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PROJETO NURC-RJ

DIÁLOGOS ENTRE INFORMANTE E DOCUMENTADOR (DID):

Tema: "Meios de Comunicação"
Inquérito 0016
Locutor 0019 - Sexo masculino, 36 anos de idade, pais não-cariocas, diretor de teatro. Zona residencial: Norte
Data do registro: 15 de novembro de 1971
Duração: 50 minutos


Clique aqui e ouça a narração do texto


DOC. -  Você podia começar a contar as diferenças que você vê entre os meios de comunicação atualmente (inint.) e antes ...
LOC. -  Eh, você disse, eh, meios de comunicação, no caso, vamos dizer, dividindo a televisão, o cinema, o teatro e etc., né? Atualmente há uma, há uma grande mudança, uma grande, eu acho que uma nova área de influência que é a televisão. Pra mim, acho que a televisão está realmente mudando e vai mudar todas as outras formas de arte, como já, ou reagindo, ou aceitando, ou não. Por enquanto há muita reação mas tenho impressão que realmente a televisão é a principal meio de comunicação e que vai açambarcar praticamente qualquer forma de relação entre a, entre a, as pessoas e etc. Mas o que eu considero é que um, a força maior que existe na relações básicas humanas é justamente de um para o outro e, e aí é que reside então a força que eu considero o teatro, que todo mundo diz que está morto e eu acho que não morre nunca e que vai sempre sobreviver é basicamente essa relação entre dois seres, entende? Então a luta que nós que estamos fazendo teatro atualmente é contra essa máquina com má aceitação que existe na televisão, por enquanto, errada, é as áreas, entende? Porque é uma forma de tornar consciente os meios de comunicação, entende? Eu há algum tempo já venho tentando participar de um seminário de comunicação e entrar inclusive na escola de Comunicações, naquela reserva de vaga que havia pra fazer o curso de audiovisual e jornalismo e nos barraram, entende, porque diziam que teatro não é comunicação, em termos básicos, isso é até, se a impressão que houvesse ... Tem uma turma que acha (sup.)
DOC. -  (sup./inint.)
LOC. -  É, é que não permite e diz que teatro não é comunicação. Então eu acho que é a base de qualquer comunicação lógica, que pode, há, há uma, uma má interpretação da comunicação que é fato de ficar jogando coisas em cima dos outros. Então, praticamente, a televisão joga as coisas a gente aceita, quer dizer, há, há um diálogo passivo, quer dizer, de um aparelho contra a pessoa humana. E ...
DOC. -  Você podia assim enumerar quais os principais meios de comunicação que você conhece e quais os que você utiliza mais?
LOC. -  Meios de comunicação, como, eu ...
DOC. -  É!
LOC. -  Ah, isso ...
DOC. -  Não só em termos de teatro, entende? Há muitas ... Não, não só também em termos de comunicação assim (inint.)
LOC. -  Como escrever?
DOC. -  Ham, ham.
LOC. -  Ah! Como eu disse, atualmente eu estou escrevendo quase que sob encomenda, quer dizer, justamente e ... Botou em xeque o meu conhecimento mas até estou causando problemas formais de linguagem porque através da minha formação eu já atravessei várias faixas de alterações gramaticais, etc. etc., né? Então, atualmente, ao escrever eu tenho problemas, inclusive um troço que eu descobri há pouco tempo que, ao escrever, eu ainda tenho erros de acentuação gráfica de influência francesa que é uma educação marista do São José, que eu não sei se vocês conhecem, é, é São José, primário, ginásio, eu só não fiz o científico (sup.)
DOC. -  (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) É, e até agora inclusive na acentuação eu faço o acento tipicamente francesa, entende? Feito em água, árvore, em vários outros acentos faz assim, não é assim, entende? E isso, eu fui agora, justamente ao escrever, vamos dizer, para os outros, você pode ser escritor, começa a escrever e ninguém lê, como tem várias coisas. Agora, quando você vai realmente enfrentar uma editora eles te dão regras de que, que o que que eles acham que o povo lê. Então, atualmente, eles lêem o livrinho de bolso, é uma verdadeira festa e todo mundo lê aquele livrinho, é uma coisa horrível. Então você vai lá e eles ... Você tem que escrever dentro daquilo e às vezes você tem que ser, botar nome estrangeiro, passar no estrangeiro porque acham que brasileiro não lê autor brasileiro e que se disser que ia passar no Brasil ninguém acredita, quando lá fora também, não é, porque você que está escrevendo. Então eu já tenho basicamente cinco livros escritos, entende? Vão sair agora, já em série da Monte Rei que é uma edito... Atualmente a melhor é a Monte Rei, inclusive o nível, entende? Mas você então vê que isso já é uma ... Também aí que eu digo, há uma influência da televisão, inclusive no estilo de escrever porque você já entra no mesmo ritmo de tempo, na escrita, na mesma relação que o ritmo de um programa de cinema, de televisão que o pessoal já está acostumado com aquela imagem, com aquele ritmo, então, se você não escrever igual, quer dizer, igual dentro daquela, do ritmo ou forma, quem lê não se concentra e não acompanha. Aquilo já está sendo bitolado, entende, quer dizer, a televisão dá a ele um ritmo de pensamento. Se ele ao ler um livrinho de bolso daqueles não tiver a mesma, eh, ritmo ou se não estiver dentro daquela mesma freqüência de pensamento, aí o autor não consegue se comunicar, entende (inint.) está todo mundo realmente lendo, entende, esses livros, você vê, entrou nos trens, nos ônibus, nos escritórios, há uma esfera muito grande de pessoas que lêem esses livrinhos, trocam esses livrinhos, entende, então é uma outro tipo que está talvez, quem esteja fugindo da televisão em casa ou não tenha, vai pra esse livrinho. Ele está realmente crescendo, entende?
DOC. -  Pelo que eu pude entender, você acha que assim o principal meio de comunicação, atualmente, é a televisão.
LOC. -  Pra mim, atualmente é (sup.)
DOC. -  (sup.) Mas isso é um tipo especial. Agora, existe outras maneiras de (inint.) maneiras mais cotidianas que não seriam pontualmente o aspecto artístico.
LOC. -  A fala.
DOC. -  Quais outros? Quando você está em casa e quer falar com alguém (inint.)
LOC. -  Ao telefone? Telefone é, é o meu problema, eu não uso telefone. (sup.)
