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PROJETO NURC-RJ

Tema: "A cidade e o comércio"

Inquérito 0273

Locutor 330
Sexo feminino, 39 anos de idade, pais cariocas
Profissão: arquiteta
Zona residencial: Norte

Data do registro: 11 de abril de 1975

Duração: 40 minutos

Som Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 Como é que a senhora vê assim o comércio no Rio de Janeiro?
L
 O comércio no Rio de Janeiro tem muita oferta, muitas lojas, lojas boas, boas, muito boas. Eu gosto muito do comércio. Me divirto em ver as vitrines, aprecio muito a arrumação de vitrine. Gosto, chama atenção. Comparo até às vezes as vitrines de outros lugares que eu já tenha visto, mas acho sempre que a nossa tem um, uma coisa característica nossa, né? Do nosso jeito.
D
 O que que seria isso?
L
 Essa característica é a maneira de arrumar para oferecer o produto. Principalmente assim muitas lojas não botam preços nos objetos que é pra fazer, conduzir a pessoa ao interior da loja e perguntar. Em particular, eu condeno um pouco, mas é um, ah, um aspecto social mesmo de conduzir o indivíduo ao interior da loja. E com isso às vezes dá margem que o, a pessoa venha adquirir o objeto. O brasileiro diz apenas: as pessoas especulam, que aliás é como eu sempre faço. Tem um fundo especulativo e às vezes acho assim que o fato de não ter o preço e eu querer saber, eu entro na loja, incomodo o caixeiro bastante, pergunto o preço não só daquilo que eu gostei, como de outras coisas também, para ver se eles entendem que às vezes a pessoa apenas gosta de saber o preço para poder avaliar quanto aquilo custaria, se estaria na medida da sua condição e poder comparar também com outros lugares, porque eu acho que a gente nunca deve entrar numa loja e com... se abastecer imediatamente naquela loja. Eu acho que talvez seja um princípio assim de economia, de planejamento. A pessoa, porque a pessoa deve planejar as suas compras de acordo com a sua, poder aquisitivo. Então a gente tem vontade de ter um objeto, mas nunca pode ter aquilo satisfatoriamente nesse momento, então é bom a gente saber quanto custaria pra gente já fazer um planejamento, às vezes pro mês seguinte poder comprar, se bem que o nosso tempo aqui não funciona muito, no mês seguinte já aumentou. Diferença de dois ou três dias a gente chega lá já aumentou, mas mais ou menos em torno daquele preço a gente pode organizar a vida pra que se obtenha o objeto. Gosto de fazer compras, me, me divirto mesmo sem fazer compras, acho que é uma maneira de extravasar essa tensão que a gente leva.
D
 A senhora mesma faz todas as compras?
L
 Isso, eu mesma faço todas as minhas compras e gosto de ir à loja para fazer compras (interrupção)
D
 Então vamos voltar. A senhora estava dizendo que gostava de fazer as suas compras?
L
 Gostava, gosto de fazer minhas compras, porque eu acho que a gente tem o prazer da curtição. Sei lá, já é uma maneira da gente satisfazer, da gente sentir que foi lá adquirir a coisa. Eu acho que tudo da vida deve ser assim, a gente deve conseguir conquistar aquilo. Porque deixar os outros comprar pra gente, sei lá, ganha, recebe aquilo, mesmo que a gente pague parece que está ganhando, está recebendo. Também gosto de ganhar, mas eu acho que a gente quando deseja alguma coisa e a gente pode ir lá comprar, sente aquele prazer de adquirir.
D
 Que tipo de compras são essas que a senhora faz?
L
 Todos (inint.)
D
 Interessa pra gente todos os tipos.
L
 Roupa, objetos assim variados, bijouteria, a parte de roupas, a parte complementar de roupa e objetos também assim não de enfeite não, mas acessórios de casa, necessários ao bem-estar da gente, aparelhos elétricos, parte também de elementos assim, vamos dizer, de cozinha pra ajudar melhor a fazer a comida, uma coisa assim, partir um objeto, um alimento, essa parte assim e também parte de acessórios de escritório, lapiseiras, canetas (inint.) de necessidade, né? Às vezes eu preciso material de desenho, tenho muitas canetas assim, gosto muito, e às vezes: ó, você já tem uma! Mas é novidade, então eu gosto de ter uma novidade, então eu tenho muita coisa. Tintas também pra pintar, desenhar, aquarelas, pincéis, preciso muito de pincéis, tenho mania de pincel.
D
 A senhora tem assim um lugar de preferência onde a senhora vai pra comprar essas coisas?
