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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Transportes e viagens"

Inquérito 0198

Locutor 228
Sexo feminino, 59 anos de idade, pais não-cariocas
Profissão: técnica de educação musical
Zona residencial: Norte e Suburbana

Data do registro: 17 de dezembro de 1973

Duração: 40 minutos

Som Clique aqui e ouça a narração do texto


L
 No Japão nós estivemos, eh, hospedados em casas de pessoas japonesas, famílias japonesas, vivendo assim aquele clima bem próprio deles, né, eh, eh, de comer aquela comida, peixe, à base de peixe e peixe cru, enfim, coisas bem agradáveis, bem diferentes, dormindo no tatame ao chão e, e com aquele, aquele, aquela maneira própria deles, né, muito gentis, muito simpáticos, muito atenciosos, tomando banho em público, que foi mesmo uma coisa muito agradável, viu, e andando por aquelas, aquelas estações monumentais, um povaréu tremendo, tremendo. Num instante a gente fica atordoado de tanto povo e, mesmo em Tóquio, porque nós aproveitamos, eh, eu havia me esquecido, nós aproveitamos, eh, pra visitar o, a Expo em setembro. Então fomos ao Japão. Depois fizemos uma, uma esticada até a China, fomos também à, à Tailândia, estivemos em, no Irã, visitamos Israel nesta ocasião.
D
 E, e, mas eu estou particularmente interessada nos meios de transporte?
L
 Nos meios de transporte? (sup.)
D
 (sup.) Que a senhora (sup.)
L
 (sup.) Nós fizemos de avião quase todo o traje... (sup.)
D
 (sup.) Quase todo de avião? (sup.)
L
 (sup.) Quase todo de avião, é. Porque nós levamos nessa ocasião três meses e pouco e sem ser de avião não era possível, né? Nós fomos por, pela América, fomos a Nova York e depois fomos a Los Angeles, dali fomos para, fomos para Havaí, do Havaí é que fomos para Tóquio. Mas sempre de avião.
D
 E que tipo de avião a senhora usou?
L
 Ah, nós fomos no jambo (sic.). Estive... viajamos no (sup.)
D
 (sup.) Como é que é esse avião?
L
 Esse, esse avião é o maior transporte que há, existe, né? Parece que, hum, trezentas pessoas (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 (sup.) Ah, é uma, é um, um verdadeiro, ah, monumento, sabe? Muita gente e tudo muito perfeito e, e televisão, não sei quantas, ah, telas de televisão e, e serviço também muito agradável, muito simpáticas as, as aeromoças, enfim, muito agradável mesmo.
D
 E a parte interna?
L
 A parte interna do avião? Sim, tudo com muito apuro, mas sem luxo (sup.)
D
 (sup.) Sei (sup.)
L
 (sup.) Simples (sup.)
D
 (sup.) Mas por quê? O que é que tem assim dentro? Eh, o aspecto.
L
 Eh, aspecto?
D
 É.
L
 Como qualquer outro avião, só que tem naturalmente com mais gente, mais, mais amplo, eh, pessoas trafegando com mais facilidade.
D
 Mas o que eu estava querendo saber (sup.)
L
 (sup.) Ah, bom (sup.)
D
 (sup.) É exatamente como é que é (sup.)
L
 (sup.) Eh (sup.)
D
 (sup.) Qualquer outro avião o quê (sup.)
L
 (sup.) Eh (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 (sup.) O avião, eh, não, ali, o avião comum só há aquela passarela.
D
 Hum.
L
 E este não. Tem, é mais amplo, há ma... várias, parece duas passarelas assim e em cada andar (sup.)
D
 (sup.) Tem vários andares? (sup.)
L
 (sup./inint.) várias ... Dois andares pelo menos, dois andares.
D
 Hum, hum.
L
 É, dois andares. Tenho a impressão que sim. Eu, olha, eu confesso que, eh, eu viajei duas vezes nesse avião. Fui de Miami, de Los Angeles a Miami, depois de Miami, não, Miami não, ah, Havaí, depois do Havaí para Tóquio. Foram duas, duas, dois aviões, eh, grandes assim. Mas ...
D
 E a senhora notou que esse tipo de avião requer coisas especiais no, no local onde ele chega?
L
 Ah, sim, eh, uma pista especial pra eles porque é um mundo de, de, de, de, de carro, né, uma coisa imensa, de modo que precisa pista especial e (sup.)
D
 (sup.) E a sensação assim de, de (sup.)
L
 (sup.) Não, uma coisa bem agradável. Eu, eu, eu tenho paixão por voar. Eu acho que se eu fosse homem e tivesse uma, não soubesse o que eu queria fazer eu teria, eu teria sido piloto de aviação, qualquer coisa assim, que eu adoro quando eu estou no ar. Eu faço música dentro no avião, escrevo, componho dentro do avião. Então eu fico assim muito como um peixe dentro dágua, eu fico muito bem.
D
 Mas tem pessoas que não gostam, né?
