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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Tempo cronológico"

Inquérito 0306

Locutor 371
Sexo feminino, 40 anos de idade, pais cariocas
Profissão: médica
Zona residencial: Sul

Data do registro: 13 de outubro de 1975

Duração: 40 minutos

 

Som Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 Então a gente podia começar assim, você descrevendo suas atividades.
L
 Bom, em termos de horário, eu trabalho oito horas por dia.
D
 Hum, hum.
L
 Meu horário de entrada é às oito, de oito ao meio-dia, tenho um espaço de uma hora e meia, depois pego de uma e meia e vai até as cinco e meia. Ahn, antes de sair de casa naturalmente tem aquelas ativi... Praticamente não tenho nenhuma atividade. Eu levanto ... Como eu moro com meus pais, então empregada e tudo mais, está tudo pronto, é só levantar e ir pro trabalho. O ano passado foi um pouco mais complicado, porque as crianças tinham horário, que coincidiam com o meu, então ainda tinha aquele problema de levar criança na escola, voltar e ir pro, depois pro meu trabalho. Atualmente, não, este é um horário que é mais cômodo pra mim, então eu não tenho nenhuma interferência em horário de criança na escola, eu não os vejo pela manhã. A não ser segunda-feira, que eu levo o menino ao, ao judô. Fora disso, eu simplesmente vou pro trabalho de manhã. Minha função lá, eh, se divide em reuniões e avaliações, eu faço chefia. E essa chefia então me toma assim tempo, não em lidar diretamente com o paciente, em tratar o paciente, mas aquela avaliação inicial, em que eu vejo se ele é ou não elegível para o, para a ABBR, onde eu trabalho. É um trabalho assim que me desgasta muito emocionalmente, é uma carga emocional muito grande, aquela ansiedade de cada um que chega e que acham sempre que aquilo é um pátio de milagres, né, que vão ficar bons em três tempos. Então você chegar e dizer ao paciente se ele vai se recuperar ou não, também não se tem uma bolinha de cristal, é pela prática que se vai, que se vai adquirindo, então nos dá assim possibilidade de se dizer mais ou menos as possibilidades.
D
 Isso é dito assim em termos de tempo?
L
 Em termos de tempo pelo menos é o que mais eles perguntam: quanto tempo eu levo pra me recuperar?
D
 E aí, como é que vocês, eh, tratam, lidam com isso?
L
 Bom, nós temos muita ajuda do, da, do set... serviço de psicologia, mas nós somos preparadas justamente pra isso. Nós não podemos nunca dizer que vai levar xis de tempo, o que se, de re... responde sempre é que o tempo é uma coisa imprevisível, cada caso é um caso, cada um reage de uma maneira, então a forma de tratamento também varia e a reação de cada um muito mais ainda. E nesse caso então é o lado sempre assim muito doloroso pra nós, quando já estamos vendo de antemão que é um caso inelegível, então sempre digo que o meu gasto físico é nenhum.
D
 Existe assim, eh, um tempo determinado pra atendimento ou (sup.)
L
 (sup.) Eu levo, numa avaliação, em média, em casos neurológicos, uma hora, uma hora e quinze (inint./sup.)
D
 (sup.) Mas durante o dia você só faz isso ou (sup.)
L
 (sup.) Não, durante o dia eu distribuo, eu tenho mi... eu tenho as reuniões de equipe, que eu sou obrigada a participar.
D
 E mais ou menos que horas?
L
 Isso varia. Eu tenho segundas e sextas pela manhã.
D
 Hum, hum.
L
 Levo toda a manhã, hoje por exemplo eu saí da reunião meio-dia e dez, meio-dia e quinze, eu comecei nove, hoje atr... eh, atrasou um pouco, mas em geral é de nove horas ao meio-dia. Então antes de eu ir pra essa reunião, quando há necessidade, eu faço avaliação. E tenho às sextas-feiras o que nós chamamos de ronda (inint.) não é um termo muito bem aplicado, né, pega muito mal, mas é uma visita que nós fazemos, eh, que nós dividimos, cada semana em determinado setor, que nós temos a internação. Então leva a semana inteira. E aí vê-se muito mais a parte administrativa do que a parte técnica: se o programa vem sendo cumprido, se existem reclamações tanto da parte de enfermagem como da parte de reabilitação e tudo mais. Tem reuniões também na parte da tarde, enfim, o tempo é ocupado dessa forma e (inint./sup.)
D
 (sup.) E nesse atendimento, qual é o, a, o período, quanto tempo leva com cada pessoa e tem hora marcada ou ...
L
 Todas as avaliações são com horas marcadas, quer dizer, no meu trabalho é com hora marcada. Por isso eu falei, levo aproximadamente uma hora, uma hora e quinze.
D
 E como é que faz pra marcar?
L
 Como é que faz pra marcar?
D
 Hum, hum.
L
 Bom, nós temos uma secretaria médica.
D
 Hum.
L
 Na secretaria médica voc... o paciente, inicialmente é visto pela, pelo médico, médico de, de acordo com a es... com a necessidade que ele apresenta, né, se for um caso de ortopedia, tem um ortopedista, um caso de neurologia, tem um neurologista. Ele faz aquela, a consulta inicial e encaminha aos diversos setores. Nós temos vários setores lá dentro: fisioterapia, terapia ocupacional, foniatria, psicologia, eh, paralisia cerebral, como a (inint.) como a parte, um setor a parte e ... Não, eu creio que é só. Então ele marca as diversas, eh, solicita as avaliações. De acordo com o resultado dessas avaliações é que o caso é elegível ou não. Ele limita-se apenas a fazer a parte dele, a consulta, dizer o que ele tem.
