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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Terreno"

Inquérito 0347

Locutor 425
Sexo feminino, 57 anos de idade, pais cariocas
Profissão: advogada
Zona residencial: Sul e Norte

Data do registro: 24 de novembro de 1976

Duração: 50 minutos

Clique aqui e ouça a narração do texto


L
 Vou começar a, a falar talvez sobre coisas que não interessem tanto a vocês.
D
 Pra nós interessaria muito assim o aspecto de acidentes geográficos de um modo geral e depois a partir do que a senhora falasse, nós podemos explorar um aspecto ou outro a partir do que já fosse dito.
L
 Sim, agora (sup.)
D
 (sup.) A partir desse entorno que a senhora tem aqui, não é, como é que é o ... Por exemplo, a cidade do Rio de Janeiro tem toda uma situação em torno de elementos da natureza.
L
 Sim!
D
 A gente poderia começar falando sobre eles (sup.)
L
 (sup.) Pois sim! E então eu queria dizer que eu acho que o Rio de Janeiro é uma cidade privilegiada, privilegiadíssima! Ela não, ela tem uma conjuminação muito, muito rara que é de montanhas e mar (ruído). Eu, pelo menos, nunca vi em nenhuma outra cidade esta conjuminação, entendeu, de montanhas tão elevadas tão perto do mar com esse, com esse vale que permitiu a formação dessa cidade que já foi até uma cidade-estado. E eu conheço cidades e baías que são renomadas, consideradas as mais bonitas do mundo, conheço a de Nápoles, conheço a de Sorrento, entendeu? Eu conheço a ilha de Capri, conheço as ilhas gregas (sup.)
D
 (sup.) Ham, ham (sup.)
L
 (sup.) Mas acho, nunca vi, eu acho que a entrada, a chegada no Rio por mar ou pelo ar é um espetáculo único.
D
 E o que que a gente vê?
L
 Exatamente, predominantemente isso que eu estou te dizendo, as montanhas muito bonitas e complementadas pela proximidade do mar e, e das ilhas.
D
 E no caso de Nápoles?
L
 O, o, o caso de Nápoles, você, quer dizer, é uma baía menos reforçada, portanto é menos pitoresca, entende?
D
 Hum, hum.
L
 Embora a cidade seja mais turística, porque é uma cidade mais antiga, com ruas mais estreitas e mais conservadas.
D
 E tem (sup.)
L
 (sup.) Conservada a antigüidade, você sabe, você sabe, a, a, aquela, conhece a anedota do francês que veio passar um ano no Rio e que, se, se alugou um apartamento no Flamengo. E veio fazer uma pes... eh, um trabalho qualquer assim num, num, né, num ritmo mais acelerado, de modo que ele precisava de um descansos. No dia seguinte, evidentemente, às seis horas da manhã os paraíba-da- obra do espigão do lado, como eles acordaram o homem, ele mudou se pra Copacabana e foi feito aquele programa de televisão que o homem morava em todos os lugares e não sossegava. Acabou, ficou um ano aqui, voltou para Paris, deram-lhe logo uma festa de volta e, e perguntaram o que ele tinha achado do Rio de Janeiro. Ele disse: ah, quando ficar pronta, vai ser uma cidade muito bonita! (risos) Mas agora que estão fazendo estão ...
D
 Em relação a Nápoles (sup./inint.)
L
 (sup.) O problema, entende, quer dizer, pois, pois é, aí você pega uma cidade (sup./inint.)
D
 (sup./inint.) essa diferença de planos, é uma cidade plana ou é uma cidade (inint./sup.)
L
 (sup.) É uma cidade plana. Agora tem de pitoresco o, o Vesúvio evidentemente. Quando você chega, você vê. Mas não é uma variedade de montanha como tem o Rio, você entende?
D
 E a senhora teve oportunidade de, de ir ao Vesúvio?
L
 Não, até o Vesúvio eu te confesso que eu não fui, que eu preferi ficar pelo museu onde eu tinha pouco tempo. Eu fui a Capri, fui a Sorrento.
D
 (inint.) atravessou a baía pra ir a Capri (sup.)
L
 (sup.) É, é, exato, fui a Sorrento. Eu fui a Capri e de Ca... de Capri voltei para Sorrento justamente pra ver a chegada em Sorrento, Sorrento (sup.)
D
 (sup.) Capri, há uma coisa muito peculiar em termos assim de apresentação da ilha.
L
 (sup.) Exata... (sup.)
D
 (sup.) Do terreno, que é diferente, por exemplo, das ilhas nossas. Podia comparar, né? Podia comparar, lembra assim (sup.)
L
 (sup.) Bom, eu não, eu não vou di... eu não posso dizer se é diferente das ilhas nossas porque eu não conheço as nossas ilhas todas, você entende? (sup.)
D
 (sup.) Se a gente tomar, por exemplo, como a ilha do Governador.
L
 Ah, não, não tem nada a ver com a ilha do Governador.
D
 Agora, talvez tenha com Fernando de Noronha que eu não conheço e tenho vontade de conhecer, você entende? (sup.)
D
 (sup./inint.) isso que eu quero ver a diferença (sup./inint.)
L
 (sup.) Exato, é porque é uma ilha montanhosa e que as montanhas começam perto da praia, também como começam no Rio.
D
 Ela não é cercada de praias.
L
 É. Sim, ela não é cercada de praias, porque há lugares em que a montanha vai até a praia.
D
 E montanha como, de terra?
L
 É, de terra em parte, de pedra, de terra também, porque eu passei (sup.)
D
 (sup.) De pedra? (sup.)
L
 (sup.) É, eu passei em estradas que eram de terra, portanto, é, não é só de pedra não. Mas, eh, eh, também não é, não é só de terra, é mis... mista. Agora é extremamente pitoresca.
