« MAPA «
PROJETO NURC-RJ

Tema: "Terreno"

Inquérito 0348

Locutor 425
Sexo feminino, 44 anos de idade, pais cariocas
Profissão: professora de pedagogia
Zona residencial: Norte

Data do registro: 24 de novembro de 1976

Duração: 55 minutos

Clique aqui e ouça a narração do texto


L
 Você quer geográfico mesmo ou pode ser loteamento?
D
 Não, geográfico, de descrição por exemplo dos países da Europa. Já sobrevoou a Suíça de avião?
L
 Já sobrevoei a parte dos Alpes, uma beleza assim de montanha, o tipo de, de montanha é diferente e, e de certo modo semelhante a algumas regiões do Brasil. Essa serra de Miguel Pereira, por exemplo, o tipo de, de relevo, tirando a neve é muito semelhante a uma parte dos Alpes, né? O, tipos de pico, né? A junção das montanhas é um negócio assim muito, muito parecido.
D
 É? Como é mesmo no, na Suíça?
L
 Em termos assim de, de montanhas, de cordilheiras?
D
 Sim, é.
L
 É montanhas assim muito elevadas, alguns trechos, depende, né, porque a parte dos Alpes nós andamos ... Nos Alpes suíços você tem mais uma, um tipo de característica, né? Assim, eh, eh, vamos dizer, partes, eh, muito sem, sem outro tipo de plantação a não ser aquelas pastagens, casas, então você fica assim aquele relevo arredondado, de repente aqueles picos mais altos, né? Na zona da Áustria, por exemplo, a gente só tinha a parte íngreme, só o que se via, né, aquelas descidas muito violentas, então você tinha uma outra impressão e a gente imaginava, eu pelo menos imaginava Alpes como uma coisa assim muito, tudo muito igual e é completamente diferente, né? Você pega um lado suíço, você tem uma aparência, do lado da, da Áustria é outra completamente diferente, né? Você não tem idéia de que está falando no que você aprendeu em geografia, o Alpes uma coisa igual, né? Então nós tivemos muito diferença. Quando você passa, quando sai dos Alpes pra entrada na, na Itália já muda completamente, você está também em cordilheiras altíssimas, mas diferente todo um feitio, né, das cordilheiras. Mas eu, eu prefiro plano, né, em matéria de relevo eu gosto é Cabo Frio, (risos) eu não sei se serve terrenos de Cabo Frio, né?
D
 É claro!
L
 Eu gosto beira de lagoa, aqueles ala... alagadiços, né, a parte plana arenosa, isso eu, eu acho muito bonito, vegetação (sup.)
D
 (sup.) Na, na, a senhora chegou a ter contato com pessoas lá na Suíça?
L
 Só em, assim de hotéis de estrada, parada, né, assim muito ligeiro.
D
 Nunca ouviu nenhum comentário a respeito de, de ocorrências, por exemplo, nessa, nessa região montanhosa de coisas que ocorrem, quer dizer, que prejudicam as pessoas?
L
 Ah, em termos de avalanche, neve (sup.)
D
 (sup.) Exato (sup.)
L
 (sup.) Essas coisas assim? Eu estive no verão, né, verão com sol lindo, o que eu vi de neve foi assim a grande distância, aqueles picos muito longe, ainda se fazia esporte de inverno, né, mas essa região eu não fui, eu fui na região em que estava florida, verde, então estava todo mundo assim maravilhado com o sol porque há muitos anos não fazia um verão tão, tão quente e tão ensolarado como o ano passado, né, foi um dos verões assim mais quentes na Europa, então o pessoal abandonou, abandonou roupa de inverno, idéia de inverno, né, não se falava nada disso, né, era uma infinidade de pessoas e 'trailers' caminhando pra praia, procurando realmente outro tipo de esporte, né, não tive assim nenhuma noção de esportes de inverno na, na Suíça não tive, só de, só de cartão-postal.
D
 Da Suíça a senhora foi pra (sup./inint.)
L
 (sup.) Suíça, Áustria.
D
 Áustria, né?
L
 É, desci. Nós descemos os Alpes pela, pela Áustria, né, lá tem uma, tem uma parte assim alguns lagos que eu nem sei o nome, uns nomes estranhíssimos, né, de dez sílabas e, mas belíssimos, né, assim como topografia umas coisas maravilhosas quem vinha daquelas montanhas de repente aqueles lagos tranqüilos, muito bonitos.
D
 E sobre meio de transporte, pra se locomover (sup.)
L
 (sup.) Ônibus, ônibus (sup.)
D
 (sup.) Então pôde observar bastante, né, pra olhar (inint./sup.)
L
 (sup.) Ah, exato, a gente parava, gostou parou e ficávamos lá vendo realmente cada trecho desses de paisagem, nós parávamos o ônibus na estrada quando era permitido, né, pra vermos.
D
 De ônibus a partir de onde?
L
 A partir de Paris.
D
 Ah, é! Aí de Paris a, à Suiça (inint./sup.)
L
 (sup.) Nós fomos de Paris a, a, nós fomos de Paris a Roma de ônibus mas contornando, né, Holanda, Bélgica, depois Alemanha.
D
 A Holanda é um país bastante típico, né? (sup.)
L
 (sup.) Ah, demais (riso) em matéria de terreno, né, é alguma coisa completamente diferente, né? A parte dos canais e, é cartão-postal, né? Terreno que você imagina exatamente e aquilo que você vê em cartão-postal e é, né? Aqueles canais cortanto mesmo aquelas tirinhas de terreno e, e água por tudo quanto é canto, as construções se equilibrando naqueles pedacinhos de terreno, né? A parte que eu vi, né, porque há outras partes que não, não devem ser assim, mas aí você sente uma diferença também em termos de terreno pra Alemanha, Alemanha destruída, né, aqueles te... terrenos em ...
D
 Ainda?
L
 Ainda, a parte toda em torno de Frankfurt, por exemplo, você vê muita coisa ainda destruída pela guerra. Não, ô, e aí quando você vê construção são aquelas construções-padrão de cimento, modelo, arborização daqueles pinheiros alemães, né, aquelas florestas todas iguais, tudo do mesmo jeito, tudo, tudo sem graça, né, com aquele ar de paisagem feita, feita sob medida, né, edifício do mesmo jeito, casas do mesmo jeito, pinheiros do mesmo jeito, né, você sente nitidamente o efeito da destruição.
