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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Cinema, televisão, rádio, teatro, circo"

Inquérito 0162

Locutor 185
Sexo feminino, 40 anos de idade, pais cariocas
Profissão: professora de história
Zona residencial: Norte e Suburbana

Data do registro: 11 de julho de 1973
Duração: 40 minutos


Clique aqui e ouça a narração do texto


L
 Sobre a televisão agora ultimamente há uns programas melhores, que as crianças inclusive aprendem alguma coisa, se interessam mais, embora ainda haja programas que são muito violentos e, e as crianças en... estão acostumadas até a isso, não é? Um dos programas que eu acho bom pra criança por exemplo "Vila Sésamo". Eles ficam entusiasmados e gostam de ligar a televisão porque são bichos, embora são, sejam uns bichos muito feios eles gostam e o que é interessante que a criança de antigamente, quer dizer, no meu tempo, né, nós tínhamos medo do Frankenstein, Drácula, me apavorava, né? Eu via uns filmes desses... Eles no outro dia ficaram, eu dormi, eles ficaram acordados vendo televisão, viram, viram filme do Frankenstein até o fim e ficaram rindo. Foram dormir, acharam graça, de manhã contaram: o Frankenstein pegou e tudo, por causa do, daquela história do Frankenstein, né, família, fala aí, esqueci o nome agora, o nome do programa sobre Frankenstein, quer dizer, não tem medo assim, a criança dagora é diferente. Agora, o que há é o seguinte: eles estão acostumados a sentar, ver televisão (inint.) novela, quer dizer, prejudica eu acho que um pouco nesse ...
D
 Hum.
L
 Nessa parte o estudo, a não ser que seja uma educação rigorosa. Por exemplo, aqui em casa nós passamos as férias deste ano. Agora em agosto estamos com um problema grande, seis horas todos têm que jantar, então há um, eles escolhem os programas que querem ver. A menina prefere a novela, o garoto prefere esporte, então eles dividem o tempo pra poder estudar e poder ver televisão mas assim mesmo eu acho que ela às vezes prejudica nesse sentido, quer dizer, há atritos por causa de televisão, a criança se acostuma, né, dentro dum apartamento não há outra distração assim a não ser a televisão. Quando não havia, havia mais conversa em casa, então nós quase não conversamos com eles porque estão vidrados na televisão, não adianta, né?
D
 E vocês, você e o seu marido?
L
 Bom, eu, eu me distraio, então não vejo muito, leio um livro e tudo, mas há programas que eu gosto de, assim humorísticos, né, por exemplo "Satiricon", esses assim, essa família das quintas feiras, a, a "Grande Família", que retrata assim a vida em casa, esses eu gosto de ver e alguma novela ou outra, que a gente se acostuma porque está ligado, você acaba len... vendo e se interessando. Agora meu marido ele acha, a televisão pra ele é um, uma, um meio de botar pra dormir. Quando ele está muito, está muito cansado, excitado, não consegue dormir, ele vai pra televisão e liga e fica vendo os filmes até dar o sono. E ele gosta, eu acho que já é mania, de chegar e ligar a televisão e depois do almoço vê jornal, né, essa parte de jornal e tudo. A televisão agora tem assim, estão se preocupando mais com os programas assim (inint.) pudesse haver mais aplicação de, de ajuda, né, na, pro, pro mundo da criança, que a criança inclusive nessa fase que nós estamos de escola vem pra casa, apartamento, não há mais aquelas casas grandes (inint.) as crianças ficarem mais brincando ao ar livre, a televisão sempre com os brinquedos em casa fica mais barato porque compra televisão a criança fica ali distraída, né, fora disso ...
D
 E além desses progra... programas, novela, não é, "Satiricon", pro... programa pra criança, que outros programas haveria?
L
 Agora há, há um (sup.)
D
 (sup.) Tem alguns que duram o dia inteiro, sei lá, que as pessoas vêem domingo inteiro, sábado.
L
 Ah, esses programas de Sílvio Santos, é? Ah, isso é de amargar, isso, liga e desliga, fica o dia, o tempo todo, cansa, esses programas cansam, né? E domingo geralmente eles não vêem, nem sábado, porque nós costumamos, devido à vida deles, escola e nossa e tudo, sábado e domingo vamos sempre pra fora, sabe, pegamos o carro, vamos distrair. Ninguém pode ver televisão. Nós vamos a Petrópolis, ficamos ali por Quitandinha e distraímos assim (inint.) ar livre ou então vamos pra uma praia quando está o tempo ... Amanhã mesmo nós estamos querendo passar o dia do papai fora, né, mas o tempo está virando e esse, ficou assim, mas normalmente do... assim dia programa inteiro cansa, a pessoa não consegue ver não.
D
 E cinema vocês vão muito?
L
 Agora cinema eu ia muito mais do que vou agora. Até há uma contradição porque lá era mais longe do que aqui, aqui é só descer. Eu gosto de cinema mas quando, quando há, quan... muita, muita gente fala: está bom, o filme é bom, vale a pena, que agora com televisão, cinema na televisão, que é um programa às vezes que a gente vê é cinema, né, filme, vejo qual é o filme pra gente ver, depois desliga, colorido, vale a pena mas eu n... ultimamente não tenho ido não, só mesmo quando, quando se diz que é bom e vale a pena, fora disso a televisão está matando um pouquinho porque dá muita, muita preguiça de sair (sup.)
D
 (sup.) Que tipo de filme você gosta de ver ou você gostava de ver quando você ia mais?
