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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Meteorologia"

Inquérito 0121

Locutor 138
Sexo masculino, 54 anos de idade, pais cariocas
Profissão: professor de matemática
Zona residencial: Sul

Data do registro: 26 de outubro de 1972

Duração: 50 minutos

Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 O senhor vai relacionando as coisas de acordo com as situações (inint.)
L
 Sei, está bom. Eh, aqui no Brasil é que você quer que ... Essa informação é relativamente a clima e condições de ce... de céu, etc. aqui no Brasil.
D
 O senhor pode comparar com outros lugares também (sup.)
L
 (sup.) Ou pode-se falar de modo inteiramente geral.
D
 Pode, pode falar (sup.)
L
 (sup.) Uma vez, é engraçado, eu escutei uma vez um, um amigo dizer isso. Aliás, ele sempre dizia e em italiano, que nós tínhamos aqui somente duas estações. Era a estaçã... era o verão e a outra estação era o calor. As duas estações que nós tínhamos aqui no Brasil. Evidentemente a título de piada, não é? E fora ... Mesmo aqui no Rio de Janeiro a gente sente um pouquinho de frio, não é, quando chega os meses de agosto e setembro e às vezes até outubro, não é, como nós sentimos no princípio desse mês.
D
 Por causa da umidade, né? A umidade penetra (sup.)
L
 (sup.) É, a umidade aqui no, no Rio é um fator, não é, que modifica bastante a maneira da gente sofrer o, as intempéries, o clima, não é, o frio mesmo.
D
 E o dia de hoje, como foi?
L
 'Piuttosto caldo' (riso) eu não sei dizer em italiano. De preferência, eh, é calor, né?
D
 Certo.
L
 Hoje, como é que foi o dia? Eu saí assim, eu estou ainda como cheguei.
D
 Roupa de trabalho?
L
 Roupa de trabalho mesmo. Agora eu estou trabalhando assim. E, e esse agasalho mínimo que eu tenho aqui foi mais que suficiente, não é, pra agüentar a temperatura.
D
 E como se mostrava o céu?
L
 Hoje eu olhei muito pouco pro céu (riso) infelizmente. Deixa eu ver: na hora que eu saí, acho que tinha sol. Agora, se o céu estava azul mesmo, não tenho certeza. Deve ter ... Ou se há nuvens?
D
 (inint.)
L
 (riso) Não vi muito. Agora quando eu, eu estive muito em interior, não é (inint.) lá de fora. E quando saí me meti dentro do automóvel, peguei trânsito ruim, a gente não vê céu mesmo, só (riso) vê automóvel. Ventou hoje? Eu acho que ventou.
D
 Eu não sei.
L
 Na parte da manhã, eu acho que ventou.
D
 (inint.) o sol é (inint.)
L
 É, a gente está ... Quando está trabalhando não vê céu, até às vezes não sabe muito bem se fez calor ou se fez frio, não é?
D
 Hoje (inint.) como foi?
L
 Hoje foi um dia bom, não é? Pelo menos não se, não notei que tivesse ameaçado chuva. De modo geral bom.
D
 Como é que o jornal traz a notificação, a previsão?
L
 Normalmente?
D
 É, a linguagem que é usada.
L
 Olha, a previsão pro período de, das próximas vinte e quatro horas, assim coisas ... Pelo menos, eh, num período de, curto, às vezes, não são vinte e quatro horas, nos próximos dois ou três dias, eh, o jornal dá uma previsão assim que haverá bom tempo ou mau tempo ou instável, chuvas durante o período, possivelmente trovoadas durante o período, ventos de nordeste ou de sudoeste, a temperatura se manterá estável ou subirá ou diminuirá. Sei lá bem o que, o que que eles dizem. Eh, nuvens, eles não falam em ... Não, nuvens, quantidade de nuvens é, é difícil que eles falem. É, é engraçado, na Itália, sempre eu escutava o ... Em setenta eu escutava a previsão do tempo. Era uma coisa que aparecia sistemática, muito no noticiário, aparece ...
D
 Como é que eles fazem pra saber a previsão de tempo?
L
 Atualmente ... Lá na Itália ou aqui? Qualquer lugar?
D
 É.
