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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Ensino e igreja"

Inquérito 0129

Locutor 147
Sexo feminino, 25 anos de idade, pais cariocas
Profissão: arquiteta
Zona residencial: Sul

Data do registro: 17 de novembro de 1972

Duração: 42 minutos

Clique aqui e ouça a narração do texto


L
 (falas à parte) É melhor (falas à parte) Vai pra lá, senão vocês começam a rir. (risos)
D
 Vamos começar falando de seu primário, como foi, onde foi.
L
 Como foi? Como assim, o ...
D
 Onde você fez a escola (inint.)
L
 Eu fiz no Jacobina, fui colega da Cristina, a Cristina colega de vocês.
D
 É.
L
 Ah, a, a Cristina não era minha colega nessa época não. Eu fiz no Jacobina todo o ... Eu fiz jardim, primário e ginásio, só mudei depois pro Andrews quando fui fazer o científico, né, porque não tinha. Naquela época eu gostava do Jacobina, aí não tinha científico, eu fui fazer no Andrews. Mas depois é que comecei a detestar o Jacobina, o colégio. Ah, vocês não vão falar nada não, é? (riso)
D
 Como era a escola, o colégio, o prédio?
L
 Ah, era horrível, né, as instalações até hoje são péssimas. Eles cobram um dinheirão e é uma porcaria a, a instalação. O ensino é muito bom. Desses colégios assim de, só de menina.
D
 Hum.
L
 Esse tipo assim, não é de freira bem, é católico e tudo, mas ele, eh, as instalações dele são péssimas e cobra um dinheirão.
D
 Hum. Mas assim quais eram as instalações? Eu queria que você descrevesse o colégio todo (sup./inint.)
L
 (sup.) Ah, sei lá (sup.)
D
 (sup./inint.) é importante pra nós.
L
 Tinha um prédio horrível, eh, velhíssimo na frente, tinha um mais novo atrás, tinha o, a capela e o, e o auditório, né?
D
 Hum (sup.)
L
 (sup.) E o resto era pátio, era aquele coisa coberto. Como chama aquilo? Aquele troço coberto, pra jogar vôlei, né, não sei como é que chama aquilo não. Pergunta (inint.)
D
 E as aulas, onde eram?
L
 Eram nos prédios, né, no prédio novo e no prédio velho, na frente e atrás. Na frente também tinha a secretaria, parte da diretora e tudo, né, refeitório de professora. E na parte de trás era só, só salas de aula. Na frente tinha algumas salas também, né, acho que não dava (inint./ruído) hoje em dia acho que já fizeram mais alguma coisa lá, né, aumentaram o auditório, já tem, já está mais bem instalado, tem mais umas, uns prédios lá e separaram a parte das pequenas, né, do ... Como é? Pre... preliminar, eh, infan... aquele, jardim, né, separaram tudo.
D
 Agora você se lembra das suas aulas? Como eram, no primário e no, no ginásio?
L
 Não me lembro mesmo. (riso)
D
 Não lembra mais nada?
L
 Ah, eu não. Como vou me lembrar? Das professoras assim? Ah, as professoras tinha umas horríveis, outras ótimas. (riso)
D
 E no ginásio?
L
 Bom, o ginásio sempre é mais divertido, não é, porque a gente, sei lá, faz mais bagunça e tudo, se entende melhor com as professoras, que lá a gente não precisava chamar a professora de dona, né, chamava pelo nome (sup.)
D
 (sup.) O relacionamento era assim (sup./inint.)
L
 (sup.) Então era bem melhor, né, que em outros colégios. Acho que, que chamavam uma porção de coisas. Não precisava chamar de senhora nem nada, chamava de você. Pergunta mais coisa.
D
 Tinha que estudar muito, tinha muita coisa?
L
 Tinha que estudar, sim. Eu que era vadia mesmo. (riso) Eh, eu não estudava.
D
 Mas coisas diferentes, muitas coisas diferentes?
L
 Ah, tinha bas... tinha assim aulas de, de fora assim do currículo, não tinha muito não, tinha? No gina... no primário é que tem mais, essas besteiras de aula de ... Como é que ... Cortesia, umas bobagens assim. No ginásio nem que elas quisessem não iam conseguir, né, não consegue pra turma de ginásio dar esse tipo de aula, né?
D
 E a, essas, essas, o currículo era, era muito grande, muito extenso no ginásio, você achava?
L
 Não, eu acho que foi normal. Inclusive lá elas faziam primário em seis anos, tinha sexto ano.
D
 Ah, seis anos?
L
 Seis anos. E eu achava bom porque dava uma base ma... melhor pra gente, né? Tanto é que as meninas do Jacobina sempre passavam nos vestibulares e tudo. Dava uma base boa. Agora eles tiraram, acabaram com isso, não tem mais não, porque atrasava um ano, também tinha isso, né? Só, eh, ga... garotas que se distingüiam muito no quarto ano, aí elas faziam passar direto pro sexto, quer dizer, não fazia o quinto ano, fazia só um ano de admissão, lá tinha dois e então faziam só um.
D
 E depois entrava automaticamente pro ginásio?
L
 Não, tinha que fazer exame de admissão. Hoje em dia não tem mais nada disso, né, minhas irmãs não estão fazendo não, mas naquela época tinha exame, tinha que estudar, aquele vestibular de, de ginásio, né?
D
 Agora, vocês tinham um controle assim de, em termos de matérias, disciplina, eh, de aprendizagem, havia controle no colégio?