L
 Sempre um filme assim mais de, de, de emoção, de suspense, inteligente, que tivesse um, desses filmes assim muito, muito alegres, quando fosse uma comédia muito boa está bom, mas um filme assim de música demais, de muito romantismo assim não é meu gênero. Eu prefiro mais um filme que tem que descobrir o assassino, um filme de suspense, né, um filme histórico eu gosto de ver pra fazer uma crítica, né, pra indicar às vezes no colégio, um filme científico eu gosto mais, que tenha uma base assim (sup.)
D
 (sup.) Você morava (sup.)
L
 (sup.) Já o meu marido gosta mais, gosta mais (inint.) bangue bangue, né, que eu não gosto muito não (inint.) acompanha.
D
 Você mora há muitos anos na Tijuca.
L
 É.
D
 Você notou diferença nos cinemas, como sala (sup.)
L
 (sup.) Diferença (sup.)
D
 (sup.) Nos cinemas da Tijuca (sup.)
L
 (sup./inint.)
D
 (sup.) Nesses tempos todos?
L
 Ah, de modificação?
D
 Sim.
L
 É, senti uma diferença do tempo, ahn, anterior de que eu vinha, quando era mais nova, pra esse grande diferença. O cinema América era horrível, né?
D
 Como era? Descreva aí o cinema.
L
 As cadeiras eram todas de madeira, né? Havia uma diferença inclusive de segunda e primeira, né, fazia aquela (sup.)
D
 (sup.) Ah, é?
L
 É, às vezes fazia uma diferença de segunda e primeira, mais barato, que é mais na frente e havia um espaço bem grande entre um e outro, a pessoa passava ali pelo meio e a acústica também. O chão eu tenho a impressão que não era, não era, não devia ser atapetado, né, fazia mais barulho, o próprio, a própria máquina de projetar era deficiente, né, de vez em quando falhava. O Carioca também não era muito ...
D
 Hum.
L
 Muito bom. Depois começaram a fazer, o Metro, o cinema Metro sempre foi o melhorzinho mas agora já perdeu o cartaz pra esses outros, né? Agora tem o Art Palácio, é antigo, quer dizer, quando eu vim pra cá só havia o Olinda, que era enorme mas a tela, a tela era grande mas o som era ruim, talvez pela, não sei se por ser grande não tinha muita acústica o Olinda, era o América, o Carioca e o Metro. Mas agora há outros aí e a praça não é, não acho assim a praça muito boa em cinema não. A zona sul tem cinemas muito melhores, né?
D
 É, a senhora podia falar em alguns?
L
 O da zona sul tem o, como é, cinema, aquele, às vezes eu, um na, Ipanema, um novo, não sei o nome do cinema mas de vez em quando eu vou lá ao, em Ipanema.
D
 Como é? Você podia descrever?
L
 Tem a sala de espera mais assim suntuosa, né, as cadeiras são estofadas e inclusive quando você afasta pro outro passar ninguém pisa o pé porque a cadeira vai pra trás, né, esses mais luxuosos, mais bem, eh, ornamentados e a pessoa se sente melhor, né, não fica, ficam a dever assim um pouco aos cinemas de São Paulo, né, que já são ... Tanto quando eu me casei, o que eu achei bom, me casei já vai fazer catorze anos, nós fomos passar a lua-de-mel em São Paulo e estava levando o filme "A volta ao mundo em oitenta dias", eu me lembro, né, que a gente guarda, né, e eu achei espetacular o cinema Ópera, o de lá, então aquele tapete todo azul, tinha até uma, uma sala de espera enorme, alguns diziam que outros cinemas tinham até televisão pra pessoa esperar, cinema grande, o teto todo, parecia teto falso, né, tocava na, quando terminava um filme, passar pra outra sessão tinha uma orquestra do Ópera e tocava a música se fosse do filme, né, tocou aquela música "A volta ao mundo", era, inaugurou o cinema mas depois esse cinema agora não está mais assim com cartaz, já outros fizeram, né, e os paulistas com a distração que eles têm muito menor, que o carioca liga muito pra praia, né, eles têm que trabalhar mais nesse sentido. Os cinemas de São Paulo eu achei, comparando, bem melhores. Agora não tenho mais, fazendo esse termo de comparação, não tenho visto porque quando eu vou a São Paulo eu vou mais pra ver as modas, então meu marido está fa... está fazendo um livro pra editora Nacional e ele de vez em quando tem que ir e quando eu posso eu vou, então eu vou pra rua das modas e ele vai pra editora, né, tanto que eles nunca vão, eu só vou com ele e venho, eles estão pra ir, eu já prometi pra levar ao jardim zoológico e tudo, mas não, ainda não houve oportunidade.
D
 E ao cinema eles vão, costumam ir?
L
 Eles vão, mas não são de gostar muito de cinema não. Eu levo quando é assim Walt Disney , né, ou "Se meu fusca falasse" ou outro filme, "Moby Dick". Outro dia eles estavam dizendo que gostaram, né, só assim. O garoto mais velho às ve... eu às vezes falo assim com ele mas ele não se interessa demais por cinema não, prefere ficar jogando bola mesmo, não são tão interessados. Gostam de ver "Tom e Jerry" mas assim mesmo quando é primeira, primeiro domingo do mês, eles põem "Tom e Jerry" aí na praça mas é tanta gente que, que eu não me animo, sabe, não chamo não (inint./sup.)
D
 (sup.) Você disse que não, a televisão está substituindo o cinema, inclusive porque vê filme na televisão.
L
 É, alguns filmes, até eu esqueci de dizer. O que me interessa às vezes na televisão, vejo um filme, gosto do título, né?
D
 Eu sei.
L
 Já vi o filme antes ...
D
 Hum.
