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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Animais e rebanhos"

Inquérito 0283

Locutor 341
Sexo feminino, 38 anos de idade, pais não-cariocas
Profissão: professora de história
Zona residencial: Suburbana

Data do registro: 13 de junho de 1975

Duração: 40 minutos

Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 Vamos falar um pouquinho de animais?
L
 De animais! (risos) Bom, como eu já disse a você, eu não tenho assim muita afinidade com animal não. Embora eu tenha sido sempre habituada a, a lidar com animais, nó... sempre morei em casa, tinha cachorro, gato, passarinho, mas eu até agora já com os sobrinhos eles trazem tartaruga, coelho, sempre aqui tem uma, uma coloniazinha de bichos. Mas e, eu particularmente, às vezes eu nem tomo conhecimento que os bichos estão aqui, porque realmente não tenho afinidade com animais. Acostumada desde pequena também, a família de mamãe tem fazendas e a gente ia pra lá lidava com boi, vaca, andava a cavalo, mas à distância, eh, por incrível que pareça a criançada aqui tem uma verdadeira adoração por bichos, meus irmãos também sempre tiveram, se apegavam muito, mas eu, eu já disse que, é, assim a minha afetividade toda é pra gente, bicho, vez não tem bicho comigo.
D
 Essa fazenda (inint.) quem tinha fazenda, seu avô?
L
 Meu, meu avô tinha, mas eu não tive assim muito contato com ele, que morreu muito cedo, quando eu era muito pequena. Mas os tios ficaram com a fazenda, né? Mamãe (sup.)
D
 (sup.) Você podia descrever a fazenda pra nós?
L
 É, é estado do Rio, interior. Fazenda, mais de uma fazenda, três, máximo. Pe... uma, maior de um tio e outras duas, fazendolas. Mais fazenda de criação de gado, ahn, boi, vaca, com cabrito, carneiro, ahn, galinha, galinha-d'angola, essa (inint.) há muitas aves e na fazenda maior tinha até ema e coisa grande mesmo. Casa muito boa, dessa fazenda grande, as outras duas, a casa mais modesta, mais assim, ainda coisa bem de interior, bem rústica mesmo, que a gente tinha contato com aquela gente de campo que   Trabalhando a terra, com aqueles métodos ainda bem primitivos de queimar, de capinar e fazer plantio meio empiricamente, sem nada de, de modernismo.
D
 Como é que eles chamam mesmo quando queima a terra? Eles dão um nome, não é? Quando queima a terra, eles fazem (sup.)
L
 (sup.) Bom, eh, eles fazem lá a queimada, né, eles chamam a queimada da terra pra fazer o plantio, depois roçam aquele, o pasto, tiram aquela sujeira, reviram e fazem o plantio lá. Eh, é vida bem simples mesmo, bem rústica, em contato com a natureza. É crime. Eu ia muito quando era criança, também não, não sou muito de roça não. Eu prefiro viver na cidade, não, não saio muito não, não gosto, gosto de ficar em casa, sou muito caseira, muito ligada assim a, a gente, à família, a minha casa é uma casa grande e de muito movimento. Hoje assim um dia de calmaria, mas mais ou menos eu já contava com a entrevista e arrumei pra que não viesse muita gente, porque ge... geralmente é de muito movimento, é um entra e sai tremendo. E eu gosto disso, não tenho assim muito temperamento pra roça não. Acho que é uma vida mais parada, como eu não gosto de, de, realmente de animais, de bicho, dessa vida de interior, de fazenda, eu não, não me sinto bem. Não, depois de grande, quando era criança, sim, porque a gente, criança sempre gosta de liberdade, de tudo. Saía de escola, de período de aula, a gente ia pra lá, juntava muita gente, ficava inteiramente livre, mas agora já não vou tanto.
D
 E a fazenda era só pra uso da família ou tinha assim uma finalidade de produção?
L
 Não, eles moravam lá, os tios, eh, faziam criação de gado, né, e de leite, produção de leite principalmente. Era assim a, a finalidade da fazenda. Eles tinham um gado de, leiteiro mesmo pra produção.
D
 Que tipo de, de gado?
L
 Eh, gado geralmente assim zebu, jérsei, esses tipos mais comuns. Ah, num certo período assim houve uma, uma tentativa de criar um gado holandês, uma coisa mais fina, inclusive pra apresentar em exposições, mas foi aquela lua-de-mel assim com a criação mais, eh, selecionada, depois passou, eh, esse meu tio foi ficando mais velho, o filho tomou conta, agora é que está começando a apurar melhor e fazer uma criação mais selecionada. Mas era aquele gado comum mesmo, típico de estado do Rio, que a gente vê um holandês misturado com zebu, com jérsei, aquela complicação toda. Não tinha, não era assim também uma fazenda tão grande, tão, de tantos recursos não.
D
 E eles ficavam assim soltos, à vontade ou? (sup.)
