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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Vestuário"

Inquérito 0317

Locutor 386
Sexo feminino, 70 anos de idade, pais cariocas
Profissão: médica
Zona residencial: Sul, Norte e Suburbana

Data do registro: 03 de dezembro de 1975

Duração: 44 minutos

Clique aqui e ouça a narração do texto


L
 (inint.) debruçada sobre o esportivo.
D
 Hum.
L
 Tinha uma preguiça louca de, de escolher feitios e escolher modelos. Então arranjava sempre umas pessoas de boa vontade que faziam. Eu mandava a fazenda, de acordo com a fazenda, a pessoa já fazia o ... Detesto provar roupa. Ultimamente eu compro vestido pronto, porque agora, então, depois de velha, a, a preguiça aumentou, né? Agora sempre debruçada sobre o esportivo, porque nunca fiz esporte assim, eh, seguida, porque, como eu digo a você, eu sou muito dispersiva, comecei a aprender a nadar mas, como eu nasci na beira da praia, eu trouxe todos os erros, os defeitos. Então o professor de natação lá no Tijuca Tênis Clube disse: não, é melhor, eh, se você quiser aprender a nadar, nada de costas. Eu não gosto. Eu quero nadar 'crawl'. 'Crawl' você nunca vai nadar, porque você já está cheia de defeitos. Tênis, comecei e parei. Então, adoro praia, até hoje, sempre adorei praia. De preferência mar, água, ou então montanha com uma boa piscina. Hoje em dia até estou preferindo uma piscina do que praia, aquela areia me chateia e tal.
D
 E assim, por exemplo, quando você vai viajar e vai pra montanha, que que você leva?
L
 Aí é que está, aí (sup.)
D
 (sup.) De roupa (sup.)
L
 (sup.) Eu levo o estritamente necessário. Porque sempre a gente compra qualquer coisa. Por pouco dinheiro que a gente tenha, a gente sempre compra um sueterzinho, compra um 'kilt', compra uma bolsa. Sapato não, que meu pé é de japonesa, é minúsculo. Eu sou grandona, tenho trinta e três de pé. Então na Europa eu não compro sapato. Ah, eu já estive na Argentina, esqueci naquela ocasião. Na Argentina e Uruguai. Há bem pouco tempo.
D
 Sim, mas, eh, vai arrumar a (inint.) você põe o quê?
L
 Bom, eu sou, nessa ... Engraçado, eu sou um temperamento muito engraçado, porque pouco ... Antes da, da viagem, eu já ponho tudo que é necessário. Eu tenho uma, uma bolsinha onde eu tenho uns apetrechos de toalete. Então ali boto, logo depois o pijama, roupão, eh, uma roupa interna e sapato no fundo. A última hora é que eu boto o vestido, o estrito necessário, porque se eu aqui, no Brasil, eu nunca fui muito rebuscada, imagina no estrangeiro, que ninguém me conhece! Vou decentemente, não é? Vou decentemente vestida. Agora depois então é que eu boto o si... o que de repente eu sinto falta, boto. Agora (inint.) nessa coisa é o estrito necessário, porque, como em sessenta e nove eu paguei uma bruta multa com excesso de bagagem, eu tomei pavor de excesso de bagagem. Então eu levo o estrito necessário: um vestido preto pra de noite, um casaco pra de noite, o resto, saia, blusa, compro lá, calça comprida, suéter, sempre eu vou ... Eu fui na pri... duas vezes eu fui na primavera, terceira vez fui no outono. Ando sempre pegando um, uns restinhos de, de frio, né? Casaco, claro! Não me lembro mais nada. O necessário. A bolsa, duas, porque sempre a gente traz, porque brasileiro compra mesmo. Compra pouco. Pode o ... Tanto que eu na, no outro dia eu estava comentando com a M. que o eu... o europeu não dá muita pelota pro turista. Turista, turista na acepção da palavra, não digo esses grã-finos que vão. Não dão muita pelota pra gente não. O que o brasileiro compra muito, mas compra, coitadinho, coisinha, está em saldo, (riso) mais baratinho, mais ... Mas compra. Eu pelo menos compro perfume, adoro. Me arre... me arrebento, me arraso toda, mas os meus perfumes ...
D
 Que mais, além de perfume?
L
 Perfume (inint.) você: um suéter, um 'kilt', um ... Ah, bolsa. E adoro chapéu. Você sabe que eu tenho mania por chapéu? Todo lugar que eu, que eu vou, eu trago um, todo lugar que eu vou, eu trago um chapeuzinho. Chego aqui, fica tudo atulhado, que aqui não se usa, né? Mas lá, faço um sucesso com meus chapéus.
D
 Bom, mas aqui pode usar também.
L
 Bom, eu trouxe dessa última vez um gorro de, de astracã que eu comprei lá em Istambul. De vez em quando eu saio com ele. Outro dia eu fui numa casa, um broto ficou louca atrás de mim: Ah, L., me vende esse gorro! Eu digo: diz à sua avó pra comprar, eu vendo por sessenta dólar. Custou seis dólar lá em Istambul. (risos) A, a menina ficou louca. Agora moda de um modo geral ... Agora essa coisa ... Adoro essa moda. Se eu fosse moça, eu adoraria usar, eu acho descontraído, eu acho fabuloso, porque eu ainda tenho ainda aquela coisa de querer combinar sapatinho com a bolsa, eh, a calça com o lencinho no pescoço. Ainda guardo essas coisas, mas pra essa juventude eu acho fabulosa essa moda.
D
 Como é que eles andam?
L
 Completamente descontraídos.
D
 O que que é isso de descontraído? Pra mim interessaria muito que você descrevesse o tipo de (sup.)
L
 (sup.) A minha, a meu, a minha concepção?
D
 É, é.