L
 Porque eles são reprise, né, e gosto de ver novamente, quer dizer, isso é, é acomodação porque você chega em casa, cansado: ah, vai passar um filme bom hoje. Quando eu não durmo, não dá pra dormir, eu vejo, principalmente com a televisão colorida, filme colorido chama, você gosta de ver aquela paisagem, eles procuram, né, incentivar, quer dizer, é o filme, o, não, não sendo bom ou mau, quer dizer, o enredo, né, o filme é que chama a atenção maior. Hoje mesmo deve haver, tem um filme bom, mas quan... eu não me prendo, quer dizer, se eu tiver que sair eu prefiro sair, passear com as crianças do que ficar (sup.)
D
 (sup.) Agora, existe uma diferença fundamental entre o cinema que você vê nu... numa sala mesmo (sup.)
L
 (sup.) Ah, é (sup.)
D
 (sup.) Num cinema e na televisão, não é, uma coisa que salta à vista.
L
 É.
D
 Você vai ver um filme americano num cinema e qualquer filme na televisão ...
L
 É, fica com outra dimensão, com outra, dá outra, é outra coisa. Na verdade se é um cinema bom, vendo um filme bem feito e tudo é melhor mas aí entra em jogo a acomodação. Você acomodado, sentado em sua poltrona, em casa, tomando o que quiser, né, senta e fica vendo. Se o filme for bom, se eles escolherem uns bons filmes, essas reprises boas que eles põem ou então filmes, eh, bem trabalhados, bem feitos, eu, eu gosto assim do enredo, eu ligo muito ao filme em si, então noutro dia mesmo, no Quitandinha eles todo domingo, o associado, né, há um filme pra criança, de duas horas, aos sábados é pro adulto. Nós fomos pra lá, dormimos, passou um filme que eu não vi por aí, deve ser reprise, sempre passam reprise, sobre, era "O vôo do passado", filme científico em que eles transplantam o cérebro de um pra o cérebro de outra pessoa, então a memória, não é nem o cérebro, só a parte da memória, porque o, eles queriam descobrir o que que um cientista já havia descoberto, é aquele problema todo de intriga internacional, que eu gosto muito de ver e ele morre, o cientista. Morre mas morre o coração mas o cérebro continua ainda do... doze horas segundo o cientista, né, demora ainda a morrer e eles queriam descobrir justamente o que que ele havia feito e eles conseguem então tirar a memória. Totalmente ficção, né?
D
 Sim.
L
 Tirar a memória de um e injetar no outro, então o outro rapaz novinho passa a saber de coisas que o cientista bem velho já havia descoberto e todos queriam saber o que que ele sabia, né, então ele vai, há uma, ele, uma hora ele é ele mesmo, outra hora ele lembra das coisas do cérebro do outro e o filme é todo baseado isso, é interessante que ele chega assim (sup.)
D
 (sup.) Você não sabe qual é o ator? Você se preocupa com ator?
L
 Não, não me preocupo (sup.)
D
 (sup.) Num filme, por exemplo, você se preocupa (sup.)
L
 (sup.) Sim (sup.)
D
 (sup.) Quais são os atores, quem é (sup.)
L
 (sup.) Não, eu me preocupo com o enredo (sup.)
D
 (sup.) As pessoas que fazem o filme?
L
 Às vezes eu procuro saber o, o diretor, né, ah, às vezes se o diretor é bom eu procuro sa... saber mas geralmente eu procuro saber o enredo. Se o enredo me atrai eu vou.
D
 E na sua adolescência você não tinha assim atores ...
L
 Ah, tinha. Na adolescência a gente não liga pra enredo, né? Eu não ligava.
D
 Pois então, exato.
L
 Eu só ligava na adolescência (sup.)
D
 (sup.) Hum (sup.)
L
 (sup.) Pra artista de cinema. Então eu era, não, não perdia um filme do Gregory Peck, que era o, o tal na época, né, filme de Robert Taylor, Tyrone Power, tinha até filmes musicais tam... naquela época eu ainda gostava de filmes de Esther Williams, né? Você nem, nem conhece.
D
 Ah, eu conheci.
L
 Lembra, lembra da Esther Williams, da sereia, né?
D
 Lindíssimo.
L
 Ela não era bonita mas ela era vistosa, né?
D
 Eu achava lindo.
L
 É? Betty Grable, que agora morreu, né? Eu gostava de ver filmes mas eu ligava muito era Robert Taylor, Gregory Peck, sempre os, os homens chamam mais atenção, né, das meninas. Eu ia, depois aí quando eu vim pra aqui pra Tijuca, que meu pai não gostava muito que eu saísse. Meu pai era de educação severa, né? Não é nada de português mas é aquele: não, vai com a sua irmã e tudo. Nós íamos ver "Viúva Alegre", vou aí com, sentávamos numa mesma cadeira porque não, não dava, cheio, naquela época a gente vai pra filmes, né, e agora quando eu vejo esses filmes eu acho que, incríveis, né, como é que podia gostar daquilo.
D
 Você vê na televisão?
L
 É, às vezes passa na televisão, eu, eu volto a ver, né?
D
 Mas existe uma coisa que é muito diferente, não é exatamente o problema da sala. É que o filme americano, italiano ...
L
 Sim.
D
 Russo, passados na televisão, eu não sei, você sa... você sabe que ele é americano, russo, italiano, chinês, sei lá o quê, por causa da, do título (sup.)
L
 (sup.) Não, a, a forma (sup.)
D
 (sup.) Das pessoas que trabalham, acho que tudo é reduzido a um negócio só, né?
L
 Você quer que eu descubra alguma coisa? (riso)
D
 Você falasse assim das pessoas, por exemplo, que, que entram num filme, tudo que envolve um filme, as pessoas que fazem o filme.
