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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Dinheiro e finanças"

Inquérito 0339

Locutor 417
Sexo feminino, 45 anos de idade, pais cariocas
Profissão: professora de música
Zona residencial: Sul e Suburbana

Data do registro: 13 de outubro de 1976

Duração: 45 minutos

Som Clique aqui e ouça a narração do texto


L
 Pode (inint.)
D
 Pode. Pode.
L
 Bem, o problema de dinheiro aqui em casa é sério. Todo mundo trabalha, até o de treze anos. Acabou de arranjar um emprego por conta dele, porque o que ele quer a gente não pode dar.
D
 Pode continuar, (ruído) quanto mais a senhora falar (ruído) melhor, sem a gente interferir (sup.)
L
 (sup.) Eu, eu tenho duas matrículas no estado, ganho uma média de uns cinco mil, tirando os descontos. E tempo de vestibulares, pego de tudo que aparece. Agora mesmo eu peguei alunos de vestibular em empreitada, porque em um mês a gente preparar quem não sabe nada e quem sabe alguma coisa, em níveis diferentes, é um pouco difícil. Não rejeito nada em matéria de trabalho, dentro da minha profissão sempre.
D
 Agora em termos assim de orçamento doméstico?
L
 Olha, aqui vai na base dos dez mil, contando com o de todo mundo.
D
 Sei, mas a senhora tem assim uma forma de controlar isso ou como é que faz?
L
 Bem, eu sou a mãe de todos.
D
 Hum.
L
 Quando falta, é do meu que vai.
D
 Sei, mas como é que a senhora faz? A senhora guarda em casa, põe no (inint./sup.)
D
 (sup.) Não, o melhor meio agora é guardar no banco e dar cheque, porque senão ele voa, né?
D
 Ham.
L
 Então agora adotei esse sistema, eu pago tudo em cheque, só trago mesmo o dinheiro de passagem e as coisas que a gente não pode pagar em cheque.
D
 Hum, hum.
L
 O marido paga aluguel, eu pago armazém. A gente paga, cada um paga um pouquinho, cada um paga a sua passagem. O garoto também agora vai começar a ter as obrigações dele, vai sobrar a menor, né?
D
 Hum, e aí, como é que faz? Quando eles querem, como é que eles pedem?
L
 Ah, eles não pedem não. Preciso. Quero. Já. Pra amanhã. Agora. (riso)
D
 E eles pedem pra quê? Que tipo de coisas a senhora compra com o dinheiro?
D
 Ah, eu compro muito material escolar, que eu tenho uma filha que se forma professora agora, então usa muito material, eh, roupa, sapato, eles estão crescendo, né? Comida é onde vai mais dinheiro, porque é muita gente e eles comem muito. É a parte mais pesada, né?
D
 Sei, e como é que faz (sup.)
L
 (sup.) E passagem, né, passagem vai muito.
D
 O que que a senhora notou em matéria de passagem? Quais são os preços atuais em relação aos preços ...
L
 Aumentou muito, né? Porque em cada um, sessenta centavos, cinqüenta, aumento... pesou muito no orçamento. Eu gasto uma média de sessenta cruzeiros por dia de passagem, incluindo o meu e de meus filhos.
D
 Hum, hum.
L
 É. Também acho a parte muito pesada, né?
D
 Sei. E pra essa parte de compras, como é que a senhora costuma fazer?
L
 Bom, eu agora resolvi o problema com pensão.
D
 Ham.
L
 Mas eu compro na, na, no armazém, nas, na feira, supermercado, onde estiver mais barato, né?
D
 Sei.
L
 Só não entro em fila. Tem fila, eu fujo.
D
 E pra outro tipo assim de roupa e esse material escolar?
L
 Ah, material eu compro sempre em casa que dá desconto e roupa, onde tem liqüidação. (riso)
D
 Sei. Agora sempre na base de dar o dinheiro direto?
L
 Não, às vezes eu compro a crédito. Tem sempre essas pessoas que vendem assim, né?
D
 E como é que a senhora faz pra crédito? A senhora já comprou a crédito assim em lojas grandes?
L
 Já. Roupa, não.
D
 Eles exigem uma série de coisas.
L
 Roupa, não. Só compro assim manutensílios (sic), né?
D
 Sei.
L
 Comprei geladeira agora.
D
 Ah, me conta como é que foi a operação toda pra comprar a geladeira.
L
 Não, a operação não foi muito difícil não, porque eu já tinha crédito, (riso) então foi só fazer a ficha.
D
 Sim.
L
 Agora eu sempre que posso eu jogo a entrada pro mês seguinte. Sempre que está naquela de paga amanhã, aí eu lanço aquela. Como eu comprei o material de, uniforme de escola. Eu ia comprar pra um, aí cheguei na Colegial: ah, paga no mês que vem! Eu levei todo mundo e comprei. (riso)
D
 Sei, mas eles sempre, eh, essa ficha já tinha crédito?
L
 Não, essa ficha daí eu não tinha. Aí eu dei a referência e foi aprovado, né?
D
 A senhora lembra que que essa ficha pede? O que que ela contém, essa ficha?
L
 Ah, pede a mesma coisa que vocês pediram aqui, eh, contracheque e, em primeiro lugar, né, profissão, residência, quanto tempo, fiador e referências. Todos esses negócio.
D
 Ham, ham. E aí?
L
 Aí foi aprovado e eu fui lá. Ficou a... tudo arrumadinho, no dia seguinte eu fui buscar. Aí não teve problema não, mas quando a gente compra a primeira vez (sup.)
D
 (sup.) É isso que eu quero saber (sup.)