D
 Como? Qual foi o aspecto assim dentro da ilha que lhe chamou a atenção (sup./inint.)
L
 (sup.) Bom, você sabe, ela, eh, eh, Capri, ela desde a antigüidade que ela é considerada um lugar privilegiado de veraneio. Ela era lugar de veraneio dos imperadores romanos, né? Tem a vila de Tibério. É bom, é bom a gente não se meter nesse assunto porque ... Parece que as coisas que se passavam lá eram muito pouco recomendáveis. E de lá pra cá ela veio, houve uma época, inclusive, que ela era preferida pelos exilados do tipo de Oscar Wilde. Quer dizer, aqueles que não podiam viver na sua própria terra por causa de suas peculiaridades sentimentais mais ou menos se reuniam lá e só ... Há um livro de Roger (inint.) eh, "Le ville de Capri", que conta essa, a vida de um francês que foi viver ... Então, e faz, eh, em função desta vida, ele conta o passado. E é, é, é, é diferente, é completamente diferente, por exemplo, da ilha do Governador porque você sabe que um, um europeu, quando um lugar tem possibilidades turísticas, ele tira dali a última gota.
D
 Pois é, eu queria (inint./sup.)
L
 (sup.) E nós jogamos fora, nós jogamos fora como milionários, entende? (sup.)
D
 (inint./sup.) eu queria que a senhora mencionasse, por exemplo, é um terreno altamente escarpado (sup.)
L
 (sup.) Escarpado. Agora, exato, eu tenho, tem, tem, tem (sup.)
D
 (sup./inint.) rocha, então como é que foi feito este aproveitamento?
L
 Ah, bom, por, montanha acima. Agora isso tem um certo, eh, eh, porque, eh, tem a Capri, embaixo, que foi um porto e tem a cidade de Anacapri, que é no alto. Agora, pela, pela encosta da mon... da montanha toda é que, onde é possível, tem vilas, mais luxuosas, menos luxuosas. Tem, eh, por exemplo, a do Axel Munthe que hoje é, é (sup.)
D
 (sup.) Com aquela escarpa que lá embaixo tem (sup./inint.)
L
 (sup.) Exatamente! (sup.)
D
 (sup.) Tem uma coisa que é uma vista assim que é uma coisa tradicional que se faz, pra ver. A senhora lembra disso? (sup.)
L
 (sup.) É, lembro, lembro (sup.)
D
 (inint./sup.) bem embaixo daquela pedra ali que tem a casa do Axel Munthe (sup.)
L
 (sup.) Exa... exato. Já. Não, é uma, é uma (sup.)
D
 (inint./sup.) a gente vai de barco aí espera (sup./inint.)
L
 (sup.) Ah, é a gruta azul (sup.)
D
 (sup.) A senhora teve ocasião de ver, de fazer (sup./inint.)
L
 (sup.) Tive, tive. Só que no dia em que eu fui lá ela estava verde. Eu juro. Morrerei dizendo que ela estava verde. Todo mundo diz, todo mundo diz que ela nunca fica verde mas no dia que eu fui lá ela estava verde.
D
 (inint./sup.) estava verde.
L
 Aliás, pra mim foi um sacrifício entrar, porque eu tenho um pouco de claustrofobia, entendeu? Eu, por exemplo, ando num avião qualquer, no tempo, no meu tempo de procuradora da LBA, eu andei até de teco-teco, mas eu não tenho medo, engraçado, no avião eu não tenho medo e em elevador eu tenho. Se eu estiver num elevador que ele pare entre dois andares eu tenho que me vi... violentar pra não gritar, pra não fazer, pra não dar escândalo.
D
 E na gruta, por que que (sup.)
L
 (sup.) Por quê? Porque a entrada da gruta é mínima. Você tem que esperar. Tanto que você, eh, eh, muitas vezes vão chegando aqueles barcos de turismo e ficam ali parados, trinta, quarenta, cinqüenta, esperando que o mar se acalme pra poder entrar.
D
 (inint./sup.) e há um fenômeno também do mar que faz com que ele (sup./inint.)
L
 (sup.) Pois sim! Tem a maré, mas não é só a maré. É a agitação do mar, também, entende? Se ele estiver muito agitado mesmo, na maré baixa não dá pra entrar e você pra entrar, você tem que se deitar na barca. Então você vai naquelas lanchas maiores, depois você passa para a barca de dois lugares, duas pessoas e um barqueiro e você na hora de passar na entrada da gruta você tem que se deitar e lá dentro você pode levantar, e o teto é muito mais alto, mas a sensação de ...
D
 Como é que é o aspecto do teto, a senhora lembra?
L
 Ah! Totalmente pedregoso. Mas você, o que 'e, o que é atraente lá não é o teto, é a água, o reflexo da água que é a gruta azul.
D
 É o azul da gruta, que a senhora viu verde (sup.)
L
 (sup.) É o azul da gruta que estava verde! Enfim, dizem que o Danúbio só é azul pra quem está apaixonado, quem não está apaixonado na hora que olha, ele é mesmo cor de lama. Eu vi cor de lama! Mas (riso)
D
 A senhora esteve nesta região (sup.)
L
 (sup.) Estive, estive (sup.)
D
 (sup.) Da Baviera, é outra região assim muito característica (sup./inint.)
L
 (sup.) Muito bonita! Não, é muito linda, e é muito linda, maravilhosa!
D
 E a gente em termos de terreno o que que a gente vê lá?
L
 Bom, na, eu, eu, eu estive de ... Saí, saí, não foi de Munique, espera, foi de uma outra cidade que eu não me recordo até Colônia, de, qua... quase até Condessa, pelo Danúbio. E nesta região, pelo menos, ele também, eh, ah, as margens são escarpadas. Não, não assim como Capri, mais baixo, e tem uma quantidade de, ainda de castelos, alguns muito bem conservados e outros em ruína, mas que são muito pitorescos, e tem a, a vegetação que já é aquela, uma vegetação de um verde mais, mais forte, mais, mais pra preto do que a que nós estamos acostumados aqui.
