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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Casa"

Inquérito 0144

Locutor 163
 Sexo masculino, 58 anos de idade, pais não-cariocas
Profissão: militar (Exército)
Zona residencial: Sul e Norte

Data do registro: 03 de abril de 1973
Duração: 45 minutos


Som Clique aqui e ouça a narração do texto


#D
 Vamos?
 #L
 Na... nasci em mil novecentos e quinze no bairro da Tijuca, na rua Conde de Bon... Bonfim, número quatrocentos e oitenta, em frente ao Tijuca Tênis Clube. Dessa casa não tenho nenhuma recordação. Só quando já me entendi é que eu (inint.) passei pela casa, nunca entrei mais. Atualmente ela está demolida e fizeram um edifício de apartamentos. Depois me mudei para Botafogo, na travessa Honorina, a única recor... recordação que eu tenho dessa casa foi uma explosão, que uma ocasião botaram uma bomba e houve o estouro. Houve aquela correria, também não me lembro mais nada.
 #D
 Botaram uma bomba? Como foi o estouro?
 #L
 Não sei. Botaram, ma... naquela época, mil novecentos e dezenove, mil novecentos e vinte, Bernardes, Epitácio Pessoa, né, aquela época pré-revolucionária e uma ocasião botaram uma bomba perto lá de casa mas (risada) a única coisa, recordação que eu tenho. Depois me mudei para o bairro de São Cristóvão, perto do, ah, ah, quartel do CPR, CPOR atual, na... naquela época era o regimento de cavalaria de guarda, onde meu tio foi comandante e como tal tinha o direito a uma casa perto do quartel. De lá também não, não me recordo quase, nada.
 #D
 O senhor morava numa casa?
 #L
 Numa casa, também não recordo.
 #D
 Muito tempo o senhor morou lá em São Cristóvão? (sup.)
 #L
 É, não, cerca de um ano, um ano e pouco. O comandante era, era mais ou menos essa, esse período em que ele ficava, um a dois anos.
 #D
 Essa casa do Andaraí, o senhor não se lembra nem por fora como ela era?
 #L
 Não, de... depois eu me mudei para a, perto da avenida Vinte e Oito de Setembro, na rua Duque de Caxias, numa avenida. Era uma casa pequena, meus pais eram pobres, aí eu me lembro perfeitamente, casa de dois quartos, uma sala, um quintalzinho, na época em que não havia água dentro de casa. Eh, não, não havia fogão a gás, era fogão a lenha, ou então se cozinhava com fogareiro, né? Eu me lembro de uma porção de meninos, companheiros, brincava numa vila, tinha uma porção de árvores, nós íamos pulando de um lado pra outro. Em seguida minha mãe tinha, meus pais tinham comprado dois terrenos na rua Amaral desde que eu nasci, tiveram aí possibilidade com a herança de minha avó ma... paterna de dar entrada e construir a casa em que nós moramos praticamente até hoje, meus pais, né? Aí dessa casa é uma casa muito grande, em centro de terreno, todas as árvores foram plantadas por nós, meus pais, eu e meus irmãos e também uma porção de crianças, tudo amigo, até hoje tem vários que nós nos correspondemos, nos visitamos. Nessa casa eu fiquei até me casar. Quando me casei, passei a lua-de-mel em Santa Teresa e foi o ba... bairro que eu elegi para moradia. Certo tempo quem ... Logo em seguida eu fui transferido para Itaju... Itajubá onde fiquei cerca de oito meses. Em seguida por motivo de doença da minha senhora eu voltei para o Rio, para fazer o curso de motomecanização. Depois fiquei como professor na escola até que veio a guerra e resolveram me transferir para o norte, Petrolina. Lá a casa foi uma surpresa e uma decepção. Ah, decepção porque no dia em que nós chegamos começou a chover e todas as casas na, na, em Petrolina são feitas de, são feitas de telha-vã, essa tipo colo... colonial em que o urubu, porque ficam muito secas, pisa, dá aquele pulo pra pousar e quebra a telha. E ninguém se preocupa em consertar nem substituí-las porque nós tivemos azar. No dia em que chegamos choveu torrencialmente. Eu, eu tive que dormir de guarda-chuva.
 #D
 Por quê? Chovia dentro de casa?
