« MAPA «
PROJETO NURC-RJ

Tema: "Tempo cronológico"

Inquérito 0234

Locutor 279
Sexo masculino, 44 anos de idade, pais cariocas
Profissão: dentista
Zona residencial: Sul e Norte

Data do registro: 27 de junho de 1974

Duração: 38 minutos

Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 A gente podia começar (sup.)
L
 (sup.) Pois não (sup.)
D
 (sup.) Com tempo cronológico na sua, em relação ao seu trabalho por exemplo.
L
 O meu trabalho?
D
 É, como é que é dividido o seu tempo?
L
 Bom, o meu tempo eu divido, eu tenho dois, vamos dizer, eh, dois tipos: um, sou funcionário. Sou funcionário, trabalho para uma repartição que é o INPS, então eu divido, a parte, de manhã eu dedico ao INPS e a parte da tarde dedico à minha clínica. É essa a minha, minha divisão, vamos dizer, né, a divisão do meu tempo profissional, é o tempo que eu gasto com a minha profissão, de manhã, numa parte, como já disse, é função pública e outra, particularmente, o meu consultório.
D
 Nessa parte da manhã o senhor tem, eh, um horário rígido?
L
 Não, horário rígido não. A senhora sabe que funcionário público não há horário rígido não, e nem o profissional liberal tem um horário rígido. Pela lei tem, mas cumprimos, cumprimos praticamente horário rígido, uma vez ou outra, como todo mundo faz, há uma necessidade de sair mais cedo um pouquinho ou de chegar mais tarde um pouco. Mas em geral o horário é cumprido.
D
 Chegar mais cedo ou sair mais, eh, sair mais cedo ou chegar mais tarde pressupõe uma hora, né?
L
 É, pressupõe-se uma hora, é. (sup.)
D
 (sup.) Qual seria o horário oficial então?
L
 Vamos dizer, de oito às onze. Mesmo porque eu trabalho, eh, numa zona sul da cidade, aliás eu moro na zona sul e meu trabalho é na zona norte, então é de, é no bairro de Coelho Neto. Para melhor explicar, quem vai ao Rio, quem vem ao Rio, que vai para São Paulo, é depois da entrada da, da estrada Rio-São Paulo, então mede mais ou menos uns trinta e pouco quilômetros de casa. Quer dizer, pra mim chegar lá às sete horas da manhã, mesmo porque não pode chegar às sete horas da manhã, porque vamos chegar lá às sete horas da manhã, então o serviço inicia, iniciando o serviço às sete horas, vai ser esterilizado, então nós vamos ter que ficar esperando o pessoal subalterno preparar todo o material. Então a nós praticamente não interessa chegar no horário de sete horas que é o horário oficial, porque nós não vamos ter nada o que fazer. Então temos que esperar, chegar um pouco mais tarde, que é pra dar tempo de haver esterilização, apanhar as fichas no arquivo, pra deixar tudo em ordem, pra quando nós chegarmos. Quer dizer, então esse horário rígido, pra nós, profissionais, não pode praticamente ser cumprido por essa razão, a não ser que o subalterno chegasse mais cedo ainda, que aí já, a lei já não, não ampara muito.
D
 Quanto tempo o senhor leva da sua casa até Coelho Neto?
L
 (riso) É longe. Pode botar aí uns trinta, quarenta minutos de automóvel.
D
 Pra voltar a mesma coisa?
L
 Pra voltar também, uns vinte, trinta minutos, porque aí eu fico mais perto do consultório. Meu consultório aí já não, é mais perto do meu local de trabalho, quer dizer, desse trabalho aí de manhã do que da minha residência.
D
 O senhor vem de lá direto pra cá pro consultório?
L
 Venho de lá direto pra cá (sup.)
D
 (sup.) E o almoço?
L
 Ah, almoço aqui pela praça, almoço na casa de meu pai, que também é aqui na Tijuca, eh, meu, almoço ... Eu nunca vou em casa almoçar, nunca vou em casa almoçar.
D
 E o senhor tem (inint.) um tempo estipulado pra almoço?
L
 Ah, tenho, porque infelizmente a odontologia, eh, quase todas as profissões, mas a odontologia requer muito a precisão de horário e eu gosto de precisão de horário, gosto que o cliente chegue na hora e como gosto de atender também o cliente na hora. Então eu inicio uma hora, uma e meia, geralmente uma e meia, que eu inicio. Eu saio de lá por exemplo às onze, chego onze e meia, quinze pra meio-dia, às vezes, vou almoçar, quer dizer, pra uma e meia, então não dá tempo de vim aqui, ver alguma coisa ou ter alguma coisa, ir ao banco, ir a um protético, tratar de algum assunto, então é uma faixa muito curta, é muito rápida, né? Mas então é essa correria, a senhora fala de pro... problema cronológico, não é, o assunto é esse, então o problema é muito sério, pra mim é, porque eu respeito muito o horário, gosto de respeitar e quero que os outros respeitem também. Sou muito, procuro sempre ser assíduo no meu, no, nos meus encontros.
D
 Me diga uma coisa, o senhor disse que gosta que seus clientes cheguem na hora, não é, na hora certa (sup.)
L
 (sup.) Gosto.
