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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Vestuário"

Inquérito 0193

Locutor 221
Sexo masculino, 45 anos de idade, pais cariocas
Profissão: engenheiro
Zona residencial: Sul

Data do registro: 29 de novembro de 1973

Duração: 45 minutos

Som Clique aqui e ouça a narração do texto


L
 Você é baianinha?
D
 Não, eu sou amazonense.
L
 Amazonense.
D
 Podia começar por você mesmo. Tipo de roupa que você prefere.
L
 Eu, eu, eu aboli definitivamente gravata, terno, a não ser pra missa de sétimo dia. Normalmente eu ando assim: roupa esporte, pé no chão, sandália. Roupa eu acho que é fundamental que ela dê conforto, né?
D
 Mas você diz que aboliu, significa que já usou antes (inint.)
L
 Claro, se usava. Mas é, foi a evolução, roupa evoluiu junto com o espírito também. De modo que roupa, hoje você ficar preso numa roupa é a mesma coisa que o teu espírito ficar preso dentro de, de convenções, de preconceitos.
D
 Em relação ao homem, ah, o vestuário, o vestuário, se modificou muito, não é, de um tempo prá cá, sobretudo em relação ao homem.
L
 É. Mas você acha o quê?
D
 Você que tem que achar (sup.)
L
 (sup.) Eu que tenho que achar? Não, que você propôs assim de um jeito ... É essa libertação, é essa quebra de preconceitos, de condicionamentos. Tudo isso é função inclusive da educação das crianças, né, que antigamente o homem era criado para ser super homem. Homem não chora, o homem não, não, não tem medo, o homem não é covarde, o homem não leva tapa pra casa. E mulher também, mulher era criada pra ser prendas domésticas, né, aprender piano, bordadinhos. E essa libertação, essa libertação de condicionamentos, de preconceitos, tudo isso, eh, trouxe essa evolução que reflete também no vestuário, né? Que é, é o maior complexo que, que a raça humana tem é roupa, né? Não faz parte, você não nasce com roupa. É uma neurose, não é nem complexo, é neurose a roupa. Você não nasce com roupa, né? Com duas horas, três horas de nascido, te põem uma roupa em cima e você não consegue tirar nunca mais. Quer dizer, o pior condicionamento que existe é roupa. O ideal seria se realmente todo mundo andasse nu, porque é, é a libertação total. Hoje eu já passei por várias experiências dessas, de, de grupos de nudistas, coisas assim da importância que é a pessoa poder tirar a roupa, poder ficar nu na frente dos outros. É uma experiência maravilhosa.
D
 Mas eu acho que esse, esse tipo de experiência por exemplo, até as pessoas chegarem a, a essa liberação, a, a tirar a roupa naturalmente, isso deve ter implicado num ...
L
 É. E realmente isso implica numa evolução do espírito terri... terrível, porque não há, não há relação nenhuma entre você ficar nu com o erotismo, com coisa nenhuma. E você aprende isso quando acontece esse fato, porque de repente você vê que não tem a menor importância. Que é um drama, não é? Você imagina, eh, o fato de você ficar nu em público. Espera aí um instantinho! Você, você dramatiza, é uma coisa terrível. Você imagina pela primeira vez que você vai ficar nu em público na frente das pessoas, aquilo te cria um drama e até um trauma, já aconteceu isso, eu já vi gente assim de não conseguir ficar, não conseguir tirar a roupa. Mas quando você consegue, evidentemente você só aceita um tipo de experiência dessa se você tiver já uma libertação de espírito, já uma evolução de espírito. Libertação, claro, que é evidente, em função da evolução, né? Se libertar por baixo não, libertar, evoluir. Mas aí quando você chega a, a, a ter uma experiência dessa, você vai ver que não há drama nenhum, não há impacto nenhum. E você não tem idéia da sensação de, de, de liberdade e de bem-estar que você sente.
D
 E vo... (inint./sup.)
L
 (sup.) Eu acho que é fundamental pra todo mundo ter um tipo de experiência assim, inclusive pra se conhecer, saber qual a reação que tem numa oportunidade dessa.
D
 E em relação ao vestuário feminino?
L
 Eu acho muito bonito esse vestuário atual, moderno, de minissaia, eu acho muito bonito, que eu acho o corpo humano muito bonito, muito bacana. De modo que não há por que esconder , não é? Eu acho, eh, e aliás funcional também, não é? Num país de clima quente, puxa, quanto mais despida a pessoa ficar, mais funcional, não é?
D
 Mas também a, no vestuário feminino sofreu uma evolução, não é?
L
 Sofreu. Bom, existe sempre um modismo e existe sempre o lado, eh, freudiano na coisa, né, sempre o lado de sexo porque a mulher quer sempre mostrar a beleza dela, né, e sempre, há sempre um sentido erótico na coisa, né? Mas é bonito também, é bacana, eu acho isso tudo muito normal, muito bacana e muito natural. Isso, a, a safadeza, a elocubração, o erotismo está na cabeça de cada um.
D
 Você tem preferência assim por algum tipo de roupa?
L
 De mulher ou de homem?
D
 De mulher.
L
 Não. Quanto mais leve, quanto mais, eh, quanto mais mostrar o corpo, mais bonito. É bonito mulher chique, não há menor dúvida. É claro que, que no, que no inverno na Europa não pode ser usado este tipo de vestuário, não é? O vestuário tem que ser fundamentalmente funcional e depois estético. Ou os dois juntos, né, estético e funcional.
D
 Que que as mulheres usam no, no inverno na Europa?
L
 O que que usam no inverno? Usam roupa pesada.
D
 Mas que roupas são essas?
L
 Capas, eh, eh, capotes de peles, e ou ,ou de lã. É roupa pesada, roupa pra, pra abrigar o corpo, eh, proteger do frio. Aqui, aqui é o contrário, aqui você tem que proteger do calor, então você tem que arejar o máximo possível.