L
 Bom, tem certos materiais que são específicos de uma determinada loja, né, e já sendo freguesa da loja, já inclusive o dono da loja conhecendo o meu gosto, às vezes eu passo pra saber: chegou alguma coisa, tem alguma novidade? E ele já tem e já mostra. Por exemplo, eu tenho um joalheiro que de vez em quando ele me telefona: vem aqui, olha, tem uma, uma jóia nova, um objeto. Às vezes é apenas pra me mostrar a obra dele, que eu prezo muito a obra dele, ele tem uma maneira de trabalhar que eu gosto, então, muita criatividade. Isso é uma pessoa assim pequena, não tem muita expansão, não tem muita oportunidade de, de expor o material dele. Então às vezes ele me chama pra ver e às vezes eu vou lá também que eu quero encomendar um determinado feitio de jóia, então aí eu já vou direto. É uma pessoa que eu tenho confiança e sei o tipo de trabalho. Material de desenho também. Tem uma determinada loja que eu sempre compro lá, também já conheço desde o tempo de estudante, no ginásio eu já comprava material de desenho lá.
D
 Mas que tipo de loja é essa? Tem um nome?
L
 Ah (inint.) a não ser que lá não tenha, então eu me dirijo a outra loja, por exemplo, Casa Mattos, dependendo, mas de preferência, primeiro eu vou lá, porque eu já conheço, os empregados me conhecem, já passei por várias gerações de empregados, já saíram de lá e já voltaram à loja e eu continuo comprando lá. Quer dizer, o dono já vendeu, depois tornou-se sócio novamente. A pessoa que adquiriu não conseguiu manter o mesmo ritmo que tinha a loja. Moldura pra quadro é uma coisa que eu já procuro sempre a mesma pessoa, porque a gente quando sai assim, a gente tem uma id'eia do que a gente quer, mas a gente chegando na loja apresenta variedade enorme de molduras e você pode jogar com as que você já tem e esse é um trabalho fantástico: não, a senhora já fez isso assim, assim. É bom que a senhora faça isso desse jeito, pra combinar isso e valoriza essa aquarela, valoriza seu óleo. Quer dizer que então eu tenho ... Isso a gente sempre leva, mesmo que seja mais caro, mas a gente sabe que vai ter um trabalho satisfatório. O A. aqui em cima, foi ele que me ensinou essa casa e eu justamente eu conheci desde o tempo que eu já ia no ginásio lá e quando preciso vou lá. A gente procura outro lugar, quando eu procuro outro lugar, eu entro, mas não consigo resolver o problema, não saio satisfeita e não consigo resolver a coisa. Então, a gente tem que voltar aqui com ... Roupa é que eu vario um pouco. Compro numa e noutra loja, porque se a gente comprar sempre na mesma, não sei, parece que a gente vai ficar sempre com o mesmo estilo de roupa. Eu vario muito.
D
 E, em termos de bairros também.
L
 Compro muito na cidade, porque eu trabalho na cidade, então há um intervalo entre um horário de aula e a hora do trabalho. Eu trabalho atualmente na rua São José, bem no centro, então deixando o meu carro ali na, no terminal-garagem ... É fácil de eu circular na rua Gonçalves Dias, do Ouvidor, em torno ali, gosto sempre de dar uma olhada. Se encontro alguma novidade, então, se me interessa, se está num preço accessível, às vezes eu faço aquisição imediata, outras vezes deixo uns dois ou três dias pra resolver, pensar, realmente ver se aquilo vale a pena ser comprado. Então dificilmente eu saio do centro da cidade, pra esse tipo de compras. Agora, sapato e bolsa também há assim uma preferência pela Varese, porque o meu pé é muito alto, é difícil encontrar sapato às vezes pro meu tipo de pé e lá o sapato já combina com meu tipo de pé.
D
 É também na cidade?
L
 Não. No centro da cidade não, é na praça Saenz Peña. Agora eu não gosto muito do comércio da Saenz Peña, porque já cheguei à conclusão de que ele é mais caro do que outros lugares. Então só vou lá adquirir alguma coisa quando, quando é um dia de pique, sábado assim que você não tem outro lugar pra fazer, inclusive até a Loja Americana, que é uma loja que devia ser padronizado o preço, na cidade é mais barato do que nos bairros. Eu não sei se é porque com o problema de Copacabana, eh, houve um esvaziamento de compra no centro da cidade, o pessoal vive nos bairros, então eles compensam com isso. Dificilmente o preço na cidade é mais caro do que na, do que no, no bairro. Pode ser igual, mas o do bairro geralmente é mais caro e principalmente a Tijuca, até na casa Sloper. Nós inclusive, eu e uma amiga, no, no natal constatamos isso. Um objeto que eu havia comprado na cidade, ela gostou e quis comprar pra dar a uma prima, fomos à Sloper da praça Saenz Peña, tinha igual, mas era mais caro.