D
 Como é que o senhor faz na sua, aqui na sua clínica (inint.) atendimento? (sup.)
L
 (sup.) Marco hora, marco a hora (sup.)
D
 (sup.) Ah, porque alguns profissionais fazem diferente, não é?
L
 Fazem.
D
 Por exemplo o tempo que eles marcam e, digamos assim, o, o que eles cobram.
L
 O que eles cobram. Bom, cobrar por hora, eh, sim, cobrar por hora ou não. Eu não, não uso esse sistema ainda não e, eh, já habituei, mas gosto de marcar hora para que eu possa trabalhar com calma e também o cliente não ficar esperando, porque é uma coisa horrorosa, é muito cliente na sala de espera, sabe? Isso, eh, isso é debatido entre os profissionais, os comentários, eh, de maneira que eu procuro, e o cliente também não gosta de esperar, é desagradável ficar esperando, é desagradável. Lá no INPS eu, quando posso atender, atendo o mais rápido possível, porque acho que esse negócio de ficar conversando, vamos tomar um cafezinho, bate-papo e o cliente ficar esperando é bem desagradável pra quem está esperando e quem precisa principalmente. Eu sou contra isso, eu acho que tem que fazer, deve fazer logo. Às vezes fico depois sem fazer nada, às vezes termino, não tem mais cliente, fico às vezes sem fazer nada, mas atendo os clientes primeiro, porque chegam cedo, não gostam de ficar esperando e aqui também, estão pagando e é desagradável chegar aqui, ficar uma hora, hora e meia esperando que o profissional atenda. De maneira que eu, é, é um ponto que eu sempre me bato aqui e digo aos clientes que cheguem na hora e procuro atendê-los. Se eu atraso, às vezes acontece, a senhora por exemplo chegando numa, com um problema de solução imediata, problema de dor, uma hemorragia, um problema qualquer, então eu atendo. Às vezes vai me atrasar, aí sim, hoje eu tive um atraso aqui (inint.) meio atrasado, porque houve um conserto aqui (inint.) deveria trazer um cliente e os outros então, pela ordem os outros também foram atrasando, mas não gosto de atrasar e nem gosto que se atrasem. E nos meus compromissos também. Fora daqui eu procuro ser sempre pontual.
D
 No INPS, eh, (ruído) o senhor tem sempre uma quantidade certa de clientes (sup.)
L
 (sup.) Sempre uma quantidade (sup.)
D
 (inint./sup.) o tempo, eh, dado a esses clientes é mais ou menos médio pra todos eles? Como é mais ou menos o trabalho?
L
 Não entendi, o tempo, eh, tem um número certo de atendimento. E agora a outra sua pergunta eu não entendi.
D
 Se cada cliente ... Como é que o senhor distribui o tempo da, da sua manhã por esses clientes?
L
 Bom, não, não se distribui não, nós vamos, olha aqui, eh, vam... vamos atendendo, atendendo o mais rápido possível, porque o número é muito grande para o horário. Em, em relação ao horário, o número de clientes 'e grande, são dezesseis, dezoito clientes, pra três horas, quatro horas, se dividir isso em minutos, vai ver que é muito pequeno. Então nós procuramos atender o mais rápido possível, porque alguns casos existem dificuldades, tem alguns casos mais difíceis, que se demora mais, que se demora, eh, então nós procuramos atender porque, para que, porventura apareça, se porventura aparecer um desses problemas, nós temos tempo ainda pra não nos atrasarmos na saída, mas não há um tempo assim certo para, por cliente não. Há tantos clientes, tantos, tantos minutos, tantos clientes, não. Atende-se na medida de que vai, vai atendendo: ah, terminou um, entra outro, terminou um, entra outro. De maneira que um número assim certo, eh, tempo certo por cliente não tenho.
D
 Agora particularmente o senhor tem uma certa regularidade por exemplo pra dormir, pra acordar (sup.)
L
 (sup.) Tenho, tenho, regularidade tenho. Tenho por força da profissão, que eu acho que a profissão é muito cansativa, então eu procuro deitar cedo, geralmente dez, entre dez, dez e meia, e acordo seis horas, isso é hora de acordar. Seis horas eu acordo todo dia e deito, procuro deitar cedo, porque a profissão é cansativa, né, chega no fim do dia as pernas estão cansadas e, e a posição, é lógico que se trabalha um pouco sentado, mas então vamos prevenir.
D
 O senhor acorda seis, seis e meia, o senhor acorda naturalmente ou o senhor precisa (sup.)
L
 (sup.) Não, não, não, não acordo naturalmente não. É despertador mesmo. Agora o problema é o seguinte: é que, chega no domingo, eu acordo cedo, né? Só se eu dormir bem tarde, então às vezes eu procuro dormir tarde para poder acordar mais tarde, sentir o prazer às vezes um pouquinho, de ficar na cama, é, porque não tem, não tem, minha mulher às vezes reclama: ah, mas ... Minha mulher também acorda, por força das circunstâncias ela acorda cedo, minhas filhas também acordam às seis horas, entram sete horas no colégio, então ela acorda cedo, então por força das circunstâncias, ela acordando cedo, habituou também a acordar cedo, e ela às vezes se revolta contra isso: poxa, nós não conseguimos nunca acordar tarde e tal. Só quando saímos, vamos com amigos às vezes a um teatro, depois vamos fazer uma ceia ou, ou tomar um chope, aí acho que dormindo mais tarde, aí sim, fica se um pouquinho mais, né? Mas via de regra eu, domingo, sete horas, no máximo, já estou acordado e não consigo mais.
