« MAPA «
PROJETO NURC-RJ

Tema: "Cinema, televisão, rádio, teatro, circo"

Inquérito 0259

Locutor 312
Sexo feminino, 61 anos de idade, pais não-cariocas
Profissão: médica
Zona residencial: Sul

Data do registro: 13 de novembro de 1974

Duração: 40 minutos

Clique aqui e ouça a narração do texto


L
 Gosto mesmo de cinema mas raramente vou mas quando vou prefiro ver um bom filme policial ou então um daqueles filmes bem amolecados italianos. Ou vou ver um policial inglês ou vou ver um filme bem engraçado ou até um pouco pornográfico italiano.
D
 E a senhora tem preferência por atores?
L
 Não.
D
 Diretores?
L
 Não tenho. Bom, diretor sim, Fellini e o Bergman, mas ator não, não tenho.
D
 A senhora poderia falar um pouquinho a respeito do Fellini, o que que a senhora gosta.
L
 Eu acho que o Fellini sempre ele aborda temas bastante atuais, não sofistica não, então aquilo que a gente vê no filme a gente imagina que poderia encontrar a qualquer momento na nossa rua, na nossa cidade, meio ambiente do povo, igual ao nosso. Já se a gente vai ver um filme americano nem sempre a gente pode configurar uma situação igual aqui no Brasil. Por isso quando nós estivemos lá nós vimos, tem gente do povo igual a nós mas não é aquela que aparece nos filmes. Os filmes europeus são mais no terra-a-terra nosso. Já Bergman já exige mais estudo, já existe, exige que a gente pense mais. Às vezes a gente sai até angustiada do cinema mas mesmo assim acha que valeu a pena.
D
 Por que que a senhora sai angustiada do cinema? Por causa do quê, em Bergmam? O que é que ele diz que faz com que as pessoas (inint./sup.)
L
 (sup.) Porque a gente sempre transporta aquilo para uma situação vivida por alguém que esteve muito perto da gente, um amigo, um parente, um cliente que, a quem a gente se afeiçoou muito, a pessoa sente situações assim. Por exemplo, um filme que me angustiou muito foi esse último, "Gritos e sussurros", que eu preferia não ter visto.
D
 Por quê?
L
 Porque tinha sabido de uma situação semelhante com uma pessoa que eu quero muito bem. Preferia não ter visto. Eu acho que a gente vai ao cinema, eu que vou pouco, vou para me distrair, como uma forma de lazer e não como uma forma de prolongar angústias, aflições do dia-a-dia.
D
 Esse filme "Gritos e sussurros" será que a senhora podia descrever detalhes?
L
 Não.
D
 As pessoas que trabalham, maneira de ser feito o filme.
L
 Não posso. Engraçado, foi um filme que me angustiou e eu não posso descrever. Porque houve uma cena que me ch... que me chocou demais, que eu achei que não havia necessidade de ser colocada daquela maneira, filmada daquela maneira, aquela cena chocante da mulher toda ensangüentada (inint.) achei que aquilo foi fora de propósito, embora apreciando muito o, o Bergman achei que aquela cena foi sem propósito.
D
 A senhora viu outros filmes do Bergman?
L
 Vi mas não sou capaz de, de lembrar os nomes assim os títulos e sempre gostava muito, nunca fiquei angustiada com um filme dele.
D
 A senhora disse que gosta de um bom filme policial. Como é o filme policial (inint.)
L
 Um filme policial em que haja muito mistério, por exemplo "O caso dos sete negrinhos", tirado dum, dum livro da Agatha Christie, gosto muito. Agora detesto filme policial com muita violência, como um que me aborreceu muito, que eu vi em Teresópolis de uma gangue de motocicleta, que era só pancadaria o tempo todo, violência, agressão sexual, assim esse, como esse eu não gosto. Gosto muito de ler livro policial, gosto muito de ler, ler livro policial mas não gosto de um policial que tem um, um investigador que apanha como boi-ladrão, não gosto desses, gosto de um policial com suspense até o fim.
D
 E quando a senhora vai ao cinema a senhora vai só pelo tipo de filme ou a senhora tem preocupação de saber outros detalhes?