D
 E as pessoas que querem ir lá, como, pra poder, pra que elas possam receber esse atendimento, como é que elas fazem, elas (sup.)
L
 (sup.) Bom, ela tem várias formas de che... de se chegar lá, uma é através do médico particular.
D
 Mas aí tem que marcar?
L
 Po... pode marcar pelo telefone (inint.) no caso de médico particular, ele leva um atestado, uma solicitação de tratamento.
D
 Hum.
L
 Quando ele espontaneamente chega à ABBR, então nós mandamos, se ele pu... eh, pretende continuar com seu médico particular ele, existe uma ficha, essa ficha então o paciente leva ou quem for ao médico responsável, pra que ele preencha, solicitando o enquadramento dele dentro lá do, da instituição. E nesse caso então, havendo ou não uma consulta médica, independente de ser paciente particular ou da própria ABBR, ele só é admitido após as avaliações.
D
 Hum.
L
 A parte técnica é que delibera se ele fica ou não em tratamento.
D
 E assim o tempo que você gasta com cada pessoa que você atende?
L
 Uma hora.
D
 Uma hora sempre?
L
 É, quase sempre, porque eu te... o peso lá são casos neurológicos. São os chamados acidentes vasculares cerebrais, está muito em moda hoje, né? Derrames, embolias, tromboses. O índice deles está, cada vez está se tornando maior numa faixa de idade bem menor do que há dez anos atrás. Quando eu iniciei, eh, quase todos os casos de hemiplegia, um lado todo paralisado, era em torno assim de cinqüenta anos, eram pessoas assim idosas. Hoje nós temos faixa assim de vinte anos, vinte e dois, uma coisa assim que nos surpreende muito em termos de estatísticas (inint.) assim meio apavorados, sabe? E fugiu com isso completamente à linha inicial, à finalidade com que a ABBR se propôs inicialmente a funcionar. Porque quando ela foi fundada, ela foi fundada visando apenas a paralisia infantil, que era uma coisa terrível, né? Mas hoje em dia praticamente não tem casos de pólio depois das vacinas e a incidência maior, o maior número de pacientes são justamente os acidentes vasculares, acidentes de trânsito, que é uma coisa tremenda que nós temos, e os mergulhos.
D
 E no caso por exemplo de pólio, vocês dão orientação e, pra vacinação e, enfim (sup.)
L
 (sup.) Não, não, depois que adquire a pólio ...
D
 Não, mas, eh, em termos de, profiláticos ou, ou só atendem ...
L
 Não, só atendemos, porque não há necessidade de fazer uma profilaxia, porque as próprias escolas e o governo já fazem através (sup.)
D
 (sup.) Qual é assim a, a, a as épocas de (sup.)
L
 (sup.) De pólio?
D
 De aplicação de (sup.)
L
 (inint./sup.)
D
 Das vacinas.
L
 A vacina pertence ao governo, só é dada nos postos (inint./sup.)
D
 (sup./inint.) em épocas em que (inint./sup.)
L
 (sup.) Não, o ano inteirinho ela vai dar. Bom, a primeira dose deve ser dada por volta dos três meses de idade.
D
 Hum, hum.
L
 São dadas, eh, aos três, aos quatro e aos cinco. Depois há um descanso até os oito meses, quando já há a segunda dose da Sabin.
D
 Hum. Só?
L
 Aí ele tem periodicamente, depois são os reforços aos dois anos, tem aos dois, depois aos três, essa, essa parte eu não estou me recordando bem não, porque fica mais a cargo de puericultura, né, então eu não estou bem a par. E a esc... e a, a escola pública também, que solicita muito. Eu acho que é uma coisa muito boa a exigência deles só aceitarem as crianças com os atestados todos. Isso obrigou a, as, eh, as mães ao, a levarem os filhos às vacinas, né?
D
 Agora me diz uma coisa, em termos assim de sua rotina de trabalho, há dias mais atribulados e dias menos atribulados?
L
 Segundas, quartas e sextas são os dias bem mais atribulados do que terças e quintas. E as manhãs muito mais do que as tardes. Isso se, se explica, porque há o hábito dos, dos hospitais só funcionarem na parte da manhã, só hospital público. De modo geral o grosso é na parte da manhã. E isso também eles resolveram aplicar lá na instituição, que é particular, não tem nada a ver com o governo. E procura-se muito mais a parte da manhã do que a parte da tarde. Nós temos inclusive dificuldades de usar alguns horários da, da manhã. Quando nós dizemos: não, pode ser atendido na parte da tarde, eles se surpreendem: ah, existe à tarde também? Então eles dizem: ah, então eu prefiro.
D
 E à noite (sup./inint.)
L
 (sup.) Não, não.
D
 E geralmente assim à noite você faz o quê?
L
 Bom, eu gosto muito de ler. Atualmente não tenho ido muito ao cinema não, mas sou meia fanática, sabe, eu sou de ciclos. Não sei se sou eu ou se é, são os cinemas. Quando leva bons filmes às vezes eu vou quase que diariamente. Gosto muito de sair, eu não gosto muito de ficar dentro de casa não.
D
 E as crianças?
