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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Corpo Humano"

Inquérito 0271

Locutor 328
Sexo feminino, 40 anos de idade, pais cariocas
Profissão: engenheira
Zona residencial: Sul

Data do registro: 09 de abril de 1975

Duração: 42 minutos

Som Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 Pode começar por você.
L
 É? Está, está boa (inint.)
D
 Não, não precisa não.
L
 É?
D
 Não, não.
L
 Eu tenho (sup.)
D
 (sup.) Qual é a descrição do seu tipo?
L
 Eu tenho um metro e sessenta e sete de altura, sessenta quilos, eh, pele branca, sardenta, olhos castanhos, cabelos castanhos, eh, tenho um tipo meio de gringa, isso porque meus avós eram europeus. Meu avô era inglês, louro, de olhos azuis, esta... estatura mediana, um metro e sessenta e oito, um metro e setenta, mais ou menos. Minha avó é brasileira, morena, olhos castanhos claros, e meus avós paternos, ambos italianos. O avô, louro de olhos azuis, por ser do norte da Itália, e minha avó morena, tipo parecido com o tipo normal brasileiro, era da Sicília. Essa mistura de raças deu (risos) esse tipo, assim, misturado. Eh, meu marido é brasileiro já de muitas gerações, deve ser quatrocentão. É moreno, um metro e oitenta de altura, olhos pretos, cabelos pretos, pesa em torno de oitenta quilos. É um tipo bem característico brasileiro. As minhas duas filhas, a mais velha é bem parecida com o pai e a mais moça é bastante parecida comigo.
D
 Mas você falou que tem os olhos castanhos, falou no, no cabelo. E as outras, as outras, eh, partes do seu rosto?
L
 Bom, meu rosto poderia se dizer oval, os olhos são pequenos e nariz reto. Cabelos são lisos. As sobrancelhas são finas, né, poucas, pouca sobrancelha, meio rala, não é uma sobrancelha muito forte, como eu gostaria não.
D
 Você gostaria que fosse mais, mais grossa?
L
 Ah, gostaria, mais cheia. Aliás meus irmãos têm as sobrancelhas bem fortes, escuras. Aí dá pra se acertar bem. Uma sobrancelha bonita, né? (riso)
D
 Como é que você acerta a sobrancelha?
L
 Ah, eu depilo com pinça (sup./inint.)
D
 (sup.) Com pinça (inint./sup.)
L
 (sup.) É, tiro os fios que ficam fora do lugar, eu tiro com uma pinça, pra ficar ...
D
 E os olhos?
L
 Os cílios são médios, não muito longos, castanhos.
D
 Você sai pra uma festa, assim mais ...
L
 Ah, quando eu vou a uma festa, aí, eu pinto, ponho uma base, uma sombra nos olhos, pra dar, pra realçar a expressão.
D
 E nos cílios, você usa alguma coisa?
L
 Não, não, porque dá, assim, uma alergia nos olhos, então, normalmente eu não uso não.
D
 E a boca?
L
 Batom raramente eu uso.
D
 Mas e o tipo de ... O, o seu tipo, como é?
L
 Ah, os lábios são finos, os dentes são meio, um pouquinho dentuça, né? (risos) Não sei, a articulação dos dentes, como é e tal. Aliás é um caráter de família, isso, esses dentes assim meio ... Quase todo mundo tem os dentes, assim, meio ... Como é que se chama?
D
 Não sei.
L
 É den... meio dentuça mesmo, né?
D
 Alguma vez você teve problema, eh, quando você era adolescente, estava em formação, em relação aos dentes?
L
 Não.
D
 Pra correção, pra qualquer coisa?
L
 Não. Nunca tive problema assim não. Só um dente canino que não nascia, então descobriu-se que o dente de leite ainda estava no lugar, ele foi arrancado e aí o dente nasceu, ficou um pouquinho tortinho, mas não se nota.
D
 É.
L
 Mas nunca tive assim problema não.
D
 E você tem todos os dentes?
L
 Não, já perdi um dente. Levei uma pancada, uma cabeçada de criança, a raiz partiu e eu tive de tirar. Era um dente vivo, inteiro, ótimo, tinha uma obturaçãozinha em cima, mas (inint.)
D
 E suas crianças, em relação aos dentes?
L
 As crianças, as duas. Uma já usou aparelho, nos dentes inferiores, e a menor está usando agora aparelho pra correção de dentes.
D
 Por quê? Qual o problema dela?
L
 Eh, os dentes nascem fora de alinhamento. Um aparelhozinho simples, desse assim de, móvel, né, removível. Tira pra comer, pra escovar, depois escova os dentes, torna a colocar. Só um aparelho simples (sup.)
D
 (sup.) Você disse que tinha um metro e setenta e, e ...