DOC. -  (sup) Por que você não usa? (sup.)
LOC. -  (sup.) Não tenho telefone em casa. Não sei, há um problema qualquer de, em relação ao telefone, eu não, dificilmente, só em caso de extrema necessidade (inint./sup.)
DOC. -  (sup.) Você tem uma neurose em relação ao telefone? (sup.)
LOC. -  (sup.) Em relação ao telefone (sup.)
DOC. -  (sup.) Por quê?
LOC. -  Não sei, é um fato que até agora eu não, não descobri. Eu cultuo assim como uma, a única coisa que talvez eu não, dificilmente num caso sem necessidade, interesse até quando eu era mais novo, negócio de namoro, etc. eu não pegava telefone, ah, difícil. Você telefona pra mim? Pode estar certo, eu tomo nota mas não telefono. Difícil. E quando telefonam pra mim, eu atendo muito na base do atendimento assim, olá, como vai, está bem, tal e tal.
DOC. -  Escute, pode parecer um pouco, um pouco tola a pergunta, mas nós precisamos saber algumas coisas.
LOC. -  Ham, ham (sup.)
DOC. -  (sup.) Então, será que você poderia descrever um telefone?
LOC. -  Um telefone?
DOC. -  Hum, hum (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Um aparelhinho preto, vamos ver ... Me lembrei que você estava falando em neurose, me lembrando se a cor, se a cor, não é como agora que tem colorido, né? É basicamente, é um aparelho... Como é que eu vou chamar essa forma? Trapézio, forma de um trapézio com um disco circular e tal, um fone e tem uma forma, deixa eu ver de que, de que? Difícil, agora por... porque tenha uma relação, agora bloqueou, não dá! (sup.)
DOC. -  (sup.) Você poderia narrar ou descrever as situações relacionadas com o próprio telefone?
LOC. -  Não, não sei. Agora, agora eu acho que, que eu tenho é dificuldade de, de me expressar quando não vejo a reação ou comportamento do outro, talvez seja isso, talvez seja isso também, a, a, a, a minha escolha pelo teatro, inclusive também sentia a necessidade de ver, de dizer e de achar que a relação física entre duas pessoas é a base. Então, qualquer outra substituição por um próprio gravador é uma interferência, entende? Não tão grave, igual ao telefone, mas poderia ser, entende? Quer dizer ...
DOC. -  Escute, quando você vai se comunicar com alguém no telefone, várias coisas podem acontecer, verdade? A comunicação pode ser estabelecida ou não, entende o que eu estou falando?
LOC. -  Eu sei!
DOC. -  Então, quais, que situações que podem acontecer no caso de uma comunicação telefônica? Por exemplo, como é que você diz quando você vai se comunicar com alguém no telefone?
LOC. -  Para a pessoa?
DOC. -  É.
LOC. -  Primeiro eu disco o número, né, alô, naturalmente, é (sup.)
DOC. -  (sup.) Sim, mas como é que você chama esse ato? (sup.)
LOC. -  (sup.) Quem está falando? (sup.)
DOC. -  (sup.) Você tem um nome pra chamar esse ato?
LOC. -  Um chamamento. É um código de, de identificação, creio eu. Aí, depois estabelece o relacionamento, vou explicar qual a situação ou o fato ligado àquela ligação, né?
DOC. -  Quando a ligação não se estabelece?
LOC. -  Quando?
DOC. -  É. O que pode ocorrer para não se estabelecer a ligação?
LOC. -  A não, a não identificação, quer dizer, a não correspondência.
DOC. -  Sim, não, não, mesmo no caso de não correspondência. Você simplesmente não conseguiu falar com a pessoa que você queria, deve ter havido alguma causa, né?
LOC. -  É, ou a ausência, ou engano, ou linha cruzada, quer dizer, deficiência às vezes de mecânica, né?
DOC. -  Ou então quando o telefone da pessoa, quando não consegue estabelecer a ligação não é porque ele esteja escangalhado, nem nada, não é? Digamos que ess... essa pessoa esteja se comunicando com outras (sup.)
LOC. -  Sim.
DOC. -  Então você não conseguiu estabelecer a ligação. Como é...
LOC. -  Comunicação, está em comunicação. Ela está em comunicação com alguém.
DOC. -  Escute, você tem muitos amigos? Você é uma pessoa extrovertida, introvertida?
LOC. -  Não sei, sabe! Eu, dizem que eu sou muito fechado, minha família toda é fechadíssima, entende? Mas ao mesmo tempo eu me dou muito bem com as pessoas, qualquer nível, eu não, eu não, eh, todos se identificam muito bem comigo, eu nunca tive problemas praticamente em me dar com os outros. Agora, aparentemente, há sempre um bloqueio, entende? E isso eu acho que é um pouco de família e eu não acho que não sou, entende, mas realmente parece que eu carrego assim uma, um pequeno muro antes da primeiro contato verbal, vamos dizer assim, entende? Isso existe.
DOC. -  E os seus amigos, eles estão todos aqui no Rio ou você tem amigos em outras cidades, fora do Brasil (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Não, atualmente eu, ah, justamennte diminuiu muito o número de amigos mesmos porque muitos foram viajar, né, estão fora, por aí (sup.)
DOC. -  (sup.) Você se comunica com eles de alguma forma?
LOC. -  Carta, através de carta. Sempre escrevo e eles me escrevem, às vezes dá uma interrupção de trabalho mas ...
DOC. -  Outra vez, pode parecer meio tolo, mas será que você poderia descrever a mecânica desse tipo de comunicação (inint.)
LOC. -  Bem, primeira, a primeira coisa, há uma necessidade de comunicar algo a esse pessoalzinho, quer dizer, então dessa vontade se transfere para o papel o impulso sentido, aí precisa saber ou dizer alguma coisa. Escrito, subscreve-se, pega-se o envelope e aí coloco no correio e fico sofrendo a (sup.)
DOC. -  (sup.) E no correio (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Existem ... Agora está, está mudando mas inclusive agora há incerteza, antes a gente sabia se poderia ser aéreo ou não, ou terrestre. Atualmente fica a critério deles. Agora então há uma insegurança, inclusive eu espero cartas que não chegam e às vezes chega carta avisando que vem revista de fora e não chega a, chega carta, não chega a revista. Às vezes eu escrevo, vai rápido demais, acontece como tem acontecido muita rapidez e também demora, que diz que agora pode ir de navio, de caminhão. Agora inclusive até (inint./sup.)