L
 Eles usam o que eles querem. O que eles acham que podem usar, que devem usar, sem se preocupar com combinar cores, se a calça está bem passada, se a blusa está bem passada, e algumas vezes até pouco limpos. Pelo menos externamente. Mas eu acho fabuloso: esses colares, tudo isso eu acho lindo. Máxis, essas máxis por aí. E eu, eu digo sempre pra M.: me segura, porque eu acho que eu vou ficar uma velha ridícula, porque qualquer dia, estou eu saindo aí de capa, cheia de colares assim. Pelo amor de Deus, L.! Porque eu adoro. Eu adoro a juventude. Procuro compreendê-los. Está um pouco difícil, hoje em dia, o diálogo, pelo menos eu que não, não tenho vivência com eles, porque, apesar de eu ter muitos sobrinhos, mas eu acho que eles tem o direito à vida deles, sou incapaz de observar qualquer coisa, posso não gostar de certas atitudes, mas sou incapaz de dizer, porque, é como eu digo, não perdi noite de sono os criando [fala feminina (Deseja alguma coisa?)] Não. Um cafezinho. Não quer, M.H.?
D
 Hum, hum.
L
 Não perdi noite de sono os criando, não gastei dinheiro com eles na sua educação ou em doença, então eu me abstenho. Eu acho que eu não tenho o direito de interferir com eles.
D
 Sei. E em termos assim deles, quando eles eram pequenininhos, geralmente a gente prepara, não é, pra, quando a criança vai nascer, uma série de roupas e, e de coisas, você tinha assim vontade (sup./inint.)
L
 (sup.) Ah, isso eu sou até hoje. Ah, sou (inint.) adoro presentear. Adoro! Presenteio de acordo com o que eu posso.
D
 Hum. E roupa?
L
 Eh, pra terceiros?
D
 Pra eles, quando eles eram pequenos (sup.)
L
 (sup.) Pra eles. Roupa pra eles! Desisti. Bom, quando eram bebezinhos, era um negócio que funcionava, mas de... (sup.)
D
 (sup.) Comprava o quê?
L
 Camisinha de pagão, babadorzinho, eh, mantas, sapatinhos. Agora, depois de uma certa idade, eu parei de presenteá-los com roupa, porque nunca acertava. Ou estava curto ou estava longo ou estava apertado ou estava, eh, larga. Então desisti de dar roupa pra eles. Então os ... Eu já tenho sobrinho-neto, claro! Agora eu dou dinheiro. Eles compram lá o que eles querem, porque eu desisti de ... Comprava uma blusa, estava apertada, pequena, um ... Então desisti de dar roupas. Outro dia ... Dou pro bebezinho. Quando vai nascer, eu dou. Eu compro uma camisinha de pagãozinho, uma meinha, uma botinha de ... E agora é negócio de alergia, né, então procuro comprar, eh, a botinha, sapatinho de linha, porque não usa lã, e dou mantinhas de lã a, eh, antialérgica, pra todos eles. Tudo quanto é sobrinho-neto meu presente é manta de lã. São muitos, são muitos. Eu tinha vontade de presenteá-los mais, mas são muitos. Quando eu ...
D
 É difícil, né?
L
 Opa!
D
 Agora uma coisa: essa liberdade, assim, de, de vestir, você acha que é só em relação à mulher? O homem também, ou o homem ficou mais formal?
L
 Não. Eu acho que os homens também estão descontraídos. Eu acho, também. Pelo que eu, me é dado observar, você vê, esses cabelos compridos. Já não é, que já está fora de moda, mas enfim, alguns continuam ou por economia ou por, sei lá, porque se acostumaram. Eu gosto muito de moda. Gosto de acompanhar moda, mesmo que eu não a siga, mas eu gosto e, e vejo e sei o que que está se usando, o que que não está se usando, o que que vai se usar, o que ... E então eu já vi que cabelo comprido pra homem acabou, já não se usa mais, porque a moda vem do estrangeiro. A única moda que o Brasil exportou é a tanga, né? Essas tanguinhas aí de, dessas meninas aí da praia. Me parece que é a única coisa. (riso)
D
 Agora comparando assim essa tanga das meninas do dia de hoje com por exemplo seu tempo (sup./inint.)
L
 (sup.) O maiô (sup.)
D
 (sup.) Quando, eh, você ia pra praia, como é que era (sup.)
L
 (sup.) Eu digo a você: se eu tivesse um corpo bonito, eu ia de, de tanga, M.H. Eu não vou porque não tenho corpo bonito.
D
 Hum.
L
 Eu acho, acho válido.
D
 Agora no seu tempo, no seu tempo, você usava o quê? Como que era assim quando você estava, eh, jovem (sup.)
L
 (sup.) Maiô, eh, maiô, decotado, claro! Naquele tempo, o maiô era inteiriço, né, era inteiro. Não era até o meio da perna, não peguei também esse tempo, (riso) era um maiô inteiro, naturalmente decotado, naturalmente há mais anos devia ser menos cavado nas costas. Depois usei, passei a usar bem cavado, feito vestido de noite, não é? A gente não usa vestido cavado? Agora, se ... Acho que quando a, a pessoa é bonita, bem feita. Bom, isso já é, já é a minha personalidade. Interessa?
D
 Interessa.
L
 Eu acho que tudo é válido. A mulher bonita pode fazer o que quiser. Já não estou me referindo tanto ao homem, porque o homem tem que ser másculo. Pode ser bonito, mas ser másculo. Os que não são também são boas praças. (risos)
D
 Sim, mas, eh, eu, eu gostaria de saber assim (sup.)
L
 (sup.) O que é (sup.)
D
 (sup.) Assim, assim o que que eles estão usando?
L
 Os homens?
D
 Certo. Houve uma época em que o homem era muito rígido, não é, em termos assim de trajes (sup.)
