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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Vegetais e agricultura"

Inquérito 0150

Locutor 170
Sexo masculino, 46 anos de idade, pais cariocas
Profissão: militar (Exército)
Zona residencial: Suburbana

Data do registro: 18 de abril de 1973
Duração: 40 minutos


Clique aqui e ouça a narração do texto


L
 Eu normalmente uso na minha alimentação verduras, por questão mesmo de regime e também por ser uma alimentação que normalmente é mais leve e dada a exigência aqui do nosso trabalho, nós não temos tempo normal de almoço, então eu me sinto muito mais à vontade de trabalhar logo em seguida do que comendo essas comidas pesadas. Mas sobre vegetais, nós podemos falar em outro campo, que é o campo de construção. Nós sabemos que ele representa para nossas construções, principalmente aquelas que não são dentro das principais normas, são aquelas de campo, que se encontra isso muito no nordeste, eles conseguem fazer casas de construção bem consistente com os vegetais, ou seja, com as árvores que eles encontram lá naquela região do nordeste, da Amazônia. Nós numa viagem que fizemos a Manaus vimos o que que aquele caboclo pode fazer, vimos o que que eles podem fazer utilizando as árvores da região. Eles conseguem, sem a maquinária necessária, produzir o que nós chamamos de caibros, com uma perfeição talvez só a máquina mesmo conseguisse. Eles usando somente enxó, eles con... conseguem esquadrinhar as madeiras e inclusive, depois com o serrote, fazerem verdadeiras ripas. Utilizam também muito a madeira lá no, no norte, pegando aqueles troncos de árvores mais espessos e com a enxó, trabalhando novamente com a enxó, escavam aquela madeira e fazem uns barcos que são verdadeiras obras-primas. A diferenciação entre as árvores da Amazônia e do nordeste são imensas porque, na Amazônia, nós encontramos lá aquelas árvores com diâmetros muito grandes. Nós tivemos ocasião de verificar uma árvore no museu que existe lá no Pará, com uma cavidade em que dá para abrigar oito homens. Nós tentamos circundar esta árvore, foi preciso dez homens darem as mãos para poder circundar essa árvore. Agora, no nordeste, a região do Piauí e Amazon... e Maranhão, Ceará, elas já são muito mais finas, mas assim mesmo se presta muito, se prestam muito para construção. Outra coisa que eles fazem muito naquela região é aproveitar os vegetais como medicamentos, né? Lá é difícil se encontrar alguém que adquira remédio em uma farmácia. Eles mesmos produzem seus remédios. Cada planta daquela eles sabem a utilidade e a empregam em larga escala. Isso é sabido porque dizem que a Alemanha mesmo é uma das maiores importadoras dos nossos vegetais e aqui mesmo no Brasil, nós conhecemos aí, através dessas floras medicinais, a utilização em larga escala dos vegetais.
D
 Bom, existem outras finalidades também além da, da finalidade de medicar, né? (sup.)
L
 (sup.) Certo, certo. Existem. Inclusive, eles usam muito as madeiras, principalmente as raízes como adorno, né? Eles conseguem encontrar raízes que com uma, um artesanato muito simples, né, elas passam a representar assim uma, dá uma impressão de bicho. Nós encontramos isso também lá por cima. Aqui no Rio de Janeiro não tenho visto muito não, só tenho visto ali na região da Barra da Tijuca. Parece que eles usam, utilizam as cascas, né, de árvores, para fazer assim uns motivos folclóricos, principalmente aqueles incas, cabeças de índio e outras coisas.
D
 Agora, aqui, não sei se é só nas grandes cidades, também existem, eh, existe a utilização desses vegetais com a finalidade de embelezamento. As mulheres usam. O senhor não conhece nenhum tipo de vegetal que é usado para isso?
L
 Eu não conheço tipo de vegetal. Eu quando estive agora em Curitiba, eu estive numa casa que é de brindes, vamos dizer assim, em que eles usam muito a madeira para fazerem caixinhas, cordões, brincos, tabuleiros de damas, de xadrez, quadros, tudo com aquele motivo do Paraná, né? Principalmente os quadros em que eles representam aquelas choupanas e sempre na representação eles fazem questão de botar o pinheiro, que é o símbolo deles.
D
 Além dessas utilizações, o senhor conhece algumas outras, das, das madeiras em geral? Como elas são aproveitadas de alguma forma, de acordo com o tipo de, de árvore?
L
 Que me ocorra no momento, não.
D
 E quanto assim a ornamentação? Por exemplo, eh, aí não seriam mais árvores, são flores. O senhor conhece muitos tipos de flores?
L
 Bom, flores nós encontramos como a principal no meu ponto de vista é a questão da rosa, né? E sobre isso eu posso citar um caso que eu assisti em Ouro Preto ou um fato que eu via sempre em Ouro Preto, que eu trabalhava no, no cimo de um morro e lá a terra era uma terra avermelhada, uma terra assim muito cheia de mi... de minério. Então na subida havia uma casa de madeira e ele tinha na sua cerca uma roseira. Sinceramente, eu poucas vezes na vida vi uma roseira tão grande, com umas flores tão grandes e essas flores eram brancas e infelizmente, pelo passar das viaturas, depois que elas desabrochavam então elas se tornavam avermelhadas, por custa, por força daquela poeira que subia. Mas era uma coisa muito linda. Outro lugar que me chamou muito atenção em questão de rosas foi São Lourenço. Eles têm um jardim em que a variedade de rosas é muito grande e eles fazem questão de botar em cada pé o nome da rosa. Normalmente são todas estrangeiras. Também é uma coisa digna de ser vista. Em questão de flores eu acho que só a rosa mesmo é que marca, viu?
D
 Mas o senhor deve conhecer outras variedades de flores, né? O senhor poderia falar um pouquinho delas?
L
 Eu conheço assim por ouvir falar. Vim conhecer há pouco tempo, numa casa de flores em Copacabana, uma flor que eles cultivam muito na Alemanha, nos países frios. E eu pensava que aquela for... flor fosse uma flor, vamos dizer, perene, mas não é não. Eles te... é um tubérculo, uma batata e que eles plantam e determinada época do ano, elas dão uma floração e depois então eles eliminam o caule da, da planta, conservam a batata, parece, em clima bem frio, um ambiente bem frio e no outro ano então, na época, eles voltam a plantar a batata, ela volta a brotar e dá uma nova floração. Essa flor, eu estou querendo me lembrar o nome, mas não está me ocorrendo agora. Eu sei que é, os canteiros na Alemanha utilizam muito essa planta. Deixa eu ver se me lembro o nome ... A senhora não ... Pelo que eu disse não (sup.)
D
 (sup.) Não, não conheço (inint.)
L
 É uma flor que ela dá um pendão muito comprido, dá só uma flor na ponta. Eu ... Depois eu me recordo o nome. Outra coisa que se vê em questão de flores era a antiga Petrópolis, né? A antiga Petróplis, antigamente conhecida como cidade das hortênsias, dava prazer da pessoa ir lá e ver que no meio da rua eles cultivavam e o povo respeitava aquelas hortênsias. Hoje em dia já não se encontra mais esse espetáculo, porque o povo não respeitou e foram dizimando todas aquelas plantações que existiam nas calçadas, nas beiras de rios. Outra planta ou flor é a azaléa, né? É uma planta também muito interessante. Quem viaja por essas estradas, seja no, no eixo para o Paraná, seja no eixo para a estação das águas, o sujeito também vê muito o ipê, que é uma das árvores mais bonitas na época da floração, porque ela fica muito reduzida na questão de folhas e somente apresenta as flores, ou seja amarela ou seja roxa. É muito bonito esse espetáculo. Agora quando estive também na Amazônia, eu tive o... ocasião de chegar perto de uma seringueira. Aquilo que se vê e que se, em livros ou que se vê em cinema, em filmes, é um espetáculo, viu? Porque aquele latex é só o sujeito, eh, dar um talho no, no caule e brota mesmo em quantidade o latex. Muito bonito aquilo.
D
 E lá pela região da Amazônia que mais que o senhor viu além da seringueira?
L
 Somente essas árvores que eu não me lembro, não me recordo o nome e que o porte delas é muito grande. São árvores seculares com diâmetros imensos. Há pouco tempo saiu uma reportagem aí, em um um jornal ou numa revista, falando sobre uma árvore desse tipo, que eu vi no Pará, em que uma cratera existia no caule da árvore, eles botaram trinta operários. Por aí a senhora pode imaginar qual seja o diâmetro dessa árvore.
D
 Agora, o senhor falou de flores, mas parece que o senhor não, não tem muita convivência com isso.
L
 Não tenho porque não há oportunidade, né? Normalmente só se vê flores é quando se passa assim na porta de uma casa que venda flores ou então num mercado de flores, mas a minha lida com flores é muito pequena.
D
 Mas o senhor deve (sup./inint.)
