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PROJETO NURC-RJ

DIÁLOGOS ENTRE INFORMANTE E DOCUMENTADOR (DID):

Tema: "Alimentação"
Inquérito 0002
Locutor 0003 - Sexo feminino, 44 anos de idade, pais cariocas, professora de filosofia. Zona residencial: Sul
Data do registro: 18 de outubro de 1971
Duração: 43 minutos


Som Clique aqui e ouça a narração do texto


LOC. -  Infelizmente, na minha opinião, o brasileiro se alimenta muito mal, não de acordo com o clima, por ignorância talvez, pelo fator econômico, é uma tristeza! Podemos também afirmar que um povo é mais ou menos o que ele come. A primeira refeição é a mais importante, porque o organismo está muito descansado, assimila melhor e é a mais relaxada. Quantas pessoas do povo não saem sem ao menos um golinho de café. Vão tomar lá ao meio-dia, quando não tomam uma cachacinha como quebra-jejum. Mas tudo vai melhorando, esse país vai no galope, vamos esperar que em breve tudo há de se arranjar. As vitaminas vão ter seu lugar, proteínas, albuminas, (riso) leite, carne, frutas e verduras. As crianças já estão em muito melhor situação do que há alguns anos atrás. Podemos ver que os pais já se interessam pela vida ao ar livre, ao lado da alimentação, naturalmente, e se preocupam em levar ao pediatra, isso nas camadas mais altas, mas vão ensinando também. Já há vários postos, que facilitam distribuição de alimentos, enfim, tudo é uma questão de educação, quanto mais eles aprenderem, melhor se alimentarão.
DOC. -  Certo. Você poderia dizer os lugares que (inint.) as pessoas comem? Onde é que a gente come na cidade?
LOC. -  Na maioria das vezes?
DOC. -  Sim.
LOC. -  Acho que aqui no Brasil mais em casa, não é, pelo fator econômico. Porque os restaurantes são muito puxados. Até acho que os estu... os estudantes deviam ter mais clubes, mais agremiações, que facilitassem, que abaixassem o preço. O governo devia se interessar por isso. A maioria da classe média sem dúvida alguma come em casa, porque os restaurantes são proibitivos. Ainda mais para uma família maiorzinha: marido, criança. Pelo menos uma vez por mês ou duas fazem a farra, mas é puxado, é salgado, são muito caros. Nos Estados Unidos, os preços já são muito mais populares, os restaurantes variam em luxo, mas a qualidade do alimento é a mesma, o que não acontece aqui. O gênero é o mesmo. Você paga o garçom, você paga o ambiente, mas a comida é igual. E no Brasil não, falsificam o que podem e o que não podem. (riso)
DOC. -  E lugares para beber, especialmente no frio?
LOC. -  Bebidas alcoólicas?
DOC. -  Sim, e outras qualquer.
LOC. -  Bom, lanchonetes, né? A salvação para o verão, né? Refrigerantes, água mineral, embora ache que o que mate mesmo a sede é a água pura, potável. Agora os bares, para os, naturalmente os maiores de idade, não é, são muito falsificados também, acho que deviam ter mais controle. As bebidas estrangeiras são falsificadíssimas e são, os preços, explorados.
DOC. -  O que que as pessoas bebem nos bares?
LOC. -  Depende do, da classe, né? As classes mais altas uísque, acho que a grande maioria, né, gim, rum, e a classe mais baixa fica na cachaça mesmo, na batida, pra tapear, né, cachaça disfarçada, né?
DOC. -  E os mais jovens?
LOC. -  O que bebem?
DOC. -  Sim.
LOC. -  Mais jovem, em que faixa?
DOC. -  Adolescentes, digamos, a garotada que já sai sozinha, o que bebem quando eles entram num bar?
LOC. -  Acho que copiam muito os pais, né?
DOC. -  Sim.
LOC. -  Quando eles se vêem soltos, com dinheiro, eles procuram beber o que vêem em casa mais ou menos, né, porque a juventude sempre tem o exemplo, né, queira ou não queira é influenciada. Agora a garotada, eh, sem dinheiro, é refrigerante mesmo e, olhe lá, quando pode, né?
DOC. -  Sim. E em casa, o que é que normalmente as pessoas bebem (inint.)
LOC. -  Procuro dar suco de frutas, limonada, laranjada, refrigerante e água.
DOC. -  E refeições só de pessoas adultas, assim quando você recebe pessoas.
LOC. -  Ah, geralmente um vinhozinho, né, não é nada mau, ou tinto ou branco, dependendo da carne ou do peixe, e um aperitivo antes e depois um uísque, né? Um uísque pode tomar antes ou depois do jantar, eu acho sempre bem-vindo, né?