L
 (sup.) Não. Estabulados. Estabulados com, com outras terras pra fazer, eh, assim um período de an... an... an... an... durante a seca, não sei o quê, ele transferia pra outro lugar, pra fazer um período de engorda. E tinha todo trato realmente, banheiro carrapaticida e fazenda também era, produzia assim alguma plantação, mas geralmente mais forragem pro gado mesmo. Então era tudo colocado em silo, coisa, embora não fosse uma fazenda muito, de muito recurso, mas era tudo em função do gado. Tudo girava em função do gado.
D
 Só gado? Não, não, não tinha preocupação com outro tipo de animal? Criar outro tipo de animal? Criar outro tipo de animal pra, pra explorar economicamente?
L
 É, é, só a, a ... Não, não. A custa de 'hobby', criação de carneiro e cabrito. (risos) E porque eles gostavam, as crianças gostavam e o pai também gostava disso e criava, até hoje tem muito carneiro, muito cabrito lá, mas não, não exploravam. Mesmo a tosquia era feita eventualmente quando aquilo pare... já estava, emaranhava, enchia de, de mato, de carrapicho. Então eles cortavam tudo que é pra, pra livrar o carneiro.
D
 Cortavam o quê? Eles cortavam (sup.)
L
 (sup.) A, a lã, a lã do carneiro, mas pra livrar da, das coisas, não era com nenhuma intenção de explorá-lo economicamente não (sup.)
D
 (sup.) Nem, nem as galinhas?
L
 As galinhas também não. Soltas lá, viviam soltas. O, os ovos eram pra consumo da, da casa, do pessoal que trabalhava. Não, a exploração econômica só de gado leiteiro mesmo.
D
 A criançada gostava do carneirinho, por quê?
L
 (risos) Não, olha, eh, na fazenda a criançada se ligava mais em, em cavalo, coisa que desse oportunidade a eles de se locomoverem, de passear. Achavam bonitinho o carneirinho, andavam brincando também, perseguindo, botavam os cavalos em cima pra eles correrem. Mas era mais cavalo e boi e gado que eles tinham atividade com ele. Iam pro curral, ajudava a tirar leite, iam tocar, levar, transportar o gado de um lado pra outro. Então eles gostavam disso, mas não ... Os carneiros era só folclore mesmo. (risos)
D
 Por acaso, eles tinham preocupação de ter profissional pra cuidar dos animais?
L
 É, tinham profissionais assim, eh, o retireiro, gente que trabalhava exclusivamente com o gado, mas nenhuma formação técnica, formação especial pra isso. Inclusive, eh, a fazenda era perto de uma escola agrotécnica e a, um, um, meu tio era presidente inclusive da cooperativa agropecuária lá, mas é aquela, aquela posição da, do pessoal antigo: não, eu sempre fiz assim mesmo e vai ficando assim. Agora é que os filhos já começam a dar uma nova feição, né? Mas assim mesmo ainda resistem a essa contratação de um técnico, de uma pessoa especializada pra lidar. Gente que cresceu lá, que aprendeu com os outros e que tratava do gado sob a supervisão dele.
D
 Mesmo quando ele ficava doente, não chamavam (sup.)
L
 (sup.) Olha, honestamente, quando o gado ficava doente? Não, não, não me lembro que tivessem chamado assim, também não me lembro de nenhuma época em que houvesse uma doença diferente daquela costumeira. Ou um parto meio complicado ou um, um carrapato, ou uma coisa. Ou então, era naquela base, se acusou uma doença, uma fitose (sic), uma coisa, isola, sacrifica o animal pra salvar o resto do rebanho, mas não, eu não me lembro nunca de ter visto nenhum veterinário a não ser de visita lá, porque muitos conhecidos, estudavam na escola, às vezes até se, eh, localizavam em fazendas vizinhas e, eh, iam lá visitar, davam seu palpite, assim como amigo, mas profissionalmente eu não me lembro de ter visto não.
D
 Você falou que, eh, exploravam o gado pra vender leite principalmente, e os outros produtos, não? Outros produtos derivados, no caso?
L
 Queijo, manteiga, não. O leite era todo vendido, só ficava em casa o de consumo da casa. Como havia ali a cooperativa muito próximo, quando precisava de queijo, de manteiga, desses produtos derivados, de creme, vinha, trazia da própria cooperativa, quer dizer, na casa não havia assim nenhuma preocupação de, de (sup.)
D
 (sup.) Produzir
L
 De produzir. Isso.
D
 Nem pra, pra, pra eles mesmos?
L
 Nem pra uso próprio. Pela facilidade de trazer da, de, de utilizar o da cooperativa, onde era vendido o leite, que é muito próxima mesmo (inint.)
D
 Agora você falou que desde quando você era criança, sempre morou aqui nesta casa, sempre morou aqui no bairro (sup.)
L
 (sup.) Aqui no bairro (sup.)
D
 (sup.) Ficou muito tempo nesta casa (sup.)
L
 (sup.) E sempre em casa grande, de quintal.
D
 E teve cachorro sempre. E de ... E vocês tinham preocupação com a raça do cachorro?