L
 Um metro e sessenta e sete.
D
 Um metro e sessenta e sete, né? E essa altura, pro tipo da mulher brasileira, como é?
L
 A minha altura eu acho que podemos considerar que é mais pra alta, né? Acima da média do, da brasileira, né? Eu creio que a brasileira deva estar em torno de um metro e cinqüenta e sete, um metro e sessenta, né?
D
 E você é proporcional à sua altura?
L
 De peso? Creio que sim. Pro meu gosto, não. Mas ...
D
 Por quê? Pro seu gosto ...
L
 Ah, eu me acho gorda, pesada, um pouco pesada, faço força pra perder um pouco, mas é difícil, trabalhando sentada, né, o dia inteiro, é meio difícil. Mas dentro das tabelas, eu estou perfeitamente normal, peso com altura, né?
D
 E como é que você ... Você tem problema com roupa, roupa que você manda fazer ou que você compra pronta, em relação ao corpo?
L
 Não, muitas vezes, eh, o problema que eu tenho, eh, são as calças compridas que em geral têm pouca bainha, se encolhem. Ficam sempre curtas pra mim. Eu tenho a impressão que tenho um tipo longilíneo, apesar de ser assim meio ... Então as roupas ficam meio ... As calças sempre ficam meio curtas, tem que abaixar a bainha. Se lava e é de fazenda que não é pré-encolhida, então (riso) tem que emendar a calça, né?
D
 E pra calçado, você tem problema?
L
 Quando não existe meio ponto, tenho, porque eu calço trinta e cinco e meio.
D
 Trinta e cinco e meio?
L
 É. Então, normalmente os sapatos ficam grandes, porque apertado ninguém agüenta, né?
D
 E maiô? Você usa maiô ou usa biquíni? (sup.)
L
 (sup.) Biquíni? Atualmente eu uso maiô, contra gosto do meu marido, mas uso, maiô inteiro. Usava biquíni até bem pouco tempo.
D
 Você alguma vez teve ... Porque algumas pessoas têm problema, não é, com o biquíni?
L
 Não, é que eu sou muito branca e eu acho que quanto mais pele branca a gente põe de fora mais branco a gente parece, né? E como eu não posso tomar muito sol, então eu ponho maiô inteiro, que cobre mais a brancura, né?
D
 Por quê? O que é que acontece se você tomar muito sol?
L
 A minha pele é muito sensível, então não suporto assim o sol muito quente. Queimo muito, então o médico me aconselhou que não tomasse muito porque eu podia ter problemas futuros, sabe? Mais sérios.
D
 E você tem cuidado com a sua pele?
L
 Cuidados normais. Não sou assim muito ... Só a questão do sol porque eu já fui prevenida. Mas cremes, essas coisas, dificilmente eu uso, eu uso. A pintura também, normalmente eu não uso não. Já usei assim pintura nos olhos, mas depois a minha vida ficou muito cheia, né, então eu fui abolindo aos pouquinhos até que eu venho de rosto lavado.
D
 E com o cabelo, você tem algum cuidado, você tem algum? Que tipo de cabelo é o seu?
L
 Ah, o cabelo requer mais cuidado, sim, porque eu lavo muito, porque fica assim meio oleoso, então ele passa a ficar ressecado, não é? Então tem que usar xampu, creme rinse, creme pra amaciar o cabelo, óleo de amêndoa, essas coisas eu uso, porque eu lavo o cabelo dia-sim, dia-não, quando eu não lavo todo dia.
D
 Sua pele também tem esse mesmo tipo de problema do cabelo?
L
 É, a pele é normal, talvez um pouco seca na região dos olhos, né, mas é normal. Porque eu não uso normalmente nada. Às vezes eu uso um creme hidratante pra, por causa de pé-de-galinha, né?
D
 Agora, você podia descrever com mais detalhes a, a, o resto do seu corpo? Você descreveu bem a, a cabeça, o rosto.
L
 Como assim? Além de dizer que eu me acho um pouco gorda, né?
D
 Você é gorda onde, em que locais? Ou é toda gorda (inint.)
L
 Ah, eu me acho toda gorducha, (risos) me acho toda gorducha, acho que eu tenho assim umas pernas meio compridas pra minha altura. Eu sentada sou de um tamanho, em pé parece, fico assim muito maior, né? Sentada pareço ter assim um metro e sessenta, quando eu levanto, acho que as pernas são bem compridas, os braços também, não é? Tenho as mãos grandes. Os pés é que eu acho que são meio pequenos pra minha altura, né?
D
 Pra sua altura (sup.)
