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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Animais e rebanhos"

Inquérito 0128

Locutor 146
Sexo masculino, 38 anos de idade, pais cariocas
Profissão: militar (Marinha)
Zona residencial: Sul

Data do registro: 10 de novembro de 1972

Duração: 40 minutos

Clique aqui e ouça a narração do texto


L
 Deu a partida, né?
D
 É.
L
 Bom, então, começando pelo tema, animais e rebanhos, primeiro eu vou falar do que eu entendi do tema. Animais seria eu falar de um tipo, só, e rebanho, inúmeros. Eu não sei por quê, acho que animais era suficiente, né, ou você queria usar o rebanho pro coletivo? É isso? Não, né?
D
 Bom, eu estou partindo de um título que eu tenho, entendeu, eu não (sup.)
L
 (sup.) Sei, você não está sabendo. Está bom (sup.)
D
 (sup./inint.) tá?
L
 Bom, esse título pra mim é difícil, né? É evidente, que não é a minha especialidade. Além disso (interrupção) [outra voz:(falar pra cá)] Além disso, tem o fato de que eu nunca tive animal (risos) não sei por que você escolheu um tema... (risos) Eu nunca tive um animal na minha casa, o único bicho que eu mais ou menos, eh, me relacionei, foi com o cachorro da T., o Joli. De forma que animal pra mim é uma coisa mesmo rara. Agora, na minha vida, normalmente, eu, eu vi mais peixe do que bicho. Eu morei em cidade, quer dizer, se não contar bicho de cidade, cachorro e gato, o que eu já vi muito é tubarão, baleia, peixe-voador, toninha, entendeu? Agora vejo muito urubu, gavião, gaivota, aí nessas viagens.
D
 Como é que era o cachorro da T.?
L
 O cachorro da T. era vira-lata, era manchado, né, malhado, preto e branco, gordo, feito uma pipa, velho (risos) e não desconfiava, sem desconfiômetro, fedorento, era uma coisa horrível, viu? Mas ele gostava de mim, me via, quando eu chegava corria e coisa e tal. E eu tolerava aquilo mais por causa da situação, né, porque eu não gosto, realmente não gosto. Mas eu não tenho aversão, eu não gosto, só. Cachorro, acho que é por mania também de limpeza, esse negócio de cachorro deixar cheiro em casa, viu, eu não gosto. Agora eu te confesso que eu não tenho muito o que dizer. Eu não pensava que a coisa fosse assim, entendeu? (sup.)
D
 (sup.) Como é que é um cachorro sem desconfiômetro?
L
 Bom, o cachorro geralmente não tem desconfiômetro, o dono é que atura, entendeu? Por exemplo há pouco tempo, agora eu estou me lembrando, eu estive lá em São Paulo semana passada, e a E. e M. têm dois cachorrinhos novos, a L. com o, o H. também têm um outro maior. E eles não desconfiam mesmo, chega uma pessoa e eles incomodam, é isso que é. É como se fosse uma criança, entendeu? Pula em cima, suja, e lambe. A lambida é, é um troço chato, geralmente lambe a cara, é o fim. (pigarro)
D
 Além do cachorro, quais são os outros animais ou quais são os, os tipos de cachorro que as pessoas criam na cidade? Quer dizer, a gente tem animais de cidade, tem os de campo e tem animais em geral (sup.)
L
 (sup.) É. Os animais da cidade são os animais que são chamados domésticos, né? Aliás, chamam de doméstico também animal na roça que se cria, né? O, acho que boi, vaca, essa coisa, tudo é animal doméstico, né não? Ou não? Não, porque não fica dentro de casa. Realmente, essa área eu estou por fora. Mas um outro bicho que eu também já, já vi assim é o gato. O gato é muito mais limpo que o cachorro. Eu acho que, eu gosto mais de cachorro, mas o gato é mais chegado aos meus hábitos, entendeu? Incomoda menos, é mais limpo, é mais sabido às vezes. Vamos falar agora de peixe (sup.)
D
 (sup.) Se você tivesse uma (inint.) pra escolher um gato pra criar, que gato você escolheria, um raro?
L
 Eu acho que é o gato, aquele gato que a dona A. tem, é um gato, eu não sei se é sia... é siamês, acho que é. Aquele gato é o mais bonito. Angorá eu não acho tão bom. Tem o gato de telhado, aí, esse gato vira-lata. Gato não vira lata, né, vira-lata é só pra cachorro. Mas é um gato vagabundo desses. Eu não tenho idéia sobre isso, mas eu vou falar do peixe, que eu tinha dito que ia falar antes, né?
