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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Dinheiro e finanças"

Inquérito 0175

Locutor 202
Sexo masculino, 49 anos de idade, pais cariocas
Profissão: médico
Zona residencial: Norte e Suburbana

Data do registro: 26 de setembro de 1973

Duração: 42 minutos

 

Som Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 Então vamos ver na parte de dinheiro, eh, o que o ... Uma pergunta assim um pouco indiscreta. O senhor como médico, o salário que o senhor tem e a vida que o senhor tem, como é que funciona?
L
 Bom, o salário, eu acho que a maioria dos, dos, dos meus colegas, ah, sabem que o, o salário não é condizente com a profissão. Está muito aquém. Porque a medicina, eh, eh, ficou especializada, né, de maneira que, eh, hoje em dia, a maioria dos clientes só querem saber de lugares que dão vantagem. Esses lugares são os pronto socorros, são os institutos, onde não tem aquele ... Apesar de pagar indiretamente o instituto, mas eles não pagam aquela quantia que deveriam pagar. Então o médico fica relegado a um plano inferior, quer dizer que não, não, não percebe o que deveria perceber. Então eu acho que nesse sentido somos mal re... remunerados. Ahn, hoje em dia a classe luta, luta, mas até agora não estamos conseguindo nada.
D
 Em termos assim bem concretos de dinheiro, o senhor disse que as pessoas estão preferindo os lugares que lhe oferecem mais vantagem. Quais são as vantagens, em termos de dinheiro mesmo, monetário, se o senhor pudesse fazer uma comparação, se, eh, uma pessoa que não procurasse esses locais e que fosse a outros locais em que pagaria mais, em termos de, de quantia mesmo.
L
 Não. Se a pessoa não procura esses, esses locais, tem que ir na clínica particular. Na clínica particular então vai pagar a consulta. Então aí já está uma diferenciação entre o que é o que procura o instituto ou a clínica que é a chamada clínica de, de entidades, que recebe por mês, essas clínicas que tem muito no subúrbio (inint.) mensalmente paga uma quantia para você usufruir das vantagens, a maioria das vezes não dão muitas vantagens, é ilusão, então a pessoa tem que pagar, se vai a uma clínica particular vai pagar. Então varia, de acordo com ...
D
 O senhor podia dizer pra gente, mais ou menos, qual é, qual é o preço das, eh, de uma consulta médica?
L
 Não. O preço varia, porque varia por exemplo da, da, do médico, da posição do médico, da projeção do médico, do local que o médico atende. Vamos, vamos dar um exemplo. O médico que atende na estação de Cascadura não vai cobrar o que atende na, em Copacabana. Por quê? Porque realmente, em Copacabana, o, a, as despesas são muito maiores e ele tem outros encargos e enseja que a con... a, a consulta seja maior, melhor paga do que um de Cascadura que não tem aquela, aquela despesa. Então aí está a diferenciação entre um e outro.
D
 Um, um exemplo assim, eh, do preço de uma consulta em, em Copacabana, um médico em Copacabana em qualquer especialidade e um, semelhante, por exemplo, na zona norte, no subúrbio?
L
 A mesma esp... a mesma especialidade?
D
 Sim.
L
 Não, também varia. Varia porque, apesar de ser a mesma especialidade, mas eles estão em locais diferentes. O poder aquisitivo do, da pessoa é diferente. Se ele em Copacabana ele cobra duzentos cruzeiros uma consulta, se ele for cobrar em Cascadura, ele não vai ter cliente, porque o poder aquisitivo do, da população em Cascadura não consente, não permite que pague essa quantia. Então o de Cascadura tem que pagar, vamos dizer, no máximo cinq"uenta cruzeiros. Em Copacabana (inint.) paga duzentos, trezentos e pode ser até mais. Com hora marcada um colega pode cobrar até mais de duzentos cruzeiros. Então, aí sim, aí apesar de ser a mesma especialidade, conhecemos colegas que têm consultório na zona sul e têm consultório na zona norte. E ele tem, faz dois preços, na zona norte cobra um preço, na zona sul, na zona sul, cobra mais, porque lá ele tem condições de, de, de cobrar mais do paciente, está entendendo? Daí a diferenciação que se faz. Isso na clínica particular, porque na zona sul ainda há muita gente que pode procurar porque o poder aquisitivo ainda é, é razoavelmente bom. Mas no subúrbio, não dá condições. Então ele quando procura o, o particular é, é uma minoria, que a maioria vai pra onde? Como eu havia dito, vai pros institutos, pra e... essas, essas clínicas que tem, que, que recebem por mês. Paga a mensalidade mensal, está entendendo? Muitos procuram aquilo. Às vezes iludidos, porque essas, essas, essas clínicas não são o que eles prometem, porque na hora que a coisa aperta é que eles vão sentir como vão ter que pagar isso, isso e isso e pagam quase tudo como se fosse um médico, uma instituição particular. Mas se ele puder, ele corre pro particular ou, ou, ou o que não paga, o que é grátis. Pelo INPS, que agora é, é tudo INPS, fizeram a fusão daqueles institutos (inint.) que ele está, ele está registrado. Então a primeira que eles fazem é isso. Agora na zona sul não. Na zona sul ele às vezes ele prefere não, não ocupar o INPS ou outras instituições, pra ser atendido de imediato. Por quê? Porque eles podem pagar. O poder aquisitivo deles é bom. De maneira que aí está ótimo não só pro, pro que é atendido como o médico também. Então a diferenciação entá nesse, nessa, no, no local, apesar de (inint.) o mesmo médico. Um colega que atende em Cascadura, ele pode ter um consultório na zona sul. É o mesmo médico, com os mesmos conhecimentos, mas cobrando de maneira diferente.
