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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Vegetais e agricultura"

Inquérito 0134

Locutor 152
Sexo feminino, 32 anos de idade, pais cariocas
Profissão: advogada
Zona residencial: Norte

Data do registro: 19 de março de 1973

Duração: 40 minutos

 

Som Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 (inint./deficiência técnica)
L
 Ah, terrível.
D
 Você costuma viajar?
L
 Bastante.
D
 Pra onde?
L
 Geralmente dentro do Brasil eu viajo muito mais para o sul do que para o centro ou para o nordeste.
D
 E você costuma ficar nas cidades, num lugar (sup./inint.)
L
 (sup.) Ficar parada observando?
D
 (sup./inint.) observando?
L
 Não. Eu costumo, é muito mais do nosso hábito em família conhecer o interior e a maneira de vida do povo e (sup.)
D
 (sup.) E assim, que observações você fez a respeito de vegetação (sup.)
L
 (sup.) Ah! (sup.)
D
 (sup.) Alimentação das pessoas, nesses locais que você conheceu em relação ao Rio de Janeiro?
L
 Bem, eu observei o seguinte: que São Paulo não me é absolutamente atraente, a não ser pelo, pelo fato de que a agricultura aparece, é aparente, você vê os terrenos cultivados, você vê solo tratado, você vê reflorestamento realmente em vigor. Agora o Paraná eu go... Eu est... estou te falando dos, dos que eu conheço (sup.)
D
 (sup.) Sim.
L
 O Paraná eu fiquei encantada. Paraná tem uma flora lindíssima. O que mais eu reparei foi as mutações de tom de verde. Incrível! Verde de tudo quanto é tom que você pode imaginar e não imaginar.
D
 E você saberia identificar, eh, os diversos tipos de, de vegetação que você viu?
L
 Bom, ligeiramente. Naturalmente há aquelas folhagens coniformes, há as outras que são mais largas e ... Mas inclusive eu conheço po... pouco o número de, a, a, os nomes.
D
 Sim, pois é, eu só queria o nome popular, o nome das árvores, de flores (sup.)
L
 (sup.) Algumas. Eu distingo perfeitamente uma floresta de coníferas, de uma floresta que não é de coníferas, mas sei muito pouco.
D
 O que você chama de coníferas?
L
 Coníferas? Aquelas árvores que tem, eh, o formato, você olhando a certa distância o formato é, é de um cone (sup.)
D
 (sup.) Sim (sup.)
L
 (sup.) Como os pinheiros, por exemplo. Hum, hum?
D
 E você gosta de flores?
L
 Demais. É o que eu mais faço é fotografar flores.
D
 Você conhece, tem preferências por (sup.)
L
 (sup.) Naturalmente sim. Gosto muito das flores todas do campo, todas, mais do que dessas flores que são normalmente consideradas belas pelos seres humanos.
D
 Bom, eu ... Você generalizou muito, queria que você especificasse mais e quais são essas que você gosta mais e as que as pessoas em geral gostam.
L
 As pessoas em geral apreciam as rosas, os cravos, hum? E eu costumo me interessar mais por monsenhores e outros desse gênero, margaridas, flores de campo. Uma vez, uma flor que mais me atraiu, foi no estado do Rio, em Mauá, uma flor mínima, do tamanho de uma unha. (interrupção)
D
 Você estava falando de Mauá. É uma flor que você gostou muito.
L
 Mínima, do tamanho de uma unha de polegar. Rosa, meio lilás, pequeniníssima, se destacava no verde da, do chão, na grama, de uma maneira extraordinária. É uma das fotografias mais bonitas que eu tenho em casa, de flor.
D
 E nesses locais, nessas cidades que você já conheceu, eh, em relação à alimentação, por exemplo?
L
 A alimentação é sabidamente (sup.)
D
 (sup.) Em termos de vegetal.
L
 Ah, em termos de vegetal (sup.)
D
 (sup.) Comparando com o Rio.
L
 Ah, muito mais farta do que no Rio, no sul do país muito mais farta do que no Rio. Os vegetais são muito mais, ah, eh, são muito maiores, mais suculentos pela aparência, têm mais cor, não sei se é porque pouco vão ao gelo, a refrigeração, são (sup.)
