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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Ensino e igreja"

Inquérito 0115

Locutor 131
Sexo masculino, 37 anos de idade, pais não-cariocas
Profissão: arquiteto
Zona residencial: Norte

Data do registro: 12 de outubro de 1972

Duração: 41 minutos

Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 A gente pode começar. O senhor di... acabou de dizer que o senhor não suporta, não é, português, né?
L
 Bom, o problema é mais ou menos o seguinte, eu, na verdade, eu li sempre muito, bastante, sempre gostei de ler, agora nunca gostei de me preocupar com problemas de acentuaçãozinha de vocábulo porque eu sempre achei isso uma bobagem, um troço ridículo, é terrível isso! Pra nós que, que, que escrevemos muito, não, não queremos, a preocupação não é fazer, fazer uma, uma peça literária, é terrível, porque você, você lê, lê muito, lê muito mas você não presta atenção nos acentos que estão ao longo da sua leitura, eu duvido que você preste.
D
 E essas coisas eram pedidas do senhor quando o senhor estudava?
L
 Eu passei três anos de científico no instituto Lafayette com um professor de português que ele dava do primeiro dia do ano ao último dia do ano só acentuação gráfica dos vocábulos. Ele não dava outra coisa. Ele dava isso tudo, nós decorávamos aquilo e eu saí, não sei nada. Não sei nada e faço questão de não saber. Já briguei com amigos meus, quando eu, eu trabalhava, eh, eu fazia redação de leis, essas coisas assim também, como outra atividade que eu tive, e, eh, redigia muito e depois dessa redação pronta ia pra datilógrafa, ela batia e a datilógrafa também ela, ela não, não, ela não tinha, vamos dizer, ela não fazia correção, ela não era revisora, ela batia o que a gente escrevia. E eu tinha um, um, um, um outro arquiteto que trabalha comigo, hoje em dia ele é assessor até do Delfim, chato pra burro, e ele então fazia questão de pegar tudo aquilo que, que eu escrevia ia lá, o negócio estava perfeito, não tinha um erro: está faltando um acento aqui! Ah, eu não agüentava. Eu briguei com ele, nunca mais falei. Mas todo dia isso, um camarada que é um excelente amigo, era um excelente amigo meu. Hoje em dia eu trato ele assim com maior cerimônia, porque eu acho isso ridículo, a pessoa ficar se preocupando com isso. Nós temos coisa muito mais importante pra nos preocupar do que com acentozinho em cima de uma palavra. Tem acentos que talvez sejam muito importantes, mas eu acho que talvez noventa por cento deles podiam ser abolido.
D
 A gente podia recuar um pouco mais, ah, eh, algumas crianças a primeira experiência de ir pra escola, eh, chega a ser até traumatizante, né, o senhor se lembra quando o senhor foi pra escola, quando começou a ir pra escola?
L
 Ah, o primeiro dia que eu fui pra escola eu me lembro que eu chorei muito, era jardim da infância, mas depois não tive mais problema não, segundo, terceiro dia (sup.)
D
 (sup.) Hum. E como era? O senhor podia contar essa época de sua vida?
L
 Não, isso foi ... Não, tinha ... Foi no instituto de Educação ainda jardim da infância de lá, eu não me lembro quase de nada, me lembro de lá só que a gente tinha que dormir de vez em quando, tinha que fazer trabalhinhos manuais, eu não me lembro de, de nada mais assim importante dentro disso (sup.)
D
 (sup.) E depois quando foi aumentando?
L
 Fiz o meu jardim da ... o meu primário, eh, no instituto Menino Jesus e o que eu guardo assim de, de, de lembrança é de comprar, eh, bala no intervalo das, das aulas e um tombo do balanço que me arrebentou o beiço, eu fiquei com o beiço do tamanho de um bonde, até que foi bacana porque teve uma festa de fim de ano, estava perto, estava perto, tinha festa sempre de fim de ano do colégio, eu fui fantasiado de índio do tamanho, o beiço do tamanho de um bonde, quer dizer, estava bem característico, mas ... E também que quando eu tinha oi... eh, oito anos eu estava também no quarto, no, no terceiro ano, acho, primário, aí eu fui atropelado, fiquei seis meses em hospital, aí fiquei, depois que eu fi... voltei, eh, eh, voltei assim de muleta pra escola, foi uma farra danada, tal, ainda fiquei mais um mês com muleta, mas ... Só isso que eu me lembro assim de pri... de primário, quase não, a gente não grava muito não, eu só, eu tenho uma péssima memória, uma memó... uma memória, eu tenho uma memória visual muito grande mas não pra fatos, fatos eu não, eu com, eu não, não guardo muito e é bom mesmo, porque quem guarda muito os fatos acaba uma pessoa muito rancorosa e eu não tenho rancor de quase ninguém não. Às vezes eu, eu, eu fico sentido com coisas, mas eu não, não guardo rancor da pessoa, às vezes eu evito a pessoa, está entendendo, eu não sei realmente se você está entendendo.
D
 É claro.
L
 É meio difícil de falar isso mas tem gente que é, gente que guarda às vezes uma, uma falha de uma pessoa, alguma coisa que a pessoa fez contra ela e aquilo fica marcando o resto da vida, um ódio e tal, e eu não, é bom não ter, não ter muita memória pra isso porque esqueço. Agora tem coisas que eu procuro então às vezes evitar. O caso por exemplo daquele meu, meu amigo, aquele (inint.) do acento, ele me chateava tanto que eu evito, evitei logo, não me chateou mais, eu sei que ia me aborrecer, compreendeu, tem um monte de coisas assim. Isso eu acho muito bom em mim que eu nunca tenho problemas assim, até tem gente que fica muito admirado que às vezes eu brigo com uma pessoa e tal, no dia seguinte estou falando com ela e tal, como se nada tivesse ... É, assim é melhor, né (inint.) memória (sup./inint.)
D
 (sup.) Me conta do primário, como é que foi, eh, sua vida escolar.
L
 Bom, aí eu fui para o internato São José, eu era semi-interno.
D
 Sim. O senhor falou em internato e semi-interno, qual é a diferença (sup.)
L
 (sup.) Não, lá tinha semi-internato e eu era da turma dos menores. Lá era muito bom porque tinha futebol.
D
 E como funcionava esse semi-internato?
L
 Bom, nós entrávamos de manhã, eu acho que sete horas da manhã, e saíamos de tarde eu acho que seis horas, eh, passava o dia praticamente lá, só ia dormir em casa, né, e era muito bom lá, passei um ano também, aí eles acabaram o semi-internato nesse ano e aí eu fui para o externato do São José, também de irmãos maristas e passei lá até o quarto ano ginasial. Aí lá, lá, sim, é que, é que eu tive, é que eu tenho mais lembranças e tudo, isso não tem dúvida. Bom, dentre essas lembranças, por exemplo, você pode dizer, no segundo ano ginasial eu passei, eh, metade do ano não assistindo aula de francês (riso) porque eu entrava dentro da sala, eu tinha errado um tempo do verbo, então o irmão, como todo irmão, é chato, quer dizer, irmão padre e tal não sei o quê, não são padres, mas são irmãos, mas eles são muito rancorosos, são assim, guardam, alguns, não são todos, mas a maioria é, gostam de uma pinimbazinha, vivem pra isso, então ele, eu não guardei um tempo de verbo, não me lembro qual que eu fui arguído. Ele disse: bom, enquanto ... Aliás era a pronúncia, não era o tempo não, a pronúncia que não saía certa. Aí ele: enquanto você não acertar não assiste minha aula. Então ele entrava na sala e perguntava: ô, seu (sic) ... Eu levantava: diz o verbo. Eu não acertava nunca, saía. Mas acontece que lá tinha livros ótimos, eu ia pra, ficava lá no corredor lendo livro, li a coleção todinha, aquilo são um monte de volumes, eu acho que são vinte volumes, daquele, eh, alemão (inint.) me lembro, eh, tem, eh, as aventuras na, na (inint.) e tem uns outros aí, vocês não conhecem não, livraria O Globo, ainda tem até hoje vendidos, são muito boas mesmo, as aventuras sensacionais, inclusive tem filme já, filmados, baseados nos livros dele. Eu me lembro que eu li toda a coleção dele, formidável. Mas o que eu guardei de lá foi isso, de mais, de mais importante dentro do, do, do externato São José. Fora isso, eh ... Não, aí eu tive que sair da escola porque, eh, eh, bom, o problema foi o seguinte: aí no quarto ano eu tive que sair, né, senão levava pau. Tive que sair porque, eh, também problema de irmão, tinha um, um irmão que era muito amigo nosso, irmão Rui, muito boa-praça, hoje em dia nem mais ele é irmão, quase todos eles que eram boas-praças hoje em dia não são mais irmãos. Então ele, ele pegou me convidou e mais a uns três da minha turma também se nós queríamos ajudar ele no bar, enquanto durava o recreio e ele era o responsável pelo bar da escola. Então falei: não tem problema, vou pra lá e tal, eu ajudo, não tem problema nenhum. Então nós ficávamos ajudando a ele no bar. Tinha empregados também mas a gente ia e ajudava também porque o movimento era muito grande e tal e a gente ficava geralmente na, caixas, está entendendo, e deixava os empregados atender o pessoal e, mas isso acarretava que sempre quando terminava a aula, aliás terminava o recreio, nós chegássemos uns dez minutos atrasados na aula seguinte e a aula seguinte sempre era a aula de religião e o início da aula de religião era rezar o terço, então a gente sempre chegava no final do terço e não tinha terço. E esse padre então que era o monitor da nossa turma, o, o responsável pela turma, ficava por conta e uma vez ... Ele agüentou isso um mês, dois, no início do ano, no terceiro mês mais ou menos, ele, ele não se agüentou e disse: fulano, fulano, fulano, fulano, que éramos nós quatro, vínhamos lá do bar, quando nós estávamos entrando: vocês podem estudar o que vocês quiserem, final do ano estão no pau, por isso e tal, não sei o quê, não sei o que lá, não quero saber! Aí eu fui falar com o irmão Rui: irmão Rui, olhe, está acontecendo isso. Ele falou: ih, aquele padre, eu nem me lembro mais o nome do padre, ou do irmão, aliás: ih, aquele irmão é fogo, olha, é melhor você sair mesmo da escola porque senão vocês vão ficar mesmo no, no, no pau. Então nós saímos, todo mundo.
D
 Antes de terminar o quarto ano.
L
 Antes de terminar, nós saímos no terceiro mês do quarto ano. Aí fui pro Lafayette, fiquei e, e, e ... Consegui uma transferência no meio do ano pro Lafayette, fiquei lá.
D
 Como foi o Lafayette?
L
 O Lafayette foi muito bom.
D
 Ainda nesse, no externato São José, além dessa, dessas disciplinas, francês, o senhor já falou em francês, falou em religião, que outras vocês tinham que estudar, eram obrigatórias (inint.)
L
 Ah, era só as corriqueiras, era inglês, era português, matemática, geografia, história, mas isso é o normal de qualquer (sup.)
D
 (sup.) Como era o colégio, por exemplo, pra, pra aprovação? Eles deviam cobrar, não era?
L
 Como assim?
D
 Cobrar de vocês a, a fazer uma espécie assim de verificação de aprendizagem.
L
 Ah, tinha provas parciais, as provas parciais eram as normais, era primeira, segunda prova parcial (sup.)
D
 (sup.) Isso em todo (sup.)
L
 (sup.) