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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Profissões e Ofícios"

Inquérito 0205

Locutor 241
Sexo masculino, 43 anos de idade, pais cariocas
Profissão: advogado
Zona residencial: Suburbana

Data do registro: 09 de abril de 1974

Duração: 40 minutos

 

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L
 ... com o aspecto da profissão, no caso, administração. Essa profissão praticamente foi adquirida por circustâncias do próprio trabalho. Nós tivemos aqui no SESI um princípio, como funcionário. Logo após procurei estudar, procurei aprimorar meus conhecimentos, fazer um treinamento bom e, naturalmente, fui sendo aproveitado pela entidade em funções de maior responsabilidade.
D
 O senhor, quando o senhor entrou, o senhor tinha que função?
L
 Eu entrei pro SESI como auxiliar de escritório.
D
 O senhor tinha feito algum curso ou (inint.)
L
 Exato. Nós estávamos na, na ocasião precisando aqui no SESI, aliás os diretores do SESI, a entidade, nova ainda, no seu princípio, três anos mais ou menos de inaugurada, precisava de auxiliares, e eu me candidatei a tal, fazendo, naturalmente, um curso, um, uma prova de admissão simples. Nessa época eu contava apenas com o curso ginasial, quando vim pra cá. E fazendo essa provinha, uma provinha simples, fui admitido como auxiliar administrativo e daí desenvolvi uma atividade como tal e senti que era necessário estudar. Fiz o curso técnico de contabilidade. Já então, no decorrer desse curso, eu consegui uma promoção a oficial administrativo. De oficial administrativo, ganhei uma função de responsabilidade, qual seja a de assistente no setor do SESI de garagem, setor de garagem, e lá procurei desenvolver a minha capacidade de administração, as minhas possi... dentro das possibilidades da própria entidade, fazer alguma coisa no sentido de organizar um controle de fichas, aquela ... E foi muito bem aceita pelos diretores, que viram alguma coisa de expressivo naquele trabalho. Daí, houve pelo SESI um ajuste entre os oficiais administrativos da época e, por uma homologação da, do Tribunal do Trabalho, nós passamos a assessores técnicos de administração, porque exercíamos funções correlatas aos que existiam em número muito pequeno dentro da entidade, continuando sempre na chefia. De assistente do setor de garagem eu vim para o campo da saúde. Então, desenvolvi minhas atividades em centros sociais fazendo primeiro um treinamento para conhecer mais profundamente o setor que eu estava trabalhando. Como tal, permaneci então como assitente de um administrador em Vicente de Carvalho, num centro social do SESI, e logo após, uns seis meses, talvez, depois, eu fui designado a administrador deste centro social aqui, no Encantado. E permaneço, em... embora tenha saído algumas vezes para administrar outras unidades do SESI que tiveram necessidade da minha presença, eu permaneci, praticamente, com alguns espaços, algumas lacunas, durante, desde mil novecentos e cinqüenta e nove, aqui neste centro social. E nesse espaço de tempo eu fazia o seguinte: quando não estava aqui como administrador, eu era indicado pela própria diretoria para ir a um outro centro social, que no momento se achava há séculos sem administração ou que precisasse, naturalmente, de uma correção no nosso sistema.
D
 Eh, o senhor poderia me explicar o que que é o SESI, em termos assim ...
L
 Exato. O SESI é uma entidade criada em mil novecentos e quarenta e seis por idealistas, homens idealistas da indústria, e poderemos até citar uns nomes: Evaldo Lodi, Lorvão Dias de Figueiredo e Roberto Simonsen. Foram os três homens que naquela época sentiram a necessidade do após-guerra, da revolução industrial, a necessidade de prestar uma assistência social mais eficiente ao trabalhador. Sentiram que muito problema da produtividade estava intrinsecamente ligado a, ao bem-estar do trabalhador. Eles sentiram da grande necessidade de prestar uma assistência mais eficiente, aquela assistência mais íntima ao trabalhador, além daquela que o instituto de previdência prestava.
D
 Agora, eh, isso me interessava. Em termos assim de organização, que tipo de profissionais atuam nessa prestação de assistência ao trabalhador?
L
 Bem, é, nós temos um campo muito grande de atividades. O SESI oferece, no campo da saúde, diversos, faz diversos atendimentos no setor médico-odontológico.
D
 E que profissionais são utilizados?
L
 São dentistas, são médicos, em grande quantidade, especialistas, otorrinos (sup.)
D
 (sup.) Especialistas?
L
 Especialistas. E fazemos uma divisão nos, nos próprios centros sociais, de clínica médica, onde o, o médico faz uma espécie de triagem, encaminhando, de acordo com a necessidade, o trabalhador que nos procura a um setor mais especializado do SESI, que é o centro médico, onde então ele encontrará clínica especializada da nece... de acordo com a sua necessidade. Quando o problema for de solução pelo próprio clínico do local, ele receita, pede uma radiografia, um exame de laboratório e ficamos nisso. Quando há realmente uma necessidade dele ser tratado por uma clínica especializada, ele então é encaminhado ao nosso centro médico, que é uma espécie de policlínica, que reúne diversas atividades especializadas.
D
 O senhor tem idéia assim do que que é mais procurado?
L
 (pigarro) Olha (sup.)
D
 (sup.) Que especialistas são ...
L
 É, especialistas que nós temos (sup.)
D
 (sup.) Mais procurados (sup.)
L
 (sup.) Mais procurados, principalmente a clínica de otorrinolaringologia. Essa é muito procurada. A oftalmologia também. Nós temos especialização nesse serviço.