L
 (sup.) De um modo geral, com esses vegetais, vamos dizer assim, ornamentais.
D
 Sim. Mas o senhor deve ter alguma idéia de como se pratica jardinagem, por exemplo.
L
 Bom, idéia todos nós temos, né? Eu acredito que tudo parta daquele princípio: só se pode plantar quando se aduba a terra, quando se prepara a terra. Acredito que para que se consiga um canteiro que venha satisfazer os nossos desejos, há necessidade de primeiramente nós façamos um preparo da terra. E depois, mantermos constantemente um cuidado grande porque não só há necessidade de se exterminar aquilo que normalmente danifica as plantas, que são as larvas, os caramujos como também e principalmente a questão da formiga, né? E eu posso, citando um caso, quando no Piauí, em que a terra é muito ingrata, nós tentamos fazer uma horta. Preparamos, lá o nosso feitor preparou o terreno, fez os canteiros, fez uma plantação de couve, beterraba, cenoura e outras que não me ocorrem agora. O negócio começou muito bem, começou a brotar, a desenvolver e pruma surpresa nossa, de uma noite para um dia tivemos a... aquela decepção. Estava tudo cortado na altura da raiz. Simplesmente era uma turma de saúvas e chegou lá e acabou com a plantação da noite pro dia.
D
 Nesse caso, abandona essa plantação?
L
 Nós abandonamos a plantação sim, porque nós começamos então a acompanhar o rastro delas e chegamos a uma cratera onde elas estavam alojadas que era uma coisa imensa, então por falta de recursos nós resolvemos deixarmos elas dentro da cratera do que tentar a demolição simples da cratera, porque aí nós íamos fazer com que elas se espalhassem para outros locais. Então preferimos deixar ali já que elas estavam localizadas numa cratera, deixarmos ela como estava.
D
 Bom, no caso de não haver nenhum problema desse tipo, aí como é que evolui as, as coisas? Como é que vão ...
L
 Evolui como?
D
 Primeiro prepara-se o solo e depois ...
L
 Maior parte como eu disse é preciso ter cuidado para evitar que animais daninhos venham danificar, foi o nosso caso que nós não tivemos, não estávamos com aquela experiência, inclusive o nosso feitor era um homem afeto a estradas, construção de estradas, quer dizer, aquilo foi um campo novo para ele, não se apercebeu que havia necessidade de haver esse cuidado perene de evitar que esses animais daninhos danifiquem a plantação, fazendo perder tudo aquilo que foi (inint.)
D
 Agora, os instrumentos que são usados em jardinagem são diferentes do que são usados em agricultura, não é? O senhor deve conhecer alguns, né?
L
 Acredito que sim, pelo seguinte, porque o, o que se usa em, a, a jardinagem normalmente é uma coisa mais simples, né? Deve ser somente a enxada ou ancinho, né, e na agricultura nós já vamos pro equipamento pesado, né? São os tratores, estrados.
D
 O senhor tem idéia de como são essas plantações maiores, como são, como é o processo utilizado na agricultura ?
L
 Eu não, até hoje não tive oportunidade de verificar uma plantação desse tipo. Não me foi dada essa oportunidade, não visitei nenhum lugar que tivesse uma plantação em larga escala.
D
 Nem no Rio Grande do Sul?
L
 Nem no Rio Grande do Sul.
D
 Bom, já que o senhor não sabe mais ou menos, não conhece o processo que é usado, o senhor podia falar sobre a produção vegetal das regiões brasileiras, pelo menos das que o senhor visitou, que que se produz nas regiões do sul, o que que se produz no norte.
L
 Acredito eu pelo que tenho lido que no sul a produção fica, a produção principal é a questão da uva e do trigo, né? E no nordeste, é a plantação de cana e de abacaxi, né, e também aquele que é lá típico é o caju.
D
 E no norte?
L
 No norte como? Nordeste ou norte?
D
 No norte: Amazonas, Pará.
L
 Não observei nada não, sinceramente.
D
 Voltando falar um pouquinho sobre alimentação, o senhor foi muito rápido no início (sup.)
L
 (sup.) Na alimentação?
D
 É. Eu queria que o senhor agora falasse um pouquinho mais, especificasse o tipo de alimento que o senhor costuma comprar, de ...
L
 Eu como lhe disse no início, eu não tenho nem casa. Casa só para dormir. Eu me alimento normalmente nesses bares daqui da redondeza, então por uma questão de necessidade, questão de trabalho, eu normalmente me alimento daquele prato que é superconhecido: salada mista.
