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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Vegetais e agricultura"

Inquérito 349

Locutor 427
Sexo feminino, 37 anos de idade, pais cariocas
Profissão: supervisora pedagógica
Zona residencial: Sul

Data do registro: 26 de novembro de 1976
Duração: 40 minutos

 

Som Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 Deixa ela começar a falar.
L
 Sobre vegetais que foi o que vocês perguntaram (sup.)
D
 (sup.) Hum, hum (sup.)
L
 (sup.) Eh, o que eu posso dizer é o seguinte: eu acho que atualmente o que mais me impressiona é a alimentação, quer dizer, a alimentação é o, o vegetal é quase que abandonado pelo brasileiro, é muito pouco usado. As crianças desde cedo não são habituadas a fazer uso de vegetal, de legume de um modo geral e os pais não se preocupam, as mães principalmente não se preocupam muito em forçar a criança se alimentar de, de vegetais, procura dar uma alimentação mais à base de carne, de ovos, uma coisa mais de proteína e eu acho que é uma coisa muito importante o vegetal, é uma coisa leve, faz bem à saúde e tal. Agora, o que eu pude observar quando viajei pro sul foi que daqui ao Paraná, não vi muita coisa diferente, a vegetação era mais ou menos a mesma. Quando cheguei ao Paraná, foi, fui surpreendida por aqueles pinheiros, que era uma coisa que eu só conhecia em gravura e com as, com alg... com as plantações de vid... de vinhas, que era época justamente que estava começando a colheita da uva, então eu pude ver aqueles parreirais, aquela coisa, embora no sul, com toda essa, essa, muito verde, muito vegetal, seja, a alimentação básica seja a carne, que é onde se encontra muito churrasco, muita carne, muita, e pouca alimentação à base de vegetal.
D
 Você chegou a conhecer uma plantação de perto de ...
L
 De, de, de, de parreiral?
D
 Hum.
L
 Visitei vários com vários tipos inclusive de uva.
D
 Podia descrever esse (sup./inint.)
L
 (sup.) Posso. Eh, cores diferentes de uva, tamanho dos cachos, tamanho da uva, eh, que tipos de vinho aquela uva ia pro... produzir e muito cuidado com a preparação do solo para que aquele tipo de uva, eh, crescesse e se, se produzisse bem ali. Quer dizer, pra cada tipo de vinhedo, um tipo de solo especial, entende, um tratamento especial dado a ele.
D
 E você sabe que, que tratamento específicamente seria esse? Não tem idéia? (sup.)
L
 (sup.) Não, aí eu não cheguei a sa... tomar conhecimento, porque nós visitávamos granjas e visitamos inclusive uma, uma estação de tratamento de, de, de vinho, mas só, eles só deixavam visitar e, e ver.
D
 Você disse que era época de colheita. Chegou a presenciar (sup.)
L
 (sup.) Aí foi um pouco antes da colheita (sup.)
D
 (sup.) Ah! (sup.)
L
 (sup.) Foi um pouco antes da colheita, quer dizer, os cachos ainda estavam verdes, eles ainda não tinham começado a colher. Ia começar daí provavelmente a um mês, uma coisa assim. E eu não cheguei a ver. Gostaria muito de ter visto, né? Agora o que mais me impressionou realmente foi que quando, na volta, entrando um pouco no Paraná, eu pude assistir o que agora está tendo muito incremento que é a soja, a plantação de soja, que é uma coisa maravilhosa, porque são campos e campos de verde e aquilo muito bem marcado, muito bem delineado, muito tratado. É uma plantação, uma vegetação baixa e que está sendo a... atualmente mui... muito valorizada, porque realmente foi descoberto o valor da soja, né? Eu pude então ver no interior do Paraná, a caminho de, de Ponta Grossa, aquelas plantações enormes de soja. Fiquei realmente muito impressionada porque se perde de vista.
D
 Você tem idéia assim, eles fazem uma, eles alternam a soja com outro tipo de cultura, não é, nessa área?
L
 Olha, realmente. Há uns campos grandes só de soja, depois você vê, eh, eu pude as... assistir trat... eh, campos que estavam sendo preparados pra nova plantação de soja. Agora ali há também muita área com pinheiros, muito pinheiro ainda, mas realmente não havia assim, eh, com sistematização, outro tipo de, de, de plantação (sup.)
D
 (sup.) Você lembra assim o que que você está chamando de preparado?
L
 Preparado?