DOC. -  (sup.) Você sabe (inint.) quando você coloca uma carta no correio, porque tem várias modalidades, né? Há várias modalidades ou havia (sup.)
LOC. -  (sup.) Não, havia, havia. Agora não há mais. Era simples, aéreo, impresso, registrado, entrega rápida e agora praticamente fica a critério deles, né? Apenas você paga um selo que tem uma taxa única e eles aí que distribuem de acordo com ...
DOC. -  Selo, você usa selo até hoje?
LOC. -  Não, eu, o, o, eu prefiro aquela, a, a, a mecânica é mais rápido e mais, geralmente todo mundo prefere o selo e (inint.)
DOC. -  Escuta uma coisa, você tem facilidade de se comunicar ou você não gosta?
LOC. -  Não, eu gosto e escrevo cartas até escrevo, não agora, só pouco, né, mas quando eu era mais novo escrevia muito sempre e gosto de escrever cartas.
DOC. -  Hum, hum. E, e existe um outro tipo também de comunicação mais rápido do que carta?
LOC. -  Telegrama (inint./sup.)
DOC. -  (sup.) Você sabe mais ou menos a mecânica do telegrama, telégrafo?
LOC. -  Telégrafo, ele, a gente passa o manuscrito na fórmula e ele entrega e ele passa através de uma codificação da agência para a central e parece, se não me engano, à noite ele retransmite para as diversas seções, estados ou, ou, parece que é assim. Então daí entrega a um carteiro que, não é um carteiro não, aí é um mensageiro que vai pessoalmente.
DOC. -  Escute, mas como, como em relação às cartas, em relação ao telegrama também há a mesma modalidade, não há?
LOC. -  Modalidade, eh (sup.)
DOC. -  (sup.) É (inint.) uma carta registrada ...
LOC. -  A (sup.)
DOC. -  (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Simples, impressa (sup.)
DOC. -  (sup.) Em relação ao telegrama é esse mesmo problema?
LOC. -  Não sei, que eu saiba, tem, tem o telefone que você pode pedir e modal... eu não sei se dentro do correio existe, existe é firmas paralelas que fazem o telex, através do telex aquela forma (sup.)
DOC. -  (sup.) Telex é o quê?
LOC. -  Telex é uma, é uma adaptação, acho eu, não sei, isso eu também não tenho certeza, mas a utilização da, é do processo do telex mais uma fórmula datilográfica de expressão, quer dizer, de (inint.)
DOC. -  E o (inint.) é do mesmo jeito do telegrama, por exemplo o telegrama a pessoa demora um dia ou dois.
LOC. -  Não, isso é na hora, né, quer dizer, sai numa outra máquina correspondente na mesma freqüência, inclusive eu já trabalhei no jornal, inclusive a gente ficava ligado nisso, a gente lia.
DOC. -  Hum, hum. Agora, passando pra outro setor (inint.) dos meios de comunicação, você disse está trabalhando muito, em termos de (inint.) você está escrevendo muito.
LOC. -  Atualmente, só estou escrevendo (sup.)
DOC. -  (sup.) Você escreve só pra teatro ou (sup.)
LOC. -  (sup.) Não!
DOC. -  Que tipo de trabalho (sup.)
LOC. -  (sup.) Eu escrevo para o teatro, devo ter umas dez peças no ar. Primeiro tenho dois atos, é o "Pequeno Fôlego" que eu considero minha peça final. Estou pegando a coisa, entende? Parei um pouco agora pra escrever essas historinhas. Tenho um romance já de duzentas folhas, já de fase final de acabamento e, e uma montanha ainda de poesias quase que uns cinco cadernos desses de fichar aí, desde da idade, sei lá, de oito, que eu escrevo poesia. Minha mãe já guardava, eu nem lembro, depois que ela morreu achei, entende? E até hoje eu ainda escrevo, tenho muito e a que eu gosto mais, eh, como expressão minha, é a poesia, entende? Então eu sempre tenho essa forma (inint.)
DOC. -  Alguma vez você já teve a experiência de escrever para jornal?
LOC. -  Já trabalhei n'O Dia.
DOC. -  Trabalhou onde? (sup.)
LOC. -  (sup.) N'A Notícia ...
DOC. -  Passando agora para o setor do jornal, eu queria que você enumerasse, eh, que tipo de jornais (inint.)
LOC. -  Existem três tipos (sup.)
DOC. -  (sup.) Por que que um jornal é diferente do outro, como é que você caracterizaria (inint.)
LOC. -  Hum. Existem três, praticamente, vamos dizer, umas três faixas de jornais, que são os jornais que, eh, exploram sensacionalismo, eh, o crime, a morte, etc. que é O Dia, A Notícia, a Luz Democrática, Gazeta de Notícias, que apesar de ter sido Machado de Assis que trabalhava lá, né, ele era um desses tipos. Tem a outra faixa que é, representa o Jornal do Brasil, que são os matutinos, que é O Correio da Manhã, que, a outra faixa. Eu prefiro mais o Jornal do Brasil, eh, nessa faixa e tem os vespertinos, que é O Globo, Última Hora e, sendo que o Última Hora há um pouco também de sensação, quer dizer, é o vespertino que usa, tira da primeira parte que eu citei um pouco também. Mas essas coisas têm diferença porque o matutino tem um tipo de literatura informada e o da tarde tem outro tipo de literatura que o pessoal vai ler à noite. Então tudo é dirigido para determinado horário de leitura, de aceitação, de conhecimento, de público que vai atingir, de camadas.
DOC. -  Você poderia contar a sua experiência num jornal (inint.)