L
 (sup.) Porque normalmente acho que as pessoas com, perto de um metro e setenta devam calçar uns trinta e sete, não é? A minha filha está com um metro e sessenta, já calça trinta e sete. Meus sapatos já não dão mais nela. A menorzinha acho que vai pelo mesmo caminho, porque já está calçando trinta e cinco, já está calçando quase igual a mim, né, que sou uns vinte centímetros mais alta que ela. Eu acho que eu sou meio cadeiruda. Gostaria de perder assim uns dez centímetros, mas trabalhando sentada é uma parada, né?
D
 E que, que conseqüências pode haver do fato de você trabalhar sentada, pro corpo?
L
 Bom, a gente trabalhar sentada pode criar problemas circulatórios, gorduras localizadas, então pra evitar assim que a situação fique muito séria, eu duas vezes por semana faço uma boa ginástica.
D
 E você podia descrever essa ginástica que você faz? Os movimentos, como é (sup./inint.)
L
 (sup.) Essa ginástica é bem, quer dizer, ela, eu comecei a fazer muito suavemente porque eu tinha sofrido uma intervenção cirúrgica, então não podia fazer exercício violento. Mas foi ótimo porque aí eu nunca senti dor muscular, né? Comecei a fazer ginástica na hora do almoço, então eu já como menos e ginás... faço muita ginástica abdominal, faço a ginástica pra musculatura da perna, com pesos nos pés e ginástica respiratória e com pesos nas mãos também. Pra toda a, pra tonificação da musculatura, né, e também pra circulação sanguínea, né, que é muito importante. E eu achei que eu melhorei bastante depois que comecei a fazer ginástica. Muita gordura assim localizada andou se distribuindo um pouco melhor, embora eu não tivesse perdido peso. Não costumo me pesar muito não, pra não ficar muito ligada, né, negócio de (inint.)
D
 Agora, você tem um problema que é o terror das mulheres, que toda mulher tem pavor, a gordura, né?
L
 (riso) É. Esse problema de gordura eu acho que não é só feminino não, é masculino também, né? Porque eu vejo que lá em casa o marido também cuida. Quando começa a ficar muito gordo também trata de fazer a sua dieta. Inclusive as crianças já começam a prestar atenção, fazem muito exercício também, muita ginástica, aprendem balé. E, além do balé, ginástica, além da ginástica em particular, elas fazem ginástica no colégio, jogam vôlei, isso pro físico. Agora ...
D
 As suas roupas, qual é o tamanho delas?
L
 Normalmente eu uso manequim quarenta e quatro.
D
 Pra todas as roupas?
L
 É, pra todas as roupas. Às vezes quando é um manequim quarenta e quatro assim desses jovem-guarda, fica um pouquinho apertado pra mim. As calças normalmente, a cintura de saia, né? Porque minha cintura anda meio grossa, eu não sei se é em decorrência da gente já ter tido filho, né, engorda, depois a cintura não volta a ser tão fininha, né? Mas normalmente eu uso manequim quarenta e quatro. Blusa, às vezes, eu uso manequim quarenta e dois. Quando é tamanho pequeno, médio e grande, é grande mesmo, porque os braços são compridos, né, e fica tudo meio curtinho.
D
 Você era muito diferente quando era adolescente?
L
 Eu era mais, menos pesada, mais magra. Também tinha os cabelos mais claros, bem mais claros, com a idade foram escurecendo. Até estou admirada de não ter cabelo branco, muito cabelo branco, porque a tendência da minha família era de muito cabelo branco. A não ser meu pai. Meu pai qua... morreu moço, relativamente moço, mas quase não tinha cabelo branco. Mas minha mãe era totalmente grisalha com trinta anos. Minha avó, minha bisavó, os meus tios avós, que eu conheci, meus tios, irmãos de mamãe, são todos grisalhos desde muito jovens, sabe? Agora eu, eu acho ... Que bom, né, não ter puxado!
D
 Você tem algum problema na vista ou (inint.)
L
 Ah, tenho, na vista, tenho. Eu tenho um olho que tem seis graus e meio de miopia, o outro agora está aparecendo um astigmatismo em decorrência, porque eu não uso os óculos permanentemente não, então dá uma diferença de visão muito grande.
D
 Você acha que isso é um problema de família? Há outras pessoas (inint./sup.)
L
 (sup.) Esse problema é de família, sim. Meu avô, pai de mamãe, tinha um defeito bem parecido e eu tenho um primo em segundo grau, filho de uma prima-irmã, que tem também o mesmo problema. O dele ainda é pior porque ele tem cinco graus de miopia num olho e quatro e meio de astigmatismo no outro. Então, coitadinho, com dez anos já está com lentes de contato. Em todo caso, agora como se tem o recurso da lente de contato, não é?
D
 Você já usou lente de contato alguma vez?
L
 Já experimentei mas não me adaptei não.
