« MAPA «
PROJETO NURC-RJ

Tema: "Tempo cronológico"

Inquérito 0123

Locutor 140
Sexo masculino, 54 anos de idade, pais não-cariocas
Profissão: jornalista
Zona residencial: Norte

Data do registro: 01 de novembro de 1972

Duração: 40 minutos

Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 O senhor contou que o senhor trabalhou com meu marido há muito tempo, não é? O senhor podia (sup.)
L
 (sup.) Olha (sup.)
D
 (sup.) Dizer pra nós o que o senhor, a sua vida em termos de tempo, como era nessa época?
L
 Em mil novecentos e, e cinqüenta eu comecei a me interessar pelo jornalismo, não é (inint.) não tinha curso ainda, compreendeu? Então quando a, a, a Academia Brasileira de Letras inaugurou o primeiro curso de jornalismo, curso de, de feição universitária (inint.) porque antigamente não havia universidade de jornalismo, nem havia cursos de jornalismo de moldes universitários. E eu sou formado num, numa escola de jornalismo, entendeu, do velho tempo em que o jornalismo se fazia no jornal. Então esse era o jornalista, este é o jornalista que eu sou. Eu me fiz jornalista numa redação de jornal, trabalhando como auxiliar de revisão durante muito tempo. Trabalhava das, das sete da noite até meia noite fazendo revisão. E depois de alguns anos dessa prática de revisão eu era foca de jornal, né, como se diz, então eu passei à chefia de revisão, compreendeu? Aí então piorou a coisa pra mim, porque eu ficava fiscalizando a revisão e meu horário então era muito, ia muito além. Então eu me lembro que havia ocasiões que eu saía do jornal às três da manhã, chegava às sete da noite e saía às três da manhã. E durante duas vezes por semana eu tinha que chegar no jornal entre duas horas e três horas e trabalhava até de madrugada, porque eu só poderia sair do jornal depois do jornal rodado. Então eu fazia até a última prova de página. Depois da última prova de página, quando o jornal ia ser rodado, eu acompanhava o jornal na, na, onde tinha as rotativas, via o jornal ser rodado (inint.) o jornal e ia embora pra casa, chegava em casa quatro horas da manhã.
D
 E durante o dia?
L
 Ah, durante o dia eu trabalhava. Agora o pior da história é que eu tinha encontrado, que encontrar um tempo para as minhas atividades particulares, porque eu tenho um grande vício na minha vida, viu, é o vício de escrever. Não sei, a gente começa a se interessar por jornal e o jornal nos vai em... empurrando pra esse vício, que é o vício de escrever. Eu sempre tive alguma imaginação. Desde criança gostava de história, de contar história, de, de, de, de, de me contarem história, de contar história aos outros. Inclusive quando eu fazia o primário uma vez eu levei uma gozação de um professor de português porque eu fiz ... Ele mandou fazer um tipo de composição e eu fiz uma composição muito romântica, com uma história muito romântica, então ele fez uma gozação comigo, e eu daí pra cá me inibi. Então me fechei. Só muitos anos depois é que aquela, aquela, aquela vontade de escrever voltou, porque uma coisa quando é tendência, ela às vezes desaparece mas volta, porque nós não podemos reprimir uma coisa que está inerente, que está em nós mesmos também, né? Então aquilo apareceu. Aí eu comecei a, a me en... me entregar ao vício. Dois vícios que eu tenho: é o vício de escrever e o vício de fumar. São duas coisas concomitantes, porque quem escreve fuma, porque ajuda muito e excita a imaginação (fala à parte, de circunstante)
D
 Bom, mas aí o senhor disse que tinha que arranjar um tempo pra escrever, como é que o senhor fazia? (sup.)
L
 (sup.) Bem, aí nas ocasiões em que eu trabalhava pouco no jornal, eu saía mais cedo, eu dormia geralmente muito pouco, umas quatro horas por noite, viu? E nos sábados e domingos, no meu tempo de solteiro, eu passava a noite escrevendo. Então eu saía do jornal, chegava, quando chegava mais cedo no jornal, assim pelas onze horas, dez horas, onze horas, eu ficava escrevendo até alta madrugada. O povo ia dormir e eu ficava em cima do papel. E enquanto houvesse imaginação e papel em branco eu ia escrevendo. Daí que começaram os meus primeiros trabalhos literários, que eu posso dizer literários. Então já fiz muita coisa, em trinta anos de escrever já escrevi bastante coisa, de maneira que tem alguma, alguma bagagem (inint.) literária, né, e os mais diversos assuntos e os mais diversos tipos de trabalho, desde o romance, a poesia, a crônica, à, à crítica literária, a crítica artística, tudo isso eu fiz, porque em mil novecentos e cinqüenta e quatro eu entrei na crítica musical. Trabalhei cinco anos na crítica musical. Depois passei para crítica literária. Aí (inint.) de crítica musical e crítica literária, deixei as duas coisas, compreendeu, justamente na época em que eu saía do Rio para ir para São Paulo trabalhar. Aí deixei crítica literária e crítica musical.
D
 E no tempo que o senhor passou em São Paulo o senhor trabalhava também como jornalista?