D
 E sobre assim o comércio nos outros bairros, mais da zona sul? Seria um comércio diferente?
L
 Zona sul, eh, zona sul tem muita butique, muita loja que de vez em quando também eu procuro, só assim quando tem uma festa, tem um lugar especial pra ir, sempre procuro uma roupa mais fina, uma roupa melhor ou mais dentro da onda, na moda. Mas se bem que eu procuro minha roupa assim um pouco clássica, porque a gente dando aula, trabalhando, eu acho que a gente não pode ficar assim, a gente fica com a roupa muito vista. Uma roupa muito chamativa a gente fica muito vista, a roupa, então eu procuro mais dentro do regime clássico. Então só em casos especiais é que eu procuro na zona sul. Pra mim é um pouco fora de mão. Tem uma loja ou outra que eu freqüento na zona sul, mas é uma freqüência assim esparsa, muito, muito, um intervalo muito grande, cabelereiro, que eu freqüento o Jambert, questão assim de maneira de cortar o cabelo, de tratar o cabelo, eu me ajeitei com eles lá, então ... Mas não é uma freqüência assim semanal, eu não freqüento cabelereiro semanalmente, nem manicure, nem nada disso, não tenho tempo nem paciência de ficar lá horas esperando pra ser atendido. Então quando eu tenho uma necessidade de (inint.) aí eu vou ou então quando há necessidade de um corte (inint.) fazer mecha (inint.) então eu sou obrigada a ir lá. Sou do tipo dessa freguesa que não dou lucro à casa, porque não, não tenho freqüência, mesmo quando eu freqüentava aqui na Tijuca, que eu achava um pouco melhor, ele sempre dizia: eu morro de fome por você. No caso, eu não apareço, não tenho espírito. E sábado e domingo eu procuro dedicar um pouco à família, apesar de não ter mais mãe, tenho pai, eu acho que apesar de ele trabalhar preciso ver as coisas dele, preciso dar mais atenção a ele, só domingo que ele está em casa. Então já basta que eu tenho que sair pra uma festa, um teatro, um cinema, nas outras horas eu devo estar com atenção a ele, preciso economizar em cabelereiro. Não gosto mesmo, se eu gostasse, eu arranjava tempo e hora pra ir, né? Gosto muito do comércio de Copacabana. Muito bonito, bom, muito variado. Talvez até me sinto um pouco perdida no comércio de lá, porque há tanta variação e da maneira que eu sou de gostar de ver, de especular, então eu acabo meia perdida no comércio de Copacabana.
D
 Mas o comércio de Copacabana hoje eu acho que já perdeu um pouco, não?
L
 É, agora a zona sul está em Ipanema.
D
 Que que você acha das butiques de Ipanema, como é que são, o aspecto?
L
 Convidativo pra compra, né? É uma maneira de lançar as coisas de uma maneira convidativa, eh, só que eu acho que leva uma pessoa (inint.) e depois, a coisa vai caminhando pela cidade, pelos outros bairros até chegar aos subúrbios, há uma padronização. Porque é chique lá, então já começa a haver uma, um artigo mais inferior imitando aquele e no fim (inint.) aquele tipo de roupa, aquela maneira. Antigamente, não, antigamente, a gente sentia ... Inclusive até dizia assim: aquilo ali é suburbano, aquilo ali é, é zona sul. A gente conseguia distingüir bastante, mas atualmente a gente sente pelas pessoas que mesmo que se possa comprar a melhor roupa fina, comprada na melhor butique de Ipanema e morar mesmo em Ipanema, você pode ter aspecto de suburbana da mesma forma, por não saber botar aquela roupa. Então não adianta nada comprar em Ipanema. Antigamente, não, o pessoal que morava em Copacabana, Ipanema era um pessoal assim mais fino, mais bem tratado e que sabia, e que botava o que podia botar. Atualmente não (inint.) então um artigo fino pode ficar até com aspecto suburbano, um artigo mais inferior pode ficar um artigo chique, dependendo da pessoa que sabe usar a roupa, dependendo da pessoa. Então acho que não é comprar lá em Ipanema que vai fazer ficar chique nem, nem bacana. Às vezes você só encontra lá, então, é certo, que você vai lá procurar aquele objeto. Objetos importados às vezes. Você tem que ir a uma determinada importadora assim uma determinada butique que tem aquilo e não adianta você ir a outra, mas se você quer realmente aquilo, você tem que buscar onde houver. Não é muito fácil, todo canto tem tudo, e não tem ...
D
 E por exemplo em termos assim de suas compras para abastecimento de sua casa?
