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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Corpo Humano"

Inquérito 0360

Locutor 442
Sexo feminino, 37 anos de idade, pais cariocas
Profissão: professora de pedagogia
Zona residencial: Sul

Data do registro: 01 de julho de 1977
Duração: 40 minutos


Som Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 Você podia assim descrever o que que você consideraria que uma pessoa que lhe chamaria atenção, em termos físicos?
L
 Em termos físicos? Bom, o que me chama atenção em termos físicos especialmente uma pessoa que tem proporções nas diferentes partes do corpo humano. Não necessariamente tem que ser uma pessoa com, muito bonita, mas que dá, transmite, com a impressão de harmonia, não é, onde o corpo, e seu próprio corpo é algo que ela domina, expressa sua personalidade e não simplesmente algo externo a ela mesma. Então, eu acho que, realmente, o principal, pra mim, do ponto de vista da aparência física de uma pessoa, é ela transmitir essa idéia de harmonia, de equilíbrio e que, de proporção entre diferentes partes do corpo humano e, que portanto, dá à gente a impressão de algo que é fruto não só de uma mera característica externa, que possa ter uma pele assim, ou um cabelo desse modo, mas que é realmente expressão de uma realidade pessoal mais profunda. Então, eh, acho que uma pessoa é uma pessoa na sua totalidade, no que ela é, e na aparência. Mas aquilo que ela aparenta não deve estar dissociado do que ela é. Então, há pessoas que te transmitem, quando você olha pra elas, pode ser até que você não ache nem que elas estejam muito bonitas, né, mas que transmitem aquela, aquela impressão de uma pessoa rica. Então a, a aparência é expressão dessa realidade mais profunda do ser pessoal. Ao passo que outras pessoas não, que às vezes, têm o nariz muito bonito, têm uns olhos de um, eh, também de uma forma ou de outra, mas que transmite, às vezes, um enorme vazio de outras características. Quer dizer, são pessoas que são centradas no externo, né, que têm uma enorme preocupação de chamar atenção, então, ou pelo, ou pelo modo de ter os cabelos, ou pelo modo de se pintar, ou pintar o rosto, os lábios, ou pela própria forma de vestir, chama atenção muito mais pelo, pelo seu exterior do que por algo que possa ser mais profundo do que a mera aparência externa. Então acho que muitas vezes, quando a gente caminha na rua, a gente vê que existem esses dois tipos de pessoas, tanto nos homens como nas mulheres, né? Então, os homens também, que não é só das mulheres, os homens são mais ou menos assim exibidos, ou então, ahn, gostam de mostrar que têm um, um físico, que são fortes, que são musculosos, ou que têm uma quadra... quadratura do tronco, né, de tipo atlético. Então se vestem ou se, andam pela rua, exibindo o seu cabelinho, a sua musculatura, o, seu charme, né, pessoal. Isto também acontece com as mulheres. Tem umas mulheres que você olha e vê que, eh, só o tempo que elas devem, colocando, pra ter os cabelos assim, pra ter o rosto pintado de uma certa moda, de uma certa forma, pra ter tão cuidados todos os detalhes da sua vestimenta, do seu sapato, disso e aquilo, não devem fazer outra coisa na vida do que estar gastando a metade do dia, né, cuidando de todos esses aspectos e que às vezes chamam atenção, realmente. Você passa na rua, chama, passou, né, mas que também te transmitem assim como uma impressão de uma pessoa que vive pra isso, né? Então, pra mim, eu acho que ... E há outras pessoas que às vezes, se você fosse analisar os, os detalhes, são pessoas que não, podem até nem ter o nariz bonito, não ter uma boca bem delineada, eh, ou ter orelhas de abano, ou o cabelo não ser especialmente privilegiado em termos de cor ou em termos inclusive de contextura, né, mas que te transmite aquela, uma certa harmonia. Então todo o seu físico termina sendo atraente, não tanto porque te chame atenção nas formas externas mas porque transmite aquela, aquela harmonia, aquele equilíbrio, às vezes até aquela tranqüilidade, tão difícil no mundo atual, né? Em outras pessoas não, são ... Que todo o físico já é agitado, né, não podem parar quietas não, ou estão mexendo o pé ou mexendo a mão ou, ou não conseguem olhar de frente pra ninguém, porque este tipo de pessoa é incapaz de encarar o olhar do outro, então basta que você olhe no, a pessoa assim de frente, né, no olho a olho, que em seguida a pessoa se desconcerta, né, e fica, ou abaixa a vista ou olha pro outro lado, mas que é incapaz de encarar os outros assim de frente, né? Agora (sup.)