L
 Não. Eu, em São Paulo, eles fizeram um jornalzinho lá em São Paulo e pediram a minha colaboração e eu dei. Então foi um primeiro jornalzinho chamou-se Tebaré que era uma, uma variação de Tebá, como chamava o, a, o terminal de São Paulo, São Sebastião. Era Tebá, então nós botamos Tebaré. E eu fazia a paginação, fazia a diagramação e praticamente fazia dois-terços da matéria. Eu que organizava o jornal, que desenhava e tudo, e fazia o espelho do jornal, mas isso era feito lá num, num negócio que tinha lá ... Como é que chamava? Uma máquina que tinha lá, que nós fazíamos (inint.) não me ocorre o nome. Depois esse jornal, eu dei um cunho mais, mais jornal, porque ele não tinha um cunho de jornal. Era, nem era, digamos assim, um ta... um tablóide, era uma esperança de tablóide, não é? Então, posteriormente, eu fiz um tipo tablóide que passou a chamar Tebá Reportagem. Mas isso acabou. Teve parece que algumas edições somente, porque eu saí de São Paulo, do litoral, e fui transferido para São Paulo, para a distribuição no escritório de São Paulo. Então trabalhei uns meses, uns seis meses em São Paulo, na, no escritório da distribuição. Quando eu vinha para o Rio, então eu consegui, porque a minha família morava no Rio, eu tinha que vir ao Rio toda semana, ou no máximo de quinze em quinze dias, né, então eu consegui a minha transferência pra Guanabara. Nesse ínterim, eu fui chamado pelo Estado de São Paulo para ocupar a crítica musical do Estado de São Paulo e para trabalhar na redação, porque o Estado de São Paulo não havia crítica musical. Quando eu, no currículo que eu fiz pro, pra redação, lá pro, pro chefe da redação, ele viu que eu tinha experiência de crítica musical, como o jornal não havia uma seção especializada de crítica, aí então eu ia pra crítica musical de São Paulo. E eu ia trabalhar na redação, inclusive, como editorialista, mas, justamente nessa ocasião, eu fui transferido para o Rio. Então deixei. E aqui não tive oportunidade de voltar ao jornal, né?
D
 O senhor morou, eh, no litoral, em Caraguatatuba, né (inint.)
L
 É, morei dois anos lá.
D
 E como é que o senhor sentia assim morando (inint.) em beira de praia, perto do mar, com esse problema assim de, de tempo, tempo em termos bem concretos mesmo (inint.) bem cotidiana. O dia lá é diferente do seu dia na cidade? (sup.)
L
 Não, a gente procura fazer, aquela, aquela vidinha de interior, sabe como é, é, é aquela coisa. Por exemplo eu saía, acordava cedo, saía às sete horas de Caraguá. Havia um ônibus que nos levava para o terminal, porque o expediente começava às oito horas. Então nós saíamos de lá às seis da tarde, pegávamos o ônibus, saltava novamente em Caraguá, ia para o hotel, coisa e tal, jantava e, e após o jantar eu tive que me entrosar, que me integrar naquela vida de cidade de interior, cidadezinha do interior. Então a gente acaba de jantar, ou vai a um cinema, aquele cinemazinho muito, eh, sem expressão, uns filmes muitos antigos, mas, eh, todo mundo estava lá, não é? Ou então passear pela praia, ou ficar na pracinha, naqueles grupinhos. Geralmente a gente reunia grupos de funcionários da empresa e algum conhecido do local, algum caiçara dali, e ficávamos conversando até onze horas, meia-noite. Depois dali dormia. A nossa vida era essa, essa monotonia, eh, constante, compreendeu? Eu às vezes não gostava muito. Eu gosto de variar, gosto de, de, de, de ambientes, eu sempre procuro aquele ambiente que eu possa fazer, eu gosto muito de argumentar, gosto muito de discutir, e não havia por exemplo assim um ambiente, vamos dizer, adequado ao meu gosto. Então eu tive que me adaptar àquele, embora não gostando muito. Mas são as circunstâncias que fizeram eu me, me adaptar. Então a vida, a vida de, de interior é essa, como a vida em São Sebastião era a mesma coisa, porque havia colegas que trabalhavam na, na, no terminal e moravam em São Sebastião mesmo. E outros moravam, aliás a maioria morava onde eu morava, em Caraguatatuba, né? Quer dizer, a vida dali é a mesma coisa. Porque aquela região, quando eu fui pra São Paulo, que ninguém conhecia Caraguatatuba em São Paulo quando eu fui, hoje todo mundo conhece. Inclusive eu estou fazendo uma reportagem sobre o litoral norte-sul de São Paulo. É, mas antigamente ninguém conhecia. Lá só tinha febre, doenças e água poluída, tinha uma porção, uma série de coisas. Assistência médica era a mínima possível, só tinha um hospital de umas freiras e quem ajudava até eram os médicos da Petrobrás. Então não havia nada, uma região praticamente abandonada. Então aquela vida ali era muito monótona. A gente não tinha motivação nenhuma de divertimento nem nada. Jogar, o pessoal sempre faz um joguinho, né (inint.) e eu me senti por um outro lado cansado e, e sem a minha imagi... A minha imaginação ficou um pouco obnubilada, então eu não tinha nem gosto de escrever. Só com muito boa vontade eu fazia aquele jornalzinho lá. Então eu escrevia alguma coisa pro jornalzinho, fazia umas entrevistas, fazia umas reportagens ali, mas coisa rudimentar, que estava muito aquém de jornal. Fora disso, a minha vida lá no litoral não saiu dessa mediania, né, até eu ir pra São Paulo. Aí já havia recursos maiores.
