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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Profissões e Ofícios"

Inquérito 0275

Locutor 332
Sexo feminino, 58 anos de idade, pais cariocas
Profissão: professora de geometria descritiva
Zona residencial: Norte

Data do registro:11 de abril de 1975
Duração: 40 minutos


Clique aqui e ouça a narração do texto


L
 Eu sou uma entusiasta da reforma. Acho que essa reforma já deveria ter sido implantada no Brasil há mais de cinqüenta anos atrás. Já está com uma, um atraso. Sou, conseqüentemente, também, grande entusiasta da lei cinco mil seiscentos e noventa e dois ... A única crítica que eu tenho a fazer é que eu acho que deveria ter sido posta em prática, essa lei cinco mil seiscentos e noventa e dois antes da lei da reforma do ensino superior. Mas reconheço que o problema torna-se difícil de se criticar porque paralelamente a esse, a ... Se há essa reforma posta em prática, há também a necessidade do pessoal de magistério, do corpo docente que, se não tiver sido preparado com adequação, a lei cinco mil seiscentos e noventa e dois não poderia ter sido posta em prática. Então reconheço que o que ocorreu foi justamente para evitar que houvesse dificuldade de entendimento, na prática, dessa lei cinco mil seiscentos e noventa e dois.
D
 Agora (sup.)
L
 (sup.) Agora acho ótima a idéia de dar a profissão já em nível de segundo grau. Não compreendo como é que não se pensou nisso há mais tempo. Alguém, noutro dia, comentando comigo sobre isso também estava dizendo que no estrangeiro, os estrangeiros que já viveram no Brasil e que retornam a sua terra também fazem essa crítica. Dizem que não sabem como é que no Brasil se consegue que o indivíduo seja profissional de nível superior sem ter conhecimento de uma profissão de segundo grau. Eu também acho, estou de acordo. Porque eu acho que a pessoa escolhe a profissão de nível superior com mais re... noção de responsabilidade, de gosto, sabendo o que quer, quando já foi conduzido, em nível de segundo grau, para esta profissão. Digo mesmo que até dentro do próprio quadro do magistério. Acho que um professor que chega a nível superior vindo de professor de nível secundário, de nível de primeiro grau, deverá ser um professor mais completo do que aquele que começa só no nível superior. Eu só aceito a situação do professor começar já no nível superior porque sendo um nível de ensino de cúpula demanda muitas vezes profissionais que não podem ser tirados de, da carreira do magistério, assim em escalonamento de primeiro, segundo e terceiro grau, entendido? Somente por isso. Mas reconheço que a situação ideal seria que, desse escalonamento ...
D
 Quais seriam essas profissões?
L
 De nível do s... de segundo grau? Aí existem ... O catálogo do MEC já indicou mais de trezentas profissões e ele fez isso por áreas. A Escola Técnica Nacional tem já isso em cadernos, numerados, de, se não me engano, cinco, seis, sete, em cada ... De período em período eles editam mais um. O SENAI que também já tem dado informações sobre isto e eu já tenho uma boa catalogação. Lamento que a minha memória aqui não, não, não pode (sup.)
D
 (sup.) Poderia dizer nomes?