D
 O que é que estava sendo usado pra preparar esses terrenos? (sup.)
L
 (sup.) Porque os terrenos ... Eu vi delineados os canteiros de, pra plantar soja (sup.)
D
 (sup.) Ham. Sei.
L
 E aquela mesma marcação que eu tinha visto onde já havia os pés de soja, eu vi o mesmo tipo de marcação no solo, quer dizer, estava dando idéia, não tinha ninguém ali pra dizer que ali ia ser plantado soja, mas deu idéia de que iria ser, entende? Inclusive, a terra estava toda preparadinha, com as, as valas que fazem a divisão dos canteiros e tudo isso.
D
 Mas você não teve essa informação (sup.)
L
 (sup.) Presumi (sup.)
D
 (sup.) Presume que tenha sido usado algum tipo de (sup.)
L
 (sup.) Que tenha sido usado, que fosse ser usado pra plantar a soja.
D
 Mas preparado por algum tipo de (sup.)
L
 (sup.) De máquina especial, alguma coisa assim? É, talvez. Eu não cheguei a, a ver não.
D
 O que é que se usa normalmente pra isso?
L
 Eu acho que é o arado, né?
D
 Ahn, ham.
L
 Tenho a impressão que é. Não sei, porque eu não conheço muito de agricultura.
D
 Não tem idéia assim de ... Por exemplo: esse processo todo de mecanização da agricultura, pra própria soja, pro trigo, no sul?
L
 Olha, aí eu acho que poderia falar mais a você sobre a parte da, da uva, do vinho, porque eu fui visitar as cooperativas e as vinícolas (sup.)
D
 (sup.) Hum, hum.
L
 Então eu pude ver, acompanhar desde que a uva estava sendo colocada, embora ainda não estivesse na época da colheita, mas eles mostraram o tipo de, de maquinaria usada. Então, eu pude ver os tonéis, os tipos de madeira utilizada, o tipo de madeira melhor pra envelhecimento, qual era a que a uva que ia permanecer mais tempo, ou, pra ser fermentada, o outro que era só pra conhaque, só pra fabrico de conhaque. Isso é que eu pude ver melhor porque estive lá dentro. Agora, na, na soja não. A soja foi só passagem de estrada, não deu pra ter um conhecimento maior do que que era.
D
 Você disse que a soja está sendo muito valorizada atualmente porque se descobriu que ela pode ser utilizada (sup.)
L
 (sup.) É um alimento de grande valor, né? (sup.)
D
 É. Qual seria esse valor e qual seria multiplicidade de uso?
L
 Bom, ela, ela em si, a soja em si aqui no, no, pelo menos aqui no, no Rio, onde eu vivo e moro, eu só me lembro de ter comido como soja, como tal, em restaurante estrangeiro. Quer dizer, aqui ainda não está sendo usado a soja mesmo. Só como óleo, né, que atualmente realmente é o óleo mais usado. Mas foi descoberto, está sendo, está mais do que sabido que é de grande valor nutritivo a soja em si. Então eu acredito que com o tempo, além do óleo, todo mundo vá passar a usar de alguma outra maneira.
D
 E você comeu, eh, soja de que maneira nesse restaurante?
L
 Como um, um tipo de tablete, como se fosse um substituto até da carne. Eles, eles dizem que o valor, eh, da soja realmente pode ser até maior do que o da carne. Eu comi acompanhando um prato de carne, mas já li a respeito de que a soja pode substituir a carne. Mas nunca vi sendo usada assim.
D
 Agora, outro tipo assim de cultura de (inint.) e que como a soja e a, a uva, vinho, de um modo geral também estejam, tenham sido ou sejam produto, eh, industrializável e que tem sido aproveitado no Brasil (sup.)
L
 (sup.) Eu já estive e já vi sim. Agora eu estou me lembrando de uma, uma experiência que eu tive de dez dias, que eu acho que dá pra, pra documentar aqui. Eu já estive em uma fazenda de fabrico de farinha de mandioca, até da farinha Tipiti, não sei se vocês conhecem. Essa, eh, eh, essa fazenda ia desde o plantio até o empacotamento. Quer dizer, eu assisti, pude ver o processo todo. Então, realmente eles dão muito valor também à preparação do solo, que eu não sei como é feita. Mas sei que eles co... conhecem perfeitamente a mandioca do aipim que eles colhem pra comer cozido simplesmente como nós usamos comer e a mandioca é separada, é levada pra, pra, pra fábrica e nas bolandeiras, como eles chamam, eles dão aquele tratamento. Aquelas pessoas são contratadas, eh, descascam a mandioca, depois ela sofre aquele processo de ressecamento até se transformar em farinha, isto eu não, não vi realmente como é que é feito. Fui passando e fui vendo já a farinha e tudo isso. Agora, além disso nessa fazenda, havia também plantações de coque... de coqueiro, coqueiro-anão e com muita quantidade de coco e pra ali não havia necessidade de tra... tratamento de solo. O coqueiro nasce num, num solo mais ou menos estéril, mais ou menos seco, não precisa de muito cuidado. Dá em, o coco o tempo todo, o coco é muito gostoso realmente.
