discos.
DOC. -  Ah, vocês têm muitos discos?
LOC. -  Temos, de maneira que ele gosta muito de música e quando a gente está em casa está sempre ouvindo música. De maneira que nessa parte ...
DOC. -  (sup.) Outra coisa assim, por exemplo, a sua parte de, eh, como é que eu vou dizer? Esse tipo de, de... Não é roupa não. Como é que eu diria? A gente, a gente costuma falar de, assim pro banheiro, eh ...
LOC. -  Cama e mesa. Roupa de cama e mesa?
DOC. -  É, exato.
LOC. -  Ah, sim. Eu, eu ... Toalha, nessa parte tudo que nós temos é muito moderno. Eu não gosto de comprar muito. Nós lá em casa sempre quando compramos as coisas compramos assim de seis, ou de dúzia, ou de meia dúzia, conforme a, a peça. Espera aquilo acabar pra comprar ...
DOC. -  Sei.
LOC. -  Outros novos. Tanto, por exemplo, lençol, a gente compra aquele bocado, quando começa a rasgar então dá tudo aquilo e compra tudo de novo. Mas toalhas eu tenho duas grandes, assim mais pro ...
DOC. -  Toalha de ...
LOC. -  Toalha de mesa ...
DOC. -  Ah, sim.
LOC. -  Mais duas assim, que a gente, sempre melhor, que guarda pruma ocasião excepcional, ou senão pro diário se... sempre compro, nu... nunca muito ordinário porque somos só os dois, a gente cuida, de maneira que a gente tem mais prazer em ter coisa melhor.
DOC. -  Isso que eu ia lhe perguntar.
LOC. -  É.
DOC. -  A senhora costuma, eh, colocar uma, oh, meu Deus, esse, esse, essa ...
LOC. -  Proteção?
DOC. -  Essa ... Não, não.
LOC. -  Plástico?
DOC. -  Não, não, cama e mesa, né? Essa parte da cama e mesa. A mesa, por exemplo, quando a senhora, a senhora disse que não tem vida social muito intensa mas, por acaso, a senhora costuma colocar peças diferentes, melhores, quando vem alguma pessoa?
LOC. -  Não. Eu, justamente, eu, talvez nisso nosso procedimento seja um pouco diferente. Apesar de nós não recebermos ou, ou talvez por isso a gente acha que o que nós temos de bom é pra nós, então nós sempre que compramos nunca compramos uma coisa que muita gente diz: ah, isso é pro uso diário, mais ordinário. Não. Eu sempre compro o bom e o bonito porque nós gostamos e ... Mas usamos aquilo diariamente.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Compreende? Mesmo ...
DOC. -  E a louça também?
LOC. -  A louça também. Eu só tenho uma louça mas é uma louça completa, uma que eu comprei um jogo completo e muito caro, já de, com dourado, uma boa, que foi a única que nós compramos e que nós usamos no diário.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Porque talvez por isso mesmo a gente não tem razão de, de não usar, não é? Como talher também, eu só comprei um talher de prata, um, um jogo, não é, completo, mas é o que nós usamos no diário.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Não tenho um, um pro uso diário e outro pra ...
DOC. -  Hum, hum. A iluminação do seu apartamento como é?
LOC. -  Não ... É comum. Não tenho nada de extraordinário. É um, um globo comum, de, de louça, não, não tem nada de extraordinário.
DOC. -  Hum, hum. Agora, outra coisa, o seu quarto parece que tem armário embutido e tal.
LOC. -  É.
DOC. -  Esse, ele é muito grande o armário? Tem divisões?
LOC. -  É, é, é. Armário ...
DOC. -  Pra quê?
LOC. -  O arma... n... no armário nós guardamos tanto a roupa, eh, de corpo como a, a roupa de cama e mesa. E até malas porque ele é muito grande lá em cima nós guard... As malas ficam em cima, cobertor, as, as, as toalhas de banho, cabe tudo no armário. Nós guardamos ...
DOC. -  Os sapatos também?
LOC. -  Não. Sapato eu guardo no quarto de fora, de empregada. Nós guardamos os sapatos lá fora. Os sapatos ficam sempre, ah, fora, no quarto de empregada, que é onde eu tenho as outr... o outro armário onde eu guardo o resto do material de casa.
DOC. -  A senhora disse que também tem cama de casal, duas mesinhas.