L
 Olhe, como eu tenho muito pouco tempo para ir ao cinema e quero aproveitar ao máximo em geral eu me guio muito pelo bonequinho do Globo. Se o bonequinho está aplaudindo, eu, é aquele que eu vou, dentro do, do meu gosto, policial em primeiro lugar, depois um filme, eh, assim alegre, italiano ou francês. Eu me guio muito pelo bonequinho do Globo.
D
 E a parte técnica a senhora observa?
L
 Ob... observo a parte técnica mas no ponto de vista de fundo musical. Eu, como eu durante algum tempo eu est... estudava música (inint.) embora não tenha feito profissão nisso, eu li... ligo muito à parte musical, ao roteiro musical, presto muita atenção e sempre quando vejo o roteiro eu vejo de quem é a orquestração, eu ligo muito à parte musical, que aliás foi uma coisa impressionante, uma beleza na, nesse "Gritos e sussurros", a parte musical muito boa.
D
 Só isso que a senhora viu?
L
 Só, o resto, como aquela cena (sup.)
D
 (sup.) E as atrizes (sup.)
L
 (sup.) E outras coisas. Bom, as atrizes aquelas maravilhas, são todas maravilhosas, numa interpretação magnífica, mesmo nessa cena ultrachocante a interpretação foi magnífica, só que eu achei que não havia necessidade. Eu por exemplo há pouco tempo li um livro muito bom, me deram um livro de presente muito bom mas ach... não achei necessário as doze últimas páginas do livro, que é "O videota". É um livro formidável "O videota" mas não achei necessário as duas últ... duas, doze últimas páginas, desnecessário aquela agressão verbal ao leitor daquelas cenas de perversão sexual. Não sou puritana não mas há coisas que eu acho que não são necessárias de acordo com o local, o tema, não havia, naquele livro não havia necessidade, como no "Gritos e sussurros", não havia necessidade daquela cena.
D
 E o cinema nacional o que a senhora acha?
L
 Eu em geral não, não assistia filme nacional, eu era do tempo de chanchada, era muito enjoado, né, passei muito tempo sem ver mas por acaso assisti a um, a, um dia desses porque perdi a peça de teatro, então fui ver o filme e gostei muito, "Um edifício chamado duzentos", achei formidável a interpretação de todos, principalmente do Moraes, como é o nome dele?
D
 Milton Moraes.
L
 Milton Moraes, achei formidável a interpretação.
D
 Houve uma época que o filme nacional se chamava chanchada. Por que esse nome?
L
 Eu não sei bem não (inint.) eram as peças de teatro daquela época, teatro de revista se chamava chanchada mas eu nunca procurei saber por que que era chanchada, não sei se era pejorativo, se era no, no sentido de droga, era uma droga ou se era no sentido que era imoral, naquela época eu não sei, chamava chanchada, primeiro as peças de teatro de revista da praça Tiradentes, depois filmes musicais daquela época se chamavam chanchada.
D
 E agora (inint.) as salas de espetáculo, cinemas.
L
 Agora, eh, nós temos salas muito boas, salas de projeção, eh, até com gosto, além de tecnicamente bem projetada também com gosto, com conforto, essa do cinema Um, com um pequeno bar, né (inint.) se pode fumar, quer dizer, não incomodando os outros que não gostam de fumar e que não querem saber de fumo, de poluição, então isso já é um grande melhoramento, a gente poder assistir o filme tomando um café ou tomando um drinque já melhora ainda mais, né, principalmente quando a gente vai pra curtir, curtir mesmo.
D
 E houve uma modificação recente de cinema Um (inint.) novidade (inint./sup.)
L
 (sup.) É, porque começou como sala e como tipo de filme, né, uma programação mais escolhida, mais escolhida, atendendo, seria atender classe a de freqüentador e que depois atingiu uma faixa enorme principalmente de jovens que ninguém pensava que fosse se interessar por isso e eles se interessaram, se ligaram, né, foi uma boa coisa.
D
 E houve uma modificação recente nos cinemas eu acho que no Brasil inteiro a respeito da entrada.
L
 (inint.) para controlar a freqüência de, tem o tíquete e a, a máquina registradora e, e também controlar o número para ver a evasão de renda e também para ver (inint.) quando fosse uma programação de filmes nacionais controla real... realmente as pessoas que iam assistir, né, por causa daquela obrigatoriedade da inclusão de filme nacional na programação. Acho uma boa, uma boa idéia.
D
 Como é que está sendo feito esse controle?