 #L
 Não, tinha todas as telhas quebradas, né? E comecei a imaginar coisas, como é que ia fazer, ah, aí o pessoal começou a rir muito. Não, o senhor vai ver, o senhor talvez nunca mais veja chuva aqui. E realmente eu passei quase dois anos lá e peguei outra vez uma chuva fora da cidade. Mas dentro da cidade nunca choveu mais, né? Basta dizer que diariamente quando se limpava a casa, varria, né, tirava-se até um balde de, de terra, que o chão também não é de, de, de taco, nem, nem é forrado de madeira, é, é feito de um tijolo quadrado, eles chamam mos... mosaico. Lá também o que me chamou muito a atenção foi a linguagem que ... Pelo menos o sertanista guarda muito a linguagem do português antigo. Várias coisas que eu conhecia com outro significado, por exemplo, ahn, ganhador, ganhador lá no sertão é esse carregador de mala. Ahn, banhos, né, é uma expressão também muito portuguesa que se vê naqueles livros oriundos lá de Portugal e que aqui no Rio não se usa mais essa expressão, né, é proclama.
 #D
 Hum.
 #L
 De lá de Petrolina eu, eu voltei aqui pro Rio onde passei uma temporada de cerca de quatro a cinco anos e depois eu fui para ... Morando em hotel porque naquela época não, não se conseguia casa, né, era época da guerra em que vinha muito estrangeiro para cá, davam lucro, eles compravam e pra o, o carioca era difícil conseguir uma casa em boas condições e barata, dentro do orçamento com que vivíamos. Por causa di... disso, né, acabamos cansando do hotel e resolvemos ir pra fora. Ainda não tínhamos possibilidade de receber uma casa e, e já do quartel onde eu fui, eu me fui pra Ponta Grossa, passei pouco tempo, um a dois meses, em seguida fui para Guarapuava onde fiquei cerca de dois anos e pouco. É no terceiro planalto de, do Paraná, uma cidade a mil e vinte metros de altura. Naquela época não tinha muito progresso, né, era tudo barrio (sic), barro vermelho. Quando nós íamos passear, eu era encarregado da construção de uma estrada, quando voltava e todos nossos colegas parecíamos pele-vermelha. A roupa era completamente cheia de barro. Pra tomar um banho ficava aquele caldo vermelho, né? Lá tam... depois de Guarapuava eu me mudei para o Rio Grande do Sul, Bento Gonçalves, a terra da uva, completamente diferente, uma terra mais de agricultura, peque... pequenos la... latifúndios, né, à base de colonos italianos, um pouco, ah, sem instrução mas muito cordiais. Gostei muito da cidade, onde havia muita uva. Na ocasião diziam que a, a agricultura tinha se deslocado de Caxias do Sul para Bento Gonçalves. Lá tive a oportunidade de provar diversas qualidades de vinho, todas fabricadas no local. Há até, há um posto do ministério da Agricultura destinado a este fim: experi... experimente... experimentação. Em seguida voltei para o Rio onde também passei uma temporada de mais quatro anos pra depois voltar a Vacaria, que fica na entrada do Rio Grande do Sul, até a expressão que usam lá é "porteira do Rio Grande". Lá já é uma região completamente diferente, de criação de gado, gado de raça, diversas procedências. Eu também lá passei três anos numa temperatura muito agradável e, e pela primeira vez na vida assisti uma nevada, que é um espetáculo muito bonito, completamente diferente do resto do Brasil, mas o frio é muito grande e pude até fazer uma idéia, talvez um pouco imprecisa do que deve ser uma tempestade de neve, porque eu gosto muito de ler, e na minha infância e mocidade eu lia muito Júlio Verne, principalmente aquelas viagens nos, nos pólos, pólo sul e que de vez em quando ele descrevia essas tempestades.
 #D
 As casas em Vacaria têm, eh, alguma maneira de ser interna pra preservar do frio?
 #L
 As, as casas geralmente são de duas espécies: as casas permanentes, pessoal mais rico, mais abastado, são de alvenaria, mas as nossas casas de, de oficiais, dada a mudança periódica de locais, eh, mais acampamento, são feitas de madeira, mas made... são confortáveis porque é, é de caixa dupla, fazem uma parede por fora e uma parede por dentro, de modo que fica aquele intervalo com, com ar, que preserva muito a temperatura. Além disso, quando o, o inverno era muito rigoroso usava-se também diversos aparelhos, para du... aumentar temperatura. É, é o que eu direi, uma, uma espécie de uma bacia onde colocam uma, uma resistência e com, com o reflexo, não é, o calor fica bem conservado dentro de casa. Há um outro, outro é de serpentina, que é feito à base de eletricidade e uma cir... circulação de água. A água esquenta e também irradia pra todo o quarto.
