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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Profissões e Ofícios"

Inquérito 0284

Locutor 342
Sexo feminino, 46 anos de idade, pais não-cariocas
Profissão: advogada
Zona residencial: Sul e Norte

Data do registro:13 de junho de 1975

Duração: 40 minutos

Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 Você, como advogada, você é sindicalizada?
L
 Não, não sou. Eu apenas pago o meu ISS e o INPS. Mas sindicato, eu nunca ... Eu não sei, eu não vou com a cara de sindicato, sabe? Eu acho ... Eu não sei se vocês pertencem a sindicato. Mas eu, eu, eu não sei se, na nossa classe de advogados o sindicato não é bem visto. Não sei por quê. Existe um tal ... Não sei se vocês conhecem bem a Ordem dos advogados, ela trabalha com o público e com o sindicato. O pessoal do sindicato não, não creio que sejam desclassificados. Absolutamente. Eles não são, mas têm fama e agem assim, de vez em quando com, com certas atitudes e inclusive fornecendo inscrição pra, pra a... alguns bacharéis que não são, sei lá, certas certidões até falsas, mas nós vimos isso na Ordem. O, o, o sindicato dá um, uma inscrição, uma carteira a um, a um c... a um cidadão que se intitula advogado e não é. Eu acho que o sindicato, não creio que seja assim por má-fé, mas talvez por, por, por boa-fé demais, acreditarem no que o fulano diz. Apresenta uma certidão e diz: essa faculdade. A faculdade nem existe. Ele, ele, ele ... Eu acho que o sindicato devia dizer assim: não, nós só fazemos, damos carteira se vocês me apresentarem a carteira da Ordem. Por essa razão que o sindicato no, na nossa classe não é bem visto, e a meu ver também. Eu que fui funcionária da Ordem e via isso semanalmente, casos assim: funcionários que, advogados que chegavam lá pedindo inscrição, cuja inscrição, cuja, cuja certidão era falsa. Nós tínhamos a relação das, das certidões falsas, das faculdades que existiam e que não existiam e o sindicato deu a carteira a ele. Então eu acho que eles não fizeram, não fizeram um serviço de pesquisa de, de, de, de, não sei, qualquer coisa assim que eles deviam ver a, a procedência da certidão, não é, no caso, ou do diploma. Porque nesse caso eles nem apresentavam diploma, era uma certidão de ... Porque existia a, o, a certidão, a, a inscrição provisória na Ordem, em que você com a certidão de colação de grau você ... É válida. Então você apresenta. Então arranja uma provisória por um ano. Justamente o tempo em que o diploma é registrado no ministério ou na reitoria ... Então você apresenta o diploma na Ordem, porque a Ordem então faz a transformação da inscrição. Ou então você pode fazer a inscrição de imediato, já de posse do diploma. E isso aconteceu mil vezes já na Ordem. O sindicato então eles botavam, chegavam, botavam banca conosco : poxa, mas vocês, são do sindicato, olha aqui. Não somos do sindicato. Por esta razão eu não quis me filiar no sindicato. Talvez porque, talvez mesmo porque eu já tinha o, o Estado, talvez fosse por isso.
D
 Mas como é que você acha que o, o, o sindicato dos advogados deveria funcionar? O que que ele deveria fazer pra ser, pra ser bom?
L
 Olha (sup.)
D
 (sup.) Pra que que serve um sindicato afinal de contas?
L
 Eu acho que pra defender a, a classe, não é ? Geralmente faz isso. Você vê sindicatos aí, poxa, fazendo tudo junto a, ao ministério, aos ministérios aí, protegendo a classe. Mas com advogado não acontece isso. Eu não sei por quê. Há uma falha. E eu não sei se eles pegam os piores elementos, eu volto a repetir. Eu não sei também se a força do clube é muito grande com relação aos advogados. Eu estou te falando só dos advogados, entendeu, neste, neste caso. Porque eu, quando trabalhava na IBM, eu tinha. Eu estava lá, muito jovem e tal e nem sabia o que era sindicato, nem entendia disso, mas estava lá no sindicato (sup.)
D
 (sup.) Sindicato de quê?
L
 Eu sei lá. Era o IAPTEC, né, IAPI, era um negócio aí, sei lá. Eu não entendia bem. Eu confesso a minha ignorância, que não entendia nada de sindicato. Mas eu estava lá. Eu acho que o sindicato trabalha pra classe, eu acho. Mas com relação ao advogado eu não tenho boa impressão dele. Agora também não estou te afirmando assim com muita convicção porque eu realmente não participei dele e ... Mas aparentemente não, não tenho boa impressão do, do sindicato (sup./inint.)
D
 (sup.) Você sabe, eh, quais são as pessoas que trabalham num sindicato, quais as, as funções que essas pessoas têm, que cargos existem, qual é, qual é a hierarquia do, do, do sindicato? Você tem idéia?
L
 Não tenho. Realmente não conheço (sup.)
D
 (sup.) Como é que funciona (sup.)
L
 (sup.) Não tenho.
D
 Como é que, como é que determinadas pessoas dirigem o sindicato? Assim, sem mais nem menos? Como são escolhidas, como é?
L
 Não, eu disse, confesso que eu não sei. O que eu sei com relação à minha classe é o que eu estou te falando: que de dois em dois anos, nós elegemos um conselho.
D
 Na Ordem dos advogados.
L
 Na Ordem dos advogados. Então aparecem duas chapas, uma do sindicato, uma do clube, que é a chapa azul e a chapa preta.