L
 (sup.) Olha eu, eu sou avançadíssima, gosto de tudo que é moderno, não sou saudosista, até em música sou moderninha, seresta, uma ou outra, eu gosto é de 'pop', é roque. Eu estou dizendo a você que eu sou uma velha ... Bom, eu às vezes, hoje em dia eu já estou me acostumando, eu me espantava quando eu encontrava os homens em manga de camisa ainda em certos ambientes. Isso ainda me chocava. Agora hoje em dia já nem me choco mais. Está certo, pode ir até (sup.)
D
 (sup.) Que tipo assim de ambiente? É, é (sup.)
L
 (sup.) Certas cerimônias, às vezes até numa igreja, umas bodas de ouro, de prata, que vai re... vai dar abraço, homem em manga de camisa, houve uma época que eu me chocava um pouco.
D
 Esperava que eles estivessem como?
L
 Formalmente vestidos.
D
 Mas o que que seria esse formalmente?
L
 Paletó! Paletó e gravata. Já ... Achava bonita até aquela combinação de gravata com a ca... com a camisa, achava bonito. De modo que houve uma, uma fase que eu estranhei essa coisa de, de eles não usarem mais paletó. Nem que seja um 'blaser', uma coisa, nem isso, porque, ah, houve uma, uma época aí que me espantava, porque eles iam mesmo em manga de camisa! Mas isso passou, hoje em dia acho que é válido e ...
D
 Agora na época assim por exemplo de faculdade, sua (sup.)
L
 (sup.) Olha, eu sempre respeitei muito os mais velhos. E sempre fui muito irreverente, muito moleca, muito levada, piadista e ... Mas eu por exemplo respeitava os mais velhos. Quando eu fui trabalhar no bromatológico, tinha um diretor velhinho, quando ele chegava, eu me levantava. E me espantava colegas mais novas do que eu, que estavam sentadas em cima ... Que fosse 'babyzinha' não, heim! Pouco mais moça do que eu, talvez uns dez anos mais, mas rece... mais nova na casa, estavam sentadas, porque mesa de laboratório é alta, ela estavam sentada ali, chegava o velhinho diretor, a menina continuava sentada! Sabe que aquilo ... Eu sempre respeitei os mais velhos. Isso ... Então eu achava assim uma desconsideração da parte dela. Se permanecia sentada, em cima da mesa ... Começa que em cima da mesa não é lugar de sentar. Um químico sentar na mesa! Enfim sentava na mesa, chegava o diretor, permanecia. Eu se... instintivamente eu me levantava. Não sei se isso já é coisa de família, que a gente traz de família. É como eu estava dizendo a, outro dia aqui. A minha mãe por exemplo nunca chegou pra mim e me disse: L., você vai agir assim. Ela me deu exemplos. Por exemplo esse negócio ... Minha mãe era muito justa. Quando uma filha, um filho errava, ela reconhecia o erro do seu filho. Porque o que eu vejo hoje, M.H., é que ... Mais uma coisa, os pais têm medo dos filhos, segundo, os filhos são intocáveis, inatingíveis, impolutos. Então se você disser: o meu sobrinho de sete anos ... Você tem um filho de quantos anos? (sup.)
D
 (sup.) Sete (sup.)
L
 é lindo! Eu tenho amigas assim, quando eu digo que tenho um sobrinho de sete anos que é lindo, ela está achando que o filho dela de sete anos não é bonito. Quer dizer, eh, eu já cheguei à conclusão que está havendo uma perturbação qualquer aí, não sei, porque na ... Então minha mãe nunca chegou pra mim dizendo: L., você tem que ser justa. Agora eu vi os exemplos dela. Então com meus irmãos, quando eu achava que eles erravam, eu achava, eu dizia: meus amigos, quando eu erro, eu digo. Digo, não, mas penso e sinto e afirmo que estão errados. Agora não foram palavras de minha mãe, ditadas por mamãe absolutamente. Foram os exemplos que ela deixou em mim.
D
 E assim em termos de, de, de roupas, de vestuário, eh (sup.)
L
 (sup.) Não, eu gosto (inint.) olha, eu vou dizer uma coisa a você (sup.)
D
 (sup.) Quando você era criança como é que fazia? Como é que ... Que que você usava?
L
 Não. Vou dizer uma coisa a você que talvez você vá se espantar: se eu fosse milionária, eu ia frequentar o 'high-society'. Eu adoraria ser uma Terezoca Souza Campos, adoraria! Todo mundo fica bobo comigo. Diz que não é possível você gostar de ter modelos de Givenchy, de Guilherme Guimarães. Ah, adoraria! Pode ser que eu não agüentasse a ... Agora no mais eu, eu ...
D
 Mas só assim pela (sup.)
L
 (sup.) Acho bonito. Eu acho. Eu acho bonito.
D
 E, e hoje a gente tem esse tipo de coisa (inint.) compra roupa nas lojas, mas antigamente não era tão fácil.
L
 Não era tão fácil.
D
 Não é?
L
 Não. Ainda mais na minha família que era uma família de, burguesa simples, né? Eu não podia mandar buscar roupas em Paris. Eu usava, eu me lembro, mamãe fazia a gente ir a baile, bailes, nunca tive complexo. Que hoje eu ouço dizer: ah, tem que dar roupa pra menina toda semana porque toda semana a menina tem uma festa de embalo e tem que ir como ... Agora assim mesmo já passou, com esse negócio dessa moda descontraída. Mas há coisa de uns seis anos, ainda tinha um a... um amigo que sofria com a filha, porque todo fim de semana a menina tinha um bailinho, festinha. Então ia toda, de alto a baixo. Eu falo: A., faz tanto sacrifício ... Ah, porque senão cria complexo. Olha, eu me lembro quando eu era ... Antes de sete anos, eu morava lá em Icaraí e tinha uma vizinha de (inint.) uma viúva com vários filhos. Eu chegava em casa, eu sempre fui muito assanhada, muito sapeca: mamãe, eu quero uma botinha marrom, com, com cano de camurça. Mamãe dizia assim: quem é que tem (inint.) é a I. ou é a C. Essas, minha filha, são filhas de viúva rica, você é filha de viúva pobre. Se você se comportar bem, vamos ver. Criou complexo em mim, M.E., ó, M.H.? Absolutamente. Meus vestidos eu ia a tudo quanto era festa, dançava feito um diabo, dançava a noite inteira. Aquele vestidinho!