D
 Agora fale um pouco a respeito da, da sua infância, como é que, como é que foi, o tempo, né, da sua infância.
L
 Olha, a minha infância é uma coisa curiosa. Dizem que recordar é viver, eu digo que recordar é sofrer, ouviu, porque às vezes a gente (inint.) se lembra de uns tempos que passaram e muito embora sejam tempos rudes, uma fase às vezes difícil, mas sempre é uma coisa boa, porque é uma coisa de início, então a gente olha sempre para frente. E no estágio que eu cheguei, a gente olha pra trás. E por muito que haja de ruim na nossa vida, é muito melhor olhar pra frente do que olhar pra trás, correto? Então é isso que acontece comigo. Eu procuro deixar a minha infância lá pra trás, envolvida lá nas brumas do passado, não gosto de me lembrar, não gosto de nada. Agora posso dizer uma coisa: eu, a minha infância não foi fácil. Minha mãe era viúva, apenas nós tínhamos uma casa, não pagávamos casa, a casa era própria. Mas o resto, minha mãe lutava (inint.) lutou pra me educar. E eu só pude me educar praticamente até os quinze anos, depois tive que trabalhar. Dos quatorze para os quinze anos eu comecei a trabalhar. Anteriormente ficava difícil pra mim a minha infância, a minha mãe não tinha grandes recursos pra me educar e eu fui educado num asilo de órfãos, compreendeu? E nesse asilo de órfãos eu levei uns quatro pra cinco anos lá. Foi aí, realmente, apesar de, do ambiente muito, de uma dureza muito grande, às vezes o aluno até apanhava, né, lá do padre, do padre e das freiras. Ali começou realmente a minha, a, a, digamos assim, a evoluir a minha imaginação. Porque quando eu conheci uma freirinha muito bonitinha, muito boa, muito meiga, nesse colégio, que me tratava muito bem, porque o resto não tratava, era até de bater mesmo, né? E depois aconteceu uma história muito interessante, muitos anos depois com essa mesma freirinha que eu fui encontrar. Ela havia saído do convento, passou pra vida profana. Então a partir dessa época, a única, a única memória que eu tenho boa dessa fase de infância, foi justamente esse conhecimento que eu tive, que motivou, compreendeu, e, digamos assim, a minha vida literária de muitos anos depois.
D
 Mas várias vezes o senhor disse que (inint.) tempo passado (inint.)
L
 Tempo passado é um tempo que não é atual. É um tempo que, que havia uma série de dificuldades de viver, uma série de, de, de limitações para a pessoa conseguir, entendeu, dominar o futuro e, e pensar em termos de, de realização do homem, porque tudo no, naquele tempo era difícil. Hoje talvez não, se bem que tenha também as suas dificuldades, as suas limitações do tempo de agora, aí talvez até a gente vai volvendo um pouco ao passado. Em todo caso, naquele tempo a escola era difícil, estudar era difícil, só as famílias abastadas poderiam estudar, poderiam pensar em termos de estudos assim universitário, entendeu? Por exemplo meus primos são educados na Alemanha. Mas o pai deles era rico e a minha mãe era pobre. Acontece isso. E, e geralmente, quando essas grandes famílias queriam educar os seus filhos, mandavam pra fora, fora do Brasil, ou pra França ou pra Portugal. E eu tive diversos amigos meus que estudaram em Portugal, na Universidade de Lisboa. Um deles hoje é médico, amigo meu, ele estudou até quase o pré-médico lá em Lisboa. Então havia isso, dificuldades de ensino e dificuldade de, de, de, financeira, tudo isso ajudava, compreendeu? E às vezes dificuldade até de trabalho, com tudo isto a pessoa sentia aquelas limitações todas com empecilhos e entraves para vencer na vida. Então a luta para sobreviver talvez era muito maior do que a de hoje, porque então ha... hoje talvez haja mais incentivo do que havia em outro tempo, há mais oportunidade, há uma série de facilidades que no meu tempo não havia. Então chegar a ser alguma coisa, como eu quis chegar e não sei se cheguei, compreendeu, porque aquela tal frase de, do Hermes Fontes, né: "eu quis vencer a vida e a vida me venceu". Mas em todo caso o que eu consegui não foi fácil conseguir. Lutei bastante para conseguir, mas talvez consegui apenas a metade daquilo que era o ideal. E à medida que eu ten... tentava pegar o ideal, ele se afastava cada vez mais e eu fiquei naquela: deixa ele lá onde está. E eu fico só pensando no ideal, não vou mais pensar em conquistá-lo, né, deixa pras gerações mais jovens pra conquistar o ideal e eu fico onde estou, já cheguei ao ponto máximo. Agora quero ver é se trabalho mais uns tempos aqui e saio e ver se me sobra alguma coisa para então dedicar à minha vida particular, à minha vida literária, que eu interrompi.