L
 Eh, houve um período que nós ... Olha, eu sou muito mais velho que você e naturalmente já sei dos tempos da infância da meteorologia aqui no Brasil. Quando eu era, eu tinha a idade de vocês, era assim, havia até uma certa gozação em relação às previsões, não é? Quando era, o serviço de meteorologia dizia que ia chover, muitas vezes não chovia. Quase sempre era o contrário. Então já havia um sistema de gozar o serviço de meteorologia. (riso) Todo mundo gozava. E, ah, o serviço de meteorologia dizia que ia chover, o sujeito saía à vontade, sem nada. (riso) Dizia que ia fazer bom tempo, metia logo o guarda-chuva. Havia isso a título de brincadeira naturalmente. Eles não podiam acertar muitas vezes, porque o sistema de informações era, na ocasião, precaríssimo, meios de comunicação difíceis. É, é impossível se fazer um serviço, uma previsão razoavelmente boa, sem informação, pelo menos da zona em torno daonde se está. Há um, há um, também uma previsão de frentes frias, deslocamento de frentes frias e deslocamento da frente fria em geral traz chuva, traz perturbação, né, traz alguma modificação no tempo. Hoje em dia a previsão é feita já com um pouco mais de base científica, né, as zonas que são cobertas pela previsão são muito maiores. A rede de informações é muito maior. Se a gente tem uma rede de informações muito grande em torno da região onde se pretende fazer a, a previsão, naturalmente que as informações são muito precisas. Que o tempo mau vem chegando, ele não cai verticalmente em cima da gente, ele normalmente se desloca horizontalmente e, dependendo de uma porção de fatores como centros baixa pressão, alta pressão e, alta pressão e baixa pressão. Eh, naturalmente no centro de baixa pressão há deslocamento de ar para aquela zona. A pressão está mais baixa, uma espécie de vácuo, rarefação do ar, o ar que está em volta procura, eh, aquele caminho, não é, naturalmente. Natureza tem horror a vácuo, como dizia o pessoal antigo. Eh, e também o vento, não é, o vento é resistente e traz mau tempo, leva mau tempo embora (telefone). Quer dizer, agora recentemente em São José dos Campos, é uma informação que eu já tenho, em São José dos Campos se faz uma previsão de tempo via satélite. São José dos Campos, lá no centro de atividades espaciais, não sei bem o nome, Comissão Nacional de Atividades Espaciais, não sei bem o nome daquela comissão que funciona lá, CNAE, era CNAE agora mudou de nome, eu já sei que mudou de nome. A sigla era CNAE, né, Comissão Nacional de Atividades Espaciais, parece que é isso mesmo. E essa comissão tem um, um convênio lá com um grupo americano, eh, que controla o Intelsat, eh, e também satélites meteorológicos e eles atualmente recebem informações desse satélite meteolo... meteorológico americano. E as informações via satélite são muito mais precisas do que qualquer outra coisa que se teve até então. Além da comunicação ser rápida, ah, a informação vinda do satélite abrange uma área muito grande. Então, as perturbações que estão aparecendo em torno da região onde se quer fazer a previsão, eh, são mais aparentes. Agora, em vez de se fazer, ah, a pesquisa de baixo pra cima, como se fazia até uns poucos anos atrás, uns quatro ou cinco anos atrás, agora a, a base toda da informação é de cima pra baixo. O satélite fica a uns, deve ser da ordem de uns quarenta mil quilômetros acima da superfície da terra, tem um panorama muito grande, pode ver quase que um terço da superfície da terra.
D
 Ah, antes do satélite, que outros instrumentos eles utilizavam?
L
 Bom, na é... nas épo... na época heróica (riso) da meteorologia, eh, termômetro, barômetro, isso é que era o essencial. O termômetro era acoplado com o termômetro de ar úmido, ar seco, pra ver quantidade de umidade do ar. Quer dizer, essa, esse era o primeiro instrumento. Eh, o barômetro baixava, se dizia que ia chover, o barômetro subia, se dizia que o tempo estava firme. Mas isso era apenas um elemento pra dar informação, não era ...
D
 E pra vento como é que são medidas as direções (inint.)