D
 Como é que era? Se lembra de algum?
L
 Ih, se era gaze ou, ou 'voile', uma coisa transparente mas não ... Então a minha mãe era tão prática que ela fazia tons de rosa seco. E pouco a pouco ia tingindo, porque não podia comprar. Ia tingindo até chegar no azul-marinho, porque naquele tempo mocinha não usava preto, depois passou-se a usar, mas naquela época não se usava preto. Então começava do co... do rosa, do quase branco e ia, ia, até chegar no azul-marinho, então botava um enfeite, uma, um laço vermelho, uma faixa vermelha, uma flor vermelha, pra variar. Era outro vestido, era o mesmo. Agora eu me complexei com isso? Sempre tive relações abaixo da minha soci... da minha posição social, igual e acima da minha posição social, não só socialmente falando como até economicamente. Eu tenho amigas, amigos em todas as gamas. Agora tudo é complexo. E eu ia feliz da vida. Açúcar, M.H.?
D
 Hum, hum.
L
 No, no mês seguinte aquele vestido, de cor-de-rosa já estava azul.
D
 (inint.) e pra fazer?
L
 Olha, você sabe que minha mãe quando enviuvou do meu pai ela não ficou em condição econômica muito boa não. Agora ela tinha jeito pra costura. Ela não gostava era de serviço de cozinha. Então acho que ela (ruído/inint.) já costurava, não sei até se costurava pra fora, não sei. Eu não sei se era ela que fazia ou era alguma costureirinha, isso eu não me lembro não. Eu me lembro que quando aí me formei em farmácia, eu não quis anel de grau, eu disse: não, mamãe, eu quero um vestido da moda e um sapato da Casa Vigor. Então ganhei um vestido bacanérrimo de gaze, todo bordado de florezinhas, cor-de-rosa, muitas florezinhas, e um sapato, nunca me esqueço, verde-água com branco. Não quis anel, quis o vestido e o sapato.
D
 Hum. E assim em termos de ... Você tinha vários irmãos?
L
 Nós éramos quatro. Eu era a mais moça. A mais velha foi religiosa, depois meu irmão que morreu agora este ano, e eu tenho uma irmã que tem, teve nove filhos, perdeu dois, tem sete. É daí que vem a minha sobrinhada toda. Meu irmão só teve dois filhos, um não tem filhos, o outro tem três, três sobrinhos-netos, sendo que um é temporãozinho, o outro está com vinte e um anos e ele está com quatro.
D
 Em termos assim de preocupação com (sup.)
L
 (sup.) Econômica? (sup.)
D
 (sup.) Vestir, com roupas que usavam, os homens hoje são diferentes, não são?
L
 Em termos de quê? De mais apuro?
D
 Preocupados em ... Com isso, e enfim a gente vê pelas lojas (sup.)
L
 (sup.) Olha, olha aqui, eu vejo ... Eu acho que as lojas de homem são lindíssimas. A gente encontra até coisa mais bonita em homem do que em ... Então agora com o 'unique sexe' então, está pra mim. Porque às vezes a gente quer comprar um, um 'blaser' que a gente não encontra na loja de mulher e vai na loja de homem e encontra. Eu go... eu acho que ainda há ... Eu ultimamente não vou mais a lugar nenhum, sabe? Eu acho que ainda há uns homens que se rebuscam no vestir. Ainda há, alguns. Acredito (sup.)
D
 (sup.) Assim em detalhes, de, de (sup.)
L
 (sup.) Eu ainda acredito que haja. A gente vê aí na televisão, esses homens combinam tudo, camisa ... Ainda há. Esses 'speakers' e ... Às vezes eu sei as modas por essas mulheres aí da televisão, esses homens que já cortam o cabelinho assim, o, o vestidinho assim, jardineira. Eu já sei que é moda. Quando eu não leio no jornal, porque é como eu disse a você, eu acompanho a moda de longe, mas acompanho.
D
 Outra coisa também é que eu, pra mim pelo menos, eu acho que faz diferença. Há alguns anos atrás a gente olhava lojas de roupa feminina, de, de, de mulher, havia uma variedade muito grande de coisas. Mas as de homem eram assim (sup.)
L
 (sup.) Menos (sup.)
D
 (sup.) Muito rígidas, não é?
L
 É.
D
 Hoje em dia (sup.)
L
 (sup.) Não (sup.)
D
 (sup.) Que que a gente vê? A gente vê tanta coisa ...
L
 Olha, eu, eu digo a você o seguinte (sup.)
D
 (sup.) Você tem visto ulti... ultimamente essas lojas?
L
 Olha, eu vejo aquelas butiques lá de Copacabana, de mulher, eu acho aquilo uma bagunça, as Lilocas, as Não-sei-o-quê ... Porque, eh, O Lixo, porque eu fui ver, fui ver, fui ver.
D
 O Lixo, eu nunca fui. Como é que é?
L
 O Lixo é roupa suj... eh, usada, que naturalmente é lavada, é esterilizada. Então é co... é roupa, eh, manchada, quanto mais manchada, mais bonita. E eu acredito que seja esterilizada, não sei. E eu vejo assim butique assim, assim uma butique mais grã fina realmente, não ... Agora vejo loja de homem. Essas lojas de homem aí, não me lembro, não vou fazer propaganda, porque nem me lembro, acho lindas as, as vitrines de homem.
D
 Que que tem lá? Lembra de uma vitrine dessa, pra dizer assim.