L
 Bom, as crianças, eu quando chego, eu já encontro o menino em casa. A menina tem um horário ... Eu chego às cinco, quinze para as seis, que eu moro aqui perti... eh, trabalho perto, né? Eu então já encontro o M. V. em casa. A menina só chega as sete horas. Ela tem um horário de três às sete, de modo que rapi... Às vezes eu vejo, quer dizer, eu encontro acordada de manhã, né, é muito raro. Ela levanta-se mais tarde. E então fico com ela esse tempo até sair. Em geral eu saio depois de no... dez horas. Nove e meia, dez horas é a hora que eu costumo sair.
D
 Seu marido também tem um horário assim igual a você?
L
 Tem, ele vai me apanhar. O atendimento particular que ele faz, ele procura sempre fazer de modo que dê chances de me apanhar. Traz aqui e depois então ele vai fazer algum atendimento, volta, e depois então é que nós saímos. Nós somos muito boêmios. Nossa vida começa sempre depois das dez.
D
 E aí?
L
 Bom, então aí eu vou ao cinema, janto fora muito, embora não goste de comer, mas gosto muito de sobremesa, (risos) então eu vou, eh, ao teatro, eu gosto muito, ele não gosta de teatro, mas eu gosto.
D
 Hum.
L
 E televisão, muito pouco. Só quando eu estou em casa, eu prefiro noticiário, e leitura, porque realmente é o que me absorve muito. Eu durmo muito pouco, então eu aproveito pra, esse pouco, as horas que eu não durmo, lendo, né?
D
 Dorme pouco como?
L
 Eu não ... Um problema meu, que eu acho maravilhoso, eu costumo, em média, dormir três horas a quatro horas por noite. Acho ótimo, porque eu ganho muito tempo com isso. Desde doze anos que eu sofro de insônia.
D
 Hum.
L
 Já fiz vários exames e eles disseram, chegamos à conclusão que eu sempre dormi pouco, então não é nem insônia não, sabe, é a constituição minha. Como pouco e durmo pouco, mulher econômica mesmo. (riso)
D
 E isso mais ou menos começando a que horário, pra dormir, pra acordar?
L
 Bem, nós aqui nunca nos deitamos no dia, nós dormimos sempre no dia seguinte.
D
 Hum.
L
 Eu, meu marido e minha mãe (inint.) fica até meia-noite e pouco, mas, eh, nós nos deitamos por volta de uma hora. Eu em geral acordo cinco horas, às vezes até antes, quando durmo, porque, às vezes também como sábado, nós não saímos, que chovia muito e o meu marido teve caxumba, né? Então estava de repouso a semana passada toda (inint.) no último dia assim do repouso. Então nós ficamos aqui assistindo televisão até as três e meia da manhã. Depois fomos nos deitar, mas eu não consegui dormir, quando foi (inint.) cinco horas, eu estava lendo. Então foi ótimo, que eu comecei a emendar, sábado então um dia assim de maior movimento, aí eu posso curtir mais as crianças, a casa, né, a possibilidade de fazer compras.
D
 E aí, eh, sábado e domingo os horários são diferentes, das atividades? (sup.)
L
 (sup.) Ah, completamente diferentes. Aí eu procuro ficar bem mais com as crianças, porque o pouco que eu fico com eles eu procuro me dar o máximo, pra compensar esses horários. Era uma coisa que eu sempre me questionava muito. Era ... Inclusive eu tinha sempre muito medo em relação a filhos, era o pouco tempo que se fica com eles. Eu cheguei à seguinte conclusão: é preferível se ficar menos, é preferível não, o ideal seria ficar sempre muito com eles, mas eu procuro, o pouco que eu fico com eles eu me dar muito. Eu tenho um relacionamento que eu considero assim muito bom com eles. Eles são muito abertos, têm muita confiança em mim e no pai, nada eles escondem, são crianças que não têm medo, eles não, não se intimidam diante das coisas que fazem, eles têm plena confiança assim ma... tudo o que acontece nas escolas, na escola, eles chegam e comentam. Quer dizer, eu acho que nós ganhamos confiança neles, então o importante foi isso.
D
 E em termos assim de horários como é que eles funcionam?
L
 Em termos de horário em relação a mim?
D
 Em relação à vida deles, à rotina deles.
L
 Bom, eles têm a rotina de escola. O menino vai pra escola às onze, sai às três. Às segundas e sábados pela manhã ele tem judô. De oito às nove segunda, e sábado de nove às dez, de oito às dez. E durante a tarde, depois de três horas, o meu menino tem muita atividade, eu acho muito importante o trabalho em equipe, jogos, que ele é muito, muito vivo, né, tem muita vivacidade, muita (inint.) então seria um crime ficar num apartamento como esse o dia inteiro, não há nem por onde. Ele, quando sai da escola, ele faz atle... eh, atletismo, então (inint.) tem futebol, tem vôlei (inint.) e tinha mais uma ... Ah, e o próprio, o próprio atle... eh, atletismo. Eu nem sei direito o que, quais as, o, as modalidades que ele faz. Então ele se ocupa até mais ou menos seis horas, na hora que ele vem pra casa, toma banho e tal e de manhã ele estuda, né, antes das onze. Ele levanta cedo e dorme relativamente cedo (inint./sup.)
D
 E ele tem a facilidade pra dormir, pra acordar?
