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PROJETO NURC-RJ

Tema: "A cidade e o comércio"

Inquérito 0140

Locutor 159
Sexo feminino, 55 anos de idade, pais não-cariocas
Profissão: técnica em educação
Zona residencial: Norte

Data do registro: 27 de março de 1973

Duração: 40 minutos

Som Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 Tá.
L
 Você quer que eu fale sobre a cidade, né?
D
 Hum.
L
 A cidade que eu acharia gostosa (sup.)
D
 (sup.) Isso, isso (sup.)
L
 (sup.) A cidade que eu acharia ideal. Bom, era uma cidade em que não houvesse trânsito (inint.) menor, é um trânsito louco. Barulho demais. Deixa todo mundo doente. Que não houvesse esse acúmulo de pessoas, esse acúmulo de carros, dificuldades pra tudo. Inclusive eu já morei num Rio de Janeiro muito melhor do que esse agora. Vocês são moços, não se lembram com certeza, mas o Rio de Janeiro de uns, deixa eu ver, de uns trinta anos atrás era uma cidade boa pra se viver. Você tinha todas as facilidades, pegar condução, o atendimento nas lojas, os fregueses vinham na porta e exigiam que se comprasse aqui e ali. Hoje em dia a coisa mudou de figura, né? Hoje em dia você é quase que maltratado e quando você encontra uma pessoa delicada você chega a agradecer, pois uma coisa que devia ser normal hoje em dia não é. Você já não encontra, é uma má vontade, todo mundo está nervoso, todo mundo está tenso. Também eu entendo, porque as dificuldades são as mesma pra todo mundo. A vida é difícil, mormente pra os que estão na classe mais baixa que esses sofrem mais, coitados. Então, você encontra uma má vontade enorme em toda parte, é o, o homem do ônibus que não tem ... Motorista que está impaciente, é o cobrador que não é educado, é o vendedor que não, não atende bem na loja, na, nas compras. Todo lugar é assim. A gente ... Eu gostaria hoje em dia de morar numa cidade pequena. Petrópolis, por exemplo, eu acho formidável. É uma ... Tudo fácil, você vai a pé pra todos os lugares, compra o que deseja, os vendedores são muito atenciosos. E tem todo recurso. Também morar em lugar que não tem recurso eu não gosto, não, eu já tive, já morei em Itaipava, nós tínhamos uma casa fora e eu achava ali muito difícil tudo, porque ... O atendimento médico principalmente era muito difícil porque não havia. Isso eu não gostaria não. Quero uma cidade que tenha bastante conforto, que tudo seja fácil e, e ao mesmo tempo que tenha mais quietude, solidão, menos barulho, menos poeira, menos poluição, essas coisas todas hoje em dia você aca... acaba ficando impressionada. Vai tomar um banho de mar, o mar está poluído. Você está respirando, ah, o grau de poluição atingiu a um, um grau extremo. Você já fica preocupado com aquilo. Se você come legume, ah, o legume está estragado, está poluído porque botaram veneno, botaram D... D... DDT, porque botaram inseticida. Então essas coisas vão tornando assim a vida difícil e desagradável, mas eu acho que isso é mal das grandes cidades. Então sobre cidade eu acho isso, eu acho que o ideal é a pessoa viver numa cidade pequena, numa cidade onde você encontra todos os recursos e ao mesmo tempo não tenha esses defeitos das grandes cidades.
D
 Dona L., a senhora poderia descrever a sua casa em Itaipava?
L
 A minha casa em Itaipava? Olha, nós começamos a casa do nada, porque nós compramos um terreno, aliás um terreno muito gostoso. Era um terreno de quatro mil e quinhentos metros quadrados. E fizemos uma casa na parte mais alta do terreno, era uma casa de um andar só, com um, um 'living' bastante grande, uma sala de jantar menor, três quartos pequenos e dois banheiros. A casa em si não tinha nada de especial. Uma cozinha boa, uma copa, etc. e tal. Mas o, a parte mais gostosa da casa era o jardim. O jardim ficou muito bonito mesmo e, e nós tínhamos orgulho daquilo porque tudo plantado por nós mesmos, né? (sup.)
D
 (sup.) E a cercania (sup.)
L
 (sup.) Planejado (sup.)
D
 (sup.) A cercania como era?