D
 (inint.) do Reno, então?
L
 Vimos uma parte do Reno, as cataratas do Reno, né, as famosas cataratas do Reno que perto das cataratas brasileiras é piada, né, não tem nem comparação com que é catarata aqui no Brasil. As cataratas muito pequenininhas, muito explorada turisticamente, mas quem tem, quem tem Sete Quedas e a idéia que se tem de Sete Quedas vê cataratas do Reno você acha até graça, né?
D
 São bem menores, né?
L
 É uma coisa pequena, uma queda, eh, perto das grandes cataratas brasileiras não tem assim nem, nem sentido, né, o, a toda a atração turística que exerce é só realmente pela falta de catarata na Europa, né, que é a atração violenta pra lá.
D
 Eh, comparando, por exemplo, esse tipo de paisagem ao Uruguai?
L
 Ao Uruguai, eu vi a parte de pastagens assim muito pastos planos totalmente, né, ou aquelas pequenas ondulações, pequenas coxilhas, aquilo até, até Punta del Leste e a parte de, de praias, há também um tipo de pinheiro diferente, né, as praias muito feias, muito sem graça só turísticas também junto às praias brasileiras nem, nem tem comparação, né? O tipo de areia ruim, areia, ó, Punta del Leste é um, umas coisas assim, os maiores blefes aquele tipo de areia ruim, grossa.
D
 Como é essa areia?
L
 É uma areia graúda, né, um tipo de grão graúdo e muito cheio de óleo e (sup.)
D
 (sup.) Seca?
L
 Seca, né, não é essa areinha gostosa tipo Cabo Frio, tipo Ipanema, areia fininha.
D
 (ruído/inint.)
L
 Ah, é. É realmente, ah, é. Exato. Não, e lá é beleza do, construída pelo homem, né? A beleza de Punta del Leste são as grandes, as construções belíssimas, as casas maravilhosas, né, aproveitamento do terreno, não propriamente o terreno, né, o que eles fazem do terreno é que é impressionante, né?
D
 É claro!
L
 Enquanto a gente despreza aqui coisas, eh, maravilhosas em termos de terreno, estraga, lá eles valorizam cada metro de terreno dando o máximo das possibilidades, né?
D
 Eles têm uma extensão territorial muito pequena, né?
L
 Ah, é. É o que você sente na Europa também, você sente que cada metro quadrado é aproveitado em todo o seu potencial turístico em be... mesmo de produtividade, né?
D
 (inint.) de produtividade, em que regiões (inint.)
L
 Não, eu vi na parte, na parte agrícola, eu vi na Europa só a parte de Holanda, Bélgica, né, pastagem, criação de, de gado, na, na Suíça vi a parte ainda de carneiros, né, sempre, sempre pastagens.
D
 Como se caracterizam (inint.)
L
 As pastagens?
D
 Sim, né, de um modo geral assim as atividades econômicas?
L
 Eu vi, vi de ônibus, né, de janela de ônibus (riso) mesmo, de janela de ônibus o que a gente vê, assim muita plantação de feno, por exemplo, uma coisa interessante a gente não vê no Brasil, né, a plantação do feno, a cor do feno seco, né, aquele feno amarelo, a maneira deles cortarem, completamente diferente, deles amontoarem, então eles fazem grupamentos, né, às vezes desenhando, às vezes fazendo blocos, às vezes, eh, fazendo quase que bonecos, né, fazendo assim umas, um tipo oca, né, em cada região que você passa você sente eles armazenarem o, o feno de uma maneira diferente. Então isso, isso em termos de terreno pra mim foi uma coisa assim muito, muito ... A gente só vê em cinema, né, naquele tipo de paisagem de feno amarela. E, e girassol também, por exemplo, na Espanha no caminho de Toledo, você vê plantação de girassol, assim quilômetros de plantação de girassóis.
D
 A Espanha parece também ser bastante também heterogênea, não é?
L
 Eu vi, vi pouca coisa, vi no caminho de Toledo, você vê essas parte assim plana, né, com plan... com lavoura mesmo, de subsistência.
D
 Mas é cidade é estranha, né?
L
 Ah, Tole... Toledo é. Toledo é um tipo de, de construção muito no tijolo, né, todo um (inint./sup.)
D
 (sup.) E a impressão que ela deu quando foi chegando perto da cidade, da própria (inint.) a localização dela? (sup.)
L
 (sup.) Ah, de antiga, eh, me senti assim recuado no tempo, né, a impressão que você tinha que estava vivendo aí na máquina do tempo voltando pra trás, né, aquelas ruazinhas estreitas, íngremes, né, aquelas construções apertadinhas e sempre su... e sempre subindo, sempre subindo, né?
D
 Ah, é!
L
 O tipo de ... É, Toledo é aquela, essa, é toda em ladeiras, né? Se você, de repente naqueles edifícios, aqueles tesouros de arte, né, que você encontra com freqüência numa coisa que você pensa que está caindo, que não existe nada ali dentro, entra por um labirintozinho, lá dentro você encontra, eh, pinturas as mais, eh, vamos dizer, mais belas, né? Isso é muito, muito estranho em Toledo, agora Madri não, Madri tem o, a, o, uma amplidão, né, tudo, eh, avenidas largas, uma idéia completamente diferente de Toledo, né? Uma coisa! E essa plantação de girassóis foi uma das coisas que, mais impressionantes que eu vi, nunca podia imaginar você passar quilômetros de girassóis floridos, coisa linda, linda, linda, né, as coisas mais belas.
D
 A senhora falou das cataratas européias que são tímidas.
L
 Tímidas. (riso)
D
 Podia, Iguaçu, por exemplo, podia descrever?
L
 Não, Iguaçu eu conheço de fotografia, eu não fui a Iguaçu não.
D
 Não foi lá não, né?
L
 Mas já vi algumas assim essas no caminho de Minas, mesmo aqui no estado do Rio uma, parece que no Paraíba, uma grande que tem na fronteira, não sei qual é o nome, salto ... No Paraíba fronteira do estado do Rio com Minas e Espírito Santo, uma daquelas cataratas, aquilo ali perto das do Reno não tem muita ... Eu conheço, a gente conhece de cinema, né, de cinema, de fotografia as do Iguaçu, eu não tenho assim, eu pelo menos pra mim não vi assim diferença em termos de se tornar uma atração turística do, da fama das cataratas do Reno, né?