D
 Ótimo.
L
 O peixe, eu conheço quase tudo que é espécie de ver, porque no começo da carreira eu ia muito no mar e coisa e tal. Então eu já vi, já vi baleias imensas, já vi peixe voador, que é do tamanho de um palmo, voa mesmo, voa mais de cem metros, toninhas correm com o navio e passam pela proa, embaixo dágua e coisa, é evidente, pulam às vezes, saem. E aliás a T. parece uma toninha. Mas, enfim, o, a arraia também, via muito, na época da escola, do paredão, elas iam muito ali perto, aquela arraia-jamanta, malhada. E o tubarão, tubarão-martelo também tem muito aqui fora da barra.
D
 Como é que é a sereia?
L
 Sereia eu nunca vi, sabe?
D
 Bom, baleia, que você viu? (risos)
L
 É, a baleia é imensa, a baleia é uma coisa incrível, solta uma aguinha, tem uma, uma cauda larga, geralmente quando ela mergulha, ela depois abana aquilo em cima dágua. Eu acho que ela ... Como às vezes a gente quando mergulha também aparece o pé, né, um mergulho mal feito. Se bem que o da baleia não deve ser mal feito, ela deve ter alguma conveniência naquilo que eu não sei. Mas a sereia que você falou é a única coisa que está me faltando ver, viu? Metade peixe, metade mulher, canta, isso eu não vi. Essa eu vivo atrás de ver, mas não aparece.
D
 Você bem que tenta, mas enfim.
L
 Agora, passarinho, urubu, viu, gavião, eh, gaivota, isso também agora eu vejo muito. E uma das coisas engraçadas é que o, o coletivo é inadequado no meu ver. Toda vez que eu vejo, eu quero falar, eu tenho dificuldade, em vez de falar bando ou revoada, essa coisa, me dá vontade de falar cardume. Isso não é porque tu... era esse o tema não, é porque realmente eu tenho tido dificuldade de achar um coletivo adequado. A gente às vezes, quando tem assim, por exemplo, urubu, na frente, tem de tomar cuidado, porque o, o meu helicóptero é leve, então a, a pá dele já bateu em urubu, aí, um caso lá quase caiu, teve que parar. Uma vibração tremenda e teve que descer e ficar e depois trocarem a pá. Mas então agora quando a gente vê urubu, geralmente a raça, em vez de avisar que é um bando de urubus, diz que é uruburetama (sic) por causa desse negócio da, daquela mulher. Como é o nome? Eu não sei, não me lembro. A ba... a, é lá da tua terra, né? Aquela artista, não é, não? Hum? Não adianta, com gestos. Tem que ser em silêncio? Não, que você já falou, né?
D
 Não, eu posso falar, eu só não posso é responder (sup.)
L
 (sup.) Você não pode é responder perguntas, pra não influir na, nas palavras que eu escolho, é isso?
D
 É. Exato. Agora, como é que é tubarão? Eu ouço dizer que tubarão é um bicho mau. Como é que é (inint.)
L
 Ah, bom. Eu, eu vi, eu, o que eu sei de tubarão, tubarão eu só via, né, nunca estive com nenhum perto, eu vejo geralmente ou de dentro de navio ou de dentro de aeronave. Agora a gente vai muito a cinema e tem muito tubarão em cinema. Há pouco tempo eu vi um filme só sobre tubarão. E é um peixe violento, primitivo, é um dos mais antigos espécimes vivo ainda. É um tipo de, de, de fera marinha que ... Eu não tenho a menor vontade de encontrar com um dentro dágua. Eu não tenho cora... Tubarão me mete medo. Tubarão realmente, tem quem faça essas caçadas submarinas e ... Mas isso pra mim é muita bravura, porque depois que a gente vê a maneira como ele morde, sacode e arranca um pedação de carne na boca, aquilo me impressiona, e eu realmente tenho medo.
D
 Mas você falou de peixes, você se sente mais à vontade nesse capítulo dos animais. E dos peixes que as pessoas pescam pra comer, etc. como é que é?
L
 Ah, bom, pra comer é uma outra coisa boa, que eu sou guloso. Pra comer o que tem de melhor é linguado, né? Linguado, robalo. Siris e lagostas não são peixes, mas podem servir no caso, né?
D
 (inint.) é animal.
L
 Tudo serve, é animal, não é? Pois é, acho que eu não sei, está difícil falar, viu, eu estou ... É, não, o assunto é (sup.)