D
 Você disse como é agradável uma mulher chique. Como é uma mulher chique?
L
 Que saiba se vestir bem. Não é importante o valor da roupa. É a maneira com que ela usa a roupa, sa... sabe combinar a roupa com o tipo dela. A mesma coisa que o cabelo, que, que, que maquiagem, às vezes maquiagem nenhuma é mais bonito que maquiagem. Depende de cada pessoa, de cada mulher. Aí é a capacidade da mulher de ser chique, é saber o que que vai bem nela. Não é preciso ser bonita, não é preciso ser, ser, ser, ter corpo lindo. Ser chique é, é inclusive também parte estética de, de movimento, de tudo. Tudo isso faz parte do, do, do chique.
D
 Essa parte de maquiagem feminina, você está por dentro, eh, conhece os detalhes, os produtos?
L
 Não, não, nada. Nem idéia. Só olho.
D
 E os homens, usam algumas coisas? Hoje em dia homem já usa, né, antigamente (inint./sup.)
L
 (sup.) É, hoje em dia usa. Antigamente, antigamente eu me lembro. No meu tempo de rapaz, era, roupa era da maior seriedade possível. Não se usava cores vivas nem, nem em gravata. Depois começaram a aparecer essas camisas coloridas de influência americana, não é? Aí de repente liberou tudo. Eu me lembro uma vez que eu passei, faz uns quatro anos atrás, era noite de trinta e um de dezembro, eu passei em frente do Bob's, eu morava aqui perto, passei em frente do Bob's e eu tinha ganho uma calça vermelha. Talvez mais de quatro anos, sessenta e seis por aí. Eu ganhei um par de calças vermelhas e como era ... Eu não tinha coragem de usar, aquilo ficou pendurado no meu armário durante uns dois meses. Mas como era trinta e um de dezembro, era meio carnaval, então eu botei as calças vermelhas. E eu me lembro que eu estava, e eu ia pra casa de, na Vieira Souto. E eu estava meio com vergonha da calça vermelha, sabe? Então eu estava pisando duro pra não haver perigo de, de confusão nenhuma. Eu passei na porta do Bob's, eu ouvi um sujeito dizer: Mas olhe, o que é aquilo ali? E eu senti que era comigo, não é? Aí eu continuei pisando duro, a orelha virou pra trás, pra ver se o sujeito dizia mais alguma coisa: olha aquele palhaço de calça vermelha, porque aí eu era obrigado a tomar uma atitude, né? Mas foi a primeira experiência de calça vermelha. Aí um ano depois estava todo mundo de calça azul matiê, cor-de-rosa. Aí liberou tudo. E eu, nós fomos precursores, sabe?
D
 E as formas das calças também mudaram?
L
 Aí tudo são modismos. Muda, eh, calça de boca larga, calça de boca fina, isso é modismo. É, agora a gente usa uma calça de, de boca larga e se lembra das calças de boca fina, acha ridículo, não? Ou tem uma antiga que bota e acha ridículo. Mas também já houve um tempo em que usava-se boca larga e depois virou calça de boca fina e se achava ridículo a boca larga. Isso é modismo.
D
 Mas eu acho que mesmo, eh, um tipo de roupa mais, mais acadêmica, digamos, ela, ela pode ser, com uns certos toques, ela pode ficar muito moderna.
L
 Mas hoje há uma confusão enorme porque você vê, eh, numa mesma moda, roupas de mil novecentos e vinte, roupas de mil novecentos e trinta, roupas de mil novecentos e setenta e roupas de mil novecentos e, e noventa, roupas do futuro, aluminizadas, e não sei que mais, na base do, do, do espaçonauta. Quer dizer, hoje é um, uma gama imensa de formas, de roupas. Que não havia mais, que antigamente a moda era rígida, não é? Era 'tailleur', ou não sei o que que retinho. Era tudo quanto era mulher com, com o mesmo tipo de roupa. O homem usava o mesmo tipo de roupa clássica. Hoje não, hoje varia muito. E é muito mais bonito, né, também ...
D
 E o tipo de roupa clássica de homem? Você saberia descrever, se lembra? Como era, todas as partes (sup.)
L
 (sup.) Ah, sei, eu sei. Pra começar era, era cor sóbria, né? O cinza, azul, o preto, o branco, o creme já era um pouco mais audacioso, entende? E, e paletó jaquetão ou, ou paletó saco.
D
 Como eram?
L
 Paletó jaquetão era cruzado, né? E o saco era abotoado, enfileirado um contra o outro, assim na frente. Eu não sou especialista em moda. Mas não saía daquilo, o talho era exatamente idêntico pra qualquer pessoa. Hoje não, hoje você encontra casacos imensos, casacos indianos, casaco muçulmano, encontra de tudo, né? Calça adamascada.
D
 E as reuniões formais, as situações formais também tinham uma ...
L
 Não, as reuniões continuam absolutamente formais, iguaizinhas, os homens se junta num canto e mulher se junta num outro canto e as conversas são as mesmas, os homens vão falar de negócios, as mulher, vão falar de, de prendas domésticas, de empregada, de cabeleireiro. Isso evidentemente num tipo de sociedade, eh, eh, vamos dizer, classe média burguesa, entende? Isso não variou.
D
 E as roupas que elas vão? Quer dizer, há roupas apropriadas (sup.)
L
 (sup.) Não, mas isso continua a mesma coisa. Isso continua a mesma coisa. O ... Comprar vestido de não sei quantos mil contos, modelo exclusivo de Dior, disso, daquilo, isso continua. Mas isso evidentemente que isso é uma faixa da sociedade que só se preocupa em, em, em causar impacto, mostrar dinheiro. Mas isso é outra coisa, isso não é maioria, isso não funciona, e na minha opinião são uns pobres coitados.