L
 (sup.) Num lugar estranho, aí sim, eles fazem aquela sindicância toda e entra trabalho do marido, tudo, tempo que a gente mora, fe... eh, referência de pessoas. Aí não precisou não, na Colegial, não, foi mais direto.
D
 (inint./sup.)
L
 (sup.) Porque eu moro há muito tempo. Só dizer onde é, que, que eu moro muito tempo aqui, já é uma referência, né?
D
 Sei.
L
 Eu moro, já morei aqui em três casas, mas tudo na mesma rua.
D
 Sei.
L
 Aliás, em quatro, com a minha de solteira.
D
 Agora uma outra coisa, um problema assim de, eh, eh, comprando a crédito, o pagamento fica desdobrado.
L
 Sim.
D
 Faz uma diferença, né? Geralmente, à vista, o preço não é igual.
L
 É (sup.)
D
 (sup.) Ou é?
D
 Mas a gente sempre compra assim numa prestação que não aumente muito o número de vezes. Seis vezes, cinco vezes (sup.)
D
 (sup.) O que que aumenta?
L
 O que que aumenta?
D
 O que que faz aumentar?
L
 Os juros, né?
D
 Hum, hum.
L
 Mas aí dá sempre na entrada, né? O resto é dividido. A entrada é que é maior.
D
 Sei. E aí, se a senhora quisesse comprar à vista, a senhora poderia ou alguma pessoa que queira comprar à vista e está sem dinheiro, ela pode recorrer a uma série de coisas para obter esse dinheiro e comprar à vista, não?
L
 Empréstimo. (riso)
D
 Hum, hum. No estado, como é o sistema de empréstimo? A senhora sabe?
L
 Nunca fiz.
D
 Não? Mas a senhora sabe da existência dessa possibilidade (sup.)
L
 (sup.) Sei, mas ... Não sei ...
D
 Como é o nome do empréstimo?
L
 Hum. Tem nome? Não sei.
D
 Não sabe?
L
 Não. Nunca fiz um empréstimo assim não.
D
 Nem em banco? (sup.)
L
 (sup.) Quando eu peço emprestado é assim a alguém, pra pagar depois.
D
 Sei. Nem em banco, em ...
L
 Não. Nunca fiz. Eu evito de fazer empréstimo. Eu sou contra empréstimo.
D
 Por quê?
L
 Por quê? Porque eu acho que é um vício.
D
 É? (sup./inint.)
L
 (sup.) Eu só peço emprestado quando o dinheiro não chegou mesmo, porque houve um extra, uma coisa qualquer assim que, além do orçamento. Mas eu acho que aquela pessoa que pede emprestado, pede a vida inteira e dificilmente consegue pagar e sair do buraco.
D
 Hum, hum.
L
 É o que eu acho.
D
 Ah, mas há pessoas que vivem nessa base. A senhora tem notícia desse tipo de coisa? (sup.)
L
 (sup.) Sim, e como! (sup.)
D
 (sup.) Quer dizer, não só o seu, pessoal, mas de outros casos.
L
 Sim. Mas eu tenho horror, eu fujo.
D
 Então conta um caso desses assim.
L
 Um caso desses? Olha, conheço muita gente que mete a mão no dinheiro além do que pode, sempre contando com o ovo que está dentro da galinha.
D
 Hum, hum.
L
 Mas eu só conto com o ovo fora da galinha, depois que ela bota. (riso)
D
 Certo. Mas vamos tentar ir pra o outro lado. Essas outras pessoas então, como é que elas fazem?
L
 Como é que elas fazem?
D
 Pega o ovo antes da galinha (risos/inint.) pegam o ovo dentro da galinha. Elas pegam o ovo antes. (risos)
L
 Ah, recorre a banco, agiota, tudo aí, vizinho, parente. Está cada vez mais no buraco.
D
 E esse sistema que a senhora falou em agiota, como é que geralmente um agiota faz?
L
 Não sei. Eu nunca fiz empréstimo assim não. Eu só sei que eles cobram juros exorbitantes, né, além do que ... Né? Eu nunca usei, nem pretendo, se Deus quiser. E penhor, essas coisas também, eu não uso não. Eu prefiro apertar e chegar lá e dar, sabe? Ou então arranjo mais aluno, arranjo mais emprego, o que aparece aí. Eu prefiro arranjar trabalho do que arranjar empréstimo.
D
 Agora, há uma coisa que me interessava, em termos assim dos, das coisas que a gente faz quando por exemplo recebe um pagamento e vai a um banco.
L
 Hum.
D
 Eu não sei se a senhora recebe direto ou recebe no banco.
L
 Recebo um direto e o outro em espécie.
D
 Como é que é a, essa operação?
L
 Uma conta é aberta pelo esta... pelo município (sup.)
D
 (sup.) Hum (sup.)
L
 (sup.) E a outra a gente recebe, o contratado recebe em espécie, então eu recebo noutro banco e deposito no que eu recebo como efetiva.
D
 Sei. Agora pra poder, digamos assim, receber no banco, o, o município abriu a conta e, em conseqüência disso, a senhora recebe uma série de coisas do banco e utiliza, né?
L
 Que série de coisas? Como?
D
 Por exemplo, a senhora tem um, uma conta (sup.)
L
 (sup.) Sim (sup.)
D
 (sup.) Essa conta, como é que ela é identificada como sua?
L
 Ah, tem um número e o nome.
D
 E a senhora tem direito a, a cheque.
L
 Sim, talão de cheque (sup.)
D
 (sup.) Como é que a senhora obtém os cheques?
L
 Ah, isso é só fazer uma requisição. Não tem problema nenhum.