DOC. -  E você podia me dizer os tipos de refeições que as pessoas fazem durante o dia entre nós?
LOC. -  Em casa ou na rua?
DOC. -  Em casa (sup.)
LOC. -  (sup.) Em casa. Bom, o café da manhã, o almoço, o lanche antigamente que se punha aquela mesa já está abolido, agora o cafezinho com biscoitinho, né? Eu fui criada por exemplo no sistema de pôr a mesa do lanche, não é, e o jantar. E a maioria da classe média toma um, outro lanche à noite. Em Copacabana já está provado por estatísticas que a maioria não janta, toma lanche, ou por fator econômico ou por falta de empregados, pra facilitar a vida. Agora tudo dentro da simplicidade, aqueles pratinhos todos já terminaram, né, primeiro prato, segundo, tudo já está simplificando. Também fui educada no sistema do primeiro e do segundo prato, mas agora na minha casa é um prato só, uma coisa simples, um suflê, uma coisa assim à noite, e no almoço um bife com batata frita, é sempre na correria, de manhã é uma parada numa casa, as crianças saindo pra escola.
DOC. -  Isso que eu queria saber. Que que normalmente se come de manhã?
LOC. -  Na hora do café ou na hora do almoço?
DOC. -  Do café.
LOC. -  Na hora do café. Criança, que você diz?
DOC. -  Crianças e adultos (sup.)
LOC. -  (sup.) E adultos. Café com leite, torrada, ovos quentes, geléia, dependendo do orçamento também, e fruta. As crianças, um cereal.
DOC. -  Que tipo de cereal por exemplo?
LOC. -  `Cornflakes', de milho, de arroz, desses que já vêm prontos, são muito fáceis, misturados com leite, ou então Nescau, farinha láctea, misturados no leite. Leite puro geralmente eles não gostam muito e café com leite não, criança também não é muito amiga não, fica mais pros adultos. Agora chá, de manhã, não é bem ainda um costume brasileiro, né, embora um chá às cinco horas assim num dia frio eu acho muito simpático, né, uma xicrinha.
DOC. -  E sua preferência pessoal nessa refeição da manhã?
LOC. -  Minha preferência? Café com leite, torrada e geléia, e ovo quente, minha preferência, ou um suco de laranja.
DOC. -  E o almoço?
LOC. -  O almoço? Uma carne, um peixe, um legume, arroz e feijão pras crianças e massa, né? Mas sempre carne e legume. E sobremesa, ou fruta ou doce, ou ambas. (riso) Tudo é uma questão de orçamento, viu? Muitas vezes você sabe o que deve ter, mas você não pode pôr na mesa. Aí é que está, o mais triste, porque os ignorantes não sofrem, né, mas os que sabem às vezes não podem comprar, têm que fazer certos cortes, que a comida está por hora da morte, como é de conhecimento geral, mas que se sabe, se sabe.
DOC. -  Você podia me dizer assim alguns tipos de massas (inint.)
LOC. -  Bom, talharim. Você não quer marca, quer?
DOC. -  Não, não.
LOC. -  Bom, talharim, lasanha, ravióli ou, se você quiser incluir, pastéis e empadas também no, no setor das massas. Agora engorda muito e não tem muito valor nutritivo, né? Mas geralmente todos gostam, não é? Acho que o sangue latino, quem não gosta de uma boa macarronada, não é? Mas não tem muito valor nutritivo, sempre deve ter uma salada variada, apetitosa, bem arrumada, porque influi muito a aparência, até pras crianças, influi a aparência dos pratos ou das travessas, a arrumação, você joga uma comida assim, não tem vontade, põe uma mesa bonitinho, copinho, não é, quando tem tempo, né, já ajuda, na minha opinião.
DOC. -  Você falou em salada, o que é que normalmente entra na salada?
LOC. -  Bom, vegetais crus, folhas, alface, tomate, agrião, beterraba. Se você quiser também pode ter umas latinhas como complemento, `petit-pois', palmito, ovos cozidos e azeite, né? Quem não, não pode pôr azeite põe óleo meio malamana (sic) como eu. Às vezes, quando tem visita é que eu ponho azeite.
DOC. -  Quando a gente vai fazer compras, né, por exemplo, encontra uma grande variedade, digamos, de feijões. Você podia dizer assim (inint.)
LOC. -  De feijões (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) o que existe pra comprar?