D
 O senhor sabe que existe mais ou menos uma lenda a respeito de médico, com todo um, todo um (inint.) a respeito do 'status' social do médico, ligado mais ou menos com o que seria uma espécie de 'status' financeiro, digamos, econômico. Isso é verdade?
L
 Não, realmente tem fundamento isso. Alguma coisa existe nesse sentido, de modo que não se pode fugir às contingências dos fatos, ahn. Existe alguma coisa nesse sentido.
D
 Outra coisa, o senhor, o senhor acha que existe uma divisão de classe social no Brasil? Se existe, qual seria, por exemplo, e o senhor se enqua... enquadraria em alguma classe? Hum, eh, ligado com o aspecto econômico.
L
 Não, de classe existe. Existe a classe, a classe dos, a classe, vamos assim dizer, dos que têm poder aquisitivo bom e do, e dos que não têm. Antigamente existiam três, né? Hoje em dia estão ficando, está sendo reduzida a duas: o bom e o que não é bom, está entendendo? Então, mesmo assim reduzida, existe. Divisão existe. De maneira que não se pode negar, né (inint.) que quem mora na zona sul tem poder aquisitivo bem melhor de quem mora na zona norte. Às vezes tem gente na zona sul que também está em situação precária, mas isso é, é, é exceção à regra. Como também tem gente que mora em Cascadura e tem um poder aquisitivo bom. Está guiando automóvel, está morando em palacete. Existe isso, até mais lá pra dentro. Mas isso aí é, é, está fugindo à regra, é exceção à regra, porque lá, lá na zona sul é um tipo, na zona norte ou no subúrbio é outro tipo.
D
 Mas hoje as pessoas na zona sul não costumam morar em casas, elas não têm uma casa espaçosa, né?
L
 Não. Bom, não têm lá na zona sul, porque a zona sul não dá condições. Hoje em dia, eh, não se pode construir uma casa na zona sul. Se mantivesse terrenos nessa situação, muita gente ia fazer isso, muito, muitos, muitas pessoas que pudessem gastar iriam fazer isso. Mas não, não, não tem condições, eh, o, o, a parte, o truste da, da construção tomou conta, então não tem. Se eles descobrem uma casa, eles vão começar a martelar em cima daquela casa, oferecendo, eh, dinheiro e mais dinheiro e mais dinheiro, até que eles conseguem derrubar o su... o dono e vão fazer ali um edifício.
D
 E o senhor não acha que isso pode acontecer também na, no, na zona norte (inint./sup.)
L
 (sup.) Pode. Pode (sup.)
D
 (inint./sup.) já está acontecendo ou não?
L
 (sup.) Quando, quando ... Não, já está acontecendo. Quando começar, quando, quando o ... Depois que saturar, se já não está saturada, a zona, zona sul, agora já estão pas... passando o pessoal pra Barra da Tijuca. Leblon e Ipanema também já estão ficando saturadas. Eles agora vão, vão desbravar o, a, a Barra, então isso vai acontecer. É a mais natural das coisas. Ninguém quer subir, todo mundo quer ficar na orla, quer, quer ficar na situação boa, quem pode, né? Só vai subir se for obrigado. Agora (sup.)
D
 (sup./inint.) o senhor diz subir (sup.)
L
 (sup.) Subir, eu digo, mudar pro subúrbio (sup.)
D
 (sup.) Ah, sim! (sup.)
L
 (sup.) Pra um lugar em que ele não se sinta muito bem. Porque estão acostumados naquele tipo de vida, vão lá pra cima, é aquela, eh, é o ambiente que não agrada. Mas chega uma época que vai ter, que vai ser obrigado, porque não pode todo mundo morar na zona sul. Então uma parte vai, vai subir. Ah, isso que eu digo subir é pra zona sul, nor... norte ou pra zona rural, nem é rural, zona de, de subúrbio, rural é mais pra cima (sup.)
D
 (sup.) Inclusive pode acontecer uma coisa que acontece nos Estados Unidos por exemplo que as pessoas não moram numa cidade como Nova York, que é enorme, as pessoas, muitas pessoas não moram mesmo em Nova York, moram (sup.)
L
 (sup.) Afastadas (sup.)
D
 (sup.) Não é? Inclusive não vão de carro pra, pra, pro centro, pegam o trem. Vão até um certo ponto, deixam o carro, não é? E moram confortavelmente fora do ...
L
 Não se iluda que vai acontecer isso aqui também. Vai acabar com essa fa... essa, essa situação de todo mundo querer (inint.) ao mesmo tempo. Então vai ser abolido. Então ele mora na zona sul, não é, e, e quando praticamente ele tem a casa dele na, na, em Jacarepaguá, naquele lugar muito agradável, que o clima não está poluído ainda, né? Mas ele mora realmente lá. Então ele, ele mora na zona sul por, eh, por obrigação. Mas não vai poder via... viajar porque não vai dar condições. Então ele tem uma conduçãozinha, o metrô, que deverá funcionar ou outra, empresa de ônibus, não é? Então ele não leva carro. Então ele mora ali. Quando chega no, na sexta-feira, ele, ó, ele pega a família e, psi, vai lá pra, pro, pra outra, pra residência dele. Vai pra Jacarepaguá, pra sua casa de, de veraneio, vai fazer o fim de semana lá, vai fazer uma higiene mental. Sábado e domingo. Na segunda-feira eles descem e todo mundo fica amontoado. Aí fica aquele negócio, saturando, chega sexta-feira, ele está quase estourando, ele pega o carrinho dele ou vem o ônibus que vai assim apanhá-lo e vai pra, pra sua casa de campo. Faz aquele 'relax' na sua piscina, fica à vontade. Dois dias já é bastante pra ele enfrentar cinco.
