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PROJETO NURC-RJ

DIÁLOGOS ENTRE INFORMANTE E DOCUMENTADOR (DID):

Tema: "Meteorologia"
Inquérito 0021
Locutor 0023 - Sexo feminino, 32 anos de idade, pais não-cariocas, publicitária. Zona residencial: Sul
Data do registro: 23 de novembro de 1971
Duração: 46 minutos


Som Clique aqui e ouça a narração do texto


LOC. -  Pode ser. Começa que a gente sai de casa se molhando. Depois as dificuldades que encontra pra se chegar nos lugares é assim irritante. Ho... eu, pelo menos hoje levei quase duas horas pra chegar no trabalho. Cheguei irritada, com um péssimo humor, né, e aí começou a complicar tudo. Quer dizer, então, a saída, o começo de um dia chuvoso, como hoje, não só assim já te deixa desanimada pelo aspecto dele, não é, como também te acarreta uma série de outras reações que, isso, vão se acumulando e chega o final do dia assim deu tudo errado (riso). Eu acho que realmente um, um dia como o de hoje, nublado, feio, molhado é o, aquele dia que a gente nunca quer, entende? Nunca, nunca espera acordar e olhar na janela. Pra mim pelo menos.
DOC. -  O que é o contrário de um dia nublado?
LOC. -  Um dia cheio de sol, de luz, alegre, que hoje inclusive o dia está triste, não é? Bom, depende também, há quem consiga, não sei se há quem consiga ver num dia como hoje, vamos dizer assim, um, sentir assim um, um, algum estímulo assim, no, no, que o tempo possa te fornecer, porque o tempo fornece, tem condições assim de fazer, mudar, vamos dizer, até o estado de espírito das pessoas. Um dia alegre, cheio de sol, bonito, você mais facilmente pode realizar coisas, como também se sentir melhor. Então acho que é decisivo assim, dep... Não sei se é pelo meu temperamento ou se essa influência assim as outras pessoas também ... Acredito que sim, porque hoje pelo menos eu vi que estava todo mundo, quer dizer, molhado, entende, sujo, quer dizer, enfim, até esteticamente é uma coisa assim desagradável, num dia chuvoso e feio como o de hoje. Então eu acho que o dia, o contrário de hoje que seria o dia cheio de luz, de sol, é bem mais agradável. (riso)
DOC. -  Você falou em caráter nublado do dia chuvoso.
LOC. -  Hum.
DOC. -  Você podia falar sobre ...
LOC. -  Cinza, né, nu... nu... nublado é sen... sensação assim de, da coisa ... O cinza, o cinza já, por si só, eh, o dia, quando não sei se, quando a gente olha pro céu num dia como hoje, ele está cinza. E o cinza é uma cor assim neutra, mas é uma cor triste. Então, não sei se é, é esse tipo de coisa que você queria que eu falasse, mas é a sensação assim que ...
DOC. -  É. É uma descrição do céu.
LOC. -  Do céu.
DOC. -  Em diferentes oportunidades, por exemplo (sup.)
LOC. -  (sup.) Hum (sup.)
DOC. -  Num dia chuvoso e em outros dias, como se apresenta? (sup.)
LOC. -  Ele é, ele é cinza. E o cinza pra mim é uma cor triste e austera, assim uma cor, eh, mui... meio indefinida assim, não, sabe, assim meia ... Quer dizer, não, não é uma cor que me agrade o cinza, se bem que, que eu acho que, não se tratando assim de, de tempo, se fosse uma questão de, de moda, de você se vestir, assim, vestuário, seria até assim, poderia até ser muito chique, muito alinhado, entende? Mas tratando-se do tempo, você ver o tempo cinza é prenúncio assim, uhn, uhn, dum dia desa... chato, desagradável.
DOC. -  Como é que se apresenta o céu, quando não está nublado?