LOC. -  Bom, o mais comum aqui, mais apreciado no sul é o preto, né? Porque já no nordeste é aquele clarinho, né? Porque eu morei dois anos no Ceará e eu me lembro que todos gostavam do, do, do feijãozinho claro, chumbinho, né? Bom, feijão-branco, feijão- amarelo, lentilhas. Mas são mais caras, né? E esse feijãozinho pintado, fradinho, não é, tem uma pintinha preta, pode fazer salada também de feijão, fica muito gostoso.
DOC. -  E arroz?
LOC. -  Arroz? Bom, arroz o melhor é o amarelão, não é, que cresce mais, inegavelmente, tem também o agulha, tem o inferior, tem o, o japonês, maranhão, amarelão extra, amarelão comum, várias classes, né?
DOC. -  Você falou que, que havia sempre carne no almoço (inint.)
LOC. -  Bom, a carne está bem cara, né, muita gente não come em toda refeição. Agora inda (sic) é o mais barato, viu, porque alimenta melhor. Você pode pôr um ... Uma galinha sai mais caro que um quilo de carne e não alimenta tanto, um peixe, isso pra variar, você não vai fazer sempre uma carne. Agora lingüiça também, muita gente, presunto, frios.
DOC. -  Frios, por exemplo, você podia enumerar assim alguns (inint.)
LOC. -  Frios?
DOC. -  Sim.
LOC. -  Salaminho, esses frios todos sortidos que você encontra no supermercado, né, os escuros e os claros, de vitela, vários, vários tipos, de vários preços, presunto.
DOC. -  E carne é um capítulo que a gente vai ter de conversar muito. Porque por exemplo, quando você vai comprar, você escolhe esses vários tipos de acordo com o prato que você quer fazer (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Eh. Eh (sup.)
DOC. -  (sup.) Você podia dizer algum tipo de carne que você compra (sup.)
LOC. -  (sup.) Pois não (sup.)
DOC. -  (sup.) O lugar onde se compra?
LOC. -  Pois não. Os açougues geralmente são um pouco mais careiros do que os supermercados, mas servem melhor inegavelmente. Bom, ninguém vai poder comer filé-mignon todo dia, né, que seria ótimo, e filé sem osso. Então, como carne de primeira, a maminha de alcatra, que é um pedaço da alcatra, a alcatra, chã-de-dentro, patinho e, carne de segunda, esses mais, essas mais engorduradas, né, capa de filé e carne de peito, mas também não rendem não, é uma ilusão, porque vem muita gordura, um contrapeso enorme, eu geralmente compro pro cachorro. Coração, o fígado também é muito saudável, tem muito ferro, de vez em quando devemos fazer, principalmente pras crianças, é um alimento forte. Eh, e tudo na base também da variedade, porque a dona de casa tem que estar sempre com fantasias pra disfarçar, não é, com a cozinheira, com a família, com as crianças. Às vezes a carne não está muito boa, a gente dá um jeitinho, faz um bife à milanesa, um picadinho, uma carninha moída. Mas é chatíssimo isso de todo dia se preocupar com comida.
DOC. -  Imagino. (risos) Mas e o prato de carne seu preferido, você podia me dizer como é que se faz?
LOC. -  Bom, eu gosto de um bife bem feito, pra mim não tem igual, viu? E o ... Há pessoas que gostam da carne muito temperada, né, com alho, com cebola, eu apenasmente (sic) passo sal dos dois lados e faço com pouca gordura. Ele fica pretinho por fora e vermelhinho por dentro. É o meu predileto, um, uma coisa simplérrima. Agora você pode fazer uns mais complicadinhos, estrogonofe, que é o picadinho metido a besta, né?
DOC. -  Como é que se faz estrogonofe?
LOC. -  Estrogonofe você pega o filé-mignon, que é o ideal, né, depois você tem que acompanhar com o molho de `champignon', porque a graça dele é o molho, né, como diz o Simonal, não é? E o `champignon'? E os temperos que quiser, dependendo do, do paladar. Tem que pôr também creme de leite no molho.
DOC. -  Você podia nos explicar como fazer, desde que você compra a carne até que você serve? Quais são as etapas pra você ter o estrogonofe na mesa?
