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PROJETO NURC-RJ

Tema: "A cidade e o comércio"

Inquérito 0122

Locutor 139
Sexo masculino, 55 anos de idade, pais cariocas
Profissão: militar (Aeronáutica)
Zona residencial: Sul

Data do registro: 31 de outubro de 1972

Duração: 40 minutos

Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 Pronto? Então (inint.) cidade e comércio ...
L
 Bom, na... nascido e criado no Rio de Janeiro, não poderia escolher outra cidade pra sobre ela conversar um pouco. O tema da cidade ligado ao comércio me faz reviver um pouco do meu passado pra poder chegar à atualidade. O Rio de Janeiro, pelo menos o Rio de Janeiro que eu conheci e que conheço, é uma cidade cujo comércio teve uma fase grande localizada no, propriamente no centro da cidade. E com o decorrer dos anos, aliás não é só no Rio de Janeiro que isto acontece, alguns bairros foram se firmando de tal forma e criando vida própria que o comércio, acompanhando esse desenvolvimento, também tendeu a se descentralizar e hoje, ao contrário do que havia há vinte ou vinte e cinco anos atrás, o centro da cidade é um dos pontos mais fracos de comércio, seja por problemas de ordem de trânsito, por problemas de, vários motivos que podem ser a... assinalados, a realidade é que o centro da cidade caiu muito em comparação com os principais bairros da cidade. E não se diga que os principais bairros da cidade são os bairros que eu moro, ou que morei, que são Copacabana e Botafogo, há bairros do subúrbio de vida inteiramente própria, com um comércio que, hoje, não deixa nada a dever ao comércio não só do centro da cidade como da zona sul. Todas as grandes casas de comércio do Rio de Janeiro têm as suas filiais em vários e vários bairros, principalmente aqueles famosos bairros de Méier, Madureira e etc. Então esse é o Rio de Janeiro ligado à parte do comércio. O que é que eu encontro no Rio de Janeiro e que posso comparar com as cidades que eu tenho visitado? E não são poucas porque a minha função a vida toda foi de aviador e como tal tive oportunidade de viajar e viajar muito. A primeira surpresa que eu tive em termos de cidade, desde que me encontrei como gente, foi realmente Buenos Aires. Eu saí do Rio de Janeiro certo de que o Rio de Janeiro era realmente uma bo... bonita não há dúvida nenhuma, mas uma grande cidade, em termos de, universais. E chegando a Buenos Aires fiquei com a cara no chão porque Buenos Aires era pelo menos quinze a vinte anos acima do Rio de Janeiro não só em termos de comércio como em termos de vida noturna e etc. O Rio de Janeiro estava começando e Buenos Aires já era a famosa Paris da América do Sul. Muito bem, passaram-se vinte e cinco anos e eu tenho voltado a Buenos Aires sempre que posso ou sempre que me mandam e aconteceu um fenômeno: Buenos Aires continua exatamente igual ao que era há vinte e cinco anos atrás e o Rio de Janeiro, apesar dos percalços por que tem passado, cresceu tremendamente. É verdade que o nosso querido Rio de Janeiro, que cresceu em relação a Buenos Aires, não pôde fazer o mesmo em relação ao seu famoso vizinho, São Paulo, que este sim, tem sido um dos maiores fenômenos em termos de desenvolvimento de cidade que eu tenho visto no mundo. São Paulo, o desenvolvimento de São Paulo é qualquer coisa que não tem comparação, pelo menos das cidades que eu conheço. Depois da ilusão de Buenos Aires, que hoje já não é mais aquela, eu tive oportunidade de visitar as grandes cidades do mundo, tais como Nova York, Paris e etc. E sempre, diga-se de passagem que na, no meu 'pedigree' já ficou anunciado que eu não falo língua nenhuma praticamente (riso) a não ser o português, de maneira que tudo o que eu vejo no estrangeiro é debaixo de uma, uma situação difícil porque eu me sinto amedrontado, com toda a sinceridade, quando me, estou no estrangeiro pela falta da linguagem, não sabendo falar a língua dos, do, do povo, é realmente muito difícil. Mas de qualquer maneira eu tive oportunidade de visitar grandes cidades e sempre que comparava com o Rio de Janeiro fi... ficava sabendo o que que havia do Rio de Janeiro diferente dos outros, que a gente vai, vai, acha lindo mas quer voltar. E este fenômeno é que eu procuro entender até hoje aos cinqüenta e cinco anos de idade, o que é que há, o sujeito mora no Rio de Janeiro, não vai a lugar nenhum, não sai de casa, não vai ao cinema, mas não quer sair do Rio de Janeiro. Isso não é o carioca não, porque o Rio de Janeiro o que menos tem é carioca, o Rio de Janeiro está cheio de brasileiros mas carioca mesmo tem muito pouco, porque tomaram conta do Rio de Janeiro. Então, eu ve... procuro encontrar, talvez seja bairrismo, é possível que seja, embora digam que o carioca talvez seja dos menos bairristas do Brasil, mas de qualquer maneira, o, o bairrismo do carioca encontra apoio em todos os brasileiros que aqui vêm morar e viver. Então o nosso querido Rio de Janeiro tem um quê, tem