L
 Não sei, pela, o registro, a máquina registradora dando a (inint.) a, a notinha e também na borboleta (inint.)
D
 Uma novidade, não é?
L
 Uma novidade, foi uma boa coisa mas isso foi copiado do, do Maracanã, né?
D
 A senhora já esteve na Europa. A senhora chegou a ir ao cinema na Europa? Eu queria que a senhora, eh, fizesse um paralelo, entendeu? (sup.)
L
 (sup.) Você sabe que na Europa eu não fui ao cinema? Não fui nem um dia.
D
 Nenhum país fora (inint.) a senhora esteve (sup.)
L
 (sup.) Não.
D
 Eu queria que a senhora comparasse. (sup.)
L
 (sup.) Não. Nos Estados Unidos fui ao cinema. Fui até a um cinema (vozes no fundo) de `show', Radio City (sup.)
D
 (sup.) A programação como, como era? (sup.)
L
 (sup.) Radio City. Era, tinha assim um filme que foi até "Um grito na noite" que nós vimos, agora estou me lembrando, foi na Broadway, tinha um, um filme, "Um grito na noite" e entre uma sessão e outra do filme tinha uma meia hora de `show', muito interessante.
D
 E quando a senhora era jovem, adolescente, a senhora costumava ir ao cinema?
L
 Ah, ia muito.
D
 Houve muita diferença do cinema dessa época pra agora (sup.)
L
 (sup.) Houve muita, houve muita, muita diferença.
D
 Radio City?
L
 É. Houve muita diferença, muita diferença, porque primeiro os filmes nacionais eram como eu já disse chanchadas e havia, qual foi o filme mesmo da mi... da minha infância, minha adolescência eram filmes de `cowboy', `cowboy', Tom Mix, William (inint.) quer dizer, mesmo gen... gente que já tem atualmente sessenta e um anos naquele tempo era filme de `cowboy', era cri... criança e adolescente entrava no cinema era pra ver filme de `cowboy', depois mais tarde esses filmes nacionais. Não é como agora que os jovens vêem toda espécie de filme, principalmente os impróprios, modificam carteira. Antigamente não havia negócio de carteira de colégio pra entrar em cinema, não tinha não. Era tão barato que ninguém tinha (inint.) tinha negócio de carteira não, pagava meia até uma certa idade e depois pagava inteira, não tinha nada de carteira de, de estudante não.
D
 E houve alguma época em cinema (inint.) tinha lugares reservados, como no teatro por exemplo?
L
 É? Eu não me lembro disso não. Cadeira reservada era só aquela pra polícia, mas nada, mas pra espectador não.
D
 E os cinemas em si?
L
 Eram ruins, muito ruins, era pulgueiro, chamava pulgueiro, tinha pulga, tinha rato, tinha tudo, eram muito ruins e banco de madeira, banco de madeira, eram muito ruins e os cinem... havia alguns cinemas daqui na cidade, na avenida Rio Branco que tinha na sala de espera orquestra, orquestra com piano, com violino e até harpa, coisa que eu levei anos sem ver eu vi agora num concerto no ministério da Educação, a que tirou o primeiro lugar era um harpista, havia orquestra na sala de espera dos cinemas e cinema mudo com pianista tocando valsa lenta, "Tatu subiu no pau", dependendo do que passava na tela havia pianistas tocando na sala de projeção. Sou é antiga mesmo, minha filha, tem quanto tempo?
D
 Agora me fale de televisão. O que a senhora acha?
L
 Olhe, eu não gosto de televisão porque eu não gosto de ficar em casa e televisão prende a gente dentro de casa, eu não gosto e um ou outro programa me atrai (inint.) o Globo Especial, o Caso Especial e alguns programas humorísticos quando tem Chico Anysio (inint.) alguns programas humorísticos, outros eu detesto, nem ligo. Esses programas então que levam o dia inteiro não ouço de maneira nenhuma, não vejo de maneira nenhuma e outros que não levam o dia inteiro mas que são Sílvio Santos sofisticados de `black-tie' também pra mim não presta.
D
 A senhora está falando de que programas?
L
 Bom, programas sofisticados mas do mesmo tipo de Sílvio Santos, por exemplo Flávio Cavalcanti, eu acho a mesma coisa, eh, sensacionalismo barato mas o sujeito de `black-tie' mas é a mesma coisa que um Sílvio Santos, mesma coisa com a diferença que não tem a vivência e a graça dum, dum Chacrinha. Eu também não gosto do programa não mas eu acho que o dele é mais válido.