LOC. -  É, eu, então eu primeiro fiz um cursinho de jornalismo, né, que eu sempre, gostava, desde criança eu escrevo esse jornaleco feito à mão e tal e brincava no colégio, essas coisas, né? Então, fui fazer o curso de jornalismo, entende? Isso passei no vestibular, mas no fim acabei não cursando, sempre tem uma coisa ou outra, eu acabo tendo que trabalhar pra ganhar e, e tive que largar a Filosofia lá quando tinha, eu só, só passei e não cursei. E então fiz um cursinho rápido, aqueles que fazem pelo sindicato e entrei, seis meses, e acabado aquele curso eu ingressei logo, primeiro peguei na Rádio Nacional, fazia jornal falado, Roquete Pinto e assim fui sendo chamado, aí fui parar, que aí vinham me pagar, porque se a gente trabalha de graça, essas coisas de estágio, então o pagamento é n'O Dia, A Notícia. Eu iria trabalhar n'A Notícia, mas tudo que eu escrevia saia n'O Dia, porque A Notícia sai de manhã e O Dia sai de tarde. A máquina agora, que é o inverso, tem um que é O Dia sai primeiro e A Notícia é o vespertino dele. Então o que eu escrevia pr'A Notícia saía n'O Dia e eu, justamente o medo que eu tinha era de lidar com aspectos só de crimes, mas por sorte, não sei, eh, eu fazia aquele plantão numa mesa assim, telefonava, primeiro a gente pegava tudo que era delegacia, né: tem morte? Trouxe morte? Tem cinco mortos. Se tem está bom, se não tem já não serve, se tivesse um não servia, quer dizer, aquele troço, mas nunca fui escalado pra sair, pra fazer crime, era sempre uma parte assim, na época era problema de arroz, era aquelas filas de arroz, era, era entrevistas, era pessoal que chegasse, que estava chegando de fora no aeroporto, eu ia. Isso, eu trabalhei assim, então desde que eu trabalhei n'O Dia não vi nem escrevi nenhum crime. Então a única vez foi um rapaz que foi lá e tinha havido um problema, a mulher que fugiu, uns caras lá da roça. Então quando eu fui ler a notícia no dia seguinte lá dizia que, que tinha matado, tinha morrido, não morreu ninguém, os caras erram, quer dizer, a idéia era sensacional.
DOC. -  Quem é (inint.)
LOC. -  É o chefe da redação, o redator, que eles chamam também, que é um cargo que vem antes, que faz, que dá uma, uma linha à, à notícia, entende? O repórter apenas passa (sup.)
DOC. -  (sup.) Escute, você, você podia descrever a estrutura d'O Dia em termos de pessoal, por exemplo? (sup.)
LOC. -  (inint./sup.) antigo, né? Agora não, agora mudou um pouco.
DOC. -  Mas o que você se lembra da sua época?
LOC. -  O que eu me lembro é o seguinte: tem a faixa, tem os repórteres da redação e, e tem, e um redator que eles chamam, aquele redator fica o plantão todo naquelas cinco horas e tem os repórteres que ficam na redação e o que sai e um fotógrafo, sempre. Além disso, tem os setoristas que ficam nos hospitais, necrotérios e aeroporto e próprios caras assim, geralmente são até policiais, quer dizer, a maioria, entende, eles pegam esse bico, eh, num pronto-socorro, geralmente são policiais que fazem essa parte. Antigamente tinha muito policial n'O Dia, O Dia tinha muitos que faziam essa parte, tinha policial em Caxias, estado do Rio, que trabalhavam lá como repórteres, nesse setor, então o nível era muito baixo, entende? Então, praticamente, eu era um pouco, mas como eu entrei como foca, mas eu já, porque eu era repórter (sup.)
DOC. -  (sup.) Foca o que é?
LOC. -  Foca é o iniciante, é o que fica na piscina que eles chamam. Tem a piscina dos foca, é, é uma, fica assim numa sala o pessoal que ganha às vezes quando substi... falta um repórter, ele entra no lugar: ah, vai lá na piscina que tem um foca. Aí ele substitui aquele que faltou ou então, num caso de emergência, chama todo mundo que estiver ali. Então a gente às vezes fica lá parado, fazendo serviço de telefonema, de ligação, de, recebendo gente, entende, bate a notícia. Eu, o que eu escrevia saía, mas geralmente não acontece isso. O repórter, ele só dá aquela notícia e entrega para o redator que redige, entende? Depois do reda... Isso estamos descrevendo os setores, né? Depois do, do redator que é o, assim, vem então o chefe da redação e vem o secretário também da red... vem o secretário do jornal que é o que lê todas as notícias dos outros jornais e mais ou menos distribui para os chefes de redação o que os repórteres devem éh, procurar ou não, ou então até, eh, eh, o que eles chamam de cozinha, quer dizer, é refazer uma notícia que saiu num outro jornal, etc. Então, é gilete 'press' que eles chamam, né?
DOC. -  Como é?
LOC. -  Gilete 'press', quer dizer, você corta a notícia a gilete, dá pro repórter: olha refunde, eh, cozinha. Então, no começo, a gente sofre porque a gente não sabe aquelas palavras todas, né? Tem um palavreado danado, né? Suadouro: ó, vai ver, que tem um suadouro lá em Copacabana (sup.)
DOC. -  (sup.) O que é suadouro?
LOC. -  Eu, eu, eu custei a saber. Eu fui lá na raça e eles não dizem, ficaram de gozação mesmo: olha, tem um suadouro lá em Copacabana, você vai lá, investiga e resolve. É des... Suador é quando uma dessas mulheres de Copacabana pega um turista e depenam ele, dinheiro e tudo. Então chamam isso de suadouro. Até você descobrir, você morre, né, entende? Então tem muita gíria e O Dia e A Notícia é típico de jornal assim, entende?
DOC. -  Você poderia (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Basicamente!
DOC. -  (inint.) as pessoas d'O Dia, por exemplo?
LOC. -  Tinha a, a (sup.)
DOC. -  (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) É, é naquele tempo, ele não mudou muito não. Tem, às vezes, varia ou não, principalmente tem uma faixa sensacionalista que é a policial, que nessas todos os jornais têm. Mas essa, nesse tipo é mais elevado, tem as notícias políticas que geralmente é, é restrita à política estadual e geralmente eles falham muito na política internacional. Às vezes dão manchete, como eu vi dizendo que morreu fulano e o cara ainda está bem vivo, isso é, eles, eles adivinham os acontecimentos. O Dia, eh, e A Notícia são especialistas nisso. Eles matam muita gente, inclusive governantes e tal. Então a política internacional é muito falha, de ouvido o cara lá inventa que, que tem ... Vamos matar um presidente? E matam mesmo. Diz lá e no dia seguinte cai um avião, eles fizeram uma tragédia e o avião estava, pousou lá em não sei aonde, entende? O outro setor que tem, que eles dão muito valor, é o sindical. Tem, tem corpo de redatores só pra cobrir o, a, o aspecto sindical e como a, a principal atualmente. Então eles dão assim, fazem aquelas reclamações (inint.) muita cobertura em fábrica, de greve. Na avenida Brasil, eu fui lá e tinha que entrar, né, entrevistar os grevistas. Isso era, eles davam muita força a isso também. E a outra parte, e, agora, a parte cultural e literária não tem, entende? Não existe mesmo, eh, o Cleto é o único que às vezes eles chamam uma para escrever sobre teatro, mas tenho a impressão que a pessoa até paga pra escrever ali, sabe, quer dizer, ou escrever de favor. Mas eles são contratipo de, por exemplo, crítica, entende? Se houver qualquer coisa de teatro ou arte será quase que assim como movimento, a promoção da coisa, entende?