D
 (sup.) Você está falando muito bem.
L
 É. Estou falando bem, estou sendo encorajado, mas enfim, o fato (sup.)
D
 (sup.) Você comparando o comportamento humano e o comportamento dos animais (inint.) que que se nota? Por exemplo, você falou em cachorro. Outro dia eu li uma coisa. As pessoas não entendem nada de cachorro, e eu fiquei espantada, né, com as pesquisas. E isso 'e uma coisa freqüente na literatura, as comparações entre o comportamento dos animais em relação ao comportamento do homem (inint.) os animais mais espontâneos que o homem (inint.)
L
 É, o animal é mais espontâneo porque ele não tem as inibições que a gente tem, né? Eu acho que ele é mais espontâneo por isso. Além do mais eu acho que na espontaneidade dele, ela tem uma amplitude muito pequena, porque eles não têm muito de onde apelar, né? A espontaneidade do cachorro é lamber, gritar, ficar triste. Mas eu acho que o homem tem uma capacidade muito mais desenvolvida. Ele se tivesse a desinibição do cão, andasse nu e, eu acho que iria ser uma coisa muito mais espantosa. Eu não li nada, como você leu há pouco tempo, de forma que a minha idéia é essa, primeira coisa que me ocorreu. Eu não vejo assim grandes coisas nos animais, não.
D
 Mas quais são os animais que têm, que se aproximam mais do homem nesse aspecto, comportamento, reações.
L
 Eu não sei, me parece que o macaco é o mais parecido, né? Deve ser, né? Vem todo mundo de lá, de forma que o macaco deve se assemelhar muito. Mas eu ouvi dizer que o que tem o cérebro mais desenvolvido é, é a toninha, é o golfinho. É a capacidade, inclusive eles são muito usados aí, pra fazer trabalhos submarinos. Então dizem que se ele tivesse mãos, como o homem tem, que ele era capaz de ser o animal que mais se aproximasse. Mas eu não acho, acho que fico com o macaco.
D
 Você ia ao jardim zoológico quando criança? Que que você acha do jardim zoológico?
L
 Jardim zoológico eu fui muito pouco. (pigarro) Inclusive o jardim zoológico melhorou muito depois que eu já não era criança, se não me engano, viu? Aí eu já fui mais vezes ao jardim zoológico pra levar criança, do que quando eu ia. E aí já estava grande, não, não tinha tanto atrativo assim. Inclusive a coleção lá de, de aves era o que havia de melhor, quando abriram aqui, e os outros animais estava um pouco pobre. Eu não vou lá há muito tempo, não sei como está agora. E a ave acabava me chateando, sabe, ficava monótono, porque era tanta ave, tanta coisa.
D
 Tinha alguma ave diferente assim aqui no jardim zoológico?
L
 Tem o ... Olha, assim de diferente eu vi a águia, que eu nunca tinha visto, o, ah, o urubu-real, que é um urubu com umas cores, a tal, a tal ave-do-paraíso eu nunca vi, acho que não tem, eu fui lá pra ver porque vi em, em livro de figurinhas, mas não me lembro de ter visto. Tem o tucano, arara, papagaio e passarinho também tinha muitos, cardeal e até bico-de-lacre, que é um passarinho vagabundo, que tinha muito em Laranjeiras e a gente pegava. Botava ficus no mato, sabe, e ele pousava e ficava preso com um, um que chamavam também de arapuca, certo, pra pegar passarinho. Geralmente punha uma gaiola e uma arapuca do lado, porque dentro da gaiola o pássaro chamava o outro. Ou então quem não tinha, punha só a arapuca com uma varetinha calçando, era uma armadilha, né? Ele pousava, soltava aquilo, e ficava preso. Coleiro, tinha coleiro, um tal de coleiro-virado, que cantava mais, deixa ver se eu me lembro de outros.
D
 Isso no jardim zoológico quando você ia lá?
L
 Não, esses já estão aqui em Laranjeiras. Bom, aqui agora eu vejo muito bem-te-vi. Bem-te-vi chama um daqui responde outro de lá. Rolinha, pára aqui. Andorinha não tem. Pardal tem, muito.
D
 Você acha que os passarinhos na cidade, eles fazem algum dano? Prejudicam alguma coisa ou não?