 #D
 Era grande a casa onde o senhor morava?
 #L
 A, a casa era muito boa. Eu, eu tinha, eu morava numa casa que tinha uma, uma sala de jantar muito grande, três quartos, uma copa grande, né, cozinha, tinha, havia cozi... o fogão a gás e fogão de lenha, fogão a gás é esse tipo de bojão, e um quintal com galinheiro, quarto de empregada, enfim, dava pra viver perfeitamente, não tão bem aqui, como aqui no Rio, mas dava pra viver.
 #D
 E as, as, os objetos que estavam dentro? Vocês levaram, compraram, já estava lá, já estavam lá?
 #L
 Não. Ne... nessa casa que eu estou falando em Bento, Bento Gonçalves e Vacaria a casa já era mobiliada. Nas, nas outras, Petrolina eu tive que levar daqui toda a mobília e le... encaixotei, já, já tinha casa mobiliada, le... levei muita coisa. Lá em Petrolina foi um sucesso tremendo, não é, porque eles não conheciam o, o móvel envernizado, esse, esse verniz brilhante, né, de modo que basta dizer pra você que eu comprei aqui o móvel parece que por cento e vinte cruzeiros, cruzeiros daquela época, né, e quando saí de lá eu tenho a impressão que eu vendi por setecentos e tantos e porque vendi ao primeiro que apareceu, porque depois quando souberam que eu queria vender tinha gente oferecendo muito mais, mas eu já tinha dado a palavra e vendi.
 #D
 O senhor se lembra exatamente que móveis o senhor levou?
 #L
 Eu, eu tinha o, a sala de jantar e o quarto de dormir.
 #D
 Eu queria que o senhor, eh, detalhasse mais ainda a sala de jantar, as peças, né, porque é muito importante pra gente.
 #L
 A sala de jantar era constituída de uma cristaleira, daquele modelo antigo, né, um, acho que eles chamam balcão, né, é aquele que ...
 #D
 Servia pra quê?
 #L
 Baixa, é, com duas portas, pra guardar louça também, né? A mesa elástica com seis cadeiras. Eu era sol... era casado, não tinha filhos, de modo que dava perfeitamente bem, não é? Ah, os móveis de quarto era a cama de casal, não é, um armário grande e uma penteadeira e lá nós fomos comprando mais coisas, fomos comprando por exemplo, rede, que é muito bom dormir em rede lá no sertão, né, cadeiras de balanço, cadeiras de, de, de vento, como eles chamam lá também.
 #D
 Por que eles chamam cadeira de vento?
 #L
 Olha, não sei lhe dizer. É uma cadeira com um encosto todo de lona.
 #D
 Ah, eu conheço.
 #L
 Por... por que é que chamam isso? Não sei, talvez porque seja mais fresco.
 #D
 Como ela é? Ela é fixa, móvel ...
 #L
 Não, é móvel. Vo... você vi... conforme o balanço que você der no corpo, né, ela vai tomando uma posição até ficar como se fosse uma cama esticada. E, e a rede também, né? Não sei se você já dormiu em rede. Você é nortista? Você não, né?
 #D
 Não, sou do interior (sup.)
 #L
 A rede precisa saber dormir. O cario... o carioca não consegue, só com, com hábito. Dizem até que dá pra dormir casal. Isso eu nunca me ajeitei, sabe? Sozinho eu conseguia dormir e principalmente durante o dia. Em termos de uma tecnicazinha, não, não fica ao comprido, fica meio atravessado, aí você consegue estirar bem a rede. Lá no sertão eu, eu provei pela primeira vez uma fruta que talvez você também goste: o umbu. O um... umbu, ah, n' "Os sertões", de Euclides da Cunha tem aquelas descrições que são muito chatas (riso), desculpe a expressão, mas o, o "Os sertões" se você pegar pela primeira vez você não consegue ler, principalmente se for jovem. Eu não consegui. Eu ganhei "Os sertões" com quinze anos de idade e só fui ler e pegar de fio a pavio depois de vinte e quatro anos, não é? Porque uma ... Tem uma explicação, não é? Lá a gente vê a fauna e a flora, então aquela descrição que o Euclides da Cunha faz te identifica. Há uma expressão: pé de pau. Pra você, você não pode imaginar o que é um pé de pau. Ela sabe o que é, não sabe não?