D
 Você falou que quando botou pela primeira vez uma calça vermelha foi um acontecimento e tal. Quando foi exatamente que o homem começou a usar, mudar o tipo de cabelo? Você lembra?
L
 Olha, não sei não. Mas não é de muito tempo pra cá, não é de muito tempo não. Não me lembro não, mais ou menos uns quatro ou cinco anos, né, que começaram deixar crescer o cabelo. Até eu deixei crescer um pouquinho mais. Ele já foi maior, agora eu corto.
D
 Homem também tem, eh, corte, tipo de corte de cabelo?
L
 Não sei. Deve ter, né, porque você vê. Gente com cabelo diferente. Tem uns até que frisam cabelo!
D
 Frisam o cabelo? O que é isso?
L
 Frisam, enrolam cabelo. Vai ao cabeleireiro, tem cabeleireiro pra homem hoje com, com secador, com esse negócio todo.
D
 Você tem algum cuidado especial com seu cabelo?
L
 Eu lavo ele todo dia.
D
 Com quê? Usa produtos (sup./inint.)
L
 (sup.) Heim? Uso xampu. Apenas lavo por problema de higiene, não  por cuidado especial com ele não.
D
 E você fazia isso antes?
L
 Não, nunca fiz.
D
 Há muitos anos atrás?
L
 O, o quê?
D
 Usar xampu?
L
 Sempre usei. Sempre. Desde que meus filhos nasceram. Antigamente eu lavava com sabão. Mas desde que eles nasceram, como usavam xampu, eu passei a usar também. Não sei por quê, eh, deve ser melhor pro cabelo. Mas o sabão também não era ruim não, porque eu sempre lavei com sabão e sou cabeludo.
D
 E as roupas de criança? O que que criança usa assim desde que nasce? Você falou exatamente quando a criança nasce, põem uma roupa nele, não é?
L
 O que que usa desde criança?
D
 É.
L
 Casaquinho, meiazinha, aqueles negócios de criança, não é?
D
 Aqueles negócios como é que chamam?
L
 É, é, casaquinho de lã, fralda, eh, sapatinho, sapatinho não, meia, um tipo de sapatinho de, de lã. E o que mais? É isso, pô, camisinha (sup.)
D
 (sup./inint.) que vai crescendo?
L
 Ah, vai usando, você sabe, (riso) vai usando roupa de criança.
D
 Há alguma diferença assim entre roupa de criança e roupa de adulto?
L
 Não, a essência é a mesma, o fundamento é o mesmo: é cobrir o corpo. É funcional, entende? É, na minha opinião é anti funcional, porque só faz atrapalhar a cuca da gente.
D
 E na praia, como é que as pessoas iam e como é que vão agora?
L
 Na praia antigamente as pessoas iam ... Quer dizer, você, você chegou de Marte agora, não é? Quer dizer, você não sabe de coisa nenhuma, não é? Você nunca viu, nunca foi à praia, coisa nenhuma, né?
D
 Exatamente.
L
 Bom, antigamente, eu me lembro, primeira, primeiro maiô de duas peças, eu devia ter uns dez anos de idade. O primeiro maiô de duas peças. Quer dizer, eu já era menino, já meio interessado em sexo, né? Curioso, pelo menos. O primeiro maiô de duas peças que eu vi, em frente do hotel Copacabana, eu morava na rua Duvivier. Aí foi uma sensação. Eu mesmo fiquei olhando, fiquei parado uma hora olhando. Mas era um maiô de duas peças que você via três dedos de, de barriga, né? Não tinha nada parecido com esses biquínis de hoje não. E aí a evolução veio, até que depois da guerra surgiu o biquíni. Foi dado o nome em homenagem a uma tal de Biquíni, onde eles explodiram a primeira bomba atômica, né? Então como era um impacto realmente, quase que na, na mesma proporção da bomba atômica, o, o biquíni, eles batizaram com o nome de biquíni. Deve ser essa a origem do nome. E agora não, agora está cada vez mais bonito.
D
 E como é agora?
L
 Agora, agora são umas sungazinhas bem bacanas, muito bonitas porque eu acho que o corpo humano é bonito. O corpo da, da mulher. O do homem também é bonito, mas o da mulher é mais bonito. Pelo menos eu (sup.)
D
 (sup.) Você acha que essas sungas (sup.)
L
 (sup.) Pelo menos é o que me interessa mais (sup.)
D
 (sup.) Serve assim pra qualquer pessoa usar?
L
 Não. Eu acho que o problema estético é fundamental. Evidente que se pegar a, a, a mulher de cem quilos, puser um biquíni desse, não é que fique imoral no sentido de sexo não, fica indecente no sentido estético. É antiestético. É feio. É grotesco. Então, o grotesco a gente deve procurar consertar, né, evitar, então não vai usar. É sempre grotesco assim uma mulher de, de cento e vinte quilos, ela é sempre grotesca, vestida do jeito que ela fizer, ela é grotesca. Agora se agravar o lado grotesco, piora, né? Eu acho que, eh, o problema estético tem que ser sempre obedecido, né?
D
 Do ano passado pra cá as mulheres grávidas também estão usando biquíni, né, sobretudo em Ipanema.
L
 É. Mas não é feio não. Não acho mulher grávida feia n~ao. Ao contrário, tem até um charme.
D
 Porque normalmente elas usavam biquíni, tem assim um tipo de ...
L
 Mas nem todas usam biquíni não. É mais numa faixa mais audaciosa, querendo quebrar convenções. Porque existe o lado estético também. Mesmo mulher grávida, não é, não pode dizer que é bonito, né? Não é feio porque você tem sempre uma ligação espiritual, quando você vê aquela imagem duma mulher grávida, te dá sempre um carinho, uma, uma ligação espiritual, com, com o, o lado espiritual e, e estético. Então é uma composição simpática, vamos dizer assim. Não é estético, é simpático. Por mim, deve usar.