L
 Não, não. Nunca houve assim nenhum cachorro de raça, que não era vira-lata mesmo. (risos) Mas, eh, a preocupação era de vacinar, de tratar, de conservar sadio, mais pela segurança do pessoal da casa, mas nenhuma preocupação de, de raça, de coisa nenhuma. Se o cachorro agradava, alguma criança achava algum na rua ou alguém oferecia, achava bonitinho, vinha pra cá. Gato, sempre em casa aparece muito gato, né, e acaba sempre ficando um. E de vez em quando somem, eh, nossa última gata, pra tristeza das crianças foi atropelada aí e morreu. (risos) Mas eles não dramatizaram muito o atropelamento não. Eles gostam é do movimento. Ela d... de, de dois em dois meses tinha gatinho, é aquele movimento, aquela complicação e então eles gostavam bem.
D
 E não tinham curiosidade não, quando a gata estava pra ter filhote?
L
 Mas eles viam, eles não, não, não, não tinham assim nenhuma curiosidade específica, porque várias vezes eles assistiram a gata ter os gatinhos, né? E achavam muito engraçado, interessante como saíam tão molinhos, de repente já estavam andando, correndo. Era assim, dias seguidos, aquela emoção de ver o gatinho correr, o gatinho andar, o gatinho se liberar da mãe e aí (sup.)
D
 (sup.) Em relação à alimentação desses animais domésticos, como é? Que tipo de alimentação vocês dão? Se preocupam isso?
L
 Hum, é, só pros passarinhos e pras galinhas, que agora nós não criamos galinha. Mas durante muito tempo, quando meu pai era vivo, que gostava de fazer criação de galinha, tinha alimentação especial. Ele trabalhava no moinho de trigo, Moinho da Luz, e trazia aquelas rações pra ... Especiais e, e remédio e comida mesmo específica. E pros passarinhos a mesma coisa. Mas gato e cachorro sempre comeu mesmo era a comida da gente, é carne, leite, essas coisas assim que eles, o que gostavam, o que o animal aceitava, comia. Nunca houve nenhuma, nenhum tratamento especial.
D
 E essas galinhas que se... eh, vocês criavam, elas eram de raça?
L
 De raça.
D
 Quais, quais são as raças? Os nomes das raças?
L
 Era aquela, uma vermelha, 'Rhode-Island` e a outra 'Like Success`. Agora eu nem tenho visto mais, atualmente, o tipo. Mas eram umas galinhas grandes, umas brancas, outras vermelhas. E o papai tinha assim muito cuidado de fazer, uhn, chocar os pintinhos aí. Também era assim um sucesso, na ocasião, esperar nascerem os pintinhos e tudo. E nós tivemos o... ocasião de ter assim cento e tantas galinhas aqui em casa. As galinhas eram de raça.
D
 Em matéria de aves, vocês só tiveram galinha na fazenda? Não tinham outro tipo de ave doméstica?
L
 Não, pato, ganso e, e passarinho, de tudo quanto é qualidade. Canário, eh, periquito, de todas as cores, até hoje tem aqui.
D
 Canário (inint.) de alguma forma especial ou, ou (inint./sup.)
L
 (sup.) Canário também. Não, durante um certo período, isso assim de vez em quando, entra assim numa fase de um, no de entusiasmo de uma coisa. Durante um certo período, até bem pouco tempo eles criaram canário 'roler`, canário não sei o quê, e cores variadas, uns cor-de-abóbora, outros amarelos, outros ... Iam à exposição, compravam aqueles de linhagem, trazia pedigree de canário, não é? De repente foi aquele enjôo, ninguém mais quis saber de canário, mandaram pra fazenda. Quando aqui começa a dar trabalho, a importunar, eles mandam pra fazenda. Eu não sei nem que fim levaram os canários, que eu realmente não tomo muito conhecimento. (risos) Peixinho. Uma ocasião deixa... foram viajar deixaram os peixes aí por minha conta, quando eu lembrei dos peixes já tinham todos morrido. (risos) Voltaram: cadê os peixes? Ah, morreram todos. (risos) Porque eu nem me lembrei que tinha peixe dentro de casa. Nunca mais me deram esses encargos. Agora quando tem que viajar, arranja uma pessoa pra tratar dos bichos, que eu não, não me lembro mesmo.
D
 E havia al... algum tipo especial de animal não doméstico na fazenda, que aparecesse, que assustasse.