 #D
 Pé de pau?
 #L
 Pé de pau é, é uma árvore que não tem folha. É um mandacaru. Então o nortista chama de pé de pau, principalmente no sertão. E tem aquela folhagem do sertão que parece que pegou fogo, não é, tocou fogo, você vê aquilo tudo meio preto, meio cinza. Dá uma expressão sinistra, né, mas acontece que quando chove, no dia seguinte, você vê tudo verdinho, e dois ou três dias depois você já vê florindo. Aquelas, nasce aquelas florezinhas, eh, cor-de rosa, muda o aspecto completamente. Tanto que no, no, no sertão, eu aqui do, carioca, acostumado a viajar pra interior aqui de, perto, Petrópolis, eh, eh, sul de Minas e tinha muita saudade de uma coisa que aqui a gente não tem saudade até torce pra não fazer, não, não haver a chuva, a chuva fininha, né? Lá era a maior saudade que eu sentia. E quando, quando, e do cheiro do capim gordura. Na... não sei se você já, já andou na, no sul de, sul de Minas, aqui no interior de, do estado do Rio, ah, onde tem criação de gado, né, é muito comum aquele capim gordura e quando chove fica um cheirinho muito agradável.
 #D
 Nessa casa, eh, em relação a utensílios, por exemplo de cozinha, como é que vocês resolveram? Compraram lá, levaram ...
 #L
 Não, u... utensílios de cozinha, de um modo geral, nós levamos alguma coisa e complementamos com, lá mesmo. Por exemplo, filtro. Ah, lá há um, há um filtro de arenito, não é? Você ... Con... constituído de duas, de uma bacia e um grande jarro, né? Despeja se a água no, no, na bacia de cima, que é grossa, não é, e ela filtra e cai no jarro de baixo que o pessoal utiliza pra beber e pra todo serviço de casa. Mas fica uma água, que era do rio São Francisco, parecendo assim uma limonada e nós aqui com hábito de carioca de beber aquela água filtrada, límpida, né, sentíamos muito isso. E então a solução foi comprar um filtro, que também foi uma grande novidade lá pra terra, porque eles não conheciam. Tive que mandar buscar em Salvador, um filtro com duas velas, não é? Então todo mundo de vez em quando mandava, pedia água, um pouquinho dágua, mandava uma moringa pra gente encher, principalmente quando tinha doente em casa, né? Quando, quando eu voltei aqui pro Rio, eu dei de presente o, o filtro ao prefeito da cidade, que tinha se tornado meu amigo. É. Por exemplo outra coisa muito interessante é nenhuma casa lá em, em, ou pelo menos pouquíssimas casas lá em Petrolina tinham banheiro e água canalizada, né? E depois que eu fiquei um pouco no hotel eu aluguei uma casa e tive que fazer obras, fazer o banheiro, botar água na cozinha e quando eu saí e disse: olha, disse ao proprietário, você lucrou muito porque ficou com todos esses melhoramentos. Ele me disse: ah, nós não estamos acostumados com isso.
 #D
 Como é que eles resolviam esse problema da água?