D
 Em termos de cidade do Rio de Janeiro, não é, eh, algumas cidades como o Rio de Janeiro, eh, o aspecto físico do Rio de Janeiro, como ela era há algum tempo, como ela está agora, a maneira como o homem está, está vivendo aqui dentro. A Tijuca mesmo, né, eh, a própria Tijuca. No passado a Tijuca era um, era outra coisa, né? (sup.)
L
 (sup.) Eu sei. Hum, hum. Era outro sossego, né? É, eu acho o Rio de Janeiro, eu acho uma autodestruição, né, como, como viver, né, a gente caminha pra viver cada vez pior, eu acho que fazendo o Rio perder o que ele tem, eh, de maravilhoso como possibilidades de vida, né? Você tem uma região como a Barra da Tijuca, de repente ter edifícios de vinte andares isso é que eu acho que no Rio tudo que houve de, de negativo em Copacabana desde o início do século sem, sem os conhecimentos hoje em dia que se tem de urbanismo, se repete de certo modo no, na, nos últimos redutos que o homem tem no, no Rio de Janeiro de, de liberdade, de espaço, tão poucos atualmente, né? Eu, eu sinto isso.
D
 A Tijuca como era, como era (sup.)
L
 (sup.) Ó, há quinze anos, quando eu mudei pra cá nesses dois quarteirões, eu creio que da José Higino até aqui não existia um edifício, eu vi construir esses edifícios todos em torno aqui e foram construídos nesses quinze anos.
D
 E as ruas?
L
 A Conde de Bonfim se alargou muito.
D
 Essas transversais.
L
 Essas transversais ainda não estão assim muito atingidas, né? Aqui, eh, essas mais perto, Itacuruçá agora é que estão virando, de repente viraram luto (sic), ruas de alto luxo, né, apartamentos de luxo e tal, mas eu acho que a cidade está perdendo, né? Eu acho que ela tem muito espaço ainda em zona rural, zona suburbana, mas como você não tem acesso então você concentra. Não, não creio que isso fosse uma, verdadeiramente uma, uma necessidade, né, muito mais um comodismo de viver perto do, de certos centros.
D
 Vendo o Rio de Janeiro por cima de avião como é que a senhora descreveria o aspecto físico da cidade?
L
 Eu acho, do ponto de vista vamos di... de montanhas, topográfico, eu acho ainda belíssimo, né, a gente, o avião vai chegando aquela, eh, aquela imagem da baía de Guanabara, das montanhas da Tijuca, tudo isso, acho aquilo tudo muito, muito bonito realmente, mas a impressão já, quer dizer, eu cheguei há vinte anos atrás de avião e agora da última vez que cheguei a, a parte dos edifícios, as construções, principalmente naquela região da Gávea, aquelas encostas por ali já assim muito, muito feia, uma idéia assim de, de desarrumado, de, uma idéia de agressão quase à própria paisagem, né, aqueles aterros, né, o contorno da baía que você já sente diferente, as enseadas, acho que nesses vinte anos uma diferença grande.
D
 E Cabo Frio parece (inint./sup.)
L
 (sup.) Cabo Frio? Está indo, está indo pelo mesmo caminho Cabo Frio.
D
 Cabo Frio como é especificamente?
L
 Cabo Frio é um cabo, (riso) é aquela, é aquele, cidadezinha cercada de praia por todos os lados, né? Eu acho plano, é bem plano, uma parte alagadiça assim em torno da lagoa, na saída da lagoa de Ara... Araruama, era muito lindo, agora está sendo aterrado também violentamente agredida pela urbanização, Sérgio Dourado de Cabo Frio, né, aterraram o canal.
D
 Ah, é? Que chato!
L
 Ó, Marinas do Canal é um aterro de areia dentro do canal de saída de, da lagoa de Araruama. No centro de Cabo Frio o canal se estreitou e virou um loteamento.
D
 E as praias (inint./sup.)
L
 (sup.) Ah, as praias são belíssimas, eu acho que são as mais bonitas do Brasil. (riso) Falta é um Dorival Caymmi pra cantar as praias de Cabo Frio! (risos)
D
 A senhora conheceu as praias do Uruguai? Ih, pois é (sup.)
L
 (sup.) Ah, no meu gosto muito feias ... E mesmo da Bahia, eu acho que as praias da Bahia são bonitas sentimentalmente, né? Tudo que a gente assim gosta das praias da Bahia é através do Dorival Caymmi, quer dizer, eu acho que Cabo Frio ainda não teve o seu, o seu poeta, o seu músico que cantar as praias de Cabo Frio não, no meu gosto, né, não tem nem comparação com praias da Bahia, sem desfazer aí do nordestino, né?
D
 Amazonense.
L
 Amazonense, então é nortista. (risos)
D
 Com relação ao mar por exemplo, aqui no Rio de Janeiro, em Cabo Frio que a senhora gosta tanto, Salvador, a senhora sente diferença? O comportamento do mar, por exemplo.
L
 Eu, em Salvador, eu, eu vi uma coisa que eu não conhecia assim em termos de mar, parte dos recifes, por exemplo, que eram uma imagem que eu não tinha, eh, no Rio de Janeiro, nem pro sul, né? Você vê por exemplo a praia de Ilhéus, de Porto Seguro, você vê recifes assim ... Eu, eu só conhecia de livro de história, naufrágio (inint.) nos recifes e tal, não tinha a menor idéia do que fosse isso, foi assim uma imagem pra mim diferente, né, e atraente, eu achei muito bonito assim Salvador ver aquelas praias, eh, aquelas pedras entrando muito próximas a, ao litoral, aquelas fileiras de pedra. Porto Seguro, por exemplo, parece até um, um dique, a, a fileira de, de pedras próximas ao litoral, paralelo, certinho, parecendo até construção do homem, no entanto é natural, né, por isso é um porto seguro, né? Eu achei isso muito diferente, uma, do que a gente conhece aqui do Rio pra baixo e atraente porque aquilo faz toda a parte de arrebentação de ondas, dá uma característica muito diferente dum tipo de praia como Cabo Frio, como Ipanema que você tem uma, uma arrebentação normal, espontânea na areia, vamos dizer assim, não aquela que bate no recife depois bate outra vez então você vai tendo sempre uma modificação, eu acho isso uma coisa muito bonita pra quem gosta de mar, né, e diferente.
