« MAPA «
PROJETO NURC-RJ

Tema: "Dinheiro e finanças"

Inquérito 0373

Locutor 459
Sexo feminino, 58 anos de idade, pais cariocas
Profissão: advogada
Zona residencial: Norte

Data do registro: 02 de março de 1978

Duração: 40 minutos

Som Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 (risos) Não fique inibida.
L
 A maioria aí, viu, da, da, da, dos jovens são superdotados, vamos dizer, em, em graus diferentes, mas são. Não são mais criaturas como eram no meu tempo, não é? Nós éramos, tínhamos uma educação bitolada, tínhamos uma educação com, com completamente falta de comunicação, falta de informação. A informação que nós tínhamos o que que era? Há bem pouco tempo era através de livros, não é, isso é que foi a meninice da gente, através de livros, através de professores, através do dia-a-dia de casa, de pai e mãe, aquelas conversas assim de, de tios, de parentes então que vinham. Nós não tínhamos, televisão não havia, não é? Então agora essa massa de conhecimentos que vem à, à criança, porque a criança desde pequenininha, dois anos, três anos, já se criam, eles já se criam frente à televisão, não é verdade? Então eles estão se formando, formando uma mentalidade super... eles são realmente, eles serão superdotados. Eu me lembro, não faz muito tempo, a minha filha me fazia umas perguntas que eu vi aonde é que ela tinha tomado aquelas informações, da televisão. Porque enquanto eu estava trabalhando, ela não tinha aquela, aquele período (inint.) e eu disse: olha (inint.) isso é desonesto seu, porque você está, você sabe que eu estou trabalhando e o meu, o meu, o meu nú... núcleo não dá pra ter essas informações que você apanhou tudo na televisão. Ela disse: olha, mãe, você sabe que isso ... Nós temos assim um, um diálogo muito franco, muito aberto, nós duas, sabe? Então e... ela disse: bom, realmente é, isso é um, isso é uma coisa que precisa ser levada em conta, porque vocês adultos não têm os momentos, o, a folga que nós temos pra nos informar. Então eu acho que esta massa de conhecimentos que vem vindo à, à criança está fazendo da, desta geração, destas gerações agora superdotados. Com um volume enorme de conhecimentos. Pelo menos pro nosso, eh, em, em comparação com a nossa compreensão. Eles são realmente superdotados. Ou porque nós não tivemos tempo de acompanhar aqueles conhecimentos que eles foram, eh, bebendo por, através dessas informações de rádio e televisão, como também eu acredito que seja uma coisa assim muito ... É provável que a, a terceira e quarta geração já não vá achar tão espantosa, eh, é, não vão achar tão espantosa essa, essas gerações agora, é possível, porque eles terão também outras forças, outras formas de informação. Agora eu, de um modo geral eu acho que o problema, agora voltando a coi... eu acho que o problema nosso, o problema do mundo, não é só do Brasil, é que o, o jovem normalmente é superdotado. Agora é superdotado por quê? Porque ele tem informações, ele tem meio de vida que, que as gerações antigas não tinham. Eles têm posses, têm possibilidades que os antigos não tinham.
D
 Posses em que sentido?
L
 Financeiras. Eles normalmente ... E naturalmente que eu não estou falando daquela camada, eh, paupérrima, não é, não estou falando. O que eu estou falando de mo... vamos fi... vamos ficar aí num nível do que é classe média, tanto a alta como a baixa. Agora (inint.) de qualquer maneira, eh, são, são pessoas que podem mandar os filhos pra uma faculdade. Embora pai e mãe tenham que trabalhar pra sustentar aquilo, não é? Trabalha mãe, trabalha pai (sup.)
D
 (sup.) E os próprios estudantes! (sup.)
L
 (sup.) E os estudantes, também! Então eles têm realmente possibilidades financeiras muito grandes, muito maiores que nós tínhamos naquele tempo. É verdade que agora, agora alguém pode argumentar: ah, mas é, agora o nível de vida ... Está certo, eles pagam caro. Eles pagam muito caro esta, esta possibilidade que eles têm agora. Eu não, não, não, não, não, não acredito que seja de se, de se isolar esse pensamento não. Eles estão realmente (sup.)
D
 (sup.) A senhora (sup.)
L
 (sup.) Pagando um preço muito alto (sup.)
D
 (sup.) A senhora acha que a sociedade brasileira atualmente está vivendo assim mais folgada em termos de dinheiro do que há alguns anos atrás?
L
 Ah, muito mais. Muito mais. Apesar do nível de, de ni... de vida ter subido bastante e continue subindo muito, mas é claro, que, você vê, há, há muita possibilidade, muita, muita possibilidade. Antigamente, você vê, tinha só classe baixa, classe média e, e os ricos, né? Você vê, a classe média agora está desdobrando em alta e, e baixa. Mas por que que ela está desdobrando? Porque realmente está havendo uma forma aquisitiva maior do que havia na cla... classe média antigamente. Isso é, isso é só estudar, não precisa muito tempo, há, há vinte, trinta anos atrás o nível da, do, de vida das famílias. Então nós vamos ver que realmente elas não tinham a, o, a, o poder aquisitivo que agora uma família média tem.