L
 Como controle?
D
 Como é que, como é que os professores sabiam se vocês estavam estudando, se não estavam, se estavam presentes?
L
 Ah, davam provas, né? Não é isso?
D
 Muitas provas, vocês tinham?
L
 É, eles ... Tinha umas épocas que eles co... eh, resolviam, anos assim que eles resolviam dar prova só de surpresa, du... durante o período, assim durante o, o mês, né, prova de surpresa, aquela célebre, né, depois no final do, do mês aí dava uma prova que va... assim que eu acho que tinha um maior peso, né? Mas isso aí nunca dá certo porque ninguém estuda mesmo. Agora a minha irmã está ... Eu não sei agora como é que é o sistema, é tudo diferente, agora ela também estava fazendo lá uma. De vez em quando ela tem umas coisas assim que ela não sabe se vai ter prova, ela fica estudando e tudo. Ela é estudiosa, eu não.
D
 E no fim, quando sabia se tinha passado de ano ou não, como é que sabia?
L
 Olha, depois apareceu um negócio de média sete, a gente pa... passava por média se tinha média sete nas matérias, né, se não, fazia prova final, que era uma prova oral.
D
 Prova oral?
L
 É péssimo, né, que eu sempre entrava pelo cano em tudo que é oral assim.
D
 Agora me diga uma coisa, nessas provas, eh, os alunos não tentavam de vez em quando enganar (sup.)
L
 Colar?
D
 É.
L
 Ah, colar tinha, teve uma vez uma prova de latim que a, foi a turma inteira combinou de colar, né? Então, nós, todo mundo se preparou, fez aquela preparação antes da prova, né, então eu tinha uma pulseira, eu fiz um rolinho pequenininho com uns verbos que eu não sabia, enrolei assim bem pequenininho, coloquei assim na, no fechinho da pulseira parecia um balangandã, né? A turma inteira colou, eu sei que na, que a professora era assim, coitada, ela tinha sido freira já, não era mais não, mas tinha sido, era assim meio boboca, sabe, então alguém da porta, uma professora passou e viu todo mundo colando, só ela lá dentro não viu, ela, ela passou pela porta e viu. Aí foi lá dentro depois, deu uma bronca em todo mundo e todo mundo que tinha colado tinha que se acusar. Eu sei que tinha umas meninas, lá uma inclusive que era primeira da, da turma e tudo, estudiosa, toda metida, elogiada que o uniforme era engomado, era isso, era aquilo, sabe aquela aluna penteada o dia inteiro, era assim, ela não se acusou, ela tinha colado e todo mundo sabia, né? Inclusive a filha do Carlos Machado, a Djenane, também era, ela foi minha colega, ela também colou e disse que não tinha colado. A maioria se acusou, né, mas, inclusive eu, né, mas, eh, uma ou outra não se acusou.
D
 E os métodos de cola eram diferentes assim? Como era? Conte aí pra gente.
L
 Ah, os métodos eram os mais diversos, né, cada uma ... Escreviam na perna, papelzinho, dentro da carteira, cada uma fazia (sup.)
D
 (sup.) Dentro da carteira como?
L
 Botava livro aberto lá dentro, quando levantava, né? Ou então eu não sei se ... Tinha, outras vezes era aquela carteira que tinha aquela abertura embaixo, né, puxava dali, tinha aquelas coisas, né? E o meu foi mais simples, foi aqui na, (riso) na pulseira.
D
 Agora depois que você passou do ... Você disse que o científico você não fez mais no Jacobina, né?
L
 Não, porque não tinha científico, né?
D
 Foi fazer no Andrews.
L
 Eu fui fazer no Andrews.
D
 E aí você notou muita diferença de um colégio pro outro?
L
 Bastante.
D
 Em que exatamente?
L
 No método de, do ensino, no colégio em si. Que eu saí de um colégio que era só de menina, fui prum colégio misto, né? Tudo já faz diferença. Fui pra um ensino totalmente diferente, os, os profe... Não sei, era tudo diferente. Eu gostei muito mais do Andrews do que do Jacobina, né? Se bem que eu acho que o Jacobina é um bom colégio.
D
 E assim em relação ao currículo o colégio, o Andrews era, era mais extenso do que o Jacobina (sup./inint.)
L
 (sup.) Não. Eu acho que era a mesma coisa, né? Não, isso eu acho que é de acordo, né, a gente vai passando vai tendo um currículo maior, né?
D
 E em relação aos professores? Os alunos com os professores, você notou diferença?
L
 No Andrews?
D
 É.
L
 Ah, sim, era uma agressão bárbara! (riso)
D
 Por quê?
L
 Ah, no Andrews a nossa turma foi ameaçada de ser expulsa inteirinha, né, tantas que fizeram. Porque ... Eh, não ... É aquela coisa de garoto nessa idade, solta pufe, põe coisa ... Eles pediram a uma professora de química pra ensinar uma coisa bem fedorenta porque eles queriam botar num, num professor de, de biologia, que tinha uma cara de, sabe, eles chamavam ele de Bubu porque ele tinha uma cara de bebê, esses bebês assim de borracha, sabe, e era um, todo metido, não é, ficava a aula inteira desenhando na pedra, depois em cinco minutos ele explicava as noções. Ficava desenhando aqueles desenhos todos coloridos na pedra. Então fizeram, quando ele ... A professora ensinou um negócio lá, ela não sabia pra que que era, né, fizeram na lata de lixo, né, aí ele pegou, não teve dúvida, fechou a porta, saiu, trancou a gente lá dentro, deixou a gente, (risos) deixou a gente com o cheiro lá dentro.