D
 (inint.)
L
 Ah, eu gosto, eu acho que uma, uma das grandes coisas que existe no mundo (risos) é o, é o mar.
D
 Mas (inint.) nessas regiões de municípios a coisa parece mudar, né?
L
 Como, em termos de sertão baiano? Aquilo ali eu acho que é ...
D
 A senhora conheceu essa região?
L
 Sertão? Conheci ...
D
 Como é?
L
 Jequié, Feira de Santana, uma tristeza, né? Sertão baiano a parte que a gente corta de ônibus eu acho que dá pena, né? Impressão assim de abandono, de secura, de, de falta de recursos, né, cacaueiros muito esparsos, muito sofridos, né?
D
 (inint.) o terreno (inint.)
L
 (ruído) É est... uma parte que eu passei, isso eu não sei bem, são aquelas estradas que saíam da principal, o turismo eles sempre procuram atalhos.
D
 (inint.) e eles (inint.)
L
 Não, eles procuram, saem da entrada principal pra gente conhecer determinadas coisas, uma, uma cidadezinha ou uma determinada atração. Mas essa parte assim é, é chapadão, né?
D
 É.
L
 Uma parte plana, uma vegetação horrorosa, triste, queimada, né? Você vê queimada por tudo quanto é canto, né? Eu acho assim deprimente como, como paisagem, né?
D
 E quando, quanto à parte vegetal (inint.)
L
 A parte que eu vi, vê-se muito floresta destruída, né?
D
 Ah, é?
L
 (inint.) tinha muita queimada, com madeira, né, pra tirada de madeira, carvão, aquelas, não me lembro como é que chama, aquela, que eles fazem pra fazer carvão, né? Fazem uma, um amontoado de barro, né, tipo uma casinhola de, um tipo forno, né?
D
 Ah, é?
L
 Onde queima o carvão e ali você vê, então você vê muito essa parte de mata destruída, você vê parte de cacau, foi o que eu vi, né? Milho, uma coisa assim dessa parte de subsistência, você vê bastante plantação, mas uma plantação assim pobre, né? Muito diferente das plantações do sul, você vê plantação no Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, você dá impressão de riqueza, de, de, vamos dizer, de fertilidade, de, de povo bem, bem alimentado, né? A impressão que você tem no sertão é realmente de miséria, né? O próprio tipo de vegetação sugere isso (sup.)
D
 (sup.) Mas o (sup.)
L
 (sup.) Pode ser que não seja, mas a vegetação já sugere todo essa (sup.)
D
 (sup.) Mas essa parte do sul do Brasil sofre muito com, com ...
L
 Geadas, né?
D
 É. Problemas ...
L
 É, mas em termos de aparência, não sei, do ponto de vista econômico a geada realmente deve prejudicar muito e talvez tanto quanto a seca em certos, em certos épocas, né? Não sei até que ponto economicamente o que que é pior se é a geada, se é a seca, mas de modo geral, como há mais dinheiro no sul, a circulação deve, o movimento econômico deve realmente compensar mais rapidamente o prejuízo de uma geada do que de uma seca no, no norte.
D
 (inint.) tem também como, como em alguns lugares do mundo, né (inint.)
L
 A Itália agora, né, esse ...
D
 Que houve?
L
 Itália foi terremoto, né?
D
 Ah, é?
L
 Terremoto (inint.)
D
 Por quê?
L
 O porquê, essa geograf... (riso)
D
 Não, não, porque eu não sabia.
L
 Ué, terremotos na Itália, coisas de uns, acho que uns dois meses mais ou menos.
D
 Ah, aquele, ah, sim, pensei que fosse um novo.
L
 Novo, não. Tem uns dois meses, eu não me lembro bem.
D
 (inint.) quando eu vinha pra cá ouvi (inint.) na rádio Nacional.
L
 Agora outra vez?
D
 É, mas não sei o que que foi (inint.)
L
 É, teve aí, não sei, também teve um vulcão, qual foi o vulcão que andou aí também, tem uns dois meses ou três meses, teve aí um vulcão em movimentos, eu não me lembro mais aí também (inint.)
D
 Na Itália a senhora chegou a ver alguma vulcão? Porque em geral as pessoas quando viajam pra Itália (sup.)
L
 (sup.) Vi de longe o Vesúvio, né?
D
 Mas não chegou ... Porque eles exploram turisticamente, né?
L
 É, não, não tive tempo não. Eu preferi ir à parte de sul, ver, eh, Capri, Sorrento, me atraía mais do que chegar perto do vulcão, lá tem uns passeios, umas excursões eles fazem aqueles teleféricos, aquelas, subida, né?
D
 Não, porque aí eu queria saber, eh, que sensação a pessoa tem, que impressão que tem de descer (inint.)
L
 Aquela montanha, não, eu não fui não. É problema de, turista (sup.)
D
 (sup.) Em Capri não há umas coisas fantásticas no mar que a pessoa (sup.)
L
 (sup.) Uma, uma gruta que você ... É, em Capri você passa, você pega uma, um tipo barca, né, tipo barca da Cantareira, só que tem um nível melhorzinho, aí passa pruma lancha, da lancha você passa prum bote. Então você entra na gruta azul em Capri num bote puxado por uma corda, né, quando você vai entrar na gruta você tem que deitar no, no, no fundo do bote pra poder chegar no interior da gruta, senão bate com a cabeça porque a maré sobe.
D
 Como é o teto?
L
 É rocha, né? Um teto realmente rochoso e é um reflexo na água, né?
D
 Dá a coloração.
L
 Olha, cada lá, os barqueiros cada um conta uma história, uns que é de cima o reflexo, outro diz que é do fundo de, do terreno no fundo da gruta, agora qual é a verdade eu não sei, eles, lá os barqueiros contam. Mas realmente é emocionante é a mudança de meios de, voc^e é obrigada a fazer. Você chega de ônibus até um certo ponto, depois para o barco (sup.)
D
 (sup.) Ah, é assim? (sup.)
L
 (sup.) É, é, antes você pega três, só marítimos são três, você passa de barco pra lancha e pra bote. O barqueiro mesmo, você tem que pular dentro do bote, no meio da, das ondas, né? E de repente eles interrompem conforme a maré sobe um pouquinho mais, eles impedem a entrada na gruta, senão você fica preso, não pode sair.