D
 Verde escuro, quase negro, não é?
L
 Verde escuro, é. Reflexos até, digamos, de ébano, mas que é muito bonita, uma região muito bonita, também.
D
 E é uma região considerada de lagos, de (sup.)
L
 (sup) Não, essa região não é de lagos.
D
 (inint.) não passou?
L
 Não, essa que eu percorri, não é de lagos, é do, é o rio, e as margens do rio, os castelos e as cidades por ali. Você sabe que lá é, é, é totalmente diferente, né? Na, na Europa você viaja um dia, você atravessa às vezes dois países. Você viaja no mesmo país e você passa por uma região completamente diferente, inclusive do ponto de vista lingüístico, né? A última vez que eu estive ... A última vez, não! Espera aí, a penúltima quando eu estive na França, em setenta, eu passei de carro pelo sul, pela Provence e, e aí me aconteceu perguntar, né, pedir informações em francês a uma pessoa já de idade e a pessoa não me entender, quer dizer, ele só falava o provençal. E isso ainda em mil novecentos e setenta.
D
 Dizem que a Provence é linda, né?
L
 É, é linda. É muito bonita.
D
 Como é, também, o aspecto, assim de terreno, de, eh, área que se cultiva, ou não?
L
 Os, os quadros de Van Gogh! E aquela ... Deu? Entendeu?
D
 Como os quadros de Van Gogh? Como você traduziria isso em linguagem?
L
 Os quadros de Van Gogh assim, eu tenho, eu tenho uma reprodução aqui até muito bonita. É, é aquela, aquela argila avermelhada, você não vê, com aquele tom dos amarelos.
D
 Os amarelos são de quê? O que que dá os amarelos?
L
 São, são muito fortes. Bom, é o sol, porque já é o sul da França, quer dizer que o sol é mais forte. E a terra, também.
D
 Sei, mas o que é amarelo (sup./inint.)
L
 (sup.) E a terra, também (sup.)
D
 (sup.) A terra (sup.)
L
 (sup.) A terra, é, é uma, é, eu acredito, não sei, estudei pouco de geologia, mas deve ser a composição da terra que dá aqueles amarelos tão fortes.
D
 Na própria terra?
L
 Na própria terra.
D
 A terra é amarelada.
L
 É, é, portanto, também nas construções, porque tudo aquilo se embebe, né? Então dá uma impressão de que a, a terra está embebida de sol.
D
 Agora, a senhora falou que nessa travessia de Nápoles pra Capri tem o Vesúvio. Agora o que levou, e mesmo não tendo visitado o Vesúvio, de um modo geral, a senhora tem uma noção do, do que que é o Vesúvio, o que que aconteceu com o Vesúvio, como é que se apresentam (sup./inint.)
L
 (sup.) Ó, eu vou te dizer uma coisa (sup.)
D
 (sup./inint.) uma coisa mais terra a terra, pra gente interessava muito, por exemplo (sup./inint.)
L
 (sup.) Mas eu vou te contar, honestamente não me deixou impressão assim nenhuma extraordinária. Ele devia estar quieto aquele dia, entende? Não é ... É, é um monte com um pouquinho de fumaça (sup./inint.)
D
 (sup.) Mas ele é um monte qualquer (inint.) soltando fumaça?
L
 É, de um modo geral.
D
 É, mas tem momentos em que ele não está quieto.
L
 Ah, sim.
D
 E aí o que que acontece?
L
 Bom, todo mundo sabe o que aconteceu quando ele esteve mais inquieto, ele acabou com duas cidades, não é isso?
D
 Acabou como? (riso) Eh, eh, a senora perdoa, mas é que pra gente interessa o vocabulário.
L
 Bom, isso é uma coisa, todo mundo, eh, eu li ago... há pouco tempo um artigo, porque sempre eu, eu aprendi em ginásio e tudo que elas tinham, ah, soterradas pela lava, não é? Mas parece que pesquisas recentes estão dizendo que pelo menos o pessoal de Pompéia ele não morreu pe... pe... queimado pela lava, ele, quando a lava atingiu Pompéia, ele já estava morto pelas emanações do gás do vulcão. Mas isso é uma coisa que evidentemente depois de tanto tempo é uma teoria que será ou não confirmada. Mas, que um vulcão pode matar, quer dizer, pode matar até pela, o, o, os vulcões da Polinésia em geral, eles quando tem erupção, eles soltam pedras, lá! Quer dizer, pode matar pela ...
D
 Pancada.
L
 Pela pancada da pedra, pode por esmagamento, Pode matar, eh, pela lava, que seria uma espécie, ah, assim, digamos, particularmente cruel de afogamento, mas não deixa de ser um afogamento, que a lava enquanto ela vai escorrendo ela é líquida e pode matar pela emanação gasosa. Por exemplo, aquele republicano, meu Deus, tem, tem até o nome de uma rua no, no Flamengo.
D
 Garibaldi.
L
 Não, não, ele era brasileiro, republicano nosso, que morreu no, no, no Vesúvio. Como é que era o nome dele?
D
 Ah, é!
L
 Silva Jardim, né?
D
 Silva Jardim, é.
L
 Quer dizer, ainda há aquela dúvida, uns pensam que ele se suicidou, outros que ele terá ficado tonto com uma ...
D
 Quando ele estava aonde?
L
 Ele estava no Vesúvio, estava visitando.
D
 Sim, mas estava em que ponto do Vesúvio?
L
 Ele estava perto da cratera e ele caiu!
D
 Ah!