L
 Ah, posso dizer, no, no ramo de desenhistas, os desenhistas de, eh, ferramentas, desenhistas de móveis, desenhistas de construções navais, desenhista de máquinas, desenhistas de decoração de interiores, o desenhista de tecidos. Desenhista então tem mais de noventa especializações, mais de noventa. Fora isso, temos técnico de artes gráficas, dentro das artes gráficas, temos técnicos de tecelagem, de estamparia ... Den... no setor da biologia temos os, os, eh, profissionais de enfermagem em nível, eh, de segundo grau. Temos o técnico de laboratório. Temos os profissionais de, do ramo da veterinária. Temos os profissionais do ramo de pesquisas de biologia, da parte relativa à botânica, na parte relativa à mineralogia. Ah, né, dentro do ramo da, da química também vários profissionais, técnicos de laboratório e que vão militar com fabricação de reagentes, vários, eh, setores da química como por exemplo o preparo de, fabricação de, dessas, eh, plásticos, material de derivados do petróleo. Essas fábricas, e inclusive a Petrobrás está admitindo profissionais de nível de segundo grau, com experiência na química, né? E, e nós temos ... Já falei da biologia, da química, do desenho, da enfermagem. Estou dando exemplo porque tenho ... É uma coisa muito grande, muito longa, não posso ter tudo na minha cabeça. Eu sei que a reforma prevê nas áreas de, de profissionalização de segundo grau vários setores. E o próprio caderno que publicou a reforma de, a lei cinco mil seiscentos e noventa e dois deu exemplo de doze quadros chaves, que dão derivações pra vários ramos, vários, eh, tipos de profissões que, por sua vez, são os que comportam novas divisões, compreendido? Vocês dão aquelas áreas da ... E eu poderia dizer subáreas, depois ainda novas divisões assim.
D
 Agora havia assim profissões que antigamente eram assim mais consideradas, que as pessoas escolhiam mais? Como é que era isso?
L
 Em nível de segundo grau, até então as famílias, muitas famílias de classe média e muitas famílias, eh, de classe, eh, rica, se posso dizer assim, acima da média, acham que é uma coisa que, desabonadora o indivíduo ter, ser um profissional de segundo grau. Isso é uma questão, eh, que nós, uma mentalidade que nós temos, temos que modificar. Não é possível que se permaneça ainda essa idéia de casta. Considero isso um verdadeiro, eh, um verdadeiro resquício, não, da, daquela mentalidade da casta, das camadas sociais que nós não poderiamos, eh, nem, nem tomar conhecimento do que a camada inf... abaixo faria. E eu justamente acho formidável essa reforma porque, de um certo ponto de vista, vem dar àquele que tenha a possibilidade de ir a nível superior, de ser um profissional de, de nível superior, ter o conhecimento das dificuldades que deve, eh, enfrentar um profissional de segundo grau.
D
 E a senhora acha que es... essas pessoas vão ter oportunidade de trabalho? Campo de trabalho?
L
 Mesmo que não tenham, mesmo que não tenham, elas ficam conhecimento, com conhecimento disso. Eu estou informada, por exemplo, que na Inglaterra, onde já existe, eh, essa reforma nesse gênero, foi a própria rainha, mãe do futuro rei da Inglaterra, que mandou seu filho pra uma escola de por... para formar profissão, pra que ele fosse um profissional de segundo grau. O rei da Inglaterra. E no entanto lá é monarquia, é, não é isso? Tem a fa... família de sangue real. E ela quis pra que ele tivesse contato com o povo, conhecesse os problemas do povo. Então eu digo também, o profissional de terceiro grau, de nível superior, só poderá compreender as dificuldades que enfrenta um profissional de segundo grau, poderá comandar profissionais de segundo grau, se ele sentir os problemas que vai, que, que esse profissional de segundo grau enfrenta, porque ele também é profissional de segundo grau, entendido? Porque ele também sabe, ele sente aquele problema. Na Inglaterra, ao que eu saiba, nas escolas superiores existem mais de oitenta por cento de bolsistas. São profissionais de segundo grau que as fábricas, as empresas, mandam pra prosseguir o seu estudo porque vêem neles habilitação pra prosseguir, pra chegar ao profissional de nível superior. Na Alemanha, segundo me informou o adido cultural, isso eu devo dizer que essa conversa que eu vou transmitir a vocês agora resulta de uma entrevista que eu tive no ano de mil novecentos e cinqüenta e três, cinqüenta e três ou cinqüenta e dois, não estou bem certa, quando foi, quando houve um congresso de geometria descritiva e desenho técnico em Recife. Eu deveria comparecer a esse congresso. E então