D
 Clube? Que clube é esse?
L
 É o clube dos advogados.
D
 Clube dos advogados?
L
 É o clube dos advogados. É que eles têm uma nata, a elite, os melhores juristas, esses nomes que você sempre lê nos jornais. Mas o sindicato justamente aparecem os nomes assim, um recém formado, vamos dizer. Então este é o candidato do sindicato. Eu não sei o que é que o sindicato faz, puxa ... Leva ... Então e ... eu tenho a impressão, você está me entendendo? Não é com relação realmente ao sindicato, aos candidatos que o sindicato apresenta. Porque existia um amigo meu lá, o Horácio da Silva Pinto. Ele foi candidato pelo sindicato. Então eu votei na chapa do sindicato, viu? Porque havia uma pessoa que, que eu gostava. Porque você, você sabe de uma coisa? Eh, eh, toda eleição, né, não vamos falar só em, em Ordem. Toda eleição você, você vota às vezes sem saber por quê. Você olha nomes. Normalmente você tem outros afazeres, não procura saber se é um bom nome ou não é. Você vê só o nome. Poxa, conhecido, um cara que, que tem gabarito então você vota. Quantas vezes você olha: poxa, esse sujeito tem processo na Ordem, poxa, já teve até processo disciplinar, poxa não vou votar num, num, num su... num cara desse, num cidadão desse jeito. E era o que acontecia. Eu, eh, ho... hoje está difícil. Eu estou tão invul... tão indiferente a essas eleições, que eu hoje pego a chapa assim, olho, às vezes nem olho direito, voto. Só pra ter a carteira assinada. Não tenho interesse. Eu perdi muito o interesse (sup.)
D
 (sup.) Esse, esse conselho que você, você falou, ele é constituído de quantas pessoas e o que é que ele faz? Qual é a função?
L
 O conselho da Ordem?
D
 É.
L
 Dá-se o seguinte: há um presidente, vice- presidente e, se não me engano, há três comissões: é a comissão de disciplina, a disciplinar, a de inscrição e a de prerrogativas do advogado. Então esta, estas comissões ... A de inscrição é que justamente vão julgar os processos dos novos advogados que, que pedem, que, que vão entrar pra classe. A de prerrogativas, quando você tem algum problema, com o juiz, ou mesmo um advogado é preso aí, arbitrariamente, por um delegado, então você, você chama, você telefona, você convoca, então vai o, a, a comissão e, e ajuda você. Porque nós sempre partimos daquele princípio que quem está dirigindo sabe mais que nós ou, no mínimo, tem autoridade pra aquilo. E a de disciplina é, justamente, ética e disciplina, quando um advogado não, não procede bem junto à parte ou mesmo nos tribunais, então é punido. Então ele julga, então o conselho, reunido que, se não me engano, aí estou meio assim, são vinte ou vinte e um. Então esse conselho é ele... eleito de dois em dois anos. E nós, como advogados, obrigatoriamente temos de votar. Porque há pena, há penalidade, há multa, há essas coisinhas que, que, que todos fazem.
D
 Você conhece sindicatos de outras profissões ou pessoas (inint.)
L
 Não. Sinceramente não conheço sindicatos.
D
 Não tem nenhum contato?
L
 Nenhum contacto.
D
 E o, assim, o, no círculo de seu ami... de amigos que você tem, você tem amigos de outras profissões? Ou você só tem amigos que são advogados?
L
 Não, não, eu tenho, eu tenho um amigo engenheiro que também cai naquele, na CREA, né, mas ele, ele não exerce a profisão. Ele está justamente com tempo intregal no Estado e faz administração. Então eu pouco conheço, aliás ele nem é inscrito na, na CREA. Agora se inscreveu há pouco ... Ele não ... Porque quando você não exerce a profissão, você, você perde o interesse, não é? Não é só pra ter uma carteira. Porque eu sempre disse, eu nunca usei anel. A... assim que me formei eu disse: eu não posso usar anel de, de advogada porque, você sabe, a gente se forma e não sabe nada mesmo. Então quando você começa na profissão é que você começa a apreender, a apanhar. Agora eu de anel, o, o, alguém chegava perto de mim perguntava eu não sabia responder nada, que a prática é muito diferente da teoria, você bem sabe disso. Então há, há respostas que nós não podemos dar porque não sabemos. Então eu deixei de usar anel e ... Quando comecei teve ... Então eu dizia, nem dizia que era advogada porque eu ficava naquela de, poxa, o sujeito faz uma pergunta e eu nem poderei responder. E é que acontece com esse meu amigo engenheiro, ele entende muito de administração, mas de engenharia ... Ele sabe muita matemática também. (risos) Ele é engenheiro civil mas nunca trabalhou porque ficou com tempo intregral no Estado e (sup./inint.)
D
 (sup.) No Estado ele faz o quê (sup.)
L
 (sup.) É administração, administração. Quer dizer, eu realmente, eu não vou poder ajudar vocês nessa ... Quanto (sup./inint.)
D
 (sup.) E seus outros amigos? Aí já, só em termos de profissão mesmo.
L
 Em termos de profissão realmente (sup.)
D
 (sup.) As pessoas que, com quem você convive, essas pessoas gostam da, da, das suas profissões?
L
 Olha, eu vou dizer pra você: eu estou meio bitolada com as minhas amizades. Você sabe por quê? Todas as minhas amigas ... Bom, todas, eu digo duas ou três, né, porque nós temos poucos amigos, são, são do regime estatutário. Então estatutário quer dizer Estado. Eu, eu não tenho amigo de CLT, porque quando você pega CLT então você tem esse problema de sindicato, né? Mas nós, com o regime estatutário, ignoramos completamente o sindicato. E eu não sei também por que o sindicato ficou com má fama aí, por causa dessa história do Jango, né?