LOC. -  Bom, quando não está nublado, quando ele está realmente assim muito claro, muito límpido, a gente tem até a sensação assim que está vendo mais do céu. E o cinza é quase que uma barreira que te tapa a visão, vamos dizer, do céu, você não ... Barra a sua imaginação até. Você não vê, quer dizer, é como se fosse assim uma, uma camada, entende, intermedi... que te impedisse de ver o céu, entende? E já com o dia assim, vamos dizer, límpido, um dia azul, ah, claro, é transparente, você, entende, você vai muito mais longe, olhando pro céu. E vo... num, num dia assim, num dia como hoje nublado assim você pára, é uma barreira, você pára ali na, no, vamos dizer, na nuvem, na, nas con... na con... nas condições atmosféricas, aquela camada assim que realmente é intermediária e que te impede de, de ver o que está além.
DOC. -  Mas pode haver nuvem num dia claro?
LOC. -  Pode.
DOC. -  Como é que elas são?
LOC. -  As que eu vejo, as que eu me lembro no momento são brancas. São nuvens brancas que às vezes atrapalham o sol da gente na praia, mas, mas são bonitas porque inclusive elas formam assim, se você quiser se, se distrair, não tiver outra coisa que te prenda a atenção, você pode inclusive ficar olhando pras nuvens e elas te oferecem assim um espetáculo muito variado. Porque elas formam figuras, elas dançam, elas se juntam, elas, enfim, mudam e eu acho que a nuvem é assim um, um elemento assim essa nuvem que eu estou falando, que no dia azul, o céu azul, é uma nuvem agradável.
DOC. -  Mas as nuvens são sempre brancas?
LOC. -  Não. (riso) Lógico que não. Não, mas ...
DOC. -  Você disse que elas são cinzentas num dia de chuva, né? Mas fora as brancas e cinzentas?
LOC. -  Elas podem ser até quase pretas, vamos dizer, cinza-chumbo. Numa, eh, vamos dizer assim, na formação de uma tempestade, elas são assim terríveis, são carregadas, elas chegam a ser quase negras e, e metem até medo, apavoram, quer dizer, porque a gente sabe que depois dali provavelmente vem um temporal, vem um raio e mil coisas podem acontecer, entende? Então há realmente uma variedade assim imensa de, de, de nuvem, (riso) dependendo das condições, evidentemente, atmosférica.
DOC. -  Você falou em temporal, né?
LOC. -  Hum, hum.
DOC. -  Tempestade também.
LOC. -  É.
DOC. -  Raio. Qual é a diferença entre isso e um simples dia chuvoso como o de hoje? Você tem alguma lembrança da sua infância que você pudesse descrever, nesses termos? (sup.)
LOC. -  (sup.) Temporal? Raio? Tenho sim. Tenho porque eu tenho uma irmã que, mais velha que eu, que era dentuça. E, lá em casa, não sei como, eu me lembro assim muito por alto, mas ela fo... eu me lembro dela correr pra debaixo da mesa com medo do raio, não sei se foi mamãe ou alguma empregada, enfim, alguém disse a ela, que ela usava aparelho, que o aparelho atraía o raio. E então ela pra isolar, pra ela ficar isolada, protegida do raio, ela se metia debaixo da mesa. Isso realmente é uma lembrança que eu tenho assim de temporal. Outra também que eu tenho, em fazenda, não praticamente fazenda, mas era uma chácara que nós tínhamos, temporal muito forte, minha mãe queimar aquela palma santa, tem um nome, eu não, aquela que dão na igreja, aquela, é palma santa mesmo, pra, enfim, diminuir assim, pra passar o, o temporal. E, não sei se por coincidência, realmente pa... depois que queimava a palma de não sei, benta, o temporal parecia assim que, que tinha diminuído. De temporal que eu me lembro assim, da infância, são os fa... dois fa... fatos assim mais marcantes são esses. Agora, fora esse de temporal, eu correndo, pra me abrigar em algum lugar, caso eu não ... Temporal me ... Eu acho que todo mundo já foi surpreendido por um temporal no meio da rua. Então a primeira coisa que a pessoa faz é correr. E eu tenho uma certa superstição. Apesar de morar na cidade eu procuro não ficar debaixo das árvores. (riso) Eu procuro sempre assim correr pra debaixo de uma marquise, enfim, uma coisa que todo mundo faz, porque é instintivo, todo mundo corre. E é pra se proteger.
DOC. -  Tem medo de temporal?
LOC. -  Não. Medo não. Eu acho ... Medo, medo, medo propriamente não. Eu tenho é um, eh, eh, vamos dizer assim, é um, eh, necessidade assim de fugir do temporal porque não quero me molhar, não, não ... Realmente a, a chuva é mais forte e mais violenta, então se eu não estou dentro de casa ... Dentro de casa eu acho até bonito. Várias vezes eu fiquei olhando até pela janela o temporal, eu acho uma coisa bonita, acho uma, uma força, eu acho assim, uma coisa assim, né, chega até a impressionar pela, pela violência. Isso dentro de casa, agora eu na rua não acho graça nenhuma. Porque eu vou ficar molhada que nem um pinto, vou, vou chegar em casa encharcada e, enfim, vai atrapalhar em mil coisas. (riso) Mas dentro de casa não.
DOC. -  Você falou em raio, há mais alguma coisa ligada a temporal?
LOC. -  Ligada a temporal? Eh, trovoada, né? Prime... antes do raio ... Não. Espera aí, agora que ... É. Antes do raio, evidentemente, a trovoada, depois ... Não, o contrário. (riso) Primeiro o raio, depois a trovoada. É, porque quando a gente escuta o barulho é que o raio já caiu, não é isso? E eu me lembro que em criança eu tinha medo da trovoada e não do raio, porque realmente eu não tinha essa noção de que, quando vinha a trovoada, o estrondo, aquela coisa toda, o raio já tinha caído, eu não tinha que ter medo coisíssima nenhuma. Mas tem assim tem o raio, depois, em seguida o barulho, que é a trovoada.
DOC. -  O que que você acha do tempo no Rio?
LOC. -  Tempo?
DOC. -  No Rio de Janeiro.
LOC. -  Eu, como aprendi a gostar de novo do Rio, porque eu andei um tempo que eu esqueci o que era o Rio, eu aprendi ... Hoje, apesar do calor que realmente é uma das coisas assim desagradabilíssimas no verão, a maior parte, que nós temos quatro, cinco meses, sei lá, calor infernal, eu acho que, que o tempo no Rio, seja ele qual for, é sempre melhor do que em qualquer outro lugar. Eu acho que, talvez porque eu tenha aprendido a gostar da cidade de novo, então realmente, eu, eh, por exemplo, eu acho, eu suporto muito mais um dia como hoje no Rio do que um dia como hoje em São Paulo.
DOC. -  Por quê?
LOC. -  Bem, talvez seja por isso, porque eu aprendi a, a gostar do Rio, eu acostumei com o Rio, eu acho que o Rio tem elementos sufici... Mesmo com chuva se você dá uma volta pela praia, a praia está bonita com chuva. É um outro cenário que você tem da praia, ela está deserta, o mar está, enfim, escuro, é um outro quadro que você tem da praia, mas te proporciona inclusive essa variedade de cenários que noutra, nas outras cidades a gente não tem e o Rio tem.
DOC. -  Então a diferença estaria no cenário e não propriamente no tempo?
LOC. -  Sim. Mas no tempo ... Ah, sim, a diferença (sup.)
DOC. -  (sup.) O verão no Rio é o mesmo de São Paulo? Qual é a diferença?
LOC. -  Não. Evidente que no Rio, eh, é muito mais agradável, porque você tem pra onde correr. Em São Paulo por maior conforto você tenha, você tem que, eh, mesmo que seja uma, tenha uma piscina dentro de casa, não é a mesma coisa do que você passar um dia e ficar ali numa praia. Então eu acho que isso é, eu acho que a praia é assim da maior importância na vida do carioca, da, da cidade e do, do, das pessoas que, que vivem nela. Eu acho que inclusive é uma válvula de escape, é uma coisa da maior importância. Eu acho. Pra mim pelo menos é.
DOC. -  E, mas fora esse aspecto de cenário há, no verão mesmo, alguma diferença entre o Rio e São Paulo?
LOC. -  Há. Porque no Rio há sempre, vamos dizer assim, uma vira... não sei se é bem, é viração. E em São Paulo, eh, na capital, foi onde eu vivi, é a cidade de concreto, maciça. Então ali, vamos dizer, o calor fica concentrado, as, as pessoas se sentem mais sufocadas, pelo menos era o que eu sentia quando estava lá. Faz muito calor. Ah, inclusive a gente tem sensação que sente mais calor do que no Rio. Porque realmente é ... Ele fica, vamos dizer, concentrado mesmo, eh, né, no asfalto, no, no, no, no cimento, enfim é um, não tem, você não tem como, eh, aliviar. Se bem que, que o termômetro marque temperatura menor em São Paulo e muito maior no Rio. No Rio é quarenta graus. São Paulo você sente, o termômetro está marcando, vamos dizer, trinta e dois graus, você está morrendo. Está no ma... está morrendo mais lá do que aqui com quarenta. É a sensação que eu sempre senti. O verão em São Paulo é detestável. E no Rio não, no Rio é agradável, apesar dos quarenta graus.
DOC. -  Mas há um outro aspecto em que, quanto ao tempo, São Paulo é, é bem mais diferente do Rio. O que é?
LOC. -  Bem mais diferente? Bem mais frio (sup.)
DOC. -  (sup.) Sim (sup.)
LOC. -  (sup.) Ele é bem mais frio. E há, vamos dizer assim, talvez, se bem que a gente não tem assim estações bem marcadas, mas em São Paulo o maior tempo é de frio mesmo, né? O verão lá, o calor, são poucos meses. Aqui não, já é ao contrário. Já é o inverso. Aqui a gente tem sempre mais calor do que frio. São duas cidades realmente em condições assim de tempo, a gente pode até dizer que são opostas. Porque realmente não ... Vamos dizer, uma é praticamente o ano todo fria e a outra o ano todo quente. Porque o, o que se tem de, de inverno no Rio é piada, né? A gente faz aquela força pra, pra sentir frio, não é? Em São Paulo não, em São Paulo a gente bate o queixo mesmo.
DOC. -  Há alguma relação entre frio e chuva?
LOC. -  Há. Há relação porque geralmente quando chove esfria. Se bem que uma coisa não tenha nada a ver com outra, pode chover num dia de, quentíssimo. E aquele e aquela chuva até aumentar o calor porque aí depois há, vamos dizer assim, a evaporação, não é, e, e aí fica abafadíssimo. A chuva não adiantou de nada, seca na hora e, e aumentou o calor porque aí há evaporação e, e, fica mais quente ainda. Mas quando a gente fala em chuva, eu acho que é quase que sintomático assim a gente sempre pensa em frio, porque ... Se bem que nesse exemplo que eu dei e... exista mais o fri... a chuva é sempre, vamos dizer, a água, vamos dizer assim, sempre esfria alguma coisa e no caso ...
DOC. -  Por que será?
LOC. -  Por que será?
DOC. -  Hum. Que elemento há na água que relaciona a água com o frio?
LOC. -  Bom, a água, quando ela não é esquentada, ela é fria, não é? Naturalmente ela é fria. Se não se usa o, os inventos, fo... o fogo, e ... Não, inventos não, mas, vamos dizer, se não se utiliza o fogo ou então de, inventos, gás e outras co... entende, eh, pra esquentar água, ah, ela, ela normalmente é fria, então daí a ligação talvez de que a ...
DOC. -  É um fato de temperatura só?
LOC. -  Temperatura? Eh, da água ser fria?
DOC. -  Hum. A relação (inint.) com o frio é só da temperatura normal da água.