D
 (sup.) Você na sua família, ahn, você tem irmãos?
L
 Tenho um irmão.
D
 Tem. E como, e são o mesmo tipo? Fisicamente são parecidos a pessoa (sup.)
L
 (sup.) Somos, quer dizer, nos moldes (sup.)
D
 (sup.) Em relação aos pais, por exemplo. Como você descreveria pra gente seu irmão (sup./inint.)
L
 (sup.) Meu irmão é moreno, tem cabelos pretos. Apesar de ter, bastante jovem, tem trinta e cinco anos, já tem cabelo bastante grisalho, né, ele é médico. Eh, como homem acho que é um homem considerado bonitão, né? É moreno, alto, ele, eh, apesar de ser médico, faz esporte, gosta de fazer tênis, então tem assim, bem, quer dizer, bem proporcionado do ponto de vista físico, né, sempre fez bastante esportes, tênis e natação e vôlei e jogou. E tem olhos pretos. Quer dizer, é um tipo moreno clássico brasileiro: cabelos pretos, olhos castanhos escuros ou quase pretos, né, um, com um perfil bem marcado, tendendo a ser narigudo, né, tem gente que considera parecido, agora me esqueci, com um artista de cinema, teve uma época que estava na moda, um que tem um tipo, agora não me lembro, teve uma época que todo mundo implicava com ele, que dizia que ele era parecido com esse artista. Quer dizer, um tipo bonitão. Ele se parece, quer dizer, moreno assim mais ou menos como eu sou também morena, mais queimado porque vai mais, vai, vai à praia mais, zela mais por seu tempo de praia e esporte do que eu e, mas é mais ou menos do mesmo tipo. Nós somos, quer dizer, meu pai é mais claro, é tipo, porque meu pai tem uma ascendência francesa. Então é um tipo mais claro de uma pele mais clara, um cabelo também um pouco mais claro e ... Agora, já toda a família da minha mãe é que é mais, muito mais de tipo moreno, né? Eh, moreno até já a minha mãe e as minhas tias não mas a outra geração da minha avó materna tenderia bem a tipo mulato mesmo. Quer dizer que a gente nota que na ascendência, certamente houve aí, por um lado havia uma ascendência portuguesa e por outro lado havia uma ascendência que nós nunca estudamos direito daonde vinha, mas põe aí que houve um casamento aí de português ou com negro, eh, numa terc... numa terceira ou quarta geração devem ter havido assim uma mistura e de tal maneira que já a minha avó já tendia ... Era mulata clara e tal, e já as minhas mãe e tias, já são um pouco mais claras do que ela, e depois com já a geração nossa tende a morena. Agora, gozado, por exemplo, meu irmão tem dois filhos e a menina é moreninha, moreninha, moreninha, assim do mesmo tipo dele, e o menino tem cabelo vermelho. É bastante claro, a minha cunhada era, é bastante clara, também, é mais tipo alourado e o menino tem um cabelo vermelho, ele é muito sardento e tal, é um tipo. Inclusive os dois juntos nem parece que são irmãos, porque ela é muito o tipo do meu irmão, bem moreninha, cabelos pretos, morena, olhos escuros, e o menino não, o menino tem cabelo vermelho, sardento, bem claro, eh, fazendo um contraste muito grande os dois.
D
 E assim fora do Brasil. Você não acha que tipo físico (inint.)