D
 E como é que isso fica claro?
L
 Fica claro pelo trabalho da mulher. Que ela agora trabalha em pé de igualdade. E é esse o nosso trabalho nas associações femininas todas. Nós estamos trabalhando nesse sentido. Pra botar na mulher com os mesmos direitos financeiros. Não é direito, eh, socialmente falando não, mas direito assim de, de um trabalho igual, remuneração igual. Isso, no mundo inteiro está se trabalhando assim. Nem foi o... outro objetivo do, esse congresso de (inint.) agora na Escócia. Nós estávamos ve... o, o nosso trabalho quase está se centralizando sobre isto. Então eu acredito que seja isso, ouviu? A, a mulher trabalha e tem um salário às vezes igual ou maior que o marido, não é? Então ela, eh, a, o nível de vida deles é outra coisa. Quando di... diferente, quando ele só era, era fonte de, de ganho. Agora não. Agora você põe em cima disso também que os jovens hoje em dia também trabalham, normalmente eles trabalham ou meio expediente ou, seja como for, eles têm uma possibilidade de trabalho. Então sempre rende alguma coisinha. Minha filha por exemplo ela é professora do supletivo, ela é professora, fez o curso Normal, é professora do supletivo. É claro que ganha uma miséria, né? Porque o que é um, um ordenado de professora primária hoje em dia? Todo mundo sabe. Não é nada. Agora que vai se... com esse aumento é que vai a dois mil, né? E agora põe os descontos em cima disso, vai ser a mesma história, não vai chegar nem a dois mil. Então se ela fosse viver por conta dela, ela não poderia nem estudar. Não esto... esta... não estudaria mais, não é? Então a situação mudou muito. Porque tem a ajuda da, da parte financeira de pai e de mãe, não é? Eu acho que isso é a principal, eh, eh, força da sociedade atual. Agora eu gostaria que você fizesse algum, algum reparo ou alguma inf... ou algum, alguma pergunta (sup.)
D
 (sup.) Não, a senhora continue a falar sobre (sup.)
L
 (sup.) Porque aí eu iria também focalizando outros pontos, porque esse é um tema muito elástico (sup.)
D
 (sup.) Não. Nos interessa esse ponto (sup.)
L
 (sup.) É um te... é um tema vastíssimo esse que você está me dando, então (sup.)
D
 (sup.) Não. Nos interessa esse ponto que a senhora (sup.)
L
 (sup.) É (sup.)
D
 (sup.) Pegou aí de início, dessa comparação, né, entre, em termos de sociedade brasileira atual, termos financeiros, né? (sup.)
L
 (sup.) É (sup.)
D
 (sup.) Quer dizer, a participação da mulher e tudo (sup.)
L
 (sup.) Porque, você vê, eu lembro, eu me lembro (sup.)
D
 (sup.) Continue a falar mais sobre isso. Por exemplo (sup.)
L
 (sup.) Por exemplo, eu sou de família, de família fundadora da cidade do Rio de Janeiro. Então, eh, minha avó, pra você ver, minha avó tinha, abria ... Havia aquela, aquele pessoal que tinha um 'status', que tinha dia certo pra abrir salão, pra receber, não é? Então agora, você vê, houve uma queda financeira. Ela não resistiu. Até morreu muito nova. Estas mulheres antigamente se davam ao luxo de não agüentar o, o rojão como a gente agüenta agora, né? (risos) Então (riso) resolvem morrer, elas resolvem morrer, resolviam morrer. Agora a gente agüenta mesmo e não tem outro jeito. Então, ah, já que ele, ele, eles perderam tudo, meu pai teve que trabalhar, também não estava preparado pra trabalho, meus tios, ninguém estava tra... preparado pra enfrentar um trabalho, a verdade é essa. E depois também os pegou muito jovens, né? Então eles não estavam preparados. Aí a corrida, pra onde é que vai, em se tratando da sociedade antiga? Corria tudo pra funcionalismo público. Então eles iam pro Correios e Telégrafos, iam pra Casa da Moeda, que foram os dois tios que ... O pai e o tio pra onde é que foram? Então, você vê, muito diferente. Agora minha mãe também não trabalhava. Naquele tempo também não trabalhavam as mulheres de um modo geral, a não ser uma costura ou uma coisa assim, ninguém trabalhava fora. Com muito favor, elas faziam as coisas dentro da casa delas, né? E agora, você vê, nós tivemos a, de uma família de grande de, de grande nome, vamos dizer assim, porque nós temos o nome, eh, mas financeiramente era um fracasso. Todos nós tivemos que trabalhar muito cedo. E lá em casa éramos sete. Eram, fomos nove e nos criamos sete. Agora imagina um só ganhando, funcionário público dos Correios e Telégrafos, ganhando pra manter uma casa de um, com mulher e, e sete filhos. Então todo mundo teve que trabalhar cedo. Estudamos trabalhando. E fomos fazendo força nisso aí. Por isso é que eu digo, agora eles têm outra situação, eles hoje têm outra situ... eles trabalham, sim, mas não é pra sobreviver.