L
 Tem, o M., o M. V. então é incrível. Ele, de primeira, dormia, às cinco e meia da tarde já estava dormindo, eu que comecei a trocar o horário dele, procurar fazê-lo dormir um pouco mais tarde, a fim dele ter maior contato comigo e com o pai, né, porque senão (inint.) então eu preferi atrasar assim o horário do jantar dele e agora ele já deita um pouco mais tarde, por volta de oito e meia.
D
 A menina também?
L
 Não, ela puxou um pouco a mim, sabe, então ela gosta assim de dormir meia-noite, se deixar, mas eu é que não deixo. Nove e meia, dez horas o mais tardar, eu boto na cama. E ela então levanta também um pouco mais tarde, né?
D
 Mas tem dificuldade quando precisa acordar?
L
 Não (sup.)
D
 (sup.) Ou ela acorda sem problema nenhum? (sup.)
L
 (sup.) Não precisa, o hora... Ela não precisa ser chamada pra acordar, porque ela só estuda às três horas da tarde. Ela não tem nenhuma obrigação na parte da manhã. Então quando é nove e meia, nove horas, ela acorda. Espontaneamente ela acorda e os de... faz os deveres, toma banho, almoça, vê um pouquinho de televisão pra ir pra escola às três horas.
D
 Em termos de relógio, a casa não precisa, né? (inint.) tudo assim mais à vontade ou (inint.)
L
 Relógio?
D
 Hum, hum.
L
 (inint.) não sei se você notou, nós temos um relógio aqui. (risos)
D
 Hum (inint./sup.)
L
 (sup./inint.) relógio aqui em casa.
D
 Não usam?
L
 Não uso (inint.) me sinto muito mais obrigada, eh, em termos de trabalho.
D
 Você está de relógio aí?
L
 Estou.
D
 Então descreve o seu relógio?
L
 Se eu esqueço?
D
 Descreve.
L
 Como?
D
 Diz como é que ele é.
L
 É, ele é oval, com modelo tipo Pierre Cardin, só que é o modelo, tem ponteirinho, eh, clássico e os números são em números romanos.
D
 Que que ele marca, só horas?
L
 Só as horas.
D
 Só as horas?
L
 Só as horas.
D
 Muito diferente desse aqui?
L
 Bastante diferente do seu.
D
 Como é que é?
L
 O seu tem minutos, segundos, tem calendário, calendário não, né?
D
 Hum, hum (sup.)
L
 (sup.) Parece cronômetro.
D
 Hum, hum.
L
 Certo?
D
 Hum, hum.
L
 É redondo, tem uma pulseira bem diferente, é grande, o meu é bem menor.
D
 Hum, hum. É (sup.)
L
 (sup.) Os pont... E não tem número, né? Deixa eu ver. Tem, tem número.
D
 E como é que (inint.) corda no seu?
L
 O meu não é automático.
D
 Ah, não? (sup.)
L
 (sup.) Tem corda pra quase quarenta e oito horas.
D
 Hum, hum. E pra acordar também não usa?
L
 Não.
D
 Você nem tem?
L
 Despertador?
D
 Hum, hum.
L
 Não, porque eu sou o próprio despertador da casa, né? (riso)
D
 Você é a primeira?
L
 Eu sou sempre a primeira. Eu e pa... eu e papai. Papai levanta-se muito cedo e eu também. O meu horário, quer dizer, eu não preciso me levantar à hora que levanto, né, poderia dormir tranqüilamente até as sete e pouco da, da manhã, sete e quinze, bastaria me levantar, tomar o café, eu trabalho é coisa de cinco minutos daqui, não haveria necessidade nunca de eu estar acordada às cinco horas, cinco e meia, né?
D
 Ô M., e esses relógios, eles têm (inint.) épocas, uma variedade enorme assim de relógios (inint.) você lembra assim relógios que você achava interessantes e, e você se lembre de relacionar com a memória (inint.) pra descrever pra gente?
L
 (inint.) relógio?
D
 Hum, hum.
L
 Relógio de que tipo, de uso, eh, relógio famo... famosos assim?
D
 De uso (inint.) diferentes, né?
L
 Certo. Olha, o relógio é uma coisa que não me encanta muito não, sabe?
D
 Hum.
L
 Eu acho terrível essa coisa de, de hora, de marcar, ficar preso a um relógio, acho incrível o ser humano fazer uma máquina e ficar preso a ela. Eu tenho uma certa rejeição pelo relógio. Eu dificilmente acho o relógio assim bonito, maravilhoso, que eu gostaria de ter. Eu uso em função do trabalho, porque eu necessito. Fora disso, faço o possível pra esquecer.
D
 (inint.)
L
 Não, eu tenho, eu ganho, por exemplo meu marido me deu um muito bonito, de ouro, aquele com aquelas (inint.) aquela coisa (inint.) tive vários, inclusive eu tenho um problema, esse aqui está sendo até, ele está há dois meses aqui sem escangalhar. Eh, eu não sei por que os relógios, comigo, todos paravam, sabe, qualquer relógio funcionava muito bem. Eu punha no braço, dali a alguns meses, ou um mês ou dois, ele parava de funcionar. E uma vez, eu relacionei com o trabalho. Eu, quando entrava na ABBR, uma hora, na hora do almoço, naquela ocasião eu só trabalhava meio horário, o relógio parava. Eu disse: bom, o campo me... magnético daqui que não funciona, que escangalha com esse relógio. Mas era só o meu, né, eu ficava bastante invocada. Depois passou a ser fora da ABBR. E aí eu achei que o problema era meu, né, corrente sangüínea, né, campo magnético, deve ter alguma influência. E aí eu simplesmente aboli o relógio, eu levei muitos anos, apesar de ter dois ou três relógios, sem usá-los. E atualmente voltei a usar, por volta de um mês ou dois é que eu estou usando esse aqui, até agora está tranqüilo, não está enguiçando.