D
 Você vai à praia?
L
 Vou.
D
 Como é que você vai pra praia? Você mora perto, né, é diferente de uma pessoa que vai do Grajaú pra praia.
L
 Eu vou de calção. Sem calção ainda não dá.
D
 Só? E não leva nada com você?
L
 Ah, eu levo uma toalha, pra deitar em cima por causa daquelas minhoquinhas que ficam mordendo a gente.
D
 E não tem, você não tem essa história de se proteger do sol (inint.)
L
 Não. Não, eu já estou curtido, né?
D
 E sua filha, vai como?
L
 Também de calção.
D
 Igual, a mesma coisa que o seu?
L
 Não. Esta aí, o delas não sei nem como é que é. Enquanto puderam andar nu, enquanto não, não, não criaram caso, porque agora entra o problema dos colegas, não sei o que mais. Enquanto podiam andar nu e a polícia deixava, eles andavam nus na praia. Mas agora eles mesmos já têm problema de sexo na cabeça, porque a babá, porque não sei quem, porque o amigo disse que é feio ficar com a bunda de fora. Então agora usam calção porque querem. Se dependesse de mim, ia tudo nu até criar caso com a polícia.
D
 Agora assim em Ipanema existe toda uma mística, não é, sobretudo eu acho que nessa parte de vestuário, das pessoas jovens. Certas comparações com a zona norte, por exemplo com os adolescentes da zona norte e da zona sul. O que você acha disso?
L
 É, aqui, aqui em Ipanema é um fenômeno ... Eu não sei explicar bem não. É porque aqui é uma concentração maior de gente mais libertada, mais intelectualizada, mais, eh, independente, vamos dizer, não no sentido econômico, mas, eh, independente profissionalmente, entende? Mais artistas, mais intelectuais, mais gente sem fazer nada. Porque aqui você não fazendo nada, você vai pra praia, é sempre agradável. Você na zona norte não fazendo nada, vai fazer o quê? Vai ficar sentado num banco de praça ou trancado dentro de casa. Quer dizer, aqui favorece, a, a orla marítima favorece mais, eh, eh, o não fazer nada. E via de regra esse pessoal todo não ... Além de, de não fazer nada, também está, está liberto de uma série de compromissos, então pode se dar ao requinte de andar como quiser, né? Você não pode botar um camisolão desse e ir trabalhar, ir pro escritório trabalhar, não é? Se enfeitar todo de colares e, e, e ser pagador da, da Caixa Econômica por exemplo.
D
 E quais são assim os, o material de que a sua roupa é feita normalmente, o que você prefere assim?
L
 Olha, eu não sou muito ... Eu acho que é algodão, né? É, é algodão, né?
D
 A camisa também?
L
 Eu acho que é. Eu não sei, eu não entendo muito de tecido não. Não é algodão isso aqui?
D
 Não sei.
L
 Deve ser.
D
 Você compra sua roupa já pronta ou você manda fazer?
L
 Compro pronta.
D
 Manda assim desenhar?
L
 Não. Eu compro pronta.
D
 Nunca teve preocupação em desenhar uma roupa pra você (inint.)
L
 Não, pra mim não. Eu só desenho pra escola de samba (sup.)
D
 (sup.) Escola de samba? Ah, é? Então conta pra gente como são essas roupas que você desenha. Com todos os detalhes (sup.)
D
 (sup.) Ué, conto (inint.) uma cabeleira 'black-power' que eu estou fazendo, estou fazendo um protótipo dela pra, pra ala, que eu tenho uma ala no Salgueiro.
D
 Uma cabeleireira 'black-power'? Que material é esse (inint.)
L
 É uma bola de isopor, escavada no feitio da cabeça, pra encaixar, depois é coberta de ráfia, tem mais uns elementos de isopor e depois aqui em cima leva umas penas. Está vendo?
D
 E o resto da roupa, como é que vai ser?
L
 Ah, o resto, o desenho não está comigo não, mas é, é uma fantasia de índio estilizado, um índio meio asteca. Tem uns pendurucalhos de ráfia também no braço. É muito bonita a fantasia. O desenho dado pela, pela escola, que eu estilizei o desenho, modifiquei um pouco, porque tem que ter o sentido do desfile, né, na avenida. Às vezes uma fantasia funciona no papel, é muito bonita no papel, mas na avenida você tem que ter prática da, do efeito que isso dá, né?
D
 Você sempre fez isso?
L
 Há bastante tempo.
D
 E o ano passado por exemplo como era?
L
 O ano passado? O ano passado era fantasia ... Olha, as mulheres, eu me lembro que elas iam fantasiadas, iam vestidas de, de quê, heim? Queria dar um exemplo. Bom, era um vestido de gaze, comprido, fazia parte, a ala que nós, a ala nossa estava no grupo da nobreza, no desfile do Salgueiro. Então as roupas eram mais ou menos nesse tipo. Não aquela fantasia de, de, dos nobres, mas uma fantasia ... Não, não era nobreza não, era época de mil e novecentos, que foi mais ou menos a época do nascimento da Eneida, que o tema nosso era "Eneida, amor e fantasia".
D
 E os homens?
L
 Os homens? Sabe que não estou lembrando! Como é que era a roupa? Ah, os homens era uma calça branca, um colete prateado. O que que tinha na cabeça? Estou sem memória. Era uma camisa de seda, com a manga folgada, manga não sei como é que chama, manga larga, apertada no punho, no pulso. Um colete prateado, era meio prateado. Eu acho que tinha uma gravata borboleta. Bom, era uma  roupa mais ou menos do tipo dândi, deve ser.