L
 Ah, essa (inint.) a gente fala tanto aí na te... O homem também entende de mulher. É um turco, tem o nome de um turco. Ah (inint.) é Windsor, tem, tem várias lo... lojas de homem que eu acho lindas, lindas! E já de mulher não, porque, eh, não sei. Eu gosto da ... Engraçado é que eu sou um contra-senso danado, porque eu gosto, mas quando eu vejo assim uma loja, uma butique de, de mulher, essas butiquezinha, naturalmente as mais ... Eu não gosto. Parece ru... lojinha da rua da Alf... da rua Larga, da rua Marechal Floriano antigamente, aquela, aquelas coisinhas penduradas, aquelas blusinhas de, de malha pendurada. Ao passo que tem loja de homem por exemplo na Torre Eifel, eu acho a Torre Eifel uma beleza de loja! Tradicional! (sup.)
D
 (sup.) Tenta lembrar o que que tinha lá.
L
 Olha, suéter, eh, camisas lindas.
D
 Mas lindas por quê? Por causa do tipo ou do, da fazenda (sup.)
L
 (sup.) Tipo, fazenda, estampado. Bom, porque você vê que tem ... Hoje em dia ... Eu não vou dizer isso.
D
 Pode dizer! O quê?
L
 Eu acho que a moda está chamando ou despertando, essa moda de homem ... Agora me disseram que até guarda-chuva de homem é de bolinha. Eu não sei se isso é um sintoma ou se já é um resultado (riso) ou ... Eu, eu, eu não sei, eu acho que isso o, o, o ... Sei lá, eu acho que é uma atraçãozinha pra esses meios, meio homossexuais ou assexuados, não vou dizer bicha.
D
 Por que não?
L
 Porque, você vê, eles têm tanta coisa bonita, camisas lindas, 'foulards', 'foulards', não sei. Que antigamente eles usavam. Eu tinha amigos que jogavam tênis no Fluminense, que usavam seu 'foulard', mas a gente sentia masculinidade. Mas hoje em dia eles são tão ... Eu estou com a impressão que o homem hoje está mais apurado do que a mulher no vestir.
D
 Mais do que a mulher.
L
 Eu acho.
D
 Inclusive em termos por exemplo de tratamento de, de, de rosto, de, de mão, de, de cabelo (sup.)
L
 (sup.) Ah, dizem que vão, né, que vão a cabeleireiros, que vão ... Isso eu ainda não vi não. Cabeleireiro de, tem cabeleireiro de homem e ... Bom, tratar de unhas, isso eu já conhecia há muitos anos. Moços que limp... que faziam unhas, não é, homens que faziam. Mas fri... frisar cab... Bom, os cabelos compridos tinham que se frisar mesmo, né, principalmente esse pessoal de, de televisão, artista. Tem que se tratar. Agora eu não sei se isso ... Como eu disse a você, eu não sei se é causa ou efeito, não sei.
D
 Dá um aspecto assim diferente? Tira esse aspecto de, de, digamos assim, de masculinidade?
L
 De virilidade. Eu acho que eles estão, estão muito apurados. A gente vê, é calcinha justinha e a camisa combinando com ... E com essa bolsinha. Porque eles não podem botar nada no bolso, porque é tão justa a calça que eles têm que usar essa bolsinha. Nada que eu tenha contra eles, porque eu tenho amigos que são bichas e que eu adoro. Não estou fazendo um libelo contra eles não. São uns amores. Agora que eles são rebuscados, são. Agora são rebuscados porque são assim ou porque a, a moda se lhes ofereceu oportunidades de, de, de se apurarem mais.
D
 Agora ao mesmo tempo eu acho que às vezes a gente ... Eu pelo menos sinto. Minha geração foi uma geração assim muito mais [fala feminina (Vocês não querem mais nada?)]
L
 Eu só tomo um. Você quer mais? (sup.)
D
 (sup./inint.) eh, mais apurada, em relação por exemplo a tratamento por exemplo de cabelo, de pintura. E hoje eu acho as moças (sup./inint.)
L
 (sup.) Ah, não! Completamente, você vê que elas não usam mais pintura nem nada, né? Nem batom, nada. Ruge então, eh, eu acho que elas nem sabem o que é ruge. Batom não usam mesmo.
D
 Mas isso são as mais jovens, não é? Porque também tem ...
L
 Sim. É, essas de vinte, vinte e cinco anos.
D
 Mas também tem um, tem um grupo assim que carrega hoje bastante, não é, nesse tipo de ...
L
 Também. Exageram. Eh, a boca de coração, aquele batom forte, né, eh, risco. Bom, eu como sempre fui muito esportiva nunca fiz um tratamento de pele nem nada. Não tinha tempo, o tempo que eu ia perder em salão de be... de beleza, eu estava na praia ou, ou estava, eh, descansando duma noitada de, de boate ou de baile, então não ia perder horas em salão de beleza.
D
 Nunca foi?
L
 Não, não. Fazer pele, eh, tratamento de pele, massagem, nunca fiz. Nem creme.
D
 Nem pra, pra ...
L
 Cortar cabelo, sim, eu faço corte. Já me penteei quando eu morava na Tijuca, quando eu era moça, eu tinha cabeleireira, enrolava todo o cabelimho, toda ... Depois ...
D
 E sempre foi assim ne... nesse, nessa cor ou, ou ...
L
 Não, foi ... Agora está branco, né? Não, o meu cabelo era castanho claro. Engraçado, na minha família minha irmã e meu irmão são, são claríssimos. Eu que sou a mais morena, mas eu que tenho ca... cor de olhos e cabelos mais claros, porque meu pai era louro, louro, loiro. Loiro é porque eu li aí um livro de, por... tradução portuguesa, que eles dizem loiro, nós dizemos louro.
D
 Sei, mas, eh, como é que era nessa época que ia lá no (inint.) fazer cabelo.
L
 Bom, só fazia ... Enrolava, fazia permanente, enrolava tudo. Ficava assim tudo bem encacheadinho e, eh, eu gostava de, de ter meu vestido, eu gostava.
D
 E essas pessoas assim que não são nada naturais. Então não tem tempo de fazer cabelo. Hoje em dia tem mil processos assim artificiais de (sup.)