L
 Bom, nos países latinos, na Europa concretamente, nos países latinos, o tipo físico é mais próximo nosso, apesar de que no caso concreto da Espanha depende muito da região, quer dizer, o pessoal mais da, do sul da Espanha, o, ou das, dos lugares onde a invasão moura, como é que chama, do tempo dos mouros, eh, foi mais intensa, se nota muito mais um tipo árabe, né, um tipo físico mais puxado pro árabe. Nariz. Pele. Mas é também tendendo ao moreno, também. Ou então tipo cigano, também, né? Já, ah, o que se nota muito contraste com a gente é mais o norte da Europa, né? E também por exemplo a parte norte da Itália, por exemplo, que é por gente muito mais alourada, muito mais de olhos claros, verdes ou azuis, com pele bastante clara, uhn? Acontece, com qualquer solzinho que tomam ficam logo vermelhos como uns camarões, né? Eh, o céu, não, pode ser um sol mais anêmico possível, em seguida está todo mundo cuidando do sol, de óculos escuros e tal, porque realmente com o tipo de pele tão clara que têm, qualquer solzinho desses, (riso) qualquer solzinho desses faz ficar todo mundo um verdadeiro camarão. Daí se nota muito, né, e se nota também que em geral o pessoal do ar livre, né, um certo tender a um cultivo, a manter o físico em forma, muito mais do que nós, acho eu, e do nível países latinos, né? Mas, quer dizer, são muito preocupados em cuidar muito, uma alimentação, a ter uma alimentação cuidada, medicamente cuidada, inclusive, dependendo inclusive das situações que eles vivem. A mim me parecia, por exemplo, quando eu estudei na Bélgica, extremamente curioso, que quando, antes de começarem os exames, que lá é um verdadeiro trauma, né, não tem comparação, que apesar de que os alunos aqui reclamam, não tem comparação, né, porque os exames são concentrados durante um mês assim, no fim do ano, né, por exemplo, nesse mês, em geral, mês de junho ou julho, e aí eles fazem os exames de todas as disciplinas que cursaram durante o ano inteiro, em geral é um exame oral, né, na universidade, e às vezes eles cursaram nos diferentes períodos trimestrais assim, ou semestrais, várias disciplinas, chega no fim, eles têm uns quinze exames pra apresentar, né, e eles em geral jogam tudo naquele exame, no exame oral. Então, existe um período anterior e esse período de exames, que é, que há, vamos dizer assim, não tem aulas e é pra que os alunos preparem os exames, né, às vezes são quase um mês antes dos exames, e eles chamam `blocus'. E, nesse período de `blocus', eles vão, muitos dos estudantes vão pra pensões, em geral na zona do mar, né, perto do mar, que são especializadas pra ter, atender todos esses estudantes que estão preparando seus exames. E todo horário é cuidado, desde a hora de levantar até a hora de dormir, desde a alimentação, tudo está previsto pra dar ao estudante a melhor a... alimentação, as melhores condições de, de regime de vida, pra realizar esses exames, né? Enquanto que, por exemplo, né, é praticamente inviável, dentro da realidade da gente, né? Ao contrário, o estudante na época de exame, né, ao contrário, ele quer comer bem, ou quer ficar até as tantas da noite, virar a noite, né, rodar a noite na véspera de prova, eh, esse tipo de coisa, né? Então, assim como nós, nós latinos era impossível, era verdadeiramente impossível se submeter àquele regime, né, os belgas, o que não admitiam era o que a gente fazia, né, que deixava pra véspera das coisas, preparava em três, quatro dias o exame e o resto do dia ... Eles têm aquele negócio, têm muito mais o cuidado da disciplina, da organização, da, da sistematização da vida, do estudo, da, tudo previsto, né? Então, assim como eles prev... têm ... Prevêem uma série de coisas, né, tudo que seja também atenção aos cuidados ao corpo, especialmente à alimentação em determinados momentos, que podem ser de maior tensão, de maior preocupação pro estudante, que está muito cuidado, né?
D
 Existe uma, uma lenda a respeito dos europeus, um pouco satírica, em torno do banho diário, né, que europeu não gosta de tomar banho, que que você pode me dizer da sua experiência, né?