D
 Hoje em dia como é assim na empresa o seu dia?
L
 O quê? O meu ...
D
 Atualmente o seu dia?
L
 O meu dia?
D
 É. Em termos de tempo assim por exemplo.
L
 Olha, é uma coisa difícil de responder. O meu dia na empresa é todo preenchido nas atividades que vocês vêem aqui. É escrever para a revista reportagens, nem sempre assuntos que a gente gosta, mas o chefe manda, a gente faz, né? E tem esse convívio com o pessoal, realmente um convívio bom, de gente muito boa, um ambiente muito bom e talvez bem mais afim com a minha formação profissional do que o ambiente que eu trabalhava anteriormente na Petrobrás. De maneira que em termos de dia aqui o dia passa geralmente rápido, porque estamos muito entrosados uns com o outro, uns com os outros, há um entendimento muito bom, o ambiente é realmente excelente.
D
 Como é o seu horário aqui?
L
 É de oito `as dezoito horas.
D
 Como é que ele transcorre, o que que o senhor faz, as horas (sup./inint.)
L
 (sup.) No meu horário aqui eu faço o seguinte: faço revisão, faço leitura de recortes de jornais, escrevo artigos no, de reportagem pra revista e ocasionalmente há a programação de viagem pra reportagem, porque às vezes nós temos necessidade de viajar pra fazer uma reportagem. Essa agora por exemplo com mais outras que eu fiz, porque eu já fiz reportagem aqui, já fiz (inint.) porque eu sou novo aqui no (inint.) então ... Então já fiz uma reportagem sobre o incentivo fiscal, já fiz uma reportagem sobre o MOBRAL, todas as escritas e estou terminando agora uma sobre o litoral norte-sul de São Paulo. Então a mi... a minha vida aqui passa nessa coisa. Agora há a programação do setor anual de viagem para os redatores. Então um redator vai fazer determinada reportagem em determinado lugar. Então ele vai viajar, passa quinze dias, um mês, o tempo que ele precisar pra fazer aquela reportagem, colher os dados, sentir a coisa 'in loco` e fazer a reportagem. Não é o meu caso ainda, naturalmente a programação de viagem pra mim será feita no, no próximo ano. Nós não temos lugares marcados para ir determinados redatores. Então eu posso ir pruma, pruma região hoje e amanhã um, o outro colega ir pra mesma região fazer outro tipo de reportagem, compreendeu? De maneira que a vida aqui passa assim. Então, quando nós estamos aqui, nós ajudamos em tudo. Tem a correspondência dos leitores da revista, que nós respondemos, de assinaturas, de renovação e de, e de visitas de, geralmente, pessoal que é estudante, centro de publicações da Petrobrás, para fazer algum trabalho pra escola, e nós atendemos esses pedidos todos na nossa seção. Quer dizer, então é uma atividade constante, permanente e muito diversificada. E com isso aquelas oito horas passam sem que a gente as sinta, compreendeu, passam rapidamente. E quando a gente chega em casa, chega um pouco cansado, não é, coisa e tal. Então eu geralmente chego em casa, janto, coisa e tal, tomo meu banho, janto e vou ver se eu estudo um pouquinho à noite. Mas acontece de minha senhora chegar da faculdade, aí acabou o estudo, né, porque ela vai querer conversar comigo, vai querer falar de faculdade, das, da, da, da, das coisas que se passam por lá, compreendeu, daqueles apertos dos, dos professores, que ela quer estudar e o professor não deixa, aquela coisa toda, né? Daquele problema de gravação de aula que, se o professor via, se a vir com o gravador é capaz de expulsá-la da, da, da sala de aula, porque uns aceitam, outros não aceitam, entendeu? Então a gente passa a conversar em termos, compreendeu, de, de, de, de, de faculdade. Então aí eu esqueço o meu estudo.
D
 Que faculdade ela está fazendo?
L
 Ela está fazendo a ... ciências jurídicas.
D
 Como é um dia da sua senhora?
L
 Heim?
D
 Como é o dia da sua senhora?
L
 O dia de minha senhora é bastante, bastante intenso, viu, porque ela acorda de manhã, estuda. Minha senhora trabalha na Companhia Vale do Rio Doce, assistente social. Então ela estuda da, das oito às dez. Então sai às dez e pega no serviço às onze e meia. A atividade dela é grande. Já trabalhou numa cooperativa da Vale do Rio Doce, trabalha no serviço médico, serviço de orientação, serviço de assistente social. Sai de lá às seis horas e vai pra faculdade. Da faculdade ela sai nove e meia, dez horas, compreendeu, tem duas, três horas, sai e chega em casa on... dez, onze horas da noite. Às vezes eu vou, quando posso, vou esperar. Quando eu estou muito cansado não dá. Então ela vem sozinha. Mas geralmente tem companhia, muitas colegas dela moram por ali, por aquela zona, ela geralmente vem com companhia. Agora o dia de minha senhora é bastante, é bastante movimentado e bastante motivado. E, e minha senhora também gosta, felizmente eu casei com uma pessoa que tem as mesmas gostos que eu. Apenas uma coisa, minha senhora gosta de literatura, gosta de poesia, gosta de estudar, evidentemente, que a vida dela é estudar. Ela só não gosta muito assim, quer dizer, gosta mas não entende, é música, entendeu? Quando eu começo a falar de música, ela fica um pouco por fora. Ela gosta muito de bailado e freqüenta sempre bailado comigo, mas ela não entende muito da coisa. Mas já é o bastante. Minha senhora fazia muita poesia, né? Minha senhora (sup.)