L
 Havia bastante casas ali porque era um, era um loteamento, era o Retiro do Ribeirão Grande. Agora nossa casa por exemplo ficava numa esquina, a esqui... numa esquina que tinha um feitio de um dê, então na parte reta do dê é que eu tinha vizinho, do lado. As casas eram mais ou menos separadas, eram isoladas e não havia muito convívio não, cada um vivia pra si. Mas havia tanta coisa pra se fazer no jardim que nós fizemos uma parte do jardim muito grande, era uma parte que era um declive, então aquilo tudo foi gramado e nós fomos fazendo conjuntos de planta com bastante cores e jardim e canteiros bem floridos. Uma parte ficou pra pomar e uma parte ainda de horta. E ainda tínhamos um galinheirozinho. Aquilo ficou muito gostoso mesmo, na época de primavera, setembro mais ou menos lá em cima, aquele jardim ficava maravilhoso de cores, de flores. E eu tive ocasião de ver lá em cima até contato com a natureza, coisas belíssimas, lindíssimas, de pássaros botando ninho na varanda, do beija-flor vir e, e ensinar os filhinhos a, a, a voar. Coisas lindas! Vi o vôo nupcial de uma abelha que eu nunca tinha visto (sup.)
D
 (sup./inint.) nunca vi.
L
 Também nunca tinha ... Eu ouvi um zumbido, um pouco assim muita gente trabalhando, aquilo me atraiu e eu fui espiar, aí eu vi quando eles, eh, a, a rainha saiu de dentro da colméia e voou e o, os zangões foram todos atrás dela, mas assim uma disparada, mas mesmo aquele barulho como se fosse assim uma fábrica trabalhando: vu vu vu vu vu vu, tudo em disparada, e aí perde de vista, né? A saída também das, das formigas quando elas vêm pra botar os ovos que saem assim em bandos feito umas loucas e que depois cavam na disparada na terra pra colocar os ovos o mais depressa possível. E nós atrás porque senão elas vão, iam comer a horta toda, né? (sup.)
D
 (inint./sup.) é? (sup.)
L
 (sup.) Muita coisa interessante que você quando está assim em roça, quando (sup./inint.)
D
 (sup.) E a, a cercania da sua casa na Tijuca também, o bairro?
L
 O bairro em si? Bom, o, a Tijuca na época em que eu estive lá, dizem que de três anos pra cá já mudou muito também, era, era muito mais sossegado porque aqui em Copacabana, porque a minha rua era inteiramente residencial não havia casa de comércio, eu morava na rua Carlos de Laet, que é uma rua paralela à Conde de Bonfim. Então era uma rua pequena, uma rua que não tinha saída, no final fazia uma volta e nós morávamos justamente numa das casas da volta. Então, quer dizer, eu fui pra lá quando o meu filho, logo que ele nasceu, ele se criou ali, era gostoso, tinha aquela pracinha ali defronte, onde ele brincava à vontade. O carro só entrava os dos moradores, mesmo assim já entrava com certo cuidado, e ao mesmo tempo eu tinha facilidade pra tudo. Porque atravessando a rua que ficava quase que, quase que defronte de minha casa chegava em Conde de Bonfim onde há toda espécie de comércio e de condução. Mas lá era muito bom também. Eu vendi propriamente essa casa ... Eu tenho pena porque é casa, é melhor do que apartamento, tem ... Apartamento dá muita confusão. Porque todos os meus parentes vieram pra cá inclusive meu filho que casou, que teve filhos (inint.) tinha netinhos, eu fiquei com pena de morar longe porque eu acho que devia de aproveitar essa época mesmo de lidar com a criança. Vim por causa deles, agora lamento muito porque acho que casa é mil vezes melhor do que apartamento.
D
 Hum, hum.
L
 Eu tentei comprar uma casa aqui, mas as casas aqui estão absurdamente caras, né?
D
 Claro que é.
L
 Uma casa como eu tinha na Tijuca aqui não, eu não encontrei de maneira alguma. Outro dia eu fui ver uma, mais ou menos semelhante à minha, eles estão pedindo um bilhão pela casa.
D
 É. Não é possível.
L
 Não é possível. Casa com jardinzinho, quintal, aquela coisa toda, mas eu desisti e ...
D
 Como é a rua Carlos de Laet?