L
 O, a direção?
D
 É, tudo a respeito das pessoas, falar, quer dizer, quem são essas pessoas.
L
 O personagem que você fala, o diretor, o ...
D
 Isso.
L
 É saber se eu descubro sem, se eu co... faço a diferença entre o filme italiano ou me preocupo em saber?
D
 Não, é porque aí já houve uma confusão de, de, de pergunta. É o seguinte: quando, quando você leva seus filhos pra ver filme americano no cinema, eles não vêem o filme americano falado em inglês, né? De modo geral.
L
 É, é, ah, de modo geral eles, eles têm que, eu procuro levá-los pra, quando é, é sempre baseado em, ou não tem a legenda porque ela, ela, por exemplo, tem problemas ...
D
 Sim.
L
 Às vezes de perda e, não é, de perda de, de palavra e agora no, no, na televisão, é claro, com a dublagem facilita, eles vêem, facilita a dublagem, né?
D
 Pois é, você sabe que existe um projeto de dublar todos os filmes, mesmo fora da televisão?
L
 É.
D
 O que você acha disso?
L
 Eu não sei assim, só com a, só com a expe... na televisão saiu, saiu bem, embora haja uma, um problema. Eu tenho a impressão que determinados, determinadas dublagens estragam o, o filme. Por exemplo, há um filme que eu acho que é oito e meia aos sábados, um filme de oito horas aí, uma hora boa de se ver mas a dublagem não é boa, a pessoa perde as palavras e depois se, não liga pro filme mais, nem vai ver mais por causa da dublagem. É interessante dublagem porque quem não sabe ler, é interessante numa parte porque é bom que todos saibam, né, ler a legenda, mas é bom, eu acho que não é ruim isso, pelo menos pra criança, pelo menos pode ver qualquer filme mas não precisando ler, fazer essa dublagem que às vezes a, uma, agora com essa do MOBRAL e tudo o pessoal está todo ... Antes havia empregadas da minha mãe que iam ao cinema e não conseguiam ler, né, iam desistindo mas o interessante é que elas entendiam e ficavam tão preocupadas, eu, eu ficava impressionada. Você entendeu o filme? Você não leu. Não, mas pelo cenário, porque antes não havia, era cinema mudo, né, tinha que interpretar, depois é que aquela, não peguei muito essa, esse cinema não, mas um pedacinho, mamãe conta muito isso, quer dizer aquela, aquele cenário, aquela coisa teatral, era teatral demais. O ator, coitado, não podia ser simples porque tinha que mostrar sem falar, né, ficou mais fácil e, e elas então, tenho a impressão que elas pela boca não é, porque era em inglês ou italiano ou francês. Tinha que ser mesmo pela, pelo gesto e pelo raciocínio dela. Podiam entender alguma coisa errada, né, porque no cinema às vezes você, há filmes que se você não pegar uma legenda, você perde, né, são di... são diálogos bons, bonitos e se perde. Talvez a dublagem sendo feita, sendo boa. Também tinham pensado até em um filme se tivesse neve, né, isso eu ouvi falar, um colega meu que era do cinema, eh, crítico de cinema, estão pensando em fazer, eh, se está no cinema, se está passando a neve fica tudo gelado, a pessoa fica com frio; se sentir um cheiro, né, fazer isso tudo pra você viver ali o filme, pra você não pensar que você está fora do filme, está dentro da situação, essas telas grandes pra isso. Agora o problema de dublar também no cinema talvez seja bom, não sei se é, é menos, dá, a pessoa preguiçosa não se preocupa de ler, facilita sentar no cinema, que às vezes você senta num lugar que você não consegue ler mas vê, né, às vezes é problema de, de criança que dá muito é isso, né? Se eles tiverem que ler, tem que ser num lugar que eles, ah, que eles tenham altura suficiente pra ler. Se estiver falando, desenho, essas coisas, não há problema porque é falado assim.
D
 Antes da televisão, porque quando a televisão apareceu foi uma, quase que uma revolução, né?
L
 É.
D
 Modificou bastante a vida das pessoas.
L
 Ah, demais, demais.
D
 Mas o que que havia em termos de, em termos de difusão praticamente?
L
 É.
D
 A coisa mais importante (inint./sup.)
L
 (sup.) O que havia mais era o rádio, né, a difusão era o rádio e eu inclusive era louca por rádio.
D
 Ah, então você pode falar bastante (inint.)
L
 Ah, é. Eu, minha, meus pais brigavam comigo porque eu tinha psicose de ligar rádio porque eu gosto de fazer tudo ouvindo música. Gosto muito de ligar, fa... a música me, me descontrai, a música me acalma, não essas músicas modernas porque eu no tempo que eu era adolescente o, era bolero, não é, era samba-canção. Até no outro dia eu estava mexendo com eles que agora em Petrópolis abriu uma churrascaria nova, acho que chama-se Maloca e o conjunto de lá só toca essas músicas, eh, mais assim do meu tempo, né, tempo de adolescente mas no meu tempo de adolescente. As crianças foram, acharam quadradíssimo, horrível, né? Que músicas horríveis! Riram à beça, não havia (inint.) minha mãe mesma coisa, né, minha mãe é tango, que agora está voltando, né, o `charleston', aquelas músicas loucas.
D
 Hum, hum.