LOC. -  O estrogonofe? Bom, você sabe, é muito variada isso, né, cada um faz de um modo, eu vou explicar o modo que eu faço. Geralmente, já fiz estrogonofe até de alcatra, viu, com alcatra bem fresquinha, agora você ... O ideal é fazer com filé-mignon mesmo. Primeiro limpa bem a carne, né, tira toda a gordurinha, depois você parte em tornetes (sic) não muito pequenos, porque fica muito pe... muito menor quando cozido, viu? E deixa descansar no molho fino, um vinho, pode pôr uma cebolinha ralada, cheiro verde, descansa por uns, por um, umas horinhas, pra dar melhor gosto. Depois você refoga com manteiga ou margarina misturadas, doura bem, doura bem e vai pingando água, até cozinhar. E depois, no fim de tudo, você, você faz o molho. Bota o creme de leite e o `champignon' previamente aferventado. Quase na hora de ir pra mesa você joga aquele molho. Com o molho da própria carne e o creme de leite fica uma delícia, desde que as proporções estejam certas, não é? Vai a, você bota os temperos a olho, quem tem prática. Senão vai num livro de cozinha, que agora tem maravilhosos, aí, em linguagem muito accessível.
DOC. -  Você falou em tempero. Que tipo de tempero você usa (inint.)
LOC. -  Bom, o mais comum é a cebola, também o alho, cheiro-verde, salsa e cebolinha e também louro, muita gente gosta de molho inglês, pra comidas mais picantes, pimenta em pó, mostarda, `ketchup', molho de tomate, massa de tomate, tomate mesmo, em fruto.
DOC. -  E o que é bem o cheiro-verde? O que que contém o cheiro-verde?
LOC. -  O cheiro-verde geralmente é um casamento muito feliz entre a salsa e a cebolinha, né, que nós costumamos comprar assim em pequenos amarrados. Ele é a cebola fresca, dá um sabor diferente na comida, talvez um pouquinho mais de vitamina, não é?
DOC. -  Agora e no capítulo dos peixes que você já falou aí, qual é a sua predileção? Como é que você poderia nos explicar o prato de peixe (inint.)
LOC. -  Bom, peixes existem também de várias categorias, né? Como mais finos você tem o badejo, o robalo, você pode comprar também já nos supermercados, pra toda hora, esses pacotinhos de filé de Pescal congelados, que bem temperadinhos já quebra um galho, né? Passa no ovo, faz-se à milanesa ou temperado com limão e sal ou leite, muita gente põe o peixe no leite porque amolece. Agora, quando você tem um bonito peixe, grande, faz assado no forno, é uma delícia, recheado com farofa. E peixe é muito saudável, principalmente pros estudantes, porque tem muito fosfato e é muito bom pra memória. Pelo menos uma vez por semana acho que todo adolescente devia comer peixe, mesmo pra variar e mesmo por questão de saúde. Existem os mais simples, né, sardinha, existem os enlatados, faz com maionese, atum é uma delícia. No Bob's, come-se tanto sanduíche de atum, não é, alimentício e muito saboroso.
DOC. -  Como é que se faz maionese?
LOC. -  Maionese? Bom, existem as compradas prontas que são as mais práticas, (riso) né, maionese Hellmann's. Agora quem quer se dar ao trabalho, você faz a gema de ovo crua, a gema de ovo cozido e vai pingando azeite e vai pingando azeite ou então bate no liqüidificador, fica aquela pasta muito mais gostosa quando é feita em casa naturalmente. Agora essas prontas quebram muito o galho.
DOC. -  Mas você falou em duas coisas muito importantes na alimentação (inint.) que coisas além de maionese se pode fazer com ovo (inint.)
LOC. -  Bom, o ovo é essencial numa cozinha, né, desde o ovo estalado, o ovo mexido que prum aperto é um espetáculo, como todos sabem. O ovo entra em quase todos os pratos, em todos os bolos, praticamente em todas as massas, em todos os suflês, o ovo é indispensável, além de ter um valor nutritivo muito alto. No Chile por exemplo agora, quem come um ovo não come um bife, tem propaganda na televisão, porque eu vi ... Tenho uma sobrinha que mora lá e ela me contou isso, que um ovo vale por um bife, então eles dizem isso em, pra ensinar ao povo que num regime de economia talvez, né, pras bolsas menos favorecidas.
DOC. -  Agora você disse que com o ovo se fazem várias coisas entre elas bolo. Você poderia nos descrever como se faz um bolo? O bolo de sua preferência na sua casa, como é que é?