D
 Agora uma, uma coisa, uma, um detalhe que me interessaria muito, o senhor podia descrever o seu relógio minuciosamente?
L
 Meu relógio?
D
 É. Todas as peças que compõem o seu relógio, porque os relógios
 não são todos iguais (sup.)
L
 (sup.) Não (sup.)
D
 (inint./sup.) o do senhor é diferente do meu, né? (sup.)
L
 (sup.) Bem, não, todo, quase todo relógio tem um mostrador, eh, os ponteiros minuto e segundo, ah, esse aqui marca a hora.
D
 O do senhor tem de segundo, o meu não tem (sup.)
L
 (sup.) Tem de se... Pois é, o meu tem de segundo, o ponteiro de minuto, segundo e hora, tem o mostrador de dia, não tem número, são, são, não tem número, relógio não tem número, são, vamos dizer, traços.
D
 Hum, hum.
L
 Bom, o relógio em si ou o, ou o conjunto, também a correia, também entra ou só o relógio? (sup.)
D
 (sup.) Também nos interessa.
L
 Correia de metal, eu acho que nada mais de especial nele.
D
 O senhor tem problema com eles, com ele?
L
 Não, não tenho tido problema não, com ele não. Isso foi um presente de um amigo, não tenho tido problema não.
D
 Esse relógio o senhor já tem há muito tempo?
L
 Já.
D
 O senhor já teve algum outro (inint./sup.)
L
 (sup.) Já, já. Tenho, tenho dois relógios, porque também de vez em quando essa correia costuma soltar, até eu preciso ver. E, mas, ele, eu gosto de mandar fazer limpeza, fazer a limpeza de vez em quando, então eu uso o outro relógio também, tenho dois relógios.
D
 O outro como é, igualzinho a esse?
L
 Não, o outro é diferente, o outro é, esse é prateado, o outro é dourado, é quadrado, esse é redondo, o outro é quadrado, a pulseira do outro é de couro e essa eu gosto mais. É esses dois relógios que eu tenho (sup.)
D
 (sup.) Também é assim com tracinhos?
L
 Não, eh, bom, agora são, não, tem número, tem quatro números se eu não me engano. Aliás, são quatro números e, se não me engano, eles, eu hoje, eles, olha, por acaso hoje, por acaso hoje mandei consertar. São quatro números, como eu disse, quatro números: o, o nove, o doze, o três, aliás (inint.) e o seis não tem, são três números.
D
 É, não tem o seis por quê? (sup.)
L
 (sup.) Mas não, não sei, não, não sei, isso o fabricante poderia informar melhor. (riso)
D
 (inint./sup.) é funcional (inint.) seis.
L
 Por causa dos segundos (sup.)
D
 (sup.) É.
L
 Por causa do, da, vamos dizer, ah, observar melhor o ponteiro dos segundos (inint./sup.)
D
 (sup.) Está bem em cima do seis.
L
 Bem em cima do seis. É quadrado, folheado, a marca é diferente (sup.)
D
 (sup.) O senhor mandou consertar, mandou consertar por quê?
L
 Porque ele caiu no chão, caiu no chão e quebrou. E o balanço, diz o homem lá que foi o balanço, não entendo de relojoaria, relógio, né, então ele disse que foi o balanço, mandei consertar até lá no INPS mesmo.
D
 Agora o seu, o senhor tem que aju... eh, ajustar todos os dias, o seu relógio?
L
 Não, não. Esse, esse funciona bem. Esse que estou com ele no pulso, aliás todos dois funcionam bem, todos dois funcionam bem. Não tenho, não há necessidade, assim todos os dias não. Às vezes passo uma semana, às vezes eu dou um ajuste, eu olho, mas todo, diariamente não, não há necessidade. Esse meu relógio (inint./sup.)
D
 (sup.) Porque alguns relógios as pessoas, a pessoa só tem simplesmente que botar no pulso, mais nada (sup.)
L
 (sup.) Esse, bom, bom, esse não é ... É, é o automático, né, esse não é automático, esse é de corda. Esse é de corda, mas ele com relação ao funcionamento dele não apresenta problema algum não.
D
 Os relógios assim pessoais sofreram uma evolução muito grande.
L
 Muito grande.
D
 Lembra como era antigamente?
L
 Lembro, lembro. O relógio, eh, eh, eh, tinham relógios redondinhos e ... Ó, eu me re... Bem, a minha mulher inclusive tinha, ela ainda tem uns relógios lá, que eu dei pra ela, eram bem menorezinhos e tinham, eu, eu não sei bem explicar não, porque esse relógio aqui ele já tem algum tempo, sabe, e é um relógio que simpatizei com ele, que me agrada. Agora tenho vontade de ter um outro tipo de relógio.
D
 Por exemplo, como?