 #L
 Ah, é ba... bacia. O, a água lá em ... Agora, não, agora já es... está civilizado, já tem tratamento dágua. Mas naquela ocasião a, a água era transportada em jegue, naquele burrinho pequeno, né? Eram quatro barris de cerca de uns dez litros cada um, né? E o, havia o aguador, então ele ia no rio São Francisco, pegava a água, enchia os barris e vendia todo, a carga dágua, como eles chamavam, por quatrocentos réis. Hoje corresponde a quarenta centavos. Então te... chegava na calçada, tirava, levava pra dentro da casa, molhava toda a casa, né, que realmente o depósito era no quintal. E, e banheiro, né, eles tinham um buraco fora também assim, era um desconforto tremendo. Atualmente eu nunca mais fui lá, mas já tenho informações que já montaram sistema de canalização d'água e já, já está, já, há água encanada pra maioria da cidade. Já também existe a irrigação para cultura. Naquela época já havia alguma coisa, feita com dificuldade, por exemplo, uva, uva moscatel, eu tive a oportunidade de provar, é exelente uva. E melão. Melancia. Banana mesmo. Beterraba. Eles plantavam lá em pouca quantidade, porque o pessoal nortista não gosta de, de verdura, né? Ah, nortista é feijão, arroz e jabá e, e um pouco de farinha, está, está bem alimentado, né? Mas eu, carioca, sentia muita falta de verdura e dava pra, pra, pra arranjar alguma coisa, né? Um outro aspecto que eu me lembro bastante: uma ocasião nós arrranjamos uma couve que eles chamavam por, acho que era orelha de burro. Então fomos comer como uma novi... uma grande novidade. Resultado: toda a família ficou envenenada, menos eu, porque no dia não comi. Houve qualquer coisa lá, parece que eu estava meio indisposto, só tomei chá com torrada e o resto da família, inclusive a empregada, de noite todo mundo estava meio tonto, meio zonzo, né? E o médico foi lá e verificou que o, essa couve tinha qualquer substância estranha, entorpecente. Não, não deu pra matar, mas deu pra deixar assim meio zonzo, inclusive uma senhora que estava hospedada lá, era a senhora de um, de um colega meu, sabe, ele estava no mato acampado e pediu pra senhora ficar lá e ela também ficou assim.
 #D
 Agora, voltando pro Rio, o senhor mora há vinte anos em Copacabana.
 #L
 Moro.
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 O senhor mora em casa?
 #L
 Não, eu moro em apartamento.
 #D
 No, no mesmo apartamento?
 #L
 Moro.
 #D
 O senhor podia descrever esse apartamento pra gente com detalhes?
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 O, o meu apartamento tem cerca de cento e vinte metros quadrados, tem um 'hall' de entrada, né, depois tem uma saleta em que eu coloco uma vitrola e uma vitrine. Em seguida tem um salão, que é um salão de estar de três metros por quatro, por quatro metros, mais ou menos e, e, e em seguida também tem uma varanda que eu atapetei e fi... É continuação do, do, da sala de estar, que é incorporada, né? Nessa sala tem um piano, tem um espelho grande, desses que se usa em toda casa, né, tem um globo antigo, eh, tem um dunquerque.
 #D
 Tem o quê?
 #L
 Dunquerque.
 #D
 O que que é?
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 O, o dunquerque é um móvel, eh, todo trabalhado, vermelho, com tampo de mármore e, e o meu é de vinhático. Não sei se você conhece vinhático. O vinhático é, é uma madeira que você abre assim e sente o cheiro de vinho. Esse, esse móvel eu fiz um bar, mandei botar espelho. Em seguida tem uma, uma saleta que nós transformamos em saleta de almoço. Era um corredor, eu aumentei um pouquinho, tem cerca de três metros por dois. Tem uma mesa, cadeiras e também tem um, um, um móvel pra guardar louças. E primeiro tenho três quartos, dois de frente, um onde dorme, onde dormia duas filhas, porque uma casou, com armários embutidos e o outro da frente também é onde nós dormimos, o casal. E o, o último quarto é de fundos, de fundos, onde dorme o, o rapaz e onde também tem televisão e é também uma, uma sala de estar, porque é menos barulhento. Tem um banheiro.
 #D
 Como é o banheiro?
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 Bom, o, o banheiro tem um box, né, eu, eu acabei de reformar há dois anos, há dois meses atrás, né, botei esse, esse azulejo azul e verde com desenhos cor-de-rosas, né, até o teto, rebaixei o teto, botei louça verde-musgo, botei um arma... um balcão pra botar a pia, né, um espelho todo desses de três faces, né, e um box separado.
 #D
 Só tem box, não tem ...
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 Tem banheira também. Tem banheira. Muita gente já está abolindo banheira, mas eu já estou velho e já tive uma coisa que é muito dolorosa, cálculo renal. E o cálculo renal ... Deus as livre de terem esse negócio, porque é horroroso, é, é pior do que ter um filho. Dizem. A dor não, não há jeito de passar. Você se rola, rola, rola e a única maneira de aliviar um pouquinho é você mergulhar em água quente. Então por isso é que eu não, não tirei a banheira.