L
 Olha, realmente no norte da Eu... Aí eu acho que entre os europeus precisa distinguir sempre, né? A parte mais latina da parte mais do norte, porque também o clima é muito mais frio, né? Mas aí, não na França, que já é um caso de polícia, sob o ponto de vista do banho, né? Ah, pra cima isso é verdade, não é brincadeira não, porque que, normalmente, eu me lembro quando eu estava no pensionato lá, ah, quando, as meninas não tomavam banho todo dia, né, inclusive tinha pra todo um pensionato, que era umas cinqüenta ou sessenta pessoas, eu acho que tinham dois banheiros assim grandes, depois tinha, vamos dizer, mais parciais, mas lug... coisas pra se tomar banho, que se chama, que a gente chama de tomar banho ou de chuveiro ou de, banheiro, esse devia de existir dois na, na casa inteira. E eu me lembro que uma vez passando pelo corredor, né, eh, passava pelo corredor, encontrei dois ou três dias passei pela mesma pessoa, né, pela aquela menina e ela me, eu me lembro uma vez que ela me disse: 'mais de nouveau'! Quer dizer: mas de novo! Você vai tomar banho, você já tomou banho ontem, vai tomar banho de novo hoje. Era uma verdadeira, (riso) era uma verdadeira acontecimento, coisa inviável, de certo, as meninas, eu acho que era, algumas não tomavam banho nunca no pensionato porque tomavam em casa, quando elas iam no fim de semana, acho eu, eu deduzo, não sei, nunca fui com elas. Mas no pensionato mesmo na parte do, o local onde tinha chuveiro ou banheiro, o banheiro pra... praticamente não era utilizado. Elas faziam, eu me lembro que eu estava no quarto com outras, uma outra moça, fiquei durante uma temporada num quarto que era de duas e elas têm modos de fazer uma higiene pessoal, né, mas que não é propriamente, quer dizer, não é que elas não se preocupem nada com a higiene pessoal, mas é um outro modo de fazer uma higiene pessoal, assim diária realmente. A gente notava, a gente tinha uma parte separada, né, com uma espécie de biombo, mas se notava que não era um simples, eh, lavar o rosto ou lavar os dentes, né, que tem uma higiene um pouco maior, mas dentro do que se pode fazer, dentro de uma possível higiene com uma pia e, e, e uma toalha, né, eh, um sabonete ou o que fosse. Pra isso realmente ... E depois na França, é público e notório, né, que é até dificílimo, a não ser que você vá pra um hotel muito bom, é dificílimo às vezes você conseguir um hotel já dum, mais módico, eh, que tenha banheiro. Quando muito às vezes tem um banheiro que é usado por uma batelada de gente, ou você tem que pagar na hora pra tomar o banho, eles te dão a chave, você paga pra tomar banho, né? Quer dizer que realmente este hábito do ... Eu me lembro também na época que, quando eu estava na Bélgica, tinha um grupo de seminaristas brasileiros, que estavam no seminário, que eram bastante amigos nossos, e um dos problemas que eles tinham com o seminário era a briga, briga que eles tinham lá com o padre, o prefeito e tal, por causa do, do banho, né? Porque eles queriam tomar banho todo dia, davam a chave pra eles tomarem banho no sábado e aquilo criava os maiores conflitos dentro do seminário, por causa do banheiro, do banho dos brasileiros, que tinha um exagero de tomar banho, né, e os belgas não entendiam muito por que que os seminaristas brasileiros tinham que tomar banho todos os dias, quando os outros não tomavam, né, e os outros ... E os brasileiros estavam acostumados a tomar banho todo dia e não entendiam por que não podiam tomar banho todo dia, então (riso/sup.)
D
 (sup.) Um detalhe assim bem feminino que é uma, um costume pelo menos da mulher brasileira, a, a depilação. As européias usam isso?
L
 Usam. Eu acho que nisso sim, elas usam. Não tenho, quer dizer, pelo menos as jovens, né, já o pessoal assim de mais idade, eles têm menos preocupação com esse tipo de coisa. Agora nos países latinos, não. Na Espanha o pessoal cuida muito, se veste bem, inclusive, assim, em termos de povo, eu acho que se veste melhor o povo espanhol do que o povo francês, né, apesar de que os franceses têm tanta fama, mas eu acho que o francês que se veste bem é o francês de posse, né, então se veste muito bem, aquele que pode ir aos grandes figurinistas. Mas o povo que você vê assim na rua, esse não, acho que tem um mau gosto supino e se cuida pouco. Ao passo que o povo espanhol não. O povo espanhol eu acho que é um povo muito preocu... o normal do povo desse que você anda na rua e vê se veste bem. Se veste bem e é muito, muito mais ... A mulher espanhola é muito mais coquete do que a mulher francesa, né, é muito mais charmosa, mais coquete. E, e mesmo os homens também têm mais preocupação de andar bem vestidos do que, do que os franceses, por exemplo.
D
 Em termos assim de preocupação de corpo, etc. (inint.)
L
 Bom, eu acho que a gente tem um ... Quer dizer, aqui no Brasil, é mais comum esse tipo de, de, que chamam, a mulher mais tipo violão (sup.)
D
 (sup.) O que é?