D
 E funciona, eh (sup.)
L
 (sup.) Até agora está funcionando muito bem.
D
 Certo?
L
 Certinho, certinho.
D
 E quando você chega lá você tem problema de marcar a hora de sua chegada?
L
 Tenho. Existe o cartão de ponto.
D
 É só cartão ou, ou tem ...
L
 Não, tem o horário certo de chegar: oito horas.
D
 Tem aquele aparelho lá (inint./sup.)
L
 (sup.) Ah, o relógio, né, chamado relógio de ponto. Tem o relógio, onde é colocado o cartão, pra se bater o ponto.
D
 E o seu está sempre coincidindo com o de lá ou como é que é?
L
 Bom, eu nunca me preocupo em marcar o meu pelo de lá, porque o, lá, o, lá às vezes está muito adiantado, outras vezes está atrasado, vez por outra acontece levar uma ou duas semanas certo. Então eu acerto pela Relógio Federal o meu, que é o que me interessa, não vou fazer em função do de lá e, e pronto. Nem presto muita atenção, primeiro que eu chego muito cedo lá, né, não tenho aquela preocupação de chegar atrasada ou não. Não bato ponto. Eu que me, eu me sinto na obrigação de chegar, uma questão de exemplo, mas não tenho aquela obrigação de chegar lá e bater o ponto.
D
 Hum.
L
 Tanto na hora do almoço como nas horas de saída e tudo mais. De modo que isso ... O relógio de lá também não tem maior importância.
D
 Agora (inint.) uma coisa, em termos assim de, eh, escangalhar, eh, esses relógios que você tem, escangalhados, que que tem acontecido com eles, escangalha o quê?
L
 Ah, não sei. Também não me preocupo, eu mando consertar, conserta, torno a usar, escangalha, aí eu vou, acabo deixando de lado, aí ou às vezes (inint.) duas vezes, ganhei novos relógios e (inint.) começo a usar, eu sempre fui muito desligada pra essas coisas.
D
 Não tem idéia assim das coisas que podem escangalhar dentro de um relógio? (sup.)
L
 (sup.) Não.
D
 Que que tem dentro de um relógio?
L
 Ah, eu não sei se tem ... Bom, tem a, tem a corda. Que que tem mais? Noutro dia eu vi até. O balanço, né?
D
 Hum.
L
 Ah, tem umas rodinhas, que eu acho muito bonitinho. Eu gostaria demais de saber mexer na, no relógio, acho um negócio maravilhoso.
D
 E na parte externa assim como é que chama essa parte aqui?
L
 Mostruário, mostrador, mostruário.
D
 Hum, hum (inint.)
L
 Ponteiros.
D
 Hum, hum.
L
 Isso, eh, a, a, onde é que se dá a corda, eu não sei o nome, é carrapeta de corda, eu não sei qual seria o nome próprio, técnico da coisa, eu não sei.
D
 (inint.) e assim em termos, por exemplo nem sempre o homem usou um relógio (inint.)
L
 Eu atualmente estou achando que está se voltando pra uma linha mais clássica do relógio. Há uns dois ou três anos atrás os relógios simplesmente, na minha opinião, eram horrorosos. Aqueles relógios imensos, exagerados, não gosto desses de acrílico, que estão trazendo muito de fora, quer dizer, eu sou um tipo assim muito clássico, talvez muito quadrado, então realmente esse tipo assim moderno não me satisfaz (inint.) não gostaria de os ter, de jeito nenhum. Agora há gosto pra tudo, né?
D
 Desses últimos, eh, essa parte aqui externa é diferente, na marcação deles.
L
 Ah, eu sei, um que é todo escurinho e aparece só as ho... só o, as horas já marcadas, né? Eu tenho, vez por outra, eu paro às vezes o meu marido por exemplo gosta de relógio, ele sempre que vê uma vitrine, ele pára pra ver relógio, né?
D
 Que tipo que ele usa?
L
 Um tipo clássico também, é redondo, não sei nem a marca dele (inint.) tem calendário, tem segundos, tem minutos, mas eu não sei a marca (inint./sup.)
D
 (sup./inint.) de relógios diferentes que não fossem usados em casa?
L
 Só me lembro do meu pai, que eu gostava muito, achava ele muito bonito, um, acho que Internacional, aquele de bolso, de ouro, grande, sabe? Eu não sei se eu fiquei muito fixada nele, porque eu aprendi horas naquele relógio, que ele tinha paciência de ficar rodando e principalmente quando ele abria aquela tampa de trás, que tinha aquelas medalhas, aquelas coisas todas impressas, né, premiado não sei aonde, acho que era Internacional. Então, eh, esse relógio talvez seja o único que eu tenha fixado assim mais em termos (inint.) de pessoas, né?
D
 Hum, hum.
L
 Agora outro assim que eu me lembre, não. Nem me lembro do primeiro relógio que eu ganhei, pra você ver a rejeição por hora e tempo que eu tenho.
D
 Agora outra coisa (inint.) sobre o tempo são épocas diferentes do dia (inint.)
L
 Eu prefiro sempre a noite.