L
 Cobra, né? Numa roça o pavor de, do, do, do roceiro é, é cobra. Aquelas histórias fantasiosas, todas, também eles têm verdadeiro pavor de cobra. E além, além daquelas outras coisas assim de lobisomem, esse negócios que sempre estão nas histórias deles. (risos). Mas, eh, cobra a gente sempre via, é região de cobra, quando fazia limpeza no mato, cortava ou queimava mesmo, elas fugiam, se aproximavam da, da casa e ... Mas a gente nunca dramatizou muito esse negócio não. Mas lá o pessoal da roça respeita, né, qualquer cobra eles atribuem um veneno, que nem o Butantã já teve nesses anos todos. (risos) E s... e só. Ah, não! Numa ocasião, foi assim uma sensação, que caçaram uma onça lá perto da fazenda, numa fazenda vizinha. Andava lá matando o gado, mas era uma onça velha, parece que fugiu de um circo, meio ferida, ficou amedrontada lá pelo mato, andou matando o gado, depois mataram a onça, levaram pra Barra do Piraí, que é nossa, as fazendas eram perto de Berra, Barra do Piraí, fi... fizeram exposição da onça lá numa vitrine de uma loja. Foi um negócio meio sensacional. (risos) Mas outra coisa, não (sup.)
D
 (inint./sup.) se faz no gado, havia, o, o (inint.) com substâncias carrapaticidas, não foi?
L
 É.
D
 Que outro tipo de bicho desse gênero (inint.) que você se lembraria de citar? Que há períodos do ano que tem um tipo, no outro ano, no outro período (inint.)
L
 Ahn. Bom, o, o carrapato, né? (sup.)
D
 (sup.) Sim.
L
 O carrapato ou tem o micuim, aquele pequenininho, carrapato estrela, que é o grandão, comum do boi. Isso até hoje a gente luta com a criançada quando volta de lá, volta perdida de carrapato, porque não sai do mato, eh, mosquito, muito mosquito, eh, pernilongo, ahn, mutuca e, eh, assim esse bicho-de-pé. Tudo isso tinha lá na fazenda, quer dizer, é, é, a fauna era variada, (risos) de, de bicho assim, besouro.
D
 Como era mais ou menos o trabalho com o gado?
L
 Como era?
D
 É. Como se fazia de manhã? Como é que é (inint.)
L
 É, é. Co... começando muito cedo, né? Quatro e meia da manhã começava a movimentação. Reunir o gado no curral, tirar o leite, às seis e pouco já estava tudo enlatado, tudo pronto. E no início, quando eu era bem pequena, carregava em carroça ou então em lombo de, de burro, de mula, carregavam o leite pra cooperativa. Depois já compraram jipe, caminhonete, 'pick-up' e aí o trabalho era o mesmo, e o horário também o mesmo. Então muito cedo já estava tu... o leite todo tirado e então levavam, depois de tirar o leite, o gado pro estábulo, comem, tratam, vêem se há algum ferimento, alguma coisa a ser tratada e depois de, de, de todo o trato, leva pro pasto, solta o gado, à tarde reúne outra vez, torna a tirar o leite e é aquele trabalho bem rotineiro, sempre assim. Essa, o banho de carrapaticida e, eh, e outras, né, ferragem, marcação de gado, essas coisas todas que a gente teve oportunidade de ver também, mas é uma coisa já bem esparsa. Eu tenho impressão que é de três em três meses, ou de seis em seis meses que eles fazem isso, esse tratamento. Mas o trabalho rotineiro é aquele: reunir no curral, tira o gado, depois estabula, solta no pasto, torna ir pro curral, tira o leite outra vez e, e sempre renovando, por grupos. Um grupo vai pra, pra ficar no, nos pastos selecionados assim pra, pra engorda, pra recuperação, o outro grupo está naquela, dependendo da época em que as vacas tenham os bezerrinhos e tudo, de, de produção de leite, eles fazem um revezamento, nas diversos (inint.)
D
 Nunca se, eh, se interessaram em vender carne?
L
 Não, o, o, o meu tio tem uma, assim uma espécie de um convênio com os açougueiros lá do lugar, e aí ele fornece o gado para vender no açougue, mas o açougue não é dele, ele apenas vende o gado. O gado, os bois.
D
 Mas vende o gado vivo?
L
 Vivo. É o que eles chamam de gado em pé. E, eh, leva pro açougue, lá no açougue eles matam uma ou duas cabeças por dia. Foi aquele gado que já não está mais produzindo ou, os, ahn, as vacas guardam pra produção de leite, né? Mas os, os bois são vendidos como carne de vaca mesmo. (risos)
D
 E o gado que não é em pé, como é que eles chamam?
L
 Ah, é um gado morto (inint.) o gado em pé é o vivo, vai pro açougue em pé. Eles tratam assim. Eu vendo por tanto em pé, quer dizer, sem tirar pele, sem, que depois limpa a carne e tem um decréscimo muito grande da, do peso, de tudo, né? Mas eles vendem em pé.
D
 Mas também aproveita o resto, né?
L
 Ah, aproveita o couro e, e tudo. Sangue, do boi quase tudo se aproveita, chifre, osso. Mas não há um aproveitamento muito grande, porque a cidade é pequena, não, eu nem acredito que eles ... Tirando o couro, o couro sim, sempre se guarda e se, eles devem vender. Mas assim de osso, dessas coisas que é muito aproveitada pra fábrica, pra fazer coisas, eu não acredito que eles façam o aproveitamento não. Mas o, as víceras eles vendem, a carne também.
D
 E além do boi, você falou que eles criavam porco. O que que faziam com o porco, em matéria assim de aproveitamento?