L
 Um mais moderno, porque eu acho que é necessário, né? Eu acho que é necessário hoje a pessoa evoluir, então isso mostra alguma evolução, mostra, eh, o 'status` ... Você vê o automóvel. Meu automóvel agora ainda, eu tenho um Volks ainda, não é novo, mas como eu estou num investimento de apartamento maior, apartamento de três quartos ... Minha mulher: ah, três quartos, dois banheiros. Porque geralmente o problema do banheiro de manhã, né, então eu ainda não troquei meu carro. Mas acho que hoje, é como eu disse, faz parte do 'status`. Mede-se um pouco a pessoa pelo que tem e não pelo que é, pela aparência também. De maneira que o relógio é uma coisa também que dá outra aparência. Um relógio mais moderno dá outra aparência. E bom, e bom.
D
 Como seria assim um relógio mais moderno e bom?
L
 Olha, minha filha, eu tenho visto relógios bonitos aí, eu não, não posso assim medir assim o tipo de relógio de imediato: ah, é assim, é assim não. Tenho visto vários modelos que me agradam. Eu até acho que nem saberia comprar de imediato assim, entraria numa loja, ainda iria ver alguns tipos.
D
 O senhor conhece marca de relógio?
L
 Não, não sou ...
D
 Não se preocupa com a marca?
L
 Não, não me preocupo. Esse relógio que eu tenho aqui, esse que é bem mais antigo, Classic, que é um relógio popular, é um relógio popular, pra mim é excelente, pra mim é excelente, ele funciona otimamente bem. Agora não sei se ele é bom ou não. Pra mim, ele não me, não, não dá problema, não me traz problema algum. Agora, existem marcas famosas, Omega, Sigma, e agora tem uma porção delas, japonesas, então, aí (sup.)
D
 (sup.) Japoneses (sup.)
L
 (sup.) Japoneses. É descendente de japonês? (sup.)
D
 (sup.) Ah, va... Não. Por falar em japoneses, existem uns relógios agora, porque o seu, eh, não tem tracinho, mas os tracinhos simbolizam os números, não é? (sup.)
L
 (sup.) Hum, hum.
D
 O meu tem número mas é um número diferente, ó (inint.) veja! (sup.)
L
 (sup.) Hum. É.
D
 Né? É diferente o número dele (inint./sup.)
L
 (sup.) 'E por causa do algarismo romano (sup.)
D
 (sup.) É diferente dos números do seu.
L
 É. Um, arábico, outro, romano.
D
 Exato. Agora já reparou (sup.)
L
 (sup.) A senhora, a senhora força tudo pra ver, né? O arábico e o romano. (risos) Isso vai sair. (risos)
D
 (inint./sup.)
L
 (inint./sup.) eu já reparei que a senhora procura saber, aquilatar um pouco do conhecimento. (riso)
D
 Não, não é, não é saber o seu conhecimento, é saber qual é o seu vocabulário mesmo (sup.)
L
 (sup.) Ah, o meu vocabulário? Sim (sup.)
D
 (sup.) É, não é que, eu sei que o senhor sabe (inint./sup.)
L
 (sup.) Não, eu, não, eu, aliás eu, eh, eu me expressei mal. Não é de aquilatar o conhecimento (sup.)
D
 (sup.) Eu quero ver qual é a palavra exata que o senhor usa, entende? (sup.)
L
 (sup.) Ah, a palavra exata, é. É, esse algarismo nessa cor é diferente, é, esse número é diferente, é de várias ...
D
 Mas já reparou nos relógios que existem agora?
L
 Os digitais?
D
 É, como é esse, esse papo de relógio digital?
L
 Olha, eu (sup.)
D
 (sup.) Porque inclusive dá pra botar no braço, né? (sup.)
L
 (sup.) Hum, hum. Não tomei conhecimento ainda disso (sup.)
D
 (sup.) Tem uns de cabeceira (inint.) já viu?
L
 Não. Olha aqui, eu não reparei não. Eu, eu infe... infelizmente eu vivo pra trabalho, sabe, do trabalho para o trabalho. E eu saio do consultório, lá do INPS, venho pra aqui, saio, a única relojoaria que eu vejo é essa aqui da entrada.
D
 Tem uma importadora aí embaixo.
L
 Tem, tem, mas eu mal paro aí, porque eu sou desses que, eu, quando olho uma coisa, vou com... vou comprar, bom, saio pra comprar uma coisa, então vou numa loja e compro. Esse negócio de passar e ficar olhando, olhando e dizer: ah, algum dia ... Estou com vontade de comprar isso. Eu não, não, não, não é do meu feitio. Meu feitio é chegar e dizer assim: bom, quero comprar isso. Então eu saio e vou comprar aquilo. De maneira que, eu sei que aqui tem relojoaria, tem uma joalheria que tem relógio, mas nunca, eh, tive curiosidade de parar assim não ... Desculpe.
D
 Não, não se preocupe não (sup./inint.)
L
 (sup./inint.) mas eu nunca me, me preocupei em parar para olhar os relógios. Sempre que eu leio nos jornais, nos jornais eu vejo anúncio: relógios digitais. Mas não sei o que representa o relógio digital não, não tenho assim a idéia formada do que é relógio digital.