D
 Por quê? O que é preciso pra fazer, pra usar lente de contato?
L
 Bom, primeiro, eu acho que é preciso a pessoa querer, eu acho que é o ponto fundamental, e depois, que a gente consiga alguém que adapte bem a lente de contato. Eu não tive realmente sorte não. Na, na época em que eu fiz a minha lente de contato, só as óticas faziam, então eram adaptadas por técnicos, os médicos oftalmologistas não adaptavam lentes de contato. Então, eles, simplesmente colocavam, viam a curvatura do olho, colocavam a lente. Agora, se a gente não se adaptava a nenhuma daquelas lentes que eles tinham, eles não sabiam como fazer. No meu caso é que eles nunca encontraram uma curvatura que servisse ao meu olho, porque o oftalmologista diz que não tem problema de globo ocular, não tem problema algum. É só, talvez, dentro do globo ocular, né, porque, formação de imagem, né, mas a parte assim exterior do olho é perfeita. Agora eu estou com vontade de experimentar, com esse oftalmologista, colocar as lentes de contato, porque os óculos, só pra trabalhar mesmo. São impraticáveis, muito pesados de um lado, eles tombam e me dão dor de cabeça, sabe?
D
 Você, eh, se descreveu com minúcias. Poderia fazer a mesma coisa com seu marido? Em detalhes? (sup.)
L
 (sup.) Eu posso. Bom, eu acho que ele é um tipo assim bonitão. (riso) É moreno, alto, forte, tipo bem atlético. Pratica muito esporte até hoje.
D
 O rosto dele? Os detalhes do rosto?
L
 Tem o rosto oval, tem os olhos bem amendoados, eu acho que é porque ele tinha uma bisavó índia. Tem nariz bem fino, reto. Os dentes são, eu acho, ótimos, inclusive pra idade dele. São dentes brancos, grandes, bonitos, aparecem bem quando ele sorri. Agora ...
D
 Sobrancelha.
L
 Sobrancelhas é bem cheias. (risos) Eh, eu acho bonito, eu gosto muito de sobrancelha cheia. Os lábios são finos. A pele, bem queimada de praia.
D
 E o cabelo?
L
 Cabelo bem preto. Agora está ficando grisalho (risos) e cacheado, cacheado.
D
 E o, o tamanho do cabelo?
L
 Ah, ele usa os cabelos médios. Usava bem curtinhos, mas a poder de tanto se falar, ele resolveu deixar um pouquinho maior. Mas, pra esse, essa moda atual é bem curto ainda, as orelhas são, ficam de fora, não são feias, não, são bonitinhas. Não são assim cabanas, como de diz aí popularmente, né?
D
 E ele é proporcional à altura dele?
L
 É. É bem proporcional. Ele tem um metro e oitenta, pesa em torno de oitenta quilos, agora está um pouquinho barrigudo, porque andou quebrando o pé e teve de parar de fazer espor... esporte da maneira que fazia, né? Então engordou um pouquinho, mas normalmente ele se mantém e depois, como se alimenta bem, pára de comer a metade do que come, emagrece sete, oito quilos facilmente, num mês.
D
 Ele, você disse que ele quebrou o pé. Ele quebrou onde, em que parte do pé? Como é que ele quebrou? (sup.)
L
 (sup.) Exatamente, não sei. Sei que é na articulação do pé com a perna. Foi jogando vôlei. Ele pulou de mau jeito e pisou de mau jeito e fraturou. Até na ocasião nem sabia, pensou que fosse só uma entorse, radiografou, o médico engessou, um ano depois é que ele descobriu que havia quebrado o pé. E por sorte ficou uns vinte e cinco dias engessado, porque a rigor devia ter ficado uns quarenta, pra fratura que foi.
D
 Um ano depois? E ele não sentia nada?
L
 Não, ele sentia, o pé de vez em quando inchava, então ele foi radiografar pra ver o que é que fazia, né? Aí descobriu que na ocasião que ele engessou tinha realmente havido uma fratura. Talvez se ele tivesse ficado engessado mais um quinze dias tivesse ficado melhor, né? Mas acho que ele se recuperou assim como se recuperou porque ele tem a musculatura muito forte, então a musculatura segurou, né? Mas o organismo, de qualquer maneira, foi reagindo, né? Cada vez que fazia um exercício, pulava em cima do pé, o pé inchava.
D
 Agora, as suas crianças, a, a evolução física delas? Porque uma tem dez, a outra tem doze anos, né?
L
 É.
D
 Você podia (sup.)