L
 Bom, aí eu passo em mercado, cooperativas, teve uma época até que eu fazia na Cooperativa da Aeronáutica aqui em Manguinhos, que era o caminho pra eu vim (sic) aqui para a Ilha, que eu dava aula aos sábados um pouco mais tarde, às dez horas, então eu acordava mais cedo e passava lá, fazia minhas compras. Atualmente, acabou essa cooperativa, então tenho feito no supermercado mesmo, em outras lojas, mas não gosto da Casa da Banha, não gosto dos empregados, não gosto da maneira deles apresentarem as coisas e inclusive tenho queixas contra a, a passagem na caixa. Sempre um artigo é majorado. Já aconteceu um artigo repetido, eles registrarem cinco vezes o mesmo preço, na sexta vez, dez vezes mais, encareceu o artigo dez vezes mais. Na verdade não aceitaram reclamação, mas eu constatei depois. Depois dessa vez, eu fui ver uns, uns talões antigos, esse negócio de "seu talão vale um milhão", você guarda talões, fui ver e havia justamente desses produtos, falcatruas mesmo, de artigos majorados. Então essa história que a gente não tem tempo, não tem o hábito de conferir quando chega em casa, a gente acaba acontecendo esse imprevisto. Essa vez eu pude checar porque eu havia comprado também coisas pra minha irmã, então na hora de dividir a quantia que ela deveria me pagar é que eu senti isso. Então, aí eu resolvi dar uma olhada nos outros, em todos eles havia problemas semelhantes. Então só compro em última instância. Se não houver em canto nenhum e for uma necessidade vital, na certa eu vou lá, caso contrário não vou não, não compro mais nada. Perto da minha casa a mais próxima é a Casas Sendas, o Disco é mais distante, que é na praça Saenz Peña, e na Usina tem uns supermercados muito pouco sortidos, então eu sempre dou preferência a descer na Casa Sendas, que tem estacionamento, o atendimento é bom, os empregados ... Estou mais acostumada a comprar lá. Já sei mais ou menos os lugares onde estão as coisas expostas, não tenho muito tempo, não posso ficar procurando.
D
 O que que você compra lá?
L
 Ah, toda parte de alimentação. Só verduras é que não. Verduras a empregada compra na feira e, a parte de verduras e legumes. Frutas também, meu pai adquire numa feira perto da farmácia dele. Meu pai tem verdadeira psicose por frutas, ele acha que a alimentação básica é frutas. Então ele compra muita fruta, então deixo por conta dele. A não ser que a gente tenha dado vazão às frutas, então sábado e domingo eu também faço compras de frutas, mas geralmente ele nota que está faltando, ele mesmo sai pra comprar, então eu não me preocupo com frutas. Frutas, legumes, assim, verduras a gente compra na feira, e lá a parte de enlatados, biscoitos e cereais. Agora, artigo de perfumaria é muito pouco, porque meu pai é farmacêutico, trabalha na farmácia do meu tio, na farmácia dele eu adquiro com preço de, do custo. Então a parte de remédio e artigos de perfumaria, grampos assim eu compro em farmácia, justamente nele. Agora, utensílios, por exemplo, ferramentas, interruptores, essas coisas assim, só compro lá se for assim sábado e domingo, quando não tem uma loja de ferragem na cidade que eu possa comprar, eu compro. Tem lá só um determinado tipo, é difícil da gente casar com o que a gente tem em casa, então eu deixo pra comprar na cidade, apesar de lá na Casas Sendas ter todo tipo de material. Agora material escolar não, material escolar, lápis, papel, essas coisas assim compra na Casa Mattos ou então na papelaria União, que eu tenho, professor goza de um certo desconto. Agora livros eu compro mais em ... Também não compro em Casas Sendas não, mais assim em editoras especializadas (inint.) aí já tem o livreiro, vai lá.
D
 O que você acha do problema das feiras em relação assim à cidade?
L
 Não gosto de feira, mas ainda acho uma solução de compra de legumes e verduras, porque não tem nenhum mercado que eu tenha ido que eu possa comprar fru... eh, legumes, frutas e verduras. A maioria a gente compra na feira, mais frescas, do dia é muito difícil.
D
 E essas feiras causam problemas na cidade? Por que que você não gosta?