D
 Como é essa requisição?
L
 É um talãozinho que vem dentro do car... do talão de cheque, que a gente preenche com a data, com o, o nome, número da conta e recebe o talão.
D
 Hum, hum.
L
 E aí saca o dinheiro, com cuidado pra não dar cheque sem fundo. (riso)
D
 Já lhe aconteceu alguma coisa nesse sentido?
L
 Não, graças a Deus. Tenho muito cuidado. Quando eu acho que está chegando lá eu paro de dar cheque.
D
 Sei. Aí a senhora pede o que ao banco pra ter certeza que há dinheiro?
L
 Ah, eu peço o saldo.
D
 Hum, hum. E o banco lhe manda aquele (sup.)
L
 (sup.) Man... Não, atualmente o banco do estado, a gente não recebe mais direto não. A gente vai lá (sup.)
D
 (sup.) O quê? (risos)
L
 O, o ... Como é o nome? Eu esqueci o nome. (risos) Eh, espera aí que eu estou com o nome na boca. Eh ...
D
 Antigamente eles mandavam pelo correio, não é?
L
 É. Esqueci mesmo. Ah, eu esqueci o nome (sup.)
D
 (sup.) Sim, mas de qualquer forma a senhora faz um controle, né?
L
 Sim, faço um controle.
D
 E como é que faz esse controle?
L
 Quando eu recebo esse papel, (riso) eu esqueci o nome, (riso) ah, meu Deus (inint./sup.)
D
 (sup.) Não tem problema, não tem problema.
L
 Bom, aí eu vou dando baixa nos cheques que já foram descontados.
D
 E como é que a senhora controla? Como é que a senhora sabe que, quais foram os gastos?
L
 Ah, no canhotinho. Ah, saiu.
D
 Ham. Canhotinho. (risos)
L
 Às vezes eu dou assim um cheque assim, um três dias depois e tal, mas aí eu lanço ali: descontar dia tal e aviso ao fulano que não pode ir buscar antes. (riso) Ah, e como é o nome da (sup.)
D
 (sup.) E em termos assim de poupança, de, de guardar dinheiro? (sup.)
L
 (sup.) Não tenho. Ainda não deu tempo pra ter (sup.)
D
 (sup.) Não deu (sup.)
L
 (sup.) Ainda não sobrou.
D
 Mas a senhora sabe que existem possibilidades de (sup.)
L
 (sup.) Sei sim senhora e pretendo chegar lá.
D
 Ah, então conta o que que a senhora pretende fazer. (riso)
L
 Ah, eu pretendo tirar algum dinheirinho e juntar pra ver o que que dá. Mas nunca chega. (riso) Está sempre faltando.
D
 Pra juntar como? A senhora juntaria ...
L
 Caderneta de poupança. Juntaria, porque eu acho que é o melhor atualmente, que o pessoal fala, né?
D
 Hum.
L
 Não por experiência. Mas eu conheço um médico que fez uma casa à custa disso.
D
 E quais são as outras maneiras da pessoa empregar o dinheiro, quem não põe em caderneta de poupança e quer ganhar dinheiro, como é que faz?
L
 E quer ganhar dinheiro?
D
 Tem outros recursos?
L
 Deposita em banco.
D
 Sim. Mas é um tipo de depósito (sup.)
L
 (sup.) É (sup.)
D
 (sup.) Especial, tem um nome.
L
 Ah, tem. Eh, letras.
D
 Letras. Em ... E o, o depósito em banco pra ele dar mais lucro, mais dinheiro?
L
 É, tem um nome, eh, como é? Eh, esqueci, é curto prazo, depósito a curto prazo, né?
D
 Pode ser a curto prazo e pode ser ...
L
 Longo prazo. Tem um nome. Não me lembro não (sup.)
D
 (sup.) A longo prazo. E qual é a vantagem disso? A senhora tem idéia, não?
L
 Não, eu acho que é um dinheiro que a gente junta e não mexe, quer dizer, está guardado e na mão da gente, a gente está gastando, né? Acho que é a vantagem que existe nisso.
D
 Mas há muita gente que hoje acha que tem que gastar porque não adianta guardar dinheiro.
L
 Não, eu sou da opinião também que a gente deve gastar, viu, porque senão a gente fica muito zura.
D
 Hum.
L
 Agora (riso) também a gente tem que pensar no dia de amanhã, né?
D
 Sei. Mas com o tipo de, de problema que a gente está vivendo de uma coisa hoje estar custando um preço, amanhã já estar o duplo e o dinheiro que a gente tem não, não vale mais, todo esse problema. Qual é o problema que a gente está vivendo hoje, que está desvalorizando o dinheiro desse tipo, dessa forma? (sup.)
L
 (sup.) Qual é o problema? O aumento do custo de vida.
D
 Aumento de custo de vida. Só?
L
 Principalmente o professor, que teve um aumento muito inferior ao do custo de vida. E isso é que foi sério, porque dois professores pra acompanhar esse ritmo, a gente tem que rebolar, né?
D
 E em termos assim ... Mas isso é, é um fenômeno global (sup.)
L
 (sup.) Sim (sup.)
D
 (sup.) Da economia do país, que fica nos jornais, etc.
L
 Se é? É.
D
 O que que ... O que que leva a isso (inint.) como é que eles chamam esse, esse fator de aumento de custo de vida e ... Aumento exagerado e rápido do custo de vida?
L
 Inflação, né?
D
 Hum, hum. Isso, né, problema da inflação é um caso sério.
L
 Seriíssimo.
D
 E ligado a quê?
L
 Especulação?
D
 Especulação, o que mais? Tem uma série de (sup.)