D
 Mas o senhor disse que todo mundo tem carro. Como é que explica, eh, as pessoas sempre ficam falando, custo de vida, não sei o quê, que é muito caro, que o dinheiro é sempre pouco, como é que se explica cada vez mais se vê carro no Rio de Janeiro, particular, cada vez mais as pessoas têm facilidade de, de ter carro, como é que o senhor vê isso, explicaria isso?
L
 Bom, o primeiro fator foi a indústria automobilística, né, que o Juscelino veio, implantou e ficou e está, está saindo automóvel aí todo dia. Haja comprador. Agora outro, outro detalhe são as vantagens. Quem não tinha, tem um, quem tinha dois passa a ter dois, tem gente que já tem três. Mas por quê? Por causa das vantagens. Agora ...
D
 Que vantagens são essas?
L
 A vantagem, as vantagens do, da, da própria, da própria fábrica, da própria, do próprio vendedor de carro, está entendendo? Nós temos dois automóveis, minha senhora tem um, eu tenho outro, mas a prestação, paga... pagando em trinta e seis meses.
D
 Hum. E pagando quanto? Desculpe perguntar.
L
 Bom, o meu (sup.)
D
 (sup./inint.) saber (sup.)
L
 (sup.) O meu, quatrocentos cruzeiros, o dela, novecentos e vinte e sete, não é, N.? (fala feminina) Novecentos e trinta e sete. Mas com esforço. Por quê? Porque ela trabalha na Ilha do Governador, mora na Tijuca, não tem condução direta. Tem que pegar dois ônibus, se quiser. E eu, como médico, sempre com pressa, trabalho em cinco lugares, tem que ter carro também. Se ela usar o meu ou eu usar o dela, um vai ficar, vai ficar parado. Nós chegamos à conclusão que havia necessidade de comprar dois carros. Com dificuldade, está entendendo? Pra poder eu trabalhar em cinco lugares, ela, ela ser professora primária. Porque são, só de automóvel, são quatrocentos com novecentos, um milhão e trezentos, um milhão e quatrocentos, sem contar a manutenção (sup.)
D
 (sup./inint.) quanto custa a manutenção de um carro, em média, por semana ou por mês?
L
 Bom, vamos ver em média, por mês. Um milhão e pouco, não ... (fala feminina) é, fica na faixa de ... (fala feminina) é, varia do carro. Um carro novo é um carro que não dá, não dá oficina (fala feminina) só a parte de, de manutenção da gasolina e do óleo, de lubrificação. Mas um carro já não novo igual ao meu, está entendendo, que ele dá muito oficina, que é um, é um Fusca meia sete (fala feminina) meia oito, então ele dá ... Quer dizer, esse, esse, a manutenção é mais dispendiosa. O novo não é tanto, que é um carro novo. Mas em compensação está se pagando mais, pagando o dobro do que eu pago pelo outro. Mas não tem aquela questão de: vai na oficina! Porque a questão das nossas oficinas você sabe como é que é, infelizmente (sup.)
D
 (sup.) Como é que é? Eu não sei (sup./inint.)
L
 (sup.) É, você não sabe mas eu digo. O carro entra pra, vai numa oficina e tem-se a impressão que quando ele vai com um defeito, depois ele volta mais tarde com outro. Então já fica uma espécie de, de um, de uma situação do, do, do, do freguês. Continua a voltar. Então tem que evitar isso, que nós não podemos estar, botar um carro na oficina e ficar lá de olho. Trocou a peça, fez isso? Tem que ser na base da confiança. De maneira que acontece que a despesa do carro usado é maior que um carro novo. Então eu digo a você que, eh, pode ter, mas temos com dificuldade. Mas pode ter realmente. Se não pudesse ter, não tínhamos, né? Com dificuldade.
D
 E a despesa diária que o senhor tem com o seu carro? O senhor tem uma despesa diária com ele?
L
 Não ... Diária assim não se pode fazer, não se pode ... Eu por exemplo você sabe, eu, eu, eu não, eu sou um, uma pessoa que eu não gosto de dirigir, não gosto. A, a minha senhora gosta mais de dirigir do que eu. Agora mesmo, nessa semana, ela é testemunha, passei três dias sem dirigir automóvel, segunda, terça e quarta, e hoje. Amanhã vou dirigir porque vou dar plantão, tem que levar o carro. Mas se, se eu não tivesse eu não, não levaria. Não é, não é questão de, só de, da despesa. Quem não, não anda está economizando, de uma maneira ou de outra. Mas aí já entra noutro, noutro terreno, o terreno dos aborrecimentos. O carro torna o sujeito grosso, o carro o sujeito fica indelicado, fica malcriado, porque está ... Ainda hoje um, um cliente me disse: doutor, o sujeito não é mais dono do carro, o carro é dono dele. Lá na ACM me disseram isso. Porque o carro é dono do, eh, eh, ele é do... o carro é que pertence, que é, que é dono do dono, não é o dono que é dono do carro (inint.) ele fica (inint.) o dono não quer, só quer ir de ... Pra ir, pra ir ao banheiro (riso) ele tem que ir de carro, ele quer ir ao cinema, tem que ir de carro, está no jornaleiro, vai de carro, está no engraxate, vai de carro. Quer dizer, é um, é um sujeito que vai ficar obeso, eh, gordo, pançudo, como tem lá na ACM. Todo mundo diz: é mesmo? Ora, tem carro! Ele sai de casa, senta no carro, sai do carro na, na, no escritório, depois senta e chega em casa, vai ver televisão, fica sentado. Então fica com a barriga grande, crescida. Eu digo: olha, meu amigo, eu tenho dois carros, mas eu ando muito pouco com eles. E me sinto muito satisfeito. Tenho quarenta e nove anos de, eh, de idade. Às vezes ando da praça Mauá até a Lapa, não que eu vá em linha reta, mas pagando um negócio aqui, vendo um negócio aqui, comprando um negócio aqui, vou andando, vou até a Lapa. Me sinto muito bem. Mas a maioria dá a saída da cama, entra no carro e vai, pega o trabalho, sai do trabalho, chega em casa, bota pijama e fica sentado vendo televisão.