LOC. -  É, cama de casal com duas mesinhas de cabeceira.
DOC. -  Não tem mais outra, outro móvel?
LOC. -  Não. Tem uma, uma penteadeira com espelho grande.
DOC. -  Como é essa penteadeira?
LOC. -  Ah, é simples, bem simples, é mais gênero consolo.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Apenas umazinha de consolo com espelho.
DOC. -  A cama, as mesinhas, a penteadeira são um conjunto? Formam um conjunto? São móveis de tipos diferentes?
LOC. -  Não. Comprados diferentes mesmo.
DOC. -  Ah.
LOC. -  Foi diferente.
DOC. -  E a cor assim (inint.) especial?
LOC. -  Não, nada de extraordinário não. Tudo si... simples, muito simples, mesmo o armário embutido que nós fizemos ele está só na madeira. É só encerado, ficou à espera duma resolução do que seria melhor: se pintar, se envernizar, se cobrir de papel, e foi ficando, e até hoje é a mesma.
DOC. -  Agora, outra coisa, o, o chão do seu apartamento todo, como é?
LOC. -  É atapetado.
DOC. -  Ah, ele é todo atapetado?
LOC. -  É todo atapetado por igual, todo porque também são das comodidades. Sendo só os dois, não tendo criança, é mais cômodo pra gente lidar com aspirador, limpar a casa toda, não é? Do que ainda ter que tomar encerador ...
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Essas coisas todas que complicam sempre mais a vida da gente.
DOC. -  E as janelas? A senhora costuma colocar alguma coisa pra proteger?
LOC. -  Não, tem ... A janela, as janelas do, do prédio são só vidraça de correr mas já na ... Fez parte da construção já colocação das persianas de maneira que nós já recebemos o apartamento com persiana, e fiquei só com a persiana.
DOC. -  Hum, hum. Quer dizer que em todos os cômodos, janelas ...
LOC. -  Em todas, todos os cômodos tem a janela, a vidraça e a persiana.
DOC. -  Outra coisa, eh, todos os, a cor do apartamento ...
LOC. -  Ah, não ...
DOC. -  A pintura ...
LOC. -  Tudo branco.
DOC. -  Tudo branquinho.
LOC. -  Todo branco, não tem, quer dizer, não é branco, é aquele creme, é cinza claro, cinza pérola, né? Aquele cinza pérola, quebrando apenas a cor.
DOC. -  Outra coisa também ...
LOC. -  Bem, bem simples, só com a preocupação do conforto, do bem estar, né?
DOC. -  E a senhora tem empregada?
LOC. -  Diarista. Não que more em casa, em casa não. Tenho diarista que limpa e lava a roupa, apenas a roupa de corpo, não é, a roupa pequena. Lava e passa a roupa pequena e faz arrumação da, do apartamento.
DOC. -  E o ...
LOC. -  E a roupa grande, então, de cama e mesa, toalhas de banho eu mando em lavanderia.
DOC. -  Outra coisa, assim, pra, pra limpeza da sua casa, etc. a senhora costuma usar esses materiais que existem, esses produtos de limpeza, há uma quantidade enorme, não é?
LOC. -  Não. Nós usamos normalmente um desinfetante, por exemplo, pinho, uma coisa nesse gênero, e o Vim pra limpeza normal, sabão de coco na, na cozinha ...
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Apenas o sabão de coco pra roupa, um sabão que seja, mas n... de num modo geral, nunca vou atrás dos anúncios e como está mudando todo dia nem nada não.
DOC. -  Agora eu queria que a senhora falasse um pouquinho do seu edifício de modo geral. Como é que ele é?
LOC. -  Do prédio. O, o, o prédio tem embaixo lojas e boxes. Que por sinal apesar de já há muito tempo pronto quase tudo vazio. Acho que talvez pela proximidade ali do, do, do mercado, não, não sei, o mercado não teria nada a ver, porque ele poderia ter outro tipo de loja, mas tem loja vazia.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  E são dois edifícios: um dando frente pro Humaitá e outro frente pra Voluntários.
DOC. -  Sim.
LOC. -  O que dá muita comodidade de condução, né?
DOC. -  Ah, é.