L
 (sup.) Bom, eu acho (sup.)
D
 (sup.) de substituição de (sup.)
L
 (sup.) Essa gente que, essa gente que é vaidosa sempre tem tempo pra ... Eu a muito custo vou fazer minhas unhas, cortar meu cabelinho, eu sempre fui muito desprendida de vaidade, sempre, muito. Apesar de gostar, como eu digo a você, eu gostaria de ser [fala feminina (Querem mais alguma coisa? Água? Suco?)] Não. Quer água?
D
 Não, obrigada. Sim, mas esse, esse desprendimento não deixa de, de observar, você não deixa de observar outras pessoas.
L
 Não.
D
 Que às vezes há pessoas assim muito sofisticadas. E pra mim interessaria ter uma idéia assim de por exemplo se apresentar bem e ... Pra uma solenidade, pra uma coisa dessas, digamos que uma pessoa tivesse que utilizar todos esses serviços e coisa. E quem ...
L
 É. Eu acho, eu acho válido: se são mulheres que es... (sup.)
D
 (sup.) Sim. O que que você imagina que ela teria que fazer? Agora vamos tentar assim imaginar. Supondo, supondo (sup./inint.)
L
 (sup.) Bom, naturalmente fazem massagens (sup.)
D
 (sup.) Hum (sup.)
L
 (sup.) Eh, maquiagem, claro!
D
 Sim, mas essa maquiagem assim em detalhes que que ela usaria de maquiagem?
L
 Ah, isso eu não sei, isso é lá no salão que devem saber, de acordo com o tipo de pele dela, da ... Eu sou, eu ... Creme tal pra pele tal. Como eu vejo, xampu tal pra cabelo tal. Então acredito que creme de, de rosto também deve ser a mesma, nessa mesma base: úmido, seco, gorduroso e ... Não sei porque eu nunca fiz. Não fiz. Nunca fiz. Outro dia eu fui aí a Se... mulher da Sears queria me empurrar um creme. Eu digo: minha filha, eu nunca usei nada quando eu era moça, agora é que eu não vou usar, eu gosto de apanhar sol, me queimar, me descascar, não me descasco não, que eu agora já estou curtida, gosto é disso, minha filha. Não, não quero nada de creme não. Mas então eu acredito que essas senhoras de sociedade, que devem freqüentar Renault e outros por aí, devem ter lá o, a sua ... Como se diz? Ritual de massagens, de maquiagem, de creme, de sombras, de 'crayon', de ruge, batom. Pode ser isso. E depois vem a parte do cabelo, não é? Deve ser massageado com isso, massageado com aquilo. De... deve de tomar muito tempo. Mas eu, eh, é válido porque são mulheres que estão sempre na, na crista da onda, estão sempre citadas, já criaram uma fama, um ... Elas são quase mitos, tem umas mulheres aí que são mitos. Mulheres não saem da, não deixam de sair na coluna.
D
 Exatamente, mas há também uma série de recursos artificiais (sup.)
L
 (sup.) Ah, sim! (sup.)
D
 (sup.) Hoje em dia assim propiciadas pra favorecer e facilitar (inint.)
L
 Ah, as plásticas, não é? As plásticas.
D
 E, mas mesmo processos artificiais por exemplo de utilização de unhas.
L
 Unhas ...
D
 E pra cabeça.
L
 E pra cabeça. Ah, tem. Isso deve ter. Eu calculo, não sei, mas deve existir uma infinidade de, de artifícios, que a tecnologia, a cosmetologia (sup.)
D
 (sup.) Hoje em dia por exemplo (inint./sup.)
L
 (sup.) cosmetologia, é cosmetologia.
D
 A gente entra em qualquer loja ... Hoje em dia a gente não vê mais por exemplo preto de cabelo duro, né (inint.) está todo mundo usando.
L
 Não. Às vezes o, a branca é que faz o 'black-power', né? Se bem que ele já está caindo. E o preto alisando o cabelo e a, e a branca às vezes encrespando e ... Agora já acabou essa moda (inint.) pouco tempo atrás, uns poucos anos, 'black-power'. As brancas. Os pretos também entraram na onda, mas pra eles não era difícil. (riso)
D
 Você pegou aquela época em que os vestidos era muito, eh, rodados? Toda roupa interna, íntima era diferente ou era a mesma coisa? Fala da parte de roupa íntima de mulher e de homem (sup.)
L
 (sup.) Ah, não, não, íntima eram combinações bordadas, eh, de seda, seda natural ou, ou não, mas eram todas bordadinhas e ... Vestido ve... como era? Transparente. Ficava a combinação até aqui, ficava muito ... E hoje em dia não, é anágua ou nem anágua. Sutiã, calcinha e olhe lá! Porque as, as que não precisam usar sutiã nem o sutiã usam. No que elas fazem muito bem.
D
 Mas são diferentes também? Assim em termos de formato de ...
L
 Eu acho, eu a... você sabe que eu acho que houve uma modificação na, na, na, no, no tipo físico da mulher? Elas são muito mais altas, esguias, finas, pouco busto. Eu não sei se é massagem ou se são os ba... as aulas de balé que elas têm, ginástica. Eu, eu noto, eu noto que, ah, essas meninas de hoje são todas bem lançadas, altas, esguias, sem barriga, pouco busto. Ao passo que o nosso tempo ... Acho que era até era bonito mulher bem avantajada, né? Ô!
D
 Hum. E pra en... e ainda tinha assim mil recursos pra encher, não é?
L
 Ah, tinha! Bom, eu não peguei espartilho, né?
D
 Sim, mas eu, eu peguei por exemplo ...
L
 Ah!
D
 Aquelas ...
L
 Bom, cinta, a gente usava cinta, usava uma cintazinha e tal. Mas aquele negócio de espartilho assim não, isso eu não peguei. Acho que não. Minha mãe (sup.)