L
 (tosse) É uma rua pequena. A rua te... ah, se não me engano terminava no número sessenta e cinco, então você vê que era uma rua pequena. Se você for ver era uma rua que não tinha saída e terminava numa volta que formava como se fosse uma praça. Havia poucos apartamentos, deixa eu dizer a você quantos precisamente: um, dois ... Havia três pr... três prédios de apartamentos pequenos porque o gabarito era baixo e todas as outras casas eram casas residenciais.
D
 Hum, hum.
L
 As do final exatamente eram as mais novas, onde estava a minha, que as do começo eram casas mais antigas, depois é que eles abriram a rua com esse pedaço fazendo a voltinha lá perto da nossa e então nós com... compramos o terreno pra fazer essa casa lá. Uma casa boa, nova (sup.)
D
 (sup.) É calçada a rua? (sup.)
L
 (sup.) Ah, completamente calçada.
D
 E do, do lado tem, tem calçadas e ruas?
L
 Tem. A rua ficava bem mais alta do que as outras, eu ... É até uma coisa interessante, quando nós compramos o terreno, o terreno tinha trinta e cinco metros de fundo, e os primeiros vinte metros, é, deve ser mais ou menos uns vinte metros, ficava numa altura, depois nós descíamos uma escada pra passar pro quintal, o resto do quintal, que ficava muito abaixo, correspondendo então à rua paralela à nossa.
D
 Hum, hum.
L
 Então era uma rua que não havia possibilidade de encher nunca, né, porque ficava bem mais alta. E (inint.) durante algum tempo aquilo funcionou como o quintal da nossa casa, depois, quando a minha sogra perdeu o marido, que veio morar comigo, nós aterramos esse pedaço e construímos lá atrás um apartamento pra ela. Mas vê que a casa tinha o corpo da casa na frente, ainda tinha um pátio bastante grande e, no final, nós construímos um apartamento pra ela aí (inint.) garagem embaixo, quarto de empregada, lá tinha quarto, tinha sala, tinha banheiro. As casas eram todas muito boas. E ali não há perigo de botar abaixo não porque o gabarito é baixo e o pessoal não se, não se interessa por comprar aquilo.
D
 Nas, nas suas viagens a senhora normalmente visitava que edificações? Paris, por exemplo.
L
 Paris, eu posso dizer a você que eu conheci de Paris tudo, de cima pra baixo e de baixo pra cima, de baixo do metrô e por cima, que eu levei bastante tempo lá. Meu filho nesse momento estava trabalhando em Paris, ele e a senhora estavam trabalhando lá. Eu fui fazer uma viagem de excursão, depois eu deixei a excursão em Paris, o pessoal seguiu (vozes). Eu em Paris encontrei cicerone porque minha filha, minha filha não, minha nora, podia ser filha mas não é, e meu filho estavam lá. Eu então fiz aquelas viagens, aquelas, aqueles passeios habituais, né? Que é a Folie Bergère, o, o castelo, aquela coisa toda e tal, mas depois que a excursão foi embora então eu comecei a conhecer Paris mesmo. Nós tomávamos o metrô e (inint.) pra lá e pra cá, pra todos os lados de Paris, pra conhecer tudo (inint.) que eu fui ao Marché-aux-Puces, fui aos, aos museus que eles não tinham nos mostrado. Fizemos 'shopping', todas aquelas lojas, não só nas, nas, nas ruas mais grã-finas mas também nos lugares mais baratos assim e nós estávamos bem no centro ali perto de, da, da (inint.) Lafayette, daquelas casas todas, nós fomos conhecendo tudo, inclusive coisas que eu acho que muita gente não conhece de Paris, como um jardim que nós fomos, que é uma espécie de um jardim botânico, que eu nunca vi das minhas amizades ninguém falar nesse jardim que é uma beleza, um vale também um tanto ou quanto mourisco, nós fomos fazer esse passeio, eu conheci tudo, passeei muito, demais em Paris, conheci o mundo de verdade, nós ficamos lá uns, uns quinze dias, deu pra conhecer, eu saía de manhã, de tarde e de noite, eu só ia pro hotel pra dormir, pra ver que deu pra conhecer, pra saber tudo direitinho.
D
 Em Paris, se a senhora tivesse que descrever o local onde a senhora mora aqui no Rio atualmente, como é que a senhora faria?