LOC. -  A gente tem praticamente condução na chegada e na saída, não é, bem na porta. E são dois apartamentos de frente e três de fundo mas como a média dos apartamentos novos quase todos são casais novos, muita criança pequena.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Normal, muito carrinho, muita criança pequena, talvez também pelo fato de serem apartamentos menores, né, porque todos são, todos têm o mesmo número de peças.
DOC. -  Sei.
LOC. -  A... apesar de serem todos os cinco diferentes um do outro, há diferença no tamanho, dado ao formato da, do apartamento. A dificuldade de, de síndico é a mesma de todo mundo, que a gente sempre tem suas queixas. Cada um tem suas ...
DOC. -  (sup.) É, isso que eu ia perguntar. O apartamento é seu, mas a senhora tem certas despesas, né?
LOC. -  Tenho despesas de síndico, né? A parte da, do condomínio. A parte do condomínio a gente sempre ouve dizer que todo mundo se aborrece com condomínio. Realmente, é muito difícil porque ... Muito difícil quem queira se incomodar em ser síndico, de forma que quando alguém quer todo mundo aceita correndo sem examinar se aquela pessoa tem condições para ser síndico.
DOC. -  A senhora já teve problemas com o síndico?
LOC. -  Já, já tive problemas com o s'indico.
DOC. -  Por exemplo?
LOC. -  Por exemplo, não, não ... A lei exige que todo apartamento tenha um seguro. Numa reunião de condomínio, mais de um ano do prédio pronto, eles comunicaram que iam segurar as partes comuns. Eu já tinha o meu apartamento segurado. Não, não disse nada. Eles comunicaram em reunião que iam segurar as partes comuns do prédio. Quando eu recebo a nota pra pagar, o seguro do meu apartamento ...
DOC. -  Ah.
LOC. -  Porque eles não seguraram as partes comuns, eles seguraram o prédio inteiro. Acontece que por lei é proibido a mesma coisa ter dois seguros.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Então eu tive a questão com o síndico porque como é que eu ia fazer? O meu já estava assegurado, ele foi segurar muito tempo depois? Quer dizer, eles, contraria... contrariamente à lei não seguraram na época que deviam. Por isso eu segurei. Depois, outra coisa: eles pra fazerem o seguro mais barato eles fazem um seguro que se o apartamento pegar fogo, não paga nada ...
DOC. -  Hum.
LOC. -  Porque eles seguram por um `miserere'. Então isso é hábito em todo condomínio, eles seguem por mais baixo possível. O resultado é que se houver alguma, algum incêndio, o incêndio não paga. Foi o que aconteceu agora com esse incêndio grande em São Paulo.
DOC. -  Sim, claro.
LOC. -  Então eu tive questão com, com o síndico. O síndico é um rapaz sem fineza nenhuma de trato e foi logo a... a... com agredindo com palavras naturalmente, foi logo com grosseria, não deu margem a conversa. Eu fui obrigada a fazer tudo por, por carta e, e um negócio todo ... No final ficaram os dois seguros, (riso) o meu já estava pago, a companhia de seguro não ia me devolver o dinheiro.
DOC. -  Claro.
LOC. -  E o seguro que ele fez também não dá pra nada. Então aí a gente fica vendo. Agora também então eles tomam resolução que não foram ditas em, em reunião e que a gente não sabe. Então em reunião fica combinado uma coisa e eles mudam por conta própria. Agora, outra, o, a cota que a gente paga, paga por trimestre.
DOC. -  Ah, sim.
LOC. -  Então eles dizem: quem pagar adiantado tem um desconto. Então se a gente pagar até o dia trinta do primeiro mês, a gente tem um desconto. Pois bem, sem consultar ninguém ele passou a dizer: quem passa do dia trinta tem multa.
DOC. -  É, eu sei.
LOC. -  Então isso está inteiramente fora. Na, na, na ata não consta nada disso. Então por conta dele ...
DOC. -  (sup.) Não está atrasado, está dentro do prazo, né?
LOC. -  Pois é, então por conta dele ele faz isso. Então o que há é que a gente, por comodidade, pra não se aborrecer mais, eu por exemplo que já tive essa questão com ele, como pago adiantado, não estou me incomodando mas o, o coitado que não tiver condições financeiras, pra pagar atrasado vai pagar uma multa que não, não está no contrato.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  E veio da cabeça dele. Ele não tinha o direito de fazer isso sem consultar, não consta de ata, não consta de, de coisa nenhuma. Então isso, essa queixa que a gente tem eu vejo ...