L
 (sup.) A mulher de cintura mais fina e de cadeiras mais largas e isso, eh, isso não é um tipo ... Que em geral, comum na Europa, a mulher é muito mais igual, né, muito mais ... É difícil a gente dizer isso porque sempre há muitas diferenças dentro do mesmo país e de tudo, né? Mas o tipo típico, por exemplo, as, no norte da Europa, a gente, as mulheres são mais tipo atlético, né, muito mais, né, em geral são em, com um tipo de corpo mais, mais igual à largura, no, na altura do busto com a largura na altura das cadeiras, né, mais igual, né, menos esse tipo menos assim, mais assim, né, e menos acentuada a cintura. Já na, o pessoal já português, e, quer dizer, portuguesas e espanholas, essas já são, quer dizer, com as formas um pouco, acho eu, do que, do que eu observei, com as formas mais semelhantes às nossas, se bem que eu acho que sempre que esse tipo de cadeiras mais largas, mais tipo os nossos, não é muito comum não, né? Quer dizer, eu acho que o típico assim brasileiro é muito mais essa morena tipo violão, né? Ao passo que o tipo europeu é menos, tem menos, menos largas as cadeiras, né?
D
 Como é que você explica que a brasileira seja ...
L
 Ah, não sei. Vocês que sabem, que são de antropologia e de lingüística e de antropologia cultural, vocês teriam de explicar pelas próprias raízes, de herança, herança racial e herança, ah, do tipo de culturas que influi na formação do povo brasileiro, né, indígena, ah, negra e, vamos ver, a raça branca, nos diferentes tipos, quer dizer, que deve ter dado isso. Eu não entendo quase nada de antropologia cultural e de antropologia simplesmente, né, porque acho que isso deve ser mais de uma linha de, de origem antropológica, pra poder ver por quê. Como lá também a origem étnica e antropológica é bastante diferente e acho que sempre, por um lado, o aspecto étnico, e por outro lado, o aspecto, vamos dizer, ecológico de, e cultural, deve influenciar nesse tipo de coisa, né? Isso não, eu absolutamente não entendo nada.
D
 Você falou em busto, cinturas e cadeiras, e o resto como é que é? #L
 As pernas? (sup.)
D
 (sup./inint.) por exemplo, as pernas.
L
 Em geral eu acho que as, nós tendemos a ter, as mulheres concretamente, né, brasileiras, as pernas mais grossas do que ... As européias em geral têm as pernas mais finas, o típico, né, porque isso é muito difícil assegurar, há sempre algumas também (riso) têm perna grossa e aqui a gente também outras de pernas finas, mas em geral eu acho que a gente tende a ser, a ter as pernas mais grossas e, mais em harmonia com o próprio tipo físico, né, a forma da cadeira e de tudo isso. E elas tendem muito mais pra ser mais tipo as pernas e menos, menos, vamos dizer, diferença entre o que seria a parte da perna, a coxa, propriamente dita, e a parte da perna depois do joelho (inint.) a canela, né? Então a gente tem mais como delineada a forma diferente, né, da, da coxa e depois da, da outra parte da perna, né, da barriga da perna, do, de tudo isso. Acho que o europeu tem mais a perna mais reta, mais uniforme entre as diferentes partes da perna. Mas os braços, eu nunca reparei nos braços. (risos) Nunca reparei nos braços. Mas, agora nos ombros, eu acho que em geral, pelo menos no norte europeu, tende a ser mais forte de ombros, né, tem os ombros também mais largos. É, o típico da mulher fem... brasileira eu acho que é mais de ombros mais estreitos, né?
D
 Agora, o brasileiro tem preocupação assim com as suas formas? Você falou que os estudantes na época dos exames fazem regime mais voltado para um determinado fim. Aqui se faz muito regime mas pra outros efeitos (sup./inint.)