L
 Não, eu não acho. Passarinho eu não tenho a menor restrição. Tem quem não goste de pombo, tem gente que tem medo de pombo, que diz que o pombo faz cocô em cima essa coisa toda. Ali no largo do Machado agora está cheio. Toda vez que a T. atravessa, (risos) ela está com medo que os pombos voem em cima dela e, e sujem ela. Mas eu não tenho esse, esse ... Eu não vejo inconveniente em pássaro não. Aliás talvez eu tenha uns pássaros aqui, é a única coisa que, que eu devo providenciar. Se eu fizer outra viagem pro norte, eu vou comprar ou uma arara ou um tucano.
D
 Onde é que você tem, criaria esses pássaros dentro do apartamento?
L
 É ali no terraço.
D
 Solto?
L
 Não, ele solto não fica, né, ele vai embora. Ele vai ficar preso aí. Se for arara pode ficar preso por uma corrente, né, talvez até nem precise, cortando, num poleiro. Tucano eu acho que precisa gaiola. Gaiola, viveiro, viveiro de canários também. Canários não, viveiro de periquitos, periquito é que gosta de viveiros, né, canário vive em gaiola.
D
 Eh, você falou dessa parte relativa a pássaros que você encontra aqui no Rio ou de exemplos do jardim zoológico. Você se lembraria de mais pássaros, típicos do Brasil?
L
 Bom, anu é um pássaro de um nome muito esquisito, joão-de-barro, seriema é pássaro, né, mas, é, não, não sei nem como é, eu sei que existe. Tem, ah, a pombinha, a, a rolinha também tem uma que chama pomba-rola, que eu acho que é o mesmo que rolinha, né? Deixe eu ver outro nome aí.
D
 Como é que é o corpo das aves?
L
 O corpo?
D
 Sim.
L
 Ah, o corpo da ave é coberto de pena, né? E geralmente é rolicinho, os pés somem dentro das penas quando ela está voando. Você quer que eu (sup.)
D
 (sup.) Como é que são os pés?
L
 Os pés, eles são feitos pra ... Geralmente a ave que, que está em poleiro, eles têm umas garras e uma musculatura apropriada pra quando ele arria o pé, o dedo fecha e prende ele. As aves têm bicos, têm línguas dentro do bico se não me engano. No outro dia uma abriu a boca lá na ... Eu vi, eu acho que tem língua, não sei. Tem sim, uma língua pequena, mas tem. Não é? Acho que tem, eu vi abrir a boca e acho que tem uma língua. O bico, tem os olhos pro lado, a maioria não tem, não tem pálpebras. Ahn?
D
 E as aves que nós comemos, quais são as mais comuns?
L
 A ave que a gente come é galinha.
D
 Só?
L
 Heim? Galinha, é, eu só como mesmo, porque pato é muito raro, peru. O que se come mesmo é galinha. Peru também, de vez em quando.
D
 Qual é a diferença entre (sup.)
L
 (sup.) Ah, o pavão. O pavão é uma beleza.
D
 Como é que é um pavão?
L
 Pavão?
D
 Sim, o pavão.
L
 É, o pavão tem um rabo todo colorido, ele gosta de mostrar o rabo, então ele abre aquele leque, cheio de cores. Agora eu não sei se aquelas cores é o que se chama furta-cor. Eu agora já estou até aproveitando pra te perguntar isso, viu, porque realmente aquele negócio quando abre, me parece furta-cor, agora eu não sei se é isso que é furta-cor, pra mim furta-cor é isso. Inclusive alguns até dão colorações semelhantes à mancha de óleo na água, você já viu?
D
 Não.
L
 Que aquilo eu acho que também é furta-cor. Não é não? Bom...
D
 E o corpo dos peixes?
L
 O corpo do peixe é escorregadio. É, é , é assim brilhante, entendeu, viscoso, deve ser pegajoso, é frio.
D
 Por que que é frio?
L
 Bom, porque o, o peixe é, é animal de, de sangue frio, né, na, na, com exceção da baleia, toninha, mas mesmo ass... mesmo esses eu acho que têm uma camada de gordura que isola tanto pra dentro como pra fora. Sei que ao contato é frio.
D
 Hum. Você já viu alguém preparar peixe (inint.)
L
 Preparar, abrir o peixe, decepar, destripar?
D
 Sim. Como é que faz assim pra você comer o peixe? Pesca o peixe e você come o peixe. Tem um série de coisas que acontecem (sup.)
L
 (sup.) É. Ah, há. Você depois que pesca ... Bom, se você quiser saber, se for peixe de cidade, que vem na barca, passa no mercado. Mas não é isso, você quer como prepara, considerando o peixe já em casa, né?