DOC. -  Eu sei.
LOC. -  Que todo mundo, a gente vê dentro da repartição, todo mundo que tem apartamento no dia de reunião do condomínio todo mundo se desespera: meu Deus, hoje é o dia. Todo mundo acha que reuni~ao de condomínio já é um sofrimento.
DOC. -  (inint.)
LOC. -  E, é um problema de solução muito difícil ...
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Porque quando a gente é inquilino, a gente se queixa e quando a gente é proprietário a gente não tem condições de melhorar as coisas porque a gente é uma num bolo. Não é?
DOC. -  As outras despesas que a senhora tem com seu apartamento quais são, além dessas de condomínio?
LOC. -  Além de condomínio?
DOC. -  É.
LOC. -  Bom, luz, gás, telefone.
DOC. -  Despesas normais?
LOC. -  Ah, no... normais. E agora naturalmente com edifício novo ...
DOC. -  (sup.) Impostos existem?
LOC. -  Bom, o imposto predial e tem o, o imposto de saneamento mas que é cobrado junto com o predial.
DOC. -  E a senhora paga diretamente ou paga através do condomínio?
LOC. -  Não, o predial é nosso. Através do condomínio é água. A água, sim, mas aí é a taxa dágua da CEDAG, essa é que é através do condomínio ...
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Que é uma taxa pra todo mundo.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Agora lá nós temos a luz, o gás independente, cada um tem o seu.
DOC. -  A senhora disse que tem muita criança no prédio. Existe algum local especial para as crianças?
LOC. -  Não, não. Não existe local e outra coisa que é um absurdo que eu tenho notado, já terceiro edifício que eu moro, revoltante, é que os, os síndicos parece que são os maiores inimigos das crianças. Tudo é proibido criança fazer, né? Criança não pode fazer nada.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Inclusive um que eu morei antes no Humaitá, dezoito, até an... andar de bicicleta no, no, no jardim, na parte cimentada era proibido. Tudo é proibido.
DOC. -  Ah, esse que a senhora morou tinha parte pras crianças.
LOC. -  Não, parte, o que eu morei alugado tinha parte, mas tudo era proibido. Havia uma biquinha no jardim, uma torneira que as crianças sempre antes de entrar se lavavam e bebiam água, então ele mandou fazer uma caixa de cimento fechada que só tinha uma entradinha pra, pro tubo de regar o jardim pra impedir que as crianças usassem a torneira. Quer dizer, coisas re... francamente revoltantes. Acho que se eu tivesse filho eu não podia morar em apartamento que eu vivia brigando com os, os ... Não sei como é que os homens que têm filhos se sujeitam.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Porque a gente o que vê, esse porteiros todos a implicar com criança. Não pode isso, não pode aquilo.
DOC. -  O seu edifício tem porteiro?
LOC. -  Tem. Tem o porteiro, só fica sentado na cadeira, não faz nada.
DOC. -  E ele fica assim, eh ...
LOC. -  Não, é obrigado a ficar sentado.
DOC. -  A noite inteira?
LOC. -  Não. Tem o noturno.
DOC. -  Ah, sim, quer dizer que ...
LOC. -  É, nós temos, tem porteiro, tem dois pra limpeza e tem o noturno.
DOC. -  Quer dizer então que vocês não têm a chave da portaria?
LOC. -  Não, não há neces... temos a chave.
DOC. -  Mas ...
LOC. -  Olha, até nem sei se tem, porque tem porteiro. Não me lembro se eles deram chave de portaria. (riso)
DOC. -  Outra coisa, a senhora ...
LOC. -  Porque tem porteiro sempre, constantemente. Tem garagem.
DOC. -  Ah, certo, sei.
LOC. -  Tem vigia da garagem, tem empregado embaixo na garagem e o elevador de serviço desce até à garagem. Os empregados são obrigados a sair pela garagem. E mesmo os inquilinos quando carregam embrulho eles exigem que entrem e saiam pela garagem. Eu não entro nem saio pela garagem, nem com, nem sem embrulho. (riso do documentador) Porque também acho um desaforo a gente (inint.) ser moradora porque vem com embrulho tem que entrar pela garagem.