D
 (sup./inint.) casado há muito tempo?
L
 Eu sou casado há doze anos, vai fazer treze anos, né? Eu conheci minha senhora através da casa de um amigo, há doze, há treze, há catorze anos. Nós fazíamos uma, uma espécie de reunião literária, nós tinhamos um grupinho na Tijuca e ela freqüentava, entendeu? Nesse grupo até eu uma vez fundei um jornal, tipo literário, chamado Cenáculo de Idéias, e ela inclusive às vezes escreveu pra esse jornal. Isso depois acabou. Nós tínhamos um grupinho aí, ainda há pouco ... Ainda tem um amigo meu que, de vez em quando, vamos na casa dele. Ele é jornalista. E era eu e ele que dirigíamos o jornal, não é? E foi assim que eu conheci minha senhora. Ela gostava daquele, daquela, daquela, digamos assim, como se diz lá no Ceará, daquelas tertúlias literárias, compreendeu? E é assim que eu conheci minha senhora. E ela realmente ... E eu gostei, porque ela tem aquela afinidade, aquela coisa igual a mim em matéria de gosto. Então não há aquele choque de, de, de formações diferentes. Provavelmente minha senhora tem uma formação intelectual muito superior à minha, tem dois cursos universitários, né? Mas eu tenho uma coisa, eu tenho, eu desde a idade de catorze que eu leio. Então a desvantagem não é muito grande, né? E eu a... até agora, se não me, se não me falha a memória, eu devo ter lido uns trinta e cinco mil livros, né, em matéria de literatura, filosofia, história, antropologia, diversos assuntos. De maneira que a diferença da minha senhora, embora em matéria de, de, digamos assim, de cultura, de estudo seja superior à minha, em matéria de vivência, digamos assim, no campo intelectual, a diferença já diminui. De maneira que é isso.
D
 O que que vocês fazem no fim de semana (inint.)
L
 Estudamos, em geral.
D
 Não saem não ...
L
 Às vezes vamos. Gosto muito de ir pra Paquetá. Minha senhora gosta muito de tomar banho de mar, né? Vamos a Paquetá, passamos o fim de semana em Paquetá. Algumas vezes, quando nós dispomos de tempo, vamos (inint.) Aparecida do Norte, ou vamos para São Paulo, ou vamos aqui pro estado do Rio, que tem uma, umas, um lugar aqui no estado do Rio que tem umas praias muito boas e nós vamos fazer essa viagem, né? Mas em geral eh, (inint.) vocês que são estudantes sabem como é o regime de faculdade, né? É uma prova, quando acaba de estudar pra uma prova tem que estudar pra outra. É aí isto que acontece com minha senhora. Por exemplo, agora tem quatro, quatro dias de feriado, aqui na companhia nós temos quatro dias, então eu gostaria por exemplo de viajar, ir até o Espírito Santo. Inclusive eu tive um oferecimento de viagem pro Espírito Santo, minha senhora é de lá, então eu ia pra lá, tem duas irmãs dela que moram no Espírito Santo, uma delas, duas delas lecionam lá no Espírito Santo. Então eu ia para lá passar quatro dias e, com isso, descansar um pouco. Mas não pude, porque minha senhora saiu de uma prova agora, há pouco tempo, e já vai emendar com a outra, em novembro. Então eu disse: não, você não vai, porque, também, pra eu sair de casa pra passear, pra viajar sem minha senhora não dá muito prazer. E por outro lado ela precisa de que eu ajude um pouco, a minha senhora, quando ela está estudando, que é o que incentiva mais a que ela aprenda, então eu fico em casa ajudando minha senhora a estudar. Então lá se vão os quatro dias que eu tenho pra descanso. Pensar em termos de passeio, não posso. Então eu tenho que ficar em casa aí, fazendo alguma coisa, né? Eu até tenho, queria aproveitar pra passar a limpo até um trabalho que eu fiz agora sobre "Os Lusíadas", mas já não vou poder fazer, porque ela já me pegou: não, você vai estudar comigo esses quatro dias. Então, nada feito, né? Tenho que ficar estudando em casa e deixar o meu passeio e deixar os meus cuidados particulares de lado, num segundo plano, pra dar atenção a minha senhora. Pra isso me casei.
D
 O senhor é muito preocupado com ho... com horas (inint.) por exemplo? Há pessoas que são preocupadíssimas, né?
L
 Não, isso é uma coisa que nunca me preocupou (sup.)
D
 (inint./sup.) pra cá, pra lá (sup.)