D
 E onde pára com o carro paga, né?
L
 Bom, depende da, do, do indivíduo. Porque se o, o indivíduo for igual a mim tem estacionamento próprio. Por exemplo a instituição que eu trabalho, nas duas que eu trabalho, aliás, nas três, aliás, quatro, né (fala feminina) as três, são quatro, são cinco ... Não tem, porque o, a, a, na, na ACM nós temos estacionamento próprio. Na Imprensa Nacional nós temos estacionamento próprio. No INPS, onde eu trabalho às quintas-feiras, nós temos estacionamento próprio. Numa casa, num colégio que eu trabalho na Gávea também temos estacionamento próprio.
D
 E vocês não pagam por isso não?
L
 Não. Não pago porque (sup.)
D
 (inint./sup.) não cobram não? (sup.)
L
 (sup.) Não, não pa... não cobram. Ainda não chegou a esse ponto, está entendendo, ainda não está cobrando. Então nós, nós ... Tem essa vantagem. Mas muitos colegas que vão para o centro eles pagam, ou pagam por mês ou pagam por dia ou por semana. A N., minha senhora, quando vai à cidade, ela tem um cartãozinho, que ela quando vai lá, fica um determinado número de, de, de horas ou minutos e quando sai, paga. Eu quando vou noutro local que não é minha, não, não são os meus locais, eu também pago, está entendendo? Claro que eu preferia pagar a deixar o carro jogado em qualquer lugar, está entendendo? Então eu pago. Quer dizer, é pago, carro. No meu caso não, porque eu tenho essa, essa circunstância de ter estacionamento próprio. Por enquanto. Não sei o dia de amanhã, né, entendeu? Porque lá na ACM há um detalhe, né, a ACM nós temos uma, um, um terreno que nos foi emprestado pelo, pelo Roberto Marinho, do O Globo. Ele, ele nos, nos, à ACM, ele emprestou o terreno. Então é um terreno baldio, então enquanto não fazem nada ele, ele cedeu à ACM. Então nós temos. Porque se não tivesse isso havia dificuldade, porque o estacionamento da ACM é muito pequeno na parte da frente, atrás é maior por causa dessa circunstância, está entendendo? Mas os que, os que já estacionam na frente, os que são associados já pagam um cruzeiro por cada parada que fazem lá. Já estão pagando. No dia que resolverem, eh, O Globo tope fazer qualquer coisa com o terreno, nós vamos pensar o que que nós vamos fazer, está entendendo?
D
 Sim. Agora outra coisa, assim diariamente, cotidianamente, o senhor anda com dinheiro? Normalmente?
L
 Já chegou (inint./sup.)
D
 (sup./inint.) o senhor usa outros (sup.)
L
 (sup.) Cheque?
D
 É.
L
 Não, isso varia. Varia, né, sempre. Às vezes dinheiro, às vezes cheque. Por exemplo amanhã eu tenho que pagar uma, amanhã não, sexta-feira, vou pagar mais uma promissória do carro. Eu vou com cheque, não vou com dinheiro. Agora quando vou ... Pequenos pagamentos, qualquer coisa eu não levo, não uso cheque. Quem usa cheque mais é minha senhora, então eu, eu uso dinheiro.
D
 Agora há várias modalidades de cheque, né? O senhor usa, eh, indiferentemente, o senhor não se preocupa com isso ou o senhor tem uma certa preferência por um determinado tipo? Porque há vários tipos de cheque, né, que as pessoas usam, não são todos iguais.
L
 Você quer dizer cheque de, de, daonde? Da, da origem?
D
 É. Não é, não é que seja cheque de banco. É o tipo de cheque mesmo, a modalidade.
L
 Você diz cheque por exemplo ao portador?
D
 Sim, essas coisas, é.
L
 Não (inint.) geralmente é ao portador, dificilmente é, é especificado. Esse, esse, por exemplo, que eu pago do carro, eu preencho e eu tenho a impressão que lá depois então o caixa ou ele preenche aquela, aquela linha que está em branco, ou então quando ele faz a, o levantamento dele, ele já sabe que aquele cheque que ele botou ... Bom, no verso, no verso, ele botou, ele botou no verso da, da, daquele tíquete que ele tirou do carnê, ele botou o número do meu cheque. Então ou ele põe o, o, dirigido a quem, ou ele toma nota, ele já tomou nota e já sabe a quem pertence. Geralmente é ao portador, nunca nominal, raramente. Nominal é aquele problema de ter que apresentar carteira de identidade, aquela coisa toda, de maneira que ...
D
 Não, é porque tem pessoas que pensam que o cheque nominal é mais seguro, não é?
L
 Não resta dúvida. Para quem faz uso de, de, diariamente de cheques assim eu acho que é uma conduta certa. Agora quem, quem usa assim esporadicamente, meu tipo, eu não vejo, não, não faço, eu pelo menos não faço dessa maneira.
D
 O senhor usa muito serviço de banco?
L
 Não, não. Muito, não. Usamos, usamos algum tempo o, o serviço de um banco, mas depois, eh, mas foi uma, uma vez, ou mais de uma vez, umas duas vezes, né, mas fora isso não.
D
 Porque eu acho que, eh, o banco, o, o único serviço que ele oferece não é de você ter dinheiro lá e usar esse dinheiro através de cheque. Cada vez mais os bancos estão ampliando, não é, o serviço, o número de serviços todos, pras pessoas.