L
 Ele morreu lá! Agora dizem, é aquela história, isso paira sempre aquela dúvida, terá tido o que hoje se chama uma angústia existencial, que naquele tempo não se chamava, ou terá ficado tonto por causa de algum gás que de repente se desprendeu? Porque eu não a... também não conheço bem o assunto, mas eu não acredito que haja uma constância na, na composição desses gases. Deve de vez em quando haver alguma alteração, eh, sair um mais deletério do que outro.
D
 Um outro aspecto assim natural que interessava pra gente, era essa coisa de montanha e, por exemplo, no Rio (inint.) outras regiões do Brasil e outras regiões da Europa ou da própria América Latina e ter contato com o mar.
L
 Sim!
D
 Como é que ele se apresenta em termos de (inint.) é sempre a mesma coisa, eh, (ruídos) ou como é que você pelo tipo de informação que a gente tem de cinema, televisão (inint.) essa moda, por exemplo, de surfe, aproveitando todos, esse que tipo de apresentação do mar no inverno de diferente comunidades.
L
 Ah, é! Eu não, eu não conheço o Pacífico, né? Não conheço o Pacífico. Conheço o Atlântico, conheço o Mediterrâneo e aqui os mares da, da Grécia. Mas ele, ele é diferente.
D
 Como é o mar da Grécia? As características?
L
 Bom, a Grécia tem uma coisa, eh, completamente diferente, que eu não vi em nenhum outro país, que é a luminosidade, a limpidez do ar da Grécia realmente é uma coisa diferente. Então só quando a gente chega lá é que a gente sente, porque houve aquela civilização lá, havia alguma coisa diferente e a diferença é essa, é aquela limpidez.
D
 Do ar.
L
 Do ar.
D
 E o mar?
L
 Tanto que lá, de uma às cinco a vida cessa completamente. Não abre nem museu. Eu estive na Gr'ecia num congresso do serviço social, representando a LBA, eu era a procuradora da LBA, estava integrando a delegação do Brasil. Então eu tinha sete dias pra passar lá, fiquei naquela esga... esganação de ver coisas e tinha, tinha minha obrigação pra cumprir no congresso de modo que, no primeiro dia, depois, eh, terminava uma hora, ia-se almoçar e até às cinco horas não tinha nada. Mas tinha ruína! O museu estava fechado, mas as ruínas estavam abertas e eu achei que então eu podia sair vendo ruínas e desmaiei, porque realmente é, é um tipo de calor.
D
 Calor (inint.)
L
 Entende? Eu estava cansada, de ter andado em Pernambuco, por exemplo, no nordeste, no meio do dia andando, eu subi os Guararapes depois do almoço pra ver o lugar da batalha e é uma, uma colina. Não chega a ser um, mas 'e uma colina, eu subi, depois eu evidentemente cheguei lá em cima encalorada, quando cheguei no hotel me meti no chuveiro e, e, e, me deitei de calça e sutiã, mas agüentei. E na Grécia eu não agüentei, eu fui subir a Acrópole e não agüentei, eu desmaiei, perdi mesmo o, o conhecimento. Então eu descobri por que que é, a vida pára totalmente e eu atribuo isso a essa limpidez do ar, porque, eh, a, a poluição é horrível, mas ela abranda um pouco o calor do sol, é ou não é?
D
 Essa limpidez, essa luminosidade atuam sobre o mar em termos de coloração (sup.)
L
 (sup.) Ah, sim! (sup.)
D
 (sup.) Em termos de variação de coloração durante o decorrer de um dia.
L
 Ah, sim!
D
 Observou alguma coisa desse tipo?
L
 Eu, eu, eu sempre que viajo ... A primeira vez que eu fui à Europa, eu fui também por mar, eu sei, e o mar varia, mas isso ele varia em qualquer lugar, de coloração durante as horas do dia, conforme o dia, se é um dia de sol, se não é um dia de sol, e tem aquele fenômeno interessantíssimo de você ver a chuva começar, porque você dentro do navio ...
D
 Como?
L
 Como? Você dentro do navio, você vê aquela chuva como uma cortina. O que aqui é muito raro, eu já vi umas duas ou três vezes no decorrer da minha vida. Mas em terra é muito difícil, porque você tem os obstáculos, então, você não tem aquela noção de que a chuva, ela pára subitamente, entendeu? Ela, chega ao ponto em que ela cai como uma cortina, então aqui está chovendo e aqui está seco. Eu, eu, uma vez estava passando de navio e o navio passou de tal maneira que a metade do navio ficou molhada e a outra metade ficou seca no sentido do comprimento.
D
 E em termos assim de agitação do mar? O mar grego, é como aqui? O movimento.
L
 (inint.) vê outro cafezinho pra nós, faz favor?
D
 Heim?
L
 Outro cafezinho, tá? Bom, eu, eu ach... honestamente isso eu acho que eu não posso dizer, porque eu, eu, passei uma semana. Agora, dessa semana, você sabe, Atenas não é um porto de mar.
D
 Sim, mas e o mar Egeu?
L
 Pois é. Eu fiz uma excursão até às ilhas gregas (sup.)
D
 (sup.) Sim (sup.)
L
 (sup.) Eu fui uma, uma noite ao Pireu pra jantar! Comi a comida mais deliciosa do mundo, no restaurante mais lindo! Uma sopa de peixe maravilhosa. Agora, eu não posso dizer se ele é muito mais agitado, eu, eu, eu vi duas vezes, a tal história da ilh... da gruta azul, ela estava verde.
D
 Então, fora disso. Agora, a senhora tem experiência assim de passar períodos perto de praia.
L
 Sim, eu passo, sempre, eu gosto, gosto muito do mar!
D
 Como é o mar do Leme, Copacabana? (sup)
L
 (sup.) Não. Agora, eu diria o seguinte: por exemplo, o, o Mediterrâneo é mais agitado, o Mediterrâneo é, todas as vezes que eu vi o Mediterrâneo ele estava mais agitado do que os outros, entende?