D
 E tipo de programa, eh, muito popular da televisão, a senhora, sem ser S'ilvio Santos.
L
 Aí é que está, esses programas todos, Sílvio Santos, Chacrinha, Flávio Cavalcanti.
D
 Não, mas todos, eh, um público enorme, as pessoas ficam em casa pra ver, principalmente as mulheres, as pessoas vêem demais, comentam, acompanham.
L
 Novela, novela por exemplo (inint.) é essa. Coisa que me prende dentro de casa não me interessa, não gosto. Agora novela eu assisto de vez em quando, não acompanho, não me prendo, capítulo nenhum, se eu tiver que sair eu saio mesmo ou uma que seja depois de dez horas da noite. Então eu gostei muito de algumas, "Bem Amado", "Cafona", gostei demais de "Ossos do Barão", agora a que acabou, que eu não pude ver o final, "O Espigão", estou tentando ver "O Rebu", porque são todas as novelas depois de dez horas da noite que retratam fielmente a nossa época. Aquela do bicheiro achei fenomenal, real, atual, tipo bem carioca, coisa que a gente vê a toda hora, aqueles são boas mas essas novelas das sete horas, seis horas, eh, que se eternizam, tipo mamãe Dolores, essas, isso não, não tenho paciência, pra não dizer uma palavra mais feia, pra assistir mas não sou capaz de vir correndo pra casa pra ver a novela, nem deixar de sair porque tem novela às dez horas. Outro tipo de, de programa que eu não gosto é ver futebol porque eu adoro futebol mas eu quero ver ao vivo lá no campo, não gosto de ver na televisão. Se por acaso estou em casa e vejo, desligo o som porque não gosto daquela moleza como o sujeito descreve o jogo, então desligo o som e ligo o som do rádio porque embora eu saiba que o locutor do rádio está mentindo mas pelo menos está mais de acordo com o meu temperamento de falar depressa, ouvir depressa e aquela modo de falar mole da televisão não me agrada, eu desligo.
D
 Por que que a senhora diz que o locutor do rádio está mentindo?
L
 Porque como eu conheço bem futebol e (inint.) quando estou lá e estou com o rádio ligado estou vendo que ele está descrevendo uma situação que não está se passando realmente e tive uma experiência mui... muito, eh, viva na minha mente que foi no campeonato mundial de mil novecentos e trinta e oito que houve cenas de pugilato de, aqui no, no Rio, e acredito que em São Paulo foi pior ainda, de agredirem italiano na rua porque um locutor brasileiro descreveu num jogo do Brasil e Polônia que os brasileiros estavam sendo massacrados e o juiz era italiano, então andaram batendo em italianos na rua quando não tinha sido nada daquilo, foi um exagero do locutor. Mas naquele tempo não tinha televisão, só tinha rádio, a gente escutava e acreditava integralmente no locutor. Depois que a gente começou a ir com, também não tinha rádio de pilha, né, quando a gente começou a ir no futebol com rádio de pilha começou a ver quanto o locutor exagera e até mente. No entusiasmo dele, eles acabam mentindo porque o locutor é humano como todo mundo, tem o seu clube, é um torcedor, é um passional, então ele mente.
D
 Voltando à televisão, a senhora mencionou o "Caso Especial". O que é o "Caso Especial"?
L
 Às vezes é uma adaptação de algum livro bom, uma, capítulo de um bom livro, outros vezes é de um fato ocorrido há algum tempo no Brasil ou fora do Brasil e são em geral muito bons com os artistas melhores do, do elenco da, da emissora.
D
 Mas não é como a novela, não é (sup.)
L
 (sup.) Não, não é, dura só uma, uma hora, duas horas no máximo.
D
 E a senhora conhece atores da televisão?
L
 Pessoalmente? (sup.)
D
 (sup.) Atores não, mas assim pelo trabalho profissional.
L
 Pelo trabalho sim.
D
 Poderia falar de alguns, explicar um pouquinho?
L
 Eu gosto muito da Dina Sta... Sfat, Dina Sfat, gosto muito do trabalho dela. Mais ou menos, menos do que da Dina, do Wilker, do Lewgoy. Agora um que está subindo muito no meu ponto de vista é o Vereza, subindo muito, Míriam Pérsia, e no gênero que ela faz atualmente Betty Faria. Ela esteve muito bem n'"O Espigão", Milton Moraes, todos aqueles que trabalharam agora no, n'"O Espigão" e o grande de teatro e televisão, o Ziembinski.