LOC. -  Bom, eu não conheço água quente, sem, sem ser esquentada por outros, vamos dizer, outros, por outras maneiras. Pode ser que exista alguma fonte quente, eu não conheço. Talvez, vamos dizer, ah, ah, ela quando vem da chuva, é que houve uma, uma mudança atmosférica, então, precipitou, né? Ela se transforma em água e ela cai fria. Quando ela vem do rio normalmente é fria também. Tanto leito de pedra como de barro, eu nun... nunca vi água (riso) de rio quente. E mar. Mar também, eu sempre vi a água do mar fria, quer dizer, há ocasiões que elas estã... ela, que ela está mais quente, mas aí é devido ao contraste. Por exemplo, num dia menos quente, se você entra na água, a água está mais quente. Agora num dia muito quente, num verão muito forte, a água está gelada, mas aí evidentemente porque o seu corpo está na, está quente e, e há o, o choque. Então a água, não sei talvez por correntezas, aí depende de uma série de coisas, ela está mais fria. Mas também há esse, há essa possibilidade, eu não sei se é isso, mas estou falando apenas por falar. (riso)
DOC. -  É, é isso também. Eu formulei mal a questão (sup.)
LOC. -  (sup.) Eu não sei, ah, o que que ... Não ... Talvez eu não tenha pegado bem o que que você me perguntou.
DOC. -  É, mas depois você vai chegar aonde que eu quero.
LOC. -  Ham, ham.
DOC. -  Eu queria te perguntar a respeito da chuva em São Paulo.
LOC. -  Peguei temporais horríveis. Quando eu morei lá, eu ... No verão sempre chove muito. E nessa época eu trabalhava e era um inferno porque aí não tem condução, não tem nada, desaparece tudo, alaga. Então a chuva em São Paulo é horrível. Como eu detesto chuva, então eu acho a chuva, tanto em São Paulo como no Rio, horrível. Por exemplo, hoje está, está, não é um temporal, não houve temporal, é uma chuvinha chata, miúda, impertinente, não adianta usar guarda-chuva porque ela vem de todos os lados, quer dizer, te molha mesmo e, e eu detesto.
DOC. -  Essa chuva impertinente existe também em São Paulo?
LOC. -  Existe em forma de garoa, né? Sempre.
DOC. -  Como é que é a garoa?
LOC. -  A garoa, a garoa é aquela ... Não é chuva, é aquela, eh, a garoa não chega a ser chuva porque ela não forma pingos, ela é quase assim como se fosse uma ... Garoa, deixa eu ver bem a garoa ... Como se fosse ... É, não ... É, é uma chuvinha muito miúda, muito miúda, que, que também é fria, que é, que te molha mesmo todo e não adianta. Agora a garoa já foi cantada em prosa e verso, há quem ache graça na garoa, não é? E que tenha tirado da garoa o máximo. Coisas lindas já se falou. Os, os ... E inclusive os paulistas, daque... até vendem a garoa. Eles, é, é assim, vamos dizer, é um motivo de promoção pra São Paulo, a terra da garoa, pra eles. (riso) Agora, pro carioca não, o carioca acha graça, assim como uma curiosidade como ... Nunca viu a neve, um dia vai e vê a neve e, e, e, e acha formidável, mas não, não, a, a neve não é o seu, o elemento, como não é, a garoa não é o elemento do carioca. Então ele não, ele pode, pode achar curioso se ele nunca viu, se ele vê a garoa pela primeira vez, ele acha curioso: puxa, garoa é isso e tal e coisa. Mas fica por aí. Já o paulista não, o paulista ele deve até gostar da garoa, ele ... Há literatura sobre a garoa, há, há mil coisas, eles, e o paulista, e o paulista inclusive ... São Paulo é conhecido como a terra da garoa, né? Então já serviu até como promoção da cidade.
DOC. -  Agora, além de chuva, sob diversas formas, de garoa, etc. há outras formas de água que cai do céu que a gente (inint.)
LOC. -  Água?
DOC. -  Sim. Alguma coisa que contém água que cai do céu.
LOC. -  Neve, né?
DOC. -  Neve é uma.