D
 E aí, a direção do colégio que que fez?
L
 Não teve ... Fizeram tantas. Porque tinha um professor de português, professor de português no primeiro ano acho que teve uns cinco, nós expulsamos todos eles, era uma coisa. Até que no final puseram um velho, bem velho, porque aí a gente tinha que respeitar, um homem que era (inint.) eu acho, não sei, não me lembro o nome não. Era um sujeito todo assim, andava de terno branco, dando umas aulas horríveis, puseram ele de professor que assim a gente respeitava mais, tinha, tinha que respeitar. Mas a ... Outro professor, tinha um professor de português que, eu não me lembro, não consigo mais me lembrar, mas é um nome engraçadíssimo, Modernel não sei de quê, mas um, um troço, mas um nome esquisito de verdade, agora não, não lembro mesmo. Eu sei que aquele, aquele sofreu. Coitadinho, ele era todo bonzinho, ele achava que a gente ia lá, falava assim, tudo pra gozar ele, ele achava que a gente estava sendo bonzinho, ele vinha com toda boa vontade e a gente estava só gozando. Olha, aquela turma, aquela turma era uma coisa. E tinha uma professora de psicologia que era dona boa, né, aí os meninos, eles nunca assistiam aula, quando assistiam era pra fazer bagunça. Aula dela eles sentavam na primeira carteira e ficavam assim, ó, olhando, (riso) que ela era bem provida. (risos)
D
 Bem provida de quê?
L
 De tudo, (risos) em todos os lados. (risos)
D
 Você diz que ela era bem provida e faz assim, depois na gravação a gente não vai saber de quê.
L
 (risos) De todos os lados. Todo mundo vai entender, não precisa ver, é só ouvir. (risos)
D
 Olha aqui, você falou do, do, que o Jacobina era um prédio muito antigo, muito velho e tal. E neste aspecto, o Andrews como é que você achou?
L
 Eu acho que era melhor, ali pelo menos eles (sup.)
D
 (sup.) As dependências do colégio (sup.)
L
 (sup.) Todo ano ... Eram antigas também, mas as salas eram melhores e tudo e todo ano eles pintavam o colégio, né? Tinha aquela conservação. Eu acho que eles tinham mesmo que pintar porque os garotos su... punham, sabe, davam aqueles chutes na parede pra, ficava tudo sujo. Davam soco assim na coisa de madeira, tinha, tinha uns negócios de madeira assim, quebravam, garoto que arrebenta tudo mesmo. Mas no An... as instalações eram melhores, eu acho que era até maior, bem maior, o terreno e tudo (inint.) era bem maior (inint.)
D
 E as matérias, quais as que você mais gostava (sup./inint.)
L
 (sup.) Ah, bom, eu sempre gostei de matemática e desenho, né, por isso que eu só dei pra arquitetura, nunca dei pra outra coisa. Só, eu, só, mesmo no Jacobina, eu só estudava matemática e desenho, o resto era tudo assim na última hora, correndo, correndo, estudava assim, sabe? Eh, mas estudar mesmo eu só estudava matemática e desenho, que eu adorava. Descritiva, depois, né?
D
 As aulas eram, eram agradáveis? Os professores (sup.)
L
 (sup.) Não, eram (sup.)
D
 (sup.) Usavam métodos diferentes pra tornar as aulas mais agradáveis?
L
 Não. Tinha ... Eu acho que é tudo igual, não tem nenhum, nenhum professor diferente, é difícil, né? É a mesma coisa, só que eu acho que a aula era, não sei, talvez a gente estivesse mais, mais velho assim, né, prestasse mais atenção.
D
 Vocês costumavam faltar às aulas?
L
 Não, eu faltei muito na faculdade, mas na, não era de faltar não.
D
 Nem de fazer outra coisa na hora, na hora da aula?
L
 Não, não. Era dificílimo, né, só uma coisa assim mais sério, né, mas em geral não faltava aula não. Quando a gente chegava muito atrasado tinha que voltar pra casa.
D
 Ah, quando chegava atrasado voltava pra casa?
L
 É, depois de sete atrasos na caderneta eles marcavam a caderneta assim com vermelho, a gente não podia mais entrar.
D
 Ah, tinha uma caderneta também? Caderneta de quê? De ...
L
 Era de marcar presença, tinha as notas, né, e recadinhos, essas coisas todas, era tudo ali, né?
D
 No científico, é?
L
 No científico. E lá era um controle bárbaro. Eles, se a gente chegava atrasado tinha que voltar pra casa, eles pediam o telefone e o nome da mãe, telefonavam pra casa e avisavam que a gente ia voltar, que assim ninguém podia enganar nem fugir, né? Não que eu fosse fazer isso, é evidente, mas nem precisava, porque a minha mãe nunca foi de ficar me dando bronca por causa disso, mas outras pessoas, né? Quer dizer, eu acho isso bom, né, que eu tenho ... Meus irmãos foram do Pedro II, que a mamãe um dia foi lá, chamada não sei pra que, quando foi, chegou lá soube que o meu irmão era um turista lá. Ela nem sabia, que ele saía todo dia pra aula (riso) e não chegava. Ele só gostava mesmo de entrar no colégio quando a professora, o inspetor fechava a porta, porque estava atrasado, fechava a porta, ele pulava o muro pra chatear o inspetor, né, só pra isso, porque senão ele não, não entrava, né, que eles carimbavam a caderneta sozinhos e se mandavam.