L
 (sup.) Hum, meus termos estão saindo. (riso)
D
 Estão ótimos, estão ótimos (inint./sup. várias falas). O que que a gente diria se falasse assim ...
L
 Eh, não sei. Acho que são esses ... Como é que eles chamam? Gaviões, não é? Esse pessoal que quer ganhar demais, né?
D
 Ham, ham.
L
 E esquece que a gente está aqui pequenininho, né?
D
 Ham, ham. E, eh, e ultimamente tem havido assim um problema muito grande em torno por exemplo de petróleo, por exemplo no, no Brasil.
L
 Bom, eu não sofro muito isso não porque eu não tenho carro, sabe?
D
 Mas deve ter ouvido falar (sup.)
L
 (sup.) Essa experiência eu não tenho (sup.)
D
 (sup.) Ou visto, por exemplo, em noticiário ou em jornal (sup.)
L
 (sup.) Sim (sup.)
D
 (sup.) Que há toda um, uma tentativa do governo de conter ...
L
 De conter a, o excesso de gastos, né?
D
 Hum, hum.
L
 Do petróleo, né? Pois é. Mas eu sou da opinião, sabe, eu pelo menos eu penso assim, tudo que vai me dar aborrecimento eu prefiro excluir, sabe, do meu panorama, sabe? Então se eu tenho dinheiro pra comprar carro, eu tenho pra andar de táxi. Não tenho problema de estacionamento, de gasolina, de enguiço, (riso) de batida, de nada (interrupção/telefone)
D
 O que que ele contém, que que acontece quando a senhora recebe o dinheiro do salário, como é que vem o cheque?
L
 Ah, o contracheque? Hum. Está gravando? O contracheque vem o número, o nome. Contracheque, né, espera aí, vem o total.
D
 Total como?
L
 Que a gente ganha, o desconto e os descontos de INPS ou de IASERJ e só. O meu não tem salário de família não. E só. Salário bruto e o salário líqüido.
D
 Quais são esses descontos?
L
 IASERJ, né?
D
 Só?
L
 Eu acho que é.
D
 E o, o geral de (inint./sup.)
L
 (sup.) Ah, e vem também a gratificação de (tosse) nível universitário.
D
 Gratificação de nível universitário. E eles não descontam na fonte para imposto de renda?
L
 Não.
D
 Não?
L
 Não. Descontavam, mas não descontam mais não (sup.)
D
 (sup.) E como é que a senhora faz?
L
 Não, aí eu declaro junto com o meu marido.
D
 Declara junto com ele?
L
 É.
D
 A senhora pode dar uma idéia do que que tem que ser declarado?
L
 O que que tem que ser?
D
 A senhora já viu como é que é aquele formulário, tem aquelas coisas todas?
L
 Eu vi, mas quem faz não sou eu, nem olho direito, sabe? (riso) Eu não sei nada (sup.)
D
 (sup.) Ham. Mas não tem nem idéia assim das coisas que ...
L
 Não, não tenho mesmo. Essa parte eu não me interesso muito não porque é muito complicado.
D
 Mas a senhora tem que documentar e ...
L
 Bom, mas aí a gente recebe o total de vencimento daquele ano.
D
 Hum, hum.
L
 Aí junta, né, com o dele e ele é que declara aí o negócio dos descontos é com ele. Ele é que faz esse mecanismo, eu não sei não. Só dou os meus contracheques pra ele.
D
 E, e a senhora está sa... está sabendo assim como é que são esses sistemas de vendas de casa? A senhora já se interessou por saber?
L
 Bom, agora nós estamos interessados, porque, eh, nós ficamos muito tempo num lugar só e o aluguel sempre é relativamente baixo, mas agora nós vamos ter que mudar e o que estamos achando por aí, pro tamanho da nossa família, é uma base que a gente não pode pagar: quatro mil e quinhentos, cinco mil. Então a gente tem que reduzir um pouco, apertar, e eu acho muito mais lógico gastar um dinheiro desses pra gente do que pros outros.
D
 Em termos de, do sistema de habitação?
L
 É.
D
 De compra?
l
 É.
D
 E a senhora já andou se informando do que, como é que é isso?
L
 Não, isso aí foi ele é que foi ver, né? Eu sei que tem a Caixa Econômica.
D
 Hum, hum.
L
 Tem, eh, lá onde ele trabalha que tem direito, eu não sei. Mas não sei assim direito como seria, como é o mecanismo eu não sei não. Agora é que nós estamos cogitando disso.
D
 E ele é professor do estado também?
L
 Professor da marinha.
D
 Ah, da marinha.
L
 É.
D
 Então, pela marinha, ele teria o quê? O que que a marinha ... Como é que é o sistema lá, de previdência da marinha?
L
 Não sei se é convênio com o BNH, não sei como é que é direito não. Eu sei que nós estamos vendo qual é o mais em conta que a gente possa entrar. Que também dê um desconto relativamente, eh, dentro das nossas condições, né?
D
 Hum, hum. Agora de um modo geral uma operação dessas, ela é financiada.
L
 Sim.
D
 Aí, a senhora tem idéia de como é que é pago esse financiamento?
L
 Mensalmente, né?
D
 Ham, ham. Mas é só isso?
L
 A longo prazo, né?
D
 A longo prazo. Que que é a longo prazo?
L
 Muitos anos, né?
D
 Quantos?
L
 Depende. Dez, quinze, vinte. Depende.
D
 E durante esse período, esse, essa dívida da senhora vai sofrer modificações (sup./inint.)
L
 (sup.) Sim, correção monetária (sup.)
D
 (sup.) Ela vai aumentando.
L
 Correção monetária.