D
 E a calça era de ...
L
 A calça era branca. Calça justa, porque naquele tempo usava-se calça justa.
D
 E nos pés?
L
 Sapato branco. Era bonita a fantasia. Principalmente das mulheres.
D
 As cores são sempre essas ou ...
L
 Salgueiro, sempre vermelho e branco.
D
 Não pode usar nenhuma variação não?
L
 Pode usar variação, mas fundamentalmente tem que ser vermelho e branco, inclusive é um dos quesitos, né, você não pode embaralhar. Que é o que caracteriza. É, é como o Flamengo: é preto e vermelho, o Botafogo é preto e branco. Você tem que obedecer às cores que é pra se dar a conhecer, identificar inclusive pela, pela cor, né?
D
 Agora, deve haver então uma varia... variação de tipos senão fica tudo igual, né? (sup.)
L
 (sup.) Ah, sim! Não, cada ala tem a sua fantasia. Obedecendo o tema. Porque a escola desfila com um tema. E, e a música também obedece ao tema. Agora de acordo com o tema, você tem a história, aquele tema desenvolve uma história, não é? E as alas vão se fantasiando, acompanhando a evolução do tema. Houve um ano por exemplo, do "Pega no gan... no, Pega no ganzê", que se referia à visita do Maurício de Nassau, no tempo da invasão holandesa em Pernambuco. Então a formação da escola ia desde a nobreza holandesa, que acompanhou Maurício de Nassau na chegada dele ao Brasil, à nobreza portuguesa, brasileira da ocasião, até os escravos. Quer dizer, dentro da composição plástica da escola, você ia desde a nobreza, eh, holandesa até o escravo preto de senzala.
D
 E como é (sup.)
L
 (sup.) Deve (sup.)
D
 (sup.) Que se vestiam as pessoas da nobreza e os escravos?
L
 Bom, nobreza naquela ocasião, eu, eu não sei, não posso descrever, mas é, é fácil de caracterizar, de verificar num, num livro, mas era aquelas roupas, cabeleiras, aquelas roupas de, de veludo de ... Não sei. Não conheço os outros materiais, mas você sabe, tem um pouco de memória histórica. E, até o escravo, né, que andava de tanga.
D
 E na escola também ele andou de tanga (sup.)
L
 (sup.) Todos (sup.)
D
 (sup.) Sem nada, não levava nada?
L
 Não. Levava aqueles colares, levava aqueles adereços próprios dos pretos, né? Bom, evidente que a escola estiliza, porque tem um desfile, tem que apresentar um espetáculo plástico bonito, né? Não vai botar um preto com uma tanga rota, pobre. Evidente, a tanga aí é de lamê ou de, de, sei lá de quê, é de 'strass', uma dessas fazendas brilhantes. Colares dourados. Tem que apresentar um espetáculo plástico, né?
D
 Alguma vez você, eh, desenhou alguma fantasia dessas (sup.)
L
 (sup.) Já (sup.)
D
 (sup.) Desses concursos?
L
 Não. Concurso não.
D
 Faz fantasia pra quem (inint.)
L
 Não. Só pra amigo. Não. Eu, eu desenha... desenhava ou desenho, quando há necessidade, pra ala minha e às vezes há amigos de outras escolas, como foi o caso do, do, do Tijolo, um dos melhores passistas da Portela, que não concordou com o figurino que deram pra, pra ele e veio me pedir pra fazer um figurino pra ele e eu fiz e fiz a, inclusive a fantasia pra ele.
D
 E como é que foi a fantasia dele?
L
 Era uma fantasia, o tema, o tema desse ano do, da Portela era "Negro na Senzala". Qual era o tema? Bom, era preto. Era um tema, iluaiê ... Era essa música assim: "Iluaiê, iluaiê odara / Negro cantava na nação nagô" (canta). Era um tema de, de, de preto. E a fantasia dele era ... Ele, como era passista, era destaque, era um negro (inint.) um negro ... Não me lembro não. Não me lembro como era. Mas eu fiz inclusive uma pesquisa pra, pra fazer uma fantasia com elementos reais da, característicos.
D
 Você fazia a roupa exatamente como convinha?
L
 Mas, vem cá, bom, está certo, então. Vamos continuando. Não, mas é isso, eu fiz uma pesquisa pra poder tirar elementos reais pra fazer a fantasia dele.
D
 Mas como foi a fantasia dele?
L
 Olha, eu não me lembro, eu sou muito desligado, sabe? Era, tinha um capacete, uma, uma cabeleira 'black-power', desse tipo, branca também, com umas penas em cima. Tinha uns adereços, uns, uns colares, muito colar, uma tanga estilizada. Olha, eu não me lembro.
D
 E ia sem, sem nada nos pés? Ou como é que era?
L
 Bom, isso depende de cada um, né, porque pra desfilar na avenida um quilômetro e tanto, com o pé descalço, costuma largar a sola do pé.
D
 E aí o que que usa?
L
 Sandália.
D
 Só?
L
 Só. Depende da, da fantasia. Você sai fantasiada de pé no chão, você bota sempre uma sandália, uma sandália discreta, cor, de cor natural, que você não pode sambar na avenida arrastando o pé, e principalmente se for de dia, com sol quente, né? Aí é caso de hospital mesmo.
D
 Mas eu me lembro que eles tinham um detalhe, eu não sei qual foi a escola, que as mulheres estavam altíssimas, tinha uma ala de mulheres. Você se lembra?
L
 Não.
D
 Uma ala de mulatas maravilhosas. Estavam todas muito altas. Eu me lembro que eu vi um comentário desses na televisão.
L
 Não me lembro não.
D
 Não lembra não? As mulheres com, com sapatos especiais ...
L
 Não, não me lembro disso não.