LOC. -  Bom, eu gosto muito de bolo de chocolate, sabe, eh, é uma receita que eu já sei de cor, ham, porque eu faço muito, sabe? É farinha de trigo, não é, manteiga, leite, ovo, boto aquele chocolate em pó Nestlé, que eu acho o melhor e o mais parecido com as receitas estrangeiras, que é o que fica mais pretinho, fermento Royal, que entra em todo bolo. Esse também leva um pouquinho de bicarbonato, pra talhar o leite e dar aquele aspecto assim meio de farofinha no bolo. E ele é gostoso porque não é muito doce, eu não gosto de bolo muito doce, isso depende da, do paladar individual, não é? Querendo, posso rechear também com uma geleinha de ameixa, com o que tiver em casa, porque a gente tem é que se virar com o que tem, na cozinha isso é que eu acho o grande segredo e não ir no livro e você fica quase maluca de procurar a receita. Você vê que esses regimes pra emagrecer agora são tão complicadas as dietas dos, dos dias da semana, que a pessoa já emagrece só de procurar, da segunda-feira, da terça, da quarta. A gente tem é que usar a cabeça, como em tudo na vida, né, se virar, isso é que eu acho você saber cozinhar, você adaptar o que você tem ao valor nutritivo, à variedade, a ... É uma arte, não há dúvida, você alimentar uma família é uma arte, arte das artes.
DOC. -  Agora e os produtos do leite?
LOC. -  Derivados?
DOC. -  Derivados.
LOC. -  Bom, queijo, manteiga, não é, coalhadas, agora tem essa Danone que é muito saborosa, também é fórmula francesa, iogurte, creme de leite Savi, creme de leite Nestlé enlatado, você pode servir com uma compota de pêssego, abre a lata na hora, é muito bom, muito prático. Também com morangos frescos combina muito bem e até criança gosta, com gelatina, com bolo, com várias coisas. Quanto mais leite uma criança puder tomar, melhor, né, até adultos também, devíamos tomar leite nas refeições, mas aqui no Brasil esse costume não é nada difundido, né? Quase ninguém toma leite na rua também. E falsificam muito, o leite aqui é muito ruim.
DOC. -  Você falou de várias coisas que são alimentos ligados à parte final da refeição (inint.)
LOC. -  Como sobremesas, você diz?
DOC. -  Sim.
LOC. -  Como sobremesas. Em tempo quente, sorvete, né, não há quem não goste. Depois vários, várias qualidades também de creme, de frutas, chocolate. Como sobremesa, esses pudins, de laranja, de leite, gelatinas, frutas, em grande variedade.
DOC. -  Você podia dizer o nome de algumas?
LOC. -  Bom, frutas nacionais, não é, banana, laranja, mamão, manga, conforme a época, não é, do ano. Laranjas, tantas variedades, laranja-lima, quem não gosta, não é? E, como estrangeiras, uva, pera, maçã, embora já tenhamos plantações aqui no sul, não é, dessas frutas européias. Pêssego. Abacaxi também é tão gostoso, um fruto tropical maravilhoso, caju, não é, no nordeste. As frutas no nordeste são maravilhosas, tanto no sabor como em aroma, nunca vi tão gostosas. Todas frutas tropicais lá enormes e deliciosas. As bananas são imensas. No Ceará por exemplo são enormes. E eles têm uma variedade de melão também, que os japoneses plantam, é muito gostoso, chamam de canelopinho (sic), é um derivado do verdadeiro melão espanhol, né, mas muito gostoso. Plantam no nordeste também, com grande sacrifício mas, adubados e tudo, mas o clima dá muito bem.
DOC. -  E a refeição da noite?
LOC. -  O jantar?
DOC. -  Sim.
LOC. -  Acho que deve ser um pouco mais leve, né, porque agora então, com
 a televisão, as pessoas quase que não se movimentam. Eu acho uma falta de higiene para a saúde você sentar depois do jantar, fica aquela digestão pesada, vai engordando, mas é o que acontece. Tem a novela, que é sagrada, tem os programas semanais, né, fixos, todos já estão esperando. Comem muito, não adianta, acho que deve ser uma refeição mais leve à noite, ou um, ou um lanche bem sortido, bem, bem equilibrado ou um prato simples.
DOC. -  E esse lanche da noite (inint.)
LOC. -  Lanche, você diz no sentido de, não de jantar, né, por exemplo, como a gente faz aos domingos, né (sup.)
DOC. -  (sup.) Sim (sup.)
LOC. -  (sup.) Que não tem empregada. Bom, base de sanduíche, né, presunto, queijo, pode ter também bolo, que dá muito arranjo com geléia, chá ou café com leite ou um refrigerante. Ou uma sopa também, alguém pode gostar, no tempo frio é muito apetitoso um caldinho, não é? E, e o que tiver ali por perto, um, um pãozinho doce, um panetone, um biscoito.
DOC. -  (inint.)
LOC. -  Acaba-se comendo mais do que num jantar talvez, sabe, embora seja mais leve, em quantidade, não é? Base de sanduíche mesmo, presunto, queijo, um bolo, um chá.