D
 É (sup.)
L
 (sup.) É, eu não sei. Você sabe? Depois disso eu realmente ... Agora, no princípio da minha vida funcional, que eu fui, fui funcionária de IBM, fui funcionária da, da Sul América. Mas isso assim, né, porque eu ... Você, quando é muito jovem o tempo custa a passar, né? Trabalhava quatro meses numa, então tinha uma outra companhia que me oferecia mais, lá ia eu, né? Então eu usei o sindicato realmente. Era sindicalizada, pagava o (inint.) mas eu confesso hoje que a minha ignorância sobre sindicato, sabe?
D
 Mas, já saindo desse assunto de sindicato, indo no assunto de profissões.
L
 Profissões mesmo.
D
 Os, os seus amigos, co... como é que eles reagem, como é que eles sentem a, a, as respectivas profissões? Porque às vezes a pessoa tem determinada profissão e odeia a profissão, não é (sup.)
L
 (sup./inint.) olha, eu, eu acho que todos gostam, sabe, realmente da profissão. E gostam mais de ganhar dinheiro, né, porque eu acho que ninguém vive sem dinheiro realmente. Eu, por exemplo, eu estou numa profissão errada, né? Minha profissão nunca seria essa. Eu estou numa profissão completamente errada.
D
 E o que você gostaria de ter feito (inint.)
L
 Eu, eu te... Eu, eu deveria ter feito Letras mesmo. Eu terei que ser professora de qualquer maneira. Engraçado, é um complexo que eu tenho, eu acho. A única profissão ... Veterinária, talvez, mas eu, eu acho que eu seria professora mesmo. Mas eu não, não, não quero dizer Letras, aí eu tentei a Filosofia. Quando eu fiz Direito, eu fiz Filosofia também. Eu fiz dois vestibulares. Mas chegou um presidente aí, dos Estados Unidos ... Cinqüenta e oito, quem esteve no Brasil, se não me engana, se não me engana o presidente dos Estados Unidos, foi o Truman ou, ou Eisenhauer, um dos dois. Foi Eisenhauer, né?
D
 Não, Eisenhauer foi antes. Acho que foi o Truman.
L
 E houve uma, houve uma confusão no tráfego que eu cheguei atrasada pra prova. Prova oral. Então eu perdi, eu perdi a prova. Aí não tentei outra vez. Aí fiz Direito. Porque naquela época nós podíamos fazer duas faculdades. Podíamos não, as provas não eram, não eram unificadas, né? Então a ... Você podia fazer, tentar três faculdades ou, ou quatro. Passava numa, passava noutra. E eu ... Então eu, como passei em Direito, aí eu fiquei em Direito. Mas eu tentei Filosofia. Você viu que eu fui, tentei Filosofia. Mas não ... Mas houve esse, esse (sup./inint.)
D
 (sup.) Mas além desse amigo engenheiro que, que não trabalha com engenharia, você tem amigos que tenham outras profissões?
L
 Não, eu tenho uma comerciária. Trabalha na Aquazul. É comerciária e industriária, né? É comerciária, né? Ela trabalha na Aquazul, é vendedora. Está muito satisfeita lá com a profissão dela. Mas você sabe o que é? Nós, nós, mulheres, nós não ... Eu, eu não falo muito de serviço. Quando nós nos encontramos nós temos outros assuntos. Ainda ontem eu estava falando pra ela: olha eu, eu fui demitida da minha função, perdi, me dispensaram da função, estou aguardando outra ... Então ela não estava entendendo nada, né? Porque a comerciária nunca entende o regime estatutário. Então nós não temos esse entrosamento, eu creio que é por causa disso. Porque nós temos mais bate-papo com as próprias colegas do, da mesma, do mesmo cargo, né, do me... do Estado. Essa que, essa comerciária que eu te falei não, não con... não conversamos quase. Porque inclusive é a minha parte fraca. De direito trabalhista eu entendo pouco. Eu já te disse. Eu não fiz trabalho. Eu, de direito trabalhista quando eu quero alguma eu vou lá na Consolidação e olho. Ela sabe mais que eu. Ela co... como empregada sabe mais que eu. Ela lê a legislação do trabalho. E também em nosso ensino, na, na minha época de faculdade, era muito carente de, de prática. Pra te falar, o que eu estudei de, de trabalho, foi filosofia do trabalho. Nós estudamos as encíclicas desses papas, João XXIII, Paulo não sei o quê. Foi isso que nós estudamos. Você vê que, o que que eu tenho de trabalho. Eu nunca peguei numa Consolidação. Eu só vim pegar depois quando precisei dela. Hoje não, né? Hoje o ensino está bem melhor, você faz estágio, você trabalha realmente no processo. E se você não tem a, a carteira assinada, nas au... nas audiências você não é aprovada. No nosso tempo realmente era muito teórico, muito acadêmico.
D
 Como é que você vê a, a, a posição da mulher no Brasil, em termos profissionais? Em relação às possibilidades profissionais que existem?