DOC. -  É claro. Outra coisa, a senhora comprou esse apartamento como? Comprou de uma outra pessoa (inint.)
LOC. -  Ah, eu tive uma sorte tão grande, tão grande, porque eu levei mais de ano procurando apartamento. E o que a gente vê de compra, de preço desse BNH, eu não posso dizer senão, senão vai dizer que eu sou subversiva, mas eu tive uma sorte enorme porque o apartamento era de dois rapazes e um deles casou-se, então quando apartamento ficou pronto, um dos irmãos já estava casado e eles tiveram que desmanchar a sociedade. Então e... eles tinham interesse em vender à vista e eu, como tinha recebido parte da casa de mamãe ...
DOC. -  Ah, sei.
LOC. -  E nessa ocasião já tinha terminado o inventário, meu irmão comprou a minha parte, eu então, que era o que eu queria era comprar à vista ...
DOC. -  Hum.
LOC. -  Porque a, esses prédios construídos pel... essas financeiras eles não vendem à vista.
DOC. -  Eles (inint.) um plano.
LOC. -  Eles exigem aquilo, se você quiser pagar à vista você vai pagar o mesmo preço que se fosse à prestação. É um absurdo mesmo.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  De maneira que é dificílimo conseguir à vista.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Eu tive muita sorte nisso.
DOC. -  E no apartamento anterior, que era alugado, a senhora teve muitos problemas?
LOC. -  Não. No, no, no anterior, o alugado, a gente já sabe que não tem nada que ver com, com a coisa. Não, não pode se meter com, com síndico nem nada, então a gente, eh, ignora os problemas. Ainda mais que eu estava sempre procurando um pra comprar. Então procurava ignorar os problemas, como por exemplo incinerador, incinerador de lixo, eh, lá, no outro prédio que eu morava era um sacrifício. Eu morava no nono andar e a fumaceira nos corredores era uma coisa horrível, ia até dentro do apartamento.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  E não se conseguia que, que consertassem. Mas como eu estava sempre pra sair procurava não me aborrecer.
DOC. -  Claro. A senhora tem carro?
LOC. -  Não, nunca tive.
DOC. -  Seu marido?
LOC. -  Não, não temos.
DOC. -  Porque às vezes as pessoas que têm carro também têm problemas com garagem.
LOC. -  Eu acredito. Acredito que a garagem ainda vá trazer mais problemas.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Mas nós não temos carro.
DOC. -  Hum. Agora uma outra coisa que eu ia lhe perguntar. A senhora morou em Curitiba, não é?
LOC. -  Foi, estive ...
DOC. -  De cinqüenta e dois e cinqüenta e cinco?
LOC. -  Isso mesmo.
DOC. -  E a senhora morava aonde? Morava em casa, apartamento?
LOC. -  Eu morava em pensão.
DOC. -  Ah, em pensão.
LOC. -  Morei em pensão.
DOC. -  E como era a pensão?
LOC. -  Logo, bom, logo que eu cheguei eu fui morar numa pensão que era duma senhora, gente de sociedade, uma senhora que tinha enviuvado, tinha uma casa muito boa, tinha feito pensão. Eu fui pra lá com muita recomendação mas acontece que ela passou a pensão, então quan... Eu fiquei apenas quinze dias, a casa era muito boa, num ponto muito social mas o tratamento foi péssimo. Então eu logo procurei sair. E aí tive sorte porque arranjei uma pensão, num casal de lá mesmo, gente da ... Mas uma pensão muito familiar, muito boa, dum tratamento muito bom. O pessoal, esses oficiais transferidos da aeronáutica ou mesmo do exército, quando iam pra Curitiba, enquanto procuravam casa sempre ficavam hospedados nessa pensão. Era comida bem simples, dessa comida que não cansa, não enjoa, de maneira que não era comida temperada mas comida muito sadia, muito limpa, tive muita sorte mesmo.
DOC. -  E a casa como era?
LOC. -  Era, ah, primeiro era uma casa antiga num centro de terreno, também o dono era pessoa de condição, creio até que era um senador mas depois ele, ele vendeu e fizeram então uma casa moderna.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Três andares, aí já foi uma casa construída própria pra pensão. Então muito, muito bem arrumadinha. Tinha uma, um salão grande de refeições, não tinha sala de estar, só tinha sala de refeições. Uma cozinha muito boa. A dona da pensão tinha um apartamentozinho dela à parte. Mamãe morava comigo nessa ocasião.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Então nós tínhamos um quarto bom, grande, com pia no quarto. E lá em Curitiba o problema é o frio, né?