DOC. -  Me diga uma coisa, e, sobre sopas, eu gostaria que você falasse de sopas, os tipos, os modos de fazer, as variedades, o que entra numa sopa.
LOC. -  Sei. Bom, as sopas hoje em dia são muito simplificadas, já com esses produtos prontos, né, você faz num minuto, Knorr, Maggi. Agora uma sopa feita em casa não, não pode ter comparação, no sabor, por exemplo sopa de legumes, né?
DOC. -  Sim. Que legumes (inint.)
LOC. -  Eu não costumo refogar a sopa, muita gente refoga.
DOC. -  E o que que é refogar?
LOC. -  Refogar é passar a carne na gordura antes e depois jogar os legumes. Eu cozinho a carne primeiramente, deixo dissolver o músculo horas e horas, depois eu vou jogando os legumes mais difíceis de serem cozidos, os mais duros, né, como cenoura, depois os mais fáceis, como abóbora, chuchu, batata-inglesa e depois passo no liqüidificador, fica um creme, ou então não passo. Tem também o caldo verde, que é sopa de batata com uma couvinha picada assim quase na hora, que também é muito apreciada, canja de galinha, quem não gosta? E sopa de massa.
DOC. -  Sim, de que tipos?
LOC. -  Dessas massinhas que você compra prontas, né, de estrelinha, de argolinha. Faz o caldo de carne, a base, e joga aquela massinha dentro e pronto. Agora isso só, só é apetitoso no inverno, né, num, num dia quente, a sopa esquenta muito e engorda também. Mas é gostoso, é influência européia, né?
DOC. -  Inclusive (inint.) agora você falou em sopa e falou em caldo (inint.) pra você há uma diferença entre os dois, por exemplo o caldo (inint.)
LOC. -  O caldo acho mais ralo, né, mais liqüidozinho, e a sopa mais, tem um mingauzinho, assim mais grossinha. Essa é a diferença que eu acho. Por exemplo um caldinho de carne bem ralinho assim com um pouquinho de repolho, uma batatinha-inglesa, uma cenourinha, acho muito gostoso.
DOC. -  (inint.) e desses caldos que você põe uma gema de ovo dentro?
LOC. -  É um consomê, não é?
DOC. -  Consomê.
LOC. -  Ah, também é muito nutritivo, muito gostoso, pode pôr ovo e pode não pôr, não é (sup.)
DOC. -  (inint./sup.) dizer os nomes (inint.)
LOC. -  Consomê com ovo e sem ovo, né? Agora o caldo de carne você faz geralmente com músculo, quanto mais tempo ficar na, no fogo mais gostoso, porque dissolve bem a carne, ela se desmancha mesmo. Você vê que nos navios eles deixam aquele consomê cozinhando nas caldeiras meses ou por exemplo duas semanas, é o tempo da viagem, fica aquela carne, fica desmanchando. Naturalmente vão usando, né? Não é, não é guardando, aquilo tudo vai, vai entrando e vai saindo. Agora quanto mais tempo ele fica no fogo, mais saboroso. E tem também esses caldinhos prontos, meu Deus, esses tabletinhos Knorr aí, quem não conhece? Faz num minuto aquilo, bota no feijão, bota numa sopa qualquer aquilo, quebra um galho danado.
DOC. -  Você falou por exemplo, se não me engano, você falou em azeite, falou em óleo, salada. O que que você poderia dizer mais, você falou em manteiga (inint.)
LOC. -  Dos óleos?
DOC. -  Sim.
LOC. -  Bom, os óleos de soja, né, óleo de milho. Os óleos nacionais já estão muito gostosos, esse óleo Maria quase que vale por um azeite. Agora os azeites de azeitona mesmo de oliveira são muito superiores em sabor, não tenha dúvida. Agora já é, é muito mais barato você cozinhar com óleo ou com... ou temperar uma salada do que com azeite, quem é que agüenta, não é? Uma maionese mesmo com azeite e com óleo é muito diferente o gosto.
DOC. -  Haveria alguma coisa mais, no gênero, que se usasse na cozinha, além de azeite, óleo e manteiga?
LOC. -  Pra tempero (sup.)
DOC. -  (sup.) Sim (sup.)
LOC. -  (sup.) As gorduras vegetais, não é, de coco e as margarinas, todas também vegetais, acho muito mais leves do que as animais, e as banhas de porco, as gorduras todas, os tabletes, há variedade enorme nos supermercados, banha Rosa, né, mais conhecida. No Rio Grande do Sul eles têm produtos muito bons. E `bacon' também quem quer cozinha, toucinho de fumeiro, que é uma delícia pra refogar várias comidas, dá um saborzinho ótimo.