D
 Porque inclusive deve ser um problema. Nós todos estamos muito acostumados com esse tipo de relógio, né? (sup.)
L
 (sup.) Muito (sup.)
D
 (sup.) Com número ou, quando não tem número, tem traço.
L
 Tem traço, é.
D
 Mas, eh, de repente, você passar prum outro tipo que tem número também, mas o número, eh, é mostrado diferente, deve ser (sup.)
L
 (sup.) Aliás, espera aí, o digital é esse que mostra, é que tem o número, que mostra em, em vez de, em vez de estar (inint.) os números vão aparecendo? Esse que é o tipo digital, né? (sup.)
D
 (sup.) Isso (inint.) é, deve exigir um ajuste, né? (sup.)
L
 (sup.) Deve, deve (inint./sup.)
D
 (inint./sup.)
L
 (sup.) Eu acredito que exista, que deva existir sim, que haja necessidade de um ajuste (sup.)
D
 (sup.) Não é?
L
 Eu acredito que haja. Mas também não deve ser grande problema não, eh, eu acho que aquilo ali, eh, é um ajuste mental, visual, né, mas aquilo eu acho que rapidamente, quer dizer, a pessoa pode, eh, como é, como eu vou dizer, a pessoa pode, ah, como eu disse, eu sou inibido, sabe? (risos) Mas a minha mulher até achou graça: você vai falar? Eu digo: minha mulher, a cliente amiga pediu. (risos) E eu não, não, não sei me expressar, falta expressão assim, eu por exemplo estava falando com uma cliente, que saiu ainda há pouco, eu digo: vem uma moça fazer uma entrevista aí, mas eu não sei falar. Se me pedirem pra falar sobre o assunto mais bobo deste mundo eu, eu, eu paro, eu não falo.
D
 Ah, mas a gente está indo muito bem!
L
 Não, que bem nada, eu devo ir, devo estar indo pessimamente! (sup.)
D
 (inint./sup.) quando eu perguntei pro senhor, eh, os relógios de antigamente, há muitos anos atrás, os homens eram muito elegantes. Eu achava. A gente via fotografias do Rio antigo ...
L
 Os relógios (sup.)
D
 (sup.) Fim do século, é.
L
 Ah, mas os relógios de, de, com, com corrente?
D
 São muito alinhados estes relógios, não é?
L
 Eu não acho (sup.)
D
 (sup.) As pessoas, não é, não usavam o relógio (sup.)
L
 (sup.) Quer dizer (sup.)
D
 (sup.) Eh, no braço não (sup.)
L
 (sup.) Sim (sup.)
D
 (sup.) Usavam ...
L
 Mas isso também ... Isso é da época. Também a indumentária pedia. Hoje, o problema da indumentária, do vestuário do homem hoje não pede isso. O colete já não se usa mais, o bolso já não tem mais, as calças não têm mais bolso. É, eu passei a usar bolsinha, que eu não usava e detesto, mas porque minha mulher reclamava. Toda hora eu dizia assim: ah, (inint.) carrega esse documento, carrega isso, carrega aquilo. E minha mulher ia carregando. Então, um dia, ela zangou e disse: ah, eu não carrego mais nada! Era cigarro, tudo eu empurrava na bolsa dela, então ela me comprou a bolsinha. É o problema então desse relógio antigo, né? Agora antigo porque o vestuário também, eh, aparecia. Hoje, com essa roupa moderna, não pode mais usar aquele relógio, né, fica até meio pedante ou então querendo ficar diferente, né, aparecer mais, né, eu acho.
D
 Olha, o senhor tem um relógio aqui lindo (sup.)
L
 (sup.) Tenho (sup.)
D
 (sup.) Na sua parede (sup.)
L
 (sup.) Aliás nem dei corda, esse aí é de corda, não dei corda hoje porque não tive tempo. Hoje eu cheguei aqui a uma e pouco, comecei a trabalhar até agora, sem parar, quando a senhora chegou, não tive nem tempo ... Foi um dia hoje atarefadíssimo e, a, uma cliente ainda comentou sobre esse relógio, eu digo: é, vou dar corda. Mas entrou outra cliente e eu não tive tempo.
D
 Eu queria, porque eu digo assim, esse relógio é muito bonito, então depois quando a gente for ouvir a gravação, não vai adiantar muito, né? (sup.)
L
 (sup.) Hum, hum (sup.)
D
 (sup.) Porque a gente não está vendo o relógio. Então eu queria que o senhor descrevesse porque eu estou vendo que ele tem (sup.)
L
 (sup.) É em oito (sup.)
D
 (sup.) dois furinhos ali, então eu queria que o senhor descrevesse ele (sup.)
L
 (sup.) É esti... é estilo antigo.
D
 Hum.
L
 É estilo antigo em oito, né?
D
 Sim.
L
 Aquele relógio em oito com o pêndulo.
D
 Sim.
L
 E com os dois furinhos correspon... deveriam corresponder ao antigo, porque isso é imitação ao antigo, a, a um badalo, a um, a um som que ele deveria ter, os antigos e maiores, esse não, esse é um relógio imitando o antigo, mas (sup.)
D
 (sup.) Ah, eu, eu pensei que esses dois furos (sup.)
L
 (sup.) Não, não (sup.)