L
 (sup.) Bom, as crianças, elas são totalmente diferentes, eu acho. Tanto fisicamente como de temperamento. Eh, a, a mais velha, chama F., está com doze anos. Ela nasceu mínima, quase prematura, tinha dois quilos e trezentas, dois quilos e meio, mas se recuperou de uma maneira fabulosa. Sempre foi forte e, depois, sempre acima da tabela, em tamanho e altura e peso. Sempre tinha um excessozinho de peso, que pra criança é ótimo, não é? Com uma gripe, um resfriadinho, uma coisa, perdia e ficava ... Atualmente ela já está entrando, assim, nos eixos, afinando a cintura, está crescendo, daqui a pouco está do meu tamanho, né?
D
 É. Porque ela está numa fase de transição, né?
L
 É. Ela está numa fase de transição. É meia assim desligada de temperamento, mas, eh, pra certas coisas ela é atenciosíssima. Estudiosa, compenetrada, tem noção de horário, de obrigação. Pra outras ela é ... Pra roupa, tira a roupa, vai largando, a gente tem que estar catando sapato. A outra é diferente. É mais levada, mais conversada. Nasceu até de bom tamanho e bom peso e depois sempre foi a mais magrinha. Atualmente não, ela de repente começou a ficar forte, gorducha, começou a comer. Mas sempre tiveram muito boa saúde, nunca me deram trabalho. Tiveram algumas doenças, dessas de criança, sarampo, catapora, mas nada demais. Operação, operaram as amígdalas, adenóides, mas não têm maiores problemas não. Graças a Deus, porque a gente trabalhando fora com criança doente, nossa Senhora!
D
 Mas eu vi que criança recém-nascida sempre tem uns probleminhas, não é mesmo (sup./inint.)
L
 (sup.) Ah, quando eram recém-nascidas ambas morriam de cólicas e eu quase que morria atrás delas, né? Porque choravam, coitadas, davam trabalho, uma coisa, nesse particular, né? Mas se alimentavam muito bem. De vez em quando ficavam meio inapetentes, a gente dá vitaminas, dá um estimulante de apetite, dá um digestivo e aí engrena. Mas criança normalmente dá muito trabalho, sabe, pra gente tomar conta como deve, pra manter limpo, alimentado. Dá muito trabalho, exige bastante.
D
 Como era o banho delas, quando eram recém-nascidas?
L
 Ah, o banho!
D
 Não pode ser um banho normal, né, como do adulto, claro!
L
 Não, um banho de criança é um ritual, não é?
D
 Você podia contar esse ritual?
L
 (risos) No princípio, eh, normalmente a criança não gosta de banho. Se sente, parece, desamparada e leva susto, estremece, mas logo depois se, se acostuma e aí gosta. Até nada, bate bracinho, bate perninha, então, o dia que a gente atrasa um pouquinho o banho, parece que o mundo vem abaixo, não é? A criança fica irrequieta, insatisfeita. Aquilo é mesmo um ritual, né, tem que ser feito e normalmente eles estranham até a hora do banho. Se a pessoa costuma dar banho pela manhã, você pode dar outro à tarde, mas durante a manhã você também tem que dar um banhinho, porque senão não come direito, não dorme depois de almoçar, é um problema. A criança se acostuma. Não sei se é aquele ritmo, que a gente mete a criança naquele ritmo, né, então já é ... Ela sente falta, né?
D
 E você alimentou suas crianças logo que elas nasceram?
L
 Ah, alimentei, sim, durante pouco tempo porque inclusive eu tinha que voltar a trabalhar. Mas eu ali... eu amamentei as crianças durante um, um período de dois meses mais ou menos.
D
 E, e existe alguma coisa assim pra você deixar de amamentar, como é que, como é que sabe que, que deixa, que está na época de deixar?
L
 Bom, normalmente a gente deixa de amamentar porque a criança sente fome e então a gente precisa recorrer à mamadeira e a criança prefere a mamadeira porque não tem que fazer força pra mamar. E começa a mamadeira e vai abandonando a, a amamentação no seio. Em geral não gostam mais. Eu não sei se também gosto. O leite em pó deve ser mais saboroso pra elas. Não sei bem. Mas como dizem que é importante a gente amamentar mesmo que seja um, dois, três dias, não é?
D
 Mas você teve algum cuidado especial com você mesma depois do, eh, que as duas, suas duas nenéns nasceram, com seu corpo?
L
 Ah, sim, sempre fazia um pouquinho de ginástica pra recuperação muscular, né? Porque a musculatura da barriga fica muito flácida e sôlta (sic). É necessário mesmo, né, porque senão depois começa tudo a funcionar mal, né? Você não pode pegar um peso, não pode ... Tem que se fazer uma alimentação adequada, não é? Tem que ser uma alimentação que ao mesmo tempo supra o organismo das necessidades e que não aumente mais ainda o peso da gente, não é?
D
 E suas crianças, porque criança quando nasce ela é separada da mãe, não é? Inclusive fisicamente, separada da mãe, não é? Suas crianças, como é que foi com elas?