D
 Por falar em sapatos especiais, o tipo de sapato que mulher está usando atualmente?
L
 Eu acho muito feio. Eu acho o pé muito bonito, eu acho que o pé tem que ser delicado, e acho que a sola quanto mais fina mais bonita. Mas agora usa tudo uns, uns andaimes, não é? É mesmo. Fica feio, fica pesado, fica bruto.
D
 E já houve alguma época de moda feminina de calçado, que você se lembre, que você tenha gostado?
L
 Não. Eu não sou muito amarrado em detalhes de sapato não. A não ser uma constatação assim, um impacto assim, porque realmente você ver uma mulher com uma sola de dez centímetros de altura, fica feio, fica pesado, o andar fica feio também, porque não tem elasticidade, não é?
D
 Mas os homens também estão usando, não é?
L
 É. Também estão usando. Eu continuo usando sandália.
D
 Mas mesmo os sapatos dos homens, o sapato, o sapato dos homens.
L
 É. Está engrossando sola, sim. Mas aí, aí eu tenho a impressão que é em função do sapato da mulher, que a mulher, as mulheres ficaram tão altas ... Antigamente, poxa ... Eu tenho um metro e setenta e três, é uma altura normal de homem. Ora, eu me sinto pequeno perto das mulheres. Antigamente era, as mulheres eram menores, hoje são todas maiores do que eu. Mas eu continuo menor. O problema não é do tamanho não.
D
 E ainda aí dentro de problema de mulher, essa parte assim de postiços. Todo o material postiço que, que mulher usa, pode usar?
L
 Bem, depende. Depende. Peruca, por exemplo, é bonito, porque você não tem a sensação de postiço, né? Eu não sei. Tudo que contribui pra estética é bonito. Agora o problema é na hora de tirar. Acho que nós já falamos bastante, heim?
D
 Não. Quando você (sup.)
L
 (sup.) Mas, vem cá, isso, isso, isso é, é pra pesquisar o quê? Modo de falar, lingüística?
D
 Modo de falar, o nome das coisas (sup.)
L
 (sup.) Então, já não dá pra (sup.)
D
 (sup.) De tudo.
L
 É?
D
 Não. Quanto mais você falar melhor.
L
 Por quê?
D
 Então a gente tem mais ou menos um tempo. Vamos dizer assim, quando você casou pela primeira vez, você se lembra se você comprou roupas? E que roupas você comprou? Ou sua mulher?
L
 Ah, ela fez enxoval, não é? É, é imprescindível. Mulher sem enxoval se sentia nua (sup.)
D
 (sup.) Pois é, então o que que ela levou (sup.)
L
 (sup.) Frustrada. Ah, olha, camisola, camisolas. Eu, eu me lembro muito das camisolas. Eh, tudo que leva, né, camisola. Mas enxoval já era feito a dois, roupa de cama, roupa de mesa, a, a, a composição da casa, né, em parte de, de, de roupa. Mas roupa dela? Pra dizer a verdade, eu não me lembro não. Eu não sou muito ligado não.
D
 E você não se preocupou em comprar nada?
L
 Não. A roupa que eu tinha já era direita, por que comprar?
D
 O casamento foi tradicional o casamento de vocês?
L
 Foi tradicional, bacana, com igreja, com tudo, muito chique.
D
 Você podia descrever assim todo mundo, como estava vestido?
L
 Ah, não. Não posso. Aí não dá. Que nem me lembro. Pra começar, não me lembro. Casei em mil novecentos e cinqüenta e um. Olha que já tem vinte e dois anos. Eu não me lembro mesmo.
D
 E você (sup.)
L
 (sup.) A minha? A minha era fraque. Não, era jaquetão e calça listada. Casamento bem fresco, bem quadrado. Gente pra burro. No mosteiro de São Bento. Tudo. Cheio de flores. Não adiantou nada porque nós nos separamos, não é? Aí casei a segunda vez, sem frescura nenhuma, sem papel, também não adiantou nada porque nós nos separamos. Quer dizer, o problema não está no casamento. Aliás o casamento já passou a ser um problema porque está acabando o casamento, esse casamento convencional, quadrado, preconceitualista. Isso não funciona mesmo. A prova é que agora ... Antigamente se levava dois, três anos pra separar, agora leva cinco meses, quatro meses, está tudo separando de novo. Hoje se você fizer uma pesquisa, deve ter feito, é muito maior o número de gente desquitada do que de gente casada, pelo menos que eu conheça. Mas é maioria assim de oitenta por cento. Não é que eu me relacione em função disso, porque não existe clube de desquitados nem, nem existe preconceito a, a, a ponto de você precisar se congregar, criar uma classe, entendeu, ou se proteger. Não, não existe nada disso. Hoje, hoje, inclusive aqui no Brasil, ainda que pareça incrível, o, o, o desquite é muito mais aceito, a separação é muito mais aceita, ou por outra, os elementos separados são muito mais aceitos do que até na própria França. A mulher ser desquitada aqui é recebida absolutamente tranqüilo, não existe mais o, o termo desquitado. Ninguém se preocupa mais com isso. Ainda na França se preocupam, a sociedade. Mas o que que eu estava dizendo?
D
 Você estava falando ...