 #D
 A água, a água quente, como é o sistema que o senhor usa na sua casa? Tem duas possibilidades, né, algumas pessoas em casa têm um tipo de ...
 #L
 A, a água quente tem, eu tirei o aquecedor de dentro do banheiro e botei na área porque aí esse negócio de que a pessoa esqueceu de ligar morreu asfixiada. Então pra evitar isso tirei e pra ficar mais bonito também o banheiro, né, dá outro aspecto. Ah, eu tenho chuveiro, jato muito bom, muito forte, porque eu moro no sétimo andar e o edifício é de doze andares, de modo que já dá uma certa pressão. E no, no banheiro eu tenho aquela alternativa de água quente e água fria.
 #D
 E a cozinha?
 #L
 A, a cozinha também está reformada, toda com, com armários embutidos e a minha filha é arquiteta, de modo que ela dá uns palpites também, eu também dou os meus porque eu tenho jeito pra engenheiro, pra arquiteto. Pego os livros dela, né, então nós reformamos e fizemos um negócio funcional. De um lado botamos uma pia de aço inoxidável, com armário embaixo meio virado, inclinado, a... a... atrás de uma porta fizemos um armário pra botar os gêneros e o resto foi um armário embutido de porta de correr pra botar panela e louça que não se usa, vinho e enfim toda essa tralha de cozinha.
 #D
 E o resto das dependências?
 #L
 No outro lado tem ge... tem geladeira, tem uma mesa grande, não é ... Relativamente grande, pra cozinha, né, onde dá pra, onde dá pra trabalhar e também pra tomar café. E fi... finalmente tem uma área de serviço, que é relativamente boa e em ele, de um lado fica o banheiro da empregada, que também foi reformada, foi reformado. Eu botei todo azul até o teto também, botei (riso)
 #D
 É igual o banheiro ...
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 Não, é, o azulejo é azul, mas é inferior ao de dentro, né?
 #D
 E as peças são as mesmas?
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 Não, o ba... banheiro de empregada geralmente tem chuveiro e o sanitário, né? Eu botei mais uma, uma torneira e botei o, o armário que era de dentro eu passei pra fora. Ne... nessa área tem um tanque, tem a, a máquina de lavar roupa e tem um armariozinho com tampo de, de mármore onde põe a roupa lavada. Depois tem o quarto da empregada, pequeno, dois metros por dois metros, né, quatro metros quadrados, onde tem um armário embutido pra empregada e tem uma cama também que eu fiz basculante, de modo que quando não tem empregada ou durante o dia essa cama é levantada e a, a peça fica maior.
 #D
 Agora outra coisa, o seu apartamento, ele, ele, em relação à pintura, ele tem uma cor só ou os cômodos têm pintura diferente?
 #L
 Não. O, o meu a... apartamento teve diversas fases. Logo que eu comprei ele foi pintado a gesso e cola, que era moda na época e não havia o advento ainda dessas tintas modernas, tintas, ah, laváveis, né? Na primeira reforma eu já mudei, né, me convenceram e depois fiquei muito satisfeito porque devia raspar tudo e botar Paredex, que era muito mais ...
 #D
 Paredex como é?
 #L
 Paredex é uma tinta que você põe dentro de um balde, põe, joga um pouco de água, mistura, quer dizer, qualquer um, inclusive você, pode pegar uma broxa e pintar e, e sai bem pintado.
 #D
 E a cor?
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 Nessa ocasião eu pintei um quarto de cada cor, né? Pintei a sala de jantar de verde. Pintei o quarto da, das filhas de cor-de-rosa Pintei o meu de azul e pintei o quarto do menino de amarelo e o resto das, das dependências de branco. Mas atualmente eu resolvi pintar tudo da mesma cor. Porque dá ... Não, e, e tem uma, uma ra... uma explicação. É que o, a, a casa pintada de uma cor parece maior. É impressionante. E repousa mais. E to... todas as, as, as, as partes de madeira de claro, de branco, às vezes eu pinto de branco, às vezes eu pinto de, de gelo, varia um pouco.
 #D
 Outra coisa, eh, a arrumação do apartamento de vocês. Vocês chamaram alguém pra, pra dizer como, como deveria arrumar os móveis, vocês mesmos que arrumaram, escolheram os móveis ...