L
 (sup.) É. Aqui se faz regime mais por razões estéticas, né, pra não engordar, essas coisas. E às vezes mal feito, né? A gente vê, pelo menos na juventude às vezes isso acarreta uns problemões, a psicose, uma certa psicose de fazer regime pra emagrecer, às vezes provoca situações difíceis, porque o pessoal realmente não, às vezes não faz com muito assistência médica, então às vezes ... Eu tenho aqui na universidade mesmo meninas que terminam provocando distúrbios. Tem uma aí agora que tinha problemas de disritmia que tinha desaparecido durante vários anos, aí deu uma doideira na menina e resolveu fazer regime pra emagrecer e emagreceu dez quilos aí em dois meses, uma coisa assim, então voltou todo o problema de disritmia violento. Porque às vezes fazem as coisas um pouco assim, mania de querer emagrecer, especialmente nesta idade, né, mas que fazem as coisas sem muito cuidado. Então às vezes o que gera uma série de coisas, uma série de conseqüências do ponto de vista da saúde, às vezes mais negativos do que positivos. Então eu acho que realmente a gente tem uma certa psicose de, as mulheres, completamente, de emagrecer, tipo fino, tudo isso, às vezes, um pouco desequilibrado e não desequilibrado em termos psicológicos, mas desequilibrado em termos que não é muito proporcional, então a pessoa faz os maiores sacrifícios, às vezes as maiores burradas, né, porque não cuida do regime de alimentação, não está sob controle médico, especialmente quando isso é feito em idades tipo, ainda sem superar totalmente fase de adolescência ou períodos, ah, que o organismo ainda está em desenvolvimento, isso às vezes acarreta umas conseqüências que são negativas. Agora, realmente existe isso. Eu me lembro até uma vez uma menina que, isso faz anos, né, trabalhava aqui no Colégio de Aplicação da PUC e levei um gru... fui com um grupo de meninas a, que estavam terminando o colegial, a, a Bariloche, no mês de, no mês de julho e, e uma menina quase morreu por um problema desses. Nós fomos fazer uma excursão num lago, acordamos de manhã e fomos fazer uma excursão no lago e fomos a uma ilha que estava no meio desse lago. E essa menina começou a ficar branca, os lábios roxos, a, a mão roxa, daqui a pouco começou a não conseguir falar e não conseguir se movimentar, né, e todas as articula... todas as articulações também, não conseguia se movimentar com os pés, perdendo o pé, a gente teve de chamar o guia da excursão, aí ele, a única coisa que fez com a menina foi dar uns tabefes na menina, deu uns tabefes no rosto, assim, e depois (ruído de telefone) álcool na menina (inint.) foi um problema de circulação sério. E então no fundo era um problema, era que a menina estava em jejum, não queria engordar, foi pro frio, não estava acostumada, abaixo de zero, em jejum, começou a ter um problema de circulação. Eh, e o pior da história foi depois com os tabefes do guia e o álcool, ela começou a reagir, mas como estava em jejum caiu álcool no estômago vazio, aí começou a ficar divertidíssima, né, brincar com todo mundo, (riso) alegre demais. Aí teve o problema inverso, ele veio me procurar, estava perdido numa ilha, só tinha álcool com o rapaz, que tinha um negócio de conhaque pra beber, exatamente por causa do frio. Procurar alimento pra menina, porque o conhaque no estômago vazio, a menina de dezessete anos, dezesseis, dezessete anos, mas foi a salvação dela, porque se aquilo tivesse continuado, ela podia ter um problema seríssimo, por, por causa disso. Ela acordou, resolveu, como estava fazendo regime, não comeu nada, estava em jejum, mal acostumada no frio. Conclusão: teve um problema sério que, que ninguém sabia porque, evidentemente, ninguém ia ficar controlando a alimentação das meninas na hora de, de tomar o café da manhã. Mesmo porque o hotel normalmente dava um café da manhã muito reforçado, com frutas, com pão, queijo, geléias, quer dizer, com leite, e que normalmente a gente supunha que elas se alimentassem bem, né? Então, essa menina quase que chegou a ter um problema sério de circulação, especialmente porque estava gelado, aquilo, né, era uma ilha no meio de um lago, a gente tinha que pegar um barco, viajar ainda quase uma meia hora de barco até o porto da cidade, e a razão era simplesmente porque estava fazendo regime, porque às vezes quando eu fazia regime de noite, quando ia à festinha e comia coisas doces, salgados, e tal ... Mas aí faz o regime na hora que não deve, que é na hora de tomar o café da manhã ou a alimentação mais forte, mas não, mas não deixa de tomar aquela alimentação que de uma certa maneira é supérflua, né, que são os docinhos, os salgadinhos, as bebidinhas e tal, que são coisa que talvez, se simplesmente limitasse essa parte, ela não, conseguia não engordar, e comer a comida mais assim propriamente alimentícia, né?
D
 E problemas assim de aparência, por exemplo, quando as pessoas, principalmente mulher, mas os homens agora cada vez mais, né, quando já vão ficando mais velhos, né? Que providências assim será que eles tomam pra procurar se manter assim mais jovens?
L
 Os homens? (riso)
D
 Homens e mulheres, né, muito mais as mulheres, eu acho, embora os homens ...
L
 Bom, as ... Primeiro elas começam a querer fazer operação plástica, né, primeiro, né? Eu tenho, concretamente, gente da minha família que comemorou os cinqüenta anos fazendo operação plástica.
D
 Plástica aonde, mas num local determinado?