D
 Há um aproveitamento do coco? (sup.)
L
 (sup.) Há um aproveitamento do coco (sup.)
D
 (sup.) De quê? (sup.)
L
 (sup.) Naturalmente, a água e a, a polpa dele verde. Eles não costumam deixar ressecar, nessa fazenda não costumam deixar o coco secar pra usar não. O coco é retirado verde e é consumido assim, naturalmente, como fruta, entende?
D
 Hum, hum.
L
 E acontece muito nesse tipo de coqueiral uma praga que quando dá mata e acaba com tudo e isto aconteceu nessa fazenda. Era um coqueiral maravilhoso e em poucos anos, acredito que num prazo de dois anos tenha sido completamente destruído o coqueiral. E não houve, talvez, a preocupação de plantar novamente. Não sei, porque não acompanhei (sup.)
D
 (sup.) Você sabe que tipo de praga era? (sup.)
L
 (sup.) Não, não sei não. Só, só tomei conhecimento disso, porque quando cheguei lá depois de muitos anos, não encontrei mais coqueiro nenhum, eu disse: ué, cadê os coqueiros? Ah, deu uma praga, matou tudo!
D
 (inint.) havia (inint.)
L
 Não sei nem se era bicho. Não sei se era bicho, se era uma doença (sup.)
D
 (sup.) Agora, uma coisa que nos interessaria muito seria você fazer, digamos, um contraste em termos de descrição simples de um coqueiro e de um pé de mandioca, por exemplo, da mandioca com, de que era feita a farinha.
L
 Um contras... um contraste entre o pé (sup.)
D
 (sup.) Entre as duas plantas (sup.)
L
 (sup.) Entre as duas árvores? (sup.)
D
 (sup.) Entre as duas árvores, é, tentar descrever e falar das coisas que elas têm (sup.)
L
 (sup.) Ah, o, o pé de mandioca é uma, um arbusto baixinho mesmo e de folhas pequenas, compridas, um verde fosco, eh, caules bem tenros, enquanto que o coqueiro, embora anão, bem maior, com as ramas de palmeira mesmo, um verde mais brilhoso, o coco dando em forma, sob forma de cacho que chegava até o chão, quer dizer, fácil de apanhar, de colher (sup.)
D
 (sup.) E a mandioca? (sup.)
L
 (sup.) Quase tão fácil como a mandioca, só que a mandioca requer de você puxar todo aquele arbusto, puxar inteiro e ela vem do, da terra e o coco você corta o cacho e deixa o pé intacto.
D
 Então a mandioca seria o que em relação à planta? Seria a própria raiz? (sup.)
L
 (sup.) A mandioca é a raiz e o coco é o fruto que fica do lado de fora.
D
 Você teve oportunidade de ver como que era a raiz do, do coqueiro?
L
 Do coqueiro não, porque do, a raiz do coqueiro é subterrânea.
D
 Hum, hum.
L
 E a mandioca é subterrânea, mas você retira e vê.
D
 Sim, mas você não chegou a, a observar no coqueiro o que que caracteriza assim o tipo de raiz que ele apresenta, por exemplo, face a de ou... a raiz de outras árvores?
L
 Não, porque eu não cheguei a ver arrancarem o coqueiro com a cai... com a raiz (sup.)
D
 (sup.) Não teve essa oportunidade, né?
L
 O coqueiro de um modo geral, inclusive a palmeira, palmeira alta como é o caso daqui, que eu tenho na rua (sup.)
D
 (sup.) Hum, hum (sup.)
L
 (sup.) E bem em frente à minha janela e já vi várias caírem, ela cai rente aonde está plantada e não se vê a raiz. Raiz que eu posso dizer a você que vejo em geral e aí faz parte dos vegetais, fica muito de fora, embora seja uma árvore lindíssima, todo mundo evita plantar é a amendoeira, que a raiz é quase que aérea e vem arrebentando o cimento e se coloca do lado de fora e a árvore é lindíssima, mas não se pode plantar perto de casa nem de coisa nenhuma, porque dentro de poucos anos ela bota abaixo. De vegetal meu conhecimento é muito pouco (sup.)