L
 Bom, eu acho que elas causam problemas. Elas são sujas, elas atrapalham a vida das pessoas que moram nas casas em torno delas. Se elas estão em praças públicas, elas estragam a praça pública. Em torno dela também, as ruas que ficam em torno mesmo onde tem a feira, o trânsito fica difícil, propicia muita criança a ficar com os carrinhos por ali atrapalhando o trânsito e correndo riscos de vida, propicia muito marginal também a roubar coisas, as pessoas. E mesmo os próprios feirantes, se você não é freguês, se você não conhece, é bem capaz de ser ludibriado por eles. Então elas são um problema. Peixe em feira eu acho negativo. Peixaria é muito melhor. Peixe eu compro em peixaria. Eu não compro em feira. Ah, e todo lugar de feira é de mau cheiro o dia todo. Graças a Deus a minha rua parece que nunca terá feira por causa do tipo de rua que é, de passagem de trânsito, é uma rua longitudinal, de difícil ... Não tem ruas transversais, graças a Deus nunca teria problema de feira, acho horrível! Não invejo ninguém que tem feira na porta. Se bem que eu uso a feira, se bem que eu uso a feira como meio de ter os legumes, mas talvez se eu tivesse, não tivesse a feira fosse obrigada a procurar um mercado que vendesse os legumes, talvez me parece que na Cobal, parece que é um bom mercado nesse sentido, mas onde eu moro não tem Cobal, então não posso fazer uso porque pra eu sair, me deslocar pra zona sul pra comprar um legume, uma fruta, eu acho que não é econômico, entendeu? E legumes e frutas eu acho que, verduras é uma coisa que você tem que comprar de dois em dois dias, não pode ficar armazenando em casa. Porque mesmo com geladeira, então eu acho que a coisa perde um pouco. Não gosto de coisa muito tempo na geladeira não, nem carne. Carne também eu tenho meu fornecedor, telefona de manhã perguntando qual é a carne que a gente quer e aí (sup.)
D
 (sup.) Que delícia! (sup.)
L
 (sup.) É. E leva lá em casa. Então no máximo eu compro carne por dois dias, no máximo. Se possível assim por um dia só, pra não ficar armazenando carne. Eu acho, sei lá, sempre perde um pouco. Eu sei que a carne fica no frigorífico, mas o problema, tira de um frigorífico, entra no outro e essa coisa toda, sempre que fica em contato com o ar, vai pegando bactérias. Então quanto menos a gente puder evitar isso eu acho que a gente deve. Mesmo que ela volte pro congelador, ela vai perder. Então acho que se eu tenho facilidade, pra que complicar, né?
D
 Mas não é talvez o meio mais barato.
L
 Não, não é, mas eu acho que em alimentação vale qualquer coisa. Eu, pra alimentação, não especulo assim da forma de especular quando você vai comprar um objeto e você pode comprar uma coisa talvez um pouquinho inferior, mas que vai ter a mesma qualidade, vai durar o mesmo tempo e tem a mesma vista do que a outra. Por exemplo, bijouteria. Bijouteria cara eu não compro. Eu vou e compro uma jóia. Porque bijouteria é bijouteria sempre. É uma coisa que está na moda, você usa aquilo ali e acabou. Quando sai da moda você já vai pegar outra coisa. Então bijouteria cara eu não compro que geralmente (inint.) muito grande e afinal de contas você vai encostar. Jóia, não. Você pode transformar a jóia. Acabou, você vira. Comida, não. Comida eu acho que a gente tem que especular apenas se um artigo aqui é mais barato do que outro lá, mas o mesmo artigo, o mesmo artigo, não um artigo mais inferior. Como uma determinada qualidade de sardinha em lata, você tem que comparar com o mesmo preço, com outro preço da mesma sardinha, não é outro tipo de sardinha que é mais barata. Assim eu acho que não é certo. Especular assim (inint.) está querendo comprar (inint./ruído) não está querendo comprar um bom artigo. Se você experimentou, gostou daquele, até ele pode ser mais barato do que o outro, mas você gosta daquele, é aquele que você usa, não te faz mal. Assim é o problema de óleo, óleo de soja, nem todos os óleos são iguais, mas eu acho que a gente não vai comprar do mais caro, porque a gente já supõe que seja o melhor, e nem vai usar do mais barato, porque a gente supõe que se está fazendo economia, a gente vai comprar aquele que a gente experimentou, gostou e, e pode usar (inint.) a saúde. Então dentro daquele tipo de óleo, a gente vai circular numa loja, noutra loja, outra loja, então a gente vai ver. Aí vale todos os artigos, até papel sanitário, acho que até isso a gente tem que comparar. Então é aquele que serve pra gente.
D
 Você gosta assim dessas lojas que (inint.) têm tudo?
L
 Gosto, gosto. Gosto porque a gente faz a programação de compras e a gente ali atende todos os nossos problemas.
D
 E há muito desse tipo de loja aqui no Rio de Janeiro, que tem tudo?
L
 Tem setorialmente, né? Que tem tudo é difícil. (risos) No momento nem me ocorre assim. Só Sears, mas assim mesmo Sears, Mesbla, mas assim mesmo sempre falta, sempre falta. Outro dia eu fui à Mesbla, eu queria um objeto e não tinha (inint.) então não é tem tudo. Não vai desde a loja de ferragens das mínimas coisas até, sei lá, coisas assim que não (inint.)