DOC. -  É, exato (inint.)
LOC. -  Mas eles tinham em cada andar dois banheiros e com água quente.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Aquecimento central elétrico.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Aquelas caixas elétricas, de maneira que era muito bem servido.
DOC. -  E os quartos eram aquecidos?
LOC. -  Não, não havia. (risos) Nesse tempo que eu estive em Curitiba eu nunca fui em casa de ninguém, nunca vi ninguém que tivesse casa aquecida. Em cinqüenta e dois tivemos uma geada que não foi brincadeira mas nunca, não conheci nenhuma casa ... Dizem que agora já há, né?
DOC. -  Ouvi falar (inint.) aquecimento.
LOC. -  Mas naquele tempo não havia não. Naquele tempo não havia não. Nós tínhamos era um tipo de, de aquecedor que era, é uma resistência ...
DOC. -  Hum.
LOC. -  Que fi... fica incandescente.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Então ela fica numa, como se fosse uma bacia, como fazem nas obras, com bacia pra iluminar.
DOC. -  Sei.
LOC. -  É assim, só que em vez de ser lâmpada é uma resistência, então você ligando aquilo, ele resseca muito o ambiente, tanto que no fim de algum tempo dá até dor de cabeça mas esquenta que é uma coisa. Resseca demais. Se tiver uma roupa molhada, uma coisa, botar ali junto num instante, eh, pega fogo. (risos)
DOC. -  E os móveis?
LOC. -  Isso se usava muito. Ah, a única diferença que eu achei lá e que eu estranhei logo que eu cheguei porque aqui pra nós o pinho é uma, uma madeira que não se usa, qualquer móvel de pinho aqui a gente considera inferior.
DOC. -  É, exato.
LOC. -  E lá o pinho não bicha, de maneira que é muito comum móvel de pinho lá.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Eles usam muito pra fazer mobiliário pras casas, naturalmente não o pessoal mais rico, mas o pessoal remediado todos têm móvel de pinho.
DOC. -  E que móveis havia no quarto de vocês?
LOC. -  Na pensão?
DOC. -  É.
LOC. -  Armário com espelho, mesa, uma mesinha e as camas boas, com bons colchões e mesa de cabeceira.
DOC. -  Hum.
LOC. -  É a pensão dava roupa de cama, nós só tínhamos que dar o, a toalha de banho e cobertor, que ela não dava. O resto tudo eles davam, mudavam toda semana.
DOC. -  Vocês podiam por acaso assim usar a cozinha, as dependências?
LOC. -  Não. Eu, eu pelo menos nunca.
DOC. -  (sup.) se quisesse fazer lanche, por exemplo.
LOC. -  Não. Eu pelo menos nunca, nunca usei a cozinha. Mas eles eram sempre, a cozinheira foi sempre a mesma, de maneira que se a gente quisesse uma coisa especial, podia pedir que ela fazia. Se a gente tinha uma visita ...
DOC. -  Hum.
LOC. -  Queria fazer um prato especial, eles faziam.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Normalmente eu não usava desse expediente.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Pão, por exemplo, que eu gostava muito, comprava à parte, porque vinha aquela quantia certa, então eu sempre comprava, sempre tinha queijo, essas coisas que a gente sempre melhora, tinha mas deixava na mesa, não precisava levar pro quarto, nem nada disso não. Eles mesmos tomavam conta. A senhora, o casal era bem gênero família, tinham filhos, netos, tinham os netinhos.
DOC. -  Hum.
LOC. -  De maneira que era gente muito compreensiva.
DOC. -  Sim.
LOC. -  Gente bem ...
DOC. -  A senhora tinha, eh, chegou a ter amigos em Curitiba?
LOC. -  Ah, muito.
DOC. -  E a senhora freqüentava as casas dos amigos?
LOC. -  Muito, muito. Freqüentei muito. Eu, quando cheguei em Curitiba, não conhecia ninguém, fui apenas com apresenta,cão pra um senhor que era, que trabalhava, representante de uma firma de um tio. Mas como eu fui requisitada pelo governo do estado e fui lecionar na universidade também ...