D
 Ou do ano?
L
 Mais o verão.
D
 Por quê?
L
 Eu acho o verão mais alegre, mais simpático, mais colorido. Eu sinto muito frio, então eu por exemplo, eh, se abrir uma janelinha, eu estou com as mãos geladas (inint.) eu estou sempre assim com frio. Essa, esses últimos dias pra mim foram terríveis. De modo que que sempre me sinto melhor no verão. E gosto muito de praia, me sinto bem na praia. E o inverno não, né, como eu não gosto de pescar, então praia pra mim só no verão, com um sol quarenta graus assim a pino, né?
D
 Você costuma ir que horas?
L
 À praia? Ah, ó, ó, eu, cada vez eu estou indo mais tarde, agora eu já estou saindo daqui onze e meia, às vezes meio-dia, e volto às quatro. Depende, né? Às vezes um pouco mais cedo, dez e meia, mas nunca antes de dez, porque pra mim o sol não está, não seria agradável, eu gosto de sol bem quente.
D
 E (inint.) durante a fase assim de, de inverno, mais frio?
L
 Não, não gosto não.
D
 (inint.) fica em casa?
L
 (inint.) eu saio, eu gosto muito de sair, gosto muito, mesmo que não tenha assim um problema de an... de, de en... entrar dentro do automóvel, digamos (inint.) nada a fazer e andar. Eu gosto muito de estradas, sabe? Ir até Petrópolis e voltar, ir até lá, almoçar e depois voltar, eu gosto muito disso. Ir a Saquarema, entende? Eu, eu gosto de estrada. Eu gosto muito de mato, de verde, é pena a correria que se anda, né? Com medo de automóvel ir ao encontro da gente, essas coisas me intimidam um pouco. Mas em termos de inverno, que você está falando, né (inint./sup.)
D
 (sup./inint.) de épocas do ano ...
L
 Eu, eu gosto mais do verão, porque no inverno, realmente, por causa das chuvas, né?
D
 (inint.)
L
 Quê?
D
 As chamadas estações.
L
 Não, não muito. Eu não vejo muito. O que eu venho observando é que ultimamente essa, essa, o, o período de frio, que há muitos dias que nós não temos frio, mas eu, como eu sou friorenta, eu estou sempre, né, me parece que está maior, né, do que antes. O verão começava mais cedo, agora estamos na primavera com um frio desse! O ano passado, dezembro também, se eu não me engano, foi uma época assim de (inint.) calor como era antes, né, o tempo nublado, há dois anos que faz assim em dezembro, bem nublado.
D
 E assim em termos de festas (inint.)
L
 Bom (inint.) eu creio que pelo menos nós aqui todos praticamos natal, que eu acho uma festa muito bonita, eh, ano-novo, carnaval eu não gosto de carnaval, mas é uma festa realmente, talvez a maioria, a massa gosta dos feriados e gosta muito de apreciar pela televisão as escolas de samba. Só.
D
 Hum, hum.
L
 E datas cívicas realmente eu não, pra nós acho que já não existe muito, né, não vibramos muito, talvez por falta de educação cívica. Então as festas marcantes que você fala, em termos gerais, né?
D
 Em termos gerais, quais são elas no Brasil de um modo geral?
L
 Natal, ano-bom, quer dizer, primeiro de janeiro, carnaval.
D
 Carnaval é quando?
L
 Carnaval, quando? Fevereiro, né? Agora por exemplo esse ano que vem agora é fim de fevereiro os três dias de carnaval, né? (sup.)
D
 (sup.) Hum, hum.
L
 Que mais? E as datas cívicas que eu creio (inint.) não comemoramos, comemoramos muito mal, muito pouco, geralmente aproveita o feriado pela possibilidade de ir até a praia fazer um passeio e (inint./sup.)
D
 (sup.) Em família todos vocês são da mesma época, nasceram ...
L
 Eu e meus irmãos? Um em janeiro, fevereiro e março. Meu pai também é de fevereiro, mamãe de junho. E aqui em casa sempre foi da, de, eh, ocorreu o seguinte, eh, a minha avó paterna morava com o meu pai. Então com isso acontecia que eles, são oito irmãos e a casa, a identificação da casa do meu pai fica, ficou sendo a casa da minha avó. E meus tios diziam assim: ah, vamos na casa da mamãe, ah, vamos na casa da mamãe. Em vez de dizer: vamos na casa do meu irmão e aquela coisa. Depois minha avó faleceu e aqui ficou sendo o centro, então é sempre muita gente aqui. Ainda sexta-feira, se você tivesse chegado aqui cinco e pouco da tarde, não é festa, né, tinha umas oito pessoas aqui, tinha nada, simplesmente resolveram vir, então lancham, jantam, ficam. Sábado e domingo também tem sempre muita gente, meus sobrinhos, minhas tias, minhas tias-avós também vêm muito aqui, então a casa está sempre muito cheia.
D
 E as crianças, são de quando?
L
 Uma de junho e a outra de agosto.
D
 De agosto. Seu marido?
L
 De outubro, trinta e um de outubro.
D
 (inint.)
L
 (inint.) mesmo que não se telefone, que, que não se faça nada, eles aparecem, né, a chamadas tias-avós, que eu chamo muito de tias barrocas, as tias vêm sempre, né?
D
 (inint.)
L
 Tia barroca porque está velha, né? (risos)
D
 (inint./sup./risos)
L
 (sup.) Não, não, barroco é um estilo antigo, né? Então existem umas tias meio barrocas, né?