qualquer coisa de extraordinário que a gente está aqui e não há jeito de querer sair. E eu não sei se é o ... Sei, futebol, futebol tem em toda parte, futebol na Inglaterra é um fenômeno e o futebol daqui apaixona mais, enfim talvez seja realmente porque eu sou carioca. Muito bem, então visto o Rio de Janeiro uma pequena comparação com as cidades que eu tive oportunidade de conhecer, vamos ver agora o Rio de Janeiro, ele próprio, com os seus prós e os seus contras. O Rio de Janeiro tem realmente sofrido o diabo. Uma cidade construída no bofetão, vamos dizer assim, sem um planejamento, ruas pequenas, como qua... aliás quase todas as cidades, só há muito pouco tempo, pelo menos no Brasil, é que se conseguiu fazer algumas cidades sob, à base de algum planejamento, que eu me lembre, Belo Horizonte, Goiânia e agora Brasília. O resto tudo o, o desenvolvimento veio surgindo e encontrou uma cidade completamente sem condições de infra estrutura, sem condições de atender ao desenvolvimento de, pelo menos o desenvolvimento vegetativo da população. Então o que é que encontramos hoje? É uma dureza, o sujeito pra chegar no trabalho e pra voltar, só isso, já é um trabalho exaustivo. Eu não sei, só mesmo, e aí é que o carioca difere parece dos outros, é no bom-humor. Porque o sujeito sair de casa, pegar uma fila pra pegar o ônibus, vai em pé no ônibus, briga, discute, enfim quando chega em ca... de volta do, do trabalho, chega cansadíssimo, e no entanto nada disso o abate. Então o carioca hoje é um desgastado fisicamente pelas condições péssimas que ele encontra de transporte. O trânsito, não é questão de ser bom diretor de trânsito ou mau diretor de trânsito, por acaso é um colega meu de arma, magnífica pessoa, já teve um enfarte (riso) e não tem solução, não há enfarte que dê jeito, porque o número de automóveis cresce muito mais rapidamente do que o número de ruas que os automóveis podem passar. De maneira que o tr^ansito, à primeira vista, não tem solução, pelo menos o trânsito de superfície. Então vamos agora pra aquela luta: metrô. Metade é a favor, metade é contra, porque o metrô se já estivesse pronto, como em Buenos Aires, como em Paris e outras cidades, estaria resolvendo inteiramente o problema, mas como não está pronto, até o metrô ficar pronto, vai matar a metade da população, de raiva, do buraco e etc. e tal. De maneira que embora seja uma solução do futuro, pelo menos pra minha geração já não serve mais, porque aos cinqüenta e cinco anos já não quero mais metrô, eu quero a... avião, helicóptero, etc. e tal. De maneira que estamos na luta entre o metrô, o viaduto. Quando vai fazer o viaduto, o desgraçado cai, quer dizer, aí apavora todo mundo, ninguém quer passar embaixo do viaduto mais, quer dizer, uma série de complicações que vão deixando a cidade sem condições de maior desenvolvimento. Por outro lado, geograficamente a cidade também não ajuda, a cidade é, é uma, eh, tem poucas saídas, a i... o, a ligação norte-sul é muito estrangulada, de maneira que essas coisas todas tam... fazem com que o Rio de Janeiro fique numa situação difícil realmente de se viver. Já não falo na poluição porque poluição existe em todo lugar, mas aqui é possível que haja um pouco mais, porque temos a baía de Guanabara onde o pessoal vem do mundo inteiro descarregar o seu óleo pra gente ficar respirando aqui dentro da baía (inint.) cri... criamos uma linda baía pra receber o óleo de todo o mundo aqui dentro da baía. Mas enfim, são problemas que vão se amenizando com o famoso problema das praias. Realmente (interrupção)
D
 O quei.
L
 Mas voltando ao nosso Rio de Janeiro, e eu posso falar porque, carioca da gema, tenho direito a fazer minhas criticazinhas, eu no momento estou trabalhando numa firma hoteleira que teve a audácia de acreditar no governo do estado da Guanabara e isso não é crítica a ninguém porque o que, o que nos fez acreditar nele era meu amigo íntimo, Negrão de Lima, e a firma resolveu construir o maior hotel da América do Sul que é o hotel Nacional Rio. Então há três anos passados, fizemos, eh, lançamos a pedra fundamental com um grande churrasco, na base, projeto aprovado pela prefeitura, na certeza de que três anos depois estaríamos com todos os serviços públicos que atendem do, ao Rio de Janeiro chegados àquela região. Pois muito bem, inauguramos o hotel com a presença de sua excelência o senhor governador que deu uma semana depois um banquete de cem talhares aqui dentro e, por incrível que pareça, nós não podemos ter o "habite-se", porque não tem água, nem esgoto, nem rua, nem coisa nenhuma aqui em volta do hotel. (risos) De maneira que nós estamos aqui no vigésimo, aliás, vigésimo quinto de apartamentos, estamos no trigésimo terceiro andar e assistimos à saída na praia do esgoto da Rocinha, tranqüilamente, é toda Rocinha vem sair aqui na praia ao lado do hotel que recebe os maiores turistas do, do, do Rio de Janeiro (sup./inint.)