 #L
 A arrumação quando eu comprei foi muito precária. Eu comprei o, o apartamento e eu era capitão e com dificuldade. Então o que nós tínhamos é que botamos dentro do apartamento. À, à medida que eu, que eu fui ganhando mais, eu, eu fui melhorando o apartamento. A primeira medida que tomamos foi acabar com móvel. Toda dona de casa reclama muito isso, né, e parece que modernamente o, o móvel, pelo menos de quarto e de certas peças está sendo abolido pra fazer-se armários embutidos, né, e, e camas sem pé, com gavetões onde a sujeira não entra embaixo. Então foi dentro des... dessa idéia é que nós remobiliamos o apartamento. Então ca... cada um deu seu palpite, né? O quarto das, das meninas, né, foi preparado pela filha que já era estudante de arquitetura, né? Ela pegou lá a documentação dela, os livros, revistas e desenhou o quarto e nessa base nós chamamos o carpinteiro e mandamos fazer.
 #D
 Como é o quarto dela?
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 O, o quarto ela atapetou de amarelo. É, chama ouro, né, quase a mesma coisa, porque não, depois desbota e fica amarelo mesmo, né? Botou uma estante correndo numa, na janela que dá pra rua e, e encostado na, na, nessa estante botou duas camas modernas sem, sem pés e com dois gavetões. E em cima, em vez de botar colchão ela comprou esse colchão que eles chamam, esse que anunciam muito por aí e encapou, com um negócio vermelho e fez almofadas também vermelhas. De modo que ficou com aspecto muito bom. E do outro lado, que é a entrada, né, ela fez o armário embutido, até o teto, dois armários, um pra cada moça e em cima pra botar mala e bugigangas.
 #D
 Agora eu queria saber uma coisa. Vocês têm amigos, vocês recebem amigos em casa pra jantar ou pra almoçar?
 #L
 Freqüentemente, não.
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 Mas assim...
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 Mas pe... periodicamente, principalmente no, nos aniversários ou assim numa data especial nós ... Minha senhora gosta muito de cozinhar e fazer gulodices. E ela é filha, ela é neta de português, né, tanto, dos dois lados, da mãe e do pai, de modo que herdou aquele aparato do portug^ues, que gosta de fazer muita comida com fartura, né? E dentro disso ela prepara uma lauta refeição, com uma porção de pratos, eh, bacalhau a trambolhões e peixe, enfim, eh, carne assada, eh, risoto e faz jan... jantar americano.
 #D
 Sim, isso que ia perguntar.
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 Porque atualmente não há mais mesa que possa, que se possa ter em casa, né? E é mais cômodo também cada um servir o que quiser e a quantida... e a porção que julgar mais conveniente.
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 Nessas ocasiões vocês usam uma, uma louça que seja especial ou então, além da louça, eh, roupa de mesa.
 #L
 Não, durante a nossa vida nós fomos acostumados a uma porção de coisas. Por exemplo, a questão de louça. Lá em casa tem quatro aparelhos que tinha lá no sul chamam coberta.
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 Coberta?
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 Coberta de mesa, né, tem um com monograma gravado todo a ouro, vinte e quatro pratos, é um aparelho completo, né, que eu comprei lá no Rio Grande do Sul. Não é, não é bem Rio Grande do Sul, é em Santa Catarina, no (inint.) passei por lá e havia negócio do batalhão com essa fábrica e encomendei, eles faziam um desconto bom pra todo mundo, da ordem de trinta por cento, eu achei vantagem, mas antes eu já tinha comprado na unidade mais um também todo florido. Depois minha senhora resolveu comprar um branco também pro diário. E finalmente tem um que eu comprei desde que me casei e ainda até hoje ainda tem muita coisa, né? De modo que normalmente quando dia de festa ela pega esse mais bonito, esse todo dourado, pega o faqueiro de prata noventa, porque também nós temos, né, e às vezes mistura, quando não dá, põe outros.
 #D
 E a roupa pra mesa?
 #L
 Bom, a questão de roupa de mesa, quando nós estivemos em Petrolina havia muita rendeira e muita bordadeira, então minha senhora na ocasião ficou com a mania de fazer roupa de mesa, então mandou bordar várias toalhas com linho, comprou muita renda que ela até hoje ela usa e conserva.