D
 Em que consiste esse prato?
L
 É uma salada em que eles utilizam a cebola, a batata-inglesa, o chuchu, a cenoura, a alface, o tomate, o palmito e depois eles completam esse negócio com presunto e azeitonas.
D
 E existem outros tipos de legumes que o senhor goste de comer, que o senhor come em geral?
L
 Quando há possibilidade sim. É o espinafre, é a, o repolho, é a, a bertalha. Que me ocorra no momento é isso.
D
 E de frutas? Quais o senhor costuma comer mais? (sup.)
L
 (sup.) Bom, frutas, como fruta predileta eu considero o caju. Em segundo lugar gosto muito da fruta-de-conde, que lá no norte eles falam em ata, pinha. Outra fruta que eu gosto de saborear é o caqui. O caqui se encontra com muita facilidade nessas estações de água. A uva também não é desprezível. Mas não sou do... dado a, muito a comer fruta não. Normalmente, eu faço uma refeição e sobremesa eu não, não uso. Não gosto de usar sobremesa.
D
 E essas frutas normalmente são produzidas durante todo o ano?
L
 Eu acredito que não. Todas elas são periódicas, né? Porque pelo que me consta ou pelo que se observa, atualmente por exemplo está uma fase em que existe caqui, mas de repente há o sumiço. (interrupção)
D
 Nós estávamos falando das frutas, então me ocorreu esse corte. Eu ia perguntar o seguinte: há determinadas frutas que nós só comemos em certas ocasiões do ano, por exemplo, no natal. O que que o senhor costuma comer quando o senhor vai a uma festa, a uma reunião?
L
 Normalmente quando o sujeito vai a uma festa ou a uma reunião, a pessoa come aquilo que se oferece, né, aquilo que tem presente. Mas se for dada a escolha, há aquela seleção que eu já lhe falei das frutas que eu mais gosto, viu? Começando por aquela fruta que normalmente em uma reunião eles não apresentam que é o caju, né? Eu ainda não fui a uma reunião que oferecesse caju, não é?
D
 Eu estava me referindo ao natal especificamente.
L
 Natal especificamente?
D
 É.
L
 Então fruta de natal é abacaxi, melancia, pêssego, né? Eu acredito que isso, né? Então há aquela história da melancia: uns condenam a melancia, outros falam muito bem da melancia. Certa pessoa uma vez veio me dizer que na América eles usam a melancia como tratamento de úlcera, é muito bom para úlcera. Aqui já dizem que a melancia é indigesta, que ninguém deve comer. Contam até a história de que se um sujeito comer melancia e beber cerveja a pessoa, a pessoa passa mal, que a cerveja empedra a melancia. Eu já tentei fazer esse teste: botar num copo melancia, melancia e cerveja e não vi acontecer nada. Mas dizem isso, né?
D
 O senhor conhece outra fruta que também tem uma certa mitologia de passar mal?
L
 É a manga, né? Manga com leite, né? Dizem que o sujeito comeu manga e bebeu leite, vai passar mal. Eu sinceramente não fiz o teste da manga não, viu? Da melancia já botei um pedaço no copo e botei cerveja para ver se ela empedrava mesmo como eles dizem, mas não verifiquei isso não. Não empedra não. Acredito que o que acontece é o sujeito já estar predisposto a passar mal, então ele come a fruta e acontece o negócio e então põe a culpa na, na fruta, né? Na fruta e na cerveja. Eu acho que é melhor botar a culpa na cerveja, né?
D
 Agora, existem determinadas frutas que aqui no Brasil são, ou são difíceis de encontrar ou são muito caras porque, porque vêm de outros países. O senhor faz distinção, conhece mais ou menos as frutas que são nacionais, as frutas que são importadas?
L
 Vamos dizer, na minha infância, era fruta importada a pera, a maçã. Hoje em dia isso existe no Brasil, eh, em grande quantidade, né? Depois então que o japonês veio para cá ser colono ou agricultor, então a senhora vê que muitas frutas que o Brasil não produzia, eles estão produzindo, né? Eles provaram que há possibilidade de se ter as frutas aqui no Brasil, inclusive há essa história também que a uva era uma fruta de clima frio, só dava em clima frio. Hoje em dia na Bahia, um clima quente, vamos dizer assim, há plantações e grandes plantações de uva, né? Quer dizer, isto que diziam não era verdade. Eu inclusive, eu inclusive no Piauí, tive oportunidade de ver em Oeiras, uma cidade superquente, uma parreira de uva e no mês de junho ela bem carregada, viu? E clima muito quente.