D
 Tem estatísticas?
L
 Temos estatísticas e tudo, isso é muito bem organizado, está ouvindo? É feito, talvez, um atendimento, um atendimento bem vultoso ao nosso trabalhador da indústria. O SESI atende a, ao transporte, até pouco tempo atendia à pesca, às ... Na parte de transporte ele se desligou há muito pouco tempo da parte de, de transporte aéreo, com a criação, agora, com o decreto novo da fundação do aeroviário nós nos deslig... desligamos deles, passamos a não atendê-los mais.
D
 Sei, mas essa era a outra pergunta que eu ia fazer ao senhor. Eh, essa assistência se faz a quais trabalhadores?
L
 Pois exatamente. Os trabalhadores que são beneficiados com essa assistência são exatamente esses, principalmente o trabalhador da indústria de construção civil. Trabalhador da indústria de um modo geral. Ele, naturalmente, atendendo a certos requisitos, a empresa onde ele trabalha tem que comprovar, atráves de uma guia de contribuição ao INPS, que carreia descontos do empregador, porque quem paga o SESI, quem contribui para o SESI, melhor dizendo, não é o empregado e sim o empregador. O patrão é que paga, da sua folha, um determinado percentual para que o SESI se mantenha prestando benefícios ao seu trabalhador. Em hipótese alguma, em momento algum, ele consegue, eh, vamos dizer assim, tirar um dinheiro qualquer do trabalhador para esse fim. O trabalhador tem apenas a responsabilidade de pagar os seus oito por cento à previdência social. O empregador, o patrão, vamos dizer, é que contribui com o seu bolso, com a sua, com a sua, com as suas economias, vamos dizer assim, para que o SESI seja mantido, prestando essa assistência correlata. Eu chamo de correlata porque nós temos o, um instituto de previdência social, que pre... que a... que atende ao trabalhador, de um modo geral, que é o INPS, em grande área. Mas ele deixa a desejar em alguns aspectos. Por exemplo, essa assistência assim aos seus familiares com maior facilidade, porque ele não atende só es... tão somente ao trabalhador e sim também, e sim aos seus dependentes. No caso, vamos explicar melhor: o trabalhador chegando a um centro social, ele, atendendo aos requisitos de uma matrícula, ele apresenta os documentos dos seus familiares e fica então com um cartão de inscrição, que dará direito ao atendimento a ele e também a sua esposa, mãe e filhos, menores, naturalmente, dentro de uma faixa de uma exigência que o SESI faz de dependência. Ainda prestando uma assistência social a certos casos assim não programados, vamos dizer assim, não previstos, atende à companheira, quando o homem, naturalmente, desligado da sua família, do seu casamento, ele atende à companheira, quando comprovado de que ele faz a sua manutenção.
D
 Agora essa, esse atendimento, para esse atendimento, além dessa área médica, devem ter diversos outros setores (sup.)
L
 (sup.) Exato. Educação. É, nós temos o plano de saúde (sup.)
D
 (sup.) Que especialistas, eh, especialistas em termos profissionais assim (sup.)
L
 (sup.) Assistentes sociais, assistentes sociais. Assistentes sociais prestam serviço social. Ela visita a empresa ou permanece na empresa, tendo um contato direto com o trabalhador, procurando resolver os seus problemas de ordem, muitas vezes, particular. Quando ela consegue recursos no próprio SESI para resolver, muito bem. Quando não consegue, que é no caso, eh, vamos dizer assim, os recursos, eu digo no campo da saúde, quando o SESI dispõe do recurso, porque o SESI, por exemplo, não faz operações de abdômem, não faz operações outras, a não ser de oftalmologia e otorrinolaringologia, só as clínicas que ele atende em parte cirúrgica. As de ... Agora também criada uma cirurgia de plástica para a mão. O trabalhador, às vezes defeituoso, em causa de um acidente de trabalho, ele procura o SESI. E naturalmente eu ... A assistente social, como eu ia dizendo, encaminhando aos recursos do SESI, ela naturalmente vê coroado de êxito o trabalho dela, quando não, ela tem também que encaminhar a outros recursos da comunidade.
D
 É isso que eu gostaria de saber: que outros técnicos entram nisso (sup.)
L
 (sup.) Outros recursos. Não, por exemplo, ela, ela poderia encaminhar o trabalhador a, ao INPS, com indicação a médicos, eh, vamos dizer assim, de acordo com o problema do trabalhador, ela entregari... ela en... encaminharia esse trabalhador a hospitais, a clínicas que o SESI não tem atendimento, não possui clínicas de atendimento.
D
 Agora, numa clínica que o SESI tenha atendimento, que tipo de profissionais trabalham?
L
 Exato. Nós temos, como eu disse, médicos, de um modo geral especialis... (sup.)
D
 (sup.) Mas além de médicos?
L
 Além de médicos, assistentes sociais, educadores sociais. Nós temos o, as professoras primárias, na parte da educação, nós temos instrutores de educação física, na parte de instrução física dada ao trabalhador nas fábricas. E me ocorre no momento é só. Talvez no desenvolvimento da palestra eu venha a me lembrar de mais alguma assistência prestada. Instrutoras de artes e ofícios, por exemplo.
D
 Instrutoras de artes e ofícios (sup.)
L
 (sup.) De artes e ofícios.
D
 Que que elas fazem?
L
 Elas fazem, promovem o curso de corte e costura, arte culinária, artes domésticas, no próprio centro social e também nas próprias fábricas.
D
 Quer dizer que elas formam pessoas?