L
 Ah, que o casamento é, é uma instituição falida. É realmente. E inclusive hoje a mentalidade dessa geração nova, com essa liberdade total, liberdade de sexo inclusive, que é, que é da maior importância, não aceita mais subordinação. Porque antigamente você, eu tinha falado nisso há pouco tempo, você, a mulher era criada pra prendas domésticas, né, e isso significava apenas você transferir, porque a mulher antes de se casar ela era dependente dos pais, dependente econômica e espiritualmente, moralmente, vamos dizer. Então ela era dependente economicamente porque era sustentada, vestida, tudo pelos pais. E moralmente porque tinha aquele condicionamento de obedecer aos pais em tudo, entendeu? Não tinha direito nem de ter idéias próprias, em determinados sentidos. Tinha que seguir a rigidez da moral dos pais. Fosse errada ou não, neurótica ou não. Mas fundamentalmente a, a, a dependência econômica é que gerava a dependência moral também. Porque se você está dependendo dele pra pagar a tua comida, pra pagar tua roupa, pagar não sei quê, você não quer contrariar, não quer criar caso, não quer, eh, viver dentro de uma situação de beligerância, porque inclusive vai prejudicar seu lado material. Agora essa geração, todo mundo trabalha, todo mundo se preocupa em trabalhar e ter independência econômica. Bom, em suma, o que eu estava dizendo é o seguinte: então você transferia a dependência que você tinha dos seus pais pro marido. Porque você ia passar a ser dependente economicamente do marido, e moralmente, espiritualmente. Então é uma porcaria um tipo de casamento desse. Pra começar, pro homem, o homem quer, pelo menos, eh, já numa fase nova, o homem quer o quê? Uma companheira do lado dele, que ajude, que colabore, que coopere, e ele não quer uma dona de casa. Pra arrumar a casa, pra, pra, pra estar tudo bonitinho e depois pra ir dormir com ele. Que era uma governanta de luxo.
D
 Mas voltando a nosso vestuário, uma coisa que nós não, não falamos. Em relação à roupa interna, de mulher e de homem, que é que se usava antes e que é que se usa agora, ou não se usa?
L
 Usava-se e que não se usa? Sutiã! Pelo menos a grande maioria não usa, né? Parece até que as fábricas estão falindo. Usava sutiã, hoje não usa sutiã. Calça continua usando, não é? Apenas mais bonitinhas, mais 'sexy'.
D
 E homem?
L
 Heim?
D
 E homem?
L
 Homem usava uns cuecões grandes, usava ceroulas, né? Eu não me lembro. Isso do tempo das, das ceroulas, eu, eu realmente não me lembro. Mas cueca de pano, essas cuecas que vinham até o joelho, ou pelo menos até a metade da perna, isso eu me lembro que usava. Antifuncional, antiestética, horrível, né? Hoje não, hoje evoluiu, deve ter homem usando cueca ainda de pano, mas hoje elas são esse tipo de sunga, calção até. E funcional.
D
 E até o material também é outro, não é?
L
 É, o material, eu não sei o que que é. É, é 'orlon', é, sei lá o que é.
D
 Roupa de dormir?
L
 Roupa de dormir? Nenhuma.
D
 Quando se usa, que é que se usa normalmente?
L
 Pijama, né? Bom, pelo menos, eh, o convencional é pijama. Agora eu como não uso nenhuma ...
D
 Mesmo no inverno?
L
 Mesmo no inverno.
D
 Se batessem na porta e você tivesse que se levantar rapidamente e ir atender, você poria o quê?
L
 Ah, umas calças. Eu tenho sempre um par de calças à mão. Mas eu não ando nu dentro de casa, né, eu ando de `short'. Mas se batessem de noite e eu tivesse que sair da cama, eu enfiava umas calças.
D
 Você não tem nada especial, assim, pra pôr assim de roupa?
L
 Não. Não. Não. Pra ficar chiquezinho, não.
D
 E o que que se usa, pode se usar?
L
 Ah, 'robe-de-chambre'. Ah, e é isso!
D
 E as mulheres?
L
 As mulheres? 'Robe-de-chambre' também. Aí chama-se 'négligé'. Mas tem uns que não é pra receber visita, né?
D
 Eh, quanto à roupa de dormir de mulher, você gosta?
L
 Não.
D
 Não gosta não? De nenhum tipo?
L
 Não, mas vem cá, vocês estão, estão, vocês estão querendo explicações de ordem o quê?
D
 Só lingüísticas.
L
 Só lingüísticas.
D
 Só lingüísticas. Você pode ficar tranqüilo. É só pra fazer você falar o nome das coisas.
L
 Ah, mas vocês estão fazendo o quê? Uma enciclopédia de, de ...
D
 Está bom. Por enquanto estamos só batendo papo assim pra saber exatamente como as pessoas falam. Mas se você tem um tema, então a gente tem que esgotar aquilo, porque também você tem um léxico, né?
L
 Não, mas isso você pode falar sobre qualquer tema. Se o problema é esse, você pode falar sobre qualquer tema.
D
 Olha aqui uma coisa: ah, você já falou de roupa feminina de todo tipo, interna, praia, etc. E a parte de adereços?
L
 Hum.
D
 O que que você acha? Porque eu tenho a impressão que também houve uma modificação (sup.)
D
 (sup.) Houve, houve uma evolução muito grande. Antigamente o, eh, o adereço era fundamentalmente de ordem econômica, né? É. As jóias eram solitários, colares de brilhantes, e era pra demonstrar poder econômico. Havia evidentemente uma estética na jóia, né? Mas a jóia só tinha valor se fosse rica, se demonstrasse poderio financeiro ou econômico. Hoje não, hoje a preocupação é unicamente estética, né? Existem jóias lindas, muito bonitas, muito bem feitas e isso é, é bonito. Antigamente você não usava uma jóia falsa, era ridículo você usar uma jóia falsa, né? Ou você usava uma jóia caríssima ou não usava nada. Jóia falsa ficava pra, pra, pra classe baixa, operário que usava então uma coisinha. Mas hoje não. Hoje já existe um outro tipo de jóia. Jóias modernas, jóias, adereços.
D
 E se põe aonde, vários lugares ...
L
 Ah, isso põe aonde pode pendurar.
D
 Só? Você fala só de colares?
L
 Não, colar, pulseira, brinco. Você vê que é tudo pendurado.