DOC. -  Você acha que a cozinha do Rio de Janeiro tem algum prato típico? Se a gente tivesse que convidar um estrangeiro e apresentar propriamente alguma coisa nossa (inint.)
LOC. -  Bom, do Rio de Janeiro propriamente, não (sup.)
DOC. -  (sup.) Brasileiro então.
LOC. -  Bom, brasileiro é a clássica feijoada, né?
DOC. -  Sei. Como é que se faz (sup.)
LOC. -  (sup.) Que é apreciada por um certo número de estrangeiros, mas não por todos. Porque tem uma ilusão (sup.)
DOC. -  (sup.) Sim (sup.)
LOC. -  (sup.) Que todos adoram. Pra começar acho muito feia, o aspecto. Horrenda. Agora você também tem que apresentar, né? Cortar as carnes direitinho, pôr numa travessa, são servidas geralmente com couve e com laranja, não é?
DOC. -  E o que contém uma feijoada?
LOC. -  Bom, ela contém o feijão-preto, que é o clássico, e, eh, a carne seca, a orelha de porco, toucinho de fumeiro, a costela, que dá um gostinho muito bom na feijoada, deixa-se as carnes salgadas de molho na véspera e depois cozinha-se tudo junto com o feijão. Agora há pessoas que fazem de outras maneiras, né? Eu cozinho tudo junto de uma vez, sabe, acho que fica mais gostosinho. E antes, a batida de cachaça é indispensável, né, batida de limão, de maracujá, do que queiram.
DOC. -  E a couve é normal?
LOC. -  A couve é. Há quem dispense, mas é o clássico, e a laranja crua e o arroz, né?
DOC. -  (inint.)
LOC. -  Couve mineira, né? Dizem couve mineira impropriamente, não sei por quê. Mas existe em todos os estados do Brasil, né, a couve.
DOC. -  Porque que ela se chama mineira?
LOC. -  Talvez o ... Talvez lançada pelos mineiros, quem sabe?
DOC. -  (inint.) a maneira de preparar.
LOC. -  Talvez. A maneira de preparar é muito fácil, né? O segredo de picar também, porque a couve bem fininha é muito mais gostosa do que ... Dá uma preguiça, né? É muito enjoado picar couve, mas, bem fininha, bem verdinha, é gostosa. Pouquinho de gordura só e sal, muito fácil, faz-se na hora.
DOC. -  Você falou em alface. Você conhece alguns tipos ou só há um tipo de alface no Rio de Janeiro?
LOC. -  Não, tem vários tipos, né? A mais gostosa é aquela em forma de repolhinho, né, que chamam de alface paulista, e tem umas outras também, talvez enxertadas, que não são tão gostosas, são mais amargas, mas a mais saborosa é a paulista porque a folhinha é mais tenra, é mais clarinha.
DOC. -  Você falou em pão antes, logo no começo. Você podia enumerar assim alguns tipos de pães que você pode comprar nesses lugares?
LOC. -  Bom, pães, pães de fôrma, né, pra ter em casa. É muito bom ter um pão de fôrma em casa. Na padaria você compra as bisnagas, pão francês, pão careca. Existem também pães-de-ló, pão-de-mel, pão de centeio, dos outros cereais também. O mais comum é trigo, né, o branco, pra nós, o europeu já usa muito o pão preto. Também é muito gostoso, não é, você já encontra aqui em várias casas, principalmente de origem alemã. Bem, bem gostosos. Em Petrópolis tem pão preto muito bom de centeio, bem pretinho. Na padaria já é mais falsificadinho porque já é mais clarinho, mas aquele bem pretinho é que é o legítimo.
DOC. -  Agora me diga uma coisa, e as refeições de cerimônia, como é que elas se chamam em geral, que tipos existem aqui entre nós, pode ser em casa, pode ser fora de casa (inint.)
LOC. -  Bom, em refeições de cerimônia geralmente tem pratos internacionais, né? Eu não sei se você vai receber pessoas brasileiras ou pessoas estrangeiras. Pra começar, você passa uma rodada de bebidas, não é?
DOC. -  E a própria refeição (inint.) especial (inint.) em geral como é que se chama?
LOC. -  Um jantar de cerimônia, um jantar formal, não é? Quando é muito tarde é uma ceia, né, depois das dez assim, às tantas. Agora na hora comum, oito horas, oito e meia, é um jantar de cerimônia, é jantar mesmo, eu chamo de jantar.
DOC. -  Quando é o governador, por exemplo, que convida.