DOC. -  (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Eu acho que é (sup.)
DOC. -  (sup./inint.)
LOC. -  Eu gosto, eu leio o Jornal do Brasil, quer dizer, só que eu não tenho tempo, mas praticamente é o meu jornal. Eu acho que é o que tem padrão.
DOC. -  Exato, será que você poderia traçar um paralelo entre o Jornal do Brasil e O Dia em termos, em termos por exemplo (inint.) do Jornal do Brasil o pessoal que trabalha.
LOC. -  Ah, não há nem condição de ... Não há porque só, só existe uma vantagem de quem trabalha n'O Dia, A Notícia, é, é, realmente passa a conhecer todo o jornal, entende? Ele tem possibilidade de ir inclusive numa gráfica olhar, mexer, se ele tiver influência, ele muda até a coisa, entende? Ele tem uma certa liberdade, ou tinha, né, quer dizer, naquele tempo a gente tinha acesso ao, ao material do Chagas Freitas, eu ia lá, eh, tinha o (inint.) tinham, varia, a gente ia ao diretor, a gente pedia ou ia, ou fazia uma notícia que pedia. Agora, nesses outros jornais não, já há uma organização industrial, vamos dizer, e que o cara que estiver naquele setor e, às vezes se limita ali e não sai, e num jornaleco desses você pode notar que amanhã ele escreve política, amanhã pode escrever teatro, e se ele inventar política, você vai e tem que fazer, então realmente você aprende muita coisa. (sup.)
DOC. -  (sup.) Então, você acha, você acha que é muito diferente (inint.) uma empresa como o Jornal do Brasil de outro jornal como O Dia?
LOC. -  Ah, é (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) em termos de pessoal por exemplo (sup.)
LOC. -  (sup.) Eu acho (sup.)
DOC. -  (sup.) O pessoal que trabalha (sup.)
LOC. -  (sup.) Primeiro que há uma base, vamos dizer, uma, uma, um respeito pelo trabalho também, né, quer dizer, o Jornal do Brasil tem uma organização industrial e administrativa e aí também ele tem que pagar e respeitar as leis, e geralmente os outros jornais não. Então não pagam, feito a Gazeta de Notícias, eu sei que raramente paga e eles vivem quase que de macumba, entende? Eh, bom, é muito difícil. Agora o Jornal do Brasil assim eles realmente, ele paga o salário profissional e respeita e só quer gente formada, entende, ele faz questão. Agora os outros não (inint.) imita mas não consegue não, nunca.
DOC. -  Agora, você como leitor do Jornal do Brasil, leitor assíduo, será que você poderia descrever quais as seções do Jornal do Brasil, as, as, as que te interessam mais e mesmo as outras que não interessam (sup.)
LOC. -  (sup.) Eu ... Não, o Jornal do Brasil, eu gosto exatamente porque ele dá um panorama geral de tudo, entende? Ele não se aprofunda muito, não comenta muito e dá as informações e ao mesmo tempo é humorístico porque as notícias dele (inint.) aí, aí, e aquela folha editorial é completamente diferente, entende? Conta toda uma linha de notícia. Então ele te dá uma liberdade de pensar, entende? Você, dali, você lê a notícia e pensa, entende? Os outros não procuram, eh, deturpam, feito outro jornal, o próprio Correio da Manhã, o Última Hora, quer dizer, o Última Hora já tem uma linha, são jornais que já sabem que ele tem uma direção, ou tinham, né, antigamente ... E o Jornal do Brasil não, sempre deu, deu um noticiário tão apenas esclarecendo a notícia. Fora as seções (inint.) por exemplo, tem a, eh, tem as notícias, quer dizer, faz noticiário nacional ou internacional. Eles têm a parte editorial que é o editor-chefe e depois, aqueles comentários, Barbosa Lima Sobrinho, Tristão, né, é sobre política. E depois tem crime também, tem arte, tem informações e tem inclusive os classificados que também você dali pode tirar alguma coisa. Eu, pelo menos, às vezes tiro até pra escrever notícias, até de classificados, informações se consegue.
DOC. -  Escute, essas notícias, ele, de crime, política nacional, internacional, artística, vem tudo junto?
LOC. -  Não, eles dividem, tá, em, em páginas. Então tem a página, a primeira, ah, o chamamento que eles dão à frente e dão apenas todas as notícias importantes, indicando a página, né? Depois vem a internacional, depois vem geralmente notícias de política nacional, depois vem a parte editorial, vem outra de, aí de informações diversas sobre assuntos e um Caderno B que são especificamente ... Aí depois vem notícias de esportes que é a última e depois então vem o Caderno B e essa abarca tudo que é problema de arte e de cultura.
DOC. -  Quais são os problemas específicos, eh, apresentados no Caderno B que você conhece (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Ah, esse, eh, realmente, tem parte de teatro, cinema, televisão, Panorama, que é desse movimento artístico, que é uma outra seção, que geralmente são os próprios críticos que fazem o Panorama, eh, e geralmente tem um ensaio ou uma crônica, eh, do cotidiano, não é, do José Carlos Oliveira, por exemplo, ah Marina Colassanti, né, e outros.
DOC. -  Escute, dentro da, da mecânica Jornal do Brasil, por exemplo, no caso de uma notícia, digamos, uma notícia de política nacional, ou o fato não ser político, um fato qualquer, por acaso você sabe se eles tem algum, se eles tem um, um certo código pra dar a notícia como a (inint.) a linguagem que eles usam, se eles tem, se eles tem partes (sup.)
LOC. -  (sup.) Não, ah, eles têm a (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) como é que é? (sup.)
LOC. -  (sup.) Eles dividem em partes pra variar a qualidade, mas todos eles tem o seu nariz-de-cera, que é aquele (sup.)
DOC. -  (sup.) Tem o quê?
LOC. -  Nariz-de-cera (sup.)