D
 O sistema de controle de aprendizagem era do mesmo jeito que no ginásio, passar de ano, passar?
L
 Era a mesma coisa, negócio de média sete e prova final oral, né, se não, não passasse.
D
 Não havia provas mensais, testes (sup.)
L
 (sup.) Ah, sim, provas mensais, né? A gente tinha que ter média sete nessas provas. Tinha uns professores que davam assim, eh, faz, quem fizer esses cinqüenta exercícios de física, eh, eu dou um ponto ou dois na nota. A não ser essas coisas assim, né, que assim ele incentivava a gente fazer o exercício, quer dizer, estudava um pouco, né, ganhava um ponto, era uma boa coisa, bastante, bastante coisa até, né? Eh, eu acho legal, né?
D
 Que material você usava pra estudar?
L
 Eh, material, lápis, caderno, caneta. (riso) Eu tinha mania de copiar tudo em rascunho, depois passar a limpo. Então eu estava sempre atrasada com a matéria.
D
 Como é, você estudava desenho, que é que você usava pra estudar desenho? (sup.)
L
 (sup.) Ah, sim. O quê? Na faculdade? Na faculdade não estudava mais desenho, a gente tinha ... Era, era diferente, não era estudar desenho, a gente tinha aula de desenho artístico, no primeiro ano três vezes por semana, a gente tinha que pintar com aquarela, né? A gente foi a todo, hum, todos os lugares assim bonitos do Rio, sabe, a gente teve aula assim, uma, um dia na semana era na faculdade e os outros dois dias era fora, né? A gente ia, fomos no monumento dos pracinhas, fomos, uma porção de becos aí, esses antigos, sabe, pra pintar aquelas coisas, igrejas e uma porção de lugares assim.
D
 Você usava que material quando você pintava?
L
 Ah, um bloco, lápis, borracha e aquarela, né?
D
 Depois que você terminou o científico você entrou pra faculdade de Arquitetura, você fez al... al... eh, você se preparou de uma maneira especial pra entrar pra faculdade? (sup.)
L
 (sup.) Eu fiz, como curso, eu fiz um convênio, né, no terceiro científico, como curso, né?
D
 O convênio com o próprio colégio?
L
 É, com o próprio colégio. Atualmente eu acho que eles não têm mais de arquitetura porque era muito pouca gente, né? Agora não sei.
D
 Hum, hum. E pra entrar na faculdade foi muito difícil?
L
 Bom, era sempre difícil, né, você tem que estudar, né? Mas eu passei, né, passei logo na primeira.
D
 Quando você veio, eh, de primário, ginásio, científico, aí quando você chegou na faculdade, o tipo de ensino, o rela... o relacionamento com os professores, as aulas (sup.)
L
 (sup.) É tudo diferente, tudo assim, sei lá, acho que era uma bagunça horrorosa, acho que o colégio era mais organizado.
D
 Por que que era essa bagunça?
L
 Porque, eh, faculdade os professores não querem nada, não é? Então fica aquele ... Ainda mais lá no Fundão. Atualmente já está um pouco diferente, mas a gente ia lá pra ter a aula, longe à beça, pegava quatro ônibus, levava, eh, duas horas pra ir, duas pra voltar, todo dia, né, ficava o dia inteiro na faculdade, almoçando mal e tudo e os professores não iam, não tinha aula, tinha que esperar outra aula. Aí chega, chegou um ponto que a gente começa a entrar na desi... Primeiro entra naquela empolgação, depois vai desistindo, né, vai começando a faltar, deixar pra lá, né, tanto é que eu fiquei em duas matérias, no primeiro ano fiquei em dependência de duas matérias.
D
 Dependência, quer dizer?
L
 Então não passa naquelas duas, tem de cursar no segundo ano aquelas duas matérias.
D
 Ah, sei. Sim (sup.)
L
 (sup.) Junto com o segundo ano, né?
D
 Olha aqui, como é, como é que eram as aulas lá, assim, você disse que era muita bagunça.
L
 Na faculdade?
D
 É, você disse que o professor não ia (sup./inint.)
L
 (sup.) Ah, sim, principalmente porque as salas são monumentais, enormes, eh, cada turma, quando nós entramos eram trezentos alunos, né, quer dizer, cento e cinqüenta pra cada turma, quer dizer, não tem condições de ser uma boa aula, né? Aí, a gente, o horário de almoço da gente era de meio-dia a uma e meia, quer dizer, a gente almoçava em meia hora, uma hora pra não ter nada pra fazer naquela faculdade, né, não tinha nem lugar pra gente descansar um pouquinho, assim um sofá pra se sentar, uma coisa confortável, só aqueles bancos duros, né, muita gente dormia nas pranchetas, os rapazes lá arrumavam assim as pranchetas, dormiam ali. Mas a gente não ia fazer isso, ficar dormindo na ...
D
 Não havia nada lá pra vocês se distraírem?
L
 Nada, nada. Depois de algum tempo tinha um pingue-pongue, uma coisa assim, mas não tinha nada pra fazer e aí aquilo dava um sono, a gente ia mais cedo pra sala de aula e começava a bagunça: batucada, samba (inint.) coisa normal de faculdade, né, toda faculdade deve ter, vocês também devem ter lá. Vocês estão estudando ainda?