D
 E na zona norte, quais são os bairros assim que você acha que tem um comércio melhor?
L
 Méier, Madureira são os dois mais movimentados na parte de comércio.
D
 Pra todo tipo de compra?
L
 Pra todo tipo de compra. Nunca fiz compra em Madureira não, mas sempre é citado como um lugar onde você não precisa, as pessoas que moram no subúrbio tenham que ir ao centro da cidade, não compram nada na cidade, porque tem todo o comércio ali em Madureira. Méier também está, eu acho que eu fiz alguma compra ali, porque às vezes coincidia de eu vir da Gama Filho e poder passar ali e comprar um objeto de loja similar à loja do centro da cidade, Tijuca e que é mais barato que a Tijuca. A ordem de variação de preços começa em Copacabana, passa pelo centro da cidade, Méier, é mais ou menos equiparado, Madureira pra vim (sic) depois Tijuca. A Tijuca é mais careira, é o comércio mais caro que existe. Foi o último a ser impl... talvez tenha sido o último a ser implantado, por isso as lojas são mais caras, há um problema de, talvez, locação seja mais caro e porque também começa ... As lojas foram implantadas, ainda não havia edifícios que comportassem as lojas, então são todos adaptados, principalmente na praça Saenz Peña. O dono teve que construir o edifício para ter as lojas e depois também é um, talvez o tipo da pessoa que compra, é uma classe um pouco mais abastada, talvez, do que o pessoal de Copacabana. Atualmente Copacabana deixou de ser o que era antigamente. Então eles pra poder vender e a concorrência que existe em Copacabana, eles são obrigados a baixar um pouco o preço. Tijuca não tem tanta concorrência.
D
 Por que que você achou que Copacabana deixou de ser o que era. Como é que ela era antes (inint./sup.)
L
 (sup.) Bom, antes ela tinha residências e apartamentos de alto luxo. Agora ela já tem apartamentos comerciais, já não é (inint.) em grande quantidade e muita gente sem condições prefere morar em Copacabana, por ter mais espaço, comércio, mais fácil condução para o centro da cidade ou para o local de trabalho. Às vezes trabalha mesmo em Copacabana, em escritórios. Firmas montaram escritório em Copacabana, Botafogo também. Então o pessoal acha mais fácil morar ali. Então ele não tem condições, às vezes, não tem nem apartamento mobiliado, mal tem uma cama, não tem sofá mas prefere morar. Junta três, quatro pessoas e mora num apartamento lindo e mora mal. Isso é um pessoal de poder aquisitivo muito pequeno, não pode comprar muita coisa. Então o comércio ressente e tem a concorrência, então é obrigado a abaixar um pouco. Então a pessoa encontra coisa mais barata, ela vai lá e compra. E dentro de uma certa faixa, eh, Copacabana foi assim um comércio chique. Então muita gente se deslocava, com posse, se deslocava pra Copacabana, então comprava em Copacabana e com isso favoreceu muito o comércio de lá, ao passo que houve mudança de estado de coisas em Copacabana, o comércio de lá já era um comércio estabelecido e quando veio a concorrência começou a se expandir. O pessoal vendo que o comércio dava certo lá começou a se expandir. Então é uma corrida de ir pra lá também faz com que os preços baixem, porque a concorrência faz o preço baixar. Então só existe uma loja com aquele artigo, a loja se sente assim com coragem de cobrar o que bem entender, já quando você tem o vizinho do lado vendendo o mesmo artigo que você, se ele vender vinte centavos mais barato, você, está te botando em risco. Ninguém vai comprar vinte centavos mais caro. É uma mania também que o pessoal tem de impressionar, abaixar dez centavos, quatorze cruzeiros e noventa centavos, artigo que ele podia comprar por quinze cruzeiros (inint.) agora, aquele quatorze é chamativo. É comércio tipo de rua da Alfândega que foi pra Copacabana também. Esse tipo de comércio foi pra Copacabana. Baixou o comércio de Copacabana.
D
 E o comércio da rua da Alfândega?