D
 (sup.) Do que há de melhor na Rocinha (risos/sup.)
L
 (sup.) Do que há de melhor na Rocinha é o que sai aqui na nossa frente, para que os turistas assistam. Isso é o Rio de Janeiro. Estamos a cinco minutos do Leblon e é como se estivéssemos em Brasília. Falo em Brasília porque tive oportunidade de assistir também à criação de Brasília e posso fazer uma comparação. Aliás, o dono deste hotel fez um hotel em Brasília nas mesmas circunstâncias. Mas Brasília não havia realmente nada e aqui em pleno Rio de Janeiro estamos sem água, sem esgoto, a avenida Niemeyer está num fecha-fecha, há um ano que dizem que vão fechar a Niemeyer para que po... possamos ter a, os serviços públicos aqui na, no São Conrado e até hoje nada. O túnel Dois Irmãos que está para abrir todo dia está, está pela metade aberto, de maneira que estamos como se estivéssemos em Brasília. Mas muito bem, mas isso não impede, porque ao nosso lado está se construindo outro grande hotel, logo a seguir vem o Gávea Golfe que está hoje, essa semana com uma competição de golfe extraordinária, mundial, está todo mundo aqui e essa região não tem nada. Estamos agora assistindo à propaganda de venda já na Barra da Tijuca, como se a Barra da Tijuca fosse já um bairro extraordinário e não tem absolutamente nada, só tem vontade de vender os apartamentos. Esse é o famoso Rio de Janeiro que, ao mesmo tempo em que tem uma praia, um, a maior praia do mundo, tem dificuldades de água e esgoto. Outros serviços públicos fantásticos, e eu posso falar porque o meu pai por exemplo foi de um, do Correio e Telégrafo, é o famoso correio do Rio de Janeiro. Do Rio de Janeiro, não, vamos dizer, do, do próprio Brasil porque o Rio de Janeiro não é diferente de nenhum, de nenhuma cidade sob esse aspecto. Não são bons os serviços públicos, não são porque não podem ser, a dificuldade é tremenda. O Rio de Janeiro inclusive passou por uma crise difícil. O Rio de Janeiro, que foi nascido e criado como capital da república, duma hora pra outra viu-se despojado deste ... Não, não parece nada, mas ser capital da república é muito gostoso, porque pra ele convergem todos os diplomatas de todo o mundo, a política gira em torno da capital. De maneira que a saída da capital do, do Rio de Janeiro, se por um lado poderá vir num tempo, a médio prazo, beneficiar pelo desenvolvimento da indústria, no momento foi prejudicial. Esvaziou realmente um pouco o Rio de Janeiro, esvaziou, não de indústria porque já não havia, agora tem que ir devagarzinho pra fazer, mas esvaziou de comércio, esvaziou de, vamos dizer, uma quantidade de gente que vinha ao Rio de Janeiro, como vai a Brasília. Brasília, pra lhes dizer uma coisa, o nosso hotel em Brasília que tem dez anos deu prejuízo durante dez anos, agora é que está começando a dar lucro porque está se fazendo a capital, Bra... Brasília está realmente se tornando a capital do país e quando a capital funciona vai todo mundo pra ver o presidente da república, o ministro da Fazenda e o presidente do Banco do Brasil. Onde estiver essas três pessoas tem sempre gente em volta e necessariamente a coisa funciona melhor. Outro aspecto que, por incrível que pareça, todo mundo diz que é uma maravilha o Rio de Janeiro pra isso, mas que ainda não chegou a render nem um vigésimo do que devia render é o famoso turista. Todo mundo sabe, todo mundo diz que o Rio de Janeiro é a maior cidade do B... a cidade mais bonita do mundo, os recantos maravilhosos, é Corcovado pra todo lado, é Pão-de-Aç'ucar, é o diabo, e o turista raramente vem aqui e quando vem é uma dificuldade, encontra deficiências de toda ordem e a primeira é, que é capital, é o preço da passagem. Por incrível que pareça o preço da passagem pro, pro Brasil, é o dobro do preço da passagem pros Estados Unidos pra (interrupção/telefone) Então o nosso famoso turismo e discute-se muito ... E aliás eu estou convencido do seguinte: ninguém entende coisa nenhuma de turismo, tudo conversa, porque turismo é uma coisa inteiramente subjetiva, turismo é estado de espírito. Ninguém visita a coisa porque é, é bonita, porque diz é, é assim. O sujeito é turista porque tem dinheiro pra viajar, gosta de viajar e vai viajar. É claro que, se tem que viajar, escolhe o melhor lugar e vai aproveitar, reunir o útil ao agradável. Então o Rio de Janeiro ainda não pode aproveitar nada, nem dez por cento da sua beleza que dizem que pode ser traduzida em divisa de turismo. Pode ser que eu me engane, mas realmente a passagem é a mais cara do mundo. Dizem, dizem os, as más línguas que o fato de nós termos uma única companhia de aviação, fazendo truste do, do, do, do vôo internacional, é que está prejudicando, porque hoje no mundo inteiro o turista viaja no, no avião chamado 'charter'. 'Charter' é o avião que uma, um grupo de pessoas, seja um, um, um clube ou uma repartição contrata o avião inteiro e sai pela metade do preço, que não tem que comprar a passagem na hora. Então o Brasil não permite a vinda de 'charter' ao Brasil porque não tem capacidade pra, ah, colocar 'charter' nos países dos outros. Então o, o mundo inteiro se visita com aviões 'charter' e nós não temos direito a receber porque o Brasil não permite. Pode ser que seja uma política certa mas tem prejudicado muito o turismo aqui no, no Rio de Janeiro e porque não dizer no Brasil. Que outros aspectos eu poderia apresentar do Rio de Janeiro?