D
 (sup.) Você podia enumerar, você chegou a (sup./inint.)
L
 (sup.) Eu cheguei a comer uma cenoura do tamanho de dois palmos quase, eh, em Santa Catarina, viu? Aspargos, outros tipos de vegetal também que se come lá de ótima qualidade. Palmito cortado na hora, em Santa Catarina.
D
 Na hora? Então, não industrializado? (sup.)
L
 (sup.) Uma beleza. Não industrializado. Tem muito isso lá. Chácaras, chácaras grandes, sabe, no interior. E as divisões entre as chácaras, muito interessante, são feitas por pedras superpostas, sem argamassa alguma, só pedra sobre pedra mesmo e elas ficam, são ferruginosas e ficam colocadas ali séculos, nada derruba aquele muro. Impressionante!
D
 Você alguma vez você já f... você foi ao nordeste?
L
 Eu fui, mas ainda muito pequena e as lembranças que tenho de lá são todas as que vêm registradas por fotografia.
D
 Ham. E aqui perto do Rio você costuma ir, você costuma sair do Rio pra cidades ( sup.)
L
 (sup.) Costumo.
D
 (sup./inint.) menores.
L
 Costumo ir pra Muri, que é no alto da serra de Friburgo e esporadicamente pra Mauá, que é logo depois de Penedo.
D
 Sim, Mauá você já falou. E essa outra cidade? (sup.)
L
 (sup.) Muri.
D
 A vegetação, se tem ou se não tem (sup.)
L
 (sup.) Muri é uma cidade belíssima. Tem aparência de uma cidade européia. Há uma concentração muito grande de alemães lá, provavelmente por isso. Provavelmente por isso. O clima muito semelhante ao de, de algumas regiões da Alemanha, né, e o clima se presta demais às flores. Chove muito lá.
D
 Essas, esse fato de haver uma concentração muito grande de alemães, como você falou, você acha que isso tem alguma importância no aspecto da cidade, na própria vegetação, eh, nas próprias flores que eles cultivam mais?
L
 Não, há uma modificação patente, eh, das casas. Eh, os jardins são todos tratados à maneira européia. Então você vê gramados imensos, com canteiros tratados, flores maravilhosas, quase não se usa adubo naquela região, porque chove muito, a terra é muito boa e há uma modificação geral, de um modo geral, até no brasileiro residente lá, sofre aquela influência. Há um, uma mistura, uma, eh, há mistura, eh, de um certo tempo, a partir de um certo tempo de comunicação eles, eles começam a influir diretamente ... Eu não estou me expressando muito bem. Os estrangeiros começam a influir diretamente sobre os nacionais, creio eu. Então você começa a ver técnicas de jardinagem novas que você não, não usa no, no Brasil não se usava, não é verdade (sup.)
D
 (sup.) E que nesse lugar (sup.)
L
 (sup.) Você, vem cá, você já reparou que interessante? Você é muito jovem, acho que você não chegou a conhecer o caqui de antigamente, nem a goiaba e outras frutas. É impressionante, viu? A goiaba era muito mais caroço do que a polpa. Atualmente a técnica japonesa modificou muito a nossa agricultura e os, as, as goiabas têm pouquíssimas sementes e muita polpa. O caqui, caqui era mínimo. Tomates, você vê pelos tomates.
D
 Qual é a diferença que você vê nos tomates?
L
 Ah, os tomates são enormes agora, são grandes os de boa qualidade, que você compra evidentemente pagando caro, né? Mas tem pra você comprar, pelo menos, né? Antigamente não, os tomates eram pequenos, tinham muita semente e muito pouca polpa.
D
 Você falou em caqui, goiaba. Você gosta de fruta?
L
 Demais.
D
 Você, eh, vocês costumam comer muita fruta?
L
 Muita fruta.
D
 Por exemplo?
L
 Todas as frutas que você possa imaginar nós comemos em casa. Desde as frutas de quintal até as frutas de estufa, todas elas.
D
 Que diferenças você vê entre frutas de quintal e frutas de estufa?
L
 São muito mais saborosas as de quintal, né (sup.)
D
 (sup.) E quais são específicamente?