L
 Direção de vento é um cata... eh, um catavento, um aparelhinhozinho que se dirige na seta muitas vezes, no galo, às vezes era um galo, eh, era uma seta apoiada fora de seu centro numa da extre... eh, proximamente perto de uma das extremidades, de modo que o vento batia, fazia a maior pressão sobre a parte maior e aquele rabo ficava no sentido para onde ia o vento e dava a direção, podia haver algum, alguma indicação lá da direção norte e sul, lá embaixo, dando a direção do vento. Velocidade sempre havia um anemômetro, assim um aparelhozinho de hélice, eh, medindo a intensidade do vento.
D
 O senhor falou em satélite artificial. Que satélite natural (inint.)
L
 A lua.
D
 É. Como ela se apresenta pra gente?
L
 Como se apresenta como? Como a gente vê?
D
 É.
L
 Olha, a gente pode ver grande, pequenina, é isso? É, em parte tem lua nova, quarto crescente, depois, eh, vai enchendo até ser lua cheia, depois decresce, o quarto minguante, etc. até voltar a lua nova. Um período de uns vinte e oito, vinte e nove dias.
D
 Qual é a influência da lua na terra (inint.)
L
 Quando eu aprendi geografia, mais ou menos estupidamente, no tempo de primário, etc. se dizia que a lua era responsável pelo, mundicamente, pelo efeito, pelas marés, porque a lua atraía as águas, então na parte por onde a lua passava, eh, havia uma atração do nível dágua e então a maré subia. Isso era a coisa mais cretina que, eh, a... acho que já aprendi na minha vida e porque é completamente errado, porque simultaneamente com a onda de elevação da superfície do mar na parte junto da lua, no antípoda, precisamente a cento e oitenta graus lá na terra, havia a mesma elevação da, do mar. E o efeito não podia ser de atração cla... como é, e atrair lá, lá tinha que chupar, né (sup.)
D
 (sup.) Certo (sup.)
L
 (sup.) O mar tinha que baixar, na realidade isso é ... Não é isso. O si... eh, o sistema formado pela lua e pela terra gira em torno do seu centro de gravidade dentro do sistema solar e o centro de gravidade desse sistema está, eh, no interior da própria terra. O centro de gravidade do sistema terra, lua. Naturalmente mais do lado da lua que do lado oposto da lua. E, por efeito de giro e pelo fe... eh, e pelo fato da massa líquida ser, poder ser deslocada com mais facilidade, se arrumar, se acomodar com mais facilidade que o elemento sólido na terra, a massa líquida tende a se afastar do centro e ...
D
 O clima cria alguma diferença no, no estado do mar? Condição atmosférica, condição meteorológica?
L
 Condições meteorológicas sim, o vento principalmente. O vento eleva as ondas. Sempre que o vento é bastante forte, as ondas do mar também ficam bastante forte, às vezes há um retardo no estabelecimento das ondas. As ondas elas não aparecem imediatamente após o desencadear do vento, depois de algum tempo, algumas horas, às vezes, é que o mar cresce bastante em relação ao vento que está fazendo, sabe?
D
 Como chama quando o mar está muitíssimo forte?
L
 Ressaca.
D
 O senhor estava falando aí no sistema solar (inint.) que mais que tem (inint.)
L
 O sistema solar não tem muito a ver com a meteorologia, né? O sol, o, há uma, deixa eu ver, há uma época de onze em onze anos que o sol apresenta para a terra umas manchas de origem não muito conhecida e nesse período, ah, os meteoros aqui na terra parece que sofrem um, uma ativação anormal, nesse período de onze anos, eh, os maremotos aparecem mais fortes, eh, nessa época de onze em onze anos, em que o sol apresenta suas manchas voltadas pra terra. Nessa ocasião também acontecem as chamadas tempestades magnéticas, né, que perturbam as comunicações radiotelegráficas, com mais freqüência. Quer dizer, isso não é de modo absoluto porque há ocasiões também, dependendo da zona, da região, em que há perturbações atmosféricas fortes interferindo em radiotelegrafia, às vezes sem causa muito evidente.
D
 Olhando pro céu à noite, que é que o senhor vê?
L
 Estrelas.
D
 Que mais?
L
 Planetas, satélite artificial (riso), é isso? (sup.)
D
 (sup.) Perfeito.
L
 Avião.
D
 (riso) É por isso (sup./inint.)
L
 (sup.) Nuvens (sup.)
D
 (sup.) Que as estrelas estão, estão arrumadas de alguma maneira, a gente vê elas arrumadas de alguma maneira?