estava preparando uma tese para levar ao congresso. E, pra essa tese, o material de documentação eu andei correndo várias embaixadas e procurando ter o, fazer uma entrevista análoga à que vocês estão fazendo comigo, eu fiz com os adidos culturais de várias embaixadas. E o adido cultural da, da Alem... da Alemanha então me concedeu duas horas de conversa e lá, por ele eu soube o seguinte: que lá também eles enfrentam esse problema de ... Como é que eu vou dizer? É uma espécie de uma, é u... ele disse lá que não é propriamente uma idéia de casta não. O que lá, o que existe lá é que todo mundo corre, como aqui também, à busca de melhores salários, salários mais elevados. E todo mundo que atinge e que exerce uma profissão de ensi... de nível médio quer prosseguir nos seus estudos pra atingir a uma profissão de nível superior onde a remuneração é melhor. E na Alemanha chegaram a uma situação em que precisavam de profissionais de nível médio e só tinha de nível superior, porque todo mundo corria à busca de melhor salário. Então o que que algumas fábricas eles tiveram que fazer? Remunerar melhor o profissio... profissional de nível médio porque é onde eles tinham mais falta de pessoal habilitado. E deixando o pessoal de nível superior com uma remuneração igual à de nível médio, justamente para desestimular a corrida às vagas de profissionais de nível superior. E foi com a ... Assim que eles conseguiram resolver o problema da falta de profissionais de nível médio. Essa informação me foi dada pelo adido cultural da Alemanha neste ano, nesses idos de mil novecentos e cinqüenta e dois ou cinqüenta e três. Ora, já se passaram mais de dez anos, de modo que eu faço a ressalva da época em que eu estou transmitindo a informação. Depois disso ... Entendido?
D
 Essas profissões assim ... No campo universitário. Há algum tempo atrás, por exemplo na sua época, não era normal uma mulher fazer curso superior (sup./inint.)
L
 (sup.) Bem, eu acho que ainda existe. Eu sou professora na escola de engenharia da UEG e lá as minhas turmas são grandes, são turmas de oitenta alunos. Eu conto cinco moças para setenta e cinco homens. E há turmas em que não há uma moça. Via de regra as profissões que exigem matemática não são profissões muito queridas pelo sexo feminino não. Não sei por quê, mas é. A prática mostra isso. Agora tem havido de ano pra ano uma melhora. Mas eu, nesse, dess... nessa porcentagem, mas eu acredito que muitas delas vão pra lá pra arranjar marido. (riso) É, porque tem saído casamento, eu sei. (riso)
D
 Agora havia algumas profissões que eram mais comuns, não é? As que eram mais solicitadas.
L
 É. Aqui, por exemplo, na Belas-Artes, na turma em que eu dou aula hoje, que também é uma turma bastante grande, é uma turma que já está com, já está caminhando pra setenta alunos, oficialmente sessenta, mas já freqüentando eu já tenho setenta, assinando a lista, eu conto cinco homens para sessenta e cinco mulheres. Eu tenho cinco, no modo de dizer, que eu ainda não d... sinceramente aí eu estou dando a minha impressão, entendido? Pode ser que esteja, dentro da mate... do rigor da matemática não ser exatamente essa proporção. Mas não deve estar muito longe disso não. Não? Agora, aqui é a arte, mas a minha matéria, a minha disciplina é matemática, é geometria descritiva. E eu tenho uma porção de mulheres aqui, não é, em relação aos homens. É porque o pessoal vem pra Belas-Artes pensando que não vai encontrar matemática, mas a matemática está aqui também. De modo que eu, eu penso isso, que o que faz, eh, uma ... Se há uma correlação entre sexo e profissão, a minha impressão é esta: que as profissões que pedem matemática não são procuradas pelo elemento feminino, ou são menos procuradas.
D
 E quais são as mais procuradas pelo elemento feminino?
L
 Eu diria o magistério, as profissões de licencia... os, as licenciaturas já em nível de segundo grau mesmo. E eu diria as Letras. Vocês lá na faculdade de vocês devem ter um grande coeficiente de moças. As ciências sociais, a ... De modo, inclusive no setor, não é propriamente de assistência social não, setor mesmo de, de ciências sociais que eu estou me referindo de modo geral, heim? Geografia, história etc. Entendido? Línguas. E o que mais? Engenharia tem, mas é porcentagem muito pequena. Medicina tem, mas ainda o grande contingente é masculino. Medicina você encontra uma quantidade já maior de moças procurando a profissão de medicina, mas ainda, vamos dizer, uns trinta por cento de mulheres para uns setenta por cento de homens. Essa é a minha impressão.