D
 A respeito da propaganda na televisão (inint.)
L
 Algumas muito boas, outras que causam a meu ver impacto negativo. Ainda há tempos existia um anúncio que dizia que mulher era inferior (inint.) felizmente depois tiraram isso. Outro que, muito ruim, toda vez que há uma festa e em novela tem aparecido muito isso, coisas, situações falsas, os artistas ficam o tempo todo com um copo de bebida na mão, isso acho uma campanha muito perniciosa junto aos jovens, principalmente adolescentes que acham que só se pode conversar com um copo de bebida na mão. Numa das novelas das sete horas da noite me chamaram a atenção e eu fui ver. Acontecia um fato que não é comum no Brasil, então era uma situação falsa, um indivíduo entrar na casa de um amigo, o amigo não estar, ele se dirigir ao bar, se servir e esperar o amigo com um copo de bebida na mão e a garrafa de bebida na mesa. Isso, brasileiro não faz isso por mais mal-educado que ele seja. Essa novela, além dessa propaganda da, do alcoolismo ainda deu essa, essa má impressão de um sujeito mal-educado que entra na casa de um amigo e por mais íntimo que ele seja não espera que o amigo se ... chegue, vai mexendo no bar, servindo bebida, então dá a impressão ao jovem que sucesso está ligado a dinheiro e bebida. E em geral os apartamentos são pequenos, esse negócio de programação para a criança até uma certa hora não funciona, porque se só há só um cômodo onde está a televisão, criança de qualquer idade que ela seja ela vê todos os programas e vê todos os anúncios, então quer que o pai compre tudo aquilo que é anunciado. Se o pai não pode comprar a criança se julga infelicíssima. Propaganda de cigarro (inint.) Pelé nunca quis anunciar cigarro, agora a propaganda de cigarro ficou de tal maneira sofisticada que não adianta a gente dizer que cigarro dá enfizema, cigarro dá câncer, acham que cigarro faz, dá sucesso, cigarro do homem do sucesso, cigarro das mulheres bonitas, cigarro dos, dos caras que têm melhores automóveis, então acho que devia ser controlada essa propaganda, fazem bem, então criança de três anos já pensa que sabe ler por causa dos anúncios da televisão mas também aprende que deve comprar tal cigarro, que deve beber tal bebida. Agora realmente eles estão bolando melhor os anúncios, não é?
D
 Filmes, os filmes estrangeiros que são passados (inint.) atento nas (inint.)
L
 Se devem ser dublados ou não, né? Eu acho, eu acho o seguinte: eu em geral não vejo porque os menos ruins, os menos antigos passam em geral em sessão coruja, sessão de meia-noite, passam depois de meia-noite (inint.) e essa hora eu, eu já devo estar descansando pra, pra levantar no dia seguinte para trabalhar. Então em geral não vejo mas eu acho que não deveria ser permitido dublagem de filme não. Primeiro que tecnicamente nunca fica perfeito e segundo que devia, nesse horário em vez de dublar pas... passar filme nacional. Acho que nós já temos alguns filmes nacionais que podem, possam ser passados em vantagem.
D
 Outra coisa, eh, este ano houve uma recomendação do ministro das Comunicações sobre a linguagem usada na televisão. A senhora está a par disso?
L
 Estou a par sim, fiquei muito triste porque eu falo muita gíria, então o ministro das Comunicações achou que não se devia usar em televisão mas agora vai sair em dicionário do Buarque de Holanda dizendo que linguagem é aquela que é falada e não aquela que a gente usa rebuscar pra escrever. Então no, no dicionário dele vai ter muita gíria, então como é que a gente vai evitar de falar gíria quando está conversando normalmente? Se a gente deve usar gíria até dan... dando aula quando a gente quer dar ênfase ou quando quer chamar a atenção, tirar o cansaço do aluno a gente usa uma gíria, que é a linguagem que eles usam no dia-a-dia, por que não se pode usar na televisão, por que não se deve usar? Mas parece que depois houve uma reformulação, né, que só, não deveria usar qundo fosse programa cultural para atingir determinada faixa mas quando fosse um programa comum que a gíria seria válida. Parece que foi, não tenho certeza se isso saiu ou não.