LOC. -  Neve. O que é mais? Neve, que infelizmente nunca vi.
DOC. -  O que que a neve evoca pra você?
LOC. -  Pra quem não conhece, no meu caso, é assim meio infantil, meio pueril, mas é o tal negócio, é ... Evoca assim época de natal, né, porque eu sempre, os cartões de natal, papai Noel aquela coisa toda, quer dizer, a imagem que ficou desde criança pra mim de neve. Fora isso evidentemente depois com o tempo, a von... a vontade de poder esquiar, de poder pe... fazer bola de neve, de poder fazer boneco de neve, enfim, coisas que a gente vê que outras pessoas já fizeram e tem vontade de fazer um dia, que eu não fiz ainda mas (riso) espero fazer. E sentir a sensação da neve, por exemplo, sentir como é a neve, que eu realmente não sei, como dizer, fi... fisicamente a neve, como ela é. Eu desconheço, porque eu nunca tive oportunidade de, de pegar na neve, saber como ela é. A não ser por filme, cartão postal e só. E o relato de pessoas que, que contam as coisas que já fizeram na neve. Então realmente juntando isso tudo, a gente vai criando uma imagem da neve, não é, que eu não sei se é a verdadeira, que não deve ser, talvez esteja perto de ser a verdadeira, mas eu realmente não, eu desconheço, eu não, não senti ainda a neve.
DOC. -  Você já esteve no interior.
LOC. -  Já.
DOC. -  E quando a gente acorda de manhã no interior e olha a relva, às vezes a gente (sup.)
LOC. -  (sup.) Orvalho? Orvalho?
DOC. -  O que que é o orvalho?
LOC. -  O orvalho é, o orvalho é, vamos dizer, a noite é fria.
DOC. -  Sim.
LOC. -  E o dia, com a che... vamos dizer, com, com a chegada, vamos dizer, do dia, evidentemente chega o, o sol. Então, deve ser ... Eu inclusive, esses conhecimentos todos assim, entende, vamos dizer, assim de, eu não tenho, mas é va... é o que eu calculo que seja. A noite sendo fria e com a chegada do dia, vindo o calor, normalmente vem o sol, vem a luz e a luz é calor, há uma diferença atmosférica. Então evidentemente, eh, amanhece, vamos dizer, molhado, a grama ou o campo e, e, por causa dessa, dessa, mudança de temperatura, da noite pro dia. Acredito que seja isso, não sei.
DOC. -  Você falou na chuva, nos inconvenientes dela. Como é que as pessoas se, se protegem contra a chuva, assim em geral? (sup.)
LOC. -  (sup.) Bom (sup.)
DOC. -  (sup.) Como se vestem pra enfrentar a chuva? (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Normalmente usam guarda-chuva, capa, há quem ponha lenço. O sapato a gente sempre escolhe o pior, porque sabe que vai estragar mesmo, então a gente pega o pior sapato, aquele assim mais surrado, que é pra molhar mesmo, e geralmente, eh, é muito difícil (riso) num dia de chuva, a não ser quem seja realmente muito elegante, estar bem vestida num dia de chuva. Porque a gente procura sempre pôr assim, vamos dizer, o mais velho, o mais surrado, pra enfrentar a chuva, porque sabe que vai estragar mesmo, porque chuva estraga, molha, então é o, o comum, não é? A maioria das pessoas fazem isso. Eu pelo menos faço. (riso)
DOC. -  E pra se proteger do frio?
LOC. -  Bom, proteger do frio, primeiro você procura um agasalho.
DOC. -  Tipos.
LOC. -  Ah, uma infinidade de agasalhos, não é, uhn, casaco, paletó, um suéter, enfim, sei lá, um suéter, sei lá, calça comprida, meias, enfim, luvas e, e gorro, no caso, (riso) touca, (riso) uma porção de coisas. Acende-se lareira se se tem lareira e há os que tomam sua cachaça, né, que, que é o, o cobertor de muita gente, né? É a cachaça, a pingazinha, que aquece mesmo. E quem pode toma seu uísque ou toma outras coisas também pra se aquecer. Hum?