L
 É, tem. Ah, inclusive tenho viajado aqui mesmo pelo Brasil, eu tenho dado ânimo e, e tirado o medo de tanta gente. Mas eu me sinto assim perfeitamente bem. O avião fica assim sobe. Eu, olha, eu nunca senti medo. Numa ocasião nós fizemos uma viagem, eh, e fomos, fomos até Belém do Pará e na passagem parece que do Maranhão para, de, de Pernambuco para Belém nós passamos em, no Maranhão numa, num daqueles aeroportos pequeninos e eu nunca vi tan... um avião parecia folha seca. Todo mundo assustado, meu marido meio assim, meio enjoado. Eu só, parece que eu era a única que estava calma no avião. Serena, sem sentir aflição, medo, mal estar, nada, nada, nada, nada, nada. Também não posso (sup.)
D
 (sup.) E o que que houve assim de (sup.)
L
 (sup.) Porque diziam, disseram que era problema de, de on... como é, correntes aéreas.
D
 E qual foi (sup.)
L
 (sup.) Então aquilo, ah, as ga... as garrafas caíam dos lugares, não é, e as pessoas ficavam sem estabilidade. Mas eu não senti nada não. Sabia que aquilo era, podia acon... O homem também lá, eh, a, aero... a aeromoça tinha falado: ah, não se importem não que é assim mesmo essa passagem. De vez em quando acontece isso. E pronto (inint./sup.)
D
 (sup.) E, e quando acontece uma coisa dessas no avião quais são assim as providências que as pessoas tomam?
L
 Bem, bem, eles, eles avisam, não é, eles pra, pra ... Primeiro, (inint.) não pode viajar sem com estar com o cinto apertado, né, coloca um cinto. Pra não fumar. E se eu sentir qualquer coisa pegar o saco de pôr coisa de enjôo ou então abaixar a cabeça. Tudo isso eles fazem, uma série de recomendações. Mas em geral, aliás eu não sei se já é propositado mesmo ou não mas só quando está a coisa assim um pouco quente é que eles previnem, porque fora disso eu nunca ouvi ninguém dizer nada. Começa inclusive que eu ouvi uma, uma aeromoça estar recomendando: ah, isso não acon... não tem problema nenhum, os senhores fiquem calmos, não vai acontecer nada. E realmente não aconteceu nada. Mas muita gente fica nervosa. Basta o avião estar, basta embarcar no avião. Uma ocasião eu vim do, dessa viagem eu vim do, de Belém do Pará direto ao Rio e, eh, o avião passou pelo interior. Então era tal de parar aqui, acolá em, em aeroportos pequenininhos, né? Era um avião de carga que eu tinha vindo. E me recordo quanta gente ali pelo interior (inint.) de gente, coitados, desprevenida, despreparada, era uma coisa. Uns, uns rezavam, outros choravam, outros se lastimavam. Mas tinha um, um nordestino no avião. Então esse é que contava as coisas engraçadas para amenizar a situação. Mas nessa, nessa viagem (sup.)
D
 (sup.) Mas havia assim alguma ...
L
 Nada, problema nenhum.
D
 Causa pra isso?
L
 Nada. Gente medrosa, gente inexperiente (sup.)
D
 (sup.) Mas do que que as pessoas têm medo?
L
 Sei lá. Que o avião não tenha estabilidade, que venha a cair, não é, ou que, sei lá. Eu não sei o que que as pessoas têm medo. Eu não tenho medo de avião.
D
 A senhora já observou que, se há momentos assim ...
L
 Não. Basta o avião dar uma, aquele, aquele, aquela, aquela queda. Ah, muita gente tem susto, né?
D
 É.
L
 A falta do, do, da estabilidade, né, a pessoa fica assustada. Mas eu não tenho receio disso não. Não tenho mesmo não. Mas qual a razão deste, desta, dessa pergunta assim? Há algum problema, né? Acho que não. Veja lá. Eu quando me proponho a fazer uma coisa eu vou até o fim. Então o que acontece no caminho eu estou preparada, né, pra me defender ou para aceitar.
D
 Mas às vezes há acidente.
L
 Ah, sim. Há, hum, há sim. Mas nunca aconteceu não. Graças a Deus, não.
D
 Mas assim em termos de, que a senhora tem sabido por notícias e esses acidentes ocorrem por que motivos?
L
 Bom, ah, uns dizem por fal... problema mecânicos, outros a falha do homem. O homem também não é perfeito, não é? Muitas vezes (sup.)
D
 (sup.) A senhora lembra assim de (sup.)
L
 (sup.) Não. Só uma ocasião que eu fui à Bahia e tivemos que vo... sobrevoar algum tempo. Mas era problema também de visibilidade. Mas fora disso não. Em São Paulo também uma ocasião o avião ficou rodando, rodando, rodando. Foi até na, por ocasião do quarto centenário de São Paulo e eu tinha ido, estava sozinha, apenas, não sei que que eu tinha ido fazer a São, em São Paulo e havia uma se... uma senhora ao meu lado, começou a chorar. Eu disse: minha senhora, sabe o que que acontece? A senhora olha pra baixo, estão mostrando, é uma, é uma, é uma cortesia pra senhora ver bem São Paulo com mais, ahn, ahn. Eu disse aquilo, poderia ter dito outra coisa mas foi o que eu achei no momento mais, mais interessante de acalmá-la. Mas não. Depois o avião veio embora e pronto. Não aconteceu nada.
D
 E esses aviões que a senhora usou no Brasil foram de tipos diferentes?