D
 Eu estou, ela não. Olha aqui uma coisa, e como ... Eh, e os professores que iam, que vocês assistiam as aulas, etc. como é que vocês se relacionavam com eles? Já na faculdade.
L
 Ah, isso aí, tinha uns professores que eram melhores, outros mais fechados assim que a gente não conseguia nem queria saber da cara dele nem nada, né? Tinha uns, uns professores boa-praça que a gente conversava. Tinha uns que quase brigavam com alunos, com os rapazes, né, quase se atracavam lá. Aquelas coisas assim, né?
D
 E, assim, faltando desse jeito como é que vocês resolviam pra, pra passar de ano e (sup.)
L
 (sup.) Ah, cada um assinava pelo outro, fazia aquelas trambicadas, né, porque (sup.)
D
 (sup.) E provas, também faziam provas, não?
L
 Provas. Tínhamos provas todo mês. Todo mês não. Tinha ... Cada matéria o professor resolvia assim mais ou menos, fazia trabalho. Muito trabalho. A gente tinha mais mesmo foi trabalho do que prova. Só as matérias assim mais, como é que se diz, mais técnicas, né, que a gente tinha prova, o resto era mais trabalho, tinha que fazer tantos trabalhos por ano. Eles davam por exemplo oito trabalhos, se a gente fizesse seis, tivesse a média e tudo, né, a gente era dispensado de dois. Tinha essas coisas assim.
D
 Quando, quando foi que você terminou o curso?
L
 Terminei o ano passado, o ano passado (inint.)
D
 Você, o Jacobina, você falou que não é, não é um colégio de freiras não, mas tem orientação religiosa, né?
L
 Tem (sup./inint.)
D
 (sup./inint.) eles davam orientação religiosa assim como, como matéria?
L
 Davam, religião.
D
 Era obrigatório?
L
 Obrigatório.
D
 Como eram essas aulas?
L
 Bom, quando a gente era pequena, assim logo nos, nos primeiros anos, a gente gosta, né, depois começa a ser chato. E aí eles, eles procuravam fazer uns negócios mais interessantes, mais moderno e tudo, mas ninguém queria saber muito daquilo não, né? De início da, do curso ia muito à missa, aquelas coisas, tinha um negócio lá que a gente recebia um escudinho, quem fazia parte, pra ir a, todo primeiro domingo ou último domingo, sei lá que domingo lá, terceiro, sei lá, não me lembro mais não, um domingo que a gente ia à missa lá, né? O ônibus pegava a gente em, em casa, era uma turma pequena, e aí a gente ia à missa lá.
D
 Isso no ginásio?
L
 Não, primário, acho que no ginásio (sup.)
D
 (sup.) No ginásio não tem mais?
L
 Agora acho que não tem mais nada disso não. Na minha época é que tinha, mas hoje não tem mais nada disso não.
D
 Pois é, na sua época (sup.)
L
 (sup.) Agora eles fazem a comunhão toda diferente e fazem só no quarto ano e a gente fazia no segundo, né?
D
 Como é? Faz a comunhão diferente? Como é?
L
 A primeira comunhão antigamente era no segundo ano, a gente não entende nada, né? Faz, eu me lembro na minha comunhão, então a minha prima era minha colega também, e a gente estava só na, durante a missa procurando as fami... a família, todo mundo, ê, dando tchauzinho, não estava ligando a mínima, não entendia nada. Agora faz a pessoa um pouquinho mais velha acho que dá pra entender me... sei lá, um pouco melhor, né?
D
 Não houve assim preparação do, de vocês (sup./inint.)
L
 (sup.) Ah, sim, há preparação, todo ano a gente fazia retiro, todo ano, até eu sair do Jacobina, eu fazia retiro, a gente tinha aquela, no fim do ano assim, mais no fim do ano, outubro, elas fazem um retiro. Não era obrigado não, só ia quem quisesse e a gente ouvia assim, eh, uns três dias de prática, aquela coisa toda. Hoje em dia não se usa mais porque (inint.) não tem o menor saco, mas naquela época (sup./inint.)
D
 (sup.) Era no próprio colégio o retiro?
L
 Ah, eh, antigamente era, depois, no final eles estavam fazendo fora lá num, ali na Nossa Senhora da Paz tinha uma ... Como é? Sabe onde é?
D
 Acho que sei.
L
 Naquele prédio da, do cinema, lá em cima. Então também a gente fazia uma bagunça lá danada, jogava água nos outros aqui embaixo pela janela.
D
 No retiro, isso? (risos) Pra que o retiro, então?
L
 Pois é, mas a gente fazia retiro.
D
 Qual era a finalidade?
L
 Não, a gente não estava fazendo aquilo com maldade, né, era bagunça, você sabe como é que é, né? Que eu tinha uma prima que ela fazia retiro, então ela fazia sacrifício de não falar com ninguém, ficava o dia inteiro sem falar. Isso não é possível, né? Eu não dava pra isso não.
D
 A sua família é religiosa?
L
 É, todos nós, todos somos católicos, não somos assim muito praticantes não, mas todos somos católicos.
D
 Sabe, você, você seria capaz de descrever uma missa? É muito importante pra gente.
L
 Uma missa?
D
 É, como é a missa?
L
 Ah, eu não sei mesmo.
D
 As partes que compõem, as pessoas, eh (sup.)
L
 (sup.) Não (sup.)
D
 (sup.) Os religiosos que entram pra ... O que significa a missa afinal de contas?