L
 Olha, eu acho que a mulher está passando à frente do homem, sabe, em todos os campos. Eu s... eu sinto isso. Eu não, não sou pela liberdade da mulher. Essa que, que essa americana grita aí, eu não sou não. Eu acho que mulher é mulher. Mas no campo profissional eu acho que a mulher está bem melhor do que o homem. Você sabe por quê? Eu estou me referindo inclusive a esta geração, esta agora de vinte anos. Porque você, você sente uma coisa: a mulher hoje está mais interessada em aprender do que o homem. Eu, eu não digo a você. Você me perguntou em tese. Eu digo a você mais os que eu conheço. Eu vejo garotas com mais interesse em aprender e, e em estudar, em saber, em trabalhar que o homem. O homem, eu não sei, se ele é bonitinho, tem um, um bom físico ele, ele, ele descamba por outros lados. Agora, a mulher não. Eu acho que a mulher está, está mais a fim de conseguir uma coisa: o ideal dela. Não só ... Não está pensando só em casamento não. A mulher hoje não pensa mais. Porque já não pode pensar realmente. Porque você vê ... Eu não quero dizer que a mulher ganhe mais do que o homem. Não ... A maioria não ganha realmente. As estatísticas estão aí pra, provando que não ganham realmente. Mas eu creio que esta de hoje, essa geração agora de vinte anos, eu acho que vai ganhar mais que o homem sim. Eu digo a você por quê. Pela facilidade que a mulher tem de conseguir emprego de qualquer ... De adaptação (sup.)
D
 (sup.) Mas emprego de que tipo?
L
 Não. Não digo por ser bonita, por ser mulher, evidente. Porque se você tem uma companhia, você, você tem uma empresa, eu acho que você prefere ... Eu prefiro, eu prefiro, empregar uma moça do que um rapaz. Porque eu tive um escritório e tive esse problema. Sabe por quê? Ela tem mais interesse no trabalho, ela quer fazer tudo. A mulher não se importa em, em fazer vários serviços. O homem já se importa. Ele quer fazer aquilo, ele, ele, ele não quer aprender tudo, ele só quer aprender ... Ele foi, ele foi contratado pra aquilo, então ele só quer fazer aquilo. A mulher não, a mulher se foi contratada pra, vamos dizer, uma datilógrafa, ela chega e limpa uma mesa. O homem já não faz isso, você percebe? Eu percebia isso no meu escritório. Se ele foi contratado pra, pra ir ao foro ver processos ou fazer serviços externos no escritório, ele chega no escritório não quer atender um telefone. Ele quer se manter fora. Então eu acho que por isso a mulher tem mais possibilidade de vencer na vida. E você está vendo hoje no Estado. No Estado os altos cargos estão na mão da mulher.
D
 Por exemplo.
L
 Olha, a nossa superintendência lá, foi nomeada ... Superintendência quer dizer um cargo abaixo, abaixo de secretaria. Vamos dizer: secretaria nível dois, um abaixo. Saiu o, o superintendente. O superintendente ficou lá um mês. Ela era assistente dele. Ela agora é superintendente, foi nomeada superintendente. Agora ela é o que? Ela é economista. Ela tem dois ou três cursos superiores. Não é jovem realmente. É um, é uma mulher de, deve ter seus cinqüenta anos. Mas você vê, acumula diplomas. Eu acho, eu acho pe... pelo ... Eu vou dizer pra você, eu não tenho lá assim uma, uma vida de, com pessoas assim muito influentes, eu digo a você. Não tenho, eh, muita capacidade. Então eu, eu vejo no meu nível. Você está vendo? Eu estou vendo no nível médio, nível de funcionário. Mas eu vejo mulheres com mais diplomas que homens. E eu acho ... E aí você me diz: não, diploma não é saber. Realmente não é saber, mas é diploma. E hoje, é o que eu digo pra essa garotada: tem que ter diploma, gente, e mais de um. Porque você vê mesmo esse nosso concurso em que o rapaz é professor lá, está pedindo quatro profissões, quatro profissionais. Você acredita?
D
 Quatro profissionais. Que profissionais (sup.)
L
 (sup.) Quatro profissionais. Olha aqui, ele tem que ser ou advogado, economi... ou economista ou contador ou administrador. Pediu quatro diplomas universitários. Um, um dos, evidente, um dos quatro. Agora, a prova, cada prova vale vinte e cinco pontos então você tem que conhecer três matérias pra ser aprovada. Mínimo seis, seis matérias. Você viu?
D
 Agora, você não acha que existem certas profissões que continuam sendo vedadas à mulher, de uma maneira geral, certas áreas profissionais em que a mulher não tem vez mesmo?
L
 É, realmente. É, eu, você sabe, eu, eu acho que estraga a mulher. Eu, eu sou uma ... Eu acho que quando ela ... Eu não sei, eu sempre me preparei, em todas as minhas audiências eu ia preparada. Não sei se você percebeu, eu me preparava por todos os ângulos, entendeu? Eu acho que as mulheres, ela perde uma coisa: com o público. Quando ela vem a público, então ela, ela se atrapalha. Você notou uma, essa, essa secretária de educação, foi nomeada, quando ela falou na televisão, mas foi uma, uma, sei lá, foi um vexame. Você sente que ela ... Eu não sei se a mulher alcançou um, um estágio, ela queria alcançar, eu acho que a mulher queria. Mas ao mesmo tempo ela se senti... ela sentia que estava, se sentia assim invadindo a área do homem e eu, eu, eu percebo isso e eu acho que a mulher ainda não está realmente à vontade junto ao homem, no mesmo nível do homem. Ela não se sente realmente á vontade. Eu não sei por quê, eh, talvez se ela ... É, eu, eu acho que, que realmente é um ponto contra a mulher, né? Você repara, uma juíza, eu não sin... eu não sinto às vezes à vontade. Eu não sei por eu ser mulher, por não poder julgar também, eu não sinto segura. Você, você vai a, você vai a uma audiência, então você percebe: a juíza está lá. Eu não sei se é a mulher ... Eu tenho a impressão que a mulher ainda não aprendeu a se dominar em público, a dizer: eu sou mulher, mas aqui eu não sou mulher, sou uma autoridade. Então e... ela tem certos, eh, certas caídas em que ela sai da autoridade dela pra ser mulher, você me entende? Certos chiliques, vamos dizer, que homem também tem. Raríssimos, mas tem. Que quando você, você quando, você quando olha prum homem público, você não olha o homem, não olha o fulano de tal, você olha o seu ministro. Você, quando olha numa juíza, prum juiz, você não, não vê o seu fulano de tal, você vê o juiz. Então eu acho que a mulher ainda não se convenceu disso, que ela é juíza, que ela é ministra, que ela é, é a secretária. Ela ainda não está firme. É minha opinião.