D
 Correção monetária e tem também ...
L
 Juros.
D
 Juro.
L
 Juros, não sei mais quê.
D
 E como é que é, é pago mensalmente? Vai-se direto lá pagar ou há um sistema qualquer de pagamento?
L
 Ah, isso é que eu não sei. Acho que é em banco, né? Eu não estou bem muito por dentro não.
D
 E a, a senhora já lançou mão assim de alguma coisa que a senhora pudesse fazer pra beneficiar seus filhos, caso houvesse qualquer coisa com a senhora ou com seu marido? Como é o nome disso?
L
 Ah, montepio.
D
 É.
L
 Eu não. Quem tem é ele, sabe? Eu não fiz não, porque acho que não há necessidade de fazer tanto assim não. Eu acho muito mais importante a gente gastar dinheiro na formação deles do que propriamente em dinheiro que desvaloriza, sabe? Porque eu ti... eu tive essa experiência. Ah, uma tia que me criou ela gastava, coitada, eu não sei quanto do ordenado dela lá, um sacrifício tremendo pra fazer esses, eh, como é que tinha na Aliança da Bahia, aquelas apólices, né, que ela pagava e tudo. Quando ela morreu, tantos anos depois, né, desvalorizou tanto, que eu recebi trinta e cinco cruzeiros. Não valeu o sacrifício dela. Então eu acho que não adianta. Poupança eu ainda acho que sirva, mas esse negócio de apólice eu não compro, sinceramente.
D
 Além de apólice há outro tipo de papéis que são também negociáveis.
L
 Seguros, não é?
D
 Sei.
L
 Também não acho que isso seja tão importante. Eu acho mais importante a gente gastar dinheiro com educação do que propriamente com isso. Porque eles aproveitam, eles vão sentir quanto custa, entendeu, do que amanhã esperar um dinheiro que cai do céu. Eu não acredito nada que fique voando por aí. Acredito em coisas na mão, concreta.
D
 Eu sei. Em termos assim das pessoas que dispõem de dinheiro (sup.)
L
 (sup.) Hum (sup.)
D
 (sup.) E não aplicam ou não usam todo esse dinheiro, têm condições de aplicar esse dinheiro, de poupar, a senhora tem uma idéia do que que essas pessoas fazem?
L
 Comprando imóveis?
D
 Compram imóveis. Mas existe também todo um mecanismo de poupança que não é (inint.) imóveis.
L
 É, eu sei o que é, mas eu não me lembro. Porque eu nunca tive tanto dinheiro assim pra pensar. (riso)
D
 Bolsa, a senhora já ouviu falar em Bolsa, né?
L
 Ah, era isso que eu queria dizer. Já.
D
 Tem uma idéia do que que seria isso? Como é que se faz?
L
 Olha, eu não sei bem não, sabe? Mas eu acho que é aplicando em sociedades?
D
 Hum, hum.
L
 Não é? É o que eu vejo assim de relance, mas eu não en... Não é um assunto que me interesse muito não. Só sei do que eu ouço na televisão. Pouco leio jornal, só leio aos domingos, mas eu ouço o pessoal falar em Bolsa.
D
 E assim ... Ouve o que da Bolsa? Que que a senhora lembra assim de ter ouvido sobre Bolsa?
L
 Ah, eu não sei, eu não entendo, mas não sei se é o, essas lojas, quanto vendem, quanto lucram. É?
D
 Hum, hum.
L
 Deve ser, né? Quanto tem de prejuízo, subiu, desceu, a Mesbla, a Americana, não sei o quê. (riso) Só sei isso. Só passo por cima do jornal assim, dou uma olhadinha. (riso) Não me aprofundo muito não.
D
 E há, há uns anos atrás houve um fenômeno assim, talvez a senhora tenha tido pessoas de seu conhecimento.
L
 É, uma queda, né?
D
 Ahn? É.
L
 Uma queda vertiginosa, né? Inclusive uma prima nossa que ficou viúva, o que ela recebeu de seguro do marido ela aplicou na Bolsa e não se deu bem não. Mas depois parece que passou o problema, porque estabilizou, né, que ela não reclamou mais, né? Por isso que eu estou sabendo. (risos)
D
 E assim com divertimento, gastos em divertimento, como é que a senhora programa em que que gasta, quanto gasta?
L
 Ah, geralmente eu vou ao cinema, que é o mais barato, né? (riso) Agora eu ainda vou assim a um teatrinho e tal, mas não é sempre não, porque o teatro é muito caro, embora eu goste.
D
 E a meninada como é que está indo?
L
 Ah, a meninada vai porque vai com o namorado, eles pagam, né?
D
 E a senhora dá dinheiro direto pra eles?
L
 Dou.
D
 Cada vez que eles pedem?
L
 É.
D
 Sempre assim. Não existe um outro sis... (sup.)
L
 (sup.) Mesada? Não. Não dá, porque eu acho que além dessa mesada, a gente dá muito mais do que a mesada, né, se pensar bem, né?
D
 Hum, hum.
L
 A mesada vai acabar mesmo, no fim a gente vai ter que dar. Então eu controlo muito mais, porque com esses alunos que eu tenho vai entrando dinheiro, e aí não sai assim aquela bolada de uma vez não. A gente vai dando. Amanhã eu te dou, agüenta um bocadinho que amanhã tem mais. Porque é muita gente pra gente dar dinheiro, né? Embora trabalhando, o dinheiro delas não dá, né? O ordenado é muito pequeno, né?
D
 E elas trabalham em quê? Qual é o setor?
L
 A mais velha é inspetora do estado, do município também, e a outra trabalhava em colégio. Esse ano ela está parada por causa da, dos estágios, termina esse ano o Normal.