D
 (sup.) Bom, agora você podia falar de outros vegetais que são, digamos assim, plantados. Não precisa, pode ter tido uma, a experiência de ver, mas pode não ter também, não é, S., assim de ter informação. Por exemplo: de soja e coisas mais recentes que vem substituir uma cultura muito tradicional nessa zona de São Paulo, Paraná ( sup.)
L
 (sup.) Hum, hum (sup.)
D
 (sup.) E o próprio estado do Rio (sup.)
L
 (sup.) Certo (sup.)
D
 (sup.) E assim da maior importância em termos de cultura de produto primário pra o Brasil, em termos assim econômicos e tudo.
L
 Por exemplo, você está se referindo à cana, café, coisas desse tipo?
D
 Hum, hum.
L
 Eu só posso dizer a você teoricamente (sup.)
D
 (sup.) Teoricamente (sup.)
L
 (sup.) Eu vi um pezinho de café uma vez na, na vida, com um grãozinho ainda lá vermelhinho, sem tratamento e posso falar muito pouco a respeito de café, porque o café que eu conheço é o cafezinho empacotado que eu compro e tomo em casa. A cana já vi algumas vezes a plantação e não tive oportunidade de ver campo, canavial, não tive oportunidade de ver. Vi pezinhos de cana, pelo estado do Rio, plantados assim ...
D
 Você já foi a Campos? Pegou essa estrada Campos, Magé, por aí, que vai, pegando o carro?
L
 Já, já peguei, mas não me chamou a atenção plantação de cana (sup.)
D
 (sup.) Não lhe chamou a atenção (sup.)
L
 (sup.) Se eu vi, não sabia que era de cana. Inclusive eu faço muita confusão entre pé, entre pé de cana e pé de milho.
D
 Hum.
L
 Se eu não passar muito de perto, eu não sou capaz de reconhecer um do outro, porque o tipo de folha é o mesmo, a altura é mais ou menos a mesma.
D
 Você já comeu cana?
L
 Muito e adoro. (risos) Comi muitas vezes.
D
 Como é?
L
 A cana é só o caule, se come o caule. É um pouquinho difícil de descascar, né, mas inclusive faz parte do gostoso da cana descascar. E se come entre os nós, ela é toda de nozinhos, você come ali entre os nós e o mais gostoso da cana é realmente comer, embora há quem diga que o mais gostoso é o caldo-de-cana, que eu acho que aí é o bom é o comodismo. Tomar o caldo já preparadinho, passado e moído é muito mais gostoso do que estar chupando aquele bagacinho, né?
D
 Agora, mesmo que você não tenha visto, em termos assim de aproveitamento da cana?
L
 Aproveitamento da cana? Eu conheço o açúcar, né? Usadíssimo, importantíssimo, necessário e a cachaça que principalmente no Brasil é largamente usada e sai daqui e vai até pro estrangeiro, né? O que mais com o uso da cana? Acredito eu que o próprio bagaço, a própria palha tenha uma utilidade, mas eu não sei exatamente qual é.
D
 Em termos assim medicinais e até de combustível.
L
 Com a cana? Sobre a cana que você está perguntando?
D
 Hum, hum. Agora estão falando que vão adicionar não sei quanto na gasolina aí. (risos)
L
 Bom, o álcool sim. Falei da cachaça, mas aí me, me prendi só ao aspecto de alimentação e depois falei do uso da, do que sobrava dela, né? É, realmente, o álcool, mas ... Vai ser uma grande coisa, mas aí eu vou entrar no petróleo que não tem nada a ver com vegetal (risos) e na falta dele, né? (sup.)
D
 (sup./inint.) e vamos chegar na crise mundial.
L
 É, e o álcool também, evidentemente, retirado da cana. Mas eu posso falar muito pouco. Eu conheço também o álcool engarrafado assim como a cachaça e o açúcar empacotado. Meu conhecimento é muito pequeno.
D
 Sei, mas ainda em termos de outros tipos de, de coisas cultivadas no Brasil?
L
 Algodão. Algodão, posso dizer a você que vi muito pouco. Acredito que não tenha visto mais de uma vez. Acho que vi uma vez um pé de algodão (sup.)
D
 (sup.) Você lembra como é que era?
L
 Hum, como se fosse um coquinho estourado, com uma, um algodãozinho ali dentro que depois evidentemente sofre tratamento tudo isso. Algodão vi. Frutas! Podia falar a você sobre frutas (sup.)
D
 (sup.) Ahã (sup.)
L
 (sup.) Vi também nos lugares mais frios, vi macieiras, pezinhos de morango, são arbustos muito pequenininhos, pereiras e pessegueiro, lindíssimo na época da florada e na época do fruto mesmo, muito bonitos. Figueiras. Você sente de longe na época do figo, você sente o cheiro. Isso foram experiências muito pequenas que eu me lembro eventualmente. Mas não vamos falar também só de vegetal come... comestível, né? Tem os vegetais também que embelezam, que são as flores.
D
 Você costuma ir muito a Teresópolis? (sup.)
L
 (sup.) Teresópolis (sup.)
D
 (sup.) Teresópolis é uma cidade conhecida exatamente por causa das flores. Todo mundo fala muito das flores de Teresópolis.
L
 É exato. Mas em Teresópolis voc^e pode ver flores em jardins de residências. Como há resi... residências muito bonitas e muito tratadas, você pode encontrar sempre, mesmo que não seja época, vamos dizer, eu não sei nem se determinada flor dá em determinada época, não, não, não tenho conhecimento pra isso, mas você vê aqueles jardins que são tratados. Assim de forma agreste você não vê. Você pode ver aquelas flores do mato mesmo, aquelas flores que em geral você não, não tem em casa ou não compra na feira ou não compra em supermercado. Você vê gravatá, nas montanhas, nas, perto de pedra, você vê aqueles ti... aqueles tipos de planta, eh, mais parasitas, você vê flores, flores agrestes mesmo, lírio do campo, aquelas coisas. Mas esse tipo de flor que em geral nós vemos na nossa jarra dentro de casa, são flores realmente nas cidades desse tipo como Teresópolis, Petrópolis e tal, você vê em jardins. Agora, o que há muito em Teresópolis, Petrópolis e eu vi no sul realmente de espantar foram as hortênsias, que é um tipo de flor também de lugar frio e que nas estradas, na época, essa eu sei que é época, que é de época, ela cresce, procria de uma forma que, que você vê como de fossem colares. Você anda pelas estradas e vê, às vezes são, os pés são mais altos do que os automóveis e você passa, há várias tonalidades. Ela vai desde o quase branco até o roxo forte, as hortênsias. Agora, é uma flor também que não adianta colher e levar pra casa, porque quando você chegar em casa ela já está morrendo. Só mesmo pra embelezar a estrada e jardim e tudo isso.
D
 Agora, em termos assim desse cultivo, quais são as coisas cultivadas? Digo assim, são cultivadas, a gente compra nas feiras que outras, quais? (sup.)
L
 (sup.) Porque são flores ... São flores tipo rosa, orquídea já é um requinte muito grande, porque a orquídea já requer um tratamento muito especial, um tratamento quase que de estufa, um orquidário, um tipo de, de base de solo especial, que eu não sei como é o nome, mas eu sei que é preciso disto pra ela crescer e nascer bem e nascer bonita. E há cruzamentos de espécie, dando novas espécies. Mas isso meu conhecimento também é pouquíssimo. Eu sei que é assim, já vi algumas vezes vários tipos de orquídeas, desde muito pequenas, clarinhas, até a orquídea comum, que é essa orquídea lilás. É uma flor mais requintada. Nunca vi plantada a não ser em casas ou nas lojas de vender flores. Um orquidário não é, não é fácil ter em casa, um orquidário requer muito trabalho, eu sei, porque conheço gente que já teve orquidário, mas não sei como é feito.
D
 E além dessas, dessas flores, rosas e orquídeas?
L
 Há outras que são já flores mais simples, mas eu também não sei qual é o tipo de tratamento que elas precisam, como margarida e palma-de-Santa-Rita. São flores muito bonitas e que em geral também só se compra em feira e em loja de flores, eu nunca vi plantação. Rosa já vi, evidentemente, uma roseira na casa de um e de outro, mas, engraçado é que eu nunca consegui ver numa roseira uma rosa tão bonita como a que se compra, quer dizer, que a que se compra realmente é aquela que sofre um processo especial de tratamento para ser vendida.
D
 Você tem uma idéia assim do que seria esse tratamento? Não o específico, mas de um modo geral, o que que as pessoas usam pra melhorar a terra.
L
 Bom, acredito eu que seja (sup.)
D
 (sup.) Obter colheitas melhores, obter, digamos (sup.)
L
 (sup.) Acredito eu que seja adubagem de solo, um clima especial para aquele tipo de flor, que eu não sei se é mais quente, se é mais frio, não sei, se mais úmido ou mais seco, também não sei. Mas evidentemente que essas rosas tratadas pra serem vendidas são tratadas em verdadeiros viveiros e por especialistas e que vivem estudando isso.
D
 Uma coisa, não sei se você já tinha perguntado pra ela. Você já teve experiência assim de plantar alguma coisa e de (sup.)
L
 (sup.) Olha, eu gosto demais de planta, mas você sabe que na nossa época se vive mesmo é em apartamento, então você não pode se dar ao luxo de ter planta, a não ser plantinha em vasinho.
D
 Você tem?
L
 E não tenho plantinha em vasinho porque também acho que é uma maldade. Já tive, tive, tive plantinha em vasinho que foi o ... Eu esqueci o nome da flor. E ele morreu. Me, vou me lembrar já o nome dele. Porque disseram que ... Uma, uma pessoa chegava e dizia que ele precisava de sol e botava no sol. A outra chegava e dizia que ele gostava de sombra e lugar úmido, eu botava em sombra e lugar úmido, e ele foi definhando, definhando e acabou morrendo. Eu esqueci o nome da, daquela folha com aquele pendão, aquela folha vermelha com uma, uma haste.
D
 Antúrio.
L
 Um antúrio, exatamente, um vaso de antúrio, que eu ganhei de presente, acho lindo o antúrio, mas não consegui criar. Ele foi definhando e morreu. Então eu desisti, achei uma maldade botar uma planta dentro de casa pra ela morrer se eu não sei tratar.
D
 Agora assim, pelo tipo de informação geral que você tem, então suponha que você quisesse cultivar plantas ou cultivar flores, botar jarrozinhos aqui, o que você acha que teria que fazer? Mesmo em termos assim de uma cidade grande que você (sup.)
L
 (sup.) Bom, primeiro que tudo eu acho que eu teria que sa... saber escolher a planta pra poder botar dentro do lugar que eu moro. Eu teria que ter, que escolher a planta se eu tivesse um lugar adequado pra ela. Uma vez tendo o lugar adequado, eu escolheria, colocaria nesse lugar e daria o tratamento que ela precisasse (sup.)
D
 (sup.) Você compraria ela pronta?
L
 Heim?
D
 Você já compraria ela pronta?
L
 Não, eu compraria ou, ou pediria a alguém uma muda, uma, uma, um pezinho pequeno, uma coisa qualquer que eu pudesse criar. Não. Gostaria de ver crescer, eu gostaria de ver a planta crescer. Eu não ia comprar ela já bonita e só botar em casa pra decorativa. Pra isso já existe planta artificial. Pra eu criar, eu gostaria de criar desde pequenininha.
D
 Agora e os agricultores de um modo geral como é que eles, o que que eles usam para, eh, digamos assim, ter as plantas?
L
 O que que eles usam?
D
 É. O que é que eles precisam, em termos de (sup.)
L
 (sup.) Eles precisam de, de máquinas especiais, de adubo especial, de tratamento especial e contar muito com, com o tempo, com o clima (sup.)
D
 (sup.) Em termos, por exemplo, de soja, de outras coisas como feijão, há (sup.)
L
 (sup.) Épocas próprias pra plantar a semente, ele tem que ter a semente, ele tem que ter a época própria de plantar, tem que saber qual é o terreno que é próprio, porque ele pode muitas vezes ter a semente e ter o conhecimento da técnica e se aquele solo não for próprio ele não vai conseguir colher, pelo menos. Plantar ele vai, mas conseguir colher não vai. Então ele tem que saber onde está, o que está plantando, como, e ter a semente, evidentemente, né? E procurar sempre valorizar, eh, melhorando o produto dele. E melhorando é ele sempre to... tendo conhecimento, tomando conhecimento de novas técnicas e de novos tipos de máquina e adquirindo (sup.)
D
 (sup.) E a possibilidade de atuação dele sobre a semente, pra essa melhora?