D
 A senhora disse que ouve rádio, futebol. Só futebol?
L
 Música. Eu ouço, rádio é música, toda noite eu ouço música.
D
 Clássica?
L
 Clássica, popular, música que eu ouço, ouço no rádio, no rádio só ouço música, só e futebol quando não posso ir assistir lá. De preferência rádio Jornal do Brasil e rádio Ministério da Educação, programas clássicos, de música clássica. Aliás, a Ministério da Educação fez uma programação muito boa, modificou muito os programas dela, principalmente os programas de domingo, com esses concursos que foram televisados pela, pela tevê Globo, esses concursos de instrumentos (inint.) isso foi pra mim foi o ponto máximo da televisão este ano, o concur... o concurso de instrumentalistas, jovens instrumentalistas. Às vezes não tão jovens mas às vezes muitos jovens demais como um, um de violino que foi considerado `hors-concours', de sete anos de idade, violino, despertando um interesse medonho e revelando valores que estão (inint.)
D
 (inint.) rádio Ministério da Educação.
L
 É, eu acho que esses programas interessam muito porque uma faixa de pessoas que não tinham possibilidades de ir a um concerto, a um bom concerto e que achavam que não tinham roupa pra entrar num teatro Municipal se entusiasmaram vendo esses programas da rádio MEC televisados pela Globo, viam o tipo de pessoas que estavam na tevê Globo, que roupa estavam, à vontade, e começaram a se entusiasmar e acredito que num futuro muito próximo eles já começam a ir, a assistir esses concertos no teatro Municipal, verificar que não precisam uma roupa especial pra ir, pra entrar e começa a apurar o gosto. Eu gosto muito dum, dum samba e aliás toco bem um samba mas gosto também da música clássica e acredito que muita gente que gosta de samba se tivesse possibilidade de ouvir sempre uma música clássica também ia apreciar. Então eu acho que foi (inint.) e o programa, o projeto Minerva tem sempre um, um fundo musical muito bom, dá também uma parte de folclore, dá uma parte de música clássica, música popular, já vai ensinando o pessoal a apreciar isso. Acho que são programas muito bons e que de uma certa maneira eles podem ocupar o lazer ou descansar um pouco ouvindo (inint.)
D
 Antes da televisão o rádio era muito importante.
L
 Ah, é. O rádio era muito importante e principalmente penso eu para o interior, né (inint.) o povo tem acesso às informações mais depressa do que se, se esperasse só o jornal e também com a vigência do rádio de pilha foi que eu acho que melhorou mais ainda, que muita gente que não tinha possibilidade de ter um rádio, que era uma coisa cara, o rádio de pilha barateando deu oportunidade a, a uma faixa enorme de ser atingida por esse meio de comunicação.
D
 A senhora costumava ouvir rádio?
L
 Sempre ouvi muito rádio mas sempre música.
D
 Podia falar dos programas, das pessoas que faziam os programas?
L
 Ah, eu, eu lembro muito dum programa humorístico do Sílvio Ferramenta, que era o Castro Barbosa com o Lauro Sales. Isso era, foi um programa humorístico que durou muitos anos aqui no Rio, que era muito apreciado. Depois tentaram fazer na televisão e no rádio ultimamente mas já não existia mais o Lauro Sales, o Castro Barbosa fez com outros parceiros mas não teve o mesmo êxito não, não teve o mesmo êxito. Não havia uma censura tão grande mas não havia exageros, não havia exageros, uma criança podia ouvir aqueles programas, eram realmente engraçados, não eram pornográficos, eram muito engraçados. Muito mais tarde é que veio Dercy, veio Costinha, esses programas impróprios para maiores de sessenta anos.
D
 Alguma vez a senhora chegou a ir a uma estação de rádio? Tem idéia de como é, como funciona? (sup.)
L
 (sup.) Não, não, porque as vezes que fui, fui pra, semana de prevenção de acidentes falar sobre tema técnico mas programa de auditório, eu não, programa assim de rádio ao vivo eu nunca fui, nunca vi, de modo que não, não posso saber como é que é (inint.) a não ser de ter visto agora na televisão, tido ... Às vezes eu passo na casa de alguém que estão vendo Sílvio Santos eu fico encantada de ver como é que tem gente que pode ficar dentro do mesmo lugar de oito horas da manhã, tendo entrado na fila às quatro, até seis horas. É muita falta de programa, não ter o que fazer e muita paciência porque eu não consigo ficar sentada num lugar o dia inteiro.