D
 A senhora teve chance de, de, na, na Europa conhecer aqueles lugares, eh, onde eles preservam desenhos da, da pré-história?
L
 Não, não, o que eu vi assim de antigüidade eu vi no museu de Londres, só foi a única chance que eu tive de ver, mas os outros países não vi não, só assim esses museus famosos, né? Viena, o principal museu, o Louvre eu praticamente não tive chance porque tinha tanto turista, que era uma multidão de turistas dentro do museu e nós não conseguimos nem ver os quadros, nós desistimos, mas em Londres eu escolhi parte de Egito, na parte de assírios, o que eu pude ver mais assim de antigo, né, eu vi em Londres. Foi o que me agradou.
D
 Londres é uma cidade bastante característica também, não é?
L
 É. Eu achei (sup.)
D
 (sup.) Tem toda uma simbologia em torno de Londres (sup.)
L
 (sup.) Eu achei Londres assim em termos de construção, monumental, né? A impressão que me dá Londres, eh, edifícios monumentais, antigos, avenidas monumentais e, mas uma sensação assim de parada no tempo, mas paralelamente a isso eu vi coisas, por exemplo, que eu nunca imaginei ver em Londres. Você vê gerânios e rosas por toda parte, no verão, né? Diga-se de passagem que eu vi Londres num mês de julho de verão excepcional, como há vinte anos não fazia sol, vi sol.
D
 Em Londres, é (inint.)
L
 Vi sol mesmo em Londres, rosas no caminho, você (sup.)
D
 (sup.) Se fosse no inverno, né? (sup.)
L
 (sup.) Exato, mas ...
D
 Havia (inint./sup.)
L
 (sup.) Havia e realmente foi a coisa mais impressionante foi sair aqui do Brasil no inverno esperando chegar naquele nublado, 'fogs' e naquelas coisas que sempre se ouve falar em Londres, chegamos lá com um sol maravilhoso e um aeroporto daquele assim moderníssimo, né? E caminho de rosas do aeroporto até o centro de Londres, você passando naquelas casas todas com aqueles jardins, rosas, rosas, rosas, tudo quanto, flores, eu nunca imaginei Londres tão verde e tão florido, né?
D
 Tem a impressão de cidade cinzenta, né? (sup.)
L
 (sup.) Exato, idéia (sup.)
D
 (sup.) De história de terror (sup.)
L
 (sup.) Exato, exato, imaginava Londres (inint.) e cinza, eu vi Londres verde e colorida, um verde em cada esquina.
D
 É como Paris, né? Em Madri a senhora esteve no verão em julho. Observou alguma coisa, eh, eh, no comportamento das pessoas durante o dia, a duração do dia?
L
 Ah, aquilo é gozadíssimo, né? Da parada pro almoço às três horas depois volta às cinco, né, a parada na hora do calor de três às cinco.
D
 (sup./inint.) cidade dorme (inint./sup.)
L
 (sup.) Pára a cidade inteira vai até nove horas da noite, você janta nove, dez horas, né? A vida em Madri é muito, os horários muito diferentes, né? Tem o calor.
D
 E mesmo, por exemplo, eh, o fim da tarde, o começo da noite também não, não, não é como o Brasil, por exemplo, né? Não.
L
 Não, essa idéia nove horas da noite as pessoas estarem começando a procurar um restaurante pra jantar, aquilo é diferente, né, a maneira de acabar o dia deles, né? Aquele passeio ali naquelas avenidas principais todo mundo na rua e o horário, eu peguei quarenta e dois graus, o calor em Madri é um negócio terrível, terrível, terrível o calor em Madri, sufocante, né? Realmente a gente entende por que que eles param de três às cinco, não há quem agüente trabalhar e fazer nada com um calor desse. Realmente a noite é belíssima você acaba tendo que aproveitar é a noite porque o dia não dá, né? A diferença de hábito de vida. Em Londres, por exemplo, você pra ir a um teatro é oito horas da noite, você demorou um pouquinho à moda brasileira batendo um papo no jantar, você perde tudo quanto é sessão de cinema, teatro, balé porque é tudo às oito horas. A vida noturna não existe, dez horas da noite você é um estranho se tiver rodando pela rua dez, dez e tanto, a cidade já está toda dormindo, isso é muito, muito diferente, né? Mas na Itália, o pessoal entra pela noite à, à brasileira, né?
D
 E, eh, dentro, dentro da cidade, por exemplo, em Londres como é que a senhora fazia pra se locomover?
L
 Principalmente a pé, né? Pra não se perder a gente andava muito a pé, andamos de metrô, pouco que, eh, a primeira cidade que nós vimos metrô foi Londres, então a gente tinha um certo receio de andar em metrô, né?
D
 Qual foi a, a impressão?
L
 Ah, muito boa, muito boa, excelente, né? Uma coisa assim ... Tudo em Londres a impressão que dá que tudo é muito eficiente, o metrô como os demais meios de transporte, né, os ônibus, eh, contam direitinho quanto pessoas podem entrar, não entra excesso de lotação não, tudo certo, tudo funciona a tempo e a hora, uma precisão muito grande, os táxis, aquela hora tem táxi, a partir daquela hora não tem táxi e é uma cidade muito, muito certinha, né? E é uma impressão, você conversando assim com o povo o que eles sentem realmente a necessidade do inglês não ser tão certinho, né, ser menos formal, aproveitar melhor as coisas e o que eles apreciavam muito no grupo de brasileiros é que vocês é que sabem viver, né? A gente está aqui muito no relógio, muito nas coisas precisas, muito tem que ser, muito nas normas. Isso eu tenho impressão do que eu vi na Europa foi o povo realmente certinho, quadradinho, com o desejo de não ser, né, a quantidade que você vê de 'hippies' em Londres é impressionante, né, a juventude com tudo aquilo que não é o quadrado, que não é o certinho, você encontra, né?
D
 Voltando pro Brasil, a senhora já foi alguma vez pela, pra parte norte, pro extremo norte?
L
 Não. Conheci até a Bahia e Brasília. Amazonas, a parte lá, eu digo norte mesmo o Pará, Amazonas, Acre eu não conheço não.
D
 Não. Isso aí é outro tipo, né?
L
 Brasília, eu conheci Brasília antes da, da fundação.
D
 Ah, é? (sup.)
L
 (sup.) Um ano antes da fundação, depois eu não voltei mais (sup.)