D
 (sup.) fossem pra dar corda, pra acertar (sup.)
L
 (sup.) A corda é aqui atrás.
D
 Ah!
L
 A corda é aqui atrás e pra acertar tem que abrir aqui e acerta-se aqui.
D
 Hum!
L
 Esse é mais, é um estilo antigo, mas que hoje é moda, né, o antigo hoje é moda e decorativo, isso tudo é minha mulher que sabe, porque eu não estou muito a par dessas coisas não. Minha mulher é que vem, é que mexe e decora e que compra essas coisas todas aí fora e (inint.) eu deixo tudo a cargo dela, minha mulher faz tudo.
D
 E na casa de vocês, vocês, eh, têm relógios de parede antigos? (sup.)
L
 (sup.) Não, não, não tenho, não tenho nenhum relógio de parede antigo assim não (inint.) relógio de mesinha de cabeceira (sup.)
D
 (sup./inint.) é muito bonito esse tipo de relógio, não acha não, relógio antigo? (sup.)
L
 (sup.) Eu acho, eu acho, eu, eu, eu, às vezes, eu não, não sou assim espírita, não, acredito que exista alguma coisa, mas, às vezes eu, parece que me transporto para uma outra época, eu acho que gostaria de viver em outra época. Quando eu vejo aqueles filmes antigos da década de, de trinta ou, ou antes um pouco, eu acho que devia ser mais gostoso viver naquela época do que hoje. Essa correria, essa afobação, essa angústia que existe atualmente, eu acho que isso acaba com o indivíduo, física e mentalmente, não se vive mais, pelo menos as famílias já não têm mais ... Eu escutei, não sei, a senhora é do Rio?
D
 Não, eu sou do norte.
L
 É do norte. Existiu aqui no Rio um homem, foi, se eu não me engano, foi da polícia (inint.) parece, se não me engano, coronel (inint.) até da, é do Maracanã. E ele foi um homem ar... arbitrário, mas então dando uma entrevista uma vez na televisão, ele disse uma coisa que eu acho que falta hoje, essas moças, pode ser que me contrariem, agora não, mas pode ser que por dentro elas achem que não, mas falta hoje é o centro da família, é o jantar, é o, como ele disse, o almoço ajantarado que existia antigamente.
D
 Almoço ajantarado, como é isso?
L
 Eu acho (inint.) era o almoço que no domingo fazia-se duas horas da tarde, pra não ter almoço depois, fazia um lanche, então é o aj... ajantarado: faz um ajantarado. Aí é um, é um linguajar muito bom pra pesquisa, né? (risos) É o, o ajantarado. Então a família reunia-se aos domingos naquele almoço, bem tarde, então eu acho essa época, ela era mais gostosa e a época, uma anterior ainda, eu acho, eu não peguei, mas eu acho que, pelos filmes, pelo que eu vejo, devia ser muito mais atraente, vivia-se mais, sentia-se mais a vida do que hoje, embora digam o contrário, que hoje sente-se mais a vida. A vida hoje, a pessoa nessa, eh, tem mais coisa pra viver, apresenta, a vida apresenta mais atrativos, não sei. Eu gostaria de ter uma vida mais calma do que eu tenho, não sei se é por isso que eu vivo numa lufa-lufa, um termo bom, lufa-lufa, (risos) ah, é, isso é um termo meio antigo já, eh, então nessa correria que eu vivo, eu acho que isso não é vida. Eu saio de casa seis e meia da manhã e chego sete e meia da noite. Sábado eu trabalho também de manhã. Eu venho trabalhar sábado de manhã.
D
 E o senhor não tem um, um período maior de descanso, não? (sup.)
L
 (sup.) Não (sup.)
D
 (sup.) É sempre assim? Sempre? (sup.)
L
 (sup.) Sempre. Tiro dez a quinze dias de férias por ano, só.
D
 E essas férias, o senhor tira sempre na, na mesma época ou (inint./sup.)
L
 (sup.) Mesma época, geralmente na mesma época. Esse ano até que nem tirei, porque com esse problema de apartamento e tal, não posso parar, porque o profissional liberal vive do seu trabalho. Ele parou de trabalhar, a renda diminui, a renda é, é a proporção de trabalho. De maneira que, eh, eu vivo essa vida agitada, não sei se é por essa razão que, quando eu vejo esses filmes antigos, ou então leio alguma coisa sobre antigamente, eu acho que seria uma vida mais, mais gostosa. Ainda me lembro do bonde, ainda sou do tempo do bonde. No tempo de colégio ainda era tempo de bonde. Ainda me lembro, antigamente pegava o bonde, era muito melhor do que esse ônibus. Hoje eu vou de automóvel, mas também, engarrafamento. De maneira que eu acho que a vida antigamente devia ser bem melhor.
D
 O senhor disse que, eh, tira sempre férias na mesma época. Em que época?
L
 Janeiro, janeiro, porque ...
D
 O senhor fica (inint.) no Rio (sup.)