D
 Não, se você quiser contar desde o comecinho (sup./inint.)
L
 (sup.) É, talvez você comple... complete o tempo, né?
D
 Não, nós temos muita fita, mas o tema é importante.
L
 Tá. Então vamos. Ele vem, é pescado num barco de pescador, chega no mercado e (sup.)
D
 (sup.) Você já viu pescar, alguma vez?
L
 É, já vi, sim.
D
 Como é que é?
L
 Bom, há mais de um processo, mas um processo muito comum é o sujeito so... vai soltando a rede do barco, até meio pela popa assim, e, e com barcos menores, eles vão, eh, puxando a rede, dando o formato dela e fazem mais ou menos o que seria talvez o arrastão na praia. Mas eu já vi isso dentro dágua também. Eu nunca fiquei prestando atenção até acabar, eu sei que tem um processo qualquer deles esticarem uma rede grande, ela vai se fechando e o peixe, depois que ela começa a ser colhida, o peixe fica lá dentro. E dali ele é colocado pra bordo do, do barquinho, vem pra dentro do, da baía, vai pro mercado, é distribuído, e do atacadista vai pro, pro varejo e aí ele é comprado, adquirido, vem pra casa, então aí começa a faina de escamar o peixe, tá? Depois que escama o peixe, rasga a barriga, tira as tripas, bota pro lado de fora, né, lava na água, depois de bem lavado, aí começa o tempero. Agora, o tempero precisa entender de cozinha e ... Mas deve ter uma porção de ingredientes, que eu não sei a dose nem o tipo. Ah, por falar nisso, uma vez eu preparei camarão, fui preparar e entrei pelo cano.
D
 Por quê?
L
 Porque me respingou na barriga, eu estava sem camisa, e na mão, me deu uma alergia danada, empolou tudo. De forma que eu sei que, eu não sei preparar, mas era com limão, alho e cebola. Então deve ser com isso que fazem as outras coisas. A gente põe ali, depois que está temperado, ele vai fritar ou vai ass... acho que assar não dá não. Tem peixe frito, tem peixe ensopado, né? Tem peixe à escabeche, mas isso não é ... Escabeche não é palavra portuguesa, é?
D
 Não sei.
L
 Não deve ser, né?
D
 Como é peixe à escabeche?
L
 Eu não sei também não, mas eu acho que é uma espécie de peixe ensopado, uma coisa assim.
D
 Você falou em camarão e falou em peixe, da sua convivência com o mar. Mas no mar não há só peixes, né?
L
 No mar tem peixes e tem aves (sup.)
D
 (sup./inint.) outros animais, na ordem zoológica (sup.)
L
 (sup.) Ah, sim, sim. É, é. Não há dúvida. É, é. São animais, não são peixes. Mas aí já são crustáceos e não sei o quê. Bom, aí já entra naquelas famílias que eu já não me lembro mais os nomes, né? Porque esse assunto, realmente, me deu uma travada, aqui. Deixa eu ... A A. esteve aqui esta semana, mas ela, eu cheguei e não tive contato com ela, senão na certa nós tínhamos falado de animais e, aí, eu estava mais afiado.
D
 Então, ótimo. Agora me diz uma coisa. Sobre a pesca como recurso.
L
 Bom, agora uma das campanhas aí que está se fazendo é em, é em torno de pesca, não é? Quer dizer que estão promovendo essa SUDEPE e, e também estudos do mar, Fundação de Estudos do Mar, criaram esse negócio de duzentas milhas. De forma que, de uns tempos pra cá, o assunto está muito em pauta. Mas eu acho que a familiaridade com o assunto me tira um pouco do interesse, o que não devia ocorrer, mas no fato ocorre. Então eu não tenho, quase não leio sobre isso. Eu só sei que estão tratando muito disso agora, mas está difícil.
D
 E você teve oportunidade, fora do Brasil, de ir a um jardim zoológico? E comparar com o daqui?
L
 Olha, no Central Park tem um jardim zoológico, Nova York. Mas eu, na ocasião que eu estive lá, pra ir ao jardim zoológico, que eu voltei outra vez, não fui lá, eu não, não estava muito interessado no jardim zoológico não, entendeu? De fato, me pareceu meio pobre e depois era inverno, e inverno, esses bichos grandes geralmente são de clima quente, os bichos grandes que, que a gente está acostumado a atrair a atenção: leão, tigres. Urso, eh, tinha, mas eu achei fraco, não sei como é que está hoje, quase não vi. Esse foi um. Não me lembro mais de nenhum outro. Na, na Holanda parece que tem um muito bom, e na Alemanha, mas eu não fui ver. Aliás, a época da Europa eu não tinha o menor interesse em ir a jardim zoológico. Então não vi nada.