L
 É. Vou dar um exemplo. Eu fui, eu, nós ti... nós, nós fomos clientes do banco Real (fala feminina) do Cr'edito Real de Minas Gerais. Eu quando fui comprar esse Opala, eu estive lá falando com um, um gerente. E disse a ele qual era a situação: sou cliente do banco, há algum tempo, eu recebo, eu perce... eu, eu recebia pelo INPS através da agência dele, então eu queria comprar um, um automóvel e eu queria, eu queria, justamente, fazer esse levantamento. Então ele me perguntou: quanto é? Eu digo: bom, eu ficaria em vinte milhões. O carro foi mais, o carro foi vinte e oito milhões e alguma coisa. Seria à vista, né, pra eles.
D
 Hum.
L
 Então ele me e... exigiu vários documentos e eu levei os documentos pra ele. Mas ele fez uma série de, de senões, essa coisa toda, eu desisti. Então ele ficou com a minha papelada pra lá e eu fiz negócio com, com a agência de automóvel diretamente.
D
 Direto. E como é que foi o negócio direto com o automóvel?
L
 Não, eu, eu fu... eu indo à agência, eu tenho, eu tenho, fui surpreendido que um rapaz que é da agência foi meu colega na época de solteiro, colega, colega de, de festa, de clube. Então eu disse a ele o que, o que eu desejava: olha, eu tenho um carro meia meia, da minha senhora, eu estava com vontade de comprar um, um Corcel, então há, há possibilidade? Ele falou: eu não lido com Corcel, o, a minha linha aqui é a linha Chevrolet. Então ... Mas antes disso nós já tínhamos andado por vários lugares e, e era e continua a ser difi... dificultoso de a... adquirir esse Corcel. Não sei por que cargas dágua, né? A indústria automobilística funciona a mil maravilhas, mas Corcel não se tem na praça. Então nós esperamos, esperamos de tanto, de tanto e ficamos cansados de esperar. Então resolvemos então, eh, aceitamos a sugestão dele e compramos um Opala. Um amigo nosso viu o carro e disse que nós podíamos e então fizemos o negócio. Ele ficou com, com o, o, o Fusca meia meia, nós demos mais uma quantia, então nós ficamos com o Opala. E foi assim que eu fiz a transação. E esquecemos o, o banco, porque o banco não agiu bem com a gente.
D
 E essa propaganda toda dos bancos que a gente vê maciça na televisão, nos jornais, que os bancos resolvem todos os problemas (sup./inint.)
L
 (sup.) Olha (sup.)
D
 (sup./inint.) não gaste sua cabeça, deixe que o banco pensa por você.
L
 A experiência que eu tive com banco é decepcionante, que eu estou dizendo a você o que aconteceu. Eu apelei pro banco e o banco ficou numa série de exigências, que vai ver na, na matriz não sei daonde, que ele vai fazer levantamento, pra eu mostrar isso, mostrar aquilo. Você vê, como médico credenciado, sou funcionário do ministério da Justiça há vinte e tantos anos, há vinte e um anos, funcionário do INPS, proprietário e não sei que mais que ele me pediu, CPF e carteira e mais aquilo tudo. Então eu dei tudo que ele queria. Eu fui lá uma, duas, três vezes. Ele: não, ainda não encontrei. No fim um negócio assim: olha, a sua ficha foi extraviada. Eu digo: então está certo. Também não voltei mais lá. Deixei o que eu tinha lá que não era de muita importância, eram os documentos que eu tinha até em cópia, então deixei, que era contracheque do ministério, contracheque do INPS, está entendendo, então deixei lá. Ele ficou com a papelada lá até hoje, nunca mais eu voltei lá. Porque o banco não, esse banco por exemplo não, não, não agiu bem, está entendendo? Eu tenho um colega de, de equipe, que ele disse: olha, C., eu tenho um banco que é um banco realmente espetacular. Posso citar, né?
D
 Não há nenhum problema não.
L
 É o banco Real. Ele até me mostrou uma carta do banco e disse: olha C., se você quiser, você pode ir ao banco Real que ele, a, a classe médica eles atendem, você diz o que que você quer que eles vão te atender. Então peguei o documento e guardei. Por isso, porque ele disse: olha, esse, esse é diferente dos outros. Porque, olha, eu digo a você, que está me entrevistando, esse que eu fui fiquei decepcionado, porque apelei pelas credenciais que eu trazia e como, como cliente e foi uma negação.
D
 E essas, ah, esse tipo de serviço que é muito comum, que as pessoas usam mais, do banco, de despesas mensais de uma casa? Toda casa, toda família tem um, um determinado número de despesas mensais, não é, compromissos mensais.
L
 Nós não fazemos o pa... no banco (inint./sup.)
D
 (sup.) Como é que vocês resolvem?
L
 Bom, quanto à questão de despesa? O dinheiro, o meu dinheiro é depositado num banco, né? O do, o ministério é Caixa Econômica, o do, do INPS agora é o banco, eh (fala feminina) Mercantil de Minas Gerais, que agora já mudou, já foi pra outro. O, a ACM, ela, ela paga geralmente em dinheiro. E a, e a, e a, e o sindicato dos metalúrgicos também é em dinheiro. Esse que tem, que tem na, no banco, a, a minha senhora tira da Caixa Econômica e deposita no banco, pra fazer uma conta só, nós temos conta conjunta, eu e ela. Então ficamos, eh, eh, eh, utilizando esse, esse, esse dinheiro de cheque, pra despesa. O outro dinheiro que vem, pagamos o que temos que pagar, o que sobra, nós depositamos no, no banco. Então fica usando dinheiro e cheque. E é assim que é feito. A despesa de, de empregado, a despesa de, de outras coisas mais, de alimentação, então saca do banco, deixa aqui uma parte aqui em casa e a, e a, e uma parte fica no, que não, não é muito grande, a, a parte não é grande não, que as despesas são grandes e o que a gente recebe é muito pouco, então fica, fica o que resta no banco, pra ser movimentado.