D
 Eles quem?
L
 Os jovens. Normalmente, não é? Se eles têm ... Eu estou falando da família média, eu fiquei aí, heim, nessa faixa, eu não estou saindo dela não. Sair daí é um perigo, nós vamos muito profundo. Melhor a gente ficar mesmo só na, na família de classe média, né? Porque na classe média é que acontece isso, pai e mãe trabalham, não é assim? Pai e mãe trabalham. Não, não há que negar isto. E os filhos também, eles fazem, fazem também ... Mas a maioria, a maioria não é pra pagar casa, comida, roupa, estudo. Dificilmente um jovem faz isso. E quando faz isso, então ele já não é da classe média, ele saiu da classe que eu estou centralizando, ele não é classe média (sup.)
D
 (sup.) Mas o jovem agora está se emancipando muito cedo em termos de sair de casa.
L
 Sai de casa, mas fica (sup.)
D
 (sup./inint.) sobreviver sozinho, né?
L
 Sim, mas fica com pensãozinha do papai, da mamãe, quando tem problema vem em casa, não é? Isso é um ponto negativo pros jovens, ouviu? Eu acho isso um ponto negativo pros jovens. Essa emancipação é uma emancipação muito problemática. É uma emancipação que precisa ser muito pensada pelos jovens. Na verdade, é que eles, quando têm os problemas deles, eles correm pra casa, né? Então é a mamãe e o papai que vão agüentar, não é? As moças arranjam os problemas delas lá fora e voltam pra casa pra mamãe criar o que elas arranjaram lá fora, não é? (risos) Então, vem cá, onde está essa independência? Eu discuto isso com minha filha. Independência é uma coisa muito relativa. Continua a ser. Já era no nosso tempo, no tempo dos, ah, nossos avós, era tudo isso muito re... relativo e continua sendo muito relativo. Porque independência, eu continuo achando, é aon... é até onde vai o direito dos outros. Se você ultrapassa o seu direito e esbarra no direito do outro, você não está sendo independente, você está prejudicando, está explorando os outros. E neste caso o pai e a mãe, que depois têm que agüentar com as conseqüências da independência, da liberdade dos filhos (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 (sup.) Isto tudo é muito relativo. Eu não sei se estou contrariando o ponto de vista de vocês, mas é um pon... eu acho que é um ponto pra estudo, porque vocês reparem que a maioria é assim. A independência é uma independência muito precária, a independência do jovem é uma independência precária. Isto daria também um, pra um estudo muito grande, um estudo que aliás eu pretendo fazer. Eu não sou contra a independência do jovem, eu sou contra é a maneira dele usar esta independência. Liberdade, eu nem digo, porque eu não acredito que haja esta liberdade. A liberdade é uma coisa muito problemática.
D
 E relativa.
L
 Relativa. Porque desde que você fere o interesse do outro, você não está sendo, não tem, não tem liberdade. Você tem uma responsabilidade criada dessa liberdade que você pensou que tinha, não é? Sai uma moça de casa, vai morar sozinha, porque ela tem um bom ordenado, não é? Supostamente. Ela vai, tem lá um apartamentozinho com uma colega ou sozinha, sei lá, e dali a pouco ela tem problemas, tem problemas.
D
 Financeiros?
L
 Sociais, financeiros, de todo gênero. Financeiros também, que quando ela tem os sociais, inclusive vem logo, junto, o, o problema financeiro.
D
 Então, nos prendendo mais ao financeiro, que é o que está, que é o que está nos interessando, como é que a senhora acha que deve sobreviver assim por exemplo (sup.)
L
 (sup.) Sobreviver quem? (sup.)
D
 (sup.) O jovem que mora sozinho. O que que ele deve fazer assim?
L
 Mas ele mora sozinho por quê? Em primeiro lugar cabe uma pergunta: por quê? Que eu estou te... defendendo também a família. Que é o que me interessa muito, interessa a nós que já estamos nesta faixa etária, nos interessa muito a preservação da família. Nós somos divorcistas, ajudamos o Nélson Carneiro, trabalhamos juntos, agora tudo isto está tudo muito certo e não se pode negar que é uma necessidade, mas agora, agora eu pergunto: a, a situação da família, como é que você fa... pensa que, que uma família pode, eh, ter um... uma paz doméstica quando um filho ou uma filha sai porta afora e vai morar sozinho? A menos que haja um, problemas sérios entre pai e mãe ou entre pessoas da família, aí a gente compreende, aquela criatura foi levada a, porque não agüentou aquele ambiente doméstico. Aí é uma outra coisa, aí ela abre uma outra, um outro caminho de maior tolerância pra ela, pra, pro jovem, né? Agora normalmente o jovem quer ir embora pra casa por quê, quer ir embora de casa por quê? Por quê? Porque ele não quer ter hora pra chegar em casa, ele não deve ... Quer ter hora pra comer, ele não tem, não quer dar obediência a ninguém. Ele chama de obediência e não ... Eu não chamo isso de obediência. Porque no ... Pessoas bem constituídas, até um casal bem constituído, quando ele sai, ele diz: olha, eu volto a tantas horas. Ela quando sai: depois do serviço eu venho, eu vou a tal lugar e fa... Então há aquele intercâmbio, não é dependência, é uma atenção. Que a gente diz até pra empregada doméstica da gente: olha, se telefonarem diga que a tais horas eu estou em casa, ô, fulana, eu estou, eu estou em tal lugar assim, assim, eu volto a tais e tais horas. Então é, isso é que eu, que eu acho que é preciso acordar. Mas não é só os jovens não, não são só os jovens não. Há muito pai e mãe que não têm essa, esta compreensão. Precisa haver um, um, um entrosamento na, no, nas relações. O relacionamento é que está em crise, é o relacionamento das pessoas.