D
 No próprio jardim zoológico daqui você mencionou o capítulo das aves, mas tem outras coisas, né?
L
 Ah, há muito mais coisas. Tem um, tinha também um, um aquário, um, um, um, um edifício, né, uma construção feita só pra peixe. E a gente entrava, e, era meio escuro, porque as paredes já eram uma, os aquários. E aquilo também foi uma coisa diferente. Além disso tinha a parte das feras, tinha também o, o lago dos jacarés, crocodilo à beça.
D
 Que que são as feras?
L
 A fera era o tigre, eu acho que tigre não tinha, mas tinha o leão, tinha a pantera negra, que é muito bonita, eh, o jaguar, que era a onça pintada, tinha uma hiena, que não tem razão pra rir mas ri, né, é uma piada que eu não vou contar, tem a, tem a ilha dos macacos, com macacos ordinaríssimos, entendeu (inint.) os macacos pintavam o sete lá naquela ilha. Aliás, pintar o sete é velho, viu, é uma das coisas do arco da velha.
D
 Que é que você acha de caça?
L
 Caça?
D
 Pessoas caçarem e (sup.)
L
 (sup.) É, eu nunca cacei. Eu acho uma palhaçada, né? É, porque eu tiro pelas pessoas que eu conheço que eu sei que caçam, né, por que que elas fazem aquilo. Inclusive isso está condenado. Acho que talvez aqui seja um dos poucos lugares que aconteça isso, de caçar por caçar. Até na África eu acho que hoje já não deixam mais, né? É mais na base da fotografia e, e ... A caça não me atrai. Agora, é um esporte até de certa forma meio nobre, viu, porque ... Nobre no sentido de que é uma minoria que hoje em dia faz. A não ser quem é do interior, interior tem muito caçar bichinho pra, pra comer, né, há quem goste de caçar paca, sei lá. Ah, vem cá, e aquela história, paca, tatu, cotia não. (risos) Você já ouviu?
D
 Sim.
L
 É, aquilo tem qualquer coisa no meio, mas eu não me lembro.
D
 Nós só falamos de animais nobres, simpáticos (sup.)
L
 (sup.) É, mas tem aranha, tem escorpião, entendeu, tem lagartixa, é, tem lesma, coisas horríveis, pegajosas, escuras, assim, sumidas, cascavel, lagarto.
D
 Você tem medo de algum animal desses?
L
 Tenho, eu tenho medo de peixe, peixe valente e cobra. Esses dois eu tenho medo. Isso já deve ser até uma certa doencinha, viu, mas a verdade é que  
D
 (inint.) como é que é cobra, heim?
L
 A cobra, a cobra, eu nun... (sup.)
D
 (sup.) Você já viu alguma?
L
 É, eu já vi muitas, eu nunca tive foi coragem de botar a mão. Inclusive uma vez eu, eu passei, eu cheguei a encostar a mão numa cobra preta, uma tal de muçurana, que come as cobras venenosas e, quando eu encostei a mão, realmente o contato não foi tão ruim quanto eu esperava, viu, porque cobra parece que é um peixe também, que é viscoso, essa coisa toda, mas não deve ser tanto. Agora, cobra eu já matei. Aqui em Laranjeiras mesmo, quando eu morava lá, havia muita, muito terreno baldio, que era a antiga fábrica Aliança, e aí aparecia muita cobra, entendeu? E ... T. está perturbando aqui essa conferência, não é?
D
 Mas conta a história das cobras.
L
 Então as cobras lá, tinha muito mato, e dava muito aquela cobra meio verde, entendeu, e a gente costumava pegar muito. Venenosa quase não tinha.
D
 Você já foi ao instituto Butantã?
L
 Já fui ao instituto Butantã, já vi tirar veneno da, do, das presas da, da cascavel. Já vi (inint.) pega na mão, eles já estão acostumados, eles entram lá no meio das cobras com a maior tranqüilidade, seguram a cobra pelo gasganete, está entendendo, apertam assim, a boca da cobra abre, né? Ele aí, com um, tem, eu acho que junto do, da, da presa, daquela, com um saquinho com veneno e ele aperta ali, então forma a gota, na ponta, e ele colhe aquilo. Tiram os venenos das cobras. E o veneno da, da cascavel, do que eu vi, era um, era um líquido cristalino, bem transparente, não era leitoso não.