D
 Em medicina há vários ramos, né?
L
 Direito, também, mais ou menos a mesma coisa, uns trinta por cento de mulheres pra uns setenta por cento de homens. Eu não sei se também por causa na hora de exercer a profissão (inint.) o mercado de trabalho se inclina mais para o elemento masculino. Talvez em engenharia também por causa da, de ter muitas vezes, pra exercer a profissão, o indivíduo precisa lidar com operários, precisa ir pro campo. E realmente pra mulher isso às vezes não é conveniente.
D
 Dentro da medicina há algumas especialidades que são mais procuradas pelas mulheres.
L
 Medicina, eu acre... eu acredito que dentro das especializações da medicina a parte de ginecologia, procurada por mulher, a parte da pediatria. E as outras profissões não tenho previsão, não tenho possibilidade de fazer previsão não.
D
 A senhora podia dizer assim outras especialidades, especializações da medicina, além de ginecologia (sup.)
L
 (sup.) O otorrino, não é, o (sup.).
D
 (sup.) Todas as que a senhora puder se lembrar.
L
 Aquela, eh, dessas doenças cardiovasculares, tem, tem um termo, é angiologistas, né? O termo é angiologista. Estão aqui me botando em confissão, sabe, D. M.? Mas, que mais que eu poderia, é o especialista em reumatismo, é reumatologia, o que cuida de ossos, como é, o ... Não sei, não, não, está, está me falhando a memória o nome do espec... eh, do médico que se dedica só a estudo de ossos, aparelho ... Ortopedista, né? E olhos, é oculistas, médico ... Ah, o oftalmologista. (riso) Ela corrigiu, mas está certo sim, é oftalmologista. Mas aí temos também médico oculista. É. usa também. Que mais? De ...
D
 A senhora por exemplo, se tiver que se submeter a uma operação, antes dessa operação a senhora tem de fazer uma série de exames. Que exames são esses?
L
 Laboratorista, né?
D
 É, e recorre a alguns especialistas (sup.)
L
 (sup.) É. Eu conheço como labota... laboratorista. Agora eu não sei se tem algum termo mais, mais adequado. No momento está me falhando a memória, não sei dizer. Médico de ... Agora existe o que faz os exames de eletrocardiograma, não é? Mas não sei também se tem algum nome.
D
 A senhora tem por hábito ir a médico?
L
 Não. Eu tenho um clínico, um médico clínico, né? Já aí seria outra, é, outra especialidade, o clínico. E que mais?
D
 E, e quando a senhora vai a esse clínico, ele nunca pede outros exames pra senhora?
L
 Às vezes pede exame de sangue. Então são exa... eh, exames feitos pelo, eh, em laboratórios. Agora alguns laboratórios são especializados só em determinados tipos de exame, né? Eu ...
D
 E a senhora por exemplo usa óculos assim por quê (sup./inint.)
L
 (sup.) Por defeito de nascença. Eu tenho uma vista ... É, eu tenho uma vista que já, já nasci com defeito de visão. Eh, uma vista que tem alcance menor que a outra, tá? E essa vista t... eh, eh, está reduzida, eh, em sua potência a, a um décimo do normal. De modo que nasci com estrabismo. E, e esse estrabismo muito acentuado, convergente, foi corrigido só com óculos. Eu uso óculos desde oito anos de idade. Foi quando, a idade que naquele tempo, a idade que se indicava pra poder começar a usar óculos porque quando criança eu fui muito levada, muito travessa, vivia trepando em árvore, e, e minha mãe tinha medo que eu quebrasse os óculos, né? Mas o que ... Depois dos oito anos, que a gente vai adquirindo mais alguma compreensão das coisas, então é que minha mãe levou ao oculista pra poder (sup.)