D
 Em termos de Pacífico (sup./inint.)
L
 (sup.) Pacífico eu não conheço (sup.)
D
 (inint.) de cinema, televisão (sup./inint.)
L
 (sup.) O Pacífico eu não conheço, mas é, mas sei que ele di... dizem que é o que tem as ondas mais altas e que de pacífico não tem nada, né? De pacífico ele só tem o nome.
D
 Agora, nós temos aqui às vezes os fenômenos assim de mar (sup.)
L
 (sup.) Sim, mas não (sup.)
D
 (sup.) Que a gente dá um nome (sup.)
L
 (sup.) Sim (sup.)
D
 (sup.) E que o mar fica bastante (sup.)
L
 (sup.) Forte!
D
 Violento, forte! Como é que chama isso?
L
 Ressaca?
D
 Ahn?
L
 Ressaca!
D
 Ham, ham! A senhora já viu alguma vez?
L
 Já! Vi muita em Copacabana, desde que era garota!
D
 Eu queria que a senhora descrevesse como se fosse um quadro.
L
 É ...
D
 Se puder descrever é ótimo! É ótimo, né! A senhora lida com palavras, né?
L
 Bom, é. As ondas aumentam muito de tamanho, aumentam de violência na arrebentação, quer dizer, elas crescem, sobem mais e descem com mais brutalidade, eu diria assim, então isso aumenta a espuma, quer dizer, quando, eh, você vê a ressaca em Compacabana, o que vem bater aqui é, é, espuma pura, não é (inint.) e é isso, isso, de repente aquilo vai parando, vai diminuindo, elas vão enfraquecendo, e vão recuando.
D
 E acabou.
L
 E, como a vida, deixa os destroços para trás.
D
 E como é que fica a terra, a terra batida por este tipo de onda como é que fica?
L
 Bom, exatamente isso que eu disse, destroçada, porque o que tinha ali em geral é destruído. Evidentemente em Copacabana o que tem de, aparece de destroço é relativamente pouco.
D
 O Flamengo, antigamente, antes do aterro, esse tipo de (sup./inint.)
L
 (sup.) Ah, que batia, eh, eh, batia naquela amurada de pedra que tinha no Flamengo. E às vezes batia até nos ônibus que passavam por ali. Eu mesmo já me molhei uma vez. E era muito bonito. Eu acho muito bonito.
D
 A senhora ... Às vezes me explicam. Se a senhora não tiver a informação precisa não tem importância, mas pode ser que tenha. Por que que há fenômenos desse tipo? A quê que se atribui ressaca?
L
 Bom, eh, eh, atribuem de um modo geral à influência da lua, né? Mas há outras teorias, quer dizer, já não pra ressaca, eh, mas quando é mesmo um maremoto, às vezes é uma erupção vulcânica, submarina, que cria essa onda e aí vem se avolumando e as... arrastando.
D
 Arrastando tudo.
L
 Ou pode ser um tufão, esses furacões que a... assolam o sul dos Estados Unidos ou no golfo do México, se, se eles se formam sobre o mar, eles podem ocasionar uma maremoto. E ocasionam sempre, normalmente, re... a ressaca, porque eles são, eles sempre vêm próximos da costa, né, é muito difícil um furacão que venha, eh, um, um furacão interiorano, diríamos assim, né?
D
 (inint.) eles vêm do mar.
L
 É. Eu só ... Isso eu não tenho nenhuma informação por que que esses todos têm nome de mulher, gostaria de saber!
D
 (sup. várias falas) Eu acho que é um negócio (inint.) é um negócio que é imagístico, assim, chegou e pronto destroçou! (sup. várias falas)
L
 (sup.) Pois é, mas é uma i... mas há mulheres que passam a vida inteira e não destroçam nada e há homens que destroçam, de modo que não (sup.)
D
 (sup.) Não se justificaria, não é?
L
 Não se just... eu a... eu, eh (sup.)
D
 (sup.) Tem uma outra coisa também que talvez a senhora saiba ou tenha informação sobre o problema por exemplo da temperatura da água do mar. A gente vai pro norte ou em certas áreas do, do próprio Mediterrâneo há áreas assim que a temperatura é, digamos, quente. Às vezes temos, por exemplo, quarenta graus no Rio de Janeiro, e em geral, a água está muito fria (sup.)
L
 (sup.) E a água muito fria. Fria, exatamente (sup.)
D
 (inint./sup.) tem explicação pra (inint./sup.)
L
 (sup.) Ah, não e, e ... Bom, isso, eu não, não ...
D
 Quando a gente viaja às vezes de navio a gente tem a percepção assim (sup.)
L
 (sup.) Não, você vê faixas de coloração completamente diferentes. Mas isso não precisa você nem viajar de navio, você pega a avenida Niemeyer, você vê. Tirando o terminal, quer dizer, tirando a faixa do cocô, tem outras variações de cor. (riso) Isso tem realmente.
D
 (inint.) isso tem um nome?
L
 Não, mas esse nome eu não, eu não me lembro.
D
 A pessoa que nada, a pessoa aprende a evitar determinadas faixas do mar, por quê?
L
 E, bom, isso eu não sei, porque eu nado tremendamente mal. Eu gosto muito do mar.
D
 Sei.
L
 Mas isso, em matéria de nadar, o, o, o, a (sup.)
D
 (sup./inint.) qual é a imagem que geralmente se faz? É que no mar, dentro, quer dizer, na extensão total do mar, há regiões em que correm verdadeiros rios (sup.)