DOC. -  Agora para se aquecer só há essas formas que nós conhecemos no Brasil? Por exemplo, lareira (sup./inint.)
LOC. -  É, lareira, lareira no, no Rio eu não conheço nenhuma, não conheço casa nenhuma que tenha, a não ser assim uma lareira decorativa mesmo, porque não tem função. Já em São Paulo não, São Paulo, muitas casas usam inclusive a lareira. E outros estados, outras cidades mais frias do que São Paulo fazem uso da lareira. Aquecedor. O que é mais? Há quem ponha dentro de casa animais pra, pra, pra se proteger do frio, por, vamos dizer assim, em fazenda, gente mais pobre, sem recurso, evidentemente o frio quando é rigoroso, entra vaca, entra carneiro, entra cabrito, fica todo mundo junto, evidentemente, porque inclusive ali ... (riso) Há o jornal pra forrar a cama de muitos, vamos dizer, a maior parte do, do brasileiro forra a cama com jornal ou papel, se não, se não tem jornal, papel, dorme todo mundo junto, quer dizer, eh, depende, entende? Vamos dizer, dentro das suas condições sociais, dos seus recursos, o que você tem no momento pra utilizar, pra fazer uso daquilo, depende, isso aí ... Mas há mil maneiras, há mil maneiras que são utilizadas pra se aquecer, se aquecer, não é?
DOC. -  Você falou em tempestade, temporais, eh, no Brasil. Agora há associadas a esses elementos atmosféricos outras coisas em outros países, que não existe no Brasil, ham?
LOC. -  Há terremotos, não é? Vam... ah, não. Atmosféricos que você está falando, está falando, é ... Atmosférica, que eu conheça, que não há no Brasil?
DOC. -  Hum.
LOC. -  Bom, já falei da neve, né?
DOC. -  É.
LOC. -  Fora isso, que mais? Atmosférica ... Ah, não, não é atmosférica. Eh ...
DOC. -  O que que há na atmosfera, o que que caracteriza a atmosfera que nos cerca?
LOC. -  O ar, né?
DOC. -  Ham.
LOC. -  Ar.
DOC. -  Ham.
LOC. -  A poluição pode entrar? Não é, mas não é característica atmosférica aí. Porque na Inglaterra tem o `fog', mas é, entende? Vamos dizer ... Mas aí não é cara... não é atmosférica. Aí ...
DOC. -  O `fog'?
LOC. -  É atmosférica?
DOC. -  É.
LOC. -  É? Não é em função, vamos dizer, da, da ...
DOC. -  Como que nós chamaríamos o `fog' em português?
LOC. -  Garoa mais violenta, mais forte? Eu não conheço. Não sei. Nunca vi também, mas a impressão que eu tenho é que talvez fosse uma ... Mas aí é, é, é um outro elemento, não é? Não é, por exemplo, a garoa. É, eu acho que, talvez, por eu não ... É assim como se fosse ... É mais sufocante, não é? Assim mais, mais intenso, assim mais ...
DOC. -  Mais denso.
LOC. -  Denso.
DOC. -  Então é o quê?
LOC. -  Mas é? Aí, então, essa minha ignorância é total. É, é, é atmosférico?
DOC. -  É. É um fato, um fenômeno ligado ao ar, não é?
LOC. -  Ah, mas então aqui nós temos também (sup.)
DOC. -  (sup.) E o que que nós temos aqui? (sup.)
LOC. -  Na, na, nas ci... na ci... nas, na, na ci... nas cidades industriais nós temos, vamos dizer, eh, fuligem e mil coisas, entende? De... mas aí são decorrências, mas entram, elas passam a, a, a fazer parte do ar da cidade, entende? Mas aí, eh, pra mim não é uma (sup.)
DOC. -  (sup.) Mas o `fog', ô L. (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Eu não estou talvez enfocando assim o, a atmosfera co... como você está falando (sup.)
DOC. -  (sup.) É. Estaria associado por exemplo à, à chuva ou ao calor? (sup.)