L
 Bom, eu diria que eu moro no, no bairro mais populoso. Eu acho que é, não sei se é não, mas eu acho que é (inint.) maior, né (inint.) é Copacabana. E fica muito próximo do mar, aqui a praia é muito bonita, a praia de Copacabana eu acho linda. Eu ... Na França (interrupção/telefone). Pois é, então eu estava falando sobre as praias, aquelas praias da França, aquelas todas, Côte d'Azur, Riviera francesa, aquilo tudo, aquilo não se compara com Copacabana não. Não tem essa extensão, de, de, de areia, nem há areia branquinha como essa aqui não. Tem muita pedra, pouca areia, o que há ali é trabalho da mão do homem, mas, beleza natural, Copacabana, viu? Não é bairrismo não, não é mesmo bairrismo. A de Copacabana tem aquela curva natural que é uma beleza. Essa obra toda que fizeram alargando a praia eu acho que tornou a praia muito mais bonita, muito mais confortável. Bom, é um, um, um bairro onde você encontra de um tudo, com toda facilidade, muito comércio, o comércio me... melhor está aqui em Copacabana, todas as casas da cidade, as grandes casas acabaram transferindo pra cá e hoje em dia, eh, as matrizes foram ficando esquecidas e as filiais vão tendo cada vez um desenvolvimento maior. E em matéria de diversão também, hoje em dia a cidade, a cidade é morta, as maiores casas de diversão estão aqui, né? Restaurantes de luxo, restaurantes típicos. Enfim eu acho que quem vem passear e procura ver (inint.) onde que eu devo ir, eu acho que ele devia vir pra Copacabana porque aqui é que ele ia conhecer, pelo menos a vida do carioca se conhece é aqui em Copacabana. Se bem que ele não teria uma noção muito certa do que é o, o, o Rio de Janeiro porque um tijucano por exemplo tem uma vida completamente diferente do copacabanense. Você a uma certa hora na Tijuca, você já não encontra ninguém nas ruas.
D
 Hum.
L
 Porque tudo fica deserto. Aqui em Copacabana você vai dez, onze, meia-noite e as ruas estão cheias. Nesses, eh, barezinhos, sobretudo, a rapaziada se junta fica naquela conversa, muita moça, muito rapaz, muito casal. Na Tijuca não. Aquilo é mais ou menos deserto. Restaurante na Tijuca não tem saída. Você vê que eles abrem e fecham porque o pessoal não vai. Agora, eles vêm de lá para comer aqui. É uma coisa interessante, eu não sei explicar o que que é isso. Casa de divers~ao, por exemplo, você conhece algum teatro na Tijuca? Não existe teatro na Tijuca. No entanto aqui há inúmeras casas. Então eles vêm de lá pra cá, vêm pro banho de mar, vêm pra jantar, vêm pra almoçar, vêm pra lanchar, vêm pra fazer compras! Apesar de que já há muita casa boa na Tijuca agora, mas o pessoal prefere ainda vir aqui a Copacabana. Eu acho que Copacabana representa mais o que há de mais moderno, de mais novo e o pessoal prefere vir pra cá, foi o que eu notei, desde que eu cheguei aqui. Mas depois que estou aqui eu acho formidável essa vida, acho que aqui a vida é fácil, é gostoso e tudo, tudo perto, sem dificuldade nenhuma, a pessoa tem uma vida assim mais à vontade. Na Tijuca por exemplo eu tinha uma vida que eu, inclusive era diferente da que eu levo aqui. Basta dizer que eu nunca usei uma calça comprida na Tijuca, porque quando eu saí de lá a ... Lá agora parece que não, mas eles, eles notavam se uma senhora ... Aqui você vê pessoas de idade, senhoras, os senhores, tudo, mas uma, uma informalidade absoluta, né?
D
 É.
L
 Todo mundo anda como quer, do jeito que quer, e todo mundo fica muito satisfeito da vida (inint.) bom, é ótimo.
D
 A senhora falou em comércio, não é? A senhora podia me descrever um dia seu, as compras?
L
 Ah, isso é fácil. Todas as compras de casa quem faz sou eu.
D
 Sim. Por exemplo (sup.)