L
 (sup.) Ah, sim, há correntes marítimas, é claro! E, e, ma... ma... a mais conhecida é o "Gulf Stream", não é, pra gente. Mas há mil outras. Inclusive agora estão com esta história estudando o tal triângulo das Bermudas, pra saber por que que somem navios, por que que somem ... Mas esses, há correntes aéreas, também, em cima de Santa Catarina, eu, eu já passei pela costa de Santa Catarina, Santa Catarina de avião e de navio. De navio foi uma das únicas duas vezes em que eu enjoei. Mas enjoei mesmo! Porque (sup.)
D
 (sup.) Por quê?
L
 O mar lá é muito encapelado. E, eh, o comandante ... Eu estava num pequeno navio holândês, um, um misto e eu estranhei, porque eu não costumo, não costumava, agora eu não sei, porque já, eu acho que desde ... A última vez que eu viajei de navio foi em cinqüenta e seis, me parece, não sei se foi, deve ser. Então eu não sei mais de lá pra cá eu sofri um monte de intervenções cirúrgicas, operei, eh, útero, operei intestino, assim com oito dias de prazo, operei pulmão, de modo que eu talvez agora eu seja susceptível a enjôo, mas não era! E nesse dia em Santa Catarina (sup.)
D
 (sup.) Não conseguiu (sup.)
L
 (sup.) Eu enjoei mesmo! Comi só aquele que chamam biscoito de marinheiro, que é um biscoito duro e sem nenhuma gordura! Eh, se você consegue comer e então aquilo acalma o estômago.
D
 É.
L
 E de navi... de avião, também o avião jogava muito. Eu estava, estava vindo de, eu estava vindo do Rio Grande do Sul. Eu tinha ido de navio e vol... voltei de avião. E notei então, foi até o comissário de bordo que me disse que ali há sempre correntes aéreas, em cima de Florianópolis, em cima de Santa Catarina. E, eh, a mesma coisa tinha me dito o capitão do navio holandês, que o mar ali sempre é agitado. Então deve haver uma coisa talvez como há nas Bermudas, ali.
D
 E a paisagem de Santa Catarina é muito diferente da do Rio Grande do Sul ou do Paraná em matéria assim de aspectos de terreno, como é? A senhora (sup.)
L
 (sup.) Ah, é, é mais variada. Eu acho!
D
 Ah, é?
L
 Sob certos aspectos seria até mais parecida com a do Rio, que lá também tem mar e tem lagoas perto.
D
 O quê, qual delas? Santa Catarina? (sup.)
L
 (sup.) Santa Catarina! O Rio Grande do Sul tem aquela maravilhosa, porque a subida da lagoa dos Patos é uma das coisas mais lindas do mundo de navio, que é você entrar, subir de Pelotas até Porto Alegre, né? Subir a lagoa e depois pegar o Guaíra. É linda, é maravilhosa mas, eh, não é, quer dizer, aquilo é um lagoão, a gente tem a impressão que é uma baía, não sente nem, Santa Catarina já tem lagoas me... menores como as que tem aqui, que tem a lagoa de Jacarepaguá, entende, essas ...
D
 Agora, e na parte do Rio Grande do Sul assim parte do interior, de, a senhora teve ocasião de ver assim o tipo de apresentação visual? Que aí não é parecido com o do Rio, não é? Seria assim (sup.)
L
 (sup.) Não, é totalmente, diferente.
D
 Então é o oposto. Por quê?
L
 É o opo... inclusive, porque, inclusive ... Bom, eh, Porto Alegre está na, à, à beira de um grande rio, não é isso, e o, o, Rio de Janeiro não tem rios, praticamente, tem uns riachinhos muito vagabundos, o Banana Podre, não é? Isso, assim, eu não sei.
D
 Esses grandes rios, a senhora tem alguma informação sobre esses grandes rios brasileiros, como é que eles se apresentam?
L
 Bom, eu, eu não, eu conheço o São Francisco. É lindo de morrer.
D
 São Francisco, é, eu tinha vontade.
L
 É muito bonito, é lindo, é maravilhoso!
D
 Qual é o trecho do São Francisco?
L
 Eh, do já perto da, da costa, eh, na, na passagem de Alagoas para Sergipe.
D
 Hum.
L
 Eu passei o, o São Francisco de balsa e conheço aqui em Três Marias, também.
D
 Três Marias, como é, o que que houve em Três Marias? Você foi até Paulo Afonso?
L
 Fui.
D
 Podia dar uma idéia assim do que que é Paulo Afonso? Como é que é? O que que foi feito em Paulo Afonso?
L
 Pois é! Eu acho que o que ... Eu quando cheguei lá, já tinha, já tinha sido muito feito (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 (sup.) Entendeu? Eu, eu, eu já, eu já conheci a, ah, Foz do Iguaçu, então eu confesso que Paulo Afonso, embora muito bonito, me decepcionou, porque, é, ah, Paulo Afonso está, já está, está tão trabalhada, entende, você, por exemplo, não pode visitar Paulo Afonso de noite que é área de segurança, eu passei lá em sessenta e oito, que eu estava indo pro Recife de carro.
D
 E como é a Foz? (sup.)
L
 (sup./inint.) heim? (sup.)
D
 (sup.) O que é que a senhora pode nos dizer da Foz do Iguaçu? (sup.)
L
 (sup.) A Foz é linda! É linda? É maravilhosa! (sup.)
D
 (sup.) O que é que tem lá, o que que é a Foz, exatamente?
L
 A Foz é a cachoeira! Não é só a cachoeira também. O rio Paraná lá é muito bonito, viu? O pôr-do-sol em cima do rio Paraná, lá é maravilhoso, porque ele faz perto da cidade umas curvas e lá já é bem sul, quer dizer que o crepúsculo é prolongado, nos, nos dias de sol você vê aquela, o, o sol batendo na copa das árvores faz uma gradação de luz maravilhosa. Passa por todos os tons do rosa, do vermelho, em cima do verde, aqueles reflexos, é uma coisa ...