L
 Certo. As estrelas são fixas em relação ao que a gente vê, elas são arrumadas, eh, mantêm essa arrumação praticamente sem mudança nenhuma, pelo menos a olho nu a gente não vê modificação nenhuma, a posição relativa delas é a mesma (inint.) para a vida humana. Os planetas é que se locomovem de modo diferente, eles aparecem em posições diferentes em relação às estrelas. O, os planetas que a gente vê mesmo são Júpiter, Saturno, Vênus, Marte, esses a gente vê. Vênus a gente vê até de manhã, de, de manhã cedinho, né, quer dizer, antes do amanhecer e imediatamente após o escurecer. Vênus é que a gente vê com mais facilidade, não é? É o mais, talvez o que desperte mais atenção, não que seja o, o planeta mais brilhante, mas é que aparece em lugares que a gente olha com mais facilidade, eh, perto do horizonte que a gente enxerga, enxerga, ele acompanha, Vênus acompanha o sol, né, o planeta Vênus nunca se afasta do sol de mais de três horas, sabiam disso?
D
 Não.
L
 O planeta Vênus ele tem um movimento em relação ao sol, mas nunca se afasta do sol mais de três horas, é impossível ver Vênus, eh, mais de três horas depois do pôr-do-sol, como é impossível ver Vênus, eh, a mais de três horas antes do nascer do sol, qualquer lugar do mundo. Quer dizer, é uma das características do planeta Vênus, ele vai e volta com o sol. Naturalmente quando ele está muito próximo do sol não se vê coisa nenhuma porque o sol ofusca, né?
D
 A luminosidade de Vênus é a de uma estrela, né?
L
 Vênus não é estrela, é planeta.
D
 Sim, sim, eh, mas a luminosidade de Vênus é como uma estrela.
L
 Não, os planetas não têm luz igual, nenhum planeta tem luz igual à de estrela, eh, a luminosidade é, é de, é refletida, as estrelas a gente vê piscar, nenhum planeta pisca, a gente ... A luz é fixa, embora em intensidade talvez, né, eh, intensidade, né, intensidade é comparável a de muitas ... Há muita estrela que tem intensidade menor que a de Vênus, isso é diferença de distância, né? Mas dos planetas o mais brilhante é Júpiter. Ah, entre eles, os nove planetas, o mais brilhante é Júpiter. E Júpiter dificilmente é igualado a qualquer outra estrela. E Júpiter eu acho que é comparável a estrelas de primeira grandeza e dificilmente alguma estrela brilha tanto como Júpiter. Júpiter é azulado, eh, a cor de Júpiter é, é diferente da cor de Vênus.
D
 O senhor já viu isso (inint.)
L
 Já, eh, meu filho menor, é engraçado, eu aprendi umas coisas com ele. Esse que tem vinte anos hoje, ele já teve uma certa época da vida dele mania de observar estrela, observar planeta e ele tinha um pequeno aparelhinho, um Poliopticom, Poliopticom, um aparelho desses comercial. O nome que me, me ocorreu agora é esse, viu, Poliopticom (sup.)
D
 (sup.) Ah! É esse da Estrela! Ah, é, é da Estrela (inint.)
L
 Não, não é da Estrela não. É, é da Vasconcelos, uma firma de São Paulo, Vasconcelos. Não sei o quê, Vasconcelos, tem outro nome antes. Efe Vasconcelos parece. É uma firma que eu acho que até hoje ainda vende aparelhos de ótica. E, eh, eu acho que é Efe Vas... Vasconcelos eu tenho certeza. Se é Efe não juro. Eh, ele tinha um aparelhinho que era um, eu acho que era um telescópio de Newton, é um aparelhinho que se consegue aumento através de um espelho, um espelho parabólico, é um pe... consta de um visor, do raio luminoso que sai da ma... eh, o raio luminoso entra, bate lá no espelho, volta prum prisma e vem ao olho da gente. Bate no espelho e ele é, a imagem é ampliada, é um espelho que deve ser esférico ou parabólico? Deve ser esférico, é ampliação, sei lá se é esférico ou parabólico, não sei mesmo, eh, pode ser um ou outro, depende da posição. Deve ser esférico. Eu creio que seja esférico. E nós aqui observávamos até os satélites de Júpiter. Júpiter tem quatro satélites que são chamados satélites de Galileu, em homenagem a Galileu, porque Galileu pela primeira vez observou esses satélites, foi o primeiro homem que observou esses satélites e quando ele observou os satélites, ele, aí ele não teve mais dúvida de como funcionava o sistema solar, até então ele tinha dúvida, né? Se ele dissesse que era a terra que girasse, girava em torno do sol, a fogueira estava à espera dele. Então ele tinha que se ajeitar pra dizer mas não dizer, ele acabou negando muita coisa que ...