DOC. -  (sup.) Que é isso?
LOC. -  Que é um nome antigo, é aquela primeira parte em que dão os primeiros toques (sup.)
DOC. -  (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) Tem, eles tem, no Jornal do Brasil, nos jornais melhores eles dão, inglês, que agora, que me falha a memória, agora eu não lembro, mas geralmente é um nome em inglés, americano. Na, na língua do antigo jornalismo decerto é nariz-de-cera, que é aquela primeira parte. Depois então vem mais ou menos a descrição por fato e depois um comentário. E geralmente, no final, um pequeno apanhadozinho de tudo, daquela notícia. Geralmente, é essa a linha que ele, chamamento, a descrição do fato, uma conclusão e, no finalzinho, uma repetição do que, daquele chamamento em, em linhas diretas. Esta é a norma geralmente empregada.
DOC. -  Até agora nós falamos em jornais noticiosos, n'O Dia, Correio da Manhã, mas você sabe que pelo menos de um certo tempo pra cá parece que aumentou sensivelmente, né, a publicação em termos de jornais, né, desses informativos, periódicos, você conhece outros tipos de publicação dentro desses setores, periódicos que não sejam (inint.)
LOC. -  Tem outro tipo que eles estão lançando agora que é o tipo do Pasquim, é isso que você quer, é essa parte? (sup.)
DOC. -  (sup.) Como é que você, como é que você considera o Pasquim, como é que você caracterizaria um jornal como o Pasquim ?
LOC. -  O Pasquim é o seguinte: o, o, tem o, a caracte... a característica dele é a artesanal, quer dizer, ele perdendo o caráter artesanal que, que seja, ele vai ter que entrar na indústria, aí ele perde o valor dele. É o que mais ou menos aconteceu, entende? Dentro da faixa que ele é, o autor ali é o humorista, é o que está dando a comunicação pessoal dele e eles trabalham, na elaboração é usado recursos dos gráficos primários, entende, sublocando máquinas inclusive em gráficas horárias e o valor dele é esse, entende, uma contestação pela forma impura ou irregular de comunicação. Então, agora estão surgindo vários, tem política, tem (inint.) já, mas que não consegue, inclusive, sair do Pasquim, né? Mas não consegue se manter porque atinge minorias, né?
DOC. -  Você diz que o Pasquim não é um jornal artesanal, mas ele teria uma ca... uma característica (sup.)
LOC. -  (sup.) Não digo, eu classifico assim, sob meu código, né?
DOC. -  Sim, sim, claro, eu estou falando em relação a você. Ele teria uma outra característica ou uma outra coisa que caracterizasse, marcasse bem o jornal? (sup.)
LOC. -  (sup.) Tinha, eh (inint.) é de irreverência, né? A orient... a orientação dele era desorientar, quer dizer, não havia orientação, entende isso? Cada um, eh, escrevia e dava sua charge de acordo com seu pensamento, procurando sempre, eh, atacar o estabelecido, mas isso ...
DOC. -  Essas pessoas que escrevem, escrevem assim todos sobre a mesma coisa, tem o mesmo modo de escrever ou eles, inclusive, uma mesma maneira (sup.)
LOC. -  (sup.) Tem, tem (sup.)
DOC. -  (sup.) Gráfica de escrever?
LOC. -  Geralmente todos, cada um deles, justamente porque a briga que existe, vamos dizer, entre eles, é que cada um tem um estilo próprio e não aceitam a impulsão dos outros. Então eles, numa circunstância se unem, mas depois, com o crescimento e com a rentabilidade do negócio, há forçosamente uma queda. Então há outros jornais seguindo a linha deles, mas aí falta o que for melhor pra o comerciante que ficou no primeiro, entende?
DOC. -  Você, você conhece, por acaso, ah, os profissionais que trabalham no Pasquim e podia citar?
LOC. -  Eu conheço pessoalmente, o meu amigo inclusive é o Fortuna, Luís Carlos Maciel, conheci inclusive lá quando ele era do Conservatório e, e quando ele fazia teatro. (sup.)
DOC. -  (sup.) Luís Carlos Maciel fazia teatro, e o Fortuna? (sup.)
LOC. -  (sup.) Eh, o Fortuna, ele sempre foi cartunista, né, ele (sup.)
DOC. -  (sup.) Cartunista em que sentido?
LOC. -  É que faz caricatura, né? Mas só que nesse sentido mais, eh, buscando uma crítica social, etc. Então, isso, isso também aí derivou uma palavra inglesa 'cartoon`, quer dizer, cartunista (inint.) caricaturista, humorista. Ele usa cartunice, Millôr Fernandes é humorista mesmo. É, é uma, inclusive entre eles existe uma panelinha que a turma do Millôr Fernandes que não dá com a outra turma, cada um tem uma linha, entende?
DOC. -  Quem mais, você lembra de outros?
LOC. -  Tem o Jaguar, tem, oh, aquele que é sério. Como é? Agora eu já não me lembro o nome dele, ele é muito antigo, tá? (sup.)
DOC. -  (sup.) Tem um que é muito popular.
LOC. -  Ziraldo? (sup.)
DOC. -  (sup.) Sim, Ziraldo. (sup.)
LOC. -  (sup.) Também tem uma linha (sup.)
DOC. -  (sup.) Um outro também (inint.)
LOC. -  É o, aquele, como é? O Juarez?
DOC. -  Não, não é o Juarez. Lançou (inint.) dois personagens, dois religiosos.
LOC. -  Ah, o Hector.
DOC. -  É (sup.)
LOC. -  (sup.) É (sup.)
DOC. -  (sup.) Você conhece os personagens dele?
LOC. -  Conheço, claro que conheço. Eu tive, eu vi um livro, eu tive na mão mas não pude ler, parece que até que foi recolhido, não sei. Mas eu tive na mão um livro dele desses de caricaturas. Eu acho que o desenho dele deve ser mordaz.
DOC. -  Como é que você classificaria o, o, que tipo de profissional seria ele?
LOC. -  Profissional?
DOC. -  É (inint.) também é cartunista?
LOC. -  Não, ele é um, não, ele é mais um humorista, né, mas um crítico dentro da categoria do humor negro (sup.)
DOC. -  (sup.) E o humor negro? (sup.)
LOC. -  (sup.) Não é só ele não, é um desenhista, né?
DOC. -  O humor dele, assim, te transmite (inint.) de uma linguagem escrita (sup.)