L
 Bom, o porco, o, o que era morto pra consumo da, da casa, fazia assim lingüiça e colocava aquela, aquele vi... método do estado do Rio, né, botava a carne de porco frita, na banha pra guardar, ficava às vezes o inverno inteiro, um tempo, meses lá, quando precisava tirava da banha aqueles latões grandes de gordura, fritava o toucinho, fazia torresmo, essas coisas todas que a gente participava, picar aquele toucinho daqueles porcos enormes. Mas a maioria era pra vender também, criava para vender o porco. E até hoje se faz assim. Mas sempre fazia lingüiça, banha pra consumo, isso era feito em casa. O animal era morto, tratado.
D
 Em relação ao gado você falou em vaca, bezerro, quer dizer, há, há, há nomes diferentes pra idade, de acordo com a idade do animal. Em relação ao porco também deve acontecer a mesma coisa, não é?
L
 Bom, (risos) tem aqueles bacorinhos, né, mas depois a gente já fala, assim genericamente, os porcos. Leitões, os bacorinhos, os leitões, os porcos. Bacorinho mais é (sup.)
D
 (sup.) É, qual é a diferença?
L
 Não sei. Bacorinho é, é, é nossa maneira de falar, porque a família de papai é portuguesa, então há aquela influência portuguesa e isso é um termo que me parece tipicamente português. E leitão é o que se chama geralmente, leitãozinho, até um tamanho razoável, é leitãozinho, depois a gente já passa pra categoria de porco. Quando não serve mais pra assar e a gente comer, já passou de leitão, aí virou porco. Mas não (sup.)
D
 (sup.) Em relação à alimentação, quais são as suas preferências assim de animais pra alimentação?
L
 Eu gosto de carne de qualquer animal. Carne de porco eu gosto muito, de, eh, carne de, de boi também, embora eu não, eu não goste muito assim, carioca come muito bife, né, mas eu não gosto muito de bife. Eu prefiro a carne tratada de outra maneira, carne assada, carne moída, mesmo as víceras, tirando o miolo, que eu não gosto e coração, que eu não estou habituada a comer, não, nunca se, se fez aqui, o resto eu gosto muito. E, mas gosto de toda a carne, de um modo geral. Frango, peru, leitão, coelho eu nunca comi não, tenho um certo preconceito. (risos)
D
 Mas coelho é gostoso.
L
 Ahn?
D
 É gostoso. Pode comer.
L
 (risos) Mas eu nunca comi não. E cabrito, eu acho muito bom a carne de cabrito, carneiro já acho meio gorda, não gosto muito não. Mas gosto geralmente de todo, tudo quanto é tipo de carne, principalmente é assim a base da nossa alimentação, né, e pão. (risos) Carne e pão. E o resto também gosto.
D
 Mas a, a carne, o boi tem várias partes, né, e a, e as carnes vendidas dessas partes recebem nomes diferentes. Você conhece por acaso essas partes?
L
 Não, eu conheço os nomes, mas conhecer as partes não. Se for no açougue ele me dá qualquer ... Se, tirando o filé-mignon, que eu conheço realmente e um certo peso lá da alcatra, assim mesmo cortado numa determinada maneira, eu sei que é alcatra, mas se ele cortar alguma outra coisa parecida e disser que é alcatra, eu aceito. Mas ch~a-de-dentro, acém, pá, essas coisas todas a gente ... Músculo, carne de peito, eu costumo ver, costumo comprar pra, pra variar, é claro, as coisas.
D
 Por exemplo, o churrasco, ele é bastante variado, né?
L
 É.
D
 Há churrasco de (sup.)
L
 (sup.) De costela de, de alcatra, de filé-mignon, eles chamam a maminha de alcatra, né? Ahn, aqui geralmente a gente faz o churrasco mesmo é de alcatra, que o pessoal aqui prefere, acha a carne mais gostosa. E filé-mignon e costela também, de vez em quando, se bem que costela é meio, meio duro (risos/inint.)
D
 E os peixes?
L
 Peixe também eu gosto muito. Peixe grande, geralmente. Garoupa, namorado, assim de qualquer maneira, frito, cozido. Vatapá é ess... é a minha comida predileta. (risos) Mas não deixo misturar o peixe no vatapá, é o peixe grande mesmo, em posta bem grande, que eu gosto muito de peixe.
D
 Mas qual, qual é a diferença que você sente de um peixe pro outro? Você falou garoupa e falou (sup.)
L
 (sup.) Garoupa, namorado, enchova (sup.)
D
 (sup.) Namorado. Qual é a diferença de um pra outro?
L
 Não, e... esses peixes grandes não tem muita diferença não, mas de enchova pra garoupa há uma diferença grande. Enchova é um peixe mais gordo, a carne mais escura e tem mais gosto de peixe, tem um gosto mais pronunciado. Ahn, vermelho, namorado, garoupa, esses peixes grandes têm um gosto mais suave, menos pronunciado. Eh, eu acredito que seja mais magro, não tem tanto aquele gosto de óleo de peixe, que a gente associa ao cheiro do peixe. É mais o cheiro do que propriamente o gosto. Eh, assim, pescadinha também é um peixe de gosto suave, há outros mais fortes. Mas a gente come peixe bastante variado aqui, linguado e tudo quanto é peixe geralmente se faz.