D
 O senhor disse que tem conta conjunta com, com a sua mulher, o que ... Como é a conta conjunta? Qual é a diferença de uma conta conjunta pra uma ...
L
 Isso, você sabe que a conjunta ela pode movimentar e eu posso movimentar.
D
 Independente?
L
 Independente um do outro. A assinatura do um é a assinatura do outro. Ela pode tirar todo o dinheiro, eu posso tirar todo o dinheiro. É que nós não estamos livres de amanhã acontecer qualquer coisa e ficarmos impossibilitados de, de movimentar, então é conjunto. Então ela movimenta e eu movimento.
D
 Ah, sim, claro, porque se fosse individual, não é?
L
 Aí se depen... eh, ia depender de uma, de uma pessoa só. Um acidente, a pessoa fica impossibilitada de escrever, aí já, aí cria, quer dizer, ia criar dificuldade. Já os dois assim torna-se mais fácil.
D
 Alguma vez o senhor teve problema com banco, relacionado com cheque?
L
 Bom, eu tive (sup.)
D
 (sup.) Algum episódio (sup.)
L
 (sup.) Tive (sup.)
D
 (sup.) Que o senhor pudesse contar pra gente?
L
 Tive. banco Nacional de Minas Gerais, agora é banco Nacional, só. Eu tenho, eu tenho uma conta aí na Peña, tinha e tenho uma conta aqui no jó... na, na, na agência da praça Saenz Peña. Então eu fui, eu mandei uma, uma, um funcionário da ACM depositar um dinheiro lá na agência do banco Nacional, ali na, na galeria, é ali na avenida Rio Branco, edifício Central. Então a pessoa chegou lá e depositou o dinheiro, mas o, o funcionário em vez de alertar que não, não, aquele dinheiro era pra ser depositado em meu nome não abrindo conta, ele não alertou. Então ele recebeu o dinheiro e ficou. Eu pensando que tivesse, o, o, o banco tivesse mandado aqui pra praça Saenz Peña, houve um conserto de um carro meu, eu man... eu, eu, eu emiti um cheque. Foi recusado. Quer dizer, o banco disse que ele estava com a razão, eu também achei que ele estava com a razão, mas não, não quis mais nada com ele. Tirei quase todo o dinheiro de lá e pretendo encerrar a conta com ele, porque achei que não agi... que não agiram bem. Não o banco daqui, a agência, mas lá, deveria eles alertar a pessoa que foi que aquele era dinheiro pra depósito, no entanto receberam e, e fizeram como se abrisse uma conta pra mim. Eu já tinha conta. Então não foi bem, o, o funcionário lá, impressão minha, não foi muito bem, não foi feliz na conduta dele. Então eu fiquei em maus lençóis, porque o dono da oficina, o dono telefonou pra minha senhora, né, dizendo que eu tinha dado um cheque que não tinha cobertura. Não brigou nem nada, sujeito muito distinto. Eu fui lá e disse: ó, o que aconteceu? Aí disse: não, eu fui lá e ... Então eu fui, conversei e então houve isso. O banco Nacional de Minas Gerais, que agora é banco Nacional, me deixou em maus lençóis, porque eu depositei na, eu depositei na, na avenida Rio Branco e o dinheiro não apareceu aqui na praça Saenz Peña. Diz ele que foi, quem eu mandei não agiu bem. Mas quem é que eu mandei não tem prática de banco, é um funcionário da ACM que me prestou um favor. Eles lá teriam que estar alertas pra esses casos, que não, não deve ser o primeiro nem o último. Então no banco aconteceu isto.
D
 Inclusive porque esses casos devem criar muito problema, muitos problemas pras pessoas (sup.)
L
 (sup./inint.)
D
 (sup.) Porque há, parece que as pessoas ... O senhor nunca percebeu que existe uma certa desconfiança a respeito de cheque, no comércio por exemplo?
L
 Não, isso ... Não. Isso, isso existe porque existe gente com muito má, mal-intencionada, né? Gente que não age bem, né? Emitem cheque que não tem a ... Agora mesmo teve um caso do, do, lá do marido da dona, dona Maria. Ele foi assaltado, né, e levaram, além de levar o di... o dinheiro dele, levaram o livro de cheque. Então o livro de cheque, ele só tinha no, no banco a quantia de, parece que de cinqüenta cruzeiros. Então apareceu um milhão e cem, trezentos cruzeiros, ou cento e cinqüenta cruzeiros e, eh, e nas casas comerciais que recebem na, na boa-fé rece... receberam o cheque dele (inint.) que roubou. Mas quando chegou lá no banco: não tem fundo! Então ele agiu mal.
D
 Ele não comunicou ao banco, não, imediatamente? (sup.)
L
 (sup.) Ah, exato. O erro dele foi esse. Ela disse isso. O erro dele foi não comuni... foi não comuni... comunicar ao banco. O banco aí chamou e chegou lá e ele teve que ... Inclusive vai pagar uma quantia por causa dessa questão. Cada cheque desses é dez cruzeiros, tem que comunicar ao Banco Central. Foi erro dele. Mas infelizmente a, o, o, o comércio às vezes fica assim de não receber, porque podem vir outros atrás daquele. Então eles ficam receosos, né, de, de receber e com, e com razão. Esse que, por exemplo, foi um milhão e duzentos, um milhão e trezentos, ora, esse está perdido. O sujeito emitiu e foi embora e levou a mercadoria. Ele vai apanhar aquele milhão e trezentos na, aonde? Não tem mais. Quer dizer, eu acho que foi muito por essa razão que realmente o comércio tem um certo, né, um certo receio. Porque eles experimentam cada situação diferente. É escolher, é ler e ouve, né, vê, lê e ouve, né, de maneira que precisa ficar alerta.