D
 (sup./inint.) roupa também do homem também mudou muito. Esse tipo de coisa interna, né? De ...
L
 É. Você sabe que eu tenho uma amiga que já está com filha, uma neta que é estudante de medicina. Quan... eu achei tão engraçado quando ela casou, não é? Ela me dizendo que o marido tinha as cuecas combinando com a camisa. Olha, vamos dizer que ela já tenha se ... tenha casado há (inint.) mais de vinte, muito mais, que a menina está na faculdade de medicina, a neta, dá uns trinta e tantos anos, vamos dizer, quarenta. Eu achei graça por ela me dizer que o marido tinha cueca combinando com a camisa. Que eu achei lindo de morrer, não vi não, mas achei lindo, só de calcular, achei lindo de morrer a cuequinha lá do, do Z. combinando com a camisa.
D
 (risos/inint) mas hoje também se faz ...
L
 Ah! Pois é o que eu, eu estou dizendo a você. Por isso que eu, agora estou me lembrando. Você puxou, eu me lembrei desse, desse detalhe. Porque eu achei, eu achei lindo, eu achei uma beleza. Bom, naquele tempo eles usavam, por exemplo meia combinava com a camisa, né? E a gravata combinava com, com a camisa, com o terno. Agora a gente vê aí verde, terno verde, a camisa cor-de-abóbora e a gravata azul fulgurante! Vale tudo, vale tudo.
D
 E, e cuecas assim também tem ...
L
 Tem, tem uns tais Zorbas, Zorba. Ah, eu não posso dizer. Desliga, depois eu te digo.
D
 Fala. Não (inint.)
L
 (sup.) Não posso. Eu não posso dizer o que eu penso.
D
 Fala o que pensa, eu estou puxando de propósito!
L
 Não, eu vou dizer uma coisa que você vai ... Olha, eu acho, eu vou dizer.
D
 Pode falar, depois eu vou falar, perguntar traje de banho.
L
 Não vou dizer à M., porque a M. vai morrer de vergonha. Eu estou convencida que essas cuecas que eles usam vai prejudicá-los futuramente.
D
 Prejudicar como? Não entendi.
L
 Viril... eh, organicamente, funcionalmente. Porque, M.H., você se lembra as, as gueixas não usavam aqueles sapatos apertados, não ficavam com o pezinho assim? Já pensou essas cuecas apertadíssimas? Pensa bem! Ouve o que eu estou dizendo. Você é mais moça do que eu, daqui a uns anos vai dizer: Ih, a L. tinha razão. Você vai ver!
D
 E os trajes de banho?
L
 Bom, trajes de banho, eles usavam uma, um calçãozinho como um, assim tipo camisa de meia, às vezes listrada.
D
 Hum, mas e hoje (sup.)
L
 (sup.) Ah, hoje é sunga, só, não é, sunga. E também todos apertados, todos ... (risos) A gente vê aí casais, às vezes eu não sei se é um, se são, se é casal ou se são dois homens, ou se são duas mulheres. Então no tempo que teve aí uns cabelo comprido, as meninas quase não têm busto, como eu disse a você, elas com uns corpos maravilhosos, acho que é negócio de balé, massagem, enfim ... E a gente não sabia distingüir, minha filha, que às vezes pelo busto, nem pelo busto você distingue algum, eh, algumas mulheres e os homens não têm nada pra distinguir.
D
 Não dava pra ver.
L
 Ah, está tudo de cueca Zorba, apertando-se todo, sei lá. Você vai ver! Eu, eu me lembro disso, das gueixas, tanto apertavam o pé, que elas ficavam com o pé, eh, atrofiado. Olha, e você sabe de uma coisa? Eu estou dizendo isso, mas no fim eu falando com uma senhora minha, amiga minha, tem um neto, ele disse que não quer usar. O menino parece que tem doze ou treze anos. Eu disse: mas, I., por que que ele disse isso? Ah, L., eu não sei, nem quis perguntar, mas o meu neto disse que não quer, L. Então eu, eu, eu estou chegando lá, heim! Bom, mas isso é outro assunto. Você me obrigou a falar, você me obrigou, você me obrigou (sup.)
D
 (sup.) Não (inint.) em termos assim de, de, de, de atualização. Agora uma outra coisa que pra mim interessava, quer dizer, em termos de depoimento, seria o traje masculino solene antigamente.
L
 Ah, sim, terno completo, eh, calça de, listrada, 'bas-ton', jaquetão. Era muito bonito, era muito formal.
D
 Por quê?
L
 Chapéu, camisa branca, em geral branca, né? E ...
D
 E assim pra uma solenidade? (inint.) às vezes eles usavam determinado tipo de ...
L
 Sim, isto era, em geral era o, era, em geral, a ca... a, as calças eram listradas e o jaquetão, jaquetão é aquele que transpassa. Era, em geral era um cinza escuro, combinando com a calça listrada, era (inint.) de longe você pensava que era cinzenta. Então combinava. Então botava aquela gravata 'bas-ton' prateada e tinham o seu chapéu 'gelot', alguns, outros não eram 'gelot', enfim, muito bonito.
D
 E houve também uma fase assim ... E até ainda hoje, né?
L
 Fraque.
D
 Ah, fraque eu gostava de saber como é que era.
L
 Não era tão bonito. Eu gosto mais dos atuais, que são de, de rabo comprido, cauda longa. Eram mais, mais curtinhos os, as abas. É aba, né? É aba. Eram mais curtas.
D
 Eram mais curtas?
L
 É, mas de hoje s~ao mais elegantes.
D
 Agora houve uma fase também em que os homens tinham assim quase que um traje oficial, um uniforme quase, pra por exemplo bailes (sup.)
L
 (sup.) Era, era o tal jaquetão, eles usavam aqueles botões. Nao sei se é 'blaser', não é, porque 'blaser' é esporte. Mas usavam, em geral. Não sei se eram três botões, três de cada lado, azul marinho, preto. Sempre de gravata, eh, de camisa branca.