D
 Ahn, ham.
L
 E tia barroca não é um estilo antigo assim (inint.) a gente tem um carinho muito grande (inint.) o tipo da tia barroca.
D
 E tem outras que (inint./sup.)
L
 (sup.) Não, porque também são poucas (inint.) bom, uma família grande fica muito mesclada, né? Então tem sempre aquelas tias que comparecem e no meu aniversário por exemplo elas vêm sempre aqui, não precisa de telefonar, convidar (inint.) que elas surgem (inint.) elas, minhas primas, família muito unida.
D
 Vem cá, uma coisa muito importante (inint.) é acompanhar as mudanças de época da criança (inint.)
L
 Me lembro. Era bonito (inint.) da escola.
D
 Mas assim desde criança.
L
 Ah, desde criança, evolução (inint.) todas emoções (inint./sup.)
D
 (inint./sup.)
L
 (sup.) Lógico (sup.)
D
 (sup.) Todo o desenvolvimento (sup./inint.)
L
 (sup.) Todo, mas é ... É (sup.)
D
 (sup./inint.) você lembra assim pra descrever? Mais ou menos a idade.
L
 Quando começaram ...
D
 (inint.) que a criança começa a fazer aquelas coisas, você lembra disso?
L
 Sei, lembro perfeitamente.
D
 (tosse) Hum.
L
 Eh, por exemplo a menina teve um desenvolvimento muito maior do que o menino, desenvolvimento assim motor. Esse, isso inclusive me preocupou um pouco.
D
 (inint.)
L
 Ele custou mais a sentar-se sem apoio do que a menina. A menina talvez por ser a primeira neta de ambos os lados era muito solicitada, então (inint.) chegavam a acordá-la pra colocá-la no colo, naquela chamada posição de (inint.) né?
D
 Exato.
L
 Aí com dois, três meses ela tinha aquelas cólicas, então nunca ia pro berço, ficava no colo do meu pai, apaixonado, né, ficava com ela no colo, marchando na casa (inint.) a noite inteira. E com isso naturalmente ela ficou mais durinha. O menino era justamente o contrário, comia e dormia, portanto ficava muito mais tempo deitado, um pouco gordo, não muito gordo, mas era gordo e mui... muito bonzinho, sabe, simplesmente era esquecido um pouco na cama, né? Dormia, dormia. Custou um pouco a sentar-se sem o apoio e, e levantar-se (sup.)
D
 (sup.) Por que custou?
L
 Custou porque em geral a criança senta-se sem o apoio por volta de oito meses, sete meses, oito meses. E ele se sentava e daqui a pouco ele caía pra trás pra dormir. E eu ficava: meu Deus, será que é sono ou realmente é, é algum retardo motor? A gente que está dentro dessa profissão só vê o pior, né? Então é um ta... é um tal de ficar testando o garoto, tirar reflexo daqui e dali e eu ... Deu o que fazer (inint./sup.)
D
 (sup.) Tem assim (inint./sup.)
L
 (sup.) Tem (sup.)
D
 (sup.) especial um reflexo (inint.)
L
 Tem (inint./sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 O reflexo (inint.) é um deles.
D
 O que que é isso?
L
 O reflexo (inint.) é aquele quando, logo após a, a criança nascer, uma criança normal, você segura, dá as duas mãos, os dois, seus dedos polegares pra criança, a criança prende e você sustenta e consegue levantá-la, ela fica presa por ali.
D
 Em que idade?
L
 Quando nasce, no dia em que nasce você pode fazer isso, é o reflexo (inint.) que depois desaparece.
D
 Quando?
L
 Desaparece, uma semana, cinco dias depois isso desaparece. Se persiste, é uma anormalidade.
D
 (inint.)
L
 Ah, tem a hiper-reflexia como tem a hipo-reflexia, então aí (inint./sup.)
D
 (sup.) O normal assim, eh, mais ou menos uma criança normal. Eu vejo lá os médicos (inint.) a criança toda mas, sei que ele está vendo se está normal, se não está, agora ...
L
 O normal é haver uma simetria, eh, nos reflexos, nem pra mais, nem pra menos.
D
 Hum.
L
 Certo?
D
 Hum.
L
 Se existe ou pra mais ou pra menos é sinal que não é normal (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 Ah, tem o (inint./sup.)
D
 (sup.) Que utilidade tem que ter isso, quer dizer (inint.) o de... o dedo no, no, na sola do pé?
L
 Esse é o de (inint.) eh, é o sinal de (inint.) esse desaparece com a idade.
D
 Desaparece com a idade?
L
 (sup./inint.) desaparece.
D
 Até quando?
L
 Até uns dois, três meses. Isso normalmente leva dois, três meses (inint.) desaparecer. Depois só aparece no (inint.)
D
 Ahn. E os outros? Tem algum que fica e ...
L
 Não, em geral esses reflexos anormais eles desaparecem com o desenvolvimento normal da criança (inint./sup.)
D
 (sup.) Até que nível eles vão desaparecendo?