D
 Mas isso é antes do rádio, né, esse programa Sílvio Santos.
L
 Sim, programa de auditório de rádio. As macacas de auditório nasceram no rádio, né, nasceram no rádio e o povo não tinha tanta coisa pra fazer, então vai pro rádio. Era barato e levava o dia inteiro, levava um sanduíche, uma, uma marmita e ficava lá o dia inteiro, então esses programas a televisão absorveu esse mau aspecto, ao meu ponto de vista, da, do rádio.
D
 (inint.) mesmo foi novelas
L
 Novela, a novela começou no rádio. "Direito de Nascer" era no rádio, levou anos.
D
 A senhora se lembra do "Direito de Nascer", a reação do povo (inint./sup.)
L
 (sup.) Ah, era uma choradeira medonha e uma outra que tinha um tal de "Jerônimo, o herói do sertão", mas isso é coisa que pode interessar o povo, é uma coisa que ele sente que tem perto dele, é uma coisa que ele vê que pode ser, então é ... Não gosto mas eu acho válido, eu não gosto mas eu ach... acho válido. Uma loteria esportiva, tem lá coisa mais bem bolada do que loteria esportiva? Depois do jogo do bicho foi a coisa mais bem bolada do mundo, interessou todo mundo. Gente que nunca jogou, nunca ouviu uma irradiação de futebol, nunca foi a um campo de futebol, joga na loteria esportiva, é um troço bem bolado. A Caixa Econômica foi muito viva quando bolou aquilo.
D
 A senhora está a par, eh, da medida do governo sobre a rádio Nacional (inint.) extremamente potente para cobrir o norte do Brasil por causa de determinados problemas, sabe como é, no interior da Amazônia as pessoas ouvem muito rádio, é muito importante o rádio mas (inint.) ouvir o rádio brasileiro.
L
 Eu não tenho muita vivência disso não, nem me lembro de ter lido nada a respeito. Uma vez eu li alguma coisa sobre programas para essa (inint.) Transamazônica ligada à questão do Funrural e isso e como tem o marido de uma parenta trabalhando lá (inint.) então me chamou a atenção, eu disse: bom, agora o M. pelo menos pode ter uma notícia mais recente das coisas que estão querendo fazer lá com a Transamazônica, Altamira, me lembro disso. Eu acho realmente muito importante. Por exemplo agora que nós estamos aqui com um programa no ministério que vai entrar em vigor em primeiro de janeiro, que é o serviço de medicina, higiene e segurança do trabalho nas empresas. Mês passado houve um congresso nacional em prevenção de acidente inaugurado pelo mini... pelo presidente da república e ministro do Trabalho, então eles estão te... vão estender isso ao meio rural, ao serviço de medicina, higiene e segurança ao meio rural, então o rádio seria um meio de penetração, um meio de divulgação, um meio de divulgação, como também dentro do programa, eh, do MOBRAL, agora querendo estender a conselhos de higiene e saneamento isso é uma coisa magnífica, seria uma coisa extraordinária, se fosse feito dentro do MOBRAL e dentro desses programas de rádios, emissoras de rádio com grande potência, penetração, aí também você podia aproveitar para prevenção de acidentes, talvez seja essa a ida... a idéia a princípio desde que não há um número de técnicos suficientes, médicos, engenheiros, inspetores e auxiliares de enfermagem e segurança pra mandar pra, pro interior do Brasil mas seria válido esses conselhos por intermédio de rádio.
D
 Inclusive porque há certas regiões onde não existe televisão.
L
 Não existe televisão, não existe luz elétrica, não é? Então aí o, é aí que eu disse a, a influência do rádio de pilha, foi a maior influência foi o rádio de, de pilha.
D
 Um pouco pra trás da nossa entrevista a senhora falou em teatro de revista. Alguma vez a senhora chegou a assistir uma peça de teatro?
L
 Ah, assisti muitas, assisti muitas (sup.)
D
 (sup.) A senhora podia contar (inint./sup.)