L
 Formam as pessoas com aquele aprendizado especializado. Não é um profi... não é profissional mas é visando a economia do lar. É uma forma de assistência social que o SESI (sup.)
D
 (sup.) O senhor diz que não é profissional por quê?
L
 Eu digo que não é profissional porque o curso que é oferecido pelo SESI, ele não tem assim um gabarito muito grande. Ela aprendem, elas, alunas, no caso, nos cursos lecionados (sup.)
D
 (sup.) Mas é profissionalizante de qualquer forma.
L
 É, de qualquer maneira ela vem a atender (sup.)
D
 (sup.) Sei, o que caracterizaria seria capacitação de pessoa, em termos mais imediatos, para o exercício (sup.)
L
 (sup.) Para o exercício, é (sup.)
D
 (sup.) De uma profissão e não como, por exemplo, uma escola nossa, ah, de nível médio, que dá apenas aquela formação geral mas não capacita para o exercício imediato de uma profissão.
L
 Exato (sup.)
D
 (sup.) É isso (sup.)
L
 (sup.) Mas ela, ela não tem um caráter profissional, eu digo, porque são cursos de duração razoável em que o aprendizado não chega a profissiona... profissionalizar. Ele, ele atende assim a uma necessidade da mulher muitas vezes no lar resolver um problema de economia, um problema em que ela, talvez algumas venham até mesmo ganhar sua vida através de uma costura, não vou dizer que não, se tornando talvez uma profissional. Não digo que ela daqui para a frente, depois (pigarro) de fazer o nosso curso aqui, ela não saia em condições de costurar. Algumas com maior dificuldade, outras com maior facilidade, elas vão, atendem muitas vezes a um problema que acaba, a um problema do seu lar, e que acaba depois resolvendo, pode montar um ateliê, uma coisa qualquer, mas eu acredito que o aprendizado em si, a programação feita, não dá assim um gabarito pra tal. Ela precisará naturalmente se especializar mais, porque, eh, não há assim, primeiro não exigimos dessas senhoras que aqui freqüentam, e jovens que vêm aos nossos cursos, um nível de escolaridade. Apenas elas se inscrevem, até mesmo muitas vezes sem o curso primário. Elas têm dificuldades muitas vezes de um cálculo, numa divisão de uma saia, de uma coisa qualquer, em que a professora, a instrutora, no caso, orienta. Quer dizer que não poderíamos dizer assim, é um profissionalismo assim mais para atender, vamos dizer assim, preencher uma lacuna do lar. A mulher muitas vezes não teve a oportunidade de aprender uma costura e procura o SESI.
D
 E isso não é feito também para certos ofícios?
L
 Não. Isso aí está afeto ao SENAI.
D
 Ao SENAI?
L
 É, que é um órgão co-irmão que profissionaliza de fato. Esse sim.
D
 E como é que é lá?
L
 Lá sim. Lá o meu conhecimento não é muito grande porque, apesar de ser uma entidade que funciona correlata quase ao SESI, nos mesmos moldes, eles têm uma dire... uma direção, vamos dizer assim, mais objetiva sobre o profissionalismo, isto é, eles tentam fazer o melhor possível de profissão e eu acho que no Brasil não tem escola como o SENAI, que atenda a essa necessidade do trabalhador. Suponhamos aquele jovem que está numa fábrica trabalhando, ele se desloca em determinados dias, inclusive por decreto, para aprender uma profissão no SENAI, dando assim um a... um a... um atendimento ex... excepcional àquele jovem que está se formando.
D
 Que tipo de, de, de ofício (sup.)
L
 (sup.) Ah, sim. Mecânica, mecânica, tecelagem, ah, é uma ...
D
 Vá dizendo. Isso está me interessando.
L
 Mecânica, tecelagem, eh, química. A tecelagem então é espetacular, né, promovida pelo SENAI. Ah, cursos de mecânica especializada, curso de torneiros mecânicos, cursos de linotipista, tipografia, essa parte de artes gráficas, como eles chamam. Tem mais, cursos de treinamentos, inúmeros cursos de treinamentos, de formação, vamos dizer, ao, ao homem já formado que precisa treinar os seus conhecimentos em determinada área, como administração (inint./sup.)
D
 (sup.) Nessa área se fala muito no problema da mão-de-obra especializada. O que seria isso? (sup.)
L
 Exato. Mão-de-obra especializada é, é aquele, aquele trabalhador que tem uma profissão. Ele é distribuído pela profissão que ele exerce. Então ele tem um tipo de mão-de-obra, dentro da empresa, especializada. Vamos dizer, o torneiro mecânico, é a mão-de-obra especializada que torna, às vezes, na, na, dentro da empresa, ahn, uma seleção de trabalhadores. Porque tem aqueles elementos que trabalham na, na, no setor de apoio e tem os que fazem a mão de-obra especializada. Por exemplo, se a fábrica for de refinaria, por exemplo, uma refinaria, terá um homem especializado que fará a química da refinaria, são os químicos. Fará ... Outros terão, naturalmente, a mecânica de manutenção de maquinaria. Outros, vamos dizer assim, teriam ... Até mesmo o, o homem que, que empacota, compreende, já ir passando a uma classe ma... de um nível mais inferior. É uma especialização mas não tão muito grande. Mas ele às vezes precisa aprender, se aperfeiçoar naquele, naquele tipo de serviço pra poder desenvolver uma produção eficiente, certo? E isso é o que nós chamamos de mão-de obra especializada, é uma gama de especializações de acordo com a indústria, de acordo com o local de trabalho, não é isso?