LOC. -  (sup.) Não, não, ele é (sup.)
DOC. -  (sup.) Fábulas, né (inint.) satíricas, humoristas, mas (sup.)
LOC. -  (sup.) Ele é, através de traços e palavras e expressões, né? Inclusive o traço dele é bem mordaz, bem violento, né? Inclusive ele apela muito para as desgraças das coisas para mostrar o outro lado e, às vezes, fala, né, através de balãozinho.
DOC. -  Escute, nesse tipo, e nesse campo assim de leitura informativa, você só lê jornal?
LOC. -  Revista (sup.)
DOC. -  (sup.) Que revista você lê? (sup.)
LOC. -  (sup.) Eu, porque devido à falta de tempo, eu seleciono pela qualidadde do que me interessa. Então, é Jornal do Brasil e revista é a Manchete . E o resto tudo copia (inint.) na mesma semana uns publicam uma coisa, outros mudam na outra ... Então eu escolho a Manchete porque não só graficamente a impressão é boa como também eu, eu uso a própria folha deles pra fazer colagem, etc. Eu trabalho em cima e guardo, entende, reportagem e uso inclusive muita, às vezes pra tirar informação. Então a Manchete eu selecionei como leitura básica e esse tipo de revista pra mim.
DOC. -  A Manchete é de um tipo de revistas informativas geral, certo?
LOC. -  Exato! (sup.)
DOC. -  (sup.) Você sabe que há esse tipo de revistas, né? Será que você podia enumerar?
LOC. -  Dentro dessa, dessa linha? (sup.)
DOC. -  (sup.) É, revista, sim, revista!
LOC. -  Ah, tem Cruzeiro, Realidade, Veja, eh, Cigarra, eh, Visão (sup.)
DOC. -  (sup) Por exemplo, uma revista como Claudia, como é que você se colocaria, em que ponto (sup.)
LOC. -  (sup.) Ela é, deve ser, é setorial, né? Ela atinge uma faixa que é o, a faixa feminina, entende, quer dizer, então são revistas que eu, eu leio se cairem na mão, eu, eu leio tudo, mas eu apenas tenho curiosidade, às vezes tem coisas boas, atinge a esfera dela, entende?
DOC. -  Agora, há outras revistas que têm uma vendagem incrível, né, tem uma vendagem (inint.) muito grande numa faixa feminina e outras tem pra uma faixa infantil, juvenil, mesmo de adulto (sup.)
LOC. -  (sup.) Exato! (sup.)
DOC. -  (sup.) Você sabe quais são?
LOC. -  Infantil, só conheço essas de, de, assim de nome, essa Bolinha, essas coisas assim, Tio Patinhas, Pato Donald (sup.)
DOC. -  (sup.) Como é que você classificaria essas revistas? O Bolinha é uma revista de que tipo?
LOC. -  O Bolinha ?
DOC. -  É.
LOC. -  É bem, bem uma parte infantil mesmo, para apenas uma distração, e pelo o que eu vejo (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) tipo de revista de textos como a Veja, é?
LOC. -  Eu não sei. Não, não, não! (sup.)
DOC. -  (sup.) Então, por que (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Bom, bem, é que ela usa ... Ela pode ter o mesmo tipo de querer informar, mas usando outros meios (sup.)
DOC. -  (sup.) Quais são? (sup.)
LOC. -  (sup.) Que é o bonequinho e as relações infantis, né, que é o desenho animado de crianças ou bichos, entende, que falam tentando contarem as fábulas e, e algumas com instrução, outras não, ou falsa instrução, mas o que eu me lembro, era quando eu era criança eu lia muito, devorava, era gibi (sup.)
DOC. -  (sup.) Como era que se chamava aqueles troços? (sup.)
LOC. -  (sup.) Era gibi. Gibi ou (sup.)
DOC. -  (sup.) Você sabe, atualmente ela tem, as pessoas estão chamando por uma, por um outro nome, né?
LOC. -  Não, não, não é assim não (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) Bolinha, você não diz mais Bolinha (inint.) né?
LOC. -  Não, o Tio Patinhas, geralmente quando eu era (sup.)
DOC. -  (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) A relação com o Tio Patinhas que era o que eles liam mais, é de figurinhas, revista de figurinha (sup.)
DOC. -  (sup.) Hum, hum, revista de figurinha! O que você acha delas? Desse tipo de (inint.)
LOC. -  É quadrinho, não é, é quadrinho, é história em quadrinho. É mais pra gente, é, não, os quadrinhos também é mais ligado a nós (sup.)
DOC. -  (sup./inint.) figurinhas, né? (sup.)
LOC. -  (sup.) É porque também há uma relação muito grande, eh, com as, álbuns de figurinhas que eles compram e vendem e fazem. Então, há sempre uma relação entre aquelas historinhas e também as publicações em figurinhas. Então, o caminho é figurinha, entende?
DOC. -  O que você acha desse tipo de comunicação? (sup.)
LOC. -  (sup.) Realmente são figurinhas. Elas funcionam, eu acho que desde que ... Que tem horríveis! Desde que não seja, eh, sabendo selecionar as melhores, eu acho que é válido, ele funciona como primeira atração para a leitura. É, quando eu era criança eu era combatido e tinha que ler escondido aquelas coleções debaixo da mesa, mas eu acho que, justamente, me forçava a ler. Eu vejo pelos meus filhos que os menores já querem ler, já lêem pela mesma posição e nenhum deles lê de cabeça pra baixo, já, já observa, identifica, já ... Agora a leitura em si, das palavrinhas, aí é que varia de acordo com o texto. Então, o negócio é escolher. Tio Patinhas, Bolinha e Pato Donald são, ainda são as melhores, tem outras muito ruins mesmo, até de desenho, de tudo, de acabamento, né?
DOC. -  Além de, além desse tipo de leitura informativa, você tem algum tipo de leitura mais séria? Mais (sup.)
LOC. -  (sup.) Ah tenho! Romance, eh, livros e ensaios, política e literatura (sup.)
DOC. -  (sup.) O que você gosta mais de ler? (sup.)
LOC. -  (sup.) Aí, isso, um sacrifício que eu gosto de tudo, sabe? Eu tenho, até a minha mulher mexe comigo, que eu leio cinco livros quase que praticamente ao mesmo tempo. Eu leio um sobre cinema, leio um romance, que eu leio de noite quando eu vou dormir. Sempre que eu leio um livro, eu leio livro de poes... de teatro. Leio antes do almoço, de poesia, ou, ou, quando eu tenho tempo, pra sempre ... Agora eu estou lendo Mário de Andrade, estou lendo, então paro e não vou ler tudo de uma vez. São livros assim, tem que ler aos poucos, né? Então, por isso que eu (sup.)