D
 E a gravata também ...
L
 Combinando.
D
 Não era esse tipo ...
L
 Não, larga, gravatinha comum. Não é como essas borboletonas agora, essas borboletaças que usam, que eu acho bonito. Ah, eu estou dizendo a você que eu estou na onda, M.H.. Eu adoro tudo que é moderno. Tenho uma inveja de não ter vinte anos agora, que eu ia sair com uma, com um sapato verde, outro vermelho e eu ia lançar moda.
D
 Mas por que que tem que ser com vinte anos? Por que que não pode ser na sua idade?
L
 Agora é ridículo, não é? Agora está um pouco ridículo.
D
 É ridículo por quê? (sup.)
L
 (sup.) Deus me li... vão pen... vão me chamar de perua aí na rua.
D
 Por quê?
L
 Você não sabe que tinha uma mulher aí na cidade que, que se pintava muito e a gente olhava pra ela e ela desatava em palavrão. E alguém gritava de longe: perua! Pra quê? Amanhã, se eu sair com um sapato vermelho e outro preto, vão pensar que eu estou gagá, que eu estou com esclerose. (risos) Não posso, isso eu não posso.
D
 Sim, mas isso é uma forma simbólica de dizer que vai sair à vontade.
L
 Mas eu ando. Você não acha que eu estou ... Eu já saí hoje, já fui visitar uma amiga assim como eu estou.
D
 Como é? Que que é isso?
L
 Assim, ó, um 'blue-jeans', um canguru, meu 'foulardzinho' e um mocassim. Eu fui visitar uma amiga hoje assim como eu estou.
D
 E em termos assim de enfeites?
L
 Eu gosto de colar de pérola. Brinco nunca usei, fico com uma dor de cabeça desgraçada! Relógio eu achei. Você está olhando pro meu re... achei, lá na Vieira Souto. Lindo de morrer. De homem. Mas é bom, porque eu enxergo mal. Esse de longe eu enxergo. Eu tenho relógio pequenininho, esse eu achei em plena Vieira Souto, um, uma hora da tarde, num domingo feérico. Achei. Lindo, não é? Fiquei esperando pra ver se o dono aparecia, não usei enquanto não ... Durante quinze dias acompanhei os, os anúncios no Jornal do Brasil pra ver se dava. Não apareceu, eu passei a usar.
D
 E isso nas mãos?
L
 Ah, eu sempre usei isso. Anel de (inint.) me acompanha desde menina. Eu não quis anel de grau. Tive uns, uns anéis-fantasias, um anelzinho aqui, com a minha pedra que é topázio, aquele antiguinho que a gente usava. Mas vai me ferindo, acaba me ferindo. O único é esse, que aliás noutro dia eu vi que já estava ficando gasto! Agora colar de pérola eu adoro. Adoro. E tenho.
D
 E outras coisas assim de ...
L
 Gosto de uma boa bolsa. Gosto de um bom lenço. Trago lenço da Europa sempre. É outra coisa, esqueci de dizer, perfumes e lenços. Trago, gosto, adoro lenço no pescoço, não sei se é pra tapar aqui um bocadinho, tapear aqui um bocadinho já as pelanca. Mas eu sempre gostei. Mas sou boêmia, desligada, nada curiosa. Eu não sei se é por preguiça mental. Você pode deixar um documento aí, se é uma carta sua, que eu não leio. Eu não sei se é por falta de curiosidade ou por preguiça mental, porque não, não me diz respeito não me interessa. Eu sou muito desligada. Olha, eu morava aqui, com a M., já há uns quinze, dezesseis anos, tem vinte, vinte e um que estou aqui, e ela foi fazer um retiro, que ela é muito religiosa, lá em Belo Horizonte. Eu então combinei três pessoas pra virem fazer um joguinho. Nesse tempo eu jogava. Enjoei. Bom, às nove horas eu mandei as empregadas servirem um cafezinho, depois eu mandei que elas se retirassem porque elas não ... Eu parto do seguinte: elas não são minhas empregadas.
D
 Essa moça que serviu o café aqui pra gente, ela estava com um traje.
L
 É empregada da M., né? Porque a M. é inglesa, minha filha. Você sabe que nessa casa se usa lavanda?
D
 E é?
L
 Usa sim.
D
 E, e, e esses trajes de, de ...
L
 Ah, por ela, usava preto, porque elas não querem mais usar o uniforme preto com aventalzinho branco. Não querem mais. E a M. nesse ponto ela é muito humana, muito compreensiva. Então compra esses uniformezinho mais bonitinhos, que parece um vestidinho, né, e bota aí o avental, eu acho mais na hora assim de servir, fora disso não, não usa uniforme. Mas voltando ao meu jogo, estava aqui jogando, mandei embora. Aí mandei botar na garrafa térmica o café e preparei uns sanduíches (inint.) na hora de servir onde é que eu encontrava a louça, já morava aqui há qua... dezesseis anos. Aí eu peguei, eh, pratinhos de sobremesa. Não estavam quebrados não, mas eram de cerâmica, que já, é um cor-de barro que já estavam, não estavam quebrados não, mas a tinta estava ... E eu servi. No dia seguinte, uma babá que nós tínhamos aqui, que morreu agora, no dia dois de janeiro vai fazer do... um ano agora, que era um amor de pessoa, disse: dona L., que ela era muito mais 'rafinée' do que eu, muito mais. Você pensa que ela ia deixar eu sair assim? Jamais! Ela disse: mas, dona L., a senhora serviu suas visitas com esses pratos! E a M. chegava de tar... à tarde nesse mesmo dia. Foi fazer queixa. Então a M. me pegou, me mostrou. Já morava aqui há uns dezesseis anos, me mostrou onde é que tem a porcelana, os pa... os talheres de prata. Porque eu ... Você viu como eu sou pouco curiosa e desligada, porque depois de dezesseis anos não sabia onde é que tinha louça boa na casa!