D
 Agora o senhor já percebeu também que as pessoas estão usando uma nova modalidade de pagamento que não é, não é através de cheque nem através de dinheiro, sobretudo pra comércio, viagem. Comércio que eu digo é pra compras, viagens. O senhor não, não ...
L
 Fora do cheque e do dinheiro?
D
 É. Está se usando demais, inclusive os próprios bancos têm esse tipo de serviço também.
L
 Talvez você queira fazer, eh, queira dizer, não é, talvez você tenha se referido, não sei se é bem aí o termo: empréstimo?
D
 Não, não é bem empréstimo não. [Cartão Elo na sua mão, cartão não sei o quê, cartão não sei o quê (fala feminina)]
L
 Bom, eu, eh, eu não tenho prática, não sei, já ouvi falar mas não sei (fala feminina) é, não temos. O Banco do Brasil, eu sou cliente do Banco do Brasil, um cliente pequenininho, desse tamanhinho, cliente, sabe, não passa nem de quinhentos cruzeiros (inint.) então o Banco do Brasil tem o cheque-ouro, né? Então o Banco do Brasil dá uma certa, uma certa, eh ...
D
 E qual é a vantagem desse cheque-ouro pro outro cheque comum?
L
 Porque aceitam. É a aceitação, né? Aceitação dele. O Banco do Brasil é aceitação quase nacional, né, em todos os estados. Os outros ...
D
 Mesmo o Banco do Brasil dos outros cheques?
L
 Não. O outro não, o outro, o comum não, o comum não tem aceitação. Só o ouro. Quer dizer, é a impressão que eu tenho, heim! Porque eu nunca saí por aí emitindo cheque do Banco do Brasil. Não tenho o cheque-ouro, mas pelo que eu ouço falar e tudo mais, eu tenho a impressão que o comum ainda não dá essa, essa, essa vantagem, o outro dá, está entendendo? Então agora essa dos tipos de cartão, se existe, eu não, não tenho argumento, não tenho (sup.)
D
 (sup./inint.) que as pessoas estão usando cada vez mais. Agora uma coisa: e a Bolsa de Valores?
L
 Bom, Bolsa de Valores é negócio pra longo prazo. Era e é. Houve aquela, houve aquela, aquela situação que todo mundo correu. Uns afundaram e outros ficaram bem, ficaram ricos, está entendendo? Inclusive eu, eu, nós vendemos um automóvel, um Aero-Willys, e muito bem vendido, diga-se de passagem, e eu botei todo o dinheiro no, no Banco do Bra... na, na, nas ações do Banco do Brasil, está entendendo? É, no, inicialmente ficamos arrependidos, mas não estamos não. Porque a Bolsa é de longo prazo, o dinheiro está lá e agora vai emitir bonificação e vai melhorar um pouco mais e estamos ganhando a vida com, e sem precisar daquela, daquelas ações. Mas muita gente se deu mal e muita gente ficou bem, porque quem vendeu na crista, vendeu na alta, ficou bem, eh, e quem comprou na alta, ficou mal. Quer dizer, é uma, é uma, é uma, uma operação, como dizem os, os, os mais entendidos, os mais velhos, a longo prazo. Isso é verdade. Está aí o fato que a longo prazo que dá bonificação, que dá aquela outra de ... Bonificação, a outra qual é (fala feminina) subscrição, dá dividendos (fala feminina) dá filhotes. Filhotes são os, são, são os, as, as bonificações, estão chamando de filhote. Então dá essas vantagenzinha. Você compreende, todo ano dá aquela vantaginha, depois vantagem em cima de vantagem, fica isso lá, o dinheiro, trinta anos, outro deixa vinte anos, é bom, né? Mas é a longo prazo. Aquilo que aconteceu não vai repetir mais, tenho a impressão que não repete mais. A, as ações do Banco do Brasil por exemplo chegarem quase a cinqüenta, ou chegarem a cinqüenta não acontece mais. Eu acho muito difícil.
D
 O que foi que o senhor acha que aconteceu pra, pra chegar a cinqüenta cruzeiros uma ação do Banco do Brasil? Por que que houve aquela, aquela euforia, de repente?
L
 Não sei.
D
 Um negócio estranho, não é (inint./sup.)
L
 (sup.) É. É. A, a fundo, não se sabe o que foi aquilo, né? Não se sabe o que ... E que jogada foi aquela que dei... deixou de subir, subir assim sem que houvesse um, um argumento, né? Disseram: não, subiu por causa disso, daquilo, provasse por a mais bê. Mas subiu, porque subiu e ninguém sabe por quê. Depois também desceu e ficou naquela, né, um dia doze, um dia treze, quatorze, quinze, e vai levando a vidinha dela. E as outras acompanhando, né, que o Banco do Brasil é a locomotiva, né? A Petrobrás também, a Petrobrás é a, a segunda locomotiva. O resto vai tudo caminhando, né?
D
 O senhor só tem ações do Banco do Brasil, o senhor não se interessou por outras?
L
 Não, tenho da Petrobrás.
D
 Agora, o senhor tem ações. Eu não entendo nada desses negócios, como é? O senhor comprava diretamente na Bolsa, como é que (inint.)