L
 Jenipapo, manga, cajá-manga (sup.)
D
 (sup.) Isso é fruta de quintal?
L
 Isso é fruta de quintal.
D
 Você mora em casa?
L
 Não. Infelizmente em apartamento desde que me casei.
D
 Nunca morou em casa?
L
 Sempre morei em casa e estranhei muito quando mudei pra apartamento (sup.)
D
 (sup.) E tinha quintal na sua casa?
L
 Tinha.
D
 Ah, me conte aí como é o quintal, como era o quintal? (sup.)
L
 (sup.) Um quintal enorme, cheio de árvores. Tinha abio, abricó, goiaba, abacate e tinha um pé de amora que era uma (risos) tremenda curtição pra todos nós crianças, né? Aquelas, eh, eram duas amoreiras por sinal. Enormes as amoras, negras. Mas amora se ressente muito, com o tempo a amoreira vai se desmanchando por dentro, não é? E foi uma choradeira no dia que nós chegamos à conclusão que parecia que a amoreira não ia mais florir nunca mais e pra, foi uma felicidade pros pais, né, que as roupas ficavam manchadas (risos) que amora mancha muito.
D
 Agora essas frutas todas elas não, não aconteciam na mesma época não, né? Havia épocas diferentes (sup.)
L
 (sup.) Havia épocas diferentes. Eu plantei um abacateiro no quintal e tive a felicidade de comer um abacate do abacateiro. Deu tempo de eu comer, porque o abacate leva, parece, quase três anos pra dar frutos a primeira vez.
D
 E você tem filhos?
L
 Tenho. Dois.
L
 Ah. E eles gostam de, de frutas (sup.)
L
 (sup.) Gostam muito (sup.)
D
 (sup.) Têm preferências?
L
 Têm preferências. Naturalmente têm preferências. Eles adoram pera, uva também. O meu mais velho gosta muito de todas as frutas cítricas. O menor não, já é mais pelo que é adocicado (risos) e que não dê muito trabalho, ele gosta de tudo cortadinho, já prontinho pra comer.
D
 Agora, fim do ano por exemplo, às vezes as pessoas costumam comer frutas que não são comuns durante o ano, né?
L
 Certo. Cereja, por exemplo, né? Cereja é (sup.)
D
 (sup.) Vocês também têm esse hábito?
L
 Temos. Nós gostamos sempre de saber qual é a época da fruta pra aproveitar melhor. Alcachofra, foi uma loucura esse ano pra se encontrar alcachofra, mesmo na época da alcachofra foi difícil encontrar. Não sei por quê. Não sei se o Brasil está exportando alcachofra, se está fazendo mais remédio com a alcachofra que tem, mas houve dificuldade de encontrar.
D
 Você falou, eh, se, não, não sabe se o Brasil está fazendo remédio de alcachofra. Você costuma usar nos seus filhos remédio caseiro, feito de plantas medicinais?
L
 Não. O único remédio de planta medicinal que se usa na minha casa é o extrato de alcachofra, a alcachofra da, do laboratório Geiger, que é indicado, mas só se usa com os, para os adultos, é indicado nos casos de crise de fígado. Como lá em casa sabidamente somos todos deficientes hepaticamente falando, então tomamos alcachofra, quase, quase que uma vez por semana algum de nós está precisando tomar alcachofra.
D
 Mas outros usos assim, vocês não têm não?
L
 Não.
D
 Porque às vezes as pessoas, eh, não esperam o médico, né? (sup.)
L
 (sup.) Sei. Aplicam as panacéias caseiras e resolv... acham que podem resolver o problema. É coisa que eu, eu condeno, reputo inadequada.
D
 E sua mãe costumava usar?
L
 Não. Ah, apenas um, uma terrível cataplasma, quando alguém ficava gripado. Horrível! (sup.)
D
 (sup.) Como é isso?
L
 Cataplasma, menina! Uma, uma, um produto que eles ... Vendia num pote e botava em banho-maria e passava no peito da gente aquela coisa quente. Horrível!
D
 Você não sabe de que era feito (sup.)
L
 (sup.) Não. Sei que vendia num pote.
D
 E chás, esse negócio de chá? Tem a maior variedade de chá, não é?