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  De maneira que eu logo fiz um ciclo glan... grande de relações.
DOC. -  Sim, claro.
LOC. -  Principalmente o pessoal que trabalhava comigo ...
DOC. -  Hum.
LOC. -  Que eram todas as moças quase formadas em ... Normalistas mas que foram fazer curso de biblioteconomia.
DOC. -  Sim, sim.
LOC. -  E ficavam trabalhando na biblioteca pública.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  De modo que fiz um círculo de relações muito boas. Era, era convidada constantemente. Acredito que tenha influído muito o fato de ter ido acompanhada por minha mãe, porque isso pra eles, uma moça ir sozinha assim pra fora eles inda encaravam com certa reserva.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Mas o fato de eu ter ido com mamãe foi muito bom pra mim ...
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Porque eu era sempre convidada com mamãe ...
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  E freqüentei muito boa sociedade lá.
DOC. -  A senhora acha que existe assim um estilo característico de arquitetura em Curitiba, por exemplo, as casas (inint.)
LOC. -  Não, a única diferença que ach... que eu achei é a, a casa de madeira, que eu não conhecia.
DOC. -  Tem muita casa de madeira?
LOC. -  Naquele tempo ainda tinha muito, muito mesmo. E eles usam até, usavam até um expediente interessante. A frente da casa era de alvenaria.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Então você tinha a impressão que a casa era de tijolo comum ...
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Mas as paredes laterais e internas era tudo de madeira. E conheci lá uma igreja de madeira muito bonita, muito interessante, com torre, tu... tudo como a gente vê em cinema, em filme americano, dessas igrejas de madeira.
DOC. -  Sim, sei.
LOC. -  Conheci lá. Outra coisa típica que eu achei na ocasião era um cemitério, que tem lá, ah, meu Deus, como era o nome do lugar, Água Verde, eu acho. Agora não me lembro. E eles fazem como se fossem umas casinhas laquea... pintadinhos, caiadas, de cor, então na ocasião de Finados eles pintam tudo, de maneira que você vê de longe fica aquilo azul, verde, rosa, todas as cores, uma tetéia, só você vendo, é um cemitério pobre, sabe, porque o outro cemitério, o, o ... É igual aos nossos, cheio de mármore, cheio de, de coisas. E esse é que era um cemitério mais humilde mas era uma tetéia. Então visto de longe só vendo que graça que era. (risos) Eu ia, dizia se eu mor... morresse em Curitiba, queria ficar nesse (risos). É tão bonitinho que fica, você lembra, parece presépio, né, aquelas casinhas, assim laqueadas, ah, laqueadas, não, caiadas.
DOC. -  Sim, sim.
LOC. -  Em cores.
DOC. -  Outra coisa, dona F., também a senhora morou em Belo Horizonte muito tempo, não é?
LOC. -  Morei. Belo Horizonte eu era mais menina. Mil novecentos e trinta.
DOC. -  Dezenove aos vinte anos a senhora viveu lá, né?
LOC. -  É, é, dezenove, é, Belo Horizonte. Quando eu saí do Rio para Belo Horizonte eu senti muito mais a diferença ...
DOC. -  Hum. Isso que eu ia lhe pedir pra senhora contar.
LOC. -  Do que ... Muito mais. Quando eu cheguei em Curitiba, realmente no primeiro momento eu achei Curitiba mais atrasada do que eu esperava. Mas como eu fui no ano cinqüenta e dois, que foi o ano de Curitiba ... Começou a crescer, que houve os festejos de centenário e que houve muita construção nova e naquele ano eles fizeram uma quantidade de congressos internacionais, fizeram o, o, ah, competições, fizeram jóquei clube, foi o ano que talvez também o estado progre... começou a progredir mais, estava progredindo e foi, foi quando começaram a construir os edifícios de apartamento, tudo isso. Agora, em Belo Horizonte eu senti mais a diferença. Primeiro que quando eu fui também fiquei uns tempos em pensão enquanto procurava casa.
DOC. -  Sim.
LOC. -  Em todas duas pensões que eu fiquei eu senti demais, muito. A diferença de comida então eu me lembro que eu sentia horrorosamente. Nós não conseguíamos comer nada, ach'avamos tudo ...
DOC. -  A senhora estava com sua mãe também?