D
 (sup.) Como era antes da fundação? (sup.)
L
 (sup.) Ah, barro, barro, barro, barro, barro. Conhe... conheci, estavam traçadas as grandes avenidas, eh, os principais edifícios públicos e poucos edifícios ainda residenciais, não estava urbanizado em torno do lago, então era só aquelas, eh ...
D
 O lago é especial, né, aquele lago (inint./sup.)
L
 (sup.) É, o lago estava feito, né, ele já estava feito, é já estava feito o lago, mas não estava urbanizado, né? Atualmente há bairros, balneários, clubes, naquela época não havia e a impressão que se tinha é aquele imenso planalto de barro, né? Você saía de uma esquina à outra (sup.)
D
 (sup.) Clima (inint.) lá o clima de Brasília?
L
 Seco, né? Uma sensação, a noite fria, na época que eu estive, né, não sei o resto do ano, eu estive em janeiro, mas a, a impressão de Brasília naquela época de imensidão, aquela, aquele plano a perder de vista, né, no, só, só havia os edifícios públicos.
D
 (inint.) os habitantes da Brasília, como é que eles têm que fazer (inint.)
L
 Eu acredito que quem tem dinheiro gasta muito táxi, ônibus, eu, mas eu não sei, o sistema metrô que eu saiba não existe, nem, nem em pensamento, né, eu acho que deve ser difícil a locomoção naquela região pela grande distância, né? E se for carro particular deve gastar muita gasolina porque tudo tão longe, tão distante, né?
D
 São Paulo?
L
 Ah, São Paulo, São Paulo pra passar, pra passar (sup.)
D
 (sup.) Já foi muitas vezes a São Paulo? (sup.)
L
 (sup.) Pra ficar eu não gosto.
D
 Pra passar é bom, por quê?
L
 N~ao sei, enfim, porque você tem um recurso, né, no sentido de que é uma cidade em que tem de tudo, tem todos os recursos modernos em termos de diversão, de cinema, de cultura, de museus, instalações, de hotéis. Agora assim como, como tipo de vida, né?
D
 (inint.) e o paulista?
L
 Muito enjoado.
D
 Parece que a diversão em São Paulo é toda, é toda uma diversão fabricada, né?
L
 Exato.
D
 O homem faz, pra, pra sobreviver, enquanto que no Rio de Janeiro não, você pode (sup.)
L
 (sup.) No Rio você tem, tem praia, né, tem a praia, tem os parques, né, acho a diversão de São Paulo é ir a Santos e voltar, né?
D
 Conhece Santos?
L
 A gente vai passar ali a via Anchieta, vai e volta acabou o fim de semana. (riso)
D
 Como é essa, essa viagem de São Paulo a Santos (sup./inint.)
L
 (sup.) É uma serra, né? Uma ser... serra bonita, mas já muito, muito fabricada também em termos de, de viadutos e a estrada já toda, uma paisagem toda modificada, né? Eu acho tem, tem a sua beleza, mas já, eh, cansa um pouco, né? Não sei, a gente que vive em cidade, eu prefiro realmente quando a gente encontra alguma coisa em termos de paisagem menos trabalhada pelo homem, ainda é mais agradável, né? O caminho, por exemplo, que eu fiz de, de Curitiba a Paranaguá você, embora seja aquela estrada pela serra, aqueles, eh, de uma estrada difícil, né, mas é mais bonito porque você ainda sente mais natureza, né? Agora ...
D
 É no Paraná que tem aquela, existe aquela cidade, onde existe aquela cidade, eh, como é, como é que chama aquilo, uma cidade que é antiga (inint./sup.) não é propriamente uma cidade (sup./inint.)
L
 De pedra, né? Aquelas pedras.
D
 É. A senhora chegou a ir lá?
L
 Não, não, eu não fui, eu conheci o Paraná mais a parte próxima do litoral, de Curitiba pro litoral, né, aquela região se vai mais quando se vai a Foz de Iguaçu, aí está mais próxima, é Ponta Grossa, né? Parece, é, eu acho que é Ponta Grossa, eu não, nesse lado eu não conheço não, que eu fiz de ônibus, voltei de Montevidéu, Porto Alegre, Porto Alegre, Curitiba e de ônibus só vim conhecendo mais o lado mais próximo ao litoral.
D
 Aqui no Rio a senhora já teve chande de, de, de ir a, de conhecer as ilhas que estão na (sup.)
L
 (sup.) De Paquetá? (sup.)
D
 (sup.) Aqui na baía? É, é.
L
 Eu conheço Paquetá. Paquetá e Governador, que pra gente nem é ilha, né (inint.) não se imagina em ilha, né, mas Paquetá, eu gosto muito de passeio de barco, acho que vale pelo passeio, você ir a Paquetá, voltar e o encanto da ilha, né, acho que apesar de tudo que, de óleos e a poluição de praias (sup.)
D
 (sup.) Existem certas, certas coisas típicas em Paquetá, né? (sup.)
L
 (sup./inint.) que a gente ainda gosta daquelas prainhas e Pedra da Moreninha. E eu acho assim um lugar em si gostoso, né, aconchegante, ainda muito poético, né?
D
 (inint.) detalhezinho ainda (sup./inint./ circunstante indaga as horas e um dos documentadores responde à parte)
L
 (sup.) Eu acho aquele tipo de praia, né, sempre cercadinho de pedra (sup.)
D
 (sup.) Não, a ci... a cidade, quer dizer (sup.)
L
 (sup.) De manter só casas sem edifícios, as ruazinhas estreitas ainda, aquelas construções (sup.)
D
 (sup.) E lá dentro? Como é que as pessoas fazem pra, pra (sup.)
L
 (sup.) Ah, só de não haver o carro, (riso) de não haver o carro, né? Mas eu, quando eu fui eu tive carro, pra professora tem o carro, tem a caminhonete do estado, né, que carrega, que polui a ilha, é o, a caminhonete do estado que leva, o jipe, a caminhonete do estado, é charrete, né, que você ... Charrete é muito gostoso o passeio de charrete pela ilha, é gostoso.
D
 É bem típico.
L
 É bem típico, é gozadíssimo você, por exemplo, você encontra charrete em Paquetá, mas você encontra em Roma charrete, né, essa charrete como há em Petrópolis, você tem estacionado assim. (riso)
D
 (inint.)