L
 Embora a fase que minha mãe era adolescente era também músicas desesperadas semelhante à atual, né, que o garoto quando há gra... gravador pode ligar ali que não, não se entende nada. Eu entro naquelas boates lá de Quitandinha também que eu gosto de ouvir música mesmo, me interesso, vou pruma boate ouvir mas ali não há condição de ouvir, é esse som que eles, som eletrônico, né, com aquelas luzes e apaga, aquilo acende, toca sirene (risos) e o pessoal pula, eu não consigo. Olha que eu gosto, às vezes eu, eu me ligo muito ao jovem, ao, acho que, que é tudo, tudo é válido, muito bom, mas eu não consigo ficar muito tempo lá dentro, não consigo mesmo, eu tenho a impressão que eu vou ficar surda e o pessoal fica ali até nove horas. É de quatro às nove, aquela pulação e não há, de vez em quando eu digo: mas não há música assim mais calma? O pessoal parece que está pulando no carnaval. Mas eu estava falando do rádio, que eu sempre chegava do colégio ligava o rádio. Meu pai dizia assim: olha, não é possível que você goste de tudo quanto é programa o dia inteiro. Tanto que eu levava o rádio pro banheiro, eu gostava de ouvir parada de sucesso aos domingos. Eu vinha da praia, ligava parada de sucesso, estava na hora de entrar no banho, toda molhada, levava o rádio pra, pro banheiro, tinha uma tomada lá, ligava. Até meu pai dizia assim: um dia você vai se queimar aí com esse rádio, vai levar um choque com a água molha... com a, o corpo molhado com, ligando rádio. Então ele me deu um rádio pequenininho pra eu poder transportar. De tanto que eu levava pra tudo quanto era canto, eu ia fazer um bolo, levava o rádio pra cozinha, botei em cima da geladeira, ele virou, caiu, quebrou todo mas continuou a falar. Eu andava com aquele rádio mas os programas de rádio que eu ouvia ...
D
 Hum.
L
 Também novela, sempre houve, né, aquelas novelas, eh, parada de sucessos, gostava de ouvir, eh, mús... eh, esses progr... tinha um programa do Almirante que a gente gosta de (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 (sup.) Um crime, fantástico, extraordinário, né, à noite.
D
 Sim, mas onde? Por que rádio?
L
 Era rádio Tupi, parece que era Tupi. De vez em quando eu, eu esc... eu ouvia rádio Tupi. Tinha um programa que eu ouvia às vezes por acomodação, a gente liga e deixa, era o rádio seqüência G3, que havia na rádio Tupi, que havia Paulo Gracindo, programa Paulo Gracindo, aquilo ia, tinha umas novelas na rádio Nacional, rádio Nacional com Ismênia dos Santos, Celso Guimarães, eh, Lurdes Mayer, Rodolfo Mayer, né, não perdia aquelas novelas, de dez e meia da manhã tinha e eu equilibrava a hora da escola, dez e meia eu ia, ficava ouvindo, almo... comia, ia pro colégio, porque eu morava em Mangueira, ali perto do, antiga rua Oito, não sei qual é, acho que é José Maurício agora. Eu morava numa vila, pegado ao café Palheta, que agora é café, café Paulista, acho que é Paulista (inint.) café, é fábrica de café Paulista. Morava ali, bem na estação. Como papai não deixava sair a minha distração era novela, era rádio porque ele não deixava eu descer muito perto do morro da Mangueira, então ali ele tinha medo que houvesse algum problema, de vez em quando ouvia uns boatos que uma, houve uma morte, às vezes entrava um polícia correndo pela vila, aquelas coisas todas que por ali, o meu pai sempre lutou pra sair de lá com medo que houvesse qualquer coisa, né?
D
 Hum.
L
 Agora o rádio me distraía demais e dentro do, engraçado que a minha infância foi muito boa porque eu não sei se é um subúrbio diferente, agora eu não sei se é diferente o subúrbio ou diferente a época. Onde eu morei nós nos reuníamos, rapazes e moças, fizemos um campo de vôlei num terreno que tinha baldio, só da vila, não é? Toda quarta, sábado e domingo nós jogávamos, fazíamos torneio e ninguém se preocupava em sair de lá, engraçado, de sair, de, de passear, tinha lá os namorados, né, e o que acontecia é que às vezes namoravam-se por ali, né, os, os conhecidos e fazia aquele ambiente alegre, assim bom. Meu pai também entrava no jogo, havia jogo de casado e solteiro, né, havia jogo das moças, fazia, nós chegamos a fazer uns, acho que uns nove times de vôlei na época e é claro que as mais velhas que não podiam entrar falavam: essas moças, perna de fora, né, que tinha que jogar de `short' (risos) como sempre, né, mas, e os pais, né, os pais, tinha o juiz, tinha tudo certinho e todo domingo entregava a taça, era proibida a entrada de outra pessoa, sabe, a não ser que fosse, eh, que se chegasse ao grupo mais, que introduzia tudo aquilo, fazia, organizava, pra entrar pra poder fazer parte, quer dizer, não podia ser ninguém mau elemento ou brigão, brigão não entrava, né, porque senão saía briga mas nunca saía, eh, briga de vizinho, mas não deu, não dava em nada, né? Saía do jogo, eu, eu, normalmente se expulsava o juiz, (risos) ninguém aceitava o juiz, que era um rapaz, coitado, que ele não jogava, não gostava, não acertava, ele se compenetrou de juiz e ele dava a decisão, também não arredava pé. Às vezes os dois já estavam concordando com alguma coisa ele não, então ele era afastado. Quer dizer que nós levamos uma infância assim lá, com aquele terreno dava margem às crianças, jovens, todos se distraírem por ali. O cinema que se ia, que havia, era o cinema Maracanã, não existe mais, acho que não exis... não existe mais não, o cinema Maracanã, que tinha fita em série.
D
 Ahn.
L
 Não tem mais (sup.)
D
 (sup.) Como era (inint./sup.)
L
 (sup.) Ah, eu não perdia fita em série, (risos) eu ia ver.
D
 Conte como é.