L
 Em geral, as que eu conheço, plástica no nariz, no rosto, tirar as rugas, ou as pretensas rugas que vão aparecendo. Porque esta concretamente que eu estou me referindo, aos cinqüenta anos, não via ruga nenhuma, eu, né, mas ela já estava percebendo as rugas, que (riso) antes que ela aparecesse (riso) ela já disse que ia comemorar os cinqüenta anos, né, fazendo uma operação plástica. Eu, por exemplo, nunca pensei, acho que pode ser que quando eu chegue aos cinqüenta anos, né, a gente às vezes acha que enquanto não tem acha que faria diferente, mas pode ser que quando chegue no momento depois, encasquete e queira fazer uma operação plástica, né? Mas aí de operação plástica, em geral, eu conheço várias, mães de amigas minhas, gente da família e tal, que faz operação plástica. Ou, ou então já começa antes disso a cuidar muito de sua limpeza de pele e todas essas coisas, pra, pra prever o máximo possível, até chegar no momento também de fazer operação plástica. Em geral, também, a maior parte das que eu conheço diz que se soubesse o que sofre uma pessoa depois da operação plástica, não faria de... não faria a operação plástica, né? Que às vezes não é o problema ... Depois que passa (inint.) um membro da família passou seis meses depois, por conta da operação plástica (sup.)
D
 (sup.) E quem sofre de (sup./inint.)
L
 (sup.) É, o nariz e, e puxar, né? Mas seis meses entre, que não podia pôr o óculos, entre, não podia não sei quê. Então não podia ler, porque não enxerga direito, então por conta da operação plástica passou três meses sem ler, né? Então devia incomodar, porque no princípio ela sofria mesmo, tinha que ir toda semana lá na clínica fazer não sei que coisas. Sei que ficou seis meses em casa por conta da operação plástica. Mas todo mundo chegava lá ela dizia assim: se eu soubesse o que tinha de passar, eu não teria nunca feito, além de gastar um dinheirão e passar aquele traumatismo todo, né? (ruído de telefone) É também porque com a operação plástica não pode pintar o cabelo, né, que é claro dá um talho aqui, está tudo cristal... cicatrizado, não pode ir pro cabelereiro aplicar a tintura, né? Então pra pessoa que realmente é vaidosa não podia aceitar, tem que aceitar ficar um tempo com o cabelo sem cuidar, vão aparecendo os cabelos brancos e, conseqüentemente, então o que pode realizar de um modo, pelo menos traumatiza do outro durante esse período, até a pessoa (riso) voltar a se encontrar bem de novo, né? E é normal, claro. Passa. Acho que inclusive essa senhora concretamente passou uma temporada bastante grande que não podia lavar a cabeça por causa dos talhos que tinha dado. Tinha que ir no hospital pra fazer uma certa higiene da cabeça, mas não podia o que se chama lavar a cabeça, meter embaixo do, do chuveiro a cabeça, não podia, por causa de todos os, os talhos que tinha, né?
D
 Agora há outras operações plásticas, em outras partes do corpo, dizem que ainda são piores.
L
 É. Dizem. Também conheço uma senhora que tirou a gordura da barriga, né? Então diz que essa também é traumática, essa, essa operação. O pós... o pós-operatório, não tanto a operação em si, mas o, nem o pré, nem a operação em si, mas o pós-operatório que é bastante traumático, né? Eh, e também esse tipo de, de operação do busto, também, né, eh, que também é traumática. Eu sou da opinião que a vida já tem muitos traumas por, naturais que chegam independente da vontade da gente, né, que muitas vezes a gente, não só os traumas, os, talvez os piores não sejam os traumas físicos, mas os que a própria vida dá, traz, horários, problemas que a gente tem de enfrentar no dia-a-dia, e às vezes os traumas físicos, né? Quantas vezes o sujeito quebra a perna, quebra o braço, ou tem um acidente ou, ou muitas vezes tem que ficar meses de cama por causa de uma doença, ou sem poder se movimentar, então dificilmente uma pessoa escapa, em algum momento da vida, de ter algum problema desse tipo. Então eu sou da teoria que é bom não procurar outros voluntariamente, né, porque esses de certa maneira você não procurou, mas fazem parte da vida, você tem de aceitar, assumir da melhor maneira possível, mas se além disso vai procurar, né, eu acho ruim. Já eu pelo menos (riso) não sei se é porque não gosto também, eh, de, mas acho que, mas há pessoas que realmente têm