L
 No Brasil sim. Ah, sim. Eu viajei uma ocasião nesse tipo de avião, não é, que era de carga e, e fui também numa outra ocasião fui ao Xingu. Meu marido faz um trabalho com os índios nas férias. Então ele gosta de ir lá para o Xingu, lá no, no posto Leonardo. E é muito amigo do O., do C. Então uma ocasião eu fui, porque eu estava interessada em ver o, dança, música indígena, conhecer o índio de perto. Então eu fui. Aí também fui num ôni... num avião, ah, do ministério da Aeronáutica, um avião assim de transporte. Mas também foi muito engraçado (inint./sup.)
D
 (sup.) Como é que é?
L
 É, são duas, eh, só tem dois lados, né? Porque o avião co... avião comum as cadeiras, os bancos são, ah, ao correr do, do corpo da, do avião e esses aviões de carga não. São duas, dois lados, laterais. Um em frente ao outro. Então a gente conversa, bate papo, as pessoas ficam muito assim muito em frente, né, e dá oportunidade. Nesse em que eu fui para, para lá, para o Xingu eu consegui com o ministério da Aeronáutica. Não, não, o serviço (inint.) de índios, Proteção dos Índios, então havia quase ninguém. Eram duas pessoas e fiz a viagem praticamente sozinha. Mas aí aproveitei, escrevi bastante. Mas eu acho que fugi de um assunto que eu queria contar.
D
 Era o tipo de (sup.)
L
 (sup.) O tipo de avião. É. Ide... era idêntico ao que, aquele outro que eu vim do Belém do Pará para o Rio. Vinha com pressa que meu marido foi ao Amazonas nessa ocasião e eu vim sozinha que eu tinha, tinha acabado, tinham acabado as minhas férias aí na secretaria. Eu vim correndo.
D
 Que tipo de propulsão nesses aviões, eh, de carga.
L
 Sim, eh, o, é o avião assim quadrimotor, me parece, ou bimotor.
D
 Certo.
L
 Aviões bimotor.
D
 E esses outros que a senhora tem usado. Não são (sup.)
L
 (sup.) Não, não. Não são, não são a jato, né? Já viajei muito a jato (trecho ininteligível, vozes distantes do microfone)
D
 (inint.) nesses tipos?
L
 Nos tipos de quê, de avião?
D
 É.
L
 Hum. Bem, o avião bimotor, eh, talvez preocupe mais do que um quadrimotor. Você sabe que tem quatro motores funcionando, se um falha os outros três podem funcionar, não há problema. E o a jato a gente não pensa em nada, sei lá, eu pelo menos não penso. O avião a jato, é, é uma sensação agradável (inint.)
D
 E a senhora falou que, eh, viajou de trem na Europa (sup.)
L
 (sup.) Ah, sim, sim, sim, fiz uma viagem de trem.
D
 E aqui no Brasil também já fez viagens de trem?
L
 Já fizemos sim. Do sul eu fui uma ocasião à Argentina. Ah, você estava querendo (inint.) foi sem querer (inint.) e nós fomos à Argentina, fomos a Buenos Aires, depois voltamos ao Uruguai, Montevidéu. Depois viemos pelo sul de trem. Levamos cinco dias, eh, viajando de trem. É muito agradável também, bastante agradável.
D
 Daqui pra São Paulo a senhora (sup.)
L
 (sup.) Ah, já (sup.)
D
 (sup.) Também foi de trem? (sup.)
L
 (sup.) Já, já fui algumas vezes de trem (inint.) eu viajo bem, não tem problema não.
D
 Sei. Agora, eu queria que a senhora me descrevesse o trem.
L
 Ah (sup.)
D
 (sup.) Como meio de transporte.
L
 Olha, eu já fui a São Paulo de trem há muitos anos. Meio de transporte (inint.) bom, em geral eu viajei à noite. Eu viajo dormindo, de modo que a sensação é de estar numa cama com um balanço com, mais ou menos regular e acordo lá em São Paulo. Agora, tenho viajado muito de, de, de carro, de ônibus. Prefiro ônibus.
D
 Por quê? (sup.)
L
 (sup.) A carro. Porque o carro eu já fui com meu marido e fico muito tensa. Eu tenho uma (inint.) assim, meu marido é assim, meio, ah, vamos dizer assim, tem uma direção um pouco valente, não sabe, eu fico meio assustada. Agora não corre muito não. Acho que é com a idade. Quando ele era mais novo corria que era uma coisa terrível. Então eu ficava muito assustada. Mas (sup.)
D
 (sup.) Assustada por quê? O que que a senhora achava que podia acontecer?
L
 Podia acontecer qualquer coisa. Inclusive nós já sofremos um acidente. O carro já capotou. Estava eu, meu, meu marido. Nessa, nessa época, nessa ocasião não foi velocidade.
D
 Não foi velocidade.
L
 Derrapagem. Começou a chuviscar e o carro capotou e nós levamos, eh, fica... rodamos quase três vezes e, mas graças a Deus não aconteceu nada. Foi na estrada Rio-Petrópolis.
D
 Sim.