D
 Agora as pessoas dizem que quando se chega a Foz, o impacto visão da cachoeira é incrível, né? Eh, por quê? E o ...
L
 É, é ... Não.
D
 O que que é o ...
L
 É, é incrível. É o, quan... quando eu cheguei a Foz só aconteceu o seguinte: não teve assim tanto esse impacto da visão da cachoeira porque o, o avião tinha sofrido um acidente. Ele começou a baixar o trem de aterrissagem e não acabou. Então nós ficamos rodando em cima da cachoeira até acabar a gasolina pra poder descer. Ele atravessou o campo todo e foi encostar junto do paiol do regimento. Quer dizer, que se ele anda mais um metro nós íamos explodir. De modo que eu confesso que essa sensação já estava por um outro impacto que (inint.) bom, ess... essa eu perdi porque eu nunca mais vou ver a Foz a primeira vez, entendeu? Posso ver outras vezes, mas não será mais a primeira. Eu não vou mais ter o impacto. Então esse impacto não deu. O impacto é, é ...
D
 Tinha outro muito maior, né? (risos)
L
 Tinha outro muito maior. De modo que essa dá (inint.) agora se você ... Duas coisas que me deram realmente o, o impacto, o, assim de ficar, de coisa que eu já tinha ouvido falar e lido descrição, uma não é acidente geográfico, é a catedral de Florença. Realmente, quando dei com ela, apesar de, eu, eu sempre, eh, desde adolescente que eu leio muito e re... Anatole France. Você sabe que ele tem um livro que é praticamente o personagem principal é a, a catedral de Florença, não é nem a cidade, mais a catedral. Tanto que ele se chama "O Lírio Vermelho", que o lírio vermelho é o lírio que a Nossa Senhora da Flor tem dentro da catedral. Então eu sabia como ela era, mas quando eu desci do ônibus que eu vi aquela massa absurda de mármore preto, rosa e branco, eu fiquei estatelada. Eu não, não, não supunha que fosse tanta, tanta grandeza, você entende, e tanta beleza, também. Isso foi em mil novecentos e cinqüenta, não, eu não estava em excursão, mas aí pra ir fazer esse ' tour ` da cidade, eu estava num ônibus que tinha até neozelandeses, que tinha, e tinha uma americana também, que mal botou o pé em terra, virou-se pro guia e perguntou quanto tinha custado em dólares a construç~ao da catedral. (risos) E a italiana respondeu: minha senhora, os homens que construíram esta catedral eles não trabalharam pelo dinheiro, trabalharam pela beleza, porque se eles tivessem trabalhado só pelo dinheiro nunca ela teria sido feita.
D
 E o outro impacto, é, é ligado a coisa natural, à natureza?
L
 O, o outro impacto é ligado à natureza. Foi quando justamente a primeira ... Que eu fui muito a Brasília, como eu disse a você, mas sempre fui de avião, e a primeira vez que eu vi, então, uma das vezes eu fui, meu marido foi de carro. Aliás, eu fui de avião e ele foi de carro depois, que eu fui pra, eh, pra tratar da minha vida profissional e ele ia fazer uma conferência sobre o Pietro Bardi lá, para o Centro da ... E resolvemos voltar passeando. Então, quando, quando, eu comecei a cheg... e eu quis ir a Codisburgo porque eu gosto muito de Guimarães Rosa. Foi quando eu comecei a chegar na região de Codisburgo eu comecei a ver aquela paisagem que é exatamente a que ele descreve nos livros dele. Aqueles buritizais, aquela ... É uma coisa, é uma região de Minas que é completamente diferente, então isso, eu tive aquele impacto porque eu, eu comecei a me sentir um personagem, eu comecei a entrar num ambiente que eu já conhecia mas que eu não sabia que fosse tão ... Ah? Quem? (falas à parte)
D
 São duas coisas mais assim que nos interessariam mais até em termos de vocabulário, eh, por exemplo, a posição em relação aos chamados pontos cardiais. A senhora aqui, por exemplo, como é que se situa em relação a eles?
L
 Aí é que está, é que eu não me situo, (risos) eu, eu não me situo, mesmo, você sabe? Eu não tenho, o meu, o meu senso de direção é ... Começa que eu sou canhota! Então se eu estou num táxi e o homem me pergunta eu digo: não, o senhor vira à direita. E aí é pra virar à esquerda e ele se aborrece muito em geral. Agora já está mais fácil porque os choferes de táxi são muito macumbeiros e então eles têm qualquer coisa pendurada ali e eu aí já pergunto, eu digo: e aí essa chupetinha é de quem ? Eles já ficam mais mansos. Então começamos a conversar um pouco. Mas eu não sei, isto eu não sei nunca! Se eu estou virada pro norte, se eu estou virada pro sul, a única coisa em maté... eh, de ponto cardeal que eu, que me impressiona, por exemplo, é, é, é assim, na Foz, na Foz do Iguaçu que eu senti o, e em Bariloche, como o crepúsculo é longo. E, e também em, em sessenta quando eu estive em Paris em pleno verão, porque aí, você sabe, quanto mais afastado do Equador, mais longo e quanto mais no auge duma estação também é mais longo o crepúsculo ou mais rápido, não é? É a, é a única coisa assim que na minha vida inteira me deu porque mais não estou sabendo. Se você perguntar se eu estou virada pra ... Se você me perguntar aqui de que lado nasce o sol, aí ... Meu marido vive me amolando com essas coi... Eu sei que o sol aqui bate de tarde, porque no verão quando se está em casa se tem que fechar e descer as cortinas. E aqui ... E ponto final. Isso eu não entendo nada, nada, nada, nada!
D
 Agora, um outro ponto também que (sup.)