L
 (sup.) Assisti muitas porque, olhe aqui, houve uma época que havia um empresário aqui no Rio, Walter Pinto, teatro de revista sempre foi pornográfico mas havia ... O Walter Pinto criou uma coisa, Walter Pinto e o pai do Jardel, o Jardel Jerculis, pai do Jardel Filho, eles foram os reis do teatro de revista da praça Tiradentes. Então eles criaram um tipo de teatro de revista como nunca se tinha visto aqui, com um guarda-roupa espetacular, com mulheres muito bonitas e seminuas, então isso, não é, agradou à, à multidão dos homens e a algumas mulheres pelas roupas, então também tinha oportunidade da gente ouvir música popular brasileira. O Jardel, por exemplo, tinha sempre ele dirigindo uma boa orquestra, ele tinha um jeito peculiar, não era músico mas tinha um jeito peculiar de dirigir a orquestra, todo mundo ficava, usando um tema de agora, vidrado nele, de modo que eles tiveram esse mérito de trazer espetáculos, clientes (inint.) no cinema mudo que não era a cores também, eles trouxeram ao vivo pra praça Tiradentes, depois foi deturpando, é mais pornografia do que `show', então foi caindo mas até algum tempo atrás, vamos dizer até uns vinte anos atrás, ainda se via boas revistas.
D
 Mas essas peças tinham algumas enredo, como era a seqüência? (sup.)
L
 (sup.) Não, não, a seqüência era assim quadros humorísticos, eh, música, piadas, tudo entremeado assim, não havia um roteiro, não havia uma seqüência, não havia um roteiro. Era como se chama hoje um `show', só que durava mais e entremeando várias coisas, humorismo, música e charge política, que não existe mais. Naquele tempo havia charge política, havia um, um artista, que me parece que morreu o ano passado, estava no Rec... Retiro dos Artistas, me lembro que o primeiro nome dele, o sobrenome era Dias, que era especialista em fazer o tipo e o maneirismo do Getúlio. Ele sempre representava o Gétulio, que o, que a, o apreciava muito, deu boas gargalhadas vendo o Dias representando, Pedro Dias, representando o Getúlio, havia charge política, isso depois desapareceu. E os políticos daquele tempo tinham senso de humor, gostavam, gostavam, não sei por que que depois desapareceu isso.
D
 E o outro tipo de teatro, não esse?
L
 Outro tipo que, eu tenho pouco tempo pra essas coisas. Quando eu tenho tempo pra sair eu prefiro ir a um concerto, prefiro ir a um concerto, a um bom concerto. O que eu gosto de teatro é um tipo assim de comédia ou então essas peças estrangeiras que foram primeiro apresentadas aqui no Brasil por Henriette Morineau, traduções como "Um bonde chamado desejo", eh, "Tabaco Road", que passou aqui como a, a "Estrada da Ira", "Tabaco Road" foi muito bom, eh, a ponte, "Panorama visto da ponte" e ultimamente eu não tenho ido muito a teatro não mas fui algumas vezes. A Tônia Carrero, né, eu conheço desde garota quando ela ainda era do ins... do instituto de Educação, depois (inint.) educação física logo depois que eu fiz, eh, ainda Henriette Morineau, vi algumas peças, comédias com Alda Garrido, a última delas que eu vi foi "Dona Xepa", que era escrita pelo Pedro Bloch, agora parece que vai ser reencenada, né, "Dona Xepa", não sou muito de teatro. Embora eu goste muito, não tenho ido muito.
D
 O teatro é bem diferente do cinema, né, o próprio ato de ir ao teatro.
L

  Eu acho que o espectador participa mais, participa mais e com a vantagem sobre a novela que a gente vê tudo no mesmo dia, sabe o final no mesmo dia. Gostaria mas nunca fui ainda assim, um `show' assim de Juca Chaves, gostaria muito de ver quando viesse aqui no Rio esse do Tom Jobim com Elis Regina mas nunca fui e `show' assim de teatro e coisa eu gostei muito do "Follies" no Hotel Nacional, o do outro ano passado, não esse, vi o que estava levando no fim do ano passado, este ainda não assisti e, e, o espetáculo do Canecão que é outro típico também, muito bom porque atinge uma massa grande, eu estive vendo Amália Rodrigues, vi Elizeth e quero ver agora Paulo Gracindo, Clara Nunes porque está revivendo dois grandes nomes que não é da minha adolescência não, é da madureza já e que eu apreciava muito, que é Antonio Maria e Dolores Duran.