D
 (sup.) Além desses profissionais, há alguns que a gente utiliza assim no dia a dia, eh, dentro de casa, quando uma coisa quebra, não é? Tem de recorrer a alguém. Se alguma coisa assim não funciona na sua casa, quem é que conserta?
L
 Eh, profissional de quê? Do ... Vocês já não estão se referindo, então, a profissional (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 (sup.) Você fala em profissões então de nível médio? Bombeiro, bombeiro, serviço de bombeiro, serviço de, de pedreiro, serviço de ... O faxineiro de um modo geral também, às vezes é quebra galho, né, eu diria, é, é uma g'iria, mas que diz bem, é o quebra galho, o safa-onça. Nós temos por exemplo um empregado que funciona com esse, com esta função, não é? Ele, a, a atribuição dele não é, ele não tem ofício qualificado. Ele é pau pra toda obra. Ele faz as compras, ele faz a limpeza, ele de limpeza de, de lá, varanda, que eu moro em casa eu não tenho a varanda, varre o quintal, molha as plantas e faz compras. Qual é a profissão dele? Tem profissão qualificada? Não tem. Não é? Mas que é necessário numa casa de família, como é, grande como é, casa de movimento como a que eu tenho, preciso, não poderia prescindir de, desse, desse profissional que eu não sei que título eu vou dar pra ele, mas eu diria então que é um quebra-galho, é o ... Entendido? Não é?
D
 Em toda a profissão, seja qual for, de nível médio ou nível superior, ela tem seus instrumentos de trabalho, não é? Se o médico (inint.) alguma coisa, bombeiro tem alguma coisa ...
L
 É. O bombeiro precisa do maçarico, precisa de ferro de soldar, não é, chave-de-fenda. O pedreiro precisa de colher de pedreiro, precisa prumo, precisa do nivelador, o nível, que chama nível, né, nível. Ah, e eu não sei como chama, eu sei que é um, é um negócio que eles improvisam em madeira pra poder fazer, alisar o concreto ou o cimento, não sei se é aquele ... Não é colher, porque colher é, é de ferro, né, e essa aí é de madeira. Não sei que nome tem aquilo não. Sinceramente eu não sei. Pedreiro ... Que mais? O servente. Tem o termo de servente. Servente seria então o caso do, do que trabalha lá em casa, é servente. Porque servente é o quê? 'E o termo mesmo, é o que serve. Serve pra qualquer coisa que se precise dele, né? Então é o servente. O servente ou a servente, né?
D
 Numa universidade há todo tipo de pessoas ...
L
 Mas também há o servente aqui.
D
 Tem o servente e que outros? Por exemplo, aqui mesmo (inint.)
L
 É. Tem o pintor, que pinta as ... Não é? Tem o eletricista, que faz serviço de eletricidade. Tem o bombeiro, que cuida da parte hidráulica, não é? Tem o pedreiro, que cuida de reparos de parede, como no outro dia ali se viu na, nos azulejos da parede ali do sexto andar. Tem o envernizador, né, aquele que estava lá na, lá ... Mas acho que é o mesmo pintor. Pintor e envernizador fazem o mesmo serviço. Porque tem certas profissões que o indivíduo fica com um campo muito restrito e, conseqüentemente, menos oportunidade de, de trabalho, se o seu campo for muito restrito. No próprio Estados Unidos, onde a diversificação de profissões foi multiplicada quase que ao infinito, eles hoje em dia já estão achando que é preferível que o indivíduo tenha a possibilidade de fazer três, quatro, cinco atividades a ter, pra ter mais oportunidade de, de trabalho, a ter uma só e ficar de braços cruzados por não ter emprego.
D
 E em nível superior há umas profissões que não havia antigamente, né, que surgiram assim, que hoje (inint.)