L
 (sup.) Não, eu alugo uma casa lá em Lambari e é um grupo muito grande que vai todo ano e as minhas filhas adoram, né? Então é um grupo que às vezes sai de casa, lá de casa, às vezes, eh, à noite assim sai doze, treze moças e rapazes, garotos, meninas e tal, passeios a cavalo, doze cavalos, quer dizer, elas adoram isso, né? Então eu vou pra lá, que é um lugar calmo, tranqüilo, aí, sim, eu faço um pouco de 'relax`, de manhã ando de bicicleta, um banho de ducha, almoço, durmo e, de noite, bater papo. É (inint.) dez a quinze dias só, por ano. Então com isso ganhei uma úlcera também. Bem, se bem que é, é o meu biotipo, né, agitadinho, magrinho, nervoso, agitadinho, é o biotipo, de maneira que ... Mas a vida agitada dessa, eu acho horrorosa essa vida!
D
 Olha, eu tinha curiosidade de saber se os, os profissionais, profissionais (inint.) da justiça (inint.), advogado, se ocorre muito um fenômeno que ocorre por exemplo com o comércio, que não é um problema de dinheiro (sup.)
L
 (sup.) É, eu sei.
D
 É um problema de época.
L
 Época.
D
 (inint.) do comércio (inint.) há determinadas épocas que são mais propícias.
L
 Também, também.
D
 Quero saber se para os profissionais (sup.)
L
 (sup.) Também, também. Bom, eu posso responder assim pela medicina e odontologia. Já direito, eu não, eu não entro nessa área (sup.)
D
 (sup./inint.) na sua área (sup./inint.)
L
 (sup.) É. É uma área bem diferente da minha, né? Mas dentro da odontologia e da medicina, também um pouquinho, pelo que eu escuto, alguns amigos, que eu trabalho em meio médico, em ambulatório, época de por exemplo, eh, dezembro, janeiro, são épocas em que cai muito o movimento em consultório, porque dezembro vem época de festas, muita gente: ah, ó, doutor, eu venho mais tarde. Ainda mais odontologia, que não é, às vezes não é problema imediato, é problema mediato. Já a medicina, não, tem problemas imediatos: uma crise de apêndice, um, um problema de parto, uma cirurgia de urgência, isso é problema imediato e (inint.) mas em geral, eu já converso com amigos que, inclusive donos de casa de saúde, em janeiro o movimento é bem menor. E aqui também, por essa razão é que eu tiro mais em janeiro.
D
 E o senhor por acaso alguma vez se preocupou em perceber se, se há algum, se coincide de haver algum, algum momento, alguma época em que a procura é maior por parte dos clientes?
L
 Não, eu, eu, bom, eu, para dizer francamente, eu tenho tido sempre, todos os meses, eu tenho, tem, tem muito trabalho todos os meses, eu tenho tido todos os meses, mesmo em época de janeiro, esse ano em janeiro, ano passado eu tirei férias, mas me surpreendeu, janeiro e esse ano também. Agora quando é essa época de carnaval é que cai também um pouco. Janeiro e, depois, quando é nas proximidades do carnaval. Nas proximidades do carnaval é, é geral, né, em todo ... É o tal negócio, os problemas imediatos aparecem, os mediatos ficam pra depois. Mas eu não, eu e alguns colegas têm comentado, eu não tenho sentido muito assim janeiro não, mas cai um pouco sim, e dezembro também. Agora no meio do ano é sempre o movimento normal, pelo menos comigo, né? (sup.)
D
 (sup.) Sim. O Rio de Janeiro é uma cidade que, no, no verão, ela fica mais ou menos insuportável, né?
L
 É, mas eu gosto.
D
 Agora, lembra de uma, acho que já acabou isso, houve um, houve uma, um tempo em que, no verão, eh, o horário oficial era modificado (sup.)
L
 (sup.) Era modificado, sim. Me lembro disso.
D
 O senhor seguia isso?
L
 Seguia, porque era necessário (sup.)
D
 (sup.) Mesmo na sua clínica particular?
L
 Seguia. Seguia, porque era o, era o horário normal, oficial, né? Era o nor... o, o, o horário oficial, tinha que ser seguido por todos, né?
D
 Porque inclusive a gente sente uma diferença (sup.)
L
 (sup.) Ah, sente (sup.)
D
 (sup.) do inverno pro verão, não é? (sup.)
L
 (sup.) Sente, sente uma dife... Ah, muita, muita diferença. A gente sai no inverno, no verão, sai daqui seis e meia às vezes chega em casa ainda com o sol, vendo aquela lagoa bonita, aquele ambiente, aquela paisagem bonita, agradável, até aos olhos, aquilo é repousante. Já no inverno não. Eu chego também, às vezes por exemplo segunda-feira, é dia de Jóquei Clube, tem o Jóquei à noite, então a lagoa fica bem iluminada, que a iluminação do Jóquei é muito grande.
D
 Mas segunda-feira o Jóquei (inint./sup.)