D
 E num centro, por exemplo, como o Rio de Janeiro, o senhor tem assim uma idéia do tipo de especialização, ou das especializações mais freqüentes?
L
 Ah, eu tenho, eu tenho uma ligeira impressão de que na área da mecânica a especialização é mais freqüente. Mecânica especializada, né, de maquinarias, computadores. Essa é, vamos dizer assim, na, no desenvolvimento em que nós vamos, a técnica já bem desenvolvida, no caso, é, esses homens são, realmente, mais procurados. E existe, sim, dentro do, do, de certas indústrias, de certos ... No Rio de Janeiro, de um modo geral, no Rio de Janeiro de um modo geral, que nós temos um, cinco mil indústrias, vamos dizer assim, é a mais diversificada possível, é a mais diversificada a procura, porque depende muito da natureza. Eu não posso dizer assim com precisão qual a que teria um gabarito maior ou qual temos maior procura e precisaria naturalmente de dados estatísticos sobre o assunto, e eu não tenho, assim de momento, condições ou (sup.)
D
 (sup./inint.) e sua impressão?
L
 A impressão, eu acho que a mecânica, mecânica especializada em máquinas de produção, eu acho que é uma bem aceita. Ah, no caso a parte gráfica também, muito procurada, a indústria têxtil também, né, os homens especializados naquele tipo de negócio, tecelões, e aqueles man... vamos dizer assim, aqueles que conseguem manter a máquina aprimorada em toda a força de produção. Essas coisas são muito procuradas, são homens de valor dentro de um empresa, né? A falta deles é muito grande. Apesar da, vamos dizer assim, da dinâmica da tecnologia que, que desenvolve, vamos dizer assim, no campo da, na área da indústria, cada vez mais a mão-de-obra diminuindo o seu valor, mas ainda não chegou, não atingimos a, a tornar desnecessário o homem, graças a Deus.
D
 A máquina ainda não conseguiu superar o homem (riso/sup.)
L
 (sup.) Ainda não conseguiu superar, né?
D
 E no plano assim, isso no plano urbano. Existe alguma coisa desse tipo pra o campo, pra o homem, pra propriedades rurais?
L
 Olha, o SENAI, de meu conhecimento, não faz nenhuma formação no campo da agricultura, no campo da, no campo rural.
D
 E teria assim algum organismo que fizesse isso? (sup.)
L
 (sup.) Não. Existem as escolas especializadas em Campo Grande, né? Agronomia, não é? Nós temos. Na escola de agronomia, cursos técnicos, né? A escola técnica, por exemplo, forma indivíduos, assim, aqui mesmo e, depois você, com estágios, né?
D
 Mas não são agrônomos.
L
 Olha, especifica... (sup.)
D
 (sup.) E há atuações intermediárias, inclusive ao nível médio (sup.)
L
 (sup.) Deve, é, deve haver, porque não, eh, existe um, um engenheiro-agrônomo, vamos dizer assim, como carreira acima e existe o técnico, que seria o nível médio. E estão também ligados à escola de agronomia. É um curso de nível médio que o indivíduo faz assim um trabalho geral de uma, de uma fazenda, como controlar o gado, plantações e toda a gama de, de trabalho que possa existir na agricultura. Agora, abaixo do técnico não conheço nada que, que possa, a não ser escolas que formam indivíduos pra isso e não me ocorre agora. Nesse campo eu desconheço um pouco o assunto.
D
 Agora em termos de, de serviços públicos, o senhor lembraria assim de falar que tipo de profissional que a gente encontra de um modo geral no serviço público, numa repartição pública?
L
 Bom, dependendo do ca... da, da repartição, que nós poderemos falar em serviço público. Falaremos, por exemplo, num conselho de portos e vias navegáveis, nós teríamos engenheiros técnicos. Não no conselho, mas talvez no departamento que, que está sendo, naturalmente, nesse caso, dirigido por esse conselho. No conselho nós teríamos os assessores, para poder instruir, pra poder instruir processos, dar os seus pareceres, favoráveis ou não. Nós teríamos no departamento, por exemplo, de controle geral, nós teríamos os engenheiros especialistas em portos, teríamos o, o controle de, de policiamento nos portos em toda espécie, em todo Brasil. Se nós f... pularmos daí para um setor, por exemplo, como Imprensa Nacional, que também é um funcionário público, nós teríamos então uma grande parte, uma grande parte de, de, de profissionais, talvez a Imprensa Nacional atinja ao maior número de profissionais, eu acredito, porque ali tem toda a sorte de profissão, desde o homem burocrata, o homem da administração, até o servente. E, e dali poderíamos citar o linotipista, encardenadores e, encadernadores e outros, por exemplo, compositores e, fazem a composição, eu não sei bem os termos pra serem usados, e homens especializados em máquinas e eletricistas e tudo quanto é espécie de profissão. Eu acho que ali reúne, dentro do funcionalismo público, tudo o que se pode pensar em, em matéria de profissão, não é? A Imprensa Nacional, eu acho que fazem e outras que nós conhecemos que são de direção, de controle, como ministério da Fazenda e, vamos dizer assim, ministério do Trabalho, que têm as funções específicas que todos nós conhecemos, não é isso? Mas o aspecto (sup.)
D
 (sup.) E o que predomina, por exemplo, um ministério como o de Planejamento? Do ponto de vista profissional.
L
 Afeto ao ministério do Planejamento, vamos dizer assim, à direção específica que tem, a meu ver, dentro dos meus parcos conhecimentos, é (sup.)