D
 (inint.) sol?
L
 Sim. A quantos (sup.)
D
 (sup.) A quantos quilômetros do sol em relação a Vênus? Como é que a gente vê Vênus?
L
 Eh, quanto a tempo, há quanto tempo existe o sol?
D
 Não, quer dizer, como nós vemos o sol, é (inint.)
L
 Como nós vemos o sol?
D
 É, é (inint.)
L
 Como vemos o sol? Eu não gosto muito de olhar muito direto pra sol, confesso a você (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 (sup.) Sei, sei, mas o, o sol é, é o astro que nos aquece, nos dá luz (sup.)
D
 Hum, hum (sup.)
L
 (sup.) Faz, eh, faz as plantas crescerem.
D
 (inint.) quando a gente passa muito tempo na praia que é que acontece com ela (inint.) o sol?
L
 Muito tempo, muito tempo, fica queimada.
D
 (inint.) tempo demais (inint.)
L
 Pode chegar a se queimar de tal maneira que provoque queimaduras na pele de tal ordem que os poros deixem de funcionar, pode ter um, uma crise de funcionamento nos rins e pode até morrer (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 Criança ou gente grande, não precisa ser criança.
D
 E aquela hora em que o sol ainda não apareceu, mas há luz?
L
 Antes de aparecer? Crepúsculo matutino precisamente. E depois, à tarde, crepúsculo vespertino.
D
 Eu não sabia disso não.
L
 Não, é porque eu já fui oficial de marinha, viu (inint.)
D
 Ah, é! (riso)
L
 (riso) Aí eu estou contando, estou falando quase como técnico.
D
 É.
L
 A hora do crepúsculo, a hora, puxa, na hora do crepúsculo nós tínhamos vigilância redobrada, porque é a hora que se imagina uma atacada, hora de poder chegar torpedo, eram as horas prováveis, então a vigilância era muito maior nessas horas, no crepúsculo matutino e vespertino. Ah, e também principalmente outra coisa, a posição do mar no tempo que eu embarcava era principalmente determinada, havia sextante e cronômetro, eram os instrumentos que a gente tinha a bordo para determinar a posição no mar, em alto mar naturalmente, né, aparelhos de, eletrônicos e esses modernos não havia muito e na observação de estrelas pra ter posição do navio no mar é sempre feita no crepúsculo, ou vespertino ou matutino, um período assim, eh, de quarenta, trinta minutos antes do sol nascer ou depois do sol nascer.
D
 Como é que (inint.) perde no mar sem, sem instrumento, como é que se faz pra (inint.) de novo?
L
 Sem instrumento?
D
 É, pra saber onde é que se está?
L
 Está roubado. (riso) Sem instrumento nenhum, sem agulha? (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 Não adianta. O sujeito está em alto mar, sem nenhum instrumento, nenhum instrumento, eh, absolutamente sem nenhum instrumento, nem agulha?
D
 Instrumento pra se guiar, como é que faz pra se guiar?
L
 Ó, tem que rezar muito a Deus nosso senhor pra ajudar, porque pra conservar o rumo no mar, a gente pode, é claro, por observação do sol a gente sabe que está de manhã, sabe que está de tarde, pode saber se o sol está a leste, se está a oeste, ter uma orientação se o sol está mais ao norte, mais ao sul, aqui no inverno, por exemplo, o sol está mais ao norte que ao sul, precisamente aqui no Rio de Janeiro o sol nunca fica ao sul, eh, do zênite, né, nunca. Ou, quer dizer, pode ficar, acho que é meio grau, ao sul do zênite, mas normalmente está sempre ao norte, mesmo ao meio- dia. Ao meio-dia verdadeiro, meio-dia solar, a senhora olha pro sol, ele está em geral, está ao norte, não está no zênite precisamente.
D
 E de noite?