D
 A senhora desculpa bater na mesma tecla de novo, mas a senhora supõe mais ou menos como vive financeiramente um jovem quando sai de casa?
L
 Financeiramente o jovem ... Como?
D
 Um jovem saindo de casa, como é que ele vive financeiramente, como é que ele sobrevive?
L
 Bom, eu não sei. (riso) Aí eu não tenho a mínima idéia. Sinceramente, eu não tenho a mínima idéia. Se ele tem um bom emprego, a gente calcula, calcula logo que é o emprego que está sustentando aquilo, não é? Aquele 'status', aquele, a ca... a casa que ele tem, o apartamento que ele tem, o nível de vida que ele tem, arranja o emprego dele. Eu suponho que quando um jovem sai de casa ele vai viver dentro das posses dele, né? Eu, graças a Deus, eu não tive ainda essa experiência assim não, compreendeu? E, e eu ando tentando, mas não tive oportunidade de acompanhar, por isso eu não posso dizer a você como é que eles vivem.
D
 E isso em relação a refletir, isso refletiu em termos de Brasil também em termos de dinheiro. Como é que a senhora acha? Qual é o reflexo? Isso é bom ou pior pro país, em termos financeiros?
L
 Essa, esse (sup.)
D
 (sup.) Essa, eh, essa emancipação, emancipação (sup./inint.)
L
 (sup.) Liberdade dos jovens? Eu acho que há ... Ih, agora vocês não vão gostar muito não, sabe? (riso) O que eu acho é que agora há um ... Se malbarata muito o, o dinheiro. No tipo de trabalho que eu faço o que nos interessa mais é a mulher, eh, eh, que, que se conscientiza dos seus direitos, do, das suas, eh, possibilidades, das suas probabilidades, esse aspecto é que nos interessa na mulher, compreendeu? É esse alertamento (sic) à mulher, ajudar ela que acorde pra esse, pra esse estado de coisas. Que ela pode, ela é um ser humano igual ao homem, que ela tem a mesma capacidade, que ela tem a mesma possibilidade. Agora nota-se aí que realmente a mulher, a mulher, aquela que trabalha, que, que tem seu emprego, ela faz realmente, eh, certos investimentos. Normalmente o investimento principal dela é o imobiliário, é o imobiliário. Isto vê-se logo nas conversas, toda mulher quer ter seu, sua casa própria, independente do número de pessoas da família que tem. Nós estamos fugindo agora já dessa área. Então normalmente a mulher, o primeiro pensamento dela é este: o dinheiro que ela sabe que pode dispor. Agora área de trabalho, área de trabalho é igual ao do homem. Há algumas aí em que a, a mulher é menos favorecida, ou por outra, não é favorecida. Ah, eh, ela tem um, um, um ganho diferente do homem. Não pagam o, à mulher o que paga ao homem. Mas felizmente são poucas as, as atividades nesse, nesse (sup.)
D
 (sup.) Quais essas áreas?
L
 Ah, noutro dia veio aí uma, uma mineira, mi... eh, ah, siderurgia, parece, não é? Teve uma outra também de, de, se não me engano, música. De vez em quando tem uma, uns casos aí assim (sup.)
D
 (sup.) Conseguiram alguma coisa?
L
 Do quê?
D
 Aquelas, daque... daquele congresso de metalúrgicas, não foi?
L
 É, de metalúrgicas, é.
D
 É.
L
 Não, eu não sei. Eu não sei o resultado. Eu não soube. Eu não, não, não acompanhei o resultado daquilo não (sup.)
D
 (sup.) A diferença parece que era bem grande (sup.)
L
 (sup.) Era bem grande e não sei como elas estão. Foi em São Paulo, se eu não me engano (sup.)
D
 (sup.) É (sup.)
L
 (sup.) E eu não, não sei, eu não, não, não houve assim uma representação nossa lá em ... Não, não houve assim um, nós não acompanhamos bem no lugar (inint.) então acho que agora vamos ver os resultados, ver o que vem daí, né? Que em geral um congresso desses vai influir até nos sindicatos, na man... no, no, na parte, eh, da parte, eh, patrimonial, vai, eh, no, no, no, nos empregadores, né? Acredito que haja um, uma melhora, porque elas foram a campo mesmo, né? Elas se puseram em campo. Então acredito que tenha resultado. Eu acredito que se... que há sempre resultado, desde que a mulher conheça bem os seus direitos e venha, venha gritar por eles. Eu acredito. Agora realmente a mulher me parece um pouco mais cautelosa que o homem no gasto do dinheiro, me parece que ela é mais cau... ca... eh, de modo geral, né? Ela é mais cautelosa, ela, eh, tem, tem ra... ela pensa mais em termos, em termos práticos, não é? A mulher (sup.)