D
 Além da cascavel, você viu lá outras cobras?
L
 É, eu vi coral, que é uma cobra bonitinha, que tem uns anéis coloridos, vermelho, preto e amarelo, parece, sei lá. Tem a jararaca, eh, surucucu-catete (sic), não sei o quê. Deixa eu ver outra cobra que eu vi lá. Bom, cobra eu já tive que estudar aquela diferença da que é venenosa pra que não é. Tem também os procedimentos se for mordido por cobra.
D
 Como é que você descobre (inint.) se é venenosa ou se não é?
L
 É, é porque a, a, a venenosa ela tem a cabeça triangular, tem o corpo, eh, em vez do corpo ir afinando homogeneamente, ele de repente afina junto da cauda, entendeu? E tem fossas lacrimais ou mais ou menos acentuadas ou só uma tem, eu já não me lembro bem. Esses assuntos eu tiro da cabeça. Esse, essa coisa está sendo um suplício, viu? Porque geralmente a gente aproveita, quando tem que falar num tema, viu, quase que a gente vai procurando as coisas que, não é, tem mais medo, não gosta, sei lá.
D
 Você já viu algum filme sobre animais?
L
 Já, já vi aqueles filmes do Walt Disney. Documentários todos, bem feitos, eu gostava muito. O último filme que eu vi foi o tal "Morte Branca em Água Azul". Esse é só sobre tubarão. Os sujeitos saem pra procurar o tal tubarão branco que é muito bravo. Aí, fazem coisas incríveis.
D
 Você leu a crônica do (inint.)
L
 Não, não li não.
D
 É um texto só sobre animais nocivos, não?
L
 É?
D
 E há dentre esses nocivos (inint.) sobreviverá ao homem.
L
 É a barata. Barata é inseto, não é animal, não vale, né?
D
 Vale!
L
 Ah, vale também, mas qual é o que vai sobreviver ao homem?
D
 (inint.) um inseto que eu não sei exatamente qual é. Acho que é um escaravelho ou uma coisa assim. Mas, quer dizer, não se garante que seja (inint.) numa região que já foi atingida por uma bomba atômica, esse inseto foi o único que sobreviveu.
L
 Tranqüilamente.
D
 É. Então, vamos falar sobre esse capítulo dos insetos?
L
 É, o capítulo do inseto é outra coisa. Mas o inseto não me apavora tanto. Por exemplo, a barata entrou em foco desde que eu comecei a lidar mais com a T. porque a T. faz escândalos, né, com barata. Então às vezes eu me assusto por causa do berro que ela dá quando vê uma barata. Porque a barata pra mim, embora eu reconheça que ela é suja, eu nunca tive assim uma ojeriza grande, porque até comer barata em café eu já comi, sem querer. Já tomei uma xicrinha de café com uma barata dentro e cuspi. Também aqui na praia do Flamengo, que eu ia à praia há muitos anos, quando tinha o paredão, ela tinha muita baratinha do mar. Aquela então, cansava de passar pelo meu pé, às vezes passava no braço. Eu nunca liguei muito, mas depois da, dessa história da T. eu passei a tomar mais atenção e aí comecei a descobrir que parece que a barata também dizem que vai sobreviver ao homem, que ela é capaz de suportar as piores condições e que prolifera assim com uma multiplicidade espantosa. Eu não estou querendo falar difícil não, mas é ... Agora um insetinho bonitinho é joaninha. Já viu, joaninha?
D
 Não, como é que é?
L
 Nunca viu joaninha?
D
 Posso ter visto mas não identifico.
L
 É, é, é um, é um inseto pequenininho, redondinho, ela é uma, é uma semi... é uma semi... é uma semi-esfera, uma hemi-esfera, sei lá, e é colorida, ela tem vermelha, tem até de mais cores e algumas com pintinhas.
D
 Já sei qual é!
L
 Sabe qual é? Tem uma asa que parece uma casquinha, quando ela voa, ela some. Eh, deixa eu ver outro inseto. Bom, inseto tem de tudo, moscas e mosquitos, pulgas. Parece até aquele propaganda, né, moscas e mosquitos, pulgas e baratas. Chato é inseto também, né? É horrível. É percevejo. E tem o cricri.
D
 Cricri, como é que ele se chama?
L
 Cricri é o que dizem que é o chato dos chatos. Mas isso deve ser piada carioca, né? Deixa eu ver que mais.
D
 Você já esteve no campo e se lembra quais os animais que mais impressionaram você?