L
 "Terríveis piratas". Tinha também um programa de, no, no rádio, no rádio, os programas também que eu não perdia quando era garota era justamente "O Vingador", que tinha "Calunga, o Vingador", aqueles, todos esses, essas histórias em quadrinhos no, no rádio e não perdia porque eu vinha do colégio já pronta pra, pra pe... e, e escrevia pra rádio. Nós tínhamos senha, não é, nós escrevíamos as cartas e vinham depois a, vinha a resposta, pra rádio Tupi, né, mandava então dizia uma senha, você é do clube esta senha. Então nós tínhamos, eh, era um nome, por exemplo Colgate, a gente botava gatecol (sic), uma coisa assim. (risos) Então o outro que fosse do clube que nós sabíamos que era sabia a senha, aí fazia aquela brincadeira de senha, né? Agora não sei se fazem mais, acho que não fazem mais não. A gente tinha que escrever pra rádio, às vezes perdia tempo, escrevia e tinha prêmio, né? Às vezes a gente mandava um, fazia qualquer coisa, algum trabalho e eles premiavam. Eu, eu gostava muito de assistir, ouvir e ler, estava dizendo agora a ela "História da Carochinha", "Cazuza", "Memórias da Emília", isso nós líamos muito. Agora a televisão, com esses programas assim, tudo isso dá preguiça, que dá na pessoa, você vai olhar, você prefere estar olhando do que estar lendo, do que estar cansando os olhos. Você está olhando ali, agora a leitura é ótima porque você im... imagina, né, às vezes você vendo assim não é o que você quer, então você lê um livro, embora haja às vezes filmes bons que retratam muito bom, bem o livro, o livro "Vigésima Quinta Hora", vocês viram o filme, com esse ator muito bom, o, um ator moreno, o Antony Quinn, ele, "Vigésima Quinta Hora" é um romance bom e eles retrataram bem no cinema, dá aquela idéia que a pessoa tem no, no romance, né? Agora há outros que, que não é a mesma coisa, você sente um, vai ver no cinema não é aquilo, né, que você acha (sup.)
D
 (sup.) E teatro?
L
 Teatro eu não vou muito, teatro eu vou pouco, não sei por que o teatro não era o que me chamava quando eu era ... Mesmo teatro pra criança, não sei se foi o costume dos meus pais não irem, que isso também pesa muito, né, de eles serem funcionários, eh, públicos da, na época, morando no subúrbio, quer dizer, não era uma atividade, eh, que um, que um, fosse pra dizer: ah, vou ao teatro. Era mais fácil o cinema, o cinema era mais perto, né? Teatro mesmo eu fui mais ainda mocinha, procurava ver peças também sempre peças engraçadas, aquela artista que já morreu, a, que eu vi, a "Dona Xepa", depois passou, minha avó que adorava teatro e ela me chamava. Eu tinha possibilidades de ir mas não é, não tinha atração nenhuma porque meu, eu tenho um tio que ele sempre chamava e dava às vezes até entrada mas a minha, minha, meus parentes são, são muitos, então tinha muita gente na frente e pra eu pagar já ficava mais difícil então nós não íamos. E a minha mãe costumava ir ao cinema toda semana. Meu pai quando se aborrecia, quando estava cansado do trabalho ele ia ao cinema e me levava, acostumei assim de me levar porque eu era a ir... a filha mais velha. A menor, a menor não, minha irmã não ia muito, ficava, né, e eu acostumei assim, de ir ao cinema, então eu via filmes às vezes até pesados assim, eu vinha preocupada com o Drácula, né, mas meu pai procurava não, não, não, não me dar assim muita impressão porque ele chegava em casa, começava a meter medo de brincadeira e aí eu ia perdendo. Meu pai sempre gostou de filme assim de ficção, negócio de meia-noite, depois de meia-noite, aquelas histórias depois de meia-noite eu fico ouvindo aquilo até hoje, né, quer dizer, acos... ele gosta, então levava, não achava nada, né? Eu acho que os netos vão sair a ele. Foram ver Frankenstein aí, foram dormir não tiveram medo (sup.)
D
 (sup.) Você nunca levou seus filhos pra ver uma peça infantil?
L
 Não.
D
 Assim (inint./sup.)
L
 (sup.) Às vezes quando (sup.)
D
 (sup./inint.) infantil vale só até uma certa idade.
L
 Peça do, é, do Gasparzinho, como é, do, como é, do Gasparzinho, levo no colégio. Quando há uma peça no colégio eu levo, no teatro e às vezes eu tenho idéia de levar mas justamente a hora, eh, às vezes é um domingo, é um sábado, então, eh, eles preferem sair e ir pra qualquer lugar do que pegar o teatro, tanto que eles não se interessam muito pelo cinema. Eles foram ver teatro no colégio, às vezes leva uma peça, uma coisa assim e eles não ficam tão interessados, ficam cansados da hora, o tempo, mesmo se a peça é infantil, que tem essa, essa moça, né, como é, Clara, como é o nome dela? É Clara Machado.
D
 Hum, hum. Maria Clara, Maria Clara Machado, a autora .
L
 É, que são muito humanas, peças boas levaram ao colégio mas eu não sei se é porque é do colégio, não é no teatro, né?
D
 É.
L
 É a impressão (sup.)
D
 (sup.) Isso que eu ia falar, se você (sup.)
L
 (sup./inint.) eu ainda tento levar pra ver se eles gostam porque o teatro é muito bom.
D
 Porque se você, se você assiste uma peça no teatro, teatro (inint.) peças de criança você vai notar uma diferença incrível, total, completamente diferente, porque as crianças vão pro palco, participam e interrompem ...
L
 É.