L
 (sup.) À noite, à noite tem. Então à noite tem corridas. Então você chega, quando sai do túnel que desemboca na Lagoa, ainda acha um espetáculo bonito. Agora, o verão é mais gostoso. E dá a sens... e me dá a sensação de que eu cheguei mais cedo em casa, né, a sensação é essa: bom, hoje estou chegando mais cedo. Porque eu vibro, eu sinto quando eu chego mais cedo em casa. Ah! Parece, é psicológico, é puramente psicológico, parece que eu trabalhei menos, que eu estou menos cansado. E não é, às vezes não é, como no verão, eu chego no mesmo horário, mas a mim, a impressão que dá é que eu trabalhei, que eu estou menos cansado, porque eu trabalhei menos: não, eu cheguei mais cedo hoje. Puramente psicológico, mas traz um bem-estar, e eu gosto do verão, né? Gosto das noites de verão, que as noites, são noites mais agradáveis, que eu gosto da noite, infelizmente não posso fazer vida noturna, adoro a vida noturna. Se eu pudesse, trabalhava à noite e dormia de dia, adoro, mas não posso, por força da profissão, como eu disse, acordo seis horas da manhã, tenho família, tenho que me, me resguardar um pouco, mas acho, o verão, pra mim, tem essa, essa vantagem, se pode fazer uma vida noturna mais agradável, né, fica mais gostosa a noite, né?
D
 O senhor, o senhor tinha uma, uma atividade, atividade não profissional (inint.) divertimento noturno, antes de, de o senhor começar a trabalhar (inint./sup.)
L
 (sup.) Ah, tinha! Ah, tinha minhas serenatas!
D
 Serenatas?
L
 Oh, tinha minhas serenatas!
D
 Como é, conte essa história de serenatas.
L
 Ah, eu, serenatas, eu sempre, eu tinha um grupo de amigos, inclusive, aquele que já morreu, que fazia o Amigo da Onça, o P., também fazia parte do grupo, e depois que eu vinha da casa da namorada, da noiva, nós íamos então fazer serenata, não, não diariamente, né, não diariamente, mas tinha muitas vezes. Nós fazíamos serenata até duas, três da manhã, saíamos cantando na praça, ficávamos até três, quatro horas da manhã, ou então ia com amigos ao cinema, depois ia, ia dançar um pouquinho, ou ficava conversando mesmo, até tarde, porque era gostoso aquilo. Eu adoro, adoro a noite. Acho a noite uma delícia. Para tudo (sup.)
D
 (sup.) O senhor disse que vinha, vinha da casa da namorada, quando o se... o senhor namorava, eh, o senhor tinha, tinha um horário estipulado pela família da namorada? Porque isso era comum antigamente, né? (sup.)
L
 (sup.) É, não, não a ... Não, eu, eu não tinha horário estipulado pela família não, porque a minha senhora, ela veio de São Paulo e foi morar com a família, uma das descendentes de Vital Brasil, uma das filhas do doutor Vital Brasil. Então ela, a família dela ficou em São Paulo e ela ficou aqui, porque havia uma senhora, era doente, ela fazia uma dama de companhia, né? Quer dizer, não havia mãe assim pra tomar conta não. Mas nunca exagerávamos não. Eram dez e meia, dez horas, é a hora que eu ia-me embora. Aí eu encontrava com o resto do grupo também dos amigos que nessa hora deixava suas namoradinhas, suas noivas e tal, e eu, então íamos conversar, e ia outro grupo, ia fazer serenata às vezes.
D
 E vocês se viam todos os dias, o senhor e a sua mulher?
L
 Olha, eu, quase sempre, sabe, quase sempre, quase sempre. Não era, va... não posso dizer diariamente não. Mas, muitas vezes durante a semana. Diariamente não chegava, mas muitas vezes durante a semana. Até às segundas-feiras às vezes porque era um dia, né, morto pra todo mundo, às vezes nós nos encontrávamos, às vezes não, não havia assim dias certos pra namorar: ah, vou terça, quinta e sábado. Não. Inclusive, ela trabalhava, depois de noiva, quando era noiva, ela já trabalhava, como eu já disse, ela fez o curso de enfermagem, tinha, às vezes ela tinha que trabalhar, tinha que acordar cedo, outras vezes tinha plantão, então nós não, não, não, nós não nos encontrávamos. Às vezes até domingo mesmo eu ia buscá-la à tarde, que ela estava trabalhando. Mas era uma época boa.
D
 O senhor fazia serenata pra ela também?
L
 Não, pra ela nunca fiz.
D
 Ah, não?
L
 Não, porque o meu grupo era daqui, ela morava no Flamengo e eu morava na Tijuca, então eu vinha pra aqui, fazer na Tijuca. Serenata era, saíamos por aí, mas nunca fiz serenata pra ela, e ela morava em edifício, sexto andar, daqui que a minha voz chegasse ao sexto andar, (risos) sabe, precisava ter uma potência muito grande, né? (sup.)
D
 (sup.) A sua mulher (inint./sup.)
L
 (sup.) E eu não era nenhum Giles, né (risos), não era nem o Giles, nem o Di Steffano, pra falar, pra ter uma potência de voz dessa. De maneira que pra ela eu nunca fiz serenata não. Fiz música pra ela, mas serenata não.
D
 Ah, o senhor fazia música também?
L
 Não, eu não fazia. Eu fiz pra ela porque, eh, sempre ... Ó, ela, sempre gostei dela, desde o primeiro dia e até hoje e, de maneira que, quando eu vi, eu fiz a música. Conheci em Lambari, vim-me embora e quando vim embora, fiz a música durante a viagem.
D

  Está bom.