D
 A marginalidade do Rio de Janeiro, os marginais.
L
 É. Pode ser. O marginal também não é invenção de carioca nem invenção de ninguém. O marginal é função da, tipo de vida, da possibilidade de vida e também um pouco da comodidade da vida. O Rio de Janeiro tem, tem marginais, mas não me parece que seja um problema específico do Rio de Janeiro e não me parece que o marginal possa ser considerado no Rio de Janeiro como um fato inteiramente negativo, a não ser que se considere marginal o sujeito que está na praia de Copacabana todo dia, que é uma coisa que me espanta, a qualquer hora que eu passe na praia de Copacabana está cheia. Alguém está, está, está errado porque ou gente que trabalha de noite e que eu não vejo, alguém está, está errado porque está sempre cheia uma praia e que realmente só devia estar cheia ou aos sábados e domingos ou então na época de férias dos escolares. Mas eu acho que as férias aqui, tem um pessoal que consegue gozar férias pelo menos seis meses durante o ano, porque realmente as praias estão cheias. Mas o marginal é o marginal de todo lugar, pode ser um pouquinho mais malandro do que os outros, que o carioca é um pouquinho malandro, sabe viver bem, mas não me pareceria um marginal. Outro aspecto, vamos dizer assim, do, um aspecto que hoje está tomando conta do mundo inteiro, eu não, não, não diria terrorismo, mas enfim há um, um aspecto ... Ontem aconteceu uma coisa muito engraçada, o sujeito saiu daqui e foi assaltado aqui na porta do hotel esperando o ônibus, foi assaltado, o sujeito pegou dois revólveres aqui na porta, gente pra burro esperando o ônibus, ele foi assaltado. De maneira que já não se sabe mais. As coisas que estão acontecendo são de tal ordem, que o sujeito não sabe mais o que que está certo e o que que está errado, o que é que, o que é isso? Ninguém sabe o que é isso, porque nunca vi. Os, os acontecimentos estão se passando de tal maneira, hoje o sujeito, ah, ser chofer de táxi de noite é, é um perigo, é uma loucura. Enfim, não sei pra onde é que nós vamos, não sei aonde chegaremos com isso. Posso ter certeza duma coisa: o Rio de Janeiro foi e é a cidade mais bonita do mundo na minha opinião, o Rio de Janeiro é a cidade, desculpe a modéstia de ser carioca da gema, em que vive o povo mais alegre do mundo porque o carioca é realmente um povo alegre, o Rio de Janeiro sofreu as conseqüências da mudança da capital e está tentando se recuperar, seguindo pelo lado da indústria. Não é fácil, como já disse o Rio de Janeiro é uma cidade de geografia, não é fácil a geografia do Rio de Janeiro, pelo contrário, pra nós chegarmos a uma cidade industrial temos que nos afastar muito, lá pra Santa Cruz, porque aqui já não tem lugar nem pra morar mais, quanto mais pra fazer indústria, mas de qualquer maneira é possível, é possível que o Rio de Janeiro venha a ser, e eu preconizaria, aí já um pouco abrindo mão da minha, da minha situação de carioca, eu creio que o futuro do, do, do Rio de Janeiro é a, a ligação com o estado do Rio de Janeiro, não só pela necessidade dos dois, como realmente seria um estado que podia se comparar com outros estados do Brasil, tais como São Paulo, Minas e etc. o que equilibraria um pouco mais o problema do brasileiro que está se tornando cada vez mais difícil com a supremacia de São Paulo em relação ao resto do país. E esse é um problema sério porque parece que o sujeito vai a São Paulo hoje está parecendo que vai a um outro país, de civilização, de tudo. Até coisas que a gente ouvia falar e que não acreditava, de cinturão verde, lá em São Paulo há tudo isso, há tudo isso e um desenvolvimento e não sei até quando.
D
 Ô, coronel, voltando ao fato do marginal, o se... o senhor pode me dizer como um marginal se forma?