L
 (sup.) Nunca me preocupou, nunca me preocupou. E nunca me preocupou que, que ... Eu viajei muito quando trabalhei na subsidiária, que antigamente não era subsidiária, era um setor de distribuição da Petrobrás, e eu viajava sempre, porque o meu tipo de serviço me exigia. Eu trabalhava às vezes dez, doze horas pra companhia. Mas nunca pensei. Quando eu começava a trabalhar, desde a manhã, quando eu ia ver (inint.) até seis horas, sete horas. Depois ia pro meu, para os meus aposentos no hotel, ficava escrevendo os relatórios pra empresa, né? Quando eu abria os olhos já era meia-noite, uma hora da ma... madrugada: ó, eu tenho que dormir. Aí eu ia dormir, dormia, acordava às seis horas e no dia seguinte continuava o trabalho, né? De maneira que eu nunca pensei nisso, desde, desde moço nunca pensei, viu? Eu começava a escrever, a hora passava e eu continuava: não quero saber de hora, que hora é, que hora não é, isso não me interessa. Quando estou trabalhando, quando estou fazendo qualquer coisa, o fator tempo não me preocupa, ou pelo menos não me preocupava. Hoje talvez me preocupa, viu?
D
 Por quê?
L
 Porque hoje, quando a gente (inint.) nessa etapa da vida, como eu disse pra vocês que a gente olha pra trás e não olha mais pra frente, porque olhar pra frente é meio perigoso, a coisa é meio escura lá na frente, então a gente olha tanto pra trás, porque pra trás estão as coisas bonitas da vida, estão justamente pra trás. Então eu olho pra trás. De maneira que hoje talvez a gente pense um pouco mais em termos de tempo, em termos de hora, porque cada hora que passa é cada hora a menos na vida da gente. Então, o que acontece é o seguinte: toda vez que nós pensamos maduramente nesse caso, então a gente pensa mais em hora. Quanto mais, eh, demorado for o tempo passado das horas, melhor. A gente sempre pensa mais em termos de hora, né, pensa em relógio. Eu só vim a ter relógio ... O primeiro relógio que, que eu vim a ter, eu tinha vinte e cinco anos. Nunca me preocupei com esse negócio de relógio, de hora (sup.)
D
 (sup.) O senhor não tem um relógio, né?
L
 Agora tenho, agora eu uso relógio.
D
 Ah, o senhor está com relógio na mão! Como é o seu relógio?
L
 O meu relógio está aqui, ó, está todo quebrado. É relógio antigo, é do tempo do onça, né?
D
 Ah, é melhor relógio que o meu (inint.)
L
 É lógico, só comigo ele já tem trinta e cinco anos. Só comigo.
D
 E o senhor sempre usou relógios muito antigos, né?
L
 Mas não trago sempre. Eu tinha um que eu perdi, que foi herança do meu avô, um Omega, mas era quase que o dobro desse tamanho.
D
 Será que o senhor pode descrever pra gente esse relógio?
L
 Ah, não posso (inint.) mesmo porque não sou relojoeiro. Olha, esse relógio ... Eu comprei isso ... Esse meu relógio, por incrível que pareça, me custou, hoje, em, em moeda atual, digamos assim, vinte centavos, entendeu (inint.) naquela época eram duzentos mil réis, mas me custou vinte centavos esse relógio. Nunca parou, nunca atrasou, praticamente ele não atrasa. Às vezes eu adianto um pouquinho porque, por minha conveniência. Mas um atraso ... Já levou uns cinqüenta tombos no, no cimento e não parou. É relógio suíço, no mínimo, né? É relógio (inint.) de grande prêmio de Paris, de mil novecentos e pouco (inint.) tem aqui até marcado. Está bem, é um relógio que me acomp... me acompanha há muitos anos. Já botei-o de lado, não tenho nem mais corrente. Minha senhora me deu uma corrente de ouro. Uma vez a corrente arrebentou, esse negócio aqui, eu guardei a corrente e ando com ele assim. Bom, eu já tive relógio de pulso, mas não me adaptei com relógio de pulso. É como eu, eu digo pra vocês: eu sou um homem meio antigo, sabe, então eu gosto das coisas antigas assim. Então aí voltei a apanhar esse relógio, botei no bolso e ando com ele. E eu, se tirar o relógio do bolso umas duas vezes por dia, eu acho que seria muito. Eu não tiro mesmo. Eu saio de casa, ponho o relógio no bolso e chego em casa, ponho o relógio em cima da mesa. Às vezes eu passo o dia todo sem olhar a ho... sem olhar a hora. Isso eu disse pra, pra enfatizar mais como eu não tenho muito, muito, não dou muita importância ao fator tempo que está passando, a despeito daquilo que eu falei com vocês. Que na época, na idade que eu cheguei, a gente sempre pensa mais em termos de tempo, em função desse futuro um pouco aterrador que se nos apresenta, não é? Mas de qualquer maneira, maneira, eu ainda continuo com aquele velho sistema e não dou muita confiança ao relógio. Uso o relógio ... Às vezes alguma pessoa me pergunta: ô, A., que horas são aí? Espera aí, deixa eu ver. Aí puxo o relógio e digo: Olha, tantas horas. Pronto, acabou. Se ninguém me perguntar, eu esqueço o relógio dentro do bolso e só tiro o relógio quando chego em casa e ponho na mesa. E ponho na mesa e não, não vejo a hora. Só vejo a hora quando a minha mulher, às vezes está estudando e aí grita lá do quarto, do gabinete de estudo: ah, ô A., que horas são aí? Que ela quer dormir. Aí eu vou lá, olho a hora e digo: ó, tantas horas. Ah, está na hora de dormir e coisa e tal. Mas fora disso, eu não vejo o relógio. E nos feriados, na minha casa o relógio está lá em cima, eu nem me dou, dou, dou coisa ao relógio. Mas não uso mesmo relógio.