D
 Essa modificação inclusive acho que ela se refletiu também no comércio, eh, tipos de lo... de casas comerciais.
L
 É.
D
 Não acha não? Porque agora por exemplo Ipanema é um bairro que é muito conhecido pela, por determinado tipo de casa comercial pra, pra roupa. E há alguns anos atrás não se falava desse tipo de casa.
L
 É, dessas roupas loucas, né (sup.)
D
 (sup.) Eram mais tradicionais.
L
 Não. Mas isso é função exatamente dessa mudança do vestuário, né? Antigamente você não encontrava, você queria um tipo de roupa desses mais extravagante, você tinha de fazer, hoje você encontra lojas especializadas em roupas extravagantes.
D
 Você compra as suas roupas numa loja especial?
L
 Não. Eu não me preocupo muito com roupa não, sabe? Eu compro calça numa casa que vende calças, e camisa quando eu encontro, passo e ... Aliás eu quando compro é porque as minhas já estão rasgando. Aí eu compro assim umas seis, sete. Aí quando eu vejo uma camisa que me agrade, eu compro. Não tenho loja especial, não tem nada.
D
 A sua filha tem alguma preocupação com roupa? Ela escolhe (inint./sup.)
L
 (sup.) Ela adora roupa, né? Desde que nasceu, é super-feminina, super-fresquinha. Adora roupa. Desde pequenininha ela preferia ganhar um sapato ou uma bolsinha ou um, um, uma coisa, do que, do que brinquedo. Até hoje é amarrada em roupa. E o meu guri não, o meu guri tem um temperamento parecido com o meu.
D
 Mas ela, ela faz questão de comprar ela mesma a roupa.
L
 É, ela mesma faz questão de ver, faz questão de comprar, só usa a roupa que ela quer, se não, se não, se quiser impingir uma roupa que ela não está querendo botar, não há santo que ...
D
 Ela tem preferência (sup.)
L
 (sup.) Tem (sup.)
D
 (sup.) Por um tipo de roupa?
L
 Não. Não tem preferência não. Tem preferência de momento pelo que ela gosta. Vai se amarrar, se der um par de sapato pra ela, ela vai passar o dia inteiro com o par de sapato na mão, curtindo o sapatinho dela.
D
 Ela está no colégio?
L
 Está.
D
 Ela tem alguma roupa especial pra ir ao colégio?
L
 Tem a, o uniformezinho do colégio, o Brasileiro de Almeida.
D
 Como é o uniforme?
L
 É pra homem e mulher, né? Pra homem, calça, eh, calça curta, e pra mulher, saia. Mas é a saiazinha cinza, uma cal,ca cinza clara e sapato preto, meia cinza, que nunca obedece. Sapato, vai de tênis, meia vai da que tiver na gaveta que pegar. A camisa do colégio, que é uma camisa branca com o escudo do colégio bordado no bolso e só. Bem levezinho, é bom, bem funcional, é bom.
D
 Você no verão e no inverno você usa roupas diferentes, seus filhos também?
L
 Ah, usa é lógico, uma roupa mais quente. Quer dizer, exatamente a mesma coisa, apenas o tecido que muda, né? Você pode botar uma suéter no verão, no, no inverno.
D
 Você esteve na Europa já?
L
 Estive.
D
 Há muito tempo?
L
 Eu estive várias vezes. A vez que eu fiquei mais foi quatro meses.
D
 A Europa toda?
L
 Não. França, Inglaterra, só. Nunca estive em outro lugar.
D
 Em que época do ano? Por causa do tipo de roupa (inint./sup.)
L
 (sup.) No inverno, no inverno, no inverno, no inverno. Sou amarrado em inverno. Lá. No inverno com neve, inverno de criança.
D
 Como é que você resolveu essa parte lá?
L
 Lá, você tem, você tem que se vestir de acordo com o local, né? Eu lá na Europa, por exemplo em Paris, tinha que botar roupa de lã, tinha que botar agasalho. Não botava gravata porque também lá usa pouco gravata. Mas tinha que botar casaco de lã ou, ou casacão, ou sobretudo. Dependendo do frio também que fazia na ocasião. Você ia pra esporte de inverno, você tinha que usar roupa de esporte de inverno, você vai esquiar, tem que botar ... Você não vai esquiar de ...
D
 Você esquiou alguma vez?
L
 Esquiei.
D
 Pra esquiar tem uma roupa especial, né?
L
 Tem.
D
 Podia descrever pra gente?
L
 É um, é uma calça tipo calça justa que chama 'fuseau'. É uma calça justa na perna, de lã, que entra por dentro do sapato inclusive, fica presa debaixo do, do pé, pra não sair. Meias grossas de lã. Meias grossas de lã, eh, roupa interna de lã também, porque o frio é realmente violento. Você ficar a menos de oito, menos dez graus, não é brincadeira não. Camisa de lã. Aquele blusão de lã, um impermeável pra, pra não molhar com a neve.
D
 Na cabeça.
L
 Cabeça também. Aquele, eh, um gorro de lã.
D
 E os olhos, não protege não (inint./sup.)
L
 Não. Não. A pessoa que vive muito ... Ou que tem muito sol, muita claridade é que, é que realmente dá um brilho muito intenso, aí tem que botar óculos escuros.
D
 Tem um tipo especial, é um tipo de óculos diferentes, pelo menos que se vê em fotografia.
L
 Não. É óculos escuros. Mas como o sujeito está esquiando, então um óculos que protege tudo pra não entrar a neve no olho, protege quase como um óculos de motociclista.
D
 E os sapatos também não são especiais?
L

  São. São sapatos especiais. São bo... se for pra fazer esqui, é bota especial pra esqui, né? E mesmo quando vai andar você usa umas botinhas curtas, forradas de lã, de sola impermeável, que é pra não molhar.