L
 Não, não é comprada na Bolsa. Tem que ter um, um, um sujeito que (fala feminina) um corretor. É um corretor que eu fui apresentado por um amigo meu, então eu manifestei o desejo de comprar, então ele disse: eu compro. É inter... pra ele é interessante porque quando ele compra e vende, ele ganha. É negócio pra ele. Ele não faz negócio, eh, de graça, claro. Então eu comprei algumas ações da, da, da Petrobrás. Banco do Brasil, depois então eu comprei Banco do Brasil. Mas não tive chance, não tivemos chance de comprar mais, ficamos só naquelas que nós compramos.
D
 Mas eu acho que mesmo as pessoas que não querem comprar ações, ações do Banco do Brasil ou, especificamente, do Banco do Brasil ou da Petrobrás, elas não podem também investir em, numa proporção menor na bolsa? Indiretamente, não assim direto com um corretor. Inclusive eu acho que ainda quando estava naquela, naquela euforia toda, era uma coisa muito difundida, as pessoas usavam demais. O pequeno investidor, né, esse que não, não pode comprar trezentas ações por exemplo.
L
 Não, mas eu acho, eu acho que aí tinha que ser através de um corretor, por causa da, da ... Primeiro, que a lei não permite que ele compre diretamente porque assim os corretores vão ficar marginalizados, né? É, é um, um meio deles ganhar dinheiro. Se todo mundo pode comprar direto, podia comprar direto, por que iriam dar o dinheiro, ou dez por cento ou quinze por cento ao corretor? Então o governo fez eles têm, terem a sua, sua classe, sua ordem, então resolveu, eh, proibir. Você não poderia chegar na rua e dizer: eu quero trinta ações! Me dá vinte! Não, não pode. Então tinha que ser através do corretor. E se tem, deve ter um, um limite pra pessoa comprar. Não pode chegar: quer me, me vender uma ação? Não pode. Então tem um limite. Vamos ver se, se é vinte ou cinqüenta ou cem, pode comprar, mas sempre através de um corretor, nunca poderia comprar direto. Não dava condições, ele estava tirando a vez do corretor, né? É o ganha-pão deles, né? Eles ganharam muito dinheiro naquela época, né? Compravam tantas e tantas e vendiam, estava, estava tudo, todo corretor estava feliz. Agora está um monte de gente infeliz hoje em dia, porque, eh, eles se ... Assumiram grandes compromissos e a Bolsa caiu e os compromissos ficaram, também os compromissos não diminuíram, está entendendo? Mas comprar diretamente não podia e nem pode, tem de ser através do corretor.
D
 E os fundos de investimento? O senhor alguma vez, eh, entrou pra, pra uma coisa dessas, ou não?
L
 Entrei. Eu tenho, eu, eu (sup.)
D
 (sup.) E qual é a diferença por exemplo do senhor ter ações da, da Petrobrás, do Banco do Brasil e num fundo de investimento?
L
 Num fundo de investimento é o seguinte: eh, eh, a, a diferença é que, colocando meu dinheiro no fundo de investimento, eles vão comprando, à proporção que, que podem, com aquele dinheiro que você tem lá, eles vão comprando ações e vão, sempre quando podem eles compram, e o que você tem lá, você podendo ... Vamos dizer que tenha cem ações, daqui a alguns meses você tem cento e cinco, cento e oito, porque eles pegam aquele dinheiro, empregam e com o lucro eles compram e, eh, compram. Quer dizer, também é longo prazo, longo prazo. Não tem, não, não é dizer que (inint.) mexer, não pode. Então é a longo prazo como é também a ação. Quer dizer, o Banco do Brasil dá a bonificação e dá a subscrição, e os fundos fazem isso, compram pra você. Bozanno e esse Crescinco, fundo Crescinco, então ele faz o negócio. Tanto que eu recebo, recebo aqui, de três em três meses, um recibo dizendo: olha, ganhou mais duas ações, ganhou mais três, mais duas. É negócio a longo prazo (sup.)
D
 (sup./inint.) na verdade é um dinheiro que deve ser esquecido, não é?
L
 É. É a longo, longo, longo prazo, está entendendo? Da, da, das, desses, desses fundos, o, o longo prazo é maior ainda, porque, coitadinhos, eles são, são (inint.) também, né? Petrobrás e Banco do Brasil já é diferente, né? Falou em Petrobrás, falou em dinheiro, né? Petróleo está saindo aí até no quintal da casa do pessoal que está sem querer fazer buracos, pxi, está saindo petróleo. De maneira que é justo que o fundo não tem essa vantagem que oferece a Petrobrás e o Banco do Brasil. Tem agência agora em Nova York, agência não, não sei quê, o negócio está se difundindo, ótimo, né? Então é interessante, está em situação financeira boa. Alguns fundos ficam naquela, né, muitos só ali, comprando e tudo mais, investindo. Aí, a diferença ... Eu acho que a diferença está nisso, que eles podem, com, com os clientes comprar as ações e (inint.) e a Petrobrás não, fica naquela, né? Quando há, quando há época de, de subscrição, sai no jornal: prazo de subscrição. Mas se o sujeito deixar passar aquele prazo não tem mais direito. O Banco do Brasil também. Chega lá e chama. Se a pessoa não for naquela época, perder aquele prazo, não tem mais direito. No fundo não, trabalha pra você aquilo, eh, sempre quando há oportunidade compra, anota e manda avisar em casa: tem mais tanto, tem mais tanto. Quem tem muita, ganha muito, quem tem pouca, ganha pouco, mas que, que eles trabalham pra obter o cliente trabalham. Que a Petrobrás e o Banco do Brasil ficam na deles, né, só dá no jornal. Agora mesmo está no jornal que vão mandar agora a questão do dividendo, vão ver a questão da, das, das ações. Tal dia, então, fulano de tal, letra tal. Se o sujeito deixar passar, vai perder a oportunidade.
D

  Tá! Está bom, acho que já está na hora. Muito bom.