L
 Mas não foi daí que eu fiquei assim preocupada com o carro não. Já sempre eu tenho os meus cuidados. Nós já fizemos uma outra viagem também que eu vou lhe dizer que quando eu viajo de carro eu não fico tão em paz. Fomos assistir à inauguração de Brasília. Meu marido quis. Então chamou um amigo nosso, aliás, um pai de um cliente, clientezinho dele e foi conosco. Um carro grande, muito agradável, um Dodge que nós tínhamos. Mas viajamos o tempo todo assim eu como um farol. Não, não dormia se, enquanto o, o carro não parava. Viajávamos muito à noite, mas eu ficava ali feito um, um vaga-lume, tomando conta de tudo e dando café pro senhor que estava, que estava guiando e conversando com ele pra distraí-lo. Mas eu não fechava os olhos nem piscava.
D
 E quando a senhora sofreu esse acidente, eh (sup.)
L
 (sup.) Sim (sup.)
D
 (sup.) Danificou muito assim o ...
L
 O carro. Só o carro.
D
 O carro.
L
 A nós não, graças a Deus. Nós nos, nós nos portamos assim muito calminhos. As pessoas que viram ficaram muito alarmados (sup.)
D
 (sup.) E o carro, o que que teve?
L
 Ah, ficou completamente inutilizado a capo... a capota, que ele virou três vezes, passou de uma pista para a, a, a pista de descer. Nós subíamos para Petrópolis e o carro deu três cambalhotas. Nós fomos parar do outro lado da pista, quase à margem da, da pas... do passeio da outra pista. Neste dia ti... eu só não le... fiquei assim meio preocupada com a, porque na, na hora em que nós estávamos naque... naquela volta, naquele momento em que estávamos esperando quando é que o carro iria parar, né, aí vinha um, um outro carro de descida muito veloz. Mas felizmente o homem imprimiu assim uma velocidade maior e passou (inint.) nós fizemos uma cambalhota e logo após o carro ter, ter passado. Nesse, nessa hora eu fiquei assim um pouco preocupada, mas eu percebi tudo logo. Tirei os óculos calmamente, meu filho também tirou os óculos. Ele estava atrás e eu na frente com o meu marido e (inint.) meu marido deu um talho assim na testa, mas o resto não houve nada não, nós saímos calmamente (sup.)
D
 (sup.) E aí pra tomar providências?
L
 Ah, fiz... fizemos o seguinte: o, o rapaz, o meu filho tinha nessa ocasião uns dezoito anos ficou com o carro e, e eu segui com a, um carro que vinha atrás com a família indo para, eh, parece que Getúlio Vargas, hos... hospital Getúlio Vargas aí pra cima. Aliás um, um hospital que meu marido já tinha trabalhado. Então ele foi atendido assim, mas foi um talho na testa, fez um pontinho, mais nada. E mais nada aconteceu. Depois voltamos. Um, um amigo meu, eu telefonei pra um amigo nosso, um, um colega do meu marido, um médico, ele foi lá com o carro e nos apanhou e, e nos trouxe de volta e o carro depois foi rebocado e foi consertado. Ficou algum tempo lá na oficina mas consertou.
D
 A senhora não tem idéia assim do que que precisou consertar no carro?
L
 Não. Não, porque não, não tomei parte. Meu marido levou.
D
 A senhora dirige?
L
 Não. Eu comecei a, a, dirigir, aprender aqui mas nunca entrei em escola. Estava pretendendo dirigir mas depois eu fui para, eu fui viajar, foi essa viagem longa que nós fizemos, né? E quando eu voltei eu muito ocupada com a minha tarefa na, na secretaria, eu era chefe de serviço de educação musical, visitava as escolas e tal e tinha, tinha necessidade assim de ficar presa a uma direção, sabe?
D
 E qual é o meio assim de, de transporte que a senhora utiliza pra trabalho?
L
 Pra trabalho? Pra trabalho ônibus e táxi quando eu posso. Mas o que eu gosto de andar é mesmo a pé. Eu vou daqui à cidade a pé facilmente e sou capaz de voltar na mesma, no mesmo dia e com a maior facilidade porque eu ando muito. Meu, meu 'hobby' é andar, de modo que eu ando muito, eu gosto muito. Adoro andar no ônibus em pé, conversar com um, conversar com outro. Às vezes o pessoal diz: ah, vou te buscar. Não vai buscar coisa nenhuma. Eu volto como eu puder e tomo a condução que eu quero, converso com quem eu quero, vejo as pessoas, eu gosto muito de povo.
D
 E o ônibus é recente aqui, né?
L
 Ônibus é recente sim. Antes era o bondinho. Aquele bondinho simpático, agradável.
D
 Mas ainda tem, né?
L
 Existe o bonde. Só tem uma desvantagem: que ele agora só vai até a, os Arcos.
D
 Hum.
L
 Dali então a gente salta e toma um outro ônibus que vai dos Arcos à avenida Chile. Então como o ônibus vai direto até o largo da Carioca então a gente prefere sempre o ônibus, né?
D
 Agora como é que é esse sistema de bondinho aqui?