LOC. -  Ah, banquete. Aí já em número mais elevado, né? Bom, aí banquete, naturalmente, e de tantos talheres, né, como se diz. Mas aí já é mais de caráter oficial, não é, não é assim de caráter mais familiar (sup.)
DOC. -  (sup.) E às vezes é um convite assim apenas para beber (inint.) no fim da tarde (inint.)
LOC. -  É um drinque, né? Essa palavra é estrangeira mas já está introduzida aqui na língua, você convida os amigos pra tomar um drinque, pra drincar, já tem até um verbo, né? Eles já abrasileiraram. Agora 'cocktail' pode ser uma festinha também sem comida, só com salgadinhos, com aperitivos, não é, 'cocktail', coquetel, como se diz, em português.
DOC. -  Pra terminar eu só queria perguntar uma coisa a você, você (inint.)
LOC. -  Ah, que nada, eu não estou cansada, é um prazer.
DOC. -  Você poderia me falar um pouco dos utensílios que se usa na cozinha para o preparo dos alimentos e também para servi-los na mesa?
LOC. -  Ah, pois não. Bom, na cozinha as panelas, né, são essenciais de vários tamanhos e de várias qualidades.
DOC. -  E têm nome as diferentes panelas?
LOC. -  Têm. As panelas por exemplo de duas alças, para o feijão, é o caldeirão. Aquela que só tem um cabo, redonda, é a frigideira, pra fazer os bifes, as frituras e os ovos estrelados. Uma panela mais ou menos grande pro arroz e pro macarrão. Você tem que ter aquelas separadinhas, uma pro café, que você não misture com outras porque não dá gosto de gordura, não é? E as fôrmas de bolo todas, os tabuleiros. Agora a comida servida na mesa é nas travessas, né, na baixela, que é o coletivo. Então as travessas também têm vários tamanhos. Tem umas que são mais fundas, pro arroz, pro feijão, tem as, as de tamanho maior pro, dependendo do número de pessoas que estejam na mesa, né? Baixela tem travessas e a molheira, que faz parte da baixela, com os molhos separados. E os talheres, copos, pratos, tudo isso numa mesa bem posta. Talher especial pro peixe, copos, vários tamanhos, pra água, pra vinho, pra licor, uísque agora é servido em copos não muito altos, está na moda, né, porque todo mundo toma uísque puro "on the rock", com gelo, então o copo mais baixo tipo de refrigerante. Agora o copo alto, que é o clássico, pro gim tônico, a taça de champanhe, copos maiores pra água, e vários formatos, de pé, sem pé, bojudos, não bojudos. Tudo depende do padrão de vida da pessoa, né?
DOC. -  [(Você não vai perguntar sobre o estado dos alimentos? (fala à parte)] Ah, sim. Os alimentos se encontram às vezes em estados diversos, não sei se você entende. Não posso dizer as palavras porque eu quero exatamente que você diga (inint.) como são, quando estão em condições (sup.)
LOC. -  (sup.) Eu sei, já entendi (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) favoráveis, desfavoráveis, se pode comprometer a saúde, se não pode, enfim (inint.) vegetal, uma massa, uma carne, etc. (inint.)
LOC. -  É. Bom, quanto mais fresco melhor, tudo, não é? Por exemplo, os vegetais, as verduras, as frutas, mesmo a carne. O peixe é muito perigoso, qualquer coisinha fica deteriorado. A carne de porco, no verão, então, tem que estar de olho vivo. Agora nos supermercados já tem uma ótima apresentação, eles eliminam os frutos tocados, os vegetais mais murchos, porque a concorrência está muito grande, então eles têm que caprichar, não é? E congelados também não devem ser tão saudáveis, né? Agora estão surgindo essas refeições prontas, né? Já vão fazer aqui fábricas de congelados, você já compra até nas bombas de gasolina, coisa que nos Estados Unidos já tem há muito tempo, eu já morei lá dois anos, são mais bem preparados, porque agora nós estamos começando a fazer aqui, não é falta de patriotismo, é verdade. Ago... acho muito ca... caro no Brasil ainda. Tudo que é enlatado assim ninguém compra muito por causa do preço, eu acho que se barateassem facilitava muito a vida. Acho que, não acho ruim o gosto não. Geralmente não é como o feito em casa, mas quem é que tem tempo mais? Quase ninguém tem empregada, não é, a gente tem que acompanhar os países mais civilizados mesmo, estamos caminhando pra isso.
DOC. -  Está perfeito, obrigada, você foi ótima (inint./sup.)
LOC. -   (sup.) Ah, imagina, eu tive muito (interrupção)