L
 Bom, a missa que eu saiba assim, pelo menos antigamente era isso que diziam, né, que a missa era a descida de Cristo ali no altar, né?
D
 Hum.
L
 Aí, a gente, a hóstia que a gente tomava, era isso, era o sacrifício de Cristo, né? Eu não sei mais nada não.
D
 Não o significado, mas a maneira como se efetua. Porque é um ritual, não é, um ritual que tem (sup.)
L
 (sup.) As partes? (sup.)
D
 (sup.) Uma porção de partes. É. Exato.
L
 Ah, então a parte é uma entrada, a preparação e a comunhão, não é isso?
D
 (inint.) com a comunhão.
L
 Termina com a comunhão, atualmente termina com a comunhão, né?
D
 Atualmente? Então não era assim antigamente?
L
 Antigamente não, a comunhão era no meio, depois da comunhão ainda tinha uma pá de coisas que a gente não agüentava mais, era uma missa enorme. Hoje em dia não, a missa ... Eu acho muito bacana hoje em dia essa missa que eles fazem a gente cantar, participar, né, que a gente antigamente ficava lendo aquele negócio, o padre lendo lá, a gente lendo aqui, daqui a pouco estava pensando em outra coisa, né? Agora a gente participando, respondendo a missa, eu acho muito melhor, quer dizer, se a gente tem interesse em, em participar, né? Assim ...
D
 Você ainda vai à missa?
L
 Procuro ir sempre que eu posso, porque domingo é um dia muito complicado, porque meu marido gosta de ir à praia, gosta de não sei o quê, geralmente não dá tempo, porque a gente volta tarde, não sei, depois, quer ir ao cinema, e fica numa confusão, a gente não tem assim ... Mas sempre que, que eu posso eu vou.
D
 E, e épocas importantes pra igreja católica, que são assim sagradas? Na sua família vocês davam, davam importância especial?
L
 Importância como (sup./inint.)
D
 (sup.) Há determinadas, determinadas épocas do ano, né, ou uma pelo menos, que é muito importante pra igreja católica.
L
 Que que é? A páscoa, natal?
D
 Não, não páscoa, natal, mas antes da páscoa tem, parece que tem uma semana que é importantíssima, não sei.
L
 Semana santa?
D
 É. Então há uma espécie de ritual também na semana santa pros católicos.
L
 Negócio de beijar o, Cristo?
D
 Sim, alguma coisa desse tipo, é.
L
 Ah, eu não sei, quando eu era pequena eu acho que ninguém me levava porque diziam que eu ia ficar impressionada. Depois, passou, eu não fiquei interessada em beijar Cristo nenhum. (riso)
D
 Mas não levava aonde?
L
 Na igreja, né?
D
 Ah, nas igrejas, esse negócio nas igrejas, né?
L
 Você não é católica?
D
 Não.
L
 Pensei que você fosse, estava falando assim sério.
D
 E, mas dessa semana santa, dessa semana santa, porque a páscoa, a páscoa contrasta um pouco com a semana santa, né, porque é um negócio tão diferente, pelo que a gente vê.
L
 Contrasta como?
D
 Sei lá (sup.)
L
 (sup.) A páscoa é o final da semana santa, né, é a ressurreição de Cristo. A, a, durante a semana santa é a, é o ... Como é que se chama? Tem um nome. É o sofrimento de Cristo, eh, como é que se chama, tem um nome. É a paixão, né, de Cristo e ele, eh, é levado pra cruz e morre, no domingo ele ressuscita, né? É isso que, que é a páscoa.
D
 É isso que é a páscoa. É porque é festa, né, é diferente do, do, do resto da semana, né?
L
 Ah, é.
D
 O resto da semana é ...
L
 No resto da semana os, os santos são cobertos. Eu acho que não tem mais isso não, né?
D
 Não sei.
L
 O único contraste, não sei se a gente ainda tem isso, eles cobriam os santos todos de roxo, a gente ficava, quando eu era pequena eu ficava meia assustada assim quando eu via aquele negócio, tudo coberto, depois, eh, tinha aquelas, sabe, aquelas cerimônias assim todas tristes, mas depois, no, no domingo tem a, a gente comemora com alegria, porque é a ressurreição de Cristo, né?
D
 Você, você, quando casou, casou no religioso?
L
 Casei.
D
 Como foi a cerimônia do seu casamento?
L
 Ah, foi maravilhosa.
D
 Então conte aí pra gente.
L
 Foi linda, foi feita pelo um bispo que me batizou, sabe, conhecido da família e tudo, e ele veio especialmente de São Paulo pro casamento, estava assim muito emocionado. Então foi muito bacana, a cerimônia foi realmente bonita, sabe, as músicas foram, estavam bem escolhidas, nem, nem fomos nós que escolhemos não, foi um, um senhor que, que organizou, um mestre-de-cerimônia que chama, né, organizou tudo, né? Ele falou: olha, é essa música assim, ele falou, mais ou menos, mas ele que escolheu, né? E realmente a cerimônia ficou muito bonita. Foi na São Francisco de Paula, conhece aquela igreja ali na, no largo de São Francisco?
D
 Não.
L
 Largo de São Francisco, ali na cidade.
D
 Ah, sim (inint.) estava confundindo.