D
 Agora, o senhor que viajou por algumas regiões do Brasil, o senhor podia, eh, descrever mais ou menos em que que consiste a alimentação do brasileiro comum? Do homem comum (sup.)
L
 (sup.) Bom, então se nós formos para uma região onde eu passei um certo tempo, que foi o Piauí, a alimentação do piauiense, do pobre piauiense, é uma alimentação muito precária. Eles lá usam feijão-de-corda, um arroz que vem do, do Maranhão, que é um arroz muito picadinho, muito pequeno, e a farinha.
D
 Esse feijão-de-corda é uma qualidade de feijão?
L
 É uma qualidade de feijão, porque ele não, não é preto, não é aquele feijão-manteiga, não é o feijão-fradinho que chamam, né? É um feijão meio rajado e que tem um gosto, um sabor assim de terra, viu? Não é gostoso o feijão não. Mas é o que encontra na região e que é a preço accessível para o trabalhador. Então eles pegam esse negócio, fazem uma panelada, como eles chamam. Põe dentro do, de um recipiente, põe o feijão, depois que o feijão já está meio cozido aí joga o arroz, faz uma misturada e aquilo que eles conseguem caçar, que eles comem qualquer caça, né, eles cortam também, jogam ali dentro e fazem aquela panelada e é aquela comida que eles comem.
D
 E nas regiões mais ricas lá do Piauí as pessoas se alimentam da mesma forma?
L
 Não. Eles têm uma alimentaçãozinha um pouco melhor, mas também, como existe muita deficiência de legumes, eles se alimentam normalmente do feijão, arroz e carne, porque lá o que há facilidade no Piauí é carne. Se alimentam muito de carne e de caças.
D
 Em todas as vezes que o senhor passou lá, o senhor, a sua alimentação era a mesma?
L
 A alimentação consistia nisso, viu? Embora eu conseguisse trazer de Campina Grande, eh, nós tínhamos uma cantina, então nós trazíamos de Campina Grande, feijão, arroz, um arroz melhor e conservas, né? Então nossa alimentação ficava nesta base e mais na carne.
D
 Agora, quando o senhor falou sobre madeiras, o senhor não se referiu a uma utilidade muito comum, que é a utilização pra fabricação de móveis. O senhor conhece tipo de madeira, eh, os tipos de madeira, como são utilizados (sup.)
L
 (sup.) Não, não conheço (sup.)
D
 (sup.) Na fabricação de móveis?
L
 Não, não conheço. Hoje em dia se fala muito na cerejeira e no jacarandá, né? São as duas madeiras que estão ornamentando as casas. Quando se manda fazer móveis ou encomenda móveis ou compra-se móveis, todo mundo sai pra essa história do jacarandá e da cerejeira. Já estão condenando a cerejeira, dizendo que ela é frágil, né, e o jacarandá é muito mais resistente. Acredito que o jacarandá seja resistente porque se não fosse assim aquelas igrejas de Ouro Preto, por exemplo, que têm móveis todos entalhados em jacarandá, os móveis já estariam destruídos, né? E até hoje eles conservam aquilo no mesmo estado de antigamente.
D
 O senhor falou da alimentação no Piauí. Tem alguma outra região que o senhor tenha conhecimento do problema específico da alimentação?
L
 De Ouro Preto. Eh, eu estive também um ano, a alimentação é similar à do Rio de Janeiro. Lá eles têm recurso. Lá a alimentação deles é a mesma utilizada ou empregada aqui no Rio. Ouro Preto é a mesma coisa, porque lá eles tem muitos meios, né? Outra alimentação que eu posso falar é de estação de águas, porque é na base do legume e da galinha, né? É quase que uma dieta. Todo dia tem galinha em hotel, né? Que é uma facilidade que eles tem muito grande de dar galinha. Só dão galinha, né?
D
 Agora pra terminar, outra coisa. Assim como as madeiras das árvores são industrializadas pra fabricar utensílios como móveis, alguns vegetais também são, são utilizáveis na indústria. O senhor conhece algum, pra fabricar, por exemplo, tecidos?
L
 Bom, que eu conheça pra a fabricação de tecido, que eu lembre no momento, só mesmo o algodão, né?
D
 Nenhum outro tipo de utilização (inint./sup.)
L

  (sup.) Cânhamo, cânhamo, né? Mas que eu me recorde assim é somente esses dois (inint.) não chegou onde queria, né?