D
 E como é que vocês costumam a tratar o peixe aqui pra, pra, pra preparar depois? Mas compram (sup.)
L
 (sup.) Compramos, ahn, geralmente na feira, que é, é assim pelo menos aquela impressão de que ele é mais fresco. Não sei se realmente é, mas dá a impressão de ser, não é congelado, é, então ge... nem sempre é congelado, então se compra na feira e ele já vem mais ou menos limpo. E lá mesmo, se a gente quer em posta, pede que corte, se quer pra assar, deixa inteiro. E em casa, eh, bota aquele molho comum, primeiro deixa salmoura com limão, com sal, pimenta e depois completa com os temperos, dependendo da maneira que vai cozinhar.
D
 Mas por fora, aquelas coisas todas que (inint.)
L
 As escamas? Ah, ele é escamado, já, já chega aqui escamado, quer dizer, agora ninguém é ... Aqui em casa a gente ainda conserva, às vezes, a, a mania de fa... mamãe de, de, de matar galinha, porque acha mais gostosa. Assim mesmo ela já está preferindo ir matar lá no galinheiro pra trazer aqui. Mas o peixe já vem limpo, sem escama, ahn, e a gente trata aqui pra comer, isso tudo é feito na feira.
D
 E além do peixe do mar, quais são os outros tipos de animais do mar que você gosta?
L
 Camarão e siri. Aqui, tirando peixe, camarão e siri, aqui em casa não se come mais nada. (risos)
D
 Não?
L
 Não. E lagosta, né? (sup.)
D
 (sup.) Geralmente português, você disse que seu pai é português, eles gostam de um outro tipo (inint.)
L
 É, eles gostam de lula, eles gostam lulas, não é, calamares e supinta (sic), eles comem aquela lula, com aquela tinta e botam no arroz, arroz de lula, polvo, gostam muito de polvo, os portugueses. E aqui em casa (sup.)
D
 (sup.) Portugueses e espanhóis.
L
 É. Portugueses e espanhóis. Eu não tenho praticamente nenhum contato com espanhóis mesmo, mas portugueses gostam muito. Bacalhau, não, bacalhau a gente aqui também come muito, mas esses outros, polvo, eh, ostra, eh (sup.)
D
 (sup.) Aquele gordinho que são vários, qual é o nome?
L
 Mexilhões, eh, essas coisa a gen... não comemos não. Os portugueses gostam muito, mas não é o nosso, (risos) a nossa, nossa preferência. A gente é muito influenciada pelos pais, né, mamãe não gosta muito dessas coisa. Siri, nós reagimos muito. Assim mesmo a gente come siri tratado, recheado, limpinho, depois faz o creme bota, bota pra gratinar ou então frita. Senão, assim puro, assim feito com aquelas coisas, a gente não come não (sup.)
D
 (sup.) Peixe de rio, você conhece, gosta?
L
 Ah, eu, eu costumo dizer que peixe pescado eu não como. (risos) Eu como o peixe de pescaria, gosto demais de peixe, mas sou incapaz de comer um peixe pescado na hora. Eu não sei por quê, que, que forma de preconceito é essa, eu tenho um certo nojo de peixe pescado assim em rio, fora e não tenho nenhum quanto a esse comprado. É um negócio meio, ahn, um contra-senso, né? Mas eu não como peixe pescado. Na fazenda o pessoal pesca, às vezes levantam de noite, passam a noite inteira fazendo pescaria e eu até preparo os peixes, faço e tal, mas não como é peixe (sup.)
D
 (sup.) Que tipo de peixe eles comem lá?
L
 Eh, ahn, traíra, tilápia e mesmo até lambarizinho, que eles gostam muito, bem torradinho, pra comer assim no aperitivo. Mas eu não, não como nenhum. Eles pescam cascudo, é qualquer peixe que apareça lá no rio. Camarãozinho, essas coisas, mas e não como nenhum desses pescado de rio, que eu veja pescar, eu não como peixe nenhum. (risos) Tenho preconceito contra o peixe pescado na hora.
D
 Você falou que gostava de boi quase todo, com a exceção do coração e dos miolos (sup.)
L
 (sup.) É não, não tem (sup.)
D
 (sup.) As outras partes internas que lhe agradam?
L
 Rim, fígado, língua, gosto muito de língua, eh, assim ... Geralmente a gente come fígado, rim, língua, rabada, é o que a gente come aqui em casa dessas ... Ou então, no angu à baiana a gente come tudo, né? Bota tudo. Aí eu como coração, bofe, garganta, o que estiver lá dentro, a gente come. É inclusive um prato que eu gosto muito. E segundo se diz, é o único prato carioca que existe, né, angu à baiana, que não tem nada de baiano, que lá na Bahia não existe. E aqui ... Aí eu como tudo que é do boi, todas aquelas, aquelas vísceras a gente come.