L
 Bom, (riso) eu não posso, eu não posso dizer como ele se forma exatamente que eu não tive a oportunidade ... Mas o conglomerado de marginais e aqui por acaso, que ninguém nos ouça, nós temos aqui não um, um, um, mas o que mora em favela não é o marginal, mas a favela é realmente um ponto de formação de marginais. Pelas facilidades, pela falta de conforto que, eh, o ma... marginal vai se adaptando a certas situações de vida que ele acaba relaxando e procurando encontrar a parte fácil da vida que nem sempre é a mais distinta. Aqui nós temos a maior favela do Rio de Janeiro que portanto deve, deve ser, nós não temos assim uma, uma, uma prova disso, pelo contrário, mas deve ser um ponto central de marginais do Rio de Janeiro, porque uma favela de duzentas mil pessoas aproximadamente e entretanto nós aqui estamos adotando uma política de convivência amigável com a favela da Rocinha. Nós, de uma maneira geral, sessenta por cento dos nossos operários são da Rocinha, de maneira que go... gozamos de uma certa simpatia do pessoal da Rocinha, o que nos parece que será a maneira de encontrar no futuro um ponto de, denominador comum na praia, que nós viemos tomar a praia da Rocinha. Essa praia aqui era conhecida como a praia do pessoal da Rocinha que mora ali, atravessa a rua e vem pra praia. E entretanto nós não estamos com medo. Como eu te disse, eu acho que o marginal, o marginal ...
D
 Qual é o primeiro estágio do marginal?
L
 O primeiro estágio do marginal eu não sei porque eu não quero falar ... (riso) Bom, o primeiro estágio do marginal na minha opinião é a falta de trabalho.
D
 Não, eu digo com dez, doze anos, o que é que ele faz?
L
 Não, isso, eu não conheço, F., eu não conheço, com franqueza eu não, não, não conheço o desenvolvimento do marginal. Não conheço. Me parece que é a falta de trabalho, a falta do que fazer (sup.)
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 (sup.) O que é que ele faz? (sup.)
L
 O marginal?
D
 É. A atividade do marginal mesmo (sup.)
L
 (sup.) Bom, pra mim, pra mim o marginal, o marginal é sempre um homem que vive à margem, então ele não faz grandes coisas. Ele faz, tenta fazer coisas de pouca, pouca valia, de pouco trabalho, compreendeu, tentando viver a vida da melhor maneira possível, sem se engajar inteiramente na vida, compreendeu? Por isso ele é um marginal, ele sempre vive à margem das coisas, vamos dizer, das coisas sérias, das coisas direitas que necessitam de um certo trabalho. Então vai, o pivete vai procurando os pequenos empregos, as pequenas coisinhas que rendam alguma coisa, não muito, que também não precisa render muito, mas que não dêem muito trabalho. Esse é um tipo do marginal que vai se formando assim e quando chega a uma certa idade já não tem aquela vontade de trabalhar, no sentido de trabalhar 'full time' ou de trabalhar o tempo necessário pra ganhar um dinheiro honestamente. Procura sempre uma maneira de trabalhar um mínimo possível ganhando sempre o máximo possível. Como isso não é fácil, geralmente tende pra coisas ruins.
D
 Mas o ministério do Trabalho reconhece a profissão de pivete.
L
 Reconhece a profissão, compreende? De maneira que fica difícil, porque o sujeito vai tentando, tentando ganhar bem sem trabalhar ou trabalhando o mínimo e isso é muito difícil. E aí, geralmente encontra fazendo falcatruas, etc. que é o fim do marginal.
D
 Houve algum caso de, de, de delito aqui no, no hotel?
L
 Não, não, ainda não, não aqui dentro do hotel ainda não.
D
 Que tipo de, de, de delito poderia acontecer?