L
 Quer dizer, pelo sol se podia, naturalmente, se orientar. Mas se não se tivesse instrumento nenhum, o sujeito podia até perder a noção de manhã e tarde. Perdendo a noção de manhã e tarde, já fica mais difícil saber aonde está o leste, aonde é que está o oeste. Ah, uma coisa que se pode também, que serve, às vezes, pra se orientar, quando o vento não muda, eh, e as ondas já se estabeleceram e ficaram numa determinada direção, rolando numa determinada direção, eh, isso dá uma indicação de rumo. A dificuldade do navio sem agulha é manter o rumo. Ele está no mar, observa, mas é difícil manter o rumo. Quando se faz um constante com uma determinada direção de rolamento de ondas, se mantém proximamente no rumo, se pode orientar, ter qualquer indicação.
D
 Essa sua cultura é do seu tempo de, do seu tempo de marinha?
L
 É, isso mesmo, tempo de marinha.
D
 Professor.
L
 Sim.
D
 Quando, quando o sol não cumpre o seu dever de aquecer, o que que acontece (inint.)
L
 Não cumpre o dever dele de aquecer? Não cum... (riso) se ele não aquece, a terra se esfria.
D
 Certo. O que que acontece com as pessoas? Sintomas (inint.)
L
 Bom, quando o sol ... Às vezes, sei lá, tem gente que é influenciável pelo aspecto do sol, do céu, normalmente quando o dia está bonito, o sol aberto, sem fazer calor excessivo, a gente se sente mais alegre, mais feliz (sup.)
D
 (sup.) Com essa roupa, o senhor em Nova York nesse momento, o que que o senhor acredita que estaria sentindo? (sup.)
L
 (sup.) Um dia, nove... outubro, frio, muito provavelmente frio.
D
 E no dia vinte e cinco de dezembro?
L
 Mais frio ainda.
D
 (inint.) qual seria o seu estado?
L
 Bom, o esta... as, as casas lá nos Estados Unidos são aquecidas pra cachorro. Eu mo... (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 Ah, na rua?
D
 É.
L
 Na rua eu estava morre... eu tinha morrido, não dava, eu tinha morrido. (riso)
D
 (inint.) qual o estado (inint.)
L
 Começava a virar sorvete (riso). Eh, sofreria à beça o frio.
D
 Como é, como é que se chama esse estado?
L
 Ah, eu tiritaria, se eu não morresse antes, se desse tempo pra tiritar.
D
 E qual é a primeira parte do corpo que é afetada assim violentamente pelo frio, as primeiras partes?
L
 Eu sinto nariz, ouvidos, depois pé, que eu sinto. Nariz, orelhas e depois pé eu sinto, depende. Agora, pé eu agasalho, nariz e o... orelha que é mais difícil agasalhar. Na Itália, quando estava frio eu saía de cachenê, tinha lá um cachenezinho.
D
 Aqui no, no país (inint.) há uma coisa que impede (inint.)
L
 Cerração?
D
 É. E quando o sol está forte mas existe cerração, o que que acontece com a temperatura, o ar atmosférico?
L
 Com cerração é difícil o sol ficar forte, né? Só ce a serração ... Olha, as duas coisas em geral são antagônicas, né, quando tem cerração o sol fica fraquinho. Mas normalmente quando há cerração, não há vento. O vento em geral desfaz a cerração, o nevoeiro. Nevoeiro me dá opressão, se, se quer saber algum sentimento meu, é de opressão, me sinto prisioneiro de alguma coisa. A gente não sabe explicar bem o que é, mas sente que tem alguma coisa (sup.)
D
 (sup./inint.) estava falando (sup./inint.)
L
 (sup.) Tolhendo.
D
 O senhor falou de ressaca, né?
L
 Sim.
D
 Como seria uma ressaca em alto mar, descreva aí, uma ressaca não, um estado bravio do mar.