D
 Ela escolheu o curso Normal.
L
 É. E tem uns aluninhos assim, um aqui, outro ali, que de vez em quando param, né? Quando passam as dí... as dúvidas, começam as dívidas.
D
 E o garoto? Onde ele (inint.)
L
 O garoto, na farmácia.
D
 Sei.
L
 Acabou de passar aí. Na, aqui na rua mesmo. Precisava de garoto pra entregas e ele foi lá saber como é que era, me fez tirar carteira de trabalho a jato.
D
 E como é isso? Como é que faz?
L
 Como é que faz? É um bocado trabalhoso. Por sorte eu tinha quase tudo, porque ele é menor, treze anos, então eu tive que descobrir onde era que tirava carteira de trabalho. É lá no Méier, do outro lado. Entrei numa fila. Tinha que levar dois retratos com data, que eu só tinha sem data, e carteira de colégio, provar esco... nível de escolaridade, atestado de vacina antivariólica? Um atestado de um médico, eh, dizendo que ele não tinha nada, problema nenhum e mais autorização do responsável para tirar a carteira de trabalho. Tiram na mesma hora. Então eu fui lá, tive que voltar aqui pra apanhar o resto dos documentos, certidão de idade, também, voltei, fiz tudo no mesmo dia. De táxi pra lá, pra cá, pra lá, pra cá, né, cada um prum lado procurando uma coisa. Tiramos o retrato, tudo, tiramos lá, no mesmo dia, tiramos a carteira e ele apresentou na farmácia e foi empregado.
D
 E como é que ele ganha?
L
 Ele vai ganhar ainda. Ainda não tem um mês.
D
 Mas o que que eles combinaram?
L
 Eles combinaram um horário de nove horas por dia com um salário de maior, setecentos e sessenta e oito. Ele recebeu só duzentos cruzeiros de uma semana que ele trabalhou lá.
D
 E ele estuda ainda?
L
 Estuda de manhã.
D
 Ah, de manhã.
L
 É, ele estuda de manhã, sexta série, no Lafayette.
D
 Quer dizer, é escola particular?
L
 Particular.
D
 É paga?
L
 Paga, ué!
D
 Lá a senhora paga é por, é de uma vez?
L
 Não. É dividido em doze cotas (tosse) de duzentos e cinqüenta. Mas como a gente paga sempre atrasado, paga com juros. Duzentos (sup.)
D
 (sup.) E a senhora não conseguiu um modo de aliviar esse pagamento? Tem um sistema, não é, eu digo, pra aliviar o pagamento de esco... (sup.)
L
 (sup.) Mensalidades (sup.)
D
 (sup.) De escola particular. Não, mas (inint.)
L
 Bolsa? Não.
D
 Não, não recorreu (sup./inint.)
L
 (sup.) Não, não recorri a bolsa não, porque eu acho que não (tosse) não teria direito, eu não sei, e depois acho que é tanta gente pior do que a gente. Porque a gente tem pouco, mas tem algum, né? E tem muita gente mais necessitada, não é?
D
 E colégio estadual a senhora não quis.
L
 Ele não se deu bem. Já esteve e não se deu não. E a menor entrou esse ano, também pro Lafayette, pra quinta série.
D
 E em termos de contabilização, a escola cobra a mensalidade, mas aquilo corresponde a um total.
L
 Anuidade.
D
 E esse total equivale mais ou menos a quanto?
L
 Ah, uns dois milhões e oitocentos, mais ou menos.
D
 Sei.
L
 Por ano.
D
 Por ano?
L
 É.
D
 Essa escola a senhora consideraria em termos assim de uma escala de, de preços ...
L
 Mais barata.
D
 Barata?
L
 A mais barata.
D
 É?
L
 É, porque eu fiz sindicância. Inclusive tem aqui duas pertinho que eu não coloquei, porque com passagens e tudo o Lafayette sai mais barato e é um colégio de quali... de qualidade.
D
 Sei.
L
 Inclusive eu estudei lá. Tem pessoal do meu tempo ainda lá. E eu gostei muito. Eles se adaptaram ... O meu filho é muito difícil de adaptação, se deu muito bem lá, mesmo, sabe? E a garotinha também estranhou um pouco, da escola pública pra lá, do primário pro ginásio, que já é uma diferença, mas ela está gostando. Amanhã tem feira de ciências (sup.)
D
 (sup.) O que que ela está achando mais puxado no Lafayette?
L
 Não, ela fez uma quarta série muito boa, sabe? Depende muito da professora e ela teve muita sorte, mais do que ele.
D
 Agora, uma coisa que me interessaria, ainda nessa área de dinheiro, é que, por exemplo, na escola pública, de um modo geral o, o aluno da escola pública é mais igual socialmente (sup.)
L
 (sup.) Sim.
D
 Então, as necessidades, o que ele tem, o que ele gasta, em termos de dinheiro, não fica muito diferente (sup.)
L
 (sup.) Sim (sup.)
D
 (sup.) Entre eles. Numa escola particular pode haver diferenças.
L
 Pode.
D
 A senhora observa coisas desse tipo?
L
 Eu acho (sup.)
D
 (sup.) Disso influir nas crianças?
L
 Não. Os meus foram acostumados a aceitar tudo. Porque, inclusive, eu trabalhei em orfanato, levava as crianças pra ver e pra brincar e pra participarem da vida deles, pra darem valor ao que eles têm. Então não tem. Ou aleijado ou bom ou perfeito não existe essa diferença pra eles, eles aceitam perfeitamente.
D
 Mas isso pode exi... pode ocorrer na escola particular?