L
 Pra essa melhora? Ah, é uma atenção constante. A semente desde que ele planta até ele poder colher eu acho que ele tem que dar atenção constante. Eu tenho impressão que muito pouco vegetal você pode muito simplesmente plantar e deixar ao tempo. Você tem que deixar, tem, tem que tratar. Eu não, não, não sei qual é o tipo de ... Eu acho que o vegetal que não precisa de tratamento ele nasce sozinho, não precisa ninguém plantar.
D
 A respeito de plantas medicinais, você podia falar alguma coisa?
L
 Medicinais? (sup.)
D
 (sup.) É. Nunca teve experiência de usar uma planta pra uma determinada doença, por exemplo?
L
 Olha (sup.)
D
 (sup.) Ou informação sobre? (sup.)
L
 (sup.) É, eventualmente eu tive oportunidade de usar e tomar chá de planta em lugares assim fora do Rio em férias e por exemplo: quebrar o pé e alguém dizer que colocar aquela folha socada no pé com sal e não sei quê fazia efeito. Acontece que prum pé quebrado melhora a dor, pode melhorar a dor, mas curar a fratura não cura, né? Tomar, já conheço também, sei de uma série de coisas, inclusive acho muito válido tratamento de ervas e conheço, sei que há ervas medicinais. Realmente, eu não faço muito uso porque não, não (sup.)
D
 (sup.) Não lembra assim o nome de nenhuma delas?
L
 Lembro. Boldo, eh, gervão e erva que se usa, no caso não seria medicinal, eu faço muito uso de erva não no estado natural que é a erva queimada, que é o mate e o chá. Então, não sei se vocês, vocês chamariam de medicinal. Eu acho que não.
D
 Hum, hum, mas de qualquer forma interessa.
L
 De qualquer forma é. Não vem sob, sob forma natural. Agora, eu consegui já ter oportunidade de tomar o mate de forma um pouquinho menos industrializada que foi o chimarrão, no sul. Gostei muito. E a própria erva medicinal quando se compra, quando se adquire, ela já passou por um processo de industrialização, já não está no estado natural. É muito difícil você conseguir, pelo menos aqui no Rio, no centro do Rio, uma casa que venda erva medicinal no seu estado natural, pra você poder utilizar sem que ela tenha sofrido um processo industrial.
D
 Esses ... Existem produtos industrializados de, na área de cosméticos, por exemplo, que fazem muita propaganda de, eh, legumes.
L
 É, existe (sup.)
D
 (sup.) Frutas que servem pra isso, servem pra aquilo.
L
 É. Exato. Mas eu acho que aí a porcentagem de vegetal que usa, que se usa é mínima. Eu acho que é muito mais produto industrial do que propriamente aquilo que está se propondo a usar. Morango, pepino e pêssego, máscara de pepino ... Eu não sei quanto de pepino tem ali e quanto de produto químico tem. Então, realmente (sup.)
D
 (sup.) Mas em termos assim do que eles anunciam?
L
 Eles anunciam que, que o produto faz muito efeito, que atua sobre a pele e ajuda ao umedecimento da pele, ajuda a evitar o aparecimento de rugas, mas eu não posso garantir a você e não, não acredito muito realmente na, quantitativamente, vamos dizer assim, no vegetal em si ali dentro daquele produto. Porque você atualmente come uma coisa, você lê a composição, você lê noventa por cento de produtos artificiais e um mínimo, eu não sei se eu exagerei quando eu disse noventa por cento, um mínimo de produto natural. Quer dizer, ou você vai e compra o vegetal ou a carne ou lá o que seja realmente no natural e come ou você está sujeito a estar comendo um monte de coisa industrializada ou, como é, produto químico, artificial, não, não é industrializada, artificial que eu quis dizer.
D
 Alguma ... Existem receitas caseiras de aproveitamento de, de legumes, por exemplo, pra, pra, pra tratamento de pele, dos cabelos. Alguma vez você usou alguma coisa deste tipo?
L
 Não. Eu conheço sim, que existe, eh, o uso de, de camomila, de macela, até mesmo de casca de cebola, mas eu nunca (sup.)
D
 (sup.) Casca de cebola pra quê?
L
 Casca de cebola dizem que é pra clarear cabelo.
D
 É?
D
 É. Mas o meu, como não precisa muito clarear, eu não, eu nunca usei não. Eu já ouvi dizer que se usa sim, mas nunca usei. Agora dizem que, e em casa muita gente usa realmente isso. Mas hoje há tanto produto já mais fácil do que pegar a casca da cebola, fazer o chá e passar no ca... botar no cabelo, que a pessoa prefere comprar, né?