L
 Ressaca é um nome especialmente pra mar agitado vindo de costa, né, quando bate em costa. Então, em geral se diz em alto mar que o tempo não está bom, o tempo está ruim, o mar está ruim. Eh, as ondas vão crescendo, normalmente quando as ondas crescem muito há vento, normalmente, isso não é uma, não é uma coisa de, de obrigatoriedade absoluta. Vento forte, eh, onda muito alta. Mas em geral as duas coisas se, se completam, quando o vento está muito forte, acarreta levantar muitas ondas, principalmente se a profundidade é grande. Quando a profundidade local é menor, mesmo o vento forte não dá pra elevar muito as ondas, o fundo do mar tem uma certa influência de travamento do estabelecimento das ondas. Mas em alto mar, quando se pega onda e a onda, e o navio está contra o vento, contra as ondas, todo mundo sofre.
D
 É, fisicamente inclusive.
L
 Fisicamente. Mas já peguei, um, uma das lembranças ruins que eu tenho de mar, que eu lembro que eu peguei ali no sul em Santa Catarina num destroierzinho daqueles vagabundos de lá, da outra guerra. No começo desta guerra eu estava embarcado num destróier da outra guerra, era o naviozinho onde eu estava. Era um navio que tinha sido construído em novecentos e onze. Estava funcionando em quarenta e dois. Nós pegamos um tempo durante quatro dias, ficamos completamente sem saber onde estávamos, nós só podíamos andar, eh, onde deixava o mar, senão o navio quebrava ao meio. E a gente andava um pouquinho a favor, um pouquinho contra, um pouquinho a favor, um pouquinho contra. Não se podia cozi... não se pôde cozinhar durante quatro dias, nem (inint.)
D
 (inint.)
L
 (inint.) mas o destróier não tem muito conforto não e durante quatro dias nós ficamos mais ou menos molhados (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 Mais ou menos molhados, de vez em quando uma bombada em cima.
D
 E quando chove com o navio em alto mar (inint.)
L
 A chuva não, não atrapalha muito. A chuva é, chuva é das coisas que menos prejudica um navio em alto mar. O que mais, eh, que menos prejudica. Chuva você se abriga, o vento é pior um pouco porque o ven... vento com chuva principalmente faz, eh, a gente se molhar, né? Navio de guerra, por exemplo, não é transatlântico, a gente tem que andar mesmo do lado de fora, ah, as passagens não são todas abrigadas, né?
D
 E uma tempestade em alto mar?
L
 Eh, o navio joga.
D
 (sup./inint.)
L
 Joga, balança.
D
 Como é que é?
L
 Em tempestade, se há tempestade? Há (inint.)
D
 Não, mas ... Sim. Mas e tempo, o que que acontece com o tempo, quais são os fenômenos atmosféricos que acompanham a tempestade?
L
 Acho que chuva, pode haver trovoada, faíscas, vento, umidade.
D
 (inint.) esse problema, na costa da Flórida, não havia um (inint.) uma tempestade, às vezes, só de vento (inint.) também.
L
 Sei, há os ciclones, eh, lá no, lá na, naquela zona é freqüente haver ciclones, né? Eh, o ar entra em movimento violento de rotação e, às vezes, arrasta muita coisa, né? Levanta árvores, tira árvores do lugar. Na Flórida eu vi uma vez uma embarcação a uns cem metros a... adentro da praia, cem metros dentro da costa, que tinha sido levado pra lá por um ciclone, uma embarcação que não devia ser das mais leves, talvez umas tantas toneladas, cinqüenta toneladas ou trinta. Umas lancha dessas encorpadas, talvez umas trinta toneladas ou cinqüenta toneladas, a uns cem metros pelo menos, pra dentro e o ciclone tinha levado a bichinha pra lá.
D
 Quais são, ah, ah, ah, as várias intensidades da chuva (inint.)
L
 Garoa, diz o paulista, chuvisco. Depois chuva fraca, chuva forte, eh, tromba dágua.
D
 É.
L
 Granizo, quando caem umas pedrinhas.
D
 E quando acontece, quando acontece isso?
L
 Granizo? Aqui no Rio de Janeiro em al... eh, excepcionalmente cai granizo. No Rio de Janeiro cai se ... Cair chuva de gelo, é, chuva de gelo, né, de pedra. Em Teresópolis, por exemplo, é muito comum cair chuva de gelo. Zona de serra, mais elevada e temperatura ele... e quando está fazendo calor na superfície da terra, muitas vezes há granizo. E há granizo também no inverno. O granizo não é, eh, não é nenhuma coisa privativa de clima tropical, também, às vezes, em climas mais frios cai granizo.