L
 Então, aquela igreja. Estava muito bonito, que ele antes do, da noiva chegar, ele, eles apagam a luz, só fica só uma luzinha assim, né, e então ele me deu de presente assim uma harpa pra tocar assim antes do, do casa... Sabe, pra entreter, não ficar aquela conversa dentro da igreja, sabe, aquela ... Porque também a pessoa chega lá encontra todo mundo, começa a conversar, então ficando aquela harpa todo mundo ouvindo, né, não fica tanta confusão. E aí, quando a noiva chega eles acende toda a igreja, né, e toca a música e ficou realmente um ... E a cerimônia em si, as palavras, eu tenho até gravado, as palavras que ele falou e tudo, foi assim muito carinho, foi muito bacana, eh, a cerimônia foi realmente muito bacana.
D
 Agora outra coisa, quando você era criança, em geral criança é que vê esses negócios, depois não vê mais, você, na, na semana santa, você chegou alguma vez a ver "A vida de Cristo", é um filme?
L
 Nunca vi esse filme até hoje, nem faço questão. (riso)
D
 É um filme velhíssimo (inint.) e aí toda criança forçosamente acaba vendo.
L
 É, tem que ver esse filme, senão ela acha que não é atualizada, né? Mas eu nunca vi esse filme, já vi esses troços na televisão, acho que já vi uns filmes assim mas outros tipos. Já vi na, no cinema, como é, "Ben-Hur" e não sei o quê, uns negócios assim mais ... Acho que era "Ben-Hur", não tem, um que aparece Cristo no final, não tem? Tem um filme aí, não sei se é aquele não. Mas eu sei que eu nunca vi esse "A vida de Cristo". Deus me livre!
D
 E você conhece a hierarquia da igreja?
L
 O papa (sup.)
D
 (sup.) Sim, exato, essas coisas.
L
 Se eu sei pra você? Dizer tudo. Ah, não sei, eu sei que o papa é o maior, né? Tem bispo, são uns abaixo, né, os bispos não, os cardeais, depois são os bispos e, aí, você tem mais uma porção de coisas, não sei, e tem os padres, né? Isso aí eu sei os principais.
D
 E em relação às mulheres?
L
 O que?
D
 As mulheres religiosas.
L
 As freiras?
D
 Hum.
L
 Eu tenho uma pena danada elas usarem aquela roupa, né, deve fazer um mal aquilo, aquilo acho que ... Hoje em dia já mudaram bastante também, né, esse negócio do hábito das freiras. Elas usam roupa comum, né, não são roupas espalhafatosas nada disso, mas usam roupas ... Acho que isso faz, aquela roupa fazia até mal pra saúde, né, nesse calor que tem aqui no Rio. Podia ser que na Europa com aquele frio lá ainda pudesse ser usado aquilo, mas aqui é horrível, né? Elas agora usam roupas mais, saias, blusas, assim coisas mais normais, né, aquilo é horrível (sup./inint.)
D
 (sup.) Não existe uma hierarquia entre elas (sup./inint.)
L
 (sup.) Padre já usa também roupa já, padre agora só sai de camisa esporte, calça esporte, né, eu já vi muito padre assim. Tem essa igreja que eu vou muito ali na, na Lopes Quintas, que é perto da casa da minha mãe, e ele é um padre espetacular, ele fala muito bem, sabe, até o meu marido que não gosta de missa, não gosta de saber nada desses negócios, ele gosta da missa de lá. E ele só anda assim, né, o dia inteiro de camisa esporte, calça, joga futebol, vai à praia, está sempre queimadinho de praia. Eu acho isso ótimo, né, muito melhor do que aquelas ...
D
 Entre, eh, entre as freiras existe também uma hierarquia como existe entre o, o, os padres (sup./inint.)
L
 (sup.) Ah, existe mais assim nos conventos, né, que elas têm a superiora, sempre tem assim, né, uma superiora e tem a, as freiras mesmo e acho que as, as noviças, né, sei lá, irmã, não sei se tem diferença não, isso eu não entendo não.
D
 Agora outra coisa, você disse que vai sempre à igreja na, na rua Lopes Quintas, você podia descrever essa igreja pra gente, as partes dela?
L
 Eu nunca ... Ela é um colégio, né, da Divina Providência.
D
 Hum.
L
 Acho que é até aquele negócio daquele banco da Providência da, aquele que tem a feira aquele negócio todo, não sei não, acho que é. A igreja é muito simples assim, até muito simples, né, não tem nada de mais lá, até não é assim de muito bom gosto não, mas é assim, a gente se sente bem lá dentro. Não é assim aquele tipo de igreja cheia de coisa que a gente fica, sei lá, não gosto.
D
 Mas o que que existe, eh, dentro de uma igreja católica? Porque são diferentes os templos religiosos de acordo com as religiões, né? Deve ter alguma coisa que caracteriza uma igreja católica (sup./inint.)
L
 (sup.) Ah, católica tem sempre uma cruz, uma cruz, na, fora, né, uma cruz, e dentro tem, tem o altar e os bancos das, das pessoas assistirem a missa. No altar tem sempre um Cristo e, eh, o principal é isso, tem um Cristo, né, e em volta da igreja, eu estou, eu estou falando assim como eu aprendi, eu não sei se hoje em dia é, já é diferente, mas tem que ter a paixão de Cristo todinha, as fases que ele passou subindo o morro, carregando a cruz, até ele ser crucificado, né, e acho que até ele ser, até ele ressuscitar, não sei não. Estou meio por fora. Toda a, a via- sacra que chama, né?
D
 E fora dessa parte principal, isso, isso supõe-se que é a parte principal da igreja, né?