L
 Ah, sim, realmente há (sup.)
D
 (sup.) De folhas e (sup.)
L
 (sup.) Ah! (sup.)
D
 (sup.) De plantas (sup.)
L
 (sup.) É (sup.)
D
 (sup.) Pra alguns problemas de saúde e (sup.)
L
 (sup.) Sim, ouvi falar.
D
 (inint.)
L
 Agora, o que se usa muito na minha casa é o chá preto. Nós usamos diariamente, tomamos chá preto à noite, mas isso é porque as raízes da minha família são da Inglaterra. A minha avó é inglesa, meu avô também. Então nós temos já adquirido aquele hábito de tomar chá com bolo, com torrada à noite, mas é o único chá que se toma, é o chá (sup.)
D
 (sup.) Agora, assim, eh (sup.)
L
 (sup.) Não. Chá de erva-cidreira, essas coisas assim, não se toma não. (risos) Eu já ouvi falar, sei que há muitas pessoas que tomam. Diziam, né, até chá de folha de agrião pra quem estava doente do pulmão (sup.)
D
 (sup.) É (sup.)
L
 (sup.) Terrível! A Eneida faz muita referência a isso nas crônicas dela, né?
D
 Que outras utilidades têm os vegetais? Você falou em alimentação (sup.)
L
 (sup.) Falei em alimentação, falei em beleza, né? Enfeita a vida, as flores, né? Outra utilidade? Acredito que pra ecologia elas sejam, elas sejam de grande importância e que é de muita importância pra nós mantermos as florestas do Brasil e nos preocuparmos agora com esse problema. Não sei se você sabe que trinta por cento do oxigênio consumido no mundo inteiro é fornecido pela floresta amazônica, sabia? E me preocupa bastante a colonização da Amazônia, porque eu não acredito que os brasileiros a farão, entende? Eu acho que a colo... a Amazônia será desbravada, ocupada por imigrantes estrangeiros. Porque você vê, a quantida... a densidade demográfica na Índia, na China, no Japão, na Holanda, é uma coisa incrível. Então a tendência deles é emigrar. Emigrar pra onde? Pra uma país que tenha um território muito grande. Tanto mais que nós estamos sendo mundialmente conhecidos agora pela abertura da Transamazônica. A questão da Amazônia está sendo debatida e, e tornada de conhecimento público internacional, não é verdade? Então me preocupa muito esse, essa questão da ocupação da Amazônia.
D
 Existe um número muito grande de japoneses agora no Amazonas, no estado do Amazonas (sup.)
L
 (sup.) É, né? (sup.)
D
 (sup.) E eles estão trabalhando com agricultura, todos eles (sup.)
L
 (sup.) Maravilhoso. Acredito (sup.)
D
 (sup.) E existe um número menor trabalhando com comércio, na Zona Franca, não sei o quê (sup.)
L
 (sup.) Sei (sup.)
D
 (sup.) Mas existe uma colônia enorme de japoneses trabalhando em agricultura.
L
 É? Isso me satisfaz, me alegra, viu? Porque eu acho que (sup.)
D
 (sup.) Mas está tendo alguns problemas com o pessoal da terra, não é? (sup.)
L
 (sup.) Ahn? (sup.)
D
 (sup.) Eles estão lá na (sup.)
L
 (sup.) Por quê? Por que os problemas? Aliás, a entrevistada não é você. (risos)
D
 É. Você já teve alguma experiência assim, de, rural (ruído de conversa paralela) de ver o campo, de conhecer alguma fazenda, um negócio desses?
L
 Sim. Eu, eu conheço fazenda, mas só a passeio. Chácara, conheço melhor chácara, mas também por pouco tempo. Tenho uma prima que tem três chácaras em Valinhos no estado de São Paulo e de vez em quando nós vamos até lá visitá-los e ficamos alg... alguns dias com ela.
D
 E o que que existe, eh, eles têm algum tipo de atividade?
L
 Nenhuma pra auferir rendimento, sabe? Nenhuma pra auferir rendimento, todas pra distração, ocupação, pra ... Ela mantém a casa dela com os vegetais que planta, está compreendendo?
D
 Sei.