L
 Olha, campo mesmo eu nunca estive. Eu já estive em fazenda, muito rapidamente e, eh, vaca e boi, né, ficam naqueles currais. A gente às vezes tinha que atravessar um curral daquele e, pra quem não está acostumado, ver um bicho daquele tamanho, eu era garoto, aquele negócio me impressionou, né? Eu não, vaca eu só conhecia de, de rótulo de lata de leite, essa coisa. Agora eu vejo muito lá perto de Cabo Frio, onde tem aqueles salineiros todos, eles têm sal e têm gado. Então quando chove e frio, o sal acaba e o gado engorda. É uma maneira de compensar uma coisa pela outra. Quando está muito quente, vento, tudo, a produção do leite cai, mas a, o sal aumenta. Então tem muita vaquinha por lá.
D
 Vamos falar um pouquinho da relação que tem dos animais com (inint.) países, Brasil, por exemplo (inint.)
L
 É, o animal, o ani... (sup.)
D
 (sup.) É o animal (sup./inint.)
L
 (sup.) O animal que você chama de pecuária, né? É uma das, é uma das riquezas que os países têm e que o nosso país, pelo tamanho, pelo espaço vazio que ainda tem, ele podia desenvolver bem, desde que tivesse o conhecimento e os cuidados necessários. Me parece que o nosso gado está crescendo bem. É um, também é um assunto estranho, mas ... Esse negócio de pecuária hoje inclusive está muito especializado, né? Existe uma série de técnicas novas e eu não sei se nós aqui já usamos todas.
D
 Eu sei, por exemplo, que em matéria de animais, o que um povo de uma cultura utiliza para se nutrir não é o mesmo de uma outra cultura (inint.) que às vezes nós nos espantamos muito que certas coisas possam aparecer na mesa de certas pessoas, por exemplo, que sejam estranhas para nós.
L
 É. Bom, tem, tem hábitos alimentares esquisitos, né? Eu não, não, não vi não, mas colegas meus já, já viram, por exemplo, cérebro de macaco servido em ... Também há quem coma al... bolinhos de camundongo, né? Há quem coma cobra. Aliás, isso eu já vi, comerem cobra, pra mostrar que se come, eu vi um sujeito fazer e comer. Numa aula, um negócio chamado sobrevivência, que é pra ensinar a sobreviver na selva, né, então tinha lá um tal de instrutor Corte que comeu cobra, não é? Agora, das carnes, eh, do, dos animais, eu acho que a carne mais saborosa é a do porco mesmo. E o melhor mesmo é o filé-mignon da, da, do, do boi, né, da vaca.
D
 E a prática de esporte animal, em que os animais são utilizados.
L
 Pro esporte, principalmente o cavalo, né? Pra equitação, pólo e corridas mesmo. Mas o cachorro também, tem corrida de galgo. Tem até um esporte muito imbecil que é cercar o porco. Pega um, pega, pega um porco e passa um, um óleo nele, e a turma vai correr pra ver quem pega. Tem o pato dentro dágua. (pausa longa) Deixa eu ver.
D
 Em certos países (inint.) se tem o hábito de pôr animais pra brigar.
L
 Ah, é, o galo de briga, né? Os países, não, aqui se faz isso. Galo de briga, né? É, eu, eu vi lá em Valença uma, uma, uma briga de galo, mas o galo já estava, já estava meio ... Todos dois estavam já muito cansados, então eles ficavam parados assim muito tempo, de vez em quando um pulava pra cima do outro, e o outro aí dava um safanão, separava. Já estava acabando a briga, eu não cheguei a ... Mas o Pé-de-Pilão lá do "Coronel e o Lobisomem" é (sup.)
D
 (sup.) Eu estava pensando nele.
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 Estava pensando nele, né? Pois é, aquela luta foi ótima. A que eu vi em Valença todos dois estavam já muito depenados, já todos ensangüentados, fraquinhos. Mas é outra imbecilidade, né? E eu sei que tem briga de canário também. Uma coisa horrível. Eles preparam o canário pra brigar, brigam mesmo.
D
 Você já viu briga de peixe?
L
 Peixe, não. Eu já vi safanões ali dentro de um, de um vidro ali. T. comprou uns peixes noutro dia, pra dar pra uma menininha, e tinha um peixe que era o limpa-fundo (sic), horrível, ficava no fundo limpando e tinha um outro vermelhinho. E o vermelhinho deu umas atacadas nele.
D
 Terminamos.
L

  Terminamos. Deus me livre!