D
 Tem outros, outros tipos de relógio na sua casa (inint./sup.)
L
 (sup.) Na minha casa tem. Eu tenho um relógio que está guardado comigo, antigo, mas não usei (inint.) reformar a minha casa, pra então refazer tudo. Eu tenho uma porção de coisas por fazer, né, uma porção de projetos pra fazer. Inclusive eu fazia reuniões musicais na minha casa e interrompi. E quero ver se volto àquele velho regime. Mas deixa eu ver se eu saio da Petrobrás, que aí eu vou ter mais tempo de organizar programas, de fazer essas, essas reuniões na minha casa, porque agora não, realmente não dá. A gente chega em casa sete, oito horas da noite, já chega um pouco estafado e, além disso, a minha, a minha patroa chega em casa, também, depois da aula muito cansada, não dá mesmo condições. Pra fazer assim num sábado e domingo, ou a gente vai passear ou está-se estudando. Então também não há assim uma, um, uma oportunidade de se fazer alguma coisa. Agora eu saindo daqui, indo pra minha casa, arranjando uma atividadezinha pra passar o tempo, eu vou organizar a minha vida mais, de maneira melhor e mais, que aproveite mais, inclusive a parte da minha vida literária, que está praticamente parada. São dez romances que eu já escrevi, não é?
D
 Olha aqui, o senhor podia dizer pra gente quais são as partes do relógio, as coisas que tem aqui?
L
 Que é que você quer saber de partes do relógio?
D
 Que que tem aqui no relógio (inint.)
L
 Bom, o meu relógio tem do... tem um mostruário que é geral, de horas, e o mostruário de minutos, só.
D
 O seu marca o minuto também? O meu não marca, só marca a hora (sup.)
L
 (sup.) Marca. Marca. Bom, o meu é daquele relógio antigo, que marca a hora e o minuto só, mais nada, não tem data, não tem nada.
D
 Tem outros que marcam outras coisas?
L
 Tem uns outros que têm o calendário, não é? Esse meu não tem. Esse meu relógio é tipo antigo, só tem a hora e os minutos, mais nada. É este aqui.
D
 Ab... abaixo dos minutos, qual é a outra parte que tem?
L
 Ah, não sei. Sou completamente ignorante em matéria de relógio. Só sei que eu tenho um relógio suíço. Pelo menos, me disseram que é suíço. Nunca investiguei realmente, para saber se ele é. Está escrito aqui que é suíço, né?
D
 Deixa eu ver aqui o relógio.
L
 Pode até abrir, se quiser, pra ver a capa de dentro (sup.)
D
 (inint./sup.) ele tem duas partes separadas (inint./sup.)
L
 (sup.) Ah, tem duas partes separadas (sup.)
D
 (sup.) Porque o meu não tem, né? (sup.)
L
 (sup.) Não, não, não (sup.)
D
 (inint./sup.) no meu, o minuto não dá pra ver (sup.)
L
 (sup.) Não (sup.)
D
 (sup.) E o seu não dá pra gente perceber a hora, não é?
L
 Ah, ele marca os minutos separados, né, ele marca os minutos separados.
D
 (inint.) e marca meio minuto!
L
 Heim? Não, acho que não marca, ele só marca os minutos.
D
 Marca, sim.
L
 Acho que vocês entendem mais de relógio do que eu, viu?
D
 (risos) E pra acordar de manhã que que o senhor usa?
L
 Eu uso ... Geralmente minha senhora põe despertador, mas eu não me utilizo muito porque onde eu moro tem um colégio de, de, de, de irmãs que, quando é seis horas, o sino toca. E quando o sino toca, eu já estou acordado, que é cinco e meia. Geralmente eu acordo cinco e meia, quinze para as seis. E sou o funcionário que chega mais cedo na companhia. A hora que ... Quando eu chego tarde, eu chego sete e meia, quando eu chego tarde, porque em geral sete horas eu estou chegando.
D
 O senhor tem carro?
L
 Não.
D
 Então o senhor vem com, vem de ...
L
 Eu venho de ônibus ou venho de táxi. Geralmente eu venho de táxi, viu, porque ...
D
 Quanto tempo o senhor gasta da sua casa pra cá (inint./sup.)
L
 (sup.) Ah, dez minutos. Dez minutos de táxi.
D
 (sup.) Dez minutos, só? (sup.)
L
 (sup.) É, porque eu moro na ...
D
 De ônibus ou de táxi (inint.)
L
 Não, não faz muita diferença, porque eu moro perto, compreendeu? Se eu quisesse, até dava para vir a pé. Porque da rua Haddock Lobo pra cá ... Eu moro na, perto da Haddock Lobo, Barão de Itapagipe, vocês, não sei se vocês conhecem a, a Tijuca. Da Barão de Itapagipe, tem a rua Professor Gabizo. Eu desço a Professor Gabizo, pego o táxi na Haddock Lobo. Então o táxi faz aquela volta e vem embora. São dez minutos de táxi. Se eu for à rua, à rua Doutor Satamini, pego o ônibus. Também é muito, muito rápido, porque àquela hora, ou a essa hora, a, o trânsito está, está leve, não está muito apertado. Quer dizer, eh, mas como eu gosto agora de ter um pouquinho mais de conforto, então eu venho de táxi.