L
 Como foi?
D
 Porque quando, quando nasce um bebê ele é quase que cortado da mãe, não é?
L
 Sim, ele é cortado, (risos) não é? É. Uma coisa que é criado lá dentro da gente, de repente, né, vem, cresce, então tem que sair, como dizem as crianças lá em casa, né? Mas elas, as, ambas nasceram de parto normal, perfeitamente normal, sem nem indução que naquela época acho que nem existia, não sei.
D
 Indução o que é?
L
 É, eles dão, aplicam um soro com um medicamento qualquer que acelera o trabalho de parto. Então, ao invés de um trabalho de parto que normalmente, vamos dizer, duraria da primeira contração até a hora da criança nascer, duraria, vamos dizer, doze horas, em duas horas se resolve. Isso é prático, porque não cansa nem a mãe nem a criança, né? Dizem que parto de cesariana, eh, atualmente, muitos médicos são favoráveis, mas outros não. Não são favoráveis não, porque dizem que não é uma coisa, vamos dizer, fisiológica, né? É assim uma cirurgia, não deixa de ser, e que muitas vezes aquela anestesia que se toma pode prejudicar. E você ter de cortar a barriga. E eu tenho a impressão que deve ter que cortar a musculatura também. Depois aquilo é tudo suturado, pode dar aderências, né? Mas normalmente, como hoje ninguém tem muito filho, isso não é muito problema, não é?
D
 Você tem problemas internos, orgânicos? Já teve alguma vez?
L
 Eu já tive. Normalmente eu sou uma pessoa assim sadia, quando eu tenho alguma coisa, também, me joga na cama. Eu tive, uma vez eu tive uma otite violenta, que ninguém descobria, quase que eu tive meningite infecciosa por causa da otite que foi muito profunda. E foi resolvida simplesmente com penicilina, quando se descobriu o que era. Tomei penicilina e em três, quatro dias eu estava perfeitamente bem. Que mais? O ano passado eu fiz uma cirurgia, fiz, fiz uma histerectomia total.
D
 O que é isso?
L
 Histerectomia total é extirpação do útero.
D
 Por quê?
L
 Não foi um problema sério, muito sério, não. Tinha, diz o médico que tinha um pólipo, mas como eu cheguei assim numa idade que não iria mais, provavelmente, ter filhos, né? Isso considerando que a menor tinha, na ocasião, nove anos, ele falou que seria melhor fazer a histerectomia total porque aí livrava de qualquer problema, porque uma coisa que não existe não dá problema, não é? E agora tudo é câncer, né? Então eles já fazem, eu acho que preventivo. Se eu fosse mais moça, ele disse que tiraria o pólipo, que poderia tornar a voltar, não é? Pra me possibilitar, talvez, né, ter mais um filho, ou se não tivesse nenhum, ter um. Mas não tinha problemas assim maiores.
D
 Você falou que agora há, há uma incidência muito grande de câncer, não é? Você faz exames periódicos?
L
 Fazia exames periódicos e pretendo continuar a fazer, não é? Se bem que agora, nesta parte, não terei tanto, né? Só a, vamos dizer, seios, aí sim, é que a gente tem que fazer sempre, né? Porque eu acho que na outra parte, a cicatrização se efetuou bem, não tem mais problema.
D
 E quando ... Na, nas duas vezes que você esteve grávida, você, eh, acompanhava as mudanças do seu organismo? Você tinha consciência, sabia de tudo?
L
 Ah, claro, claro, sabia, a gente acompanha passo a passo, né? E cada dia tem uma novidade, não é?
D
 Por exemplo (sup.)
L
 (sup.) Eh, de vez em quando a criança começa a mexer. Da primeira eu não sabia que ela estava mexendo. Eu achava que era uma coisa, talvez gases, na barriga. Mas já da segunda a gente já sabe que não é, a gente já define melhor. E, e a gente sente as mãozinhas, os pés da criança, quando a criança mexe, sente tudo direitinho. E vai crescendo mesmo. (risos) Eh, chega a um ponto que a gente sente dificuldade em comer e respirar, né? Embora eu não tenha ficado barriguda demais não. Sempre controlava, né, pra não aumentar muito o meu peso e o peso da, da criança também. Porque a probabilidade de um parto normal, né, quando a criança é de tamanho, vamos dizer, entre três quilos e três quilos e meio, eh, eu acho que é o ideal, né?
D
 E sua filha mais velha teve curiosidades quando você engravidou de novo?
L
 Ah, teve demais! Ela vivia pedindo, né, um irmãozinho. Então ela gostava de ver se estava mexendo, se não estava. Ela que escolheu o nome, né?