L
 Aquele gênero de Petrópolis, aquele tipo colonial, né, de dois bancos, é uma coisa que você nem, nem passa pela cabeça que você vai encontrar cavalos no centro de Roma e charrete, né?
D
 Petrópolis é uma cidade também que sofreu bastante, né, com, com, num determinado tipo de, de evolução. Quer dizer, pessoas que, que costumam ir a Petrópolis e sempre vão, há muitos anos vão, hoje em dia reclamam da cidade.
L
 Mais edifícios. Eu acho que Petrópolis está, eh, tipo assim bairro do Rio atualmente, né? Você tem o mesmo tipo de, de paisagem quase, grandes edifícios, trânsito intenso, eh, perigoso, o mesmo tipo de diversão, o mesmo tipo de restaurante, né, mesmas exigências sociais praticamente, né, eu acho que Petrópolis ainda, só tem, eh, vamos dizer, o encanto primitivo de, de veraneio fora daquele centro, né? O centro eu acho que já é (sup.)
D
 (sup.) Tem o clima também, né? (sup.)
L
 (sup.) E o clima que você vai lá pra respirar o ar, o ar da montanha e volta pro Rio porque você já não vê quase, né, em termos assim de (inint./sup.)
D
 (sup.) Esse sítio que a, que a senhora tem, eh, onde é mesmo?
L
 É em Pati do Alferes.
D
 Pati do Alferes. Como é Pati do Alferes?
L
 Ah, Pati do Alferes ainda é roça mesmo, né? É, é, é tipo ainda bem, bem atrasado.
D
 Como é o sítio? O que é que tem lá?
L
 O sítio é, é pequeno. Ele tem o rio, todo sítio que se preza tem um riozinho, tem um bambuzal, a casa assim no, no fim do terreno, as plantações de cana, as fruteiras, um jardim pequeno, mas aquela zona ainda é muito, vamos dizer, em termos assim de construção turística, é muito atrasada ainda. Tem produção, sustenta aqui o Rio de Janeiro de tomate, de repolho (inint.) é um dos grandes centros tomateiros é Pati do Alferes, ainda tem muita lavoura, né, aqueles grandes latifúndios ainda abandonados ou em pequenas lavouras e uma cidadezinha ainda muito, muito coronel, a igreja, a farmácia, meia dúzia de armazéns e só, né?
D
 Por falar em (inint.) a senhora conhece ... Como é o nome daquela cidade lindíssima que também é assim. Ô, meu Deus, todo mundo quer ir pra lá agora, proibiram o trânsito pro bem da cidade?
L
 Parati?
D
 É.
L
 Não, não conheço aquele lado, não conheço não, só de fotografia assim (inint.)
D
 Veneza deve ser uma cidade de beleza bastante singular (inint.)
L
 Ah, Veneza é linda de morrer! (sup.)
D
 (sup.) A senhora já esteve lá? Lá é tudo diferente, é?
L
 Ih, porque é um impacto, né? Eu, a gente vê, conhece de fotografia, de cinema, mas não imagina que seja assim uma coisa tão, tão encantadora, né? Diferente, aqueles canais, não pode aprofundar outros sentidos porque são tremendamente fedorentos, cheios de lixo (risos) mas combina (sup.)
D
 (sup.) Mas dá pra circular ainda na cidade? (sup.)
L
 (sup.) Você anda no pé mesmo, a gândola (sic), a gôndola é só pra passear, né?
D
 Ah, é!
L
 É só pra andar de gôndola, mas não como meio de transporte, isso é só de cinema. Na prática todo mundo anda a pé, você, eh, corta a cidade de Veneza toda a pé.
D
 (inint.) é pequena?
L
 É. E muito o que chama a, a Veneza dos canais, que há uma parte já continental que tem outro tipo de vida, né? Mas o que a gente identifica no mundo inteiro como Veneza dos canais você anda a pé e an... e roda a cidade inclusive num dia você roda várias vezes, a gon... a gôndola você usa pra passear à noite (inint.) o romântico de Veneza, mas como meio de transporte não, não é um meio de transporte. Você, se você quer realmente conhecer Veneza, você tem andar a pé. A praça de São Marcos não tem nem sentido você usar qualquer outro tipo de transporte porque o, a gôndola te, eh, leva só no Grande Canal e faz pequenas entradinhas, se você ficar de gôndola você não conhece, né, o essencial é realmente andar a pé e, ou fazer de uma ilha pra outra travessias de lancha, coisa também que eu não imaginava que houvesse tantas ilhas, com tantas atrações próximas, né? Você se desloca, tem verdadeiros, eh, cruzeiro pelas ilhas próximas a Veneza, você vai, a lancha é como fosse um ônibus, né, a lancha paradora, você vai a tantos cruzeiros, tantas mini-ilhas até a ilha tal, depois se você espera a próxima lancha vai pra outra ilha, vai pra outra ilha. Quando você vai correndo aquela região, lanchinhas. A gôndola é da poesia só.
D
 A senhora foi pra Europa de avião.
L
 Fui.
D
 A viagem foi tranqüila? Não houve nenhum problema na viagem?
L
 Não (inint.)
D
 Alguma vez teve uma experiência dessa?
L
 Negativa de avião.
D
 É.
L
 Não, eu não aprecio muito avião não, é só por extrema necessidade de tempo, né? Podendo não usar avião prefiro não usar, não usar não.
D
 De navio, a senhora já viajou?
L
 Não, eu não. Gostaria de viajar, mas não ... Sempre a gente sai com pouco tempo acaba usando o avião. Quando fui pra Europa gostaria de ter ido de navio, mas férias de trinta dias se você não, vai de navio perde muito, né?
D
 (inint.)
L
 É exato. Não tem chance. A gente fica no, no avião mesmo. E tem, o avião tem suas, suas vantagens assim de, de você realmente ter uma visão daonde você chega, você ver a Inglaterra por exemplo, como nós vimos, você chegar a idéia, a paisagem na Inglaterra vista do avião é muito engraçado, né, você, parece uma caixa de, de caramelo, você vê tudo divididinho, aquelas, as pastagens, a parte toda, eh, de agricultura, aquilo tudo tão certinho, as, as estradas, as cores, então parece mesmo que é feito colagens, recortes e colagens, é a visão que você tem do avião da parte toda pastoril, né? Depois vai chegando nos cen... nos grandes centros também você vai mudando, nesse sentido é bom a viagem de avião que você tem uma visão global assim.