D
 Quais são as possibilidades de, de especialização que existem em direito? Em geral há profissões (inint.) essa, essas possibilidades de especialização. Como, por exemplo, na medicina, na engenharia ...
L
 É, exatamente. Eu vou ... Nós, em direito, nós podemos ser ... Normalmente não há. Há, há uma única divisão. Aliás, vamos dizer, três divisões. O, o advogado que trabalha só no comércio, no direito comercial, que é o tributário, que é o mais difícil e que são poucos que fazem falência, falência (inint.) que é o, que é o Direito mais difícil. E não é por ser o mais difícil, é por estar num grupo, três num grupo. Eh, e o crime, que está num outro grupo. Porque você repara, quando você fala num, num criminalista, então você diz: poxa, é a... aquele conhecido, aquele que dá entrevistas. Então é aquele grupo. Que há, há outros. Então é um grupo difícil de você entrar. E tem o resto que faz cível que, que inclui família e sucessão. O Direito se divide assim.
D
 Agora, existem certas funções que normalmente são preenchidas por advogados.
L
 Exatamente. Você então, quando você se forma, você faz, você tem que trabalhar. É a experiência que eles pedem. Porque cada concurso exige a experiência do forense. Mas essa, ele, eles pedem no concurso pra juiz, eles pedem cinco anos de prática. No concurso pra procurador de Estado, eles pedem cinco anos de prática. Mas essa prática não é de carteira, é de foro (sup.)
D
 (sup.) O que é isso? Prática de carteira, prática de foro? (sup.)
L
 (sup.) Não. Prática de carteira, vamos dizer, eu sou inscrita há dez anos na Ordem. Eu teria de carteira, dez anos de prática, entendeu, mas não tenho. Eu tenho, mas esta prática ... Quando eles pedem cinco anos de prática, você tem que levar a certidão dos processos em que você funcionou, entendeu? Então não, não é só você ser inscrito na Ordem, você tem que ter realmente funcionado no foro, entendeu? Então é isso. Então você chega, você faz o concurso, um concurso por, por exemplo, pra juiz de trabalho não precisa, bastam dois anos. Mas pra juiz do cível você precisa de cinco anos, eu creio, você precisa de cinco anos. Pra procurador também, do Estado, você precisa de cinco anos. Que a maioria hoje se forma é pra fazer concurso mesmo, porque você sabe que há muito advogado, né? Advogado aí é que não falta.
D
 Um campo saturado, né?
L
 É, o campo já está saturado realmente. Mas sabe por quê? É, é o mais fácil, né? O mais fácil, quero dizer em termos assim de tempo. Porque você pode trabalhar e estudar. Porque medicina, por exemplo, você não pode. Engenharia, também não (sup.)
D
 (sup.) Você tem algum amigo médico?
L
 Não, não tenho. Não tenho. Eu tenho uma sobrinha de uma colega nossa está fazendo, agora, medicina em Vassouras. Tempo integral. É de sete ás seis.
D
 E você tem médicos, eh, os quais você consulta sempre?
L
 Olha, eu (sup.)
D
 (sup.) De especialidade diferente ...
L
 Não. Eu vou dizer, eu estou, eu, eu tirei, eu fiquei contra os médicos. Depois do tudo que eu falei antes, anteriormente, com você, eu fiquei contra médicos.
D
 Por quê? Qual foi a experiência que você teve com os médicos que, que a levou a sentir assim? Não, também não precisa contar os detalhes (sup.)
L
 (sup.) É, sim (sup.)
D
 (sup.) A parte profissional, a parte profissional deles (sup.)
L
 (sup.) Exatamente. Olha, eu vou, eu vou dizer pra você: o médico ... A minha mãe morreu em sessenta e nove, no dia treze de agosto. Ela morreu numa terça-feira. No domingo, o médico chegou pra mim e disse: eu vou dar alta à sua mãe amanhã.
D
 Qual é a especialidade dele, desse médico?