L
 Mas geralmente na escola particular, quem procura um colégio de um certo nível é também do mesmo nível. Embora a si... a família grande, o dinheiro menor, o nível já não é tão assim não. Mesmo esses bolsistas do estado, os que se, eh, inscrevem, já são de um nivelzinho que podem competir com os outros. Talvez não em merendas, outras coisas extras, mas em, socialmente não há problema assim não. Pelo menos não notei (sup.)
D
 (sup.) Agora a senhora estava falando que com o salário de dois professores aí, os filhos trabalhando, eh, nos, eh, há toda essa dificuldade. Agora a senhora podia tentar assim avaliar, imaginar, com o salário oficial.
L
 Mínimo?
D
 Mínimo. Quanto, a quanto vai, como é que uma pessoa pode viver com isso (sup.)
L
 (sup.) De jeito nenhum. Eu acho um absurdo. Acho um absurdo. Esse salário é salário de fome mesmo. O mínimo (riso) devia ser muito maior. (riso)
D
 Pois é, mas há milhares de pessoas ...
L
 Milhares de pessoas. Agora essas pessoas já têm um, um, menos um problema também, que não tem a, a apresentação, não é? Andam de qualquer jeito, têm a roupa da missa, eh, tomam condução mais barata, vêm, moram longe, etc. Agora nós ainda além de tudo temos que ter a apresentação, né? Eu acho que isso ainda pesa mais. Não se pode, não é que a gente mude de roupa todo dia, mas a gente tem que andar, pelo menos, não muito diferente das colegas.
D
 Hum, hum.
L
 Não é?
D
 Exato. Esse tipo de problema, em termos assim de dinheiro, eh, às vezes atua sobre a criança. Então eles querem coisas.
L
 É. Eles querem sim, mas acontece que tem que esperar. (riso) Um dia chega lá. Meu filho quer uma bicicleta. A motivação dele pra trabalhar foi andar de bicicleta, porque ele entrega compras de bicicleta. Então é muito melhor ele andar ganhando dinheiro do que não andar e não ganhar nada. (riso)
D
 E eles ficam totalmente livres pra gastar o dinheiro deles como eles quiserem?
L
 Não, totalmente não. Se eles ganham dinheiro de alguma maneira, ou de aniversário ou lá o que seja ou que alguém dê um dinheiro extra, esse dinheiro eles gastam como eles quiserem. O pai, por exemplo, de vez em quando dá umas mesadas aí, então eles têm que gastar dentro daquele regimezinho pra dar. Mas eu prefiro ainda dar por dia.
D
 Sim, mas ele ganhando esse dinheiro que ele está ganhando?
L
 Não, esse dinheiro que ele está ganhando é dele. Mas ele vai ga... vai pagar as passagens dele, porque ele não vai gastar totalmente aereamente. Ele tem que aprender a guardar. Vai botar em caderneta de poupança. Agora primeiro ele vai comprar as roupas que ele precisa, as coisas. Não adianta guardar dinheiro e andar todo ruim. Também a gente não tem essa mentalidade. Mas desde que ele tenha chegado a, eh, comprar o que ele precisa e o que ele quer também, que eu não sou tão só precisa não, aí ele vai começar a guardar, porque ele mesmo sente a necessidade e ouve falar e como menino já tem uma visão diferente da nossa.
D
 Como assim?
L
 Que ele acha importante ter dinheiro em caderneta de poupança. Nem que seja pra fazer farol. (riso) Aqui em casa é muito livre, sabe? Eles são muito assim criados à vontade, porque eu saio o dia inteiro, né? Mas eu crio com responsabilidade. Eu não tenho medo que eles fa... que eles façam bobagem, que eles andem por aí, absolutamente. O que eu tenho medo é de que eles fiquem o di... o dia inteiro na rua, com más companhias assim. Não más de perniciosas, más de quem não quer nada, quem não quer estudar tem um, mentalidade diferente, sabe? Mas não tem problema assim de grandes restrições não.
D
 Sei. Então, e em relação ao problema assim de dinheiro, de coisas que a pessoa possui, há todo um temor, de um modo geral, das pessoas perderem essas coisas (sup.)
L
 (sup.) Sim.
D
 E a gente ouve, vê em televisão aí, em jornal, noticiário, informando sobre esse tipo de problema.
L
 Sim, insegurança.
D
 Insegurança, mas segurança pra quê? Por quê? (sup.)
L
 (sup.) De insegurança.
D
 De insegurança? Mas por quê?
L
 Porque a gente nunca sabe o quanto tem, né? Desvaloriza. Hoje está bom, amanhã já não está. A gente deposita um dinheiro hoje, ele vale cem milhões, amanhã ele vale dez. Não sei, eu acho que ainda o melhor meio é empregar em imóveis (sup.)
D
 (sup.) Hum, hum (sup.)
L
 (sup.) Não é?
D
 Mas eu, eu estou me referindo assim a pessoas que resolvem tomar o dinheiro das outras.
L
 (riso) Tomar o dinheiro das outras?
D
 Hum. Revólver no peito (sup.)
L
 (sup.) Ah, assalto. Bem que eu tenho medo. (risos)
D
 Sim, mas há vários tipos de, de atuação nesse, nesse sentido. Assalto, que mais? Que que é um assalto?
L
 Um assalto é chegar um ladrão com uma arma (riso) e tirar tudo o que a gente tem. Outro dia assaltaram a padaria aqui.
D
 Como é que foi?
L
 Como é que foi? Ah, é ao lado da farmácia do meu filho, fiquei apavorada. Aí tinha, por sorte tinha uma joaninha bem na porta da farmácia e um PM tinha entrado pra tomar um remédio, senão seria lá. O pessoal do Salgueiro, domingo, oito horas da noite.
D
 Hum.
L
 Assaltaram a padaria e ninguém viu. Freguês.
D
 Mas, às ve... e depois contaram como é que foi, né? A senhora teve uma versão contada (sup.)
L
 (sup.) Essa versão.
D
 Sim, mas o que que eles fizeram? Como é que eles conseguiram?
L
 Entraram, apresentaram a arma e pegaram o dinheiro. (riso)
D
 Pegaram o dinheiro de onde?
L
 Da caixa.
D
 Da caixa (sup./inint.)
L
 (sup.) Registradora. É. É, o homem, era o dono que estava lá.
D
 Era o dono. E ele não guardava o dinheiro noutro local não (inint.)
L
 Não, deve ter sido do lucro do dia, né? Mas já era oito horas da noite, no domingo. Tem quinze dias. (sup.)
D
 (sup.) E essas casas, de um modo geral, elas tomam precauções, tomam cuidados?
L
 Ah, mas ... É. Não, o que tomou precauções foi o bar da esquina que foi assaltado quatro vezes, então ele agora botou um alarme.
D
 Hum.
L
 Mas ... Bom, não assaltaram mais, né? Eu acho que já viram que tinha o tal do alarme ali, né?
D
 E como é que foram esses do, esses do, do bar da esquina?
L
 Entraram pela, pelo forro da casa, do bar. Abriram um buraco por trás não sei daonde, tinha uma parede lá, subiram e ninguém viu. Quando (sup.)
D
 (sup.) E levaram também o dinheiro da caixa?
L
 Levaram o dinheiro da, do cofre.
D
 Ele tem um cofre lá?
L
 Tem um cofre. Tem loteria esportiva também ali. Quer dizer, devia ter um bom dinheiro, né? Quatro vezes. Devem ter sido os mesmos ladrões. (riso)
D
 Aprenderam o caminho (inint.)
L
 Como todo carioca (riso) a gente só põe a tranca na porta depois que o ladrão entra.
D
 E esse problema de loteria, como é que é?
L
 Heim?
D
 Esse problema de loteria, que é que a senhora sabe aí de loteria?
L
 Ah, de loteria. Eu também não jogo (sup.)
D
 (sup.) Mexe com dinheiro também.
L
 Mexe com dinheiro sim, mas eu não jogo, sabe? Eu acho que o dinheiro é tão difícil da gente ganhar, que o dinheiro que eu vou gastar ali não compensa. (riso)
D
 Agora em termos assim de informação, aí é realmente pra registro nosso, houve assim na, na sua vida, porque na minha já houve também, a gente ter mudanças (sup.)
L
 (sup.) Sim (sup.)
D
 (sup.) no nome do dinheiro, nas notas.
L
 Hum, hum.
D
 Quais são as (sup.)
L
 (sup.) Mil réis? Eu sou do tempo do mil réis.
D
 Pois é. Depois (sup.)
L
 (sup.) Do vintém não, mas do mil réis sou. (riso)
D
 E depois passou a ser ...
L
 Cruzeiro, cruzeiro novo e agora voltou ao cruzeiro, né?
D
 Sei, e, e nós temos que, que elementos de, de ...
L
 Notas.
D
 De notas. Notas ou, ou moedas. Qual é, que tipos de notas nós temos? De quanto?
L
 Tipos de notas? De cinco. De um, de cinco, de dez, cinqüenta, cem, quinhentos. São as que eu conheço.
D
 E as moedinhas?
L
 Moedinhas. Moedinha, né, a gente põe no cofre. (riso)
D
 Sei, mas também há.
L
 Sim.
D
 Quais são?
L
 Dez centavos, vinte, cinqüenta, um cruzeiro.
D
 E no tempo do mil réis, como é que a moedinha se chamava? Lembra?
L
 No tempo de mil réis? Não me lembro não. Eu era pequena. Não lembro mesmo. Naquele tempo a gente só ganhava dinheiro aos domingos, pra comprar bala, né? Era uma moedinha. (riso) Havia, era, como era? Ah, espera aí, me lembrei. Era ... Não, me esqueci de novo. Esqueci. (sup.)
D
 (sup.) Não era o vintém.
L
 Não era o vintém, tinha outro. Me esqueci.
D
 Agora em termos assim dessas notas de um cruzeiro, cinco, dez, cinqüenta, eh, às vezes a gente sai por exemplo, não sei se já lhe aconteceu, a mim às vezes acontece estar em casa e ter que fazer uma compra ou sair, às vezes pegar um, um ônibus ou um táxi e só ter uma nota grande (sup.)
L
 (sup.) Grande. Bom, primeiro eu pergunto ao chofer se ele tem troco (sup.)
D
 (sup.) Hum (inint.)
L
 Se não, não pego o táxi dele. Uma vez eu (riso) peguei um táxi daqui até a minha escola em Vila Isabel.
D
 Hum.
L
Aí, o homem pegou e tal, eu tinha uma nota de, de cinqüenta, já faz tempo, logo que saiu o cinqüenta, de manhã, eu não tive onde trocar, né? Aí, quando chegou ali, marcou, não, quase não marcou, marcou uns cinco e quinhentos. Aí o homem vi... me perguntou por que que eu não pedi uma carona, né? Troca? Como é que eu vou a essa hora da manhã trocar esse dinheiro? Por que a senhora não pediu uma carona? Eu disse: bom, porque se eu pedisse uma carona o senhor não me trazia pra escola, levava pra outro lugar, né? Quer dizer, não paguei o táxi, fui de graça. (riso).