D
 No Paraná, você chegou a sentir alguma diferença de alimentação assim com relação a animais com... comparando com o Rio de Janeiro? Deles comerem a... animais que aqui não, não se come.
L
 Não. A única coisa de novidade pra mim e eu sei que aqui se, bom, pode ser que coma em algum lugar, mas eu nunca havia comido foi, comi lá a primeira vez, foi o cupim do, do zebu, né, a carca... aquela corcova do zebu, o cupim, no churrasco, foi a primeira vez que eu comi e inclusive, ahn, pra mim aquilo era uma coisa muito diferente, era uma coisa nervosa, um nervo ou uma, ou cartilaginoso. Mas na realidade é carne pura e magra, bem macia, ela é envolta assim numa pele de gordura, mas por dentro ela é magrinha. Foi a única coisa que eu vi de diferente, porque geralmente assim, e é, brasileiro gosta muito de carne, então esses restaurantes todos pra onde a gente passa em estrada, a base é churrasco mesmo. De tudo, né? De porco, de lingüiça, churrasco, esse churrasco que eles chamam de misto. De galinha, de frango e, e carne variada também, toda parte de boi, isso é o que mais se comia lá. Não vi assim grande diferença de alimentação não. Mesmo o, o Paraná, assim aquelas cidades, eu, eu fui a Curitiba e a Londrina. Curitiba o pessoal é, é como é nos outros estados, guarda sempre uma certa, um, um, um certo regionalismo, um certo bairrismo, mas Londrina não. Londrina achei muito próximo aqui do Rio. Mesmo o Rio é uma cidade que não tem carioca, todo mundo é carioca, venha de onde vier. E Londrina, talvez por ser uma cidade nova, for... que recebeu gente de tudo quanto é canto, quarda esse espírito de, do carioca, de receber todo mundo de igual, de bater papo, de já, hum, se abrir mesmo pra conversa, pra tudo. Já nas outras cidades, eu conheço pouco aqui do Brasil mas nos outros lugares a gente sempre percebe inclusive uma certa distância assim do carioca, o carioca é, é, é, era aquele, talvez por ter sido a capital, no tempo da capital tinha um certo prestígio, assim, à distância, não sabiam bem como é que era e talvez uma visão até errada. Mas eles se fecham mais. Londrina, gostei muito. Curitiba, já achei o pessoal mais bairrista mesmo, mais arraigado, aquele influência, talvez muito, muito estrangeiro, já não são (sup.)
D
 (sup.) Por isso que eu perguntei, como há muito estrangeiro pra lá, talvez a alimentação, talvez eles comessem coisas, não é, aproveitassem determinados animais que ... Diferentemente, não é? (sup.)
L
 (sup.) É, mas eu, não, não, não deu pra perceber, porque o que a gente passa assim, vai viajando, vai de, de carro ou de condução mesmo, mas geralmente pára naqueles restaurantes que já estão tão habituados a receber turista, que eles apresentam a comida que o curi... que o turista está habituado a comer. E a base é carne, não, não vi assim grande diferença não. A gente s... a gente que conhece por, que mora aqui, não tem notícia assim da, da comida deles, de conservas, de outras coisas de influência, muita influência alemã, aqueles doces diferentes. Mas em termos de animais, não, não sei não.
D
 E do norte, você conhece? Comida nortista? Nordestino parece que (inint.)
L
 Conheço e gosto muito. Principalmente de vatapá, de comida baiana. Eu fiz (sup.)
D
 (sup.) E a carne no nordeste, como é que faz? Você tem idéia?
L
 É, é, no nordeste, pra, pra, pra falar com franqueza, quando eu fui ao nordeste, eu procurei comer muito mais peixe e camarão e lagosta do que carne. (risos) Carne eu como aqui à vontade. Mas não, não sei, não, não vi nada assim de diferente a não ser a comida baiana, que é aquela toda bem característica, com muito tempero e, é, embora eu não goste tanto da comida baiana feita pelo baiano, que leva azeite-de-dendê demais. Mas gosto muito. E lá no nordeste eu procurei comer mais peixe, aquelas frutas características, coisa bem diferente. Mas em termos de animais assim não vi também nada que fosse ... Não cheguei a comer cobra. (risos)
D
 Mas eu perguntei do norte, porque no norte existem uns animais estranhos, desconhecidos (inint.)
L
 Hum, hum. Eu não (sup.)
D
 (sup.) Se você tinha idéia? Se tinha tido alguma experiência?
L
 Não, não. Não tenho experiência nem, nem sei mesmo não. Porque a gente já vai procurando comer aquilo que conhece daqui, né? Então, a gente vai pra Bahia comer vatapá, pro Recife comer lagosta, pra não sei aonde comer siri. E se come muito bem lá, mas (sup.)
D
 (sup.) No Pará, o que você comeu?