L
 (sup.) Então, eu faço ... Dia de feira, eu vou à feira. Faço as compras de legumes e de frutas na feira. Eu acho mais barato e acho as frutas mais fresquinhas e os legumes também. Bom, carne, idem, idem, vou, vou ao açougue comprar carne. Peixe e camarão, isso varia, posso comprar na feira ou posso comprar na peixaria, né? Bom, compras de mês, quer dizer, compras de gêneros alimentícios, isso eu faço uma vez por mês, vou à Casas Sendas, faço todas as minhas compras porque eu gosto de programar logo o mês inteiro, justamente para não ficar muito pesado, porque sou eu quem faz tudo, então eu prefiro fazer a coisa de uma vez só. Agora, as coisas perecíveis, o pão, o, a carne, essas coisas a gen... vou comprando à medida que vai havendo necessidade. E fora disso, há sempre compras a fazer, é remédio, é uma compra, é um sapato, é vestido, é ir a uma butique, é um, um desfile, uma coisa assim, sei que ... Eu ando muito pelo comércio, porque há necessidade, né? Aqui em casa, ah, não sei se você reparou mas todos são idosos, né? Minha sogra é bastante idosa, a babá foi quem, me acompanha já há trinta e tantos anos, é idosa também e ... O pessoal, ninguém sabe fazer compra, então qualquer coisa que eles precisam, quem vai sou eu mesmo. Já fiz verdadeiras listas de compras. Chega natal, por exemplo, é uma loucura, porque eu compro todos os meus presentes de natal, os do meu marido, os da minha sogra e os da babá. (risos) Você não pode imaginar como eu fico como um papai Noel na época de natal carregando embrulhos e mais embrulhos, e trazendo pra dentro de casa. (riso)
D
 Eh, a que lojas a senhora vai especificamente?
L
 Vou dizer a você que eu de um modo geral eu corro o comércio, não tenho preferência por uma determinanda loja não. Vou vendo onde que a coisa mais me agrada e vou comprando. Evidente que a pessoa tem umas que são mais simpáticas, né? Butique, por exemplo, eu tenho uma que é, é em Ipanema. É a Iapim, onde eu compro. Quando não é uma coisa assim mais fina, mais corriqueira, Celeste, logo ... Tem uma outra loja também que no (inint.) ainda agora veio o nome. Não me lembro não. E eu corro assim, vou olhando, vou comprando aquelas coisas que eu vejo que são mais interessantes, mais modernas, mais novas, todo dia abre loja aí e fecha loja, então a gente tem que estar correndo mesmo pra procurar.
D
 A senhora seria capaz de descrever a estrutura de uma, de uma firma comercial, em termos de pessoas? (sup.)
L
 (sup.) Ah, não sei não. Bom, acredito que tenha que haver um presidente, uma, ou vários, né? Ah, uma, uma cúpula. Em seguida ... Uma casa comercial qualquer?
D
 É. Suponhamos: Celeste.
L
 A Celeste. Bom, deve haver o dono ou uma sociedade anônima, né? Aqueles que ficam lá em cima. Esses devem ter os seus prepostos que são os que, os abaixo, o gerente, vamos dizer assim. Esse gerente deve contratar os demais empregados, que são as, as vendedoras da loja, os que fazem o trabalho de limpeza, aqueles que se encarregam de costura, porque na Celeste há a parte de confecção. Há uma parte também do que eles importam, eu acredito que eles também tenham alguém que viaje pra Europa com freqüência e que veja a moda ou pelo menos as tendências da moda pra depois então trazer essas tendências pra repetir nos vestidos aqui. Eu acho que, acho que deve ser assim, eu não tenho muita noção não que eu de comércio eu não entendo nada (sup./inint.)
D
 (sup.) E quem entra no corpo a corpo com, com o cliente?
L
 É a vendedora.
D
 Hum.
L
 É a vendedora e a gerente também e aliás a, a dona, que é a dona Celeste, ela freqüentemente está na loja, na parte de confecções. Ela está sempre lá em cima. Mas, as, as vendedoras atendem e atendem bem porque eu te ... eu desconfio que elas têm percentagem sobre o que elas vendem por causa do interesse que elas têm em vender, eu estou desconfiada disso.
D
 É, né? (risos)
L
 É, eu acho que sim. (riso)
D
 De que modo a senhora pode comprar?
L
 Ou à vista ou a crédito.
D
 E tem outras maneiras, a senhora pode pagar de que formas?