L
 Bem, eu acho, justamente, aí outro grande mérito da reforma, que aliás, ao meu ver foi o motivo principal dessa implantação da reforma em quase todos os países, eh, do momento. É, justamente, a possibilidade de multiplicar as profissões ao infinito. Que a humanidade está se transformando e aquelas profissões catalogadas como profissão de nível superior já não estavam mais atendendo às exigências do meio social. Então nós estávamos vendo um indivíduo exercer uma profissão como de ... Digamos, era prefeito de uma cidade. Ele se improvisava prefeito porque tinha um prestígio político pra ser prefeito. Mas ao exercer o cargo ele metia os pés pelas mãos porque não entendia nada do que ele precisava entender para exercer a profissão. Não sabia leis, foi eleito por sua simpatia, por sua força política. Ele não se, se ... Como prefeito que precisasse resolver problemas, entrar em, em acor... em contrato com empresas para fazer probl... resolver problemas de hidráulica, como, digamos, per... fazer perfurações para buscar água, pra dar água à população, buscar água em, em poços e daí poder fornecer água pra po... população, e ele ficava inteiramente à mercê de empresas que se oferececessem pra fazer o serviço, ou então se ele conhecesse alguma coisa ele poderia ... Conhecesse por ser um engenheiro, digamos assim, e engenheiro que tivesse conhecimento desse, dessa especialidade, ou então ele correria o risco de ter que confiar inteiramente na equipe da qual ele se cercou. Agora também não quero dizer que ele como prefeito tivesse que exercer, conhecer de todas as profissões com as quais ele tivesse que ter contato em relação aos profissionais que ele tivesse que contratar. Não quero dizer isso. Mas eu diria que um car... num caso como esse exemplificado, de prefeito, seria muito bom que ele conhecesse um pouco de contabilidade, pra não ficar à mercê da má fé de al... de, de alguém que viesse, valendo-se da sua ignorância e, e abusando da sua boa fé, ludibriá-lo, não é mesmo? Sobretudo, problema de orçamento, de finança, seria bom que todo o indivíduo que tivesse cargo de prefeito, cargo de administrador de um modo geral, conhecesse um pouco desse pro... dessa manipulação de verba, dessa técnica de manipular verba que, hoje em dia, todo indivíduo que tenha essa responsabilidade deve conhecer, senão fica à mercê de seus auxiliares, né? Que, muitas vezes, ou também não conhecem o assunto e, e vão passando a terceiros, até, talvez, ficar, eh, entregues a um indivíduo que não, não tenha escrúpulo e vá se aproveitar da inocência, da ignorância da autoridade pra abusar e desviar verba em nome dessa autoridade, com a assinatura em todos os papéis de importância dessa auto... autoridade, né? Quer dizer, eu acho que o profissional de nível superior, porque via de regra es... esses cargos como o de prefeito, de administrador de uma universidade, de diretor de hospital, diretor de uma grande empresa, eu acho que todo mundo que chega a essa situação deve conhecer contabilidade, eh, eh, e toda a técnica de manipular verbas, de distribuir dinheiro. Devia conhecer um pouco de finança, de direito, de leis.
D
 Agora assim outros profissionais, por exemplo, que a gente utiliza muito, em termos assim de cuidados que a gente tem, né, com a gente, em termos de embelezamento, né?
L
 Eu acho, justamente. Eu estava falando, a ... Mudei minha idéia, mas a reforma tem esse grande mérito: é que o indivíduo poderá mon... montar, poderá, ah, eh, ter profissões que nunca existiram, não tem nem nome pra elas, mas com o conhecimento de um ca... de um certo número de disciplinas, que ele mesmo vai buscar pelo interesse dele, e com o conhecimento dessa disciplina está habilitado a exercer uma determinada, uma determinada atividade no meio social aonde ele é solicitado, porque ele montou conhecimentos pra isso, entendido? Montou de que maneira? Com, fazendo disciplinas que ele foi buscar nessa ou naquela universidade, ou numa só universidade ou em várias universidades.
D
 (inint.) alguém que tiver que ir a uma festa tem que se cuidar, ficar com boa aparência, ele a que profissionais procura?
L
 Maquiladores, né? Seriam os maquiladores. E eu não considero esses profissionais de nível superior não.
D
 Não. Não é de nível superior não.