L
 No Pará eu não fui. Ah, mas no Pará a gente vê pato à cutu... tucupi, tacacá, e não sei o quê. (risos) Famoso, mas eu nunca comi realmente um pato a tucupi, embora (sup.)
D
 (sup.) Agora uma coisa: e quando você era criança, você costumava ir ao jardim zoológico?
L
 Uhn, uhn, poucas vezes, mais depois de grande. Mas eu fujo quando posso. (risos) Jardim zoológico é programa obrigatório de domingo aqui em casa, porque aqui está sempre cheio de criança, mas eles já sabem que não adianta me convidar que eu não vou. Fui poucas vezes, não fui muito não.
D
 Eu queria perguntar assim em termos de preferência das crianças, porque há animais que não existem no Brasil, então o brasileiro só conhece de jardim zoológico mesmo.
L
 Pois é, mas criança geralmente gosta mesmo é de macaco, de coisa, de coisa da casa mesmo. (risos) Cobra eles se impressionam muito, né? Eles acham, eh, uhn, assim, as primeiras vezes ficam impressionados com o tamanho de elefante, rinoceronte, hipopótamo, mas depois eles se, se apegam mais a esses animais mais engraçados que até tentam um contato, uma forma qualquer de comunicação. E a, as vedetes são os macacos, sem dúvida. E as cobras, que eles acham, né? E talvez seja da experiência deles de ir à fazenda, de matar cobra, não sei o quê, então, eles se interessam mais por essas coisas. E sempre que tem uma novidade, se eles verem (sic) nascer uma girafa, nascer um hipopótamo, no, no domingo seguinte sem dúvida estão lá pra serem apresentados ao, ao, ao novo bichinho, né? Mas só em termos de novidade. Em termos de comuns, os macacos continuam sendo os preferidos.
D
 É (inint.) os animais são mais exóticos, né, poderiam chamar mais a atenção deles?
L
 É. É, eles, eh, ahn, bom, como eu disse, eles, eles as, as primeiras vezes ou sempre que chega uma coisa nova, eles acham estranho, uma coisa que não estão habituados a ver nem em gravura, nem em nada, é mandril, é ... Eles sabem aqueles nomes todos melhor do que eu até. E conhecem os bichos todos, já sabem onde, onde é a localização e procuram ver. Mas pra visitar sempre, ahn, eh, eles, eh, leão, eh, leão também é muito cotado. (risos) Leão é cotado. Leão, macaco, cobra, isso é que eles gostam mais de ver.
D
 E dos parentes do leão, eles não gostam de outros não?
L
 Ahn, os parentes, como assim? Tigre, essas coisas não, mas o leão é mais cotado.
D
 É, né?
L
 Eu não sei qual é a influência assim na televisão, às vezes tem alguma e eu sei que eles gostam é do leão. Acham imponente.
D
 E da parte de réptil assim você não tem nenhuma sensação?
L
 Eu?
D
 Além de cobras? Outras espécies?
L
 Não. Ahn, os répteis, assim de jacaré, dessas coisas, não, não, não sei se impressionam muito com essas coisas não. A cobra mesmo só tem cartaz em função deles já ve... já terem visto matar na fazenda e aquela coisa duma cobra dentro de casa, não sei o quê, então, ganha aquela sensação. Mas eles não, é, eles gostam muito de bicho, não têm medo nenhum, nenhuma, nenhuma restrição, nem nenhuma agonia. Eu s... (sup.)
D
 (sup./inint.) não gostam de nenhuma ave assim especial, que sugira a eles vôo, força?
L
 Eles? A, a, a criançada?
D
 Sim.
L
 Não, não se interessa especialmente não. Eu só tenho uma sobrinha que tem pavor de coruja, embora acho que ela nunca tenha visto uma. Mas isso é uma coisa ... Ela ainda não tinha um ano, às vezes via no, numa revista, num livro uma coruja, tapava os olhinhos assim, (risos) e o negócio era tão, é, acho que aqueles olhos grandes, arregalados, ela tem um, uma, um ... Não sei, criou um pavor de coruja. Agora já está superando isso, já está com sete anos, ela já não liga tanto, já acha até graça do medo dela de coruja. Mas o negócio é, era com aqueles olhos grandes. O pavor de coruja dela é tão grande que (inint.) tem um parente que tem olhos muito grandes, sobrancelhas muito cerradas e ela ficou até com um certo medo dele: eu não gosto de olhar pro olho dele, porque me lembra logo uma coruja. (risos) E fugia da pessoa. Mas no mais não, eles não têm assim nenhuma ave, nenhuma preferência. Eles ... Os preferidos mesmo, em termos de animais pra eles, são os cavalos. Todos gostam, as, as meninas não tanto, mas os meninos gostam muito de andar a cavalo, interesse deles é, é estar se... sempre que vão pra algum lugar, procurar logo saber se tem condição de achar um cavalo pra andar. Onde quer que eles vão. São os preferidos. Fora mesmo do jardim zoológico.
D

  Está bom. Pode desligar, S.? Pode.