L
 Ela planta vários tipos de pimenta, de temperos, condimentos. Não é pra, a finalidade não é de negócio. É pra uso, consumo próprio. Lá acontece muito disso, você vê muito disso. Pequenas chácaras ou grandes chácaras, mas que servem só àquela família. A maior chácara que eu vi lá é a do dono de um dos restaurantes maiores de Campinas, enorme, restaurante enorme, tem piscina, é mais um clube do que um restaurante propriamente dito e ele mantém a, o restaurante com tudo que, que planta na chácara. Inclusive os morangos de lá são divinos. Valinhos é muito conhecida, é a terra do figo, né? Figos enormes você vê lá. O tamanho você não pode imaginar, enormes, lindos, saborosos. Tudo técnica japonesa. Não eram tão grandes nem tão saborosos. Não sei como que eles conseguem isso. Fico satisfeita de saber que há japonês na Amazônia.
D
 Existem muitos japoneses lá?
L
 Muitos. Muitos. Japoneses e italianos, mais japoneses do que italianos. O brasileiro em si não é muito preocupado com a terra, você não acha? Ele é mais, ele se volta mais pra, pra o, pra vida urbana e procura logo sair do, do interior pra os centros, pra oc... trabalhar numa fábrica, numa indústria ou no comércio. Brasileiro é desligado, ele não sentiu ainda a realidade, ele não sabe que precisa da terra e que precisa trabalhar a terra (sup.)
D
 (sup./inint.) você que viajou várias regiões do Brasil, você podia descrever mais ou menos o tipo de produto agrícola de cada região por onde você passou ou então que você saiba quais são as regiões assim, no Brasil, diferentes, né? A produção agrícola do Brasil nessas regiões (inint.)
L
 Olha, em São Paulo você vê muito café, (riso) vê, você vê muito café. Nós temos dois, duas famílias conhecidas que são, têm fazendas de café. São muito ricos, estão muito bem de vida, têm escritório de, de exportação de café em São Paulo na cidade e naturalmente estão muito bem porque o Brasil realmente exporta bastante café e com essa modificação que houve agora, essa sobre taxa do café, nós saímos beneficiados, não é verdade? E em matéria de café, já se sabe que São Paulo, Paraná e uma parte de Min... de Minas Gerais produz muito, exporta muito. Agora, que eu tenha visto, eu pessoalmente visto, vi muitos cafezais, mas nunca estive em nenhuma fazenda de café, entende? Gosto muito de apreciar os lugares por onde passeio e ... Mas não, não chego a, a me deter em minúcias, quer dizer, no caso não é minúcia não, mas não chego assim a ficar por dentro de o que que tal região produz. Eu sei que o cacau na Bahia, certo? Sei que houve a, a e... a idade do ouro das seringueiras no Amazonas, no Pará, sei que não existe mais, né? Mas é um conhecimento muito generalizado e superficial.
D
 E você teve chance de ver, de ficar um certo tempo, eh, nessas fazendas, por exemplo? (sup.)
L
 (sup.) Não.
D
 (sup.) De ver a plantação como é que ela é feita? Depois a época em que ... Como é? (sup.)
L
 (sup.) Da colheita?
D
 Sim.
L
 Não. Eu assisti uma vez em Minas Gerais, numa cidade chamada ... Perto de Caxambú. Linda a cidade, onde eu assisti por sinal um casamento, um casamento em que a noiva veio na carroça, o pai vinha atrás. Fenomenal! Precisa ver. (risos) E, e lá eu assisti os pessegueiros floridos transformando-se em, em frutos, as flores transformando-se em fruta. Aquela mudança da flor pro, pro fruto do pessegueiro. É lindo! É lindo! E eles tinham um trabalho incrível, eh, a cidade chama-se Baependi, de ensacar todas aquelas florezinhas que começavam a virar pêssego. Eles tinham que ensacar com plásticos para que os passarinhos não bicassem. Quantidade de passarinho enorme (sup.)
D
 (sup.) Fica na própria árvore?
L
 Fica na própria árvore.
D
 Depois aquilo fica muito tempo?
L
 Fica até o pêssego amadurecer, ou não chega a amadurecer, é retirado antes, né? Até que ele esteja no ponto exato de ser colhido. Lá, eu assisti também nesta, neste mesmo sítio, assisti também, eh, bater o arroz pra soltar a, a casca e, e aqueles grãos que são, que ficam com a casca grudada. Solta só a casca. É tão interessante (sup.)