D
 (sup.) Não quero ouvir nenhuma sapiência agora, eu quero apenas o tipo de informação geral que o senhor tenha sobre o assunto.
L
 É, o, o ministério do Planejamento, eu acho que criado não muito distante, foi criado há pouco tempo, ele tem atribuições específicas no país de exame... examinar todo o sistema de planejamento, de, de organização interna no país. Está afeto ao setor de planejamento, responsabilidades que fazem, por exemplo, a resolução sobre vários problemas de desenvolvimento do país, está entendendo? Mesmo no campo industrial, no campo comercial, no campo ... Eu acho que afeta tudo isso.
D
 Quais são os profissionais que estão decidindo essas coisas, a técnica?
L
 Técnicos (sup.)
D
 (sup.) Técnicos. De quê?
L
 Técnicos em administração, economistas e, principalmente, financistas, que fazem, eh, vamos dizer, a, a direção do ministério, né? Engenheiros, está entendendo? Eh, eu, eu conheço muito pouco sobre o ministério do Planejamento, está ouvindo? Mas, de qualquer maneira, eu tenho uma idéia geral do que seja, a existência dele é pra isso.
D
 E uma coisa assim que se tornou famosíssima no Brasil que era o funcionário público? Que que era isso que a gente designava como funcionário público?
L
 Funcionário público. Funcionário público é aquele homem que presta seus serviços à União em troca de uma remuneração. Isso seria a, a definição. Agora, como esse funcionário é, esse funcionário é visto, de um modo geral, pelo povo, havia uma idéia muito remota da sua ociosidade, da sua, vamos dizer assim, de um trabalho que não correspondia à realidade, eram incompetentes, era essa idéia geral que se tinha. Eu acho que (sup.)
D
 (sup.) Hoje em dia há uma tendência assim muito grande de opor, digamos, a eficiência do serviço não público, do serviço particular, das empresas, eh, particulares ao serviço público, ao servidor público de um modo geral e o que que diferenciaria assim, o que estaria influindo pra valorização da organizaç~ao particular em relação ao tipo de organização pública?
L
 Olha, é preciso aí considerar alguns aspectos políticos, certo? O país, ele, eu por exemplo vivi algumas fases desse nosso Brasil e nós tivemos, em determinadas épocas, uma desvalorização não só do funcionário público como também do, das entidades privadas. Não havia, havia um rejeição quase de, vamos dizer assim, de conceito, por todos, tanto num aspecto como no outro, do funcionário como da, da entidade privada. Ora, nós passamos assim uma longa fase dos nossos dias. Mas o Brasil tomou um impulso muito grande, nós sabemos, por força ou de revolução ou por mentalidade modificada do nosso povo, mas o fato é que houve uma modificação total da nossa, vamos dizer assim, do nosso pensamento, da nossa vontade de fazer um Brasil melhor. Essa é a minha opinião. Eu acho que houve uma contaminação, um patriotismo melhor em todo esse período e essas transformações foram dando também uma maior responsabilidade. A direção, a cúpula do nosso país, foi naturalmente atendendo a requisitos assim importantíssimos, eh, de homens mais bem formados, que não estivessem muito ligados a políticas, que fossem homens que tivessem um gabarito grande pra exercer as profissões, as funções, e não por determinações políticas somente, e nós fomos assim fazendo um cenário, a meu ver, de uma transformação, uma metamorfose impressionante, vamos dizer, na, em toda, em toda a gama de atividade do país. Não só, talvez algumas abandonadas, ou melhor, menos providas, fosse o caso a área de agricultura, que assim mesmo já tem o seu carinho, a sua atenção dada pelo governo, mas a, a entidade privada também teve muito apoio através de incentivos, através de, de, vamos dizer assim, de, de confiança que foi aquirindo no, dos destinos do país, na forma de administração. Essa segurança fez com que os capitais, os capitalistas, como foi no caso, fossem empregados com maior segurança. Outros foram transferidos do estrangeiro pra cá, já sentindo uma situação segura no país e nós fomos dando, não só, com isso, uma transformação foi sendo observada no, no setor público, do funcionário, como também nas entidades privadas.
D
 Agora, em termos de administração, eh, a eficácia do serviço público em oposição à eficácia de uma empresa privada tende a ser diversa, na medida em que o serviço público, eh, é, talvez, capaz de absorver mais facilmente os homens de uma certa ociosidade e a empresa privada não, à empresa privada não interessaria isso.
L
 Olha, à empresa privada talvez não interessasse, está ouvindo? Talvez à empresa privada não interessasse, vamos dizer assim, interferir nesse aspecto público.
D
 Sim, mas na hora em que ela se organiza, a organização dela tende a uma eficácia maior.
L
 Olha, hoje já se pode dizer que não é tão assim.
D
 Que não é tão assim?
L
 Tão assim. Eu acho que o, a organização pública de um modo geral, apesar da ociosidade ainda existente, ela tende a terminar. Nós sentimos que todos os ministérios, principalmente do planejamento, com a reforma administrativa, com uma série de criações novas que estão sendo, vamos dizer assim, impelidas no funcionário, no setor público, eu tenho a impressão de que ele cada vez se valorizam mais e está chegando a um ponto de confiança geral. Talvez já não s... não cause inveja, não causa inveja as organizações privadas ao setor público. O setor público já se sente confiante, no meu entendimento.
D
 Agora, o tipo de profissional utilizado nesse setor médico de, de empresa privada e, e pública?