D
 (sup.) Como?
L
 Ah, mais objetiva. A mulher é mais objetiva. Acredito que o, a mulher seja mais objetiva. A mulher, a mulher vê o que que precisa primeiro. O que que precisa primeiro? O que que é mais importante? É uma casa ou é um automóvel? É, é uma casa de praia ou é uma residência? Então ela pensa realmente nu... nu... numa coisa assim mais prática. Ela é a primeira a aconselhar a família, quando ela está com voz ativa também, né?
D
 Em termos de manter a casa?
L
 Não, não, mas eu gostaria que caminhássemos pra lá, ouviu? Porque a época, eh, a época de ouro da, da humanidade é quando a mulher tem voz ativa, é quando a mulher tem voz ativa. Eu não, não, não acredito que um mandando, seja homem, seja mulher, nada dá certo. Porque pode haver uma colaboração, pode haver um entendimento, pode haver um, um, uma, um estado de, de, eh, de simpatia tal que um não queira se sobrepor ao outro. Isso é realmente um pouco idealizador, né? Vamos dizer assim, é mais uma parte idealística do que realmente prática, mas eu acredito que nós estejamos caminhando pra lá. Esse, essa conscientização do homem e da mulher, desta colaboração mútua, penso que isto será ... Agora gostaria que você desse mais uma ...
D
 A, o ... Como que a mulher, a senhora falou que ela, normalmente ela é mais objetiva, etc. A senhora, eh, normalmente, como que, já que a senhora está em contato com isso, como que a mulher, eh, mexe com o dinheiro dela, em termos de fazer render ou ... Normalmente (sup.)
L
 (sup.) Ah, bom, todas elas têm ... Normalmente é aquela questãozinha da caderneta de poupança, varia de acordo com, com as posses dela, né? Mas normalmente toda mulher fala na caderneta de poupança, né? Todo mundo fala em caderneta de poupança, atualmente todo mundo fala. Houve época aí que ela, que ela, eh, investir na Bolsa, né? Mas houve aqueles problemas todos (sup.)
D
 (sup.) A senhora chegou a investir na Bolsa?
L
 Não, não. Eu não cheguei. (riso) Então houve aquela, aquela corrida. Muita gente ganhou com aquilo, não é, mas também muita gente perdeu com aquilo.
D
 A senhora lembra como que funcionava a Bolsa ou não?
L
 Não, não, não, não, eu não estava também, eh ... Quando a coisa não, não me parece boa, eu não me aprofundo não, sabe? Eu não perco tempo. E tudo que é assim, que me parece um jogo, eu também não gosto. Você ... Não se tem certeza. Agora vai investir? É um negócio que está lá, o homem está gritando toda hora, sobe e desce, sobe e desce aquilo. Então agora por que que eu vou botar o meu, meu dinheirinho ali? Não, eu co... eu prefiro uma coisa, caderneta de poupança, uma, letras de câmbio, coisas mais, mais seguras, né? (sup.)
D
 (sup.) Letras de câmbio, como é que funciona o sistema de letras de câmbio?
L
 Não, eu não estou não, não tenho, não tenho, não sei (sup.)
D
 (sup.) A senhora tem caderneta de poupança?
L
 Ah, claro, caderneta de poupança a gente tem, né? (risos) Tem que ter, né?
D
 Há, há, vai haver agora alguma espécie de modificação, né, no funcionamento da caderneta (sup.)
L
 (sup.) É, di... eles dizem que vai ha... vai, não (sup.)
D
 (sup.) Mas eu não consegui entender muito bem.
L
 Bom, mas eu também não. Vi, vi, li no jornal, parece que foi de domingo, no Jornal do Brasil, mas o que eu li, falei com alguém, nem me lembro quem. Quem foi? Isso, e essa pessoa me disse: não, mas isso é outro tipo de caderneta de poupança que estão querendo fazer, não é a normal, essa comum que já existe aí não, é outro tipo de poupança que eles estão pensando em fazer. Está bom, porque aquilo tem, realmente está meio complicado, não é? Está meio ... De... depositar todo mês, que se eu parar de depositar, então já, eh, eh, até a quantia tinha que ser todo mês igual. Então isso é um problema, né? Eu acho que isso traz muita sub raciocínio, né? Já há raciocínio de botar, agora arranja uma porção de sub-raciocínios e é aquela correria. Nós já temos tanta papelada pra olhar os prazos, se não olhar o prazo, vai pagar juros, vai pagar juros de mora, vai pagar imposto, tanta coisa! E agora mais um negócio na cabeça da gente pra saber se, se vai botar, vai botar mil ou se vai botar mil e quinhentos. Espera aí! Não acho que, não acho prático isso não, ouviu? Eu acho que a coisa deve ser, eh, facilitando, facilitar a vida. Porque, você vê, um pagamento bancário que você tenha com aquele prazo, se eu passar um dia, um dia, você vai pagar ... Eu estou com um aqui que, que, que é um condomínio, se eu me atrasar, vou pagar vinte por cento. É um absurdo pagar vinte por cento!