D
 Daonde a senhora partiu?
L
 Aqui do Rio.
D
 Não a, em, na Europa foi direto pra Londres?
L
 Fui direto. Foi Rio, Londres, Londres, Paris, depois fizemos de, de ônibus tudo, depois pegamos um avião pra voltar.
D
 A viagem de Londres pra Paris?
L
 De avião também. Também.
D
 Fizeram durante o dia?
L
 Durante o dia, uma hora.
D
 Deu pra ...
D
 A senhora não falou de Paris.
D
 É.
L
 Ah, Paris é, é a curtição. Eu tive assim Paris um fim de semana, sábado, domingo e catorze de julho, né? Então eu vi um Pa... Paris assim pouco diferente sem a, sem o povo mesmo, sem a vida comum, né? Muito turista e catorze de julho realmente foi uma coisa assim emocionante ver o, o, o povo em termos de parada, né? Pelo pessoal operário, classe média parisiense eu não conheci, porque estava toda fazendo um fim de semana esticado, né, três dias assim você não via, você via nas ruas turista e realmente a parte operária, a parte mais, mais humilde da população, um catorze de julho com as crianças todo mundo com crianças nos ombros assistindo a parada, aquela vibração nas ruas quando chega o presidente, cantando, né, um sentido assim cívico muito diferente do, do brasileiro, né, numa data nacional. À noite nós vimos os bailes públicos, nos jardins, todo mundo dançando, eh, as orquestras tocando, não 'e só a parte, vamos dizer, do governo, né, de fogos de artifício, essas festas oficiais, mas o próprio povo vivendo, eh, aquela data, né? Então nos jardins a orquestra tocando, nas Tulleries você já encontrava bailes públicos e em volta, eh, pipoqueiro, cachorro-quente, aquela coisa bem popular, né, o pessoal na rua e muito soldado, fuzileiro. A impressão que a gente tem que é os dias de folga das forças armadas e dançando vários tipos, né, não só o tipo de música univer... universal e roques, etc. mas lá as, as músicas francesas também, uma espontaneidade, coisa de baile público, coisa que eu não conhecia aqui no Brasil, né, como se fosse um baile na Quinta da Boa Vista, um tira o outro, chama do outro lado no lago, né, vão dançar, vão pro meio do, dos tablados que eles põem nos jardins, um tipo de comemoração que a gente não imagina numa festa nacional, né? Isso pra mim foi uma impressão muito boa. E o outro lado o, a imensidão assim de, de Paris, o traçado, né, é uma coisa também que chama, chama a atenção, né (inint.)
D
 Os locais assim que a senhora conheceu?
L
 Eu conheci de, o Louvre, esses lugares turísticos, que eu fui com tão pouco tempo que eu só vi mesmo as coisas principais, né? Bois de Boulogne, muito bonito!
D
 Que impressão a senhora teve?
L
 Ah, muito gostoso. Aquele tipo de local em que você sente assim ainda aquele, aqueles, aquele carinho que eles têm de guardar um pouco da natureza, né, um tipo assim Alto da Boa Vista, Quinta da Boa Vista, mas, mas tão cuidadinho, tão caprichado, com cada cantinho com seu canteiro de flores respeitado, né, o povo respeitando muito aquilo, né? As árvores seculares, coisas que a gente também só vê em cinema, né, beleza de árvores em torno do lago, dos rios, né, muito bonito mesmo. Eu estive na, em Versailles, a parte do castelo também que é ...
D
 Que tal?
L
 Beleza, né? Beleza e aí outros sentidos. Pra mim a gente, eu sentia muito assim muito história, né? Você entra num tipo de palácio desses, eu gosto muito de história, eu acabava vendo Maria Antonieta por ali (risos) e a impressáo que você tem toda uma, toda uma, uma vida, né, da história universal que você só conhece de livros e você começa a sentir a vida naqueles salões, naqueles objetos todos que eles expõem, tem coisas muito (sup.)
D
 (sup.) A senhora visitou muitos pontos turísticos ainda em Paris?
L
 Em Fran... em Paris? Versailles é fora, n'e? Em Paris mesmo, ham, nós saímos muito a pé à noite, de correr o Sena, de ficar andando a pé às margens do Sena, pegar o Bateau Mouche passear no Sena, né, eu fiz muito paseio de andar a pé Paris, né, conhecer Paris andando. Quartier Latin você anda, anda, anda, pára, come naqueles bares mais estranhos possíveis, né, cosmopolitas totalmente, né, é um árabe junto de um restaurante grego, de um italiano, eu não sei, uma salada de, de gentes, de, de comida, de costumes, impressionante, né? Cada um está cuidando de si e está pouco ligando pro outro que está ao lado por mais estranho que seja, você se sente bem por isso, que nin... ningém está tomando conta de você, nem pensando no que você está fazendo, né? Eu achei uma das coisas mais interessantes em Paris como vida é isso.
D
 E a torre? Como ela é?
L
 A Torre Eiffel! É, eu achei, eh, eh, no sentido muito de, vamos dizer, de, de força humana, né, conseguir construir uma coisa daquelas. A impressão que dá é você ter toda uma visão de Paris lá do alto, né (inint.) você sente o, a visão panorâmica de Paris, ah, muito bonita, mas pra mim, eh, foi uma sensação grande de, de construção, de trabalho humano, né? Você subir no meio daquelas ferragens todas, né, um elevador que você sobe no meio de todos os ferros, né, aquela paisagem de ferros seguindo você até o alto da torre pra depois então você realmente tem uma visão belíssima, né, de Paris.
D
 Como é Paris vista daí?
L

  Depende do lado que você olha, né, do lado do Sena você tem uma idéia mais plana a perder de vista com o Sena serpenteando, esses, uma pintura impressionista bem ... Aquele sossego, aquele rio (inint.) a falta que a gente sente diferente do Rio de Janeiro que aqui você olha em tudo quanto é canto você vê montanha, você sente sempre cercado por montanhas, né? Uma cidade como Paris o que você não vê são as montanhas exatamente, você tem sempre aquela, aquela amplidão da planície, né, o perder de vista de uma planície que é o comum, você, Paris nos grandes eixos, né, naquelas grandes avenidas, você perde de vista, coisa que aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, você nunca tem pelos ondulantes do próprio relevo.