D
 (sup.) Como é que eles fazem?
L
 Eles têm uma tela como se fosse de arame. O processo lá é bem arcaico, não é nada moderno. Eles têm uma tela que fica inclinada e as tra... os homens da, que trabalham na lavoura pegam molhos, eh, não é molhos, uns apanhados de, de, dos ramos de arroz e vão batendo naquela tela, entende? Sai o arroz todo do lado de lá da tela e do lado de cá fica a casca, fica o caule das folhas que eles tiram, que eles cortam, ceifadeira traz aquelas pilhas. Então é o dia de bater o arroz. Eles batem e vão tirando ... Solta o arroz pro lado de lá e a casca fica do lado de cá. Deve ser assim que se separa o joio do trigo, viu? Calculo eu. Nunca assisti, mas deve ser. Tão importante pra todas as religiões, né? Separar o joio do trigo?
D
 Você não tem outra, não teve outras experiências desse tipo não, né? Em relação a (sup./inint.)
L
 (sup.) À agricultura? (sup.)
D
 (sup.) Você não pratica jardinagem?
L
 Jardinagem só em Muri, na casa de Muri. Mas (sup.)
D
 (sup./inint.) você pratica jardinagem?
L
 Mas por diletantismo também.
D
 Ah, então explica como você faz. Você planta, que instrumentos você usa.
L
 Bom, eu uso pá, faca ... Os instrumentos são assim apanhados na cozinha. (risos) Nada de, de, de adequado mesmo. Eu procuro só re... lim... eh, o que eu sei fazer é limpar os canteiros, revolver a terra e brigar com o jardineiro. É, é fácil. (risos)
D
 E planta o quê, de modo geral?
L
 Rosa. Rosa, margarida e cravo.
D
 Como você faz, enfim, onde você procura, consegue?
L
 Em Muri há uma, uma chácara imensa de sementes. Eles fornecem sementes. Fora isso, existe uma cidade chamada Roselândia, perto de Correias, entre Petrópolis e Correias. É um sítio, mas já virou, está virando uma cidade, é enorme, onde eles têm, a plantação de rosa, as plantações de rosa são uma coisa maravilhosa. Você fica deslumbrada, emudecida, quando você chega lá. É uma beleza. Tudo de acordo com a cor, sabe? Tem o lu... o lado dos enxertos, o lugar onde eles preparam os enxertos e, e tem essa venda de semente. Então lá também eu comprei muita semente pra levar pra Muri pra plantar lá. Consegui de enxerto, que o meu avô fizesse uma rosa extraordinária. Ela era vermelha, toda lisa vermelha por fora e rajada de vermelho e, e branco por dentro. Muito bonita! Linda! Meu pai era amigo do secretário de Agricultura aqui do Rio e, eh, nessa época o sítio era em Friburgo, não em Muri, ele conseguiu cento e quarenta e quatro espécies diferentes de rosa, muda de rosa pra plantar. O que nós tínhamos de rosa em casa era uma fábula. Bem, o que mais? (sup.)
D
 (sup.) Quer dizer, era uma coisa, rosa é uma coisa muito efêmera, né? Você sabe assim se existe, eh, um ponto ótimo pra rosa? Problema de clima (sup.)
L
 (sup.) Exist... (sup.)
D
 (sup.) De local?
L
 Existe, sim. Você tem que ter uma terra muito boa pra ter rosas bonitas, senão você não, não terá. Você pode ter o maior cuidado com elas, se a terra não for boa, não adiantará nada que você faça. Você tem que ter uma rega muito boa e bastante (sup.)
D
 (sup.) Tem que ter uma o quê?
L
 Rega.
D
 Que que é isso?
L
 É regar.
D
 Ah, sei.
L
 Certo? Você tem que ter, que regar sempre e em Muri e em outras cidades isso é feito naturalmente, a natureza chove e pronto, rega. (risos) Não precisa você regar. Mas de um modo geral você tem que reg... regar, canteiro de rosa você tem que regar duas vezes por dia de um modo geral, pra que ela floresça bonita, com exuberância. É somente, só você manter limpo o canteiro que está resolvido o problema. (risos)
D
 E assim num grande centro urbano, pra você ter, ter flores em casa?