D
 E não tinha curiosidade assim a respeito do nascimento, que, que todas as crianças têm, não é?
L
 Propriamente quanto ao nascimento, assim a forma de nascer, ainda não tinha porque ela tinha dois anos quando a outra nasceu, ainda não tinha assim não. Essas, essa curiosidade surgiu depois. Aliás ...
D
 Como é que você e seu marido resolveram? Porque toda criança tem uma fase de descobrimento do corpo, do próprio corpo e do de outra pessoa.
L
 Elas perguntaram, né? Elas vieram me perguntar como é que criança nascia. Então induzi a que elas chegassem a uma conclusão de como era um parto normalmente. E elas realmente chegaram. Não foi muito difícil, não. Uma devia ter sete anos, a outra cinco anos. E chegaram, elas me per... me fizeram uma pergunta e eu fiz outra a elas, né? O que vocês acham? Vamos raciocinar. E elas realmente raciocinaram e chegaram à conclusão. E, agora, o problema foi como que a criança entra, né? Aí eu fiquei meio embaraçada porque eu não pensei ... Foi inclusive a menor quem perguntou. A maior se satisfez. Elas deviam estar confabulando a respeito de como a criança nasce e vieram me perguntar e vieram em grupo, não é? Agora, de como a criança entra eu não estava pensando que elas fossem perguntar, eu fiquei assim meio sem saber o que dizer porque elas eram muito pequenas, né? Mas aí a menor solucionou o problema, até hoje não me perguntaram mais nada. Ela disse que devia ser feito um fantasminha que entrava. Era tão pequenininho que ninguém via quando ele entrava e depois ia crescendo, crescendo, crescendo, crescendo, até não dar mais e tinha que sair. Sair elas já sabiam como é que era. Até hoje não me perguntaram mais nada a respeito.
D
 Inclusive elas devem ter tomado susto, né, com a sua, a mais velha, claro, né, com a sua transformação física, não é?
L
 Não, susto, propriamente, não, porque é muito assim lento o processo. Então a criança vai se acostumando e a gente vai fazendo a criança ... Chamando a atenção pra ... Porque senão a criança pode ficar distraída e de repente ver uma pessoa assim tão barriguda na frente dela, né, e tomar um susto, mas ela foi acompanhando o crescimento. Ela ficou meio assustada na hora que eu fui pra casa de saúde, mas porque normalmente a gente vai sem levar a outra criança, não é? Talvez a gente devesse levar (risos) pra criança não se sentir abandonada, né? Mas ela se comportou normalmente. Teve um pouquinho de ciúme quando a irmã chegou em casa, porque a gente fica com a criança no colo e troca fralda e dá de mamar, não é? A pior coisa a F. apreciar dar de mamar, né? Eu não podia esconder também. Ela até quis provar, mas não gostou não. (riso) Eu resolvi dar, ela detestou. Achou horrível. Mas eu já tinha falado pra ela que era ruim, que aquilo só servia pra criança que tinha nascido e que não tinha provado outra coisa ainda. (riso) Então não sabia, né, o que é que havia de melhor. Mas ela que já comia muita comida, né, comia de tudo, não ia gostar. E realmente ela achou detestável. E foi ... Mas os problemas vão aparecendo e a gente vai então aos pouquinhos resolvendo, né?
D
 E agora você já está com uma filha adolescente, não é?
L
 É. Quase adolescente, é (sup.)
D
 (sup.) É, quase adolescente. Como é que você se comporta com ela em termos de relacionamento? Como é que você prevê mais ou menos coisas que vão acontecer ou não?
L
 Quanto a isso ... Eu tenho a impressão que as dúvidas que elas têm normalmente elas conversam tanto comigo quanto com o meu marido. Sobre todas as coisas e nós sempre demos assim muita liberdade a elas, sabe? Então elas vêm e falam, aí até palavrões e o que a gente pode explicar e o que não pode a gente explica da melhor maneira, né? Pra não chocar e também pra advertir, né, e chamar atenção sobre as coisas que andam por aí, não é? Que elas têm que andar sozinhas, não é? Então a gente vai prevenindo que, pra não dar conversa e se der conversa, prestar atenção, ver, né, não aceitar cigarro em rua. Com esse negócio de tóxico, normalmente eles procuram as crianças menores, né, pra viciar, então a gente já vai prevenindo. Se quiser fumar, olha, e eu, pessoalmente, não gosto de cigarro, mas se quiser fumar, me fala porque eu prefiro te dar o cigarro do que você ficar pegando, né? Eu já presenciei, na praia, meninotas pedirem cigarro ao homem do, do Chikabon, o pipoqueiro. Inclusive, eu chamei a atenção na ocasião, né? Pelo amor de Deus, não façam nunca isso. Primeiro, ficar pedindo a uma pessoa financeiramente menos dotada, né, e depois porque pode, é perigoso, até, por causa desse problema de maconha, né? Então a gente tem que estar sempre advertindo. Todos os problemas que andam por aí, sei lá.