L
 Por volta dos três meses em geral eles já desapareceram quase todos ou praticamente todos. Alguns têm um desenvolvimento tipo normal: três meses a criança é colocada de bruços, levanta (inint.) a cabeça, com quatro meses ela já levanta os seus braços e encurva o tronco e com quatro, cinco meses, ela começa a tentar rolar, algumas rolam mais cedo, outras não, aos cinco, quatro, cinco meses, você já consegue colocar ela sentada com apoio, né, nas costas, depois, um pouco mais tarde, sem o apoio, com sete meses, já se tem, consegue ficar de pé, a minha, com sete meses, ficava tranqüilamente de pé, o menino não ficava, mas ela ficava. Em algumas crianças são bem cedo, né, por volta de dez meses, onze meses andam, falam mais cedo, tudo isso varia muito. Então o meu acompanhamento, no meu caso (inint.) diferenciou um pouco da menina pro menino (inint./sup.)
D
 (sup.) Em termos assim de alimentação, do horário da alimentação?
L
 Olha, eu nunca fui assim muito rígida com eles em termos de alimentação. A menina sempre foi muito enjoadinha pra, pra comer. O menino sempre mamou muito mais do que a menina. V. mamava a noite inteira, mamadeira, né, mamava duas, três, de três em três horas ele acordava pra, pra mamar (inint.) com quase um ano sente necessidade da mamadeira. A menina não. E horário certo pro almoço, horário certo pro lanche, horário certo pro jantar. Agora, esse certo não queria dizer que não pudesse passar, passar meia hora ou menos de meia hora. Tento mais ou menos é cumprir meu horário em termos alimentares. Como até hoje, né, nós temos um horário mais ou menos certo para as refeições.
D
 Hum, hum.
L
 Né?
D
 Hum, hum.
L
 A ... Quer dizer, cada um deles, né? A menina almoça num horário diferente do menino, que o menino vai pra escola às onze horas da manhã. Então ele tem que almoçar antes, ele almoça dez e meia, um horário péssimo. A menina só entra às três, então não é justo ela almoçar no mesmo horário que ele. Ela almoça mais tarde, junto com o meu marido. Então almoça por volta de meio-dia, meio-dia e meia.
D
 Hum.
L
 E jantar então nós jantamos cedo. Sete e meia mais ou menos nós estamos jantando, né? Primeiro nós jantávamos bem mais tarde, eu e meu marido, mas por questão de horário do menino, pra ele pegar o nosso horário de jantar, então nós começamos a jantar mais cedo (inint.)
D
 Hum (inint.)
L
 Olha, nós (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 Olha, a gente teve uma infância ... Bom, feliz, em termos assim de muita compreensão, muito afeto, muito carinho, até superproteção dos meus pais. Mas não foi assim muito favorável, porque eu nunca fui assim, nunca fui uma criança muito saudável. Eu vivia gripada, doente, com pneumonia e isso dificulta muito a, as coisas, né? E havia aquele choque, os meus irmãos eram o oposto de mim, eu era magrinha, esquelética e eles, gordos, fortes, saudáveis, vendiam saúde, e eu sempre em casa. Então a maior parte do primário eu fiz em casa, porque eu não podia estar saindo, porque pegava uma gota de chuva, pneumonia, dor de garganta, todas as doenças infantis eu tive. Fora isso, tive (inint.) e uma série de coisas, né? Então não foi uma infância feliz nesse sentido, mas fora, eh, fora isso, foi assim superbacana. Um período (inint.) muito bom, que eu me lembro, (inint.) da minha avó, apesar de ser sempre relacionado com saúde, porque eu era obrigada a ir assim à praia, todo dia, em termos terapêuticos. Isso já tira um pouco o prazer da gente, né? Me lembro que eu gostava muito de ir pro Jardim Botânico, eu ia diariamente pegar ar puro, estava fazendo sol (inint.) do ar da montanha, lá não era montanha, mas era o ar puro da manhã. Diariamente ela me levava. Minha bisavó, que eu amava, minha bisavó (inint.) era um estilo barroco que eu falei, né (inint.) simpática, contava muitas histórias, eu gosto muito de histórias de um modo geral. E ela lembrava da época da escravidão, do casamento dela (inint.) então foi uma pessoa que eu tenho uma saudade muito grande, tá, a minha bisavó, eu morava com a minha avó, aí ela me visitava terças, quintas e sábados (inint.) ela faleceu tem cinco meses (inint.) tenho também muito, muita saudade da época do conservatório, que eu estudava piano (inint.) então existem pessoas que realmente viviam (inint.) tinham dificuldades, eu até comento.
D
 Qual foi a fase assim de sua vida no conservatório?
L
 Olha, conservatório foi de doze até dezoito.
D
 Hum.
L
 Dezoito, dezenove anos.
D
 (inint.)
L
 Quer dizer que era uma vida assim muito (inint.) muita música no teatro Municipal, muita ópera, sabe, concertos, música de câmera, e, por sorte, eu entrei nesse conservatório, fiquei esse tempo todo, por pouco eu não saí de lá ...
D
 E em termos de sua vida social, eh (inint.) de adolescência?
L
 Não, eu não tive nenhum problema de adolescência não. Eu fui criada assim na chamada liberdade vigiada e, eh, meus pais nunca me proibiram coisa alguma. Nós íamos pra onde quiséssemos, eu tive assim uma, tenho uma prima assim que é muito minha amiga desde os doze anos, onze, doze anos (inint.) e nós íamos pra aqui, sempre moramos aqui (inint.) nós íamos pro Municipal (inint.) e voltávamos, íamos pra tudo quanto era cinema, teatro, às vezes éramos barradas na porta do teatro, né? Mas de qualquer forma nunca nós íamos (inint.) acompanhadas (inint.).