L
 Acho praticamente impossível. Pra você ter flores em casa você tem que se limitar a, a comprar essas flores que florescem rapida... rapidamente em qualquer condição e que não precisam de terra profunda, basta uma camada pequena de terra. Flor de apartamento, né? Aquelas árvores pequenas que florescem sempre (sup.)
D
 (sup.) Sobre (sup.)
L
 (sup.) Nunca é a mesma coisa (sup.)
D
 (sup.) Sobre as árvores, você falou um pouco. Você falou que (inint.) falou das frutas (inint.) podia falar muito de árvores, né? Não só de flores. De árvores assim você não (sup.)
L
 (sup.) É, realmente (sup.)
D
 (sup./inint.) de árvores assim, sobre o aproveitamento delas (sup.)
L
 (sup.) Bem (sup.)
D
 (sup.) Industrialização (sup.)
L
 (sup.) Ahã. Eh, olhando pra um lápis você vê, né? Olhando pra um lápis você repara que processo que ele sofreu, né? A madeira, as árvores são utilizadas pra tanta coisa. Pra remédio, pra, pra móveis, pra industrialização de um modo geral. Certo tipo de árvore pra, até pra casa pré-fabricada, não é isso? Sei que em Mato Grosso há uma fábrica grande de, de casas pré-fabricadas e me falha agora a memória pra te dizer exatamente a madeira. Esqueci. Mas é uma fábrica enorme e que estava exportando até pro, pro exterior. Evidentemente, exportando só podia ser pro exterior, né? Mas parece que por problemas financeiros eles tiveram que parar de, não só de exportar mas até de fabricar, sabe? Uma pena. Podia ter sido incorporado a um sistema econômico-financeiro qualquer desses de incentivo, acredito eu, né, teriam tido bons, bons resultados. Mas, eh, pra, na utilização na indústria acho que o principal é o fabrico de móveis, não é? Acho eu que seja o principal.
D
 Você que esteve no Paraná, você tem, se, eh, se está falando muito agora, né? Estão acabando com os pinheiros do Paraná e especialmente sobre uma lei proibindo o desmatamento, essa coisa.
L
 A lei já existe, né? O que não existe é a fiscalização nem a educação do povo. O povo precisa ser ... Agora está começando a ser feita uma orientação pelos meios governamentais, uma orientação no sentido de que a árvore é importante até pra sobrevivência. Eu acho que é primeiro para sobrevivência, pelo que ela, ela faz por nós, pela trans... essa transformação do gás carbônico em oxigênio, é qualquer coisa de, de absolutamente extraordinário para nós. Deveria ser de público conhecimento a importância que a árvore tem na renovação do ar. Você vê, só se fala em poluição, né? E, mas o, o povo não é educado, o povo brasileiro não é educado para saber a importância da árvore. Ele desmata. Você vai passando pelas estradas, dá tristeza. Você vê morros inteiros onde as árvores estão reduzidos a, a cotocos queimados, torrados, calcinados. Por quê? Jogaram fogo ali propositalmente pra, pra desmatar e depois não fazem agricultura ali. Fica aquele terreno morto, vai ter que se esperar algum tempo pra que ali as árvores comecem a crescer, não é verdade? Através dos meios naturais porque você esperar que um brasileiro chegue ali e plante uma árvore é hipotético, é pura ilusão. Não, não se chega a isso, o povo não está orientado pra isso, não, não foi educado pra saber a importância disso, não se preocupa com isso conseqüentemente. Ele ignora.
D
 Você sentiu esse problema no Paraná em relação aos pinheirais, se estão realmente desaparecendo?
L
 Desaparecendo? Olha, estão, porque em Santa Catarina você vê ainda muito mais pinheiros do que no Paraná. Não entendo por que na bandeira do, do Paraná está o pinheiro. Atualmente não entendo eu, porque deveria ser na, na bandeira de Santa Catarina, porque é uma, uma, há muito mais pinheiro em Santa Catarina do que no Paraná atualmente. No Paraná você quase não vê, você vê um pinheiro aqui outro ali, esporadicamente. Você vê poucas florestas de pinheiro. Por causa também dos incentivos fiscais, muito reflorestamento, reflorestamento tem sido feito na base de, de eucalipto, sabe? Interesse econômico aí, porque o eucalipto também é muito bom pra nós, mas o pinheiro é belíssimo, né?