L
 Olha, eu só compro à vista. Eu sou absolutamente con... contra a compra a crédito, não tenho por hábito fazer compra a crédito a não ser nas grandes coisas. Eu acho, por exemplo, pra comprar uma casa, aí é preciso (inint.) despender uma quantia tão grande assim pra comprar uma casa, então isso é válido. O automóvel ainda é mais ou menos válido, mas outras coisas eu não admito essa compra a crédito porque você fica sem controle daquilo que você tem. Então aqui em casa o hábito sempre foi esse. Eu sou mulher de militar, a vida pra nós no começo foi dura e então nos restringíamos àquilo que ele recebia, o que nós recebíamos, porque eu também trabalhava. Gastávamos dentro das nossas possibilidades. Jamais fizemos compras nem cartão de crédito, nada disso! Não tenho nada disso, nem me lembro que isso existe. Não tenho nem hábito de, de, de usar cheque. O que era bom, né? Porque hoje em dia os assaltos são tantos que a pessoa tendo o hábito do cheque pelo menos se livra de umas tantas coisas. Mas eu não tenho esse hábito, eu levo mesmo é dinheiro e vou pagando, sabe?
D
 Quais são os serviços de, de utilidade pública que uma cidade precisa?
L
 Inúmeros, né? Vamos ver: telefone, luz e gás, transporte, esgoto, condução. Que mais? Telefone já disse, né? Que mais? Ah, bombeiro, polícia. Hoje em dia são de utilidade pública. Até táxi eu considero de utilidade pública.
D
 É? (sup.)
L
 (sup.) Porque eu uso muito o táxi (sup.)
D
 (sup.) Hum, hum (sup.)
L
 (sup.) E eu acho que é um serviço de utilidade pública.
D
 (inint.) sistema viário, não é? (sup.)
L
 (sup.) Ah, então! Precisa.
D
 Quais são os delitos que acontecem?
L
 Bom, assaltos, aqui então a gente fica sempre temendo os assaltos por causa dos assaltos a, aos bancos. Assaltos, roubos, homicídios. Até no trânsito também eu considero delito, que quem dirige perigosamente está cometendo um delito, né? O que mais que pode ser?
D
 A senhora já presenciou algum?
L
 Nunca. Jamais. Nunca tive minha casa assaltada, nunca fui assaltada. Uma coisa interessante: aqui mesmo em Copacabana, na minha família, quase todos já foram assaltados. Minha irmã já foi duas vezes, minha mãe já foi várias, eh, eh, roubados. Meu filho já foi roubado. Minha nora já foi e você sabe que jamais eu fui roubada? Até agora jamais fui roubada. Nem em casa, nem pessoalmente nem, diga-se, nem, nem presenciei também. Nunca vi.
D
 Na rua a senhora nunca viu algum tipo de delito?
L
 Bom, eh, correria por causa de pivete, isso freqüentemente acontecia em Copacabana, né? Volta e meia é uma gritaria, corre, corre, corre, alguma pessoa gritando. O que foi, o que não foi? Ah, foi um moleque que passou, que levou a bolsa, que tirou. Com mamãe aconteceu há pouco tempo uma coisa bem interessante. Ela estava numa fila para pagar, uma fila de uma, uma, uma confeitaria, ela comprou os doces e entrou na fila pra pagar. Tira uma nota de cem cruzeiros do bolso e fica com a nota na mão pra pagar. Na hora em que ela estende o braço, o moleque vem e avança na nota, ao mesmo tempo em que a caixa que estava prestando atenção, parece que ao menino, porque ela estava de costas, não estava vendo, mas a moça, de frente, estava presenciando tudo, fez também a mesma coisa, fez a mesma coisa e, eh, conseguiu pegar antes do menino. Ela não ficou sem dinheiro não. Mas foi aquela gritaria, porque se ela já não fosse tão, tão ligeira, tão rápida, eu acho que mamãe ficava sem os cem cruzeiros. Mamãe é vítima, toda hora ela é assaltada, abrem a bolsa, tiram o dinheiro dela, já perdeu a carteira, eh, uma série de coisas assim. Eu não, eu ... Não sei.
D
 E outros delitos menos violentos?