L
 Bom, ocor... ocorre o seguinte: tudo gira em função de uma direção, tanto na en... na entidade privada, como no setor público, no organismo público, a coisa eu acho que está intrinsecamente ligada à direção. Quando nós encontramos, por exemplo, na, na assistência médica, um órgão autárquico, como é o caso do INPS, um diretor de hospital que seja eficiente, que tenha consciência das suas funções e faça uma exigência muito grande dentro do seu setor de trabalho, nós podemos aplaudir porque, de fato, merece o nosso aplauso. Nós vemos hospitais aí, organizados de uma forma que nos assusta, nos assombra, pela idéia que tínhamos do passado, com relação a esses setores.
D
 Por exemplo, o senhor podia dar uma idéia?
L
 O INPS, de um modo geral. Hoje, muitas reclamações, muitas críticas, às vezes são infundadas. Se nós analisarmos direitinho que, principalmente, fazendo assim uma análise perfunctória do aspecto todo de saúde do, do governo, dentro do campo da, do, de, vamos dizer assim, na parte do INPS, principalmente, nós vamos verificar o seguinte: ela, a unificação, está relativamente recente, certo? Então ela tende a melhorar dia a dia. Ora, fazer a anexação de uma série de institutos que haviam, com pensamentos completamente diferentes, heterogêneos, e dirigir num só caminho já é uma tarefa árdua.
D
 O senhor lembra quais eram esses institutos?
L
 Lembro. Nós tínhamos o Instituto dos Bancários, nós tínhamos o IAPTEC, nós tínhamos o INPE, o IAPI, tínhamos o IAPC, tínhamos o (sup.)
D
 (sup.) Mas pra, pra que tipo de profissional era cada um desses institutos?
L
 Para especificamente para o (inint.)
D
 O IAPI, por exemplo?
L
 Para o industriário.
D
 O IAPC?
L
 Para o comerciário. O IPASE para o funcionário público. O, o, o, o instituto, por exemplo, de, os bancários, para os bancários, e assim em diante. Então eles faziam uma seleção no atendimento.
D
 E o INPS atendia a quem?
L
 O INPS? Atendia ao industriário: transporte e pesca, era (sup.)
D
 (sup.) E hoje?
L
 Transporte era na parte do IAPTEC e pesca. E o I... IAPI atendia exclusivamente à parte industrial.
D
 E hoje, o INPS atende a que profissionais?
L
 Hoje, não existe INPS. Hoje ele está incorporado a um único organismo que se chama Instituo Nacional de Previdência Social. Todos eles ficaram encampados, ficaram num trabalho só.
D
 Agora, o que me interessa é a quem o Instituto Nacional de Previdência Social está atendendo.
L
 De um modo geral a todas as profissões, todos, todos que se... separadamente tinham os seus institutos passaram a ser atendidos (sup.)
D
 (sup.) Há vários outros que nem tinham o instituto e que atualmente já têm. Por exemplo (sup.)
L
 (sup.) Não, eles estavam sempre ligados a um instituto. Não existia trabalhador nenhum, do meu conhecimento pelo menos (sup.)
L
 (sup.) Os domésticos por exemplo?
L
 O doméstico, nunca houve proteção a, ao trabalhador doméstico, à trabalhadora doméstica. Agora, agora, muito recente, é que foi criada uma forma de proteção, com a assinatura de carteira que lhe desse então o privilégio de descontar o instituto que, no caso já o INPS, foi então absorvido. Essa classe talvez ficasse de fora realmente. Ela, no tempo (sup.)
D
 (sup.) O trabalhador rural.
L
 É, o trabalhador rural, eh, a INCRA, né, existia um setor. Era serviço social rural que atendia à parte rural. E agora eles ficaram, naturalmente, com a proteção muito melhor, porque o INPS, atingindo a tudo quanto é forma de previdência, ela ... Agora, a organização desse setor é que se tornou difícil, porque trazendo os bancários riquíssimos, o Instituto de, de Bancários, por exemplo, que era riquíssimo, seus hospitais eram espetaculares porque, eh, era um instituto que tinha condições, eh, vamos dizer assim, razoáveis, embora um, talvez um número não expressivo como o da indústria, mas a sua cota de desconto era muito maior devido os salários. Compensava. Então eles procuravam dar uma assistência muito boa. Nós vemos assim, por exemplo, o homem, hoje, que trabalha em banco reclamar do INPS, que lá tem uns hospitais horrorosos, porque tinha, em outros tempos, um hospital especializado para os bancários, que eram hospitais excelentes. Temos esses casos, assim, de reclamações. Mas acontece que muito industriário, muito trabalhador da indústria, hoje, vai também pra um hospital que era dos bancários, e hoje se sente feliz em estar naquele conforto. E depois a forma de atendimento, a organização de trabalho, a, os métodos aplicados pra, pra distribuir os setores. O INPS está dando um exemplo, um exemplo, no meu entendimento, de como se organiza, como se faz funcionar um órgão de previdência. Agora, é complexo, é muito difícil.
D
 Têm falado aí em separar a previdência da saúde (sup.)
L
 É, não existe (sup.)
D
 (sup.) A criação de um ministério (sup.)
L
 Não. Foi criado agora, já com uma mensagem do governo, um decreto já, o Instituto da Previdência Social pra separar do ministério do Trabalho. Era, antigamente era Instituto, eh, era Ministério do Trabalho e Previdência Social. Hoje, faltando apenas a regulamentação, nós temos agora o ministério do Trabalho separado do Instituto de Previdência Social. O Instituto de Previdência Social, exatamente pela complexidade e pela dificuldade que, vamos dizer assim, no laborioso atendimento que tem, eh, ficaria realmente mal colocado junto ao ministério do Trabalho, que já não é fácil. Então, houve por bem, a administração sentiu a necessidade de separar, criando mais esse ministério. E esse ministério vai então olhar com maior objetividade a parte de previdência social porque terá um ministro exclusivamente pra isso com um corpo de trabalho.