D
 O senhor falou em verão e inverno. Mas em outros países que têm as estações marcadas, o que mais que tem (inint.)
L
 O que, o que mais que tem?
D
 Quais são as outras estações (inint.)
L
 Que existem? Primavera e outono, é isso que você quer que diga?
D
 É. Quando chove muito o que que acontece com a (inint./sup.)
L
 (sup.) Aqui no Rio de Janeiro as ruas alagam. (riso)
D
 Imediatamente, né?
L
 É.
D
 E no nordeste?
L
 Com muita rapidez as ruas ficam alagadas e causam transtornos.
D
 E no nordeste?
L
 No nordeste o sistema de distribuição de chuvas é bastante irregular. Há períodos de seca e períodos de chuvas excessivas. Uma ausência de vegetaç~ao principalmente, há enxurradas, às vezes, desastres. Não sei se você se lembra do desastre lá do açude de Orós.
D
 Me lembro.
L
 Quantos anos fez? Dez anos?
D
 Mais ou menos.
L
 Uns dez anos.
D
 Rompeu, né?
L
 Rompeu o açude e morreu um bocado de gente.
D
 (inint.) que é que aconteceu com as terras em volta?
L
 Inundado, naturalmente.
D
 (inint.)
L
 (riso/inint.)
D
 Como é que nós nos protegemos da, da chuva? Se for pra comprar um cigarro, um remédio, por exemplo, assim?
L
 Com abrigos contra a chuva, guarda-chuva ou impermeáveis, galocha. Eu já usei galocha, agora há muitos anos que não uso.
D
 Saiu da moda, né?
L
 Saiu, ninguém mais usa.
D
 (inint.) sapato, acho melhor o senhor comprar um novo.
L
 Ou então antigamente os sapatos eram talvez mais frágeis ou mais (sup./inint.)
D
 (sup.) Mais caros talvez.
L
 Ou mais caros. Então a gente ... Não eram mais caros, mas a gente, de, economizava mais.
D
 Professor, a gente mede a intensidade da chuva com que instrumento (inint.)
L
 Pluviômetro.
D
 Professor, o senhor com essa idade, né, com essa roupa assim (inint.) nas mãos e de repente começou a chover. O que que aconteceu com o senhor fisicamente?
L
 Fico molhado.
D
 E muito molhado?
L
 Encharcado.
D
 De manhã cedinho parece que choveu, mas não choveu não, o que aconteceu lá no quintal da sua casa?
L
 Serenou durante a noite, foi isso?
D
 No Brasil não acontece esse fenômeno, mas acontece (inint.) todos os países da Europa e Buenos Aires pra baixo também.
L
 No inverno quando faz, eh, se neva?
D
 É, é isso.
L
 Cai neve.
D
 Descreve, por favor, esse fenômeno.
L
 Neve caindo mesmo eu nunca vi. Ver, mesmo, eu nunca vi. Só em cinema, televisão e ver de longe. Já vi neve de longe, não de perto, em montanha. Mas não caído, não caindo. Já depositado e a neve cai como chuva, talvez com menos velocidade que a velocidade das gotas dágua. Dá pra acompanhar a queda da neve. A neve vai branqueando, branqueando o chão, fica tudo branquinho, branquinho (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 No começo é muito bonito, depois de alguns dias o pessoal todo se queixa que a neve é uma praga, (riso) é uma coisa desgraçada. Ah, primeiro dia de neve, todo mundo fica feliz, brinca com a neve, o segundo ainda brinca, depois de uma semana todo mundo xinga a neve. (riso)
D
 Quais são os estágios da neve no solo?
L

  A neve no primeiro estágio ela se deposita bastan... fica bastante fofa, os pés, eh, penetram nela e ela ainda está limpa, eh, logo que cai vai se depositando, não se misturou com lama, nem com terra. Depois ela vai se enchar... eh, vai se sujando com a lama, vai ficando uma mistura de lama, neve, e quando a temperatura desce mesmo, ela endurece, fica compacta. A neve, é engraçado, ela difere fundamentalmente do gelo pela, pela quantidade de ar que tem no seu interior. Ela fica com aquela cor mesmo, assim, como se chamaria, opalescente, é uma cor, não é opalescente não. É, é cor branca de leite, em vez do transparente, do vidro, do, do gelo, eh, pela quantidade de ar que ela tem dentro dela.