D
 De quê?
L
 Vinte por cento. Eu mostro a você. Está aqui. Vinte por cento. Se eu me atrasar, eu vou pagar vinte por cento ao banco, no banco. Vou pagar vinte por cento. Então a pessoa ... E é um trabalhão. Tem que ter agenda pros pagamentos, pras coisas. Você tem que estar escrevendo aquilo. Durante o mês você tem que fazer: dia tal pagar o banco, dia tal, tal banco (inint.) porque se você se atrasa, vai pagar juros sobre aquilo. Então eu não acho isso uma vida prática, não, eu acho que isso complica a vida da pessoa.
D
 Nós vivemos nos bancos agora, né?
L
 É, agora, você vê, tudo é no banco e dentro do prazo, porque se facilitar, não é? É, isso é que me parece o lado prático, agora a coisa é essa. Agora um meio de ganhar isso, isso está muito, eh, os ordenados estão muito diferenciados, não se pode mais fazer uma idéia, né? Você vê, a pessoa tem do... normalmente dois, três empregos. E conversando outro dia com umas moças aí da biblioteca e elas me disseram: dois, três, olha, já tem gente com quatro empregos. Eu disse: e como é que atende a todos? Não atende. Eu disse: ah, muito bem. Então a gente passa a não atender nada. Então agora sim. Agora está claro, não atende. Que uma pessoa com três, quatro empregos, ela não está, ela não está fazendo direito coisa nenhuma, não é? Não pode. Ela vai chegar atrasada em todos. Então ela não vai fazer nada direito. Esta política que o ... Financeira, que eu estou achando completamente errada. É preferível pagar bem pro indivíduo poder ter um emprego do que pagar mal e sujeitar a criatura a umas correrias sem fim, um desgaste físico, mental, financeiro também, porque ele é obrigado a estar tendo despesas fora de casa, despesas que ele não esperava, eh, desde alimentação, de condução, de tudo. E o desgaste? E o desgaste? Os jovens têm que olhar isso, senão eles não vão agüentar muito não.
D
 Por isso que eu lhe perguntava naquela hora, entendeu, a senhora dizia que na sociedade brasileira atual vivia-se mais folgadamente.
L
 Financeiramente.
D
 É.
L
 Matéria de dinheiro.
D
 As pessoas trabalham muito mais.
L
 Ma... trabalham muito, trabalham muito, sim, mas eu estava me prendendo a uma situação, não é? À situação doméstica, vamos dizer assim. Agora o que as pessoas fazem pra levar aquele dinheiro pra dentro de casa, aquilo é uma corda bamba, né? É realmente uma corda bamba. As pessoas têm dois, três, quatro empregos. Então agora você imagina como isso influi, voltamos àquele primeiro tema, influi dentro de casa. Desde o humor da pessoa ao tempo que ela não tem mais pra, pra se interessar pelo, pelo problema dos filhos, pelo problema do marido, pro marido pelo problema da mulher. Não, não, não tem mais tempo, não há mais diálogo, porque agora é só dinheiro. Só se pensa em trabalhar pra ter dinheiro.
D
 Pra comprar mais, né?
L
 E pra comprar mais. Pra comprar mais.
D
 E falar em comprar, né, eh, eh, ainda nessa diferença de mulher que a senhora ... Já que a senhora (inint. ) aqui, né? A senhora, eh, dizem que normalmente a mulher gosta de juntar o dinheiro e depois comprar.
L
 Ah, é.
D
 E que o homem normalmente compra pra depois (sup.)
L
 (sup.) Compra pra depois então pensar como vai pagar, né? (risos)
D
 E, eh, eh, a senhora acha que nor... nor... que normalmente ocorre isso, a mulher normalmente, eh, que o homem depois vai saber, eh, vai numa loja e vai abrir ...
L
 Crédito, né?
D
 Hum, hum.
L
 Não sei, ouviu, eu não sei se ... Que agora a coisa do jeito que ... Não se pode dizer que, eh, as mulheres estejam mais ... Não sei. Isso agora está variando muito. Talvez que há algum tempo nós pudéssemos dizer que a mulher juntava primeiro pra comprar depois. Mas agora ela também está fazendo uma política, ela tem direito ao crédito, então ela corre pra abrir aquele crédito, né? Quando o marido vê, ela está com o crédito aberto, não é? As contas conjuntas (inint.) uma porção de problemas entre eles aí, conta conjunta, ih, é difícil de acertar aquela, aquele, aquele saldo final, porque ... (risos)
D
 Quando os dois trabalham, conta conjunta é muito difícil (inint./sup.)
L
 (sup.) É muito difícil! Porque todos dois sacam. E às vezes, eh, eh, não têm tempo, distraem e não, não, não controlam o, o, o saldo. Eu não acho muito interessante esse sistema de conta conjunta não.