D
 E a Previdência Social?
L
 A Previdência Social vai atender exatamente, me parece, porque não foi regulamentado ainda, segundo está me parecendo, principalmente a parte do INPS, por excelência, porque é o que vem direto. Depois, dizem, não sei é fato, se, se, e também não sei se será separado em áreas geográficas ou área de atuação, ele terá também a responsabilidade de todos esses órgãos auxiliares de previdência: SENAI, SESI, SESC, eh, Legião Brasileira de Assistência, Serviço Social Rural, uma série de serviços que foram criados por decreto para atender essa complementação de assistência ao trabalhador, eh, foram criados, naturalmente, pra melhorar esse bem-estar do trabalhador e, de formas que a previdência, esse Instituto da Previdência, esse ministério da Previdência agora, eu tenho a impressão que estará ...
D
 Ele fica dissociado do setor de saúde, específico.
L
 Exatamente. Não, não só o setor de saúde, o habitacional. Talvez o Banco Nacional da Habitação fique um pouco isolado, mas de qualquer maneira, de qualquer maneira a, o instituto presta essa assistência, eh, vamos dizer de habitação.
D
 Agora, eu tinha uma pergunta a fazer sobre a, os profissionais, as pessoas que trabalham em áreas artísticas, em área de diversões, que tipo de idéia que a gente tem a respeito dessas pessoas? Fale um, de um modo geral nesses setores, desde o rádio, a televisão, o teatro, o cinema até o ...
L
 Olha, eu sempre vi essa, essa profissão do radialista, do artista, de um modo geral, de teatro, de diversões, muito pouco protegida. Ela, com líderes, lutava sempre por um lugar, pelo lugar que merecia ter, do meu ponto de vista. E parece-me que ficou afeto na, há tempos idos, a um instit... instituto, me parece que era dos comerciários. Eles tinham assistência prestada pelos comerciários. Agora com a unificação, depois da unificação, eles ficaram também ligados ao INPS. A assistência de um modo geral eles têm, logo que estejam regularmente inscritos no, no local de trabalho, que façam seus descontos direitinho. E eu tenho a impressão que eles, assim como o jogador de futebol também, eles têm uma assistência, eh, médico-hospitalar, prestada pelo próprio instituto, já que eles fazem o seu desconto normal, quando trabalhando certinho e dentro de um contrato de trabalho legal. Agora (tosse), quanto à sua atuação, quanto ao modo deles atuarem no Brasil, eu acho excelente, eu acho excelente. Muito pouco prestigiada a classe, mas nós não podemos nos orientar pelo prestígio que possa o povo dar a essa classe, também levando em consideração o nível cultural do povo, não é? Nós temos que ter um pouco de condescendência nesse aspecto, porque se nós olharmos direitinho as pessoas que valorizam essa, vamos dizer assim, esse setor do, do nosso país, nós vamos encontrar pe... pessoas de um nível mais elevado. Apesar de que, eh, num nível mais inferior de cultura, nós vamos, eh, também sentir muito apoio, muito prestígio, mas de uma forma, de uma forma diferente. Eles não olham pelo ângulo que nós olhamos, de cultura de um povo. Eles olham a necessidade da novela, a necessidade do futebol, diretamente, e mais pela distração que possa advir dali, e não dando, por exemplo, a expressão que merece ter um homem de teatro, um homem de, de, de, de música, de, de, um cantor, um músico, de um modo geral, não têm no Brasil, eu, a meu ver, eu, eu acho que não têm ainda o prestígio que merecia ter, apesar dos grandes valores que nós possuímos. Nós não temos ainda uma expressão, um lugar pra eles. No modo de proteção, eu já lhe disse e no modo da conceituação do povo também está dito. Eu acho ... Esse é o meu ponto de vista.
D
 Agora, ultimamente, a gente nota também assim que tem surgido muita profissão nova, né?
L
 Exato. Isso aí é, é a tecnologia, é a necessidade do desenvolvimento (sup.)
D
 (sup.) Quais?
L
 Nós temos na área tecnológica, parte de computadores, programação e, e operadores de, de, principalmente nesta área, na, na, fotografias e, vamos dizer assim, na rádio-difusão mesmo, está ouvindo, na parte de, de, de, de, de comunicação também, um desenvolvimento muito grande, atendendo, naturalmente, aos reclamos do próprio progresso, da evolução.
D
 E na parte de alimentação?
L
 De?
D
 Alimentação.
L
 Alimentação. Hoje já se tem alguma coisa, já se fala em alguma coisa de alimentação no Brasil. Infelizmente o, o governo nunca pode, em certas áreas do Brasil, atender aos reclamos, às necessidades ... (interrupção) Fome, vamos dizer assim, no país, ainda é um problema sério. Um problema muito sério.
D
 (inint.) a idéia assim de organização de cooperativas, a gente tem visto em propagandas, na televisão (sup.)
L
 (sup.) Tem, tem visto. E eu, eu, feliz... no outro dia, ainda passando ali por Irajá eu consegui ver um centro de abastecimento que é uma coisa fora de série. Parece-me que, lendo alguma coisa a respeito, parece-me que só tem algum semelhante, ou um semelhante em Paris. E talvez (sup.)
D
 (sup.) Você tem idéia assim de como é que funciona isso?