L
 É. Então, um maquilador, né? O pessoal de teatro todo trabalha, tem, tem sua equipe de maquiladores. E como também tem o cenógrafo, que faz, eh, estuda as cenas, não é? Existe o, o que cuida da parte do cabelo, não é só o, a pele, é o cabelo também, eh, o cabeleireiro. Esses já são profissionais, ao meu ver, de, são profissões de nível médio que eu, teriam que, que ser arroladas naquelas que eu falei inicialmente, não é? Agora (sup.)
D
 (sup.) Claro, mas que, mas são profissões com que a gente lida mais no dia a dia, né? (sup.)
L
 (sup.) Exato. São profissões que são, com as quais se lida no dia-a-dia. Mas eu quero dizer que tanto no nível superior e a teoria de montagem de profissão é a mesma pro nível secundário. Pode-se criar atividades que nunca se pensou que pudessem vir ser catologadas como uma profissão. Tanto que eu acho que essa questão de nome para profissão não interessa muito não. Basta que o indivíduo tenha habilidade pra exercer aquela determinada atividade que é útil ao meio social e está sendo solicitada pelo meio social. Você, por exemplo, sabia que existe um especialis... um profissional que só faz arrumação de mercadoria em porão de navio? Pois é. Então você fica sabendo. A profissão dele é, unicamente, arrumar mercadoria em porão de navio ou então em, em porta-mala de aviões, naquela parte aberta, pra, no sentido de aproveitar o, o m... máximo o espaço comum, transportar o máximo de carga com o mínimo de, de, de peso e de espaço. Existem profissionais que só se dedicam a isto. Mantêm o equilíbrio, no navio ou avião, sem quebrar, botar mais peso pra um lado ou pra outro. E isso é uma, é uma profissão que já está, já está tendendo pra o nível superior, se é que já não está classificada em nível superior por causa dos conhecimentos que exige.
D
 Mas tem nome?
L

  Sinceramente, se tem eu não me lembro. Não, talvez já me tenham dito mas eu, a minha memória não é muito boa não. De modo que eu não garanto a você que não tenha nome. Possivelmente tem, sim. E se não me falha a memória é um nome difícil de memorizar. Eu não ... Entendido? Eu não estou assim, no momento, eu não quero arriscar. Eu sei que tem. Me parece que tem nome, sim. E outra profissão, também, que eu não sei se você sabia, existe uma profissão que, por exemplo, esse jornal O Globo contrata. Arrumar as notícias na fo... na página do jornal, de maneira artística. Sabia que existia essa profissão? É. Como existe o decorador, né? Aquele que faz a decoraç~ao de, da casa da gente. É porque a gente não sabe, nem se preocupa, muitas vezes, de saber quantas profissões existem. Mas eu acho impossível contar uma coisa que, ao meu ver, tende é pro infinitamente grande, entendido? E é isso, aí é que está o grande mérito da reforma. É, possibilita o indivíduo montar uma determinada atividade, eu usei a expressão montar porque eu quero dizer e ele mesmo monta, quer dizer, ele arma, entendido, como no sentido de arquitetura. Ele arquiteta aquela profissão, aquela atividade, com as disciplinas que ele julga que são necessárias pra ter competência pra exercer essa atividade. Ele pode bis... buscar disciplinas na faculdade, no instituto de biologia, outras tantas no instituto de matemática, outras tantas no instituto de química, entendido? E, com isso, ele monta uma profissão. Que nome tem? Não interessa. É uma atividade útil ao meio social, está compreendendo? Quer dizer, então, a no ... Eu penso que não devemos nos preocupar em dar nome a profissões. O que nós devemos, sim, é julgar pelo conhecimento que o indivíduo demonstra através do seu histórico escolar, aí a importância do histórico escolar, é as habilitações que ele tem pra exercer esta ou aquela atividade. E digo mesmo, aquele que fosse prefeito, deputado, senador, deveria ter no seu histórico escolar disciplinas que comprovassem sua habilitação para o exercício da atividade de deputado e de senador, ou de prefeito ou governador, fosse lá, entendido? Já deveria haver, sim. Acho que sim. Tenho certeza disso. Eu botaria no histórico escolar a exigência de matemática financeira, de contabilidade ...