D
 E mesmo o sistema de crediário, né, é muito faca de dois gumes, a senhora não acha?
D
 Ah, eu acho. Muito. Muito mesmo. Muito mesmo. Agora a pessoa também tem que ser um pouquinho esperta, né? Eh, e normalmente também tudo depende da, da, do grau de instrução que tem a criatura. Essas cla... classes mais pobres, eles pensam uma grande vantagem chegar e, e, e comprar uma geladeira, pagar em vinte e quatro, trinta e seis meses, ele não vê, ele não faz o cálculo, ele não senta pra multiplicar e ver quanto aquela geladeira vai lhe sair. Ele só pensa que ele quer o objeto, agora ele não pensa o quanto ele vai pagar por aquele objeto. Então crediário é muito interessante com poucos, poucos meses. Porque desde que aquilo começa a dilatar já é um, é um saque na bolsa do, do comprador. E em geral é a classe mais pobre que faz isso, né? Que eles querem ter uma televisão a cores, eles querem ter um, uma geladeira, eles querem um ar... um ar-refrigerado e toma, toma a comprar essas coisas e a perder de vista. Agora o quanto eles vão pagar, eles não pegam o lápis pra fazer o cálculo.
D
 É, e a soma de todos os crediários por mês às vezes ultrapassa até o salário, né?
L
 Ah, ultra... ultrapassa, porque eles, eles também se perdem, eles não vêem que no fim do mês eles vão ter que pagar aquelas contas todas. E agora também há um fator: ah, só paga daqui a dois meses, três meses. A pessoa: ih, daqui ... Eu compro em dezembro, vamos comprar porque só em março que nós vamos pagar! Agora quando chega o, o bendito março, olha aí a correria, né? Eu acho que é preci... é preciso, eh, uma orientação maior às classes.
D
 Como isso poderia ser feito?
L
 Como isso poderia ser feito? Como isso poderia ser feito? Você fez uma pergunta muito séria. Isso pode ser feita pelos órgãos não-governamentais. Isto devia ser feito pelos órgãos governamentais. E, e outra pergunta: haverá quem queira ouvir sobre isto? Será que o pessoal quer mesmo? Se se marcar uma reunião, uma palestra, sobre isto, será que vai se ter público pra ouvir isto? Eu não acredito. Eu tenho (sup.)
D
 (sup.) E a senhora acha que a divul... essa divul... que haveria interesse em dividir esse, essa febre consumista também, em termos de, do lucro geral?
L
 Olha aqui, eu não sou economista. (riso)
D
 É. Não. Mas, mais ou menos (sup.)
L
 (sup.) Eu não ... Não é minha área. (riso) Agora eu acho que tudo que possa ser a... alertada a formação mental das criaturas, precisa ser. Não importa em que terreno que vai influir aquilo. Eu acho que o bem-estar de uma família precisa ser realmente orientado. Agora se vai influir no consumo lá fora, isso já é outro problema, eles que saiam pra outra, não é? Agora é preciso ensinar às famílias com o que devem gastar, com o que podem gastar. E isso tem pro... é também trabalho de nutricionista, de assistente social. Eu acho que essa gente existe pra isso. Devia ser, né? Se não estão fazendo, devia. Talvez não possam. Porque uma assistente social de, de, de empresas, ela vai dar aulas sobre economia assim, economia, não compra isso, não compra aquilo? As empresas vão, vão agüentar isso? Não é? Então é um círculo vicioso. Seria então uma função pros órgãos não governamentais, como nós aqui, as outras associações aí. Mas, eh, nós nos deparamos logo com um problema: nós não, não vamos ter público pra aquilo. Contrata-se uma pessoa, um economista, um assistente social, um nutricionista e vamos fazer uma série de palestras pra pessoa aprender o que deve comprar pra comer e o que não deve comprar, onde deve comprar, vai se ensinar isso tudo, muito bem, né? Assis... a assistente social também, a mesma coisa, um nível, em casa como é que deve ser, ser, eh, colaborado e ... Agora você vê uma coisa: você acha que nós vamos ter público pra isso? A menos que nós tivéssemos acesso ao, a, às fábricas, ao, às empresas e justamente ninguém quer, ninguém quer. Que eles vão dizer: pra isso nós temos aqui assistentes sociais. Mas assistente social não faz esse trabalho. Talvez porque, por imposibilidade de ambiente (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 (sup.) Porque interessa, o interesse do empregado, do, do, do, das empresas o que é? É vender. Agora vai ensinar como não ven... não comprar?
D
 Eu, outro dia, eu vi (sup.)
L
 (sup.) É um problema muito sério! (sup.)
D
 (sup.) Uma reportagem no Jornal do Brasil sobre televisão na França, não sei se a senhora leu, que os anúncios (sup.)
L
 (sup.) Ah, agora diminuíram muito, né?
D
 É, estão re... são reduzidos a quinze minutos (sup.)
L
 (sup.) A quinze minutos (sup.)
D
 (sup.) Por noite e antes das oito horas. Depois das oito horas da noite nada de anúncios.