D
 Segundo alguns autores o nordeste não era assim no começo não (sup.)
L
 (sup.) Dizem que não, né? (sup.)
D
 (sup.) Tinha uma vegetação muito espessa. Era como uma floresta amazônica (sup.)
L
 (sup.) Será que foram os franceses tirando o nosso pau-brasil? Durante anos e anos e anos, décadas e décadas, né, só tirando (sup.)
D
 (sup.) A Realidade fez uma edição monográfica sobre a Amazônia e fez outra sobre o nordeste (sup.)
L
 (sup.) Ham, ham (sup.)
D
 (sup.) E tem um mapa mostrando como era a fauna e a flora do nordeste no descobrimento, na época do descobrimento, né? (sup.)
L
 (sup.) Ahã (sup.)
D
 (sup./inint.) e a que que ficou reduzido (sup.)
L
 (sup.) Acho isso tão triste (sup.)
D
 (sup.) E o nordeste hoje é (sup./inint.)
L
 (sup.) É, é. Provavelmente. Eu tenho esse medo, honestamente. Agora você me esclareceu, você me disse que já há muitos japoneses na Amazônia, eu fiquei até satisfeita porque os japoneses se preocupam com a terra. Acho que porque eles não têm, o país inteiro em cima de ilha, eles não têm terra, então eles sabem a importância que tem a terra tratada. Acho melhor que sejam os japoneses do que qualquer outro povo, mas acho que vai haver, a Amazônia vai ser uma Babel, né, de raças, não de línguas, porque tudo acaba se igualando e as pessoas acabam sempre se entendendo, mas de raças vai ser. Acho que haverá um deslocamento muito grande pra Amazônia, assim que a estrada estiver, conforme a estrada for sendo aberta, acho que haverá, haverá uma penetração muito grande e de imigrantes porque o brasileiro não vai daqui do sul pra lá. Muito difícil. Você pode tirar talvez dois por cento, não sei, estatisticamente não sei. Calculo eu, assim a grosso modo, cinco por cento de todos, né, de todos, eh, os sulistas talvez queiram ir pra Amazônia. Acho difícil. O pessoal daqui do, do, do Rio de Janeiro, de São Paulo, não irá, entende? Nem de Minas Gerais. Talvez de Goiás, de Mato Grosso, não sei. Acho difícil mesmo.
D
 Do nordeste também, né? (sup.)
L
 (sup.) Do nordeste ... É, do nordeste é, é o mais provável centro de onde pode partir gente pra Amazônia (sup.)
D
 (sup.) Como na época da borracha.
L
 É, na época da borracha (sup.)
D
 (sup.) Na época da borracha houve uma espécie de invasão nordestina da Amazônia.
L
 Ahã.
D
 (sup./inint.)
L

  (sup.) Mais do que justificada, né? É, e viveram em condições inóspitas por completo, muitos morreram. Não havia soro, não havia postos de saúde. Atualmente eles estão se preocupando com isso, né? E os institutos Oswaldo Cruz, Vital Brasil e outros de Brasília também e aquele, tem um na Bahia muito bom, estão se preocupando em mandar vacinas pra lá pra Amazônia, pra prevenir, mas ainda está sendo feito em muito, numa escala muito pequena. A Amazônia é enorme. Você vê, o território brasileiro é imenso. Não se pode agir de outra maneira, sabe? Eu acho isso. É difícil, deve ser dificílimo administrar um país que tem um território deste tamanho, conseqüentemente, uma densidade demográfica baixa como tem o Brasil. Tudo é muito diversificado. Você tem todo o tipo de clima aqui, todo tipo de clima, todo tipo de gente, todo tipo de povo entrou na formação do, do brasileiro. Tudo é diversificado, então é muito difícil você se ad... deve ser dificílimo administrar e eu acho que esse governo está conseguindo fazer alguma coisa.