L
 Bom, aqui pode acontecer de tudo, né? Você vê, isso aqui é um, um ... Aqui se encontram pessoas de, de várias formações, isso na parte de funcionários. Nós temos quinhentos funcionários. Quinhentos funcionários vindos de todo lugar, quinhentos funcionários que varia do engenheiro de manutenção à arrumadeira, ao garçom, ao ... Enfim tem de tudo, é, o hotel é uma cidade. Eu não conhecia o problema hoteleiro e estou apavorado. Porque um gerente de hotel é um prefeito de uma cidade. Porque ele tem problema de pessoal, tem problema de infra-estrutura, tem problema de tudo, né? Nós temos aqui máquinas de ... Essas máquinas de ar-condicionado é uma máquina que custa três bilhões de cruzeiros. Quer dizer, essa máquina merece, merece não, temos obrigação de dar manutenção a essa máquina, compreendeu, que é preciso ter um grande conhecedor do ... Então um gerente que é obrigado, não ele, mas a manter gente pra fazer esse trabalho, mas ao mesmo tempo ter que ver se estão fazendo bo... bem o café ou se a bo... a feijoada está boa. Enfim, é muito, é um problema muito sério esse de, de hotel. Então tem essa parte de funcionários. Por outro lado, toda, o fu... O hotel é o serviço. O melhor hotel é aquele que presta melhores serviços, que trata melhor as pessoas e é muito difícil você encontrar, com a remuneração normal do brasileiro, gente que tenha prazer em servir bem aos outros. Porque se esse 'e um ... Um serviço é uma coisa que depende de, de, muito da, da pessoa. Você pode ganhar muito bem e servir mal e pode ganhar mal e servir bem. Mas de uma maneira geral, quem está mal de vida não tem prazer em atender bem a uma, uma pessoa. Por outro lado encontra o quê? De uma maneira geral, oitenta por cento de estangeiros, que vêm aqui ao hotel, e por ser um hotel de certo luxo, esnobando com justa razão, é turista, veio passear, quer dizer, veio rasgar o jogo, como se diz na gíria. E chega aqui o, o tratamento entre o, o candango e o, e o, e o milionário estrangeiro não é muito fácil, é, pelo contrário, é difícil. É preciso que haja muito, estado de espírito muito bom pra que a coisa corra como deve correr. Esse é um problema de delitos perigosos. Por outro lado, furtos, tudo, aqui acontece, pode acontecer de tudo, e acontece, não vamos dizer que não acontece, acontece. A manu... a segurança de um hotel é seriíssima, seriíssima porque você está aqui, abre aqui a porta, entramos aqui, não é, eu sou do, do hotel, mas ainda não passou uma pessoa ali, passou um ... Quer dizer, isso aqui é um perigo danado. Por outro lado, outro problema hoteleiro é o famoso problema de manter o hotel num certo padrão de honestidade e de decência. Não que, que hoje em dia não se leve, quase que a carteira de identidade não se exige mais, mas tem que haver um limite máximo e um limite mínimo, senão o sujeito se engana e entra nos, nos outros hotéis aí nos mo... motéis daí, que nós estamos cercados disso aqui, né? (sup.)
D
 (sup.) Que parada! (sup.)
L
 (sup.) Quer dizer, é preciso você manter um certo padrão de honestidade, também para não ser rigoroso demais senão muita gente não vem, mas não pode facilitar porque senão vira bagunça completa, né? É outro problema muito delicado de hotel. Muito bem, eu não sei o que (sup.)
D
 (sup.) Bom (sup.)
L
 (sup.) Vocês podem querer mais aí de (sup.)
D
 (sup.) Agora vamos passar pro comércio, fala que tipos de estabelecimentos comerciais pode haver numa cidade.
L
 Bom, o ... Bom, uma cidade, numa cidade, vamos dizer, numa grande cidade tem que haver todos os tipos de comércio, deve haver todos os tipos de comércio, porque a necessidade do povo hoje, eh, a gama de necessidade, é uma coisa estranha, vai de ... O sujeito precisa de tudo, não é? E o comércio foi, a evolução do comércio foi pra centralização. Hoje em dia nós vemos o, o, os grandes comerciantes, as grandes casas de comércio, que são verdadeiras potências, e como não podia deixar de ser, o que está sobrevivendo, o que está ganhando dinheiro no momento e é o último, que será, a perder dinheiro, é o da comida, o da alimentação. Em termos de, de comércio de alimentação, o Rio de Janeiro, pra citar o Rio de Janeiro, mas qualquer cidade, as nossas grandes cidades estão realmente numa, numa, numa evolução no sentido de comércio desse aspecto interessantíssima. Essas grandes casas de comércio de alimentação são realmente, na minha opinião, um grande passo de desenvolvimento. Por quê? Porque eles conseguem o que há de melhor, porque eles mesmos estão interessados em ter, hoje não há uma casa dessa, uma grande casa dessa de comércio de, de varejo de, de, de comida, que não tenha, ah, suas fontes de produção, as próprias fontes de produção. Eles pro... produzem cereais, eles produzem tudo, porque querem competir no preço com, com as outras firmas. De maneira que esse aspecto de comércio é um aspecto interessantíssimo e que tem tendido para centralização, que aliás é uma política de governo em todos os setores, inclusive o bancário, que também está entrando no comércio, e me parece muito justo e muito certo. Por que muito certo? Porque outro tipo de comércio daqui do, do, do Rio de Janeiro e das grandes cidades é o de eletrodomésticos. A guerra que existe! O sujeito chega a ficar impressionado, o sujeito abre um jornal de domingo aqui e fica sem entender como é que eles vendem tanto pra fazer a propaganda que fazem. Pelo menos cada casa tem duas páginas de, de, de propaganda. Que a propaganda é outro fenômeno que se desenvolveu muito. Antigamente você via uma propaganda e hoje fica abismado porque hoje tem a fotografia da panela! Eu nunca vi isso na minha vida, você gasta um dinheirão pra botar a fotografia da, de uma panela no, no jornal. Quer dizer, é tudo ao vivo, a, a fotografia do, da televisão, está tudo ao vivo. De maneira que o, o comércio de eletrodoméstico também, que é um comércio muito evoluído mas me parece que está ... A briga é muito grande e tem muita casa de eletrodoméstico lutando desesperadamente pela sobrevivência. O resto de comércio, como eu já disse, muito evoluído, muito bom, de uma maneira geral, descentralizado, cada casa tem, cada bairro tem, tem o, a mesma casa em cada bairro, não, não pode deixar de ser assim, e o comércio está muito bem, está ... Creio que não temos, não ficamos nada a dever em termos de comércio, nada a dever a nenhuma cidade do mundo.