L
 Ah! Eu assisti uma coisa horrível aqui defronte de casa. Nós estávamos assistindo televisão, quando eu ouço um barulho como se fosse um estampido de ... Eu pensei que fosse fogos de são João, estava aquela época mais ou menos. Mas meu marido disse: isso é um tiro de revólver. Ele conhece, que é militar. E nós dois corremos pra janela ao mesmo tempo que ouvíamos uns passos rápidos correndo e uma pessoa gritando. Aí me debrucei na janela, começou logo juntar gente, juntar gente, juntar gente. Esta rua ficou intransitável. E foi um rapaz que foi baleado, baleado por engano. Ele, a pessoa que baleou, pensou que ele, que se tratasse de um maconheiro que mora um pouco adiante daqui. E aliás eu conheço esse rapaz que é maconheiro. Porque ele chamou pelo nome do outro. E ele instintivamente olhou, ele achou parecido, fisicamente ou a silhueta achou parecido. Estava assim já meio escuro, eu desconfio que até essa noite estava meio chuvosa e ele atirou no rapaz. Bom, atirou no rapaz, o rapaz caiu, foi puxado pra portaria do edifício. Ele gemia, ele gritava: pelo amor de Deus! Tenham piedade! Chamem meu pai! Uma coisa horrível, eu fiquei num, num nervoso que você nem pode imaginar. Aí juntou gente, juntou gente, juntou gente, foram chamar o pai do rapaz. O rapaz ... Um senhor alto de cabecinha branca. Fiquei com uma pena que você não pode imaginar. O filho baleado (inint.) o rapaz. Depois chamaram, hum, a polícia. Ele pedia pra chamar a, a assistência, mas a assistência não chegava nunca, afinal chegou um carro da polícia, carregaram o rapaz e eu soube depois que o tiro tinha atravessado o intestino, ele resistiu ainda alguns dias e morreu. Isso eu assisti, foi daqui defronte de casa, foi logo depois que eu cheguei aqui em Copacabana. Eu fiquei horrorizada. Ele morreu sem ter culpa nenhuma, né, porque não era com ele.
D
 E no comércio, eh, mudando pra delitos não violentos no comércio, eh, no comércio é vítima de que delitos?
L
 Bom, cheque sem fundo. Isso é uma coisa que acontece bastante, né, eh, muitas casas até aqui porque o ... Como é que se chama? O uso do cheque é uma coisa universal. Em todos lugares do mundo você usa cheque como se fosse dinheiro. Aqui algumas casas recusam, não gostam, porque dizem eles que recebem muitos cheques sem fundo. Além de cheque sem fundo, furtos mesmo. Essas grandes casas todas eu sei que têm polícia secreta, polícia, qualquer coisa tomando conta, porque eles são vítimas de, de roubo, freqüentemente. Não só de, de molequinhos que andam soltos aí pela rua, que a (inint.) que é abandonada é uma coisa triste mesmo, eles ficam aproveitando qualquer distração pra apanhar, como tantas pessoas, ladras, às vezes vão às lojas pra roubar, normalmente esse tipo de loja assim Americana, essa coisa toda (sup./inint.)
D
 (sup.) Pequenos furtos, não é?
L
 Pequenos furtos. É, pequenos furtos.
D
 Como, como são vendidas as, as quantidades dos objetos que a senhora compra, quais são as maneiras?
L
 A peso. A metro.
D
 Isso.
L
 Litro. (riso)
D
 Isso.
L
 Se for leite é litro, se for, for qualquer coisa de líquido, litro, né? Se for fazenda, metro. Se for cereal, é peso. A maioria das pessoas ... O que eu achei muito engraçado, eu lembrei de uma coisa. Eu estive agora há pouco tempo em Teresópolis, eu aluguei, eh, uma casa em Teresópolis onde eu passei todo o verão, eu cheguei agora. E então eu fui comprar banana, eu pedi ao homem uma dúzia de banana e pra grande surpresa minha, o homem disse que só vendia bananas a, a quilo. Você já (sup./inint.)
D
 (sup.) Não, eu nunca vi.
L
 Bem, então ele foi lá, pesou as bananas (risos) e me vendeu, só vendia banana a quilo. Bom, cada terra com seu uso, né?
D
 E o preço?
L
 O pre... o preço de banana lá era muito barato. Fui comprar uma banana lá muito barato. É isso que você está perguntando ou o preço de um modo geral?
D
 É, é, é. Isso, é.
L
 Da banana?
D
 É.
L
 Era barato. Ah, lá, eu não sei se porque havia muita banana, eu pagava bastante barato lá por elas.
D

  Tudo bem.