L
 Bom, tem a sacristia, né, onde os padres se, trocam de roupa, deve ter também assim conforme, conforme a igreja acho que um salão pra cumprimentos, né, essas coisas, se não é na sacristia mesmo, onde as pessoas tratam de missa, quando querem rezar alguma missa, mandar rezar alguma missa por alguém essa coisa toda. Eu não sei. Negócio de batismo, que eu também não sei como é mais não, está tudo diferente, agora é tudo (sup.)
D
 (sup.) Batismo? (sup.)
L
 (sup.) Agora vão todos juntos na igreja, né, antigamente (sup.)
D
 (sup.) Ah, é? (sup.)
L
 (sup.) Ah, hoje em dia fazem todos os, os nenéns, não tem mais a gente vai lá marcar um batismo, não. O padre todo domingo batiza os nenéns, só tem que ir lá os pais, eles têm que fazer um curso antes pra entenderem o que que é o batismo e tudo. Então ficam aqueles nenéns já tudo dentro da igreja, porque antigamente começava lá fora, o neném não podia entrar na igreja, imagina, porque não era ainda filho de Deus. (riso)
D
 Ah, o neném não podia entrar na igreja?
L
 É, então começava fora, aquela co... confusão, rezava, tudo aí, depois entrava na pia batismal, depois batizava ali, depois aí ia lá pra frente da igre... eh, no altar, ali, eh, lá pra frente porque tinha não sei o quê, que eu não me lembro mais o que que era. Tinha um negócio que tinha que fazer lá. Era assim. Agora, não, estão fazendo tudo dentro. Imagina, não pode entrar porque não é filho de Deus.
D
 Que outras religiões você conhece?
L
 Ah, eu não conheço não, porque eu nunca me interessei muito negócio de religião.
D
 De ouvir falar assim, você sabe que existe.
L
 Ah, o meu avô era budista, que ele era japonês, não é? Mas não sei como é que é porque ele nunca falou com a gente sobre isso.
D
 Você nunca, nunca, você nunca teve curiosidade de saber não, como era?
L
 Não, que a gente era muito pequeno, ele morreu eu tinha doze anos ou treze, então a gente ainda não tem aquela curiosidade assim, né, e depois ele não gostava de falar nada pra gente sobre a, o Japão, sobre a língua. A gente às vezes queria saber uma palavra ele não dizia porque ele achava que a gente ia gozar, brincar, né, mexer e tudo, então ele não, não gostava de dizer. Então a gente ficava assim, nunca tive uma aproximação, eu pelo menos nunca tive uma aproximação muito grande não (sup./inint.)
D
 (sup.) Ah, eh, como é, seu avô de, por parte de quem?
L
 Por parte de mãe, o pai da minha mãe era japonês (sup.)
D
 (sup.) E a mulher também? (sup.)
L
 (sup.) Foi batizado na, na véspera de morrer. Ele nunca quis ser batizado. Aí quando ele estava assim doente, a vovó falou, pediu a ele, aí ele deixou.
D
 Sua avó também era japonesa? Não.
L
 Não, vovó não, vovó era brasileira, católica, devota de santo Antônio, aquelas velhinhas antigas assim que vai, devota de santo Antônio, negócio assim na época de santo Antônio ela vai lá, faz a trezena aquela coisa toda.
D
 Trezena?
L
 Trezena de santo Antônio.
D
 Que é trezena de santo Antônio?
L
 São treze dias antes assim, o dia de santo Antônio é o dia treze de junho, né, então começa no dia primeiro as, a pessoa vai lá e começa a trezena, sempre fazem trezena na, na, na igreja de Santo Antônio. Mesmo que a pessoa não possa vim (sic) aqui, faz noutra igreja, acho que na igreja da Paz tem, uma porção de igrejas assim que fazem parte da ordem, né (inint.) e aí eles, eles, todo dia faz, reza, aquele negócio, não sei, pra conseguir alguma graça, alguma coisa, né? Minha mãe tem feito uma porção, pra tanta coisa!
D
 Eu já tinha ouvido falar em novena, mas trezena ...
L
 Novena são ... Que que é novena, heim, eu nem me lembro mais, antigamente sabia isso tudo. Trezena são esses treze dias, novena eu acho que são, não sei se são nove primeiras sextas-feiras que a gente comunga, acho que isso é novena. Não me lembro mais não, sabe, mesmo.
D
 E pra comungar é assim, voc^e chega lá e comunga simplesmente?
L
 Não, a gente tem que ... Conforme, né, tem que, que confessar antes, que eu acho uma besteira danada. Quer dizer, se a gente faz as coisas e se arrepende, né, o que vale você ficar dizendo pro padre, né? Mas a gente tem que, tem que seguir a religião, é por isso que eu co... eu comungo muito pouco, porque eu acho uma bobagem danada esse negócio de confessar. A gente está com vontade de comungar a gente devia rezar uma, um, um ato de contrição, pronto, né, está bom, devia se arrepender dos pecados. Porque que que a gente faz de pecado? A gente não mata, não rouba, que que você faz de pecado, não é? Não faz nenhum pecado assim que ... Você não fica prejudicando, em geral uma pessoa normal não, não gosta de prejudicar ninguém, nada disso, né? Não é, você quer saber a gente tem que comungar, especialmente se a gente não confessou há muito tempo, né, tem de confessar e depois comungar. Se a gente confessou há pouco tempo, não tem assim pecados mortais, nada disso, aí a gente pode comungar sem confessar.
D

  Está na hora.