D
 Bom, como é que se chama um lugar onde a gente vai comprar coisas?
L
 Como é que se chama o lugar onde vai comprar coisas?
D
 É.
L
 Depende do tipo, mercado pode ser, pode ser um mercado, se for um ...
D
 Que que tem no mercado?
L
 O mercado, na minha opinião, o mercado é muito ligado à alimentação. Embora os mercados hoje, sup... supermercados que é, o, a tendência dos supermercados já tenha de tudo, né? Supermercado hoje tem praticamente tudo, né? E a tendência do futuro é o supermercado ter tudo, porque é a única maneira que ele tem de baratear a coisa, porque acabou a tendência, acabou a possibilidade do, do, do açougueiro, o açougueiro tende a acabar. Nós antigamente tínhamos em cada esquina um açougue. Ora, o sujeito que paga de, de, de aluguel só pra vender carne, tem que vender a carne cara porque não pode manter no, de dentro do mesmo aluguel, como supermercado que o sujeito tem açougue, tem, tem tudo, tem venda, tem, tem o, feira livre dentro do supermercado, tudo isso. Enquanto que a feira livre, coitado, o sujeito vai, trabalha a noite inteira pra carregar o caixote, chega lá, ao meio-dia, ele tem que vender o que sobrou que senão não, não, não dá pra levar pro dia seguinte.
D
 E pra comprar isso onde é que (inint.) vai?
L
 Sap... Também pode um ... Sapataria, porque existe ainda, em termo de, de sapato existe ainda, vamos dizer, o especializado. Mas a tendência também é juntar sapato com outra coisa, porque o luxo de ter uma sapataria, o sujeito tem que cobrar caro. Eu sou de opinião que tem que haver uma centralização de, de, de mercado pra poder ba... baratear o preço. É um luxo você ter uma sapataria, uma camisaria. Tem que juntar tudo isso no menor número de mercado se for o nome, vamos dizer, chamar de mercado o conjunto de itens que se vende num, numa, numa loja. Então me parece que a tendência que deve haver é de centralizar o número de, de itens de, de venda pra poder baratear.
D
 O curioso é que Ipanema está observando um, uma, uma evolução inversa a isso, né? Atualmente nós temos umas lojinhas pequenas, eu não me lembro o nome, que vendem roupa de mulher (sup.)
L
 (sup.) É. Roupa de mulher. Exatamente. E uma ao lado da outra, e uma ao lado da outra (sup.)
D
 (sup.) É. Como é que se chama essa lojinha? (sup.)
L
 (sup.) Eh, eh, butiques, né? (sup.)
D
 (sup.) Ahn? (sup.)
L
 (sup.) Butique. E é possível realmente. Mas é o início da coisa porque Ipanema está começando agora. Bom, você ... É outro fenômeno. Você vai na rua do Catete tem uma casa de móveis ao lado da outra, tem dez casas de móveis no lado da outra e você diz: bom, então alguém está, está sendo passado pra trás. E não. Casa de móveis uma ao lado da outra e o, o que vendeu uma mesa e não tem, pede emprestado ao, ao turco do lado e vende e as casas, e todas as casas de móveis vendem dinheiro e ficam ricos. Não quer dizer que não possa ser uma butique ao lado da outra, mas enfim eu não acredito muito na possibilidade porque são caras, têm que ser caras, têm que ser caras.
D
 E livro?
L
 Livro, livro é outro fenômeno. Nós aqui estamos, por, por, por exemplo, precisando, precisando mesmo, oferecendo quase uma loja, para que se monte aqui uma livraria. Nós não queremos, claro, é a tal coisa, nós não queremos uma livraria pura e simples, queremos uma livraria que venda o Correio da Manhã, compreendeu, que venda, ah, hum, revistas internacionais, então a tendência hoje na, na minha opinião é a livraria que vende tudo, é a livraria de aeroporto, que vende todos os livros e vende jornal e vende revista e vende tudo da, da, daquele setor. Pra mim a livraria é nesse, no, seria nesse sentido que eu entendo a livraria com possibilidade de lucro, mas você vê, há dificuldade. Pra joalheiro não houve dificuldade, já tem quatro, com luvas e etc. Agora pro livro tem. Porque o livro, infelizmente, ainda não dá o rendimento, o lucro que dá um, uma joalheria. Casas de flores, estamos com dificuldade em casa de flores, florista, que é uma coisa que, embora não pareça, mas é uma coisa indispensável. Junto a um hotel então, só o que o hotel gasta, cada banquete que há, o que gasta de flores, etc. Mas não pode pagar luvas, não pode pagar essas coisas. Então nós aqui sentimos imediatamente necessidade de três tipos de comércio: drogaria, também evoluída, não é drogaria só daquela que faz xarope atrás que isso já acabou, a farmácia propriamente dita já acabou, agora é drogaria que tem tudo, né, quase o 'drugstore' dos Estados Unidos, né? (sup.)