LOC. -  Estávamos, aí estávamos com minha mãe, minha irmã, meu irmão. Aí senti muito. Senti muito mais e talvez também por eu ser mais moça, a gente não, não, ser tão tolerante, eu ach... achei uma diferença bem maior na ocasião.
DOC. -  Hum, hum, sim. Mas depois a senhora foi para uma casa.
LOC. -  Ah, depois, depois fui pra casa. Depois que a gente faz amizade e faz grupo de sair e de passear e tudo isso eu gostei muito, tanto que durante muitos anos eu todo ano passava as férias em Belo Horizonte.
DOC. -  Ah, a senhora costumava ir todos os anos.
LOC. -  Ah, todos os anos eu ia pras férias, passava carnaval lá porque depois ...
DOC. -  Ficava quanto tempo normalmente?
LOC. -  Ah, não, aí, não, pouco, duas semanas no máximo, ficava pouco tempo. Mesmo meu irmão casou, ficou morando lá. Eu mesmo quando ia, ia por pouco tempo.
DOC. -  E a senhora ia, ficava em casa de seu irmão?
LOC. -  É, quando ele estava ... Senão, antes dele casar e ter casa ficava em casa de amigos.
DOC. -  Agora, essa casa que a senhora morou em Belo Horizonte, como é que ela era? A senhora ainda se lembra?
LOC. -  Bom, nesse tempo em Belo Horizonte havia o seguinte: os lotes de terreno eram todos muito grandes, de maneira que todas as casas tinham muito terreno.
DOC. -  Hum.
LOC. -  As mais antigas eram todas construídas na frente da rua.
DOC. -  Ah, que graça.
LOC. -  É, então a coisa era o con... a parte de trás é que davam os quintais.
DOC. -  (sup.) Não como agora, né?
LOC. -  Não, não, eh, isso foi uma das coisas que achei muito estranho lá. Agora, os, os lotes eram todos grandes. Essa casa que eu morei, por exemplo, já era construída em centro de terreno.
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Era um bangalozinho, era casa de andar só, como aliás a maioria das casas de lá, era tudo de um andar, mesmo essas construídas em frente, em frente de rua, como a gente chama, eram de um andar só. Havia algumas de porão habitável e em cima, quer dizer, o primeiro ...
DOC. -  Sim, sim.
LOC. -  Não era de altura completa, né, mais baixos. E a que eu morei, eu morei em duas casas, todas duas assim. Assim, dentro, com terreno, mas de um andar só.
DOC. -  E eram, eram grandes elas?
LOC. -  Não, não eram. A primeira era maior, era um terreno grande, era uma casa melhor, depois a segunda, todas nessa ocasião, todas com três quartos, sala, mas não casa de luxo (inint.) hoje em dia a gente diz três quartos já imaginava uma casa de luxo. (riso) Mas não, eram casas normais.
DOC. -  Sim.
LOC. -  Não, não eram casas de luxo não.
DOC. -  Agora, outra coisa, esta casa era, vocês alugavam, né?
LOC. -  Alugava, alugava.
DOC. -  Sim. Então como é que vocês resolviam o problema de móveis, de roupa?
LOC. -  Ah, não. Nessa ocasião, ah, era mais rústico possível. Mesmo nós não, não estávamos com a intenção de ficar definitivo ...
DOC. -  Sim.
LOC. -  De maneira que foi, nós fizemos tudo de caixote coberta.
DOC. -  Hum.
LOC. -  Foi bem ... Compramos só camas, colchão, não é? Aquela, tipo de cama que a gente chamava estrado, né? E, e guarda-roupa, isso tudo nós ... Mamãe sempre fazia de caixote, era muito habilidosa ...
DOC. -  Hum, hum.
LOC. -  Conserta (inint.) fazia até enfeite, cobria com panos ou papel. Hoje em dia já seria granfino, né, porque seria 'hippie'. (riso)
DOC. -  Olhe, dona F., eh, por exemplo, essa, esse, roupa assim, de cama e mesa vocês levaram ou vocês compraram lá?
LOC. -  Ah, levamos. Não... Levamos tudo, levamos tudo. Mesmo louça, talher, essas coisas.
DOC. -  Tudo isso levaram.
LOC. -  Nós levamos. Levamos o que nós tínhamos, nós levamos. Era muito caro pra comprar, né? Engraçado, eu ia ...