L
 Nada de anúncios.
D
 E (inint.) se a gente for comparar com a televisão brasileira, né? (sup.)
L
 (sup.) Se nós formos fazer isso a tele... as televisões vão fal... vão fechar, não é, porque a vida delas é o anúncio, né? Pelo menos elas dizem (inint.) eu não, eu não sou de televisão, não tenho o menor contato, mas é o que eu leio. Que eles dizem que, eh, tem que ter anunciante pra tal coisa senão não pode levar ao ar, tem que ter. Quando há uma programa, quem são os patrocinadores? Os patrocinadores o que que é? É o anunciante, né, né? Então, como é que nós vamos fazer isso aqui no Brasil? Não dá. Isso é um negócio muito sério, viu, muito profundo. O negócio está muito sério hoje.
D
 É, e a televisão é que incentiva basicamente o consumo aqui, né?
L
 Ora, você vê, toda hora eles estão mostrando um negócio ali. E levando. Eu acho que nós estamos caminhando pra uma, uma situação muito séria de publicidade, ouviu? Porque nós estamos preparando as criaturas pra ser dominadas mentalmente pela publicidade. Esta é que é a verdade. Nós estamos numa fase, não sei de onde vem, também não quero saber, (riso) não pergunto, eu só estou sentindo os efeitos. Realmente as pessoas estão sendo preparadas pra fazer aquilo que muitas vezes elas nem querem fazer, preparadas pra comprar aquilo que elas nem pensavam em comprar. Isso falando em termos de compra e, e, é. Quer dizer, a publicidade é uma coisa que precisava ser muito olhada. E me parece que esses países aí da, da, já estão olhando bem essa questão. Já estão estudando muito. Eu sei que nos Estados Unidos eles já estão olhando muito essa parte (sup.)
D
 (sup.) Ah, é? (sup.)
L
 (sup.) De publicidade. Estão.
D
 Porque lá é fonte, né, de toda essa, essa publicidade, né? (sup.)
L
 (sup.) Ah, mas aí, mas é como você diz, é faca de dois gumes, não é? Tanto leva pra bem como pra mal.
D
 E quais informações que a senhora tem tido sobre isso lá?
L
 Só no jornal.
D
 No jornal.
L
 Só jornal que a gente lê entrelinhas assim, observando (sup.)
D
 (sup.) Pois é, mas o que que eles estão tentando fazer em termos de (inint./sup.)
L
 (sup.) Eles estão chegando a esta conclusão, que está havendo um envolvimento das, das mentes pela publicidade. Agora isso é faca de dois gumes, evidentemente, né? Claro, isso é, na... não precisa, não precisa nem gravar nada disso porque isso é uma coisa muito séria. Eu, eu acho que atualmente a coisa, uma das coisas mais sérias que a nossa civilização tem é a publicidade. Porque elas levam o indivíduo a pensar muitas vezes aquilo que ele não quer pensar. Leva a ser aquilo que ele não queria ser. Mas aquilo bateu, tanto bateu, tanto bateu que impregnou a mente da criatura. Isso é um problema muito sério. É uma faca de dois gumes muito perigosa. Eu, normalmente, se pudesse, eu seria contra esses, esse ... Eu fiz um, um ofício nosso aqui, da, eh, quando foi aquela com... comissão parlamentar de inquérito, nós protestamos quanto à, à apresentação da mulher como objeto, objeto de, de, de, de apelo ao sexo. Porque realmente cada esquina aí é aquela mulher, eh, tirando a roupa, se envolvendo num, num, numa toalha, é não sei quê e metade do corpo aparecendo e tudo mais assim, né? Então a mulher está sendo usada. Ela está sendo usada. Está formando uma, uma, uma, uma mentalização da mulher como se ela só servisse pra isso, o lado erótico. Nós fizemos um ofício aqui, aqu... à, à, à comissão parlamentar de inquérito e, e foi levado em conta isso, foi levado em conta. Foram fazer estudos sobre essa ... Então é uma coisa de (sup.)
D
 (sup.) Isso é mundial, né?
L
 Ah, é mundial!
D
 Um processo mundial, né? Não é só brasileiro (sup.)
L

  (sup.) Um processo mundial, mas ... Não, mas eu não estou falando em termos brasileiros só. Estou falando em termo mundial. Realmente está. É sexo e violência. Você vê. A, a humanidade está se distanciando muito uns dos outros, está se distanciando. Por quê? É aquela coisa da informação mal, mal, mal dirigida. É a publicidade. Porque eu, eu considero publicidade a sugestão, tá? A sugestão é uma publicidade. Se um, se um professor numa sala de aula começa a falar em determinados pontos, fala hoje, amanhã ele dá a aula dele, ele dá um momentinho, ele torna a, a enfiar aquele assunto na cabeça do aluno, ele está preparando o ambiente, seja pra o que for. Seja pra adorar a Deus ou seja pra, pra ir fazer revolução nas ruas, não é? Depende muito da, da, da informação, muito da publicidade. Porque a publicidade envolve comunicação, informação, envolve isso tudo. Chega, né? Ou você ainda quer mais?