L
 Olha, o bonde aqui vi... era um verdadeiro relógio. Quando nós nos mudamos pra aqui era um verdadeiro relógio, porque a passagem nos Arcos era de tal ordem importante assim em termos de horário que podia se contar: quatro e cinco passava o ônibus, o bonde que vinha de Dois Irmãos ou Silvestre. Então a gente ia pro ponto, sabia. Isso muitos anos. Mas depois daquela, como é, daquela tempestade, aquele, aquela, houve derrubada, as casas caíram aqui e os ônibus, os bondes paralisaram. Então vieram para aqui como meio de, como meio de transporte aquele, como é que chama, um, uma Kombi. Como é que se chamava naquela ocasião? Era, como é? Lotação.
D
 Hum.
L
 Lotação. Mas a princípio foi muito bem, todo mundo viajava na lotação. Mas aí começaram a correr demais pra pegar freguesia e houve um grande desastre no largo do Guimarães. Parece que morreu até uma criança. E o povo daqui sem combinar, sem coisa alguma, esmoreceu e deixou de tomar o tal lotação e aí voltaram a ocupar, a tomar os bondinhos e depois veio então o ônibus. Então a gente escolhe. Quando eu estou com muita pressa eu vou de ônibus, vou direto à cidade. Quando não, eu vou de bonde, vou calminha assistindo a (inint.) a paisagem.
D
 A senhora podia descrever um bonde desses?
L
 Ah, é uma belezinha. O bonde parece uma caixa de fósforo, de tal fragilidade, aparente, né, porque nunca aconteceu nada com esses ônibus, com esses bondes. Eh, eh, ele, ele não tem velocidade grande porque eles trafegam, eh, o trilho é alto do chão, então parece que o freio é, é uma coisa um pouco primitiva. É antiqüíssimo esse sistema. E é todo ventilado, tudo aberto. Dia de chuva é uma beleza. A gente se molha, né, mas é gostoso. E conhece toda a gente, não é? Quando a gente viaja de bonde, a gente conhece todo mundo, né, que aqui é um arrabalde. De modo que não havendo comércio, então a gente vem com sacos e, e, e embrulhos e é muito agradável, porque toda gente com uma imagem do outro, todo mundo passa pelo mesmo problema, né? Então muito, ali todos se conhecem, são, são capa... Eu, por exemplo, conheço pouca gente aqui, se não os meus vizinhos diretos. Mas conheço toda gente que mora por aqui de ter, de ver. Sei onde salta e mora mais pra cima ou mora mais pra baixo. Ou os deixo no caminho ou já os encontro no bonde. Então eu vou ... É agradabilíssimo esse bondinho.
D
 E as pessoas que conduzem?
L
 Ah, são, eh, eh, o, o, são os, são o pe... são funcionários da, como é, da, são funcionários do governo, né?
D
 Hum, hum.
L
 É. São funcionários do governo, que depois alguns ficaram como chofer, de trocadores de, dos ônibus. Mas são, são antigos. Ih, essa gente aí não (sup.)
D
 (sup.) E eles têm um nome assim especial?
L
 Não, chamam motorneiro e condutor. Condutor do (sup.)
D
 (sup.) São dois que vão?
L
 Sempre dois.
D
 Sempre dois?
L
 É. Antes dessa, dessa grande (sup.)
D
 (sup.) O que que cada um faz?
L
 Ah, o motorneiro dirige a manivela para dar a, para o bonde andar, né? E o condutor cobra as passagens. Sempre muito corretos, muito honestos, nunca tiram dinheiro, nunca se esquecem, se enganam em troco, porque todo mundo conhece aqui, né?
D
 E assim quando está muito cheio?
L
 Ah (sup.)
D
 (sup.) Aqui tem esses problemas de estar muito cheio?
L
 Bom, toda parte as conduções de determinadas horas, por exemplo, me lem... hora da, da saída do pessoal do trabalho, né, eh, vem, o ônibus vem entupido, o bonde vem entupido, vem cheio por trás, por, pela frente, o pessoal vem em pé. Mas toda a gente dá lugar, espera, se aperta e se acomoda, aí todo mundo vem.
D
 E onde é que as pessoas ficam em pé?
L
 Ah, entre os ban... entre os bancos. Aí, eh, eu acho que é o único lugar no mundo que acontece isso (sup.)
D
 (sup.) Só entre os bancos?
L
 Entre os bancos, atrás, na frente. Há um espaço maior entre o motorneiro, né, que tem aquele ferro assim dividindo.
D
 Hum.
L
 Aquela (sup.)
D
 (sup.) Aquilo ali tem um nome (inint.)
L
 Ah, nunca vi. Não sei.
D
 E aquela parte de trás também a senhora não dá pra ver (sup.)
L
 (sup.) Também não sei se tem nome não. Eu sei que viajo muito ali, porque eu prefiro ali do que ficar entre um banco e outro, que é muito mais estreito. E ali a gente tem maior possibilidade de encontrar lugar, né, e a gente se apertando então vai bem, muito bem.
D
 E, e fora?
L
 Ah, fora vai o pessoal pendurado como, como sempre em todo lugar, né? Bonde o pessoal vai no estribo, né, e o condutor aqui botando a mão pra cá, aquele perigo. Mas o bonde não corre. Se, se alguém perder equilíbrio salta do bonde eu crai... eu creio que sem nenhuma gravidade.
D
 E costumam saltar com ele andando?