D
 E pra voltar pra casa (inint.)
L
 Ah, aí é que está o problema. Pra voltar pra casa, eu caminho daqui até a praça, até a Lapa a pé pra pegar o duzentos e sete, que é o único ônibus que praticamente, compreendeu, que eu chego lá, a fila não está grande e eu vou sentado pra casa. Porque, se eu for por exemplo aqui na, na praça Quinze pegar o duzentos e dezenove, eu não vou sentado de maneira nenhuma. Ainda mais na hora, seis horas, não vou. Pra pegar na praça Quinze o, um, qualquer um, por exemplo Usina ou outro ônibus que vá lá pra Tijuca, também eu vou em pé. Então eu vou daqui à Lapa, pego o duzentos e sete, salto na rua Campos Sales e vou a pé pra casa. Pelo menos lá a fila é pequena, compreendeu, eu chego lá, logo no primeiro ônibus eu vou e sentado, entendeu, e, e chego com relativa comodidade, porque eu vou sentado, calmo, e quando venho, venho de carro, porque de carro daqui pra, pra, pra lá, a essa hora, não se arranja, né, é dificílimo uma, uma, a condução de carro. E por exemplo às vezes aparece um táxi (inint.): ah, eu quero ir pra Tijuca. Mas geralmente esse pessoal só quer sair pra zona sul. Então conseguir um táxi aqui é um 'tour de force`, porque quase tem que se brigar com o motorista e levar o camarada pro distrito pra poder, poder vir. Uma vez eu criei um caso com um camarada. Eu, eu trabalhava na rua do Acre, pegava o ônibus na, na praça Mauá. E quando dava uma, uma, assim uma colherzinha de chá de um táxi, eu dizia: o senhor vai lá pra Tijuca. E ele não queria ir pra Tijuca. Uma vez tinha (inint.) bom, ou o senhor vai pra Tijuca ou nós vamos pro guarda, não é possível. A obrigação do motorista é levar. Se eu quiser ir lá pra Jacarepaguá, tem que me levar, não quero saber, eu vou, estou pagando. Então eles não querem. Aí a dificuldade é muito grande. Então por exemplo quando eu trabalhava na rua do Acre, eu trabalhava até oito horas da noite, então saía mais tarde e pegava condução melhor, compreendeu, porque havia dificuldade de táxi, então eu saía mais tarde. Agora aqui não. Aqui eu já faço o contrário. Aqui eu vou até a Lapa, pego o ônibus, a condução é fácil, compreendeu? Eu não me aborreço muito, não me desgasto muito, compreendeu, e chego em casa relativamente cedo, oito horas eu estou chegando em casa.
D
 (inint.) a companhia controla o seu horário aqui de entrada e de saída?
L
 É um controle relativo, não é um controle assim, digamos, arbitrário, porque nós aqui inclusive temos certa liberdade. Eu onde trabalhava, eu tinha completa e ampla liberdade de horário, inclusive tinha sido, eh, eu tinha sido abonado permanentemente a questão do meu ponto na hora do almoço. Então eu não batia ponto na hora de almoço, em função do trabalho que eu fazia. E de manhã também às vezes por exemplo eu estava viajando, levava dias e dias viajando, não marcava ponto. Então o ponto era abonado pela chefia. Aqui já estou marcando ponto, mas há uma liberdade como eu disse relativa. Não é assim um rigor rigoroso. Há uma liberdade relativa, por exemplo se o, se o funcionário precisa sair pra fazer alguma entrevista, uma reportagem, ele sai, se não quiser vir na, de manhã e quiser ir direto de casa fazer a reportagem, ele vai. No horário de almoço, se ele precisar sair pruma reportagem, como já tem acontecido comigo e com os colegas, nós saímos. Não há qualquer empecilho ou qualquer dificuldade não se opõe a que nós saiamos não, então nós saímos. Agora, se ficarmos aqui, evidentemente temos que marcar o cartão de ponto.
D
 O senhor tem um horário fixo de almoço, eh, determinado? (sup.)
L

  (sup.) É. Geralmente, a... atualmente, de há dois meses para cá, tenho, quer dizer, relativamente fixo, que é de meio-dia às duas. Anteriormente não tinha horário de almoço, não é, eu geralmente tinha uma meia hora pra almoçar, no máximo, era o que eu tinha por dia. Agora não, agora o negócio está mais descansado pro meu lado. Eu, eu saio meio-dia pra almoçar, almoço e, se tenho alguma entrevista para fazer, ou eu volto pra marcar o ponto, ou então eu vou direto fazer o serviço na empresa e volto de tarde, naturalmente que o chefe, sabe, assim. A gente chega: ó, precisei sair pra fazer uma, uma entrevista qualquer, como eu tenho que fazer uma hoje ... De maneira que não há obstáculo. Ele anota ali na folha para depois o general abonar, entendeu? É o que eles estão fazendo. Estão satisfeitas? Mais alguma coisa?