L
 Era, era o quê? Quem trata de diabéticos ... Ela era diabética. Mas deu-se o seguinte: e... ela, ela estava assistida por um diabético, por um médico de diabetes. São, são glândulas endócrinas, né? En... endocrinologista, é um endocrinologista. Que é uma glândula, uma glândula interna, né? E ela estava assistida, mas o caso dela é que ela fraturou o fêmur. Por causa do fêmur ela estava com um traumatologista. Então ele ... Não foi o traumatologista que me deu, me deu esse, que disse que ela estaria, teve alta segunda-feira, foi o de diabetes. E ela, segunda-feira, no, no, no próprio domingo, domingo à noite ela começou a passar mal, entrou em coma diabética. Hospital pago, heim, minha filha. Não foi em INPS não. Eu a levei, então eu a tirei de lá. Levei para uma casa de saúde mas ele disse: tarde demais. Quando eu chamei um outro médico, e nós a levamos para os Bancários do INPS. Porque eu disse: minha mãe, não! Eu não vou levar para INPS, eu vou levar pra uma casa de saúde. E depois, voc... veja você, aconteceu com o R. a mesma coisa. Estava com um médico, muito bem, um médico até famoso, de trezentos cruzeiros a consulta ...
D
 Tinha alguma especialidade ele?
L
 Sim, cardiologista. É famoso. Eu nem vou dizer o nome dele porque é conhecidíssimo (sup./inint.) é evidente. Mas viu? Eu tinha uma, eu tinha uma gratidão a esse médico que eu achava que era o, o melhor médico cardiologista. Eu disse: não, R., você vai, você vai gastar dinheiro, mas você vai pro melhor médico. E, minha filha, não adiantou nada. Eu acho que quando tem que morrer, e então não se precisa médico. Porque eu fiquei contra os m'edicos. E ele não me disse nada o que se passava com R. realmente. R. morre a meu lado assim sem eu tomar conhecimento, sem saber por quê. Você sabe que eu chegava pra ele: poxa, você não está bem hoje. Estou, o médico disse que eu estou bem, não sei o quê, o médico dizia que está bem e você olha pra cara da pessoa e vê que não está bem. É a mesma coisa eu ir ao médico e ele diz: não, está muito bem, está tudo bem com você. Olhou pra minha cara, me viu hoje. Você não está bem. Mas é, são essas coisas (sup.)
D
 (sup.) Você costuma consultar médico?
L
 Não. Então fiquei contra médico, você sabe? Não consulto médico. Sou magra assim desde vinte anos, desde meus vinte anos. Me conheci magra assim.
D
 Alguma vez você, eh, procurou fazer algum tratamento por causa da, da sua magreza?
L
 Eu (sup.)
D
 (sup.) Procurou algum médico alguma vez (sup.)
L
 (sup.) Eu, eu procurei. Eu procurei então ele disse que é sistema nervoso. Eu teria que tomar calmante. Mas eu deixei, eu enjoei de, de tomar calmante, sabe? Aí eu fiquei assim mesmo. Agora, o meu problema realmente é nervos. Mas eu não como, né? Eu como pouco.
D
 E você nunca se interessou em procurar um especialista pra (sup.)
L
 (sup.) Não.
D
 (sup.) Pra ver a (sup.)
L
 (sup.) Não.
D
 (sup.) A parte emocional?
L
 Não, eu nunca (sup.)
D
 (sup.) Você não acredita nes... nesse tipo de tratamento que existe?
L
 Não. Eu nã... eu não sei. Olha, eu vou dizer, eu não sei se é não acreditar, é que eu não tenho muita paciência pra esse negócio, né? É como o gordo fazendo regime pra emagrecer, né? Ele começa e depois desiste. Eh, agora, eu acho muito mais difícil o magro fazer super-alimentação, né? O gordo deixar de comer, mas o magro empurrar, eu, eu acho muito mais difícil. Eu nunca, você sabe que nunca me incomodou a magreza?
D
 Falar outra coisa. Você, você, o que você acha do, do fato de neste país tantas pessoas procurarem um curso cujo mercado de trabalho está esgotado, como o, o de Direito e outros cursos também, como medicina no Rio de Janeiro, etc. ao invés de, das pessoas procurarem outras profissões que são nobres, digamos.
L
 Exato. Olha, eu acho que eles fazem esse curso, é o que eu falei pra você, a meta é o concurso. Eles querem ter o diploma pra conseguir um, um concurso.
D
 Mas (sup.)
L
 (sup.) Eles visam à, à magistratura ou então, você vê, concursos, os, os concursos públicos, eu creio, porque pra advogar, realmente, eu acho que não.
D
 Você falou que tem uma amiga que é comerciária, ela é vendedora.
L
 É vendedora.
D
 Bom, há outras, outras ocupações desse tipo assim. Voc... você não tem contato com pessoas que tenham, eh, ofícios que não sejam essas profissões, profissões liberais, por exemplo?
L
 Não tenho, é o que eu te falei, eu não tenho. Porque você sabe, nós trabalhamos, nós trabalhamos de nove horas às seis e meia da manhã, da noite. Ficamos presas lá, né, no serviço. Não tenho contato. E, e nós chegamos a um, a um, a uma idade que, eh, não dá mais pra fazer amizades, você sabe, não dá. Porque eu já falei, a gente quando é muito, é jovem faz muitos contatos, mas quando nós chegamos a uma certa idade é, é o que todos falam, nós já, nós já passamos o tempo, entendeu? Nós já não podemos entender mais os, os mais jovens e, e os nossos amigos que seriam os nossos já se foram. Então nós estamos completamente fora da faixa. Você me entende?
D
 Hum, hum. Agora me diga uma coisa: você sabe que no Brasil existe uma faixa enorme de pessoas ... As pessoas começam a fazer o curso primário, aí passam pro, pro curso médio e há uma, um número enorme de pessoas que simplesmente abandonam o, o estudo, não vão além. Então essas pessoas ficam desprotegidas na vida, em termos profissionais. Quer dizer, você não acha que deveria haver alguma coisa que, que preparasse uma pessoa que abandonasse os estudos nesse momento? Pra que essa pessoa pudesse, eh, pudesse ter condições de viver de uma maneira decente?