L
 Quando o bonde está assim muito veloz eu acho que só esses rapazes muito afoitos. Mas fora disso não. Acho que só quando vai diminuindo ou quando está de saída e pronto (sup.)
D
 (sup.) E tem um nome assim quando, eh, eh (sup.)
L
 (sup.) Quando o bonde pára?
D
 Quando pega o bonde andando ou quando sai do bonde com ele andando? Tem um termo pra designar isso?
L
 Não. Termo (inint.) tomando o ban... o bonde andando. Nem sei, não sei, eu não sei, não me recordo. É possível que haja, é possível até que eu saiba mas não me lembro.
D
 Hum, hum. E assim (sup.)
L
 (sup.) Tomar carona. Não é isso que você queria, não é?
D
 Não, não. Que (sup.)
L
 (sup.) Eh (sup.)
D
 (sup.) Eu queria saber se tem (sup.)
L
 (sup.) Algum termo próprio pra isso?
D
 Próprio.
L
 Não te... não tenho idéia, não sei.
D
 E em termos assim de outros locais que a senhora foi, como é o tipo de serviço de transporte urbano?
L
 Outros locais, né? (sup.)
D
 (sup.) Estou falando que aqui tem bonde, tem ônibus (sup.)
L
 (sup.) Sim, sei (sup.)
D
 (sup.) Lotação.
L
 É.
D
 Nos outros locais, que tipo de (sup.)
L
 (sup.) Aqui no Brasil que você fala ou no exterior?
D
 No exterior com as viagens que a senhora fez, outros tipos assim de meios de transporte urbanos dentro das cidades.
L
 Não, não, tudo, tudo está mais ou menos assim ... Bonde não, né, porque bonde (sup.)
D
 (sup.) Bonde não há em outro lugar? (sup.)
L
 (sup.) Não, antigamente sim. Na Fran... na In... na Inglaterra, em Londres tinha bonde, na França tinha bonde, em Paris eu andei de bonde. Um bonde bem, bem diferente desses daqui, não é? Em Londres eram aquele, aqueles, ah, ônibus, eh, duplo, não é? Mas em Paris eu viajei num bonde que por sinal assisti até uma briga muito engraçada do condutor com uma lavadeira com uma trouxa na rou... de roupa na, na cabeça. Muito agradável. Mas agora ultimamente já não tem mais nada de bonde em lugar nenhum. Você não encontra bonde em lugar nenhum.
D
 E assim em termos de transporte de massa, qual, qual é a solução que esses grandes centros deram que nós estamos, estamos (inint./sup.)
L
 (sup.) Eh, eh, eh, subterrâneo, né, trem subterrâneo (inint.) em toda parte, em Londres, em França, em Portugal, em todo, em todo lugar, Alemanha (sup.)
D
 (sup.) A senhora já teve oportunidade de usar?
L
 Muitas vezes, muitas vezes.
D
 Como é que é? A senhora podia descrever?
L
 Ah, é, é, é, são trens parecido com esse da Central que naturalmente são, que trafegam quase sempre com horário muito miúdo, quer dizer, há muita quantidade de, de transporte, né? A gente desce a escada, paga o tíquete, passa na roleta e espera um trem. O trem chega logo, abre a porta, a gente entra, pronto. Ele pára na estra... que, na estação que se deseja, pronto.
D
 Como é que são essas estações?
L
 Como é que são essas estações? De uma maneira geral como na América: são todas mais ou menos parecidas. Agora, nós, ah, eu tenho uma coisa talvez pra contar. Estivemos em Moscou num congresso de (sup.)
D
 (sup.) Quando? (sup.)
L
 (sup.) Cancerologia. Aí sim, as, como é que se chama isso, os metrôs? De, alguns até de cem metros de profundidade. As estaço... (sup.)
D
 (sup.) As entradas, as estações?
L
 As es... as, as, o, as estações. E no correr e na, na, nas estações muitas delas, todas elas muito bem tra... cuidadas, muito bem tratadas. Uns, eh, eh, o motivo era, por exemplo, espelhos. Então havia espelhos de toda sorte. Mármores e outros não sei quê, outros, eh, isso há muitos anos nós fomos lá. E isso me impressionou demais, porque era limpeza demais (inint.) uma coisa terrível que incomoda a gente. Mas em Portugal também. Em Portugal, Lisboa é, Portugal todo é muito limpo, mas Lisboa é um jardim. Também (inint.) andei de metrô várias vezes.
D
 E o que que a senhora acha do daqui?
L
 Vai sair, naturalmente, é uma coisa necessária. Eu acho muito necessário. Acho que vai (sup.)
D
 (sup.) Por quê?
L
 Porque o tráfico no, na, na estrada, eh, já está congestionado. As ruas estão todas congestionadas, eh, as, as ruas são estreitíssimas, não foram pensadas em, em termos de hoje, né, então fica dificílimo. Você vê, você não consegue marcar hora com ninguém, você está sempre com tudo atravancado, os ônibus parados, os carros um atrás do outro, o sinal não funciona, buraco por toda parte e então fica difícil. E os metrôs não, o tráfico está sempre desimpedido, é fácil.
D
 E a senhora falou hoje nos transportes, viajou de avião, viajou de trem, de automóvel (sup.)
L
 (sup.) É, de carro de boi, de bicicleta, de tudo isso eu viajei.