D
 Conversam com o ator. Então a participação da criança é fantástica no teatro.
L
 Eu não levei não mas tinha vontade de levar. Só não lev... não levei por questões de, por questão, às vezes eles recebem entrada do colégio pra ir mas eu ainda não levei porque são duas entradas, nós somos três, pra ir, combinar de sair daqui pra ir, porque o erro que eu acho, aqui na Tijuca não há um teatro, né, não há, tem que levar pra zona sul, aí eu fico pensando, levar essas crianças, condução ou então pegar o carro pra botar onde na vaga. Meu marido com certeza não vai querer vir ver teatro infantil. Agora mesmo ele foi ver o Mickey lá no Maracanãzinho, eles gostaram, né, foi pouquinho, vai e tal, aí eles, né, Alice e tudo, mas ele não iria, sabe, com eles, talvez não fosse, ele tem que trabalhar, essas coisas, então pela comodidade, acomodaç~ao, por eu não ter sido muito entusiasta do teatro, eh, eu devia gostar, porque gostava de novela.
D
 Hum, hum.
L
 Teatro é muito melhor do que uma novela, né, mas assim mesmo às vezes eu vou. Vi algumas peças. Há pouco tempo eu vi uma que eu achei interessante. Foi, foi acho que foi "Capital Federal", não é? Achei interessante, achei boa, não é extraordinária mas é distraída. A outra "Society em Baby-Doll", umas coisas assim eu vou, gosto de leve, o teatro leve, teatro muito ... No cinema eu não, não importo não. Agora quando é filme muito pesado que a gente sai muito, eh, preocupada não gosto. Eu prefiro um filme, há pouco tempo "Ensina-me a viver" mas eu achei assim um filme, não é no meu gênero não, mas acho ótimo, lindo, mas eu não sei, não gostei muito não, talvez eu seja uma das raras pessoas porque várias pessoas me chamaram pra ir, disseram pra eu deixar de fazer alguma coisa importante mas não deixar de ver o filme. Mas talvez por essa animação de to... todos, só uma pessoa falou mal, achou horrível mas essa também não entendeu bem. O filme é muito bonito mas, não sei se vocês viram. Viu? É muito bonito mas é chocante, é um pouco chocante. A vida dele é muito triste, né? Eu não gosto de ver a pessoa assim numa vida daquela, morre, eh, trata aquela prisão que a pessoa tem, tudo, não é, mas no fim não tem nada, quer dizer que ele tinha dinheiro, tinha tudo mas ele era, coitado, infeliz. Era preferível ser, ter menos, né, ser mais compreendido, ele ser compreendido porque no fim só vai ser compreendido por uma senhora, que ele acaba se apaixonando, né? Eu achei assim, me de... eh, eh, é muito, eh, eh, eu fico deprimida, sabe, não gosto muito de ver (sup.)
D
 (sup.) Agora uma pergunta (sup.)
L
 (sup.) Coisa mais alegre
D
 Alguma vez na sua vida você foi a circo?
L
 Ah, fui. Circo também, circo era ... Antigamente às vezes aparecia esses circos, assim na, circo, eles acampavam, faziam aquela, aqueles escândalos todos, toda criança pedia pra ir, né? Eu ia, às vezes eu ia com a empregada, mamãe me levava, acampava ali onde ... Agora é a faculdade, né, é a Campos, não é, ali era o Esqueleto antigo, tinha uma favela. Eu morava em Mangueira, lá pra, então tinha que descer aquela ponte da Mangueira, se... descer aquela rua toda, São Francisco Xavier, pra tomar até condução no bairro do Maracanã pra ir ao colégio. Então ali naquele meio, naquele trecho acampavam muitos, muitos circos ali, quer dizer, a distração que nós tínhamos ali em Mangueira. Fora isso tinha um cinema, tem que ver o, o, a época, que o que marca muito, o que me marcou a juventu... a infância e a juventude, quer dizer, de cinco a quinze anos eu morei ali, quer dizer, eu tinha que me distrair com aquilo, embora eu gostasse de esporte, papai gostava de jogo de futebol, ele não me levava, porque naquela ocasião, ele contava que no jogo do Fla-Flu ele, abria os portões, ele teve que andar em cima dos ombros dos outros, né, e ele não ia querer me levar numa coisa dessa. Quando o Maracanã abriu ele me levou mas aí, isso daí foi, eu já estava grande.
D
 Você é filha única?
L
 Não, eu tenho uma irmã. Agora a minha irmã tem cinco anos de diferença. Agora não faz diferença demais, né, mas antes fazia, quer dizer, eu com dez ela com cinco, eu com, eu com dez, ela, eh, ela, quinze, ela com dez, depois é que começou a equilibrar mas naquele período (sup.)
D
 (sup.) Mas voltando ao circo. Você podia se você se lembra descrever um (sup.)
L
 (sup.) Um circo?
D
 Que você tenha ido, como foi, o que aconteceu.