DOC. -  (sup.) Você podia fazer alguma observação a respeito da apresentação gráfica dos livros, ou antes? (sup.)
LOC. -  (sup.) Agora melhorou muito, né? (sup.)
DOC. -  (sup.) Que livros estrangeiros você possa comparar com os nacionais?
LOC. -  Não, praticamente, aqui eu acho que graficamente nós estamos muito bem, inclusive antigamente o livro, a impressão, a folha, tudo era horrível, né, nacional. Agora não, há toda ... Você tem liberdade de escolha de tipos, o popular, melhor, o clássico, edição de papel bíblia que eles chamam, entende? Se você quiser uma poesia (sup.)
DOC. -  (sup.) E a, a apresentação externa? (sup.)
LOC. -  (sup.) Na, na Aguilar é contra, agora, na Livro de Bolsa é contra. Na externa também a fase diagramação visual avançou demais, inclusive essas de bolso vendem pela capa praticamente (sup.)
DOC. -  (sup.) E o próprio material?
LOC. -  Também, papel bom (inint.) tipo chileno que é papel de jornal melhor que o nacional, tem o finlandês, eh, varia também de acordo com a grossura, entende, cuchê, que antigamente era moda, aquele papel brilhante que é horrível, dá a impressão que não pega, não sai muito boa (inint.)
DOC. -  Escute, dos livros que você compra, que você tem, eles tem uma determinada apresentação, agora você pode ter um livro, um, com uma apresentação assim, né, desse jeito (sup.)
LOC. -  (sup.) Espera aí, deixa eu ver, deixa eu imaginar! (sup.)
DOC. -  (sup) Ou então você pode ter um livro (inint.) né? Você vê diferença entre um e outro (inint./sup.)
LOC. -  (sup.) Lógico! (sup.)
DOC. -  (sup./inint.)
LOC. -  (sup.) O nome eu não sei identificar. Sei que existe brochuras, existe não sei o quê para (sup.)
DOC. -  (sup.) Brochura, o que é isso?
LOC. -  Brochura, acho que é esse tipo, né, quanto mais simples, é de papelão a capa, é mais ... E tem o outro que tem uma espécie de cartão, um encarte e essa folha vem cobrindo. Tem outros que 'e o simples, um papel (inint.) um tipo mais (inint.) impresso que é esse tipo de utilização brasileira, aquela, ah, utilização (sup.)
DOC. -  (sup.) Esse segundo tipo que eu demonstrei, de um modo geral, quando você se refere a ele (sup.)
LOC. -  (sup.) Ele é o português, né? (sup.)
DOC. -  (sup.) Não sei. Quando você se refere a ele, a gente diz que ele, esse livro não é brochura, esse livro é (sup.)
LOC. -  (sup.) Antigamente usava-se muito brochura, até publicar capa de brochura, não sei o quê e tal, que era do autor, geralmente, eram especiais. Agora eu acho que não há muito, justamente, a industrialização gráfica náo permite muito essas, só quando é na parte artesanal, quer dizer (inint.) pequena, a vida do autor aí, e geralmente ... É agora essas edições de quarenta mil exemplares, dez mil, quer dizer, não dá pra fazer assim um tipo, né?
DOC. -  Existe ainda um outro tipo de comunicação (inint.) uma comunicação que coloca (inint.) existe esse tipo de comunicação?
LOC. -  Cartazes?
DOC. -  Sim!
LOC. -  Ah, esse, ele derruba painéis, os 'outdoors' (sup.)
DOC. -  (sup.) Exato!
LOC. -  Os 'outdoors` não sei o que ...
DOC. -  É. O que você acha disso?
LOC. -  Funciona, né? Acho que ele existe, entende, é uma forma justamente, e inclusive, apesar de ter havido há pouco tempo um combate, o Jornal do Brasil fez, mas esses, realmente eles encobrem e como a defesa deles falou. Mesma coisa, você tem um anúncio do mar e uma folha de jornal, a poluição, entende? O Jornal do Brasil fez uma campanha que aqueles painéis seriam a poluição da paisagem, aí, isso é a questão de fiscalização e não do próprio cartaz, quer dizer, não confundir a estética com a fiscalização ou com o abuso da coisa. Isso é que eu acho errado, a pessoa confundir o abuso que não é uma coisa em si, né? Então eu acho que aqueles painéis realmente atingem, entende, a, a, a massa, quem passa. Os jornais têm uns apelos precisos, mas tudo é questão de ética, são os problemas que não (inint./sup.)
DOC. -  (sup.) Você é sensível a esse tipo de propaganda?
LOC. -  Eu acho que sim porque, quer dizer, ela me atrai, né? Agora, a influência, a gente só vê na aquisição, não poder... mas atualmente muita coisa não é ... Eu acho que (inint.) há possibilidade. Não, o negócio é que eu estou sendo consumido pra ser consumidor e depois, mais tarde, consumado. Eu ...
DOC. -  E só pra terminar, o que você acha do problema criado (inint.) é cinema, a televisão, o teatro?
LOC. -  Pois é, cinema, ele vai se... como cinema como local, porque cinema tem a, o filme e tem a sala e como sala está condenado, entende? E como filme, não! A tendência é aumentar. É o tal negócio, a mesma coisa que o teatro não vai acabar, entende, que é basicamente a relação de dois seres. O cinema é o filme, basicamente, eu posso ir pra televisão. Agora, como sala, realmente, está condenado, como o grande teatro, Municipal, o Fênix, que é ótimo teatro, tanto que é outro, é outro que está condenado também, quer dizer, tende tudo a reduzir, atendendo minorias, entende? Porque aí tem saída, é o cinema 'underground` não sei o quê, tudo agora é 'underground`. Só quem vê, as minorias que estão insatisfeitas. Então essas minorias formam uma maioria e dá renda, entende? Mas como cinema, acho que como filme está atualizando, inclusive há uma diferença entre o cinema antigo, você vê televisão, você vê um cinema bom antigo e da diferença dos filmes atuais, então muda mas é, é, é ques...questão de técnica.
DOC. -  Tá, foi muito bom.