L
 (sup.) O, o meu avô era professor de geografia, o meu avô paterno. Meu avô materno eu não conheci. Então ele, e eu adorava ele, com... nós conversávamos muito, ele me mostrava, quer dizer, ele me ensinou, eu era bem pequena, ele me ensinou a distinguir estrela, quer dizer, de planeta. E depois me mostrou, me ensinou muitas constelações. Quer dizer, estrela de planeta até hoje eu sei, agora, as constelações ... Eu olho, eu acho lindo o céu ... Um outro impacto da natureza que eu tive foi uma vez que eu cheguei à noite em Itatiaia, era uma noite de julho, estava uma noite límpida e quando eu saí do carro então eu tive a impressão que o céu ia cair na minha cabeça de tanta estrela! Porque era lá no Donati, lá em cima.
D
 Sei.
L
 Era uma coisa! Eu fui com uma amiga que mora nos Estados Unidos, ela tem mania de Itatiaia, toda vez que ela vem ao Brasil, ela tem que ir a Itatiaia que é onde ela passava as férias na adolescência. Mas se você me perguntar, o que que é Ursa Maior ou o que que é, ah, isto eu não entendo.
D
 Sei. Agora, em relação, por exemplo, a terreno, ainda (sup.)
L
 (sup.) Não sei, eu não consigo. Eu vejo as Três Marias e o Cruzeiro do Sul e aí acabou-se. O res... resto, por mais que eu queira eu acho, eu acho igual, entende? Não tem ...
D
 Sei. Entendo. Mas, em terre... em relação a terreno, a senhora tocou aí (inint.) aquele tipo de vegetação, varia? A senhora teve ocasião de ver, por exemplo, sul, a chamda zona de mata nossa aqui no Rio (sup.)
L
 (sup.) Mata (sup.)
D
 (sup.) Indo pro nordeste, por exemplo, o que é que lembra, assim do ponto de vista de observação?
L
 Bom, eu, eu, eu fui ao nordeste, assim em matéria de terreno, que as outras vezes eu fui de avião ou de navio, foi essa vez em que eu fui a Recife de carro, nós fomos pelo interior que eu queria justamente ver Paulo Afonso e voltamos pela (sup.)
D
 (sup.) Costa? (sup.)
L
 (sup.) Costa! Aí, é muito interessante, inclusive na, na Bahia há umas formações rochosas lá num, um município tem um nome esquisitíssimo, não sei se é Poções, é um negócio assim, que é uma extensão muito maior, porque você sabe que tem, vocês conhecem o Paraná, eles fazem aquela propaganda de Vila Velha que é muito bonita, agora essa região que já seria mais pro norte da Bahia do que pro sul, tem aquele tipo de formações só que muito maiores e uma extensão infinitamente maior, na beira da estrada! Entendeu? E aquilo está lá abandonado ...
D
 O famoso solo assim nordestino, seca nordestina, a senhora teve ocasião de ver?
L
 Não, não! Porque nesse ano em que nós fomos tinha havido uma enchente. Eu acho que eu como turista eu não tenho assim muita chance, porque acontecem coisas estranhas! (riso) Quando eu vou, entendeu, está tudo diferente, tudo di... tudo (sup.)
D
 (sup.) Mas dá pra notar uma diferença de vegetação?
L
 Dá, dá pra notar uma diferença de vegetação, dá pra notar uma diferença de povo, isso é claro, mas assim este impacto de região de seca eu realmente não tive e eu acredito que em torno da estrada eles tenham minorado, né, o próprio (sup.)
D
 (sup.) Assim, por exemplo, fazer uma viagem de, por terra nessa área do norte da Bahia entrando para Pernambuco, para Recife, e fazer uma viagem de carro para o sul, por exemplo, pa... pro Paraná faz uma diferença bem grande, não?
L
 Ah, faz! Faz!
D
 (inint.)
L
 É, isso, isso é óbvio, porque inclusive no Paraná, Paraná, no vale do Itajaí, em Santa Catarina, você tem uma paisagem, não é, não é a paisagem, mas você tem um ambiente europeu, por causa da colonização, as casas têm aquele tipo europeu, entende, com (sup.)
D
 (sup.) E o cuidado com a terra? É largada? Quer dizer, a atenção local em relação à terra cuidada. Mais pro norte é como se a terra não estivesse cuidada. Alguma coisa deste tipo? Alguma observação desse tipo?
L
 Bom. Mas eu, minha, não diria que era isso só, pelo seguinte, porque também a terra lá é muito mais fácil de cuidar do que a do norte, né?
D
 Do ponto de vista de apresentação.
L
 Ah, filha, isso é a diferença entre região que é rica e uma que não é, né? É a mesma coisa que você entrar numa casa pobre ou você entrar numa casa rica (sup.)
D
 (sup./inint.) é uma coisa agrícola (inint.)
L
 Não é agrícola, eu estou dizendo, você de... É a mesma coisa que você entrar numa casa rica ou você entrar numa casa pobre. Aí ...
D
 Na rica, o que é acontece com a terra, como é que ela se apresenta pra gente, e na pobre, como é que ela está se apresentando, quer dizer, isso eu acho um contraste bem nítido.
L
 Você, você ... Não, porque eu sei que você está, você está fazendo o que um juiz diria: não, não, não dirija a testemunha, não faça a testemunha responder o que você quer! Você quer que eu responda que eu achei que no nordeste a terra era mais abandonada do que no sul.
D
 Sim, isso é um fato (sup.)
L
 Mas não é isto (sup./inint.)
D
 (sup.) Isso é um fato? (sup.)
L
 (sup.) Não é ... É um fato mas, quer dizer ... É, é, não, não, é um fato e não é um fato. Ela, ela não é tão tratada. Agora, talvez o pouco que ela seja tratada requeira um esforço muito maior do que o muito do que a outra, do que a outra é tratada, entendeu?
D

  Ela está querendo pegar esse aspecto, viu, humano. Está ótimo!