L
 O comércio da rua da Alfândega é, foi uma necessidade também social. Primeiro era atacadista. O pessoal vendia pra lojas (inint.) comércio e eles sentiram a necessidade de abrir as portas pro varejo, mas eles não tinham o menor trato de como vender a varejo, então eles só tinham maneira assim de empilhar as coisas e oferecer a coisa empilhada. Eu não gosto, não gosto de comprar nada assim jogado. Então certas lojas ficaram no meio termo, apresenta um artigo bonitinho na vitrine e dez lixos em bancas, tudo desarrumado, tudo bagunçado. Então não é um comércio que eu vá explorar, não gosto. Eventualmente, posso comprar alguma coisa, mas dizer que vá bater rua da Alfândega, Senhor dos Passos, Buenos Aires, transversais dessas ruas pra fazer compras. Fazia, na época por exemplo assim de colégio e mesmo uma roupa de sair, roupa de lã, eles vendiam lã a metro, já a varejo, e naquela época se tinha facilidade de ter uma boa costureira, a preços módicos, saía uma bonita roupa. Hoje em dia não é mais vantagem. A gente entrega uma roupa à costureira, ela leva três meses com a roupa, quando ela vem com a roupa, já passou a moda, já passou a época de usar, já estamos no inverno, aquela é roupa de verão. Então você não tem mais aquela tranqüilidade de ter uma roupa imediata. Então se comprava a lã pra se fazer roupa. Também acho que existia inverno, não sei, porque agora a gente não compra mais nem roupa de lã, é uma blusa de lã, uma saia mais ou menos e acabou. Calça comprida. Três dias de inverno, acabou. Um casaquinho.
D
 (inint.) o Rio de Janeiro é uma cidade (inint.) tipo cidade que é?
L
 Oferece condições de vida, entende? Melhor do que muitas outras cidades. O Rio de Janeiro cai numa faixa um ... Agora, oferecer em matéria, assim, de aquisição, está em boa situação, poderia oferecer mais, mas acho que oferece bastante. São Paulo oferece muito mais, mas São Paulo eu acho que não tem condição de vida. Eu não residiria jamais em São Paulo.
D
 Por quê?
L
 Eu não, não encontro, assim, ambiente vital. Acho aquilo ali esmagador. A pessoa se sente assim completamente como se estivesse numa cidade da era espacial, em que ... Não sei, são os indivíduos também que fazem a cidade, porque paulista é um pouco frio. Você pede uma informação, uma maneira de informar, você sai desinformado, eles não têm boa vontade, não têm calor humano, não têm nada. Já o Rio de Janeiro não, a gente pára na esquina, faz uma pergunta a uma pessoa, o outro já está escutando, já está dando uma paradinha pra dar uma informação. Pouquíssimas são as pessoas que não têm boa vontade de informar e quando elas não sabem, elas procuram indicar: olha, ali mais adiante a senhora se informa, tem uma loja que deve saber o que a senhora, onde a senhora pode adquirir. Então eles sempre passam o problema, que eles não podem resolver, pra outra pessoa. Não são tachativos em dizer: eu não sei e a senhora não pode saber. Então no Rio há aquele problema assim humano que ocorre também em Porto Alegre. Em Porto Alegre já aconteceu de eu estar na rua, com o mapa aberto, olhando o mapa que eu me guio na cidade, qualquer cidade que eu entro eu procuro logo o mapa, eu me guio com o mapa, jamais eu me perdi em cidade nenhuma. Então eu estava com o mapa aberto apenas mostrando: ah, o hotel fica aqui, nós estamos aqui e então se a gente dobrar aqui, nós vamos chegar lá. Dobrando a esquina onde eu estava, era fácil de chegar ao hotel, não tinha problema nenhum. Já tinha feito meu roteiro antes de sair do hotel. Uma pessoa me viu de mapa aberto: a senhora está precisando de alguma informação? A senhora quer ir pra algum lugar? Exatamente porque, até foi gozadíssimo, porque era um rapaz e estava eu e uma senhora, estavam mais outros dois professores da faculdade que nós fomos a um congresso e estavam mais adiante e eu estava mostrando a ela e então eu despachei o rapaz assim: não, muito obrigado e coisa. Aí os dois perguntaram: puxa vida! Você não vai aproveitar uma oportunidade dessas? (risos) Eles mexeram comigo: gente, eu não sabia que estava perdida. Aqui no Rio também ocorre isso. As pessoas às vezes está perguntando a outra ... Eu mesmo faço isso. Eu vejo uma pessoa perguntando à outra e a outra informando com dificuldade e eu sabendo informar, que eu conheço muito bem o centro da cidade, então eu procuro informar certo à pessoa. Então já em São Paulo isso não acontece. Você pode estar dentro da própria rua, se não tiver placa na rua o cara te manda pra outro canto. Você dá a volta na cidade e volta pra rua. Volta mesmo, porque já aconteceu isso com minha tia. Eu estava, eu e meus tios, lá em São Paulo e elas conheciam São Paulo, diziam que conheciam São Paulo. Então