L
 Bom, eu me lembro, o que me gravou daquela época porque dagora são sofisticados, né, aquela época eu me lembro que havia naquele circo, esses circos todos, de um modo geral, aquelas lonas, né, aquelas cadeiras de pau, eh (inint.) colocavam aquelas madeiras em volta, né, faziam aquelas prateleiras e dava medo a pessoa chegar lá e sentar, olhar lá pra baixo, se aquilo ia arrebentar, né, e balançava aquilo tudo, as lonas furadas, né, aquele tipo de circo mesmo e as atrações eram os animais, né, nós gostávamos de ver. Além disso tinha aquelas atrações, eh, que até hoje ainda tem, de andar no, naquele, naquele aro, né, no alto e havia também um, não sei se ainda existe, o globo da morte, não sei se ainda fazem isso. Era um globo enorme e entrava um rapaz de motocicleta, eh, globo mesmo, arredondado, né, e então era, li... ligava o motor e ficava dando volta ali dentro, né, de cabeça pra baixo, pra lá e pra cá, aquilo chamava atenção porque é, era muito perigoso que ele virasse com a moto, né, aquilo ligado ali, às vezes botavam duas ali, não é, faziam aquela sensação, aquelas coisas. E tinha os palhaços e o que era, o que nós gostávamos, o que eu gostava mesmo mais de ver era, aparecia o leão e o pessoal dentro da jaula, né? O que a gente quer ver é o circo pegar fogo, né, entrar o domador pra ver o ... Às vezes, eh, chegava, porque eu não perdia. Quinta-feira, às vezes domingo repetia, né, e a mesma coisa ia ver, pouca coisa pra ver era aquilo. E o domador às vezes não entrava na jaula, né, liqüidado, naquele dia o leão não estava dando sopa não, era difícil, né? Mas quando, quanto mais ele, quanto, quanto, quanto mais houvesse animal melhor pra, pra, pra criançada, né, gostava de ver. E até hoje eu gosto, eh, programa de infância, de parque, que o meu marido não suporta.
D
 Hum.
L
 Problema deles aí, que gosta de parque, por exemplo, Divoli (sic) parque, Tripoli (sic) parque, né, novo e o, como é, Diverlândia. Eu, eu me canso mas eu gosto. Agora, eu sou medrosa, eu gosto de ver os outros no parque, sabe como é que é, gosto muito de ver montanha-russa e tudo. Tanto que nesse parque agora que meu cunhado comprou, pegou uma entrada, disse: vá você nessa montanha-russa. Eu disse: eu não vou, montanha-russa eu não vou. Eu tenho uma, passo mal.
D
 Você nunca andou de montanha-russa?
L
 Já andei.
D
 Ah, então (sup.)
L
 (sup.) Foi por isso que eu não quero andar.
D
 Então é por isso. (risos) Já andou.
L
 Outra, esse barco, como é, cai na água também, né?
D
 Ah, eu sei.
L
 Aerobarco, lá em Quitandinha tem e as crianças: vamos, mamãe. Eu pra não ficar, ficar pra trás eu fui. Eu abri a boca, eu abri a boca que eu só fechei quando o barco parou e depois de muito tempo, (risos) que foi uma coisa, eu tinha, eles riram à beça porque eu disse, bom, eu tinha comprado uma peruca, eu disse: ah, vou com a peruca, não vou arrumar cabelo não. E na hora, quando o barco ca... desceu, que foi a menina na frente, a minha prima e eu no meio, não, eu fui, acho que eu fui atrás, eu falei pra minha prima: ih, eu estava, eu estou com a peruca sem pegar o, sem o grampo, ela vai soltar com esse vento que deu, né, mas eu não vou segurar a peruca, (risos) eu estou com um medo louco. Aí segurei os lados assim, né, não larguei, fiquei gelada, fico logo fria, gelada, né? Quando ele bateu lá, a peruca pulou, (risos) caiu dentro do barco, a sorte foi essa. Eu nem sei quem viu, não viu, peguei a peruca, meti na cabeça (risos) e fui em frente porque eu tenho horror a essa, eu gosto de ver mas me, me põe um nervoso tão grande que eu não vou. Quando a div... a diversão é assim calma, outra coisa, roda-gigante. Há muito tempo, eu só fui uma, há muito tempo que eu não ia. Quando eu perdi o medo, caiu. Foi aquela que caiu.
D
 Hum.
L
 Eu não fui mais, eh, de vez em quando eu levo. Mas eu gosto assim de levá-los ao parque. Eu gosto mais de coisa assim de vida mais ao ar livre, sabe? Eu me distraio assim mas eu prefiro, podendo sair e praia. Pra mim não há diversão, é a diferença às vezes de, de pensamento com meu marido. Ele prefere montanha, vai pra montanha que é, descansa mais. Eu digo, não, embora eu já esteja, já vou fazer quarenta, eu gosto mais daquele movimento da praia, gosto mais de viver o mar, quer dizer, ele acha, fica nervoso com o barulho. Ele (inint.) barulho de turma, quer dizer, está acostumado, né, mas eu gosto mais assim de viver mais em contacto com a natureza, tanto que apartamento, eu estou aqui, eu ando cansada aqui dentro, ficar aqui fechada, não ver nem o tempo. Agora que ele telefonou pra mim e falou assim: olha, as meninas eu mandei aí. Eu digo, eu disse a ele de manhã, digo: puxa, você fala com as meninas pra vir pra cá porque eu não vou poder ir ao colégio. Ele me telefonou aí pra, pra vizinha que eu estou sem telefone, pra dizer que vocês vinham, quer dizer, aí ele disse assim pra mim: sabe que o tempo está ruim, está ventando? Eu digo: olha, sabe que eu não sei, que ainda não saí daqui? A gente nem vê, apartamento tem isso. A tendência é fazer sempre área embaixo, né (inint./sup.)
D
 (sup.) Você sempre morou em casa, né?
L
 Sempre morei em casa, faço diferença.
D
 E você vai voltar a morar agora em casa?
L
 Em casa. Embora não seja uma casa muito grande, é altos e baixos mas só você estar, desce ali, estar na rua ou, ou tem uma casa que bate um sol, a não ser um apartamento grande, muito bom, aí, né, é outra coisa, mas fora disso ...
D
 Tá, está bom, foi muito bom, né (sup.)
L
 (sup.) Eu falei muito, falei (sup.)
D

  (sup.) Excelente, ótimo.