L
 É, mas eu, eu acho. Mas há, né?
D
 Há? Há o quê?
L
 Não, não há. É, você tem razão, não há realmente. O artigo ... Não há. Esse, esse (tosse) esse supletivo aí era de dezesseis anos, idade de dezesseis anos, passou pra vinte e um, né, dezoito ou vinte e um. É, é, acho difícil sim. Mas você sabe o que é, o, o ... Eu acho que isso é normal na vida de todos nós. Eu também interrompi meus estudos, eu fui um desses, uma dessas. Meu sobrinho fez o mesmo, mas sabe o que aconteceu? Eu estou aqui. Eu estou aqui pra empurrar. Eu sou essa entidade aí que chegou e disse: não, você vai continuar, não vai desistir. Porque tem uma hora, não sei se aconteceu. Não aconteceu com você? Vamos dizer que a gente ... Quem vive, quem tem certa dificuldade financeira quer trabalhar e, e trabalhar. Então você fica sem tempo pra estudar. E se você não trabalhar, você não tem dinheiro pra estudar. Entendeu a coisa? Se você vai trabalhar, você fica sem tempo pra estudar e se você não trabalhar, você não tem dinheiro. E ... Porque você sabe, o nosso nível é baixo. Você tem um, um, um operário, aí, ou um funcionário mesmo, eu já nem estou falando mais em operário porque hoje um operário especializado está ganhando mais que o funcionário. Um funcionário qualquer hoje não pode manter o filho, quatro filhos, cinco, já não dá pra pagar o estudo, aí tem que trabalhar. Então por isso é que você, o primeiro pagamento que você recebe, primeiro dinheiro que você recebe, é a coisa mais maravilhosa do mundo, né? O primeiro salário que você recebe. Então você se empolga com aquilo e deixa o estudo. A... acha que já é independente, que já pode pagar uma vaga de quarto, pode pagar uma pensão, pode alugar um apartamento. Então, você com aquelas despesas, você já não tem mais dinheiro pra estudar. Ou já, ou mesmo já, já quer namorar, quer sair, quer viver. Acha que já é gente. Então há, há esse hiato, mas há mesmo. Houve comigo isso. Houve comigo. Eu acho que é normal. A não ser que você tenha pais que não deixem você realmente ... Aquele intervalo de quinze, é justamente quando você, você entra no científico, né, de quinze a dezoito, é forçar, se, se não for prum, prum público, você pagar um particular e de qualquer maneira forçar mesmo. Foi o que fiz pro meu sobrinho. Porque senão ele ia deixar. Ele chegou a deixar. Chegou a abandonar. Eu disse: não, não vai, você, sem científico você não fica. Agora eu acho que faculdade, vou ser sincera pra você, eu acho muito importante. Hoje, principalmente, pra geração de hoje. Mas eu acho que deve trabalhar. Porque eu acho uma sobrecarga para os pais agüentar um filho até vinte e três anos, vinte e quatro anos. Realmente é uma sobrecarga. Eu acho muito importante. E também estimula ociosidade do jovem, estimula. É o meu ponto de vista. Eu não sei se eu estou errada. Eu sou contra pai e mãe que deixa o filho na faculdade sem trabalhar. Acho que ele deve trabalhar (sup.)
D
 (sup.) E as pessoas (sup.)
L
 (sup.) A não ser um regime integral, um ITA, um IME, uma universidade, isso, sim. Mas não aí, esses, essas universidades que você, o, o, o horário é de seis às dez da noite. Então essa, esse cara de dezoito anos fica o dia todo dormindo, vai ao cinema, vai à praia, poxa! Enquanto o pai está dando duro ou tendo um enfarte na faixa dos quarenta e cinco. Eu acho errado.
D
 Em termos de salário, no Brasil, o que você acha? Todas essas pessoas que servem a gente. Se você vai da sua casa pro seu emprego, você não tem carro, você usa determinadas pessoas. Há certas pessoas que servem você na rua. Quando você se desloca da sua casa pro seu emprego. Há pessoas que s... lhe servem dentro da sua casa, há pessoas que lhe servem quando você vai comer na rua. Todas essas, esses ofícios. Que que você acha?
L
 Olha, eu acho (sup.)
D
 (sup.) Em termos de salário (sup.)
L
 (sup.) Em termos de salários (sup.)
D
 (sup.) Quais são esses ofícios, quais são, quais são essas pessoas (sup.)
L
 (sup.) Eu acho, eu acho o salário mínimo razoável, bom (sup.)
D
 (sup.) Quem é que ganha salário mínimo no Brasil?
L
 Bom, pouquíssimas pessoas, né, pouquíssimas pessoas (sup.)
D
 (sup.) Em que, em que profissões, em que empregos, em que ofícios (sup.)
L
 (sup.) Salário mínimo, eu, eu, eu acho que o sálario mínimo é pra você começar alguma coisa. Você tem obrigação, é o que eu penso, você tem obrigação de entrar num emprego, salário mínimo. Então dali, você tem, tem obrigação de subir, ir prum outro cargo. Estudar e ir pra o outro cargo. Inclusive pra deixar aquele vago prum outro que não tem experiência nenhuma, pra quem não tem experiência de salário mínimo, na minha opinião. Então você tem obrigação de, num certo tempo, você estudar, fazer alguma coisa, se promover e deixar aquela vaga prum outro inexperiente e mais jovem, e subir. Essa é a minha opinião de salário mínimo. Então e... eu acho que o salário mínimo, realmente, eu não sou a favor de salário mínimo muito alto.