eu achei ... Dispensei assim aquele princípio de mapa. Se conhece, não preciso, mas com o pé atrás, o pé atrás, o mapa comigo. Não estamos va... não, estamos chegando, apenas vamos não sei aonde, daqui a pouco vamos tomar uma rua aqui que tem aqui, vai dar, não vai. Aí fizeram pergunta, né? Não! Vou perguntar! Perguntar? Não, a senhora tem que dar a volta, não sei o que lá. Está bom (inint.) chegando no lugar eu digo: agora, vocês querem fazer o favor, querem voltar por essa rua assim, assim, pra vocês verem como vamos parar no mesmo lugar que nós estávamos. Exatamente, voltamos pra rua que eu queria ir e chegamos ao lugar onde nós estávamos. Que aí eu tinha consultado o mapa, já tinha me orientado muito bem, já sabia, tinha certeza onde ia dar. Então, quer dizer, informação errada. Não sei se má vontade ou se o pessoal não conhece mesmo a cidade. A cidade é tão esmagadora que a pessoa chega lá e não conhece a cidade. Não sei se é isso. Chofer de táxi (inint.) por várias ruas, não te leva nunca ao lugar certo que você quer ir. Pessoas que já vivem em São Paulo, já aconteceu. Eu fui ocupar (inint.) peguei um senhor que ele era estrangeiro, mas morando em São Paulo, trabalhando lá em São Paulo, ele nos apanhou no lugar onde estávamos e seguiu a trilha de um táxi, o cara entrou numa rua e ele entrou atrás. A rua era uma rua 'cul-de-sac' não tinha saída. O táxi parou, deixou o passageiro lá dentro e ele ficou perdido dentro do 'cul-de-sac', na hora de voltar, pegou a rua novamente em que nós estávamos. Eu não sei, o pessoal, não sei, não se integra na cidade, se não consegue conhecer a cidade ou se há mudanças. Agora, aqui no Rio, com mudanças de trânsito, a gente às vezes fica meio perdido pra achar aonde a gente vai pra chegar a um certo lugar, porque muda placa de rua, então a gente se sente um pouco perdido, mas não que a gente não saiba aonde fica.
D
 Você acha que aqui no Rio é fácil de se orientar? Como é que você faz para se orientar numa cidade que (inint.)
L
 Porque eu tenho por hábito, quando eu chego em qualquer lugar, eu procuro o mapa da cidade, me orientar onde eu estou, pra que lado a cidade se estende (inint./sup.)
D
 (inint./sup.) aspecto da cidade?
L
 O aspecto da cidade, pra quem desembarca na praça Mauá, ele não tem muito, não, não se perde. Em frente a avenida Rio Branco, ruas transversais, são ruas comerciais, eu acho que ele não se perde. Se ele vai pra Copacabana, o sujeito se instala num hotel como o Copacabana Palace, também não tem muito problema aí em torno do Copacabana Palace, mas quem vai pra Barra da Tijuca, pro hotel Nacional, aí eu acho que deve se sentir totalmente perdido porque a viagem do Galeão ou mesmo da praça Mauá pra Barra da Tijuca, quando ele chegar lá, ele já se perdeu (inint.) o tempo já fez com que ele ficasse admirando as belezas ou a feiura da cidade e se perdeu, então ele não sabe onde ele está. Isso acontece também com a gente, quando a gente, por exemplo, sai dum centro da cidade, a Tijuca ou mesmo de Copacabana, e se embrenha no subúrbio. Chega no subúrbio ... Só o tempo da gente viajar, porque a gente não vai pelas nossas próprias orientações, pelas nossas próprias forças, não vai dirigindo um carro, se a gente for de passageiro ou de ônibus, a gente acaba meio perdido, não sabe onde está, porque já entrou em tanta rua, já saiu em tanta rua, a gente se perde. Então, depende (inint.) certos setores. Eu, por exemplo, domino perfeitamente até Cascadura. Eu sei andar, me virar até Cascadura, mas quando eu fui a primeira vez a Cascadura, eu não sabia nem como chegar a Cascadura e bem recente, mas imediatamente eu dominei e consegui, entro em rua, sai rua, inclusive um dia que houve uma enxurrada aí, eu me orientei perfeitamente. Entrei em ruas que eu nunca pensei que pudesse entrar. Entrei, saí em outras mais ou menos orientada no sentido norte-sul, leste-oeste que a gente tem, que eu tenho boa noção. Não sei se o fato assim de eu gostar de geografia, de ter feito urbanismo, eu tenho boa orientação. As pessoas de boa idade mental, idade mental, boa idade mental que a gente fala, às vezes, eu entro no meu carro (inint.) entro numas ruas que eu não sei nem onde eu estou (inint.) faculdade, porque quando ele voltava comigo lá de Cascadura, ele dizia: ela podia me levar pra onde ela quisesse, que eu não sabia onde eu estava. Se eu mudasse o roteiro ele ficava louco. Ele disse: eu estou perdido. Levava pra Copacabana que eu tenho por hábito assim variar. Procuro assim qual é o tempo menor que eu posso levar, onde tem menos trânsito. Então eu conheço a cidade. (risos) Está no tempo?
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  Está, quarenta minutos.