D
 E como, como você é de temperamento?
L
 Eu acho, acho que sou uma pessoa tranqüila ou pelo menos controlada. Às vezes não é muito bom a gente ser muito controlada não, não é? Porque aí estoura pro outro lado, né? Mas normalmente eu sou assim, sou organizada, porque também se não fosse, não dava tempo pra dar conta de tudo, não é, eh, trabalhando o dia inteiro, normalmente chego aqui nove, nove e meia, saio seis e meia, sete horas da noite, e isso com a casa pra tomar conta e criança pra orientar. É uma sobrecarga bem grande, né? Mas a gente se acostuma.
D
 Seu marido também é assim? Em termos de temperamento?
L
 Meu marido é mais agitado. É agitadíssimo, não pára quieto. Trabalha feito um leão o dia inteiro e chega de noite fica querendo sair pra rua e vai pra aqui e vai pra ali. Não pára um segundo.
D
 E com as crianças, vocês, assim, quando elas fazem alguma coisa que vocês acham que está errado, como é que vocês procedem?
L
 Bom, eu sou ... Ele diz que eu sou assim, como é? Mosca-morta (riso) Que eu sou mole com elas. Mas ele é muito durão. É muito carinhoso, é muito assim, brinca demais com elas, talvez até mais que eu, mas na hora da verdade, ele é muito mais durão. Então, eu acho que assim fica equilibrado, né, porque se fossem os dois muito durões, acho que elas iam ficar, coitadinhas, né, meio sufocadas, né? Aí perdiam até a liberdade dentro de casa, não pode, né?
D
 E como é que elas reagem quando vocês, eh, ficam zangados?
L
 Bom, comigo elas às vezes retrucam um pouco, eu preciso dar uns gritos pra elas ouvirem. Agora, com ele, não. Ele pode falar baixinho, às vezes elas esquecem que é com ele, mas de repente elas se lembram e atendem na mesma hora. Mas não, não ficam zangadas não, sabe, pelo contrário, elas até depois vêm fazer carinho na gente e se chegam, pra cativar, sabe? Não tem assim ... Não ficam revoltadas não. E se ficam revoltadas, elas falam, né? Ih! Vocês isso, vocês aquilo. (risos) Também acho que elas têm uma liberdade de se expandir, né, e da gente explicar as coisas também, por que que a gente faz, né?
D
 E entre elas, como elas são?
L
 Elas são assim super-amigas, mas também brigam à beça. Mas eu acho que isso aí é problema de toda criança criada em apartamento, não é? Acho que é obrigada uma a ficar olhando pra a cara da outra a vida toda e chega a um ponto que elas têm que brigar, pra se expandir, pra gastar energia, eu não sei o que é. Mas elas são muito carinhosas, também, sabe? Se uma tem uma coisa, guarda um pedacinho pra outra. São muito carinhosas também. Ah, mamãe, me dá isso! Ah, você não pode dar pras duas, então não precisa dar não. Quando você puder, você dá pra nós duas. Elas são muito amigas, sabe? Eu tenho a impressão que vão crescer assim. Espero, né? Porque são só duas.
D
 E essa parte, assim, de sua filha de doze anos, eh, que já está ficando mocinha, ela tem curiosidade, desejo de usar coisas que moças, as moças já usam, mais velhas?
L
 Agora, você sabe, essa moda dagora, eu acho que não, não define assim muito, não se define por idade propriamente, né? Porque toda mulher hoje usa calça comprida, toda mulher usa essas blusinhas assim de malha, criança usa, jovem, gente mais madura. Então, hoje, eu acho que não existe assim tanta diferença, né, na, na maneira da pessoa se vestir. Claro que se a gente é mais velha já não pode usar certas coisas, né? E criança também, por exemplo, botar um saltão alto, fica ridículo, fica parecendo uma aleijada, não sabe nem andar com aquilo, né? Mas ela é até bem equilibrada, sabe? Porque usa essas modas, esse tamanquinhos, essas coisas, isso usa. Isso até a menor também já usa. Mas eu tenho a impressão que agora não existe. Antigamente é que a gente andava de laçarote no cabelo, vestidinho de laçarote nas costas, né, sainha curtinha e sainha comprida com outra idade, sapatinho com meinha. Agora, acho que já não existe mais nada dessas coisas, né? O tamanco se faz pra uma mulher mais velha, se faz pra uma criança em tamanho pequeno, né? Até é bom isso, porque não cria tanto problema, não é? As velhas não ficam tão velhas. (risos)
D

 Está bom