D
 Mas quais são (sup./inint.)
L
 (sup.) Justamente pra obrigar você, de salário mínimo, a se instruir, a se, se promover, a fazer cursos, porque curso não falta aí, minha gente. A ESPEG está aí, fazendo cursos profissionalizantes pra todos. Não é só estadual, é pra todos. Você que não é do Estado, mediante uma taxa de vinte contos, você tira o curso de inglês, francês, alemão e italiano ali no ESPEG, por vinte cruzeiros (sup.)
D
 (sup.) E quais são os cursos que a ESPEG oferece?
L
 Datilografia, arquivo, sempre tudo. Esse, esses cursos que a TED ... Você já ouviu falar na TED, né? Exatamente (sup.)
D
 (sup.) A TED, por exemplo, que cursos a TED oferece?
L
 Relações públicas, o, a TED faz, fazia, também. Eu, eu vou dizer que que eu estou um pouco fora do tempo. Fazia datilografia, fazia estenografia, fazia inglês, fazia secretariado. Eu sei que, bom, é um curso intensivo, não é um curso de secretariado de três anos, como fazem a... aí a Cândido Mendes e outras escolas, e outros cursos. Mas o curso intensivo vai ensinar você a trabalhar num escritório. É uma secretária. Você ... Conhecer arquivo, conhecer alguma coisa de contabilidade, certas normas, coisas comuns, quer dizer, prepara a moça ou o rapaz para trabalhar num escritório, numa empresa pequena. Então dali ele, ele segue um outro rumo. E oferece, inclusive, né, e oferece o, o, quem prepara ela oferece às empresas. E a ESPEG faz isso quase de graça. Então você me diz: ah, não tem tempo. É o que eu digo. É o que eu, eu falei anteriomente. Você na, às vezes não tem tempo. Está trabalhando, não tem tempo. Mas eu acho que quando a gente quer, arranja sempre um tempo, né?
D
 Você conhece o SESC, o SENAI, a escola técnica, você sabe que cursos essas, essas entidades oferecem?
L
 Conheço. O SENAI, o SENAI é uma beleza, o SESC não conheço, o SENAI é uma beleza realmente. Mas eu acho que o SENAI tem uma falha. O SENAI tem, tem o curso de serralheria, bombe... o bombeiro, né? Ele ... Tem mecânica, vários cursos, muito bons. Mas, eu acho que ele, que ele faz um erro: a parte teórica é muito, é mu... é, vamos dizer, é muito difícil, comparada com a prática. Porque você já reparou uma coisa: o sujeito que, um, um profissional, um serralheiro, vamos dizer, ele pode ter, ele pode saber fazer a coisa, agora ele tem que saber matemática. Porque ele tem que medir, tem que fazer ângulos, tem ... E, e, e você sabe que a matemática é difícil, que esse pessoal de nível primário não alcança. Não digo o primário antigo, mas esse primário que dão hoje, aí, que agora já é, agora já virou primeiro nível, né? Então vai melhorar o nível. Porque esse nível que estava de quatro anos, barbaridade! O pessoal não sabia nem ler. Que eu tenho sobrinho, eu tenho nove sobrinhas, de dois a vinte e um anos. Então tem todas as faixas. E eu estou te dizendo isso com sinceridade. Eu vejo na minha família. Então ... Mas você me diz: não, tua família é retardada. Não, são até muito inteligentes. Agora, sabe o que acontece? Não estudam, simplesmente. Acho que eles são inteligentes demais, porque não abrem um livro e conseguem fazer o curso. Ou então o curso é fácil demais. Então eu acho esse defeito, no SENAI que a parte teórica é muito difícil pro nível primário. Porque você, você repara, há bons profissionais, aí, mas eles não, nem sabem se expressar direito. Então, vão pegar matemática, vão pegar geometria, eles não conseguem fazer. Então isso ... Eu ... Não dão diploma, evidente. Não, não aprovam. E levam dois, três anos lá e, e, e saem sem, sem saber o que fazer. Eu tive um sobrinho no SENAI.
D
 Ele fazia o quê?
L
 Um sobrinho. E ele era serralheria, justamente. Então eu ficava, eu ficava: mas, mas, mas como pode fazer isso tudo, tão difícil? Ele não sabia. Então ele ficava copiando do colega. Eu não sei se falha de professores, porque o professor sente quando o aluno está acompanhando ou não, né? E, e tinha a parte teórica, e tinha oficina. E eu nem sei se ele chegou a ir pra oficina. Eu não sei. Também eu não, eu não sei se ele, se primeiro a parte téorica e depois a oficina ou é concomitante, eu, eu não, não sei bem. Agora das, das escolas técnicas, aí, a melhor mesmo é a Celso Suckow, né, a federal, Celso Suckow. É a federal, federal (sup.)
D
 (sup.) Qual é, qual é a estrutura dessa escola, você sabe? Quais os cursos que ela oferece?
L

  Mais ou menos eu sei. A federal Celso Suckow, ela tem máquinas e motores, tem eletrônica, estradas, eletrotécnica, eletrotécnica, e, há uma outra, construção, não, estradas. É uma outra que agora me falha. Mas os cursos da Escola Técnica Celso Suckow são bons, são uma beleza. O ... Quem sai de lá, sai, sai muito bem. Aliás, eu estava falando em mulheres, você sabe que a IBM, nós temos lá, uma, uma técnica (inint.).