D
 (sup.) É (sup.)
L
 (sup.) Que vende até mais do que remédio, vende mais do que remédio. Antigamente fazia, (risos) preparava lá atrás o xarope por conta da (sup.)
D
 (sup.) Homeopatia (sup.)
L
 (sup.) Homeopatia. Então, drogaria, florista e livro. Foram os três mercados, os três tipos de, de negócio que nós estamos oferecendo sem luva, pela necessidade que temos aqui. E não é tão fácil, não é fácil de arranjar.
D
 Tomando um quarteirão de Copa... de Copacabana, o seu bairro, né, o quart... o seu quarteirão que você mora ou outro, o que que nós, o que que você tem ali naquele quarteirão em termos de comércio?
L
 Bom, eu moro, eu moro, talvez num dos pontos mais movimentados do Rio de Janeiro, que é Bolivar, a rua Bolivar entre a Atlântica e Copacabana e aquela zoninha ali. Pra te dizer com franqueza, na minha rua, setenta por cento é casa de comida. Senão vejamos: eu saio, à minha direita tem uma lanchonete, Onda, dobro à esquerda tem uma chamada Sete, atravesso a rua tem um restaurante chamado Nino's. Isso a, a, a cinqüenta metros, não é uma quadra, é cinqüenta metros do ... Aqui os dois vizinhos são uma lanchonete e um restaurante chamado Sete, em frente é o fenômeno do Cabral, que você conhece, e na outra esquina o Nino's. Então você ... Agora atravessa e tem umas três casas com a grande novidade que é aquele negócio do, do frango, frango assado, que agora, eh, caiu na, no, no goto de todo mundo, né? Então naquela rua Bo... Bolivar entre a avenida Atlântica e Co... Copacabana tem setenta por cento de casas de comer, não é, não é de vender comida, tem Casa da Banha, etc. mas de casa de comida e de restaurante, entre restaurante e lanchonete, setenta por cento.
D
 E na Copacabana?
L
 Na Copacabana, aí já muda o aspecto um pouco. Butiques, como você diz, butiques, não as de Ipanema, sofisticadas de, de Ipanema, mas casas de negócio de mulher e homem e cinema, como o da esquina. Essa ali é o que eu encontro mais, mas predominância absoluta no comércio de hoje: comida. Tendência moderna, do restaurante antigo, daquele de sentar, feito o café de sentar que havia antigamente, está tendendo pro cafezinho em pé, como tendendo pro sanduíche, tendendo pra, tendendo pra lanchonete. Mas de qualquer maneira ali tem, pelo menos setenta por cento do comércio é de comida.
D
 Olha aqui, fala aí como é, quais são as partes de uma loja. Como é que é uma loja?
L
 Uma loja? Loja de uma maneira geral, uma loja qualquer que ela seja?
D
 É. Uma loja de roupas de mulher, de homem.
L
 Bom, eu não conheço exatamente uma loja por dentro mas calculo que uma loja você tenha, uma loja tem que ter como base o local onde você, vamos dizer assim, consegue a sua mercadoria. Então você pode ter um depósito próprio ou pode ter um mínimo de estoque e ter um depósito longe, que você vai trazendo o seu estoque parceladamente. Então uma, uma loja tem que ter: um mostruário interessante, perfeito, bem feito, com imaginação, pra chamar a atenção do comprador ou da compradora. Uma loja tem que ter: pessoal ...
D
 Esse mostruário que você diz é o quê?
L
 Vitrine, é, é, enfim qualquer coisa que mostre uma parte da, do, do, do seu estoque pra chamar a atenção, que é o chamariz, vamos dizer assim, da, do, do que você vai vender. Tem que ter um pessoal altamente especializado, especializado em termos de relações humanas, relações humanas vende, setenta por cento é vendido pela relação humana e trinta por cento pelo material. E uma organização mínima que permita controlar a loja. Loja é isso, loja não tem nada de extraordinário (sup.)
D
 (sup.) E aonde a gente veste a roupa? É o ...
L
 Sim (sup.)
D
 (sup./inint.) em geral? (sup.)
L
 (sup.) Pode ter o, é, pode ter um ... Acho que nem veste mais, ainda veste? Eu hoje não vejo mais.
D
 Experimenta (sup./inint.)
L

  (sup.) Experimenta, é? É tem que haver uma, um certo número de, de cabines. Nas que eu tenho ido são umas cabines até fracas, é o mínimo de cabine possível com uma, um cabide, um, um espelho pra experimentar roupa. Mas, não vejo, ah, porque hoje tudo é, é, está pronto, né, meia-confecção, raríssimo, não tem quase nada, não tem quase nada.