uma enorme preocupação e às vezes até pra essas pessoas é bom, porque eu acho que entre uma pessoa aí estar amargurada a vida inteira porque tem um nariz assim ou porque tem, ou por... ou porque acha que é o modo de ser dela, ou a aparência dela é desagradável, se uma operação pode fazer com que, que inclusive pessoa se aceite mais, acho que também é, é possível. Particularmente eu acho que em geral não resolve o problema, porque as pessoas que por razão física se sentem traumatizadas ou, ou não aceitas pelos outros, em geral não é só um problema físico, é um problema também da aceitação de si mesmo, que pode ser que em determinados casos um re... re... remodelar o físico ajude a também melhor se aceitar. Mas em geral há outro tipo de variável em jogo, além de simplesmente físico, né? Há outro tipo de variáveis que também, se não forem trabalhadas, daqui a pouco ela vai inventar outra coisa. Agora já não é o nariz, mas é isso, é aquilo, quer dizer que é, é a projeção, é muito mais uma projeção de uma atitude da pessoa diante de si mesmo, dian... diante da vida, ou diante dos outros do que propriamente que a causa esteja naquele nariz torto, orelha de abano ou boca assim. Agora há outros casos que não, que realmente são frutos muito mais de traumatismos, de acidente e de tudo, que eu acho que até é importante fazer operação para regenerar esse tecido, né, um problema às vezes a pessoa tem, de um acidente ou de queimaduras sérias e tudo, então uma operação realmente regenera, tem uma função verdadeiramente de preservar a saúde, né?
D
 Você tem algum problema na, na, nos olhos?
L
 Tenho, na vista esquerda. Mas é, o problema não é externo, é fundo de olho, né, tenho um edema, tive um edema na mácula, que com, que provocou uma, quer dizer, que foi uma inflamação que ficou uma cicatriz no fundo do olho. Quer dizer que esse tecido não se regenera, né, então conseqüentemente afeta um pouco a visão central, tem uma mancha na visão central, conseqüentemente provoca um desvio na vista em função de que a, a visão lateral, quer dizer, a visão lateral daqui e daqui, ela é, está perfeita, a visão central é que está afetada na vista esquerda.
D
 E a luz lhe incomoda?
L
 Não. É que tem um pouco de grau nessa, nesses óculos (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 (sup.) Por causa do grau. Porque ajuda um pouco a, a centrar, apesar de que pra centrar mesmo, pra evitar o desvio, eu teria de fazer uma série de exercícios, porque o que aconteceu é que como essa vista tem uma dificuldade na, na visão central, ela se apóia na outra, que é perfeita. Então pra evitar isso, eu teria de tapar a outra e fazer diariamente uma série de exercícios com essa, pra manter o músculo direcionado, coisa que eu absolutamente não faço, porque não tenho tempo e não sei se vale a pena.
D
 Pensei que você tivesse alguma problema, dificuldade de enxergar.
L
 Tenho nessa vista. Na direita.
D
 Pra longe, pra perto (sup.)
L
 (sup.) É pra tudo, porque é uma mancha no fundo do olho. Então o problema não é nem miopia, nem de astigmatismo, nem nada disso, é uma mancha no fundo do olho.
D
 E existe algum grau pra isso?
L
 Não, não, o grau não é pra isso, o grau é pr... porque além disso existe uma, não sei bem se é uma miopia, ou o que for, então pra isso é que é o grau. Pra mancha nenhuma não tem jeito mesmo.
D
 (inint.)
L
 Heim? Então pra mancha não tem jeito mesmo.
D
 A gente falou nas pernas assim em termos de proporções, assim defeitos físicos, é uma coisa muito comum em criança de ter perna de tal jeito. Você sabe alguma coisa sobre isso?
L
 Quer dizer, sei de tipo de criança que tem a perna assim, como é, como a do Garrincha, sei lá (sup.)
D
 (sup./inint.)
L

  (riso/sup.) que era típico, era até ... (riso) Não, não sei como é que chama isso não, sei que é a perna tipo do Garrincha, assim como é que é, curva, com o osso curvo, fazendo uma curva, em vez de estar reto, né? Eu sempre, eu pelo menos sempre ouço falar que é perna tipo do Garrincha, que era típico que tinha as pernas assim, apesar de que fosse, fosse um excelente jogador de futebol. E hoje em dia muitos desses defeitos físicos, pé-chato, essas coisas, só pegando a tempo e a criança usando botinhas e fazendo mais ou menos um, um processo terapêutico a tempo, em grande parte corrige, né?