D
 Você começou, você começou a entrevista falando da alimentação, que a alimentação do brasileiro era muito pobre de legumes (sup.)
L
 (sup.) De legumes.
D
 Principalmente em relação às crianças (sup.)
L
 (sup.) Às crianças.
D
 Quando suas filhas eram pequenas você tinha esse tipo de preocupação?
L
 Ah, sempre tive e nesse ponto eu era até um pouco exagerada (sup.)
D
 (sup.) E o que que você dava pra elas?
L
 Porque eu sempre pensei que elas estariam sendo preparadas para o mundo e eu não sabia o que que viria pro futuro. Então, teria que acostumá-las a comer de tudo. Elas poderiam viver aqui, viver em outro país, viver em outro lugar, viver até mesmo numa fazenda onde elas fossem ter que usar muito vegetal. Então, fui preparando desde o início. Eu fazia uso praticamente de todos, todos os que nós aqui no Rio usamos. Eu não sei se cabe aqui citar.
D
 Cabe.
L
 Mas eu acho que fiz uso de todos: quiabo, espinafre, cenoura, batata, chuchu, jiló, maxixe, alface, tomate, vagem, couve-flor, bertalha, beterraba. Todo tipo de, de vegetal que eu conheço eu já, já dei pra elas (sup.)
D
 (sup.) E em termos de frutas? (sup.)
L
 (sup.) Frutas? Também, todos os tipos e de várias formas: como vitamina, a fruta ao natural e atualmente também há muito suco industrializado, né, suco de fruta. Mas fiz muito uso de frutas, principalmente quando elas eram pequenas e sempre valorizei muito o uso do vegetal na alimentação delas. E consegui, na idade em que elas estão, que elas comam qualquer um deles, portanto eu não acho muito difícil não. Consigo que elas, elas comem, elas comam e gostem, gostam atualmente praticamente de todos esses que eu citei.
D
 E as frutas? Podia citar também, não é?
L
 As frutas? As frutas mais comuns: banana, maçã, laranja. E sempre eu uso, procuro fazer uso das frutas da época, usar enquanto elas estão na época. Época de fruta-de-conde, eu compro sempre fruta de-conde até acabar a época da fruta-de-conde. Época do morango, a mesma coisa. Agora as frutas que dão o ano inteiro a gente praticamente compra o ano inteiro. Então frutas mais assim que não, quando eu era pequena se via com mais freqüência, atualmente não se vê, frutas como por exemplo: abio, sapoti, eh, cambucá. Cambucá é uma fruta que eu não sei nem se vocês conhecem.
D
 Eu não conheço.
L
 Cambucá é uma fruta deliciosa e que eu estou aí procurando quem encontre neste Rio de Janeiro, porque cambucá eu conheci através da minha mãe, que falava dos ancestrais dela que comiam cambucá. E eu cheguei a ter oportunidade de várias vezes comer cambucá quando era garota. Encontrei uma criatura uma vez, um homem numa praia, na praia lá no Leblon, onde eu morava, que conseguia o cambucá, então ele ia levar lá a nossa casa, porque ficava dias e dias com o cambucá na cesta na praia e ninguém comprava porque ninguém conhecia.
D
 E como é que é?
L
 É, é uma frutinha assim ... É do tamanho mais ou menos de um limão graúdo, só que ela é amarelinha com a casca bem grossa. Por dentro ela tem um caroço grosso, grande. Entre o caroço e a casca tem uma polpa tipo gelatina, amarelinha. Ela é toda amarelinha por dentro e por fora e o caroço é bem grande. Então você corta ao meio, retira o caroço e com uma colherzinha, você tira aquela polpa gelatinosa e come. Agora, é uma árvore, dizem que é uma árvore enorme. Eu não conheço o pé. Dizem que é uma árvore muito grande, agora não se acha em lugar nenhum. Eu pergunto, todo lugar que vou, eu pergunto. Há pouco tempo, eu encontrei no horto-mercado do Leblon, uns saquinhos que inclusive também o homem já estava desanimadíssimo, porque tinha pendurado lá e ninguém comprava porque não conhecia. Quando eu comprei, encontrei e comprei logo uma porção de sacos, porque todos nós gostamos muito. Mas é uma fruta muito difícil. Chama cambucá. Estão apresentadas a ela. (risos) Que é mais? Fruta assim especial?
D
 Não, não precisa ser especial.
L

  Melancia eu gosto, nós gostamos muito, mas é uma fruta pesada, embora seja uma fruta meio aguada, mas ela é pesada.