D
 É?
L
 De carro de boi eu viajei no interior de Minas quando eu fui não sei a Congonhas do Campo (inint.) viajei de carro de boi (inint.)
D
 E a senhora já usou assim al... usou algum transporte marítimo ou fluvial (sup.)
L
 (sup.) Ah, navio? Sim, já fomos daqui a Buenos Aires uma ocasião de navio.
D
 Como é que foi?
L
 Muito agrada... agradável. Muito, muito, eh, como se diz, no verão muito calor, um calor terrível mas muito agradável. Pessoas assim muito simpáticas e que se podiam conversar com facilidade e o fresquinho do mar à noite, uma, uma delícia, aquele balancinho, aquele, dá sono em qualquer um.
D
 Como é que era esse ...
L
 Esse navio era um navio italiano, não me lembro mais e também esta, só fiz essa viagem de navio. De (inint.) só essa viagem. Ah, me parece que eu viajei também num barquinho. Onde foi, cacilda, um barco? Ah, bom, quando nós fomos de Uruguai. Você vai do, de Montevidéu a, a Buenos Aires a gente vai naquele barco. Ah, também viajei num barco (inint.) moderno. Foi onde, C.? Nas ilhas Formosa. Ah, viajei nas ilhas Formosa. Na Tailândia estive naqueles barquinhos viajando por dentro dos rios.
D
 Eu queria que a senhora me descrevesse assim (sup.)
L
 (sup.) Esse barquinho?
D
 O aspecto externo, aspecto interno.
L
 Bom, esses barquinhos, esses barcos, eh, são não muito longos, são relativamente pequenos, talvez caiba umas vinte pessoas, outros menores, dez mais ou menos e outros até menores. Viajei num pra três pessoas. Então a gen... a gente (sup.)
D
 (sup.) E tem um nome?
L
 Não me recordo.
D
 Hum.
L
 Nome assim especial não me lembro. Então esses barquinhos nos levam até as, as, como é que se chamam, a, os mercados flutuantes. Já está no final, né?
D
 Está no final, mas aqui (inint.)
L
 Mas esses barquinhos, eh, são, são simples, não tem problema nenhum, não têm assim nenhuma decoração nem coisa alguma, são só mesmo para transportar as pessoas. E correm pelo rio.
D
 E o tipo de propulsão?
L
 Ah, a motor? A motor.
D
 É.
L
 Claro. A motor. Espera aí, C., deixa eu me lembrar. A motor. Mas num outro menor fizemos (sup.)
D
 (sup.) E esse de Montevidéu?
L
 De Montevidéu (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 (sup.) Eh, veloz, bem veloz, bem veloz. E esse também que eu viajei lá no, nas Ilhas Formosas. Foi C.? É. Hong Kong, Hong Kong, eh, eh, velocíssimo. A gente tem a impressão ... E sai mesmo, parece que o, que o barco, hum, sobe as águas e, e voa assim um pouco, sabe? A gente tem es... essa sensação. Mas vai numa velocidade extrema, extrema. E o transporte também no Japão nós estivemos naquele trem que vai, Tokaido, Tokaido, um nome assim, Tokaido, Tokaido que vai de Tóquio a Osaka.
D
 Hum.
L
 Mas vai numa velocidade extrema. Eles fizeram um processo assim de retas então o trem vai numa velocidade extrema. Talvez uma distância daqui como São Paulo em uma hora e pouco, o trem, uma coisa maravilhosa (sup.)
D
 (sup.) É esse que eles querem colocar aqui, né?
L
 Exato, exato. Eles querem colocar aqui. Muito bom, um transporte excelente.
D
 Mas eu vou insistir no navio.
L
 No navio.
D
 No navio que a senhora foi a Buenos Aires.
L
 Ah, isso já foi há tantos anos. Sabe quantos anos fazem, faz essa, essa viagem? Uns vinte e sete anos. De modo que eu não tenho assim idéia. Depois disso já viajei tanto, já andei tanto, não tenho idéia, eu sei que foi uma noite mui... muito quen... noites, duas noites quentíssimas. Dormi, ninguém dormia no, no, no navio. Só eu conseguia dormir, pessoas (sup.)
D
 (sup.) Como é que eram esses alojamentos?
L
 As cabines, né, aquelas cabines. Então dormia embaixo, em cima, mas estava muito calor. Às vezes as pessoas ficavam dormindo ali na, no tombadilho, porque não dava pra entrar no, nas cabines. Mas eu cheguei, dormi, não tive problema não. E a comida assim à base da alimentação italiana, não é, ma... massa e ravióli, essas coisas. Eu não sou muito de comer não porque ... Não me recordo bem. Eu sei que meu marido adorava as comidas do navio. Mas era possível que eu até passasse a leite porque fora de casa eu não sou assim muito de comer não. Eu não gosto de comida. Mas então assim quase sempre a mesma coisa, um macarrão, uma ravióli, tudo na base da massa, né, mas muito, foi muito bom, essa minha viagem foi muito agradável.
D
 E havia assim tipos diferentes.
L
 De pessoas? (sup.)
D
 (sup.) De pessoas (sup.)
L
 (sup.) Sim (sup.)
D
 (sup.) Da tripulação?