L
 Bom, é um centro de abastecimento para armazenar os produtos básicos da alimentação, principalmente nessas cidades, como a nossa, que precisam de estar sempre abastecidas, sempre precavidas no abastecimento, nas entressafras, né? Por exemplo o, o produto agrícola, o produto de produção, vamos dizer assim, rural, ele, quando colhido, quando recolhido ao, à cidade, ele, nós temos dois problemas: ou abastecer constantemente a cidade e com problema de transportes e outros problemas que podem surgir na, durante, durante esse abastecimento, poderia vir causar a falta do alimento, a dificuldade de consegui-lo, etc. Mesmo porque, eh, temos ainda pouco apoio ao trabalhador do campo, o êxodo, que é flagrante de outros estados do Brasil, correm para os grandes centros pra poder se alimentar, pra poder ter um padrão de vida melhor, porque é natural cada um procurar suas conveniências, dado talvez a pouca assistência que eles têm, lá, na, no interior. Mas nessa, nesse transporte, nessa, nesse abastecimento constante às cidades muitas coisas interferem, qual seja transportes, dificuldades, vamos dizer, no, de grandes chuvas, enchentes, problemas de estradas, etc. que possam vir dar um colapso, vamos dizer assim, de certos gêneros dentro de uma cidade. Então eles localizaram em determinados, em determinadas cidades, esses centros de abastecimento que visam exatamente manter armazenados os produtos pra entressafra: frigoríficos gigantescos, ah, vamos dizer assim, galpões próprios para manter certos produtos. Então o abastecimento é constante quando, na safra, a facilidade é grande e eles vão armazenando a preço excelente, preço muito bom. Quando há entressafra, a entressafra, aí, o prejuízo naturalmente da, do abastecimento das grandes, dos grandes centros, eles então lançam mão daquela reserva que têm para poder suprir a necessidade da cidade e a preços ainda ótimos (sup.)
D
 (sup.) E os benefícios?
L
 Benefícios, são os melhores possíveis, não é? Porque (sup.)
D
 (sup.) E que tipo de organização têm esses centros de abastecimento? Eles têm alguma organização em termos de co... de cooperativa?
L
 Olha, eu não conheço bem o funcionamento deles. Cooperativas, cooperativas, ao meu ver, elas ficam localizadas, sempre que possível, em regiões de bom acesso e reúne os pequenos produtores, reúne toda a colheita dos pequenos produtores àqueles centros de cooperativas. Vemos um caso assim mais simples pra, pra, pra dar assim uma idéia. Nós temos uma cooperativa (inint.) uma vinícola, uma cooperativa de vinhos, suponhamos. Então, isso falando em gênero outro, mas de qualquer maneira é importante. Nós temos diversas cooperativas em determinadas regiões que facilite aos vitivinicultores a trazer até aque... aquela cooperativa o seu produto, como é o caso do leite, como é o caso do, do vinho, vamos dizer. Então, em se tratando de alimentação, vamos nos referir ao leite. Então naquele centro, eles conseguem fazer a pa... a, chamam pasteurização do leite, ali mesmo. Aquela modificação de temperatura que o leite sofre, pra poder se manter em perfeitas condições para o alimento da pessoa. Então eles reúnem aquelas fazendolas, todos aqueles locais que produzem o leite que traz tanta, tantos litros por dia àquela cooperativa. Dali eles então providenciam a pasteurização e condicionam convenientemente o leite, ou vem para os grandes centros para colocar em sacos plásticos ou então vem em latões, eu não sei bem a forma de, de transporte como eles fazem, mais aconselhável, e chega aos grandes centros e então são distribuídos. Isso é a cooperativa. Eu acho que difere um pouco, a cooperativa, desses centros de abastecimento, que no fundo é uma cooperativa, mas de, de, vamos dizer, de dimensões muito maiores, porque talvez o centro de abastecimento recolha de todas as cooperativas, já seja um órgão mais elevado. Essa é minha idéia. Não sei, porque eu não conheço a estrutura da coisa bem. Mas essa é a idéia que eu tenho, que os centros de abastecimento, para conseguir armazenar nas entressafras todos os produtos básicos de alimentação de um povo em cidade, vamos dizer assim, eles precisam naturalmente tirar, ou melhor, transportar das próprias cooperativas, porque é como se fosse uma chave de subdivisões.
D
 Em que isso beneficiaria o produtor?
L
 O produtor? Primeiro, que ele teria certeza de que a sua produção seria integralmente comprada pela cooperativa. Isso é a primeira: a certeza de que o que ele produzir, ele vende. É uma confiança. Ele associado, filiado a uma cooperativa, ele teria vantagens de financiamentos bancários pra po... poder desenvolver o seu produto, a, o seu trabalho. E talvez as cooperativas até mesmo, não sei, mas devem, algumas, prestar uma assistência aos próprios trabalhadores de lá, entendeu, da, da, do campo, no sentido, vamos dizer de saúde, no sentido ... Acho que cooperativas muito organizadas talvez cheguem até esse ponto. Eu tenho a impressão que uma Cotia Agrícola por exemplo tem até serviço social, tem uma assistência médica ao trabalhador, àqueles que estão filiados àquelas cooperativas. E a certeza de que o seu trabalho não é inócuo, né? Ele tem alguma finalidade. Isso é que é importante.
D
 (inint.) dificuldade de colocação no mercado (sup.)
L
 (sup.) Não existe, não existe porque ele é todo absorvido por essa cooperativa (sup.)
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 (sup.) Sem trabalho isolado.
L

  É, sem trabalho isolado. Isso eu acho muito importante.