LOC. -  O quê?
DOC. -  Ao, ao (sup.)
LOC. -  (sup.) O `fog'? (sup.)
DOC. -  (sup.) O fenômeno que você está encarando ele está mais ligado à chuva ou mais ligado a um, um dia de verão?
LOC. -  Aí eu, eu não sei porque eu não conheço. Eu não, não (sup.)
DOC. -  (sup.) Mas nós teríamos alguma coisa semelhante?
LOC. -  Mormaço? (sup.)
DOC. -  (sup.) Você tem dificuldade de ver (sup.)
LOC. -  (sup.) Não? De ver?
DOC. -  É, à distância, em virtude (inint.)
LOC. -  Eh, nubla... Não, nublado não é.
DOC. -  Você falou aí em outras condições (sup.)
LOC. -  (sup./inint.) sim, mas o `fog' é, é, é baixo, né? Ele se circula, né? É, o `fog' é um, é um, vamos dizer, é, é, é como se fosse assim, como você falou, mais denso que uma garoa, mas então ela, ela, é baixa, não é como uma nuvem, não é? Nublada, aí é diferente. Agora o que ... Eu acho que o, o mor... o mo... o mormaço, o mormaço ... Que impede de ver, o que você quer é assim, é alguma coisa que exista que impeça de ver além? No Rio?
DOC. -  Há. No Rio há também. Muito tipicamente daqui há alguma coisa que impede os aviões de sair, às vezes.
LOC. -  Quando não tem teto, eh, porque a atmosfera está carregada, está, está pesada, eh ...
DOC. -  Às vezes é isso.
LOC. -  Está densa? Não, eu não, eu não, não sei. Eu não, eu não, eu não ... (riso)
DOC. -  Bom, vamos ver, você falou de outros tipos de nuvem que você conhece.
LOC. -  Ham.
DOC. -  E falou das suas preferências pelas nuvens brancas, disse que as nuvens podiam ser negras, que precediam temporais, etc. Eh, você conhece nuvens particularmente associadas ao verão e a uma determinada hora do dia, com uma cor particular.
LOC. -  Ao verão e a uma determinada hora do dia?
DOC. -  Hum.
LOC. -  Bem cedo, vamos dizer assim, madrugada, a madru... a madrugada, ela ... Quer dizer, ela te dá uma idéia do que vai ser o dia, vamos dizer, ela pode ser, eh, a gente pode pela madrugada saber se o dia vai ser límpido ou se vai ser um dia chuvoso. No verão, a madrugada ainda é assim coberta, ela não, ela não, não, ela ainda não, não tem, vamos dizer assim, que o céu ainda não está azul, branco, com, quer dizer, assim, sem nuvem nenhuma, entende? E no verão, o tem... os dias normalmente amanhecem sem uma nuvem, que começam a aparecer, vamos dizer assim, por volta de meio-dia, uma hora. Isso é o que tenho assim, tenho percebido. Nunca parei muito pra pensar nisso nem prestar muita atenção, vamos dizer assim, nessa transformação do dia e da, das nuvens e tal, mas, pelo pouco que eu já tive ocasião assim de olhar e ver, me pareceu ser isso, entende, assim, por volta de meio-dia, uma hora, começam a surgir as, as nuvens. Isso no verão.
DOC. -  Está certo. Você me falou que a água quan... quando muito a... aquecida, eva... evapora. E o contrário? Quando há muito frio, o que é que acontece com a água?
LOC. -  Ela fica, ela condensa. Ela inclusive se gela, ela se ... Não é? Ela chega até a gelar. Dependendo da, da, do frio, ela gela, né?
DOC. -  Que usos é que a gente faz da água assim gelada ou do resultado dela, do congelamento da água?
LOC. -  Que uso a gente faz? Mas uso, eh, ahn ... Que, que tipo de uso assim? Eh, uso, vamos dizer, de, que seja de alguma atividade pra gente?
DOC. -  Sim.
LOC. -  A água gelada?