L
 Não sei. Nós estávamos na classe turística.
D
 E havia outras?
L
 Creio que sim. Primeira, em cima.
D
 Hum.
L
 A turística era embaixo. A de, de primeira em cima. Mas não cheguei a ver nada não.
D
 A referência assim também (sup.)
L
 (sup.) Ah, sim. De indumentária sim, de indumentária. O trato talvez não. Ah, fiz uma viagem também fluvial muito agradável. Me... vim de, de Atenas a, a, ao sul da Itália. Nesse navio então vinham, ah, colonos, como se diz, eh, pessoas que querem se, se firmar em outras terras, como é que se chamam, eh, como é que se chamam? Você sabe, pois é. Mas vinham essas pessoas procurarem emprego e se firmarem pra trabalhar na, na Itália (inint.) uma coisa assim. Mas o barco tinha gente em quantidade. Então nós estávamos na classe de turista e havia a segunda. Aí sim, gente muito assim rude, pelo menos, ah, no, no, na, na indumentária, na vestimenta, não sabe, mas gostei muito de ver aquilo ali. O mar era só azul no Mediterrâneo, azulzinho, muito bonito.
D
 (inint.) nessas idas ao Amazonas e ...
L
 Hum.
D
 Ah, reservas indígenas a senhora teve assim oportunidade de utilizar (sup.)
L
 (sup.) Ah, de quê? De, de (sup.)
D
 (sup.) Ou de ver ...
L
 De (sup.)
D
 (sup.) Meios de ...
L
 De transporte. Transporte?
D
 Alguns fluviais e (sup.)
L
 (sup.) Só esses barcos que, que há, o próprio, o próprio posto tinha um barco, né? Meu marido viajava pelo interior, era uma, naquele barco e guiado lá por um dos índios que já estava mais ou menos, eh, em contacto lá com (sup.)
D
 (sup.) Como é que era esse barco?
L
 É um ba... eu, eu cheguei a ver só de longe. Não vi, porque eu ficava no posto, ele que seguia, né? Era um barco rude mas pouca, um pouco grande, né, bem maior que levava aparelhos para, para tirarem, como é que se chama, de, como é que se chama, eh, eh, tuberculose, como é, para tirar, eh, radiografia, como é, radiografia não, como é que se cha... abreugrafia, abreugrafia.
D
 E a senhora já teve oportunidade de passar aqui na baía da Guanabara?
L
 Bem.
D
 Assim de, de ir a Niterói (sup.)
L
 (sup.) Ah, adoro. Ih, já fui muitas vezes a Niterói. Eu adoro vi... viajar, seja de bonde, de ônibus, de, de (sup.)
D
 (sup.) Como é que era a (sup.)
L
 (sup.) A viagem a Niterói? Ah, naquela barca? É muito agradável. Uma ocasião eu era tão menina, eu fui visitar (sup.)
D
 (sup.) A senhora podia descrever aquela barca?
L
 A viagem? A barca?
D
 A barca.
L
 A barca são dois pisos (sup.)
D
 (sup.) A viagem também (sup.)
L
 (sup.) São dois pisos (sup.)
D
 (sup.) Como é que a senhora faz pra chegar à barca?
L
 Não, se a gente está na cidade vai até a praça Quinze e toma-se uma barca e, e (sup.)
D
 (sup.) Mas antes tem que ...
L
 Que pa... comprar o tíquete e passar pela roleta igualmente como lá. Eu já descrevi. E depois você espera naquela saleta, porque aqui tem o, a barca. Então a gente toma e vai por ali afora, entendeu?
D
 E como é que era?
L
 É muito agradável (sup.)
D
 (sup.) A descrição dessa barca? (sup.)
L
 (sup.) A descrição? Então, primeiro, é muito agradável. A gente vê quem salta. Cada um com seu embrulho, seu problema, conversando, olhando, falando até sozinho (inint.) e tal. Depois chega a vez de abrir, abrir, aquela porteira, aquela, aquele portão, a gente passa e cada qual procura se localizar no melhor lugar e tal. Aí uns sobem, outros ficam ali embaixo e aí começa a viagem.
D
 Hum.
L
 O barco começa a andar e a gente vai pela, pela, pelas águas afora.
D
 E essa barca tinha dois andares?
L
 Dois andares. Em cima naturalmente mais agradável, mais ventilado e durante a travessia (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 (sup.) Tem, tem, tem o, o, o maquinista que fica lá em cima. Fica na, no posto dele, né?
D
 As pessoas ficam em pé? (sup.)
L
 (sup.) As pessoas ... Não, sentadas, tem bancos, né, bancos la... bancos, eh, bem longos, né?
D
 Hum.
L
 As barcas tem ban... ban... bancos longos, de madeira e tem lá uns, pendurados, uns salva-vidas. Que mais? Que que tem de particular numa barca? Acho que nada mais.
D
 E embaixo?
L

  Embaixo também, parece que tem, tem salva-vidas. Eu, em geral, viajo em cima. Mas tem salva-vidas e costuma ter até umas carrocinhas com coisas de comida, eh, de bebida também, pra comer, mas parece que tem umas carrocinhas que, que vendem qualquer coisa e chocolates, não sei quê mais, eu não sei mais, se tem mais alguma coisa.