 #D
 A mesma, a mesma coisa pra roupa de cama?
 #L
 Não, roupa de, de cama já evoluiu, né? Antigamente a moda era branca, mas a dona de casa chegou à conclusão que roupa branca dá muito mais trabalho pra lavar, principalmente quando lava em casa, né? E quando vai pra lavadeira, a lavadeira toca água sanitária pra branquear. Então a solução foi comprar roupa de cor, principalmente essas listadinhas que não chateia muito e, e sempre está limpo. (risos)
 #D
 Agora só mais uma coisa: em relação ao seu apartamento, problema de iluminação, como é assim (inint.) sala, como é?
 #L
 Não, o, a, o apartamento normalmente durante o dia tem uma iluminação muito boa, luz natural do sol. Todos os quartos dão, dão ... Têm janela, né, e são muito bem iluminados. Agora a, a luz artificial eu tenho todas as peças com duas lâmpadas de cem velas cada uma, quer dizer, duzentas velas pra, pra um quarto é uma iluminação muito boa, né? Além disso, quando precisamos trabalhar e mais atenção nós botamos uma lâmpada de mesa com, com duas lâmpadas, com um abajur com duas lâmpadas.
 #D
 Agora, isso que eu ia perguntar, essa iluminação é direta, indireta, se ...
 #L
 Não, não.
 #D
 Porque as lâmpadas não ficam expostas, não é verdade?
 #L
 Não, é, é, é lâmpada comum, mas o, o abajur é todo de vidro, né?
 #D
 Hum.
 #L
 De modo que difunde bem a luz.
 #D
 Vocês não têm na, no apartamento de vocês um tipo, não desse tipo comum que fica preso no teto mas, mais sofisticado, mais ...
 #L
 Olha, já tivemos, sabe? Mas minha senhora não gosta de muita coisa dentro de casa que encha, encha de poeira e dê trabalho. De modo que dentro daquela idéia que eu já lhe dei, né, tudo ela procura fazer muito prático e um abajur a... assim desses sofisticados dá trabalho, suja mais, então ela prefere não ter ...
 #D
 Hum, hum.
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 A não ser na, na sala de estar em que há, há du... duas mesinhas de cabeceira, mas não, não é mesa de cabeceira, negócio de enfeite, né, é uma pintura italiana to... toda trabalhada, né, e num deles tem uma estatueta e no outro tem um, uma peça também que representa uma primavera e em cima tem um abajur com uma lâmpada.
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 O senhor tem carro?
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 Tenho.
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 O seu carro fica no seu edifício mesmo?
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 Fica, tem garagem dentro do edifício, não é privativa, é de condomínio, mas dentro da, do critério estabelecido eu fiquei com uma vaga e enquanto tiver carro pago um aluguel e estou com a vaga garantida.
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 E o seu edifício, ele tem área livre embaixo? Porque alguns edifícios, no primeiro andar o apartamento sempre tem (sup.)
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 Não, o meu, meu edifício é antigo, foi, sob esse aspecto de garagem pouco, mal construído. A entrada foi mal projetada e, e com certas vantagens, né? Isso trouxe um benefício pra todos nós porque os carros grandes, princi... principalmente Kombi e Rural, não entram no edifício. Não dá altura. Não tem gabarito. Então a maioria dos carros é sedã, Volkswagen. Dá mais carros, mas dado o número de colunas a quantidade de vagas é relativamente pequena, porque nós somos quarenta e quatro condôminos e só há vinte e cinco vagas. Mas não há briga, todos estão mais ou menos satisfeitos. Só uma, uma desvantagem que eu não tenho ... É que além da, da garagem subterrânea, atrás do edifício eles fizeram uma outra garagem no terreno onde eu estou com meu carro. De modo que não tenho nem a preocupação de quando chove porque chovendo muito lá alaga, né? E eu não me, não me preocupo. Só às, às vezes não posso entrar ou sair do edifício, mas isso é uma questão de um, dois dias.
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 Existe alguma área pras crianças no edifício?
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 Praticamente não, porque nessa área de trás eles brincam lá precariamente, mas muito perigoso, né? Onde tem manobra de carro não é só privativo de criança, é um, dá trabalho aos pais, dá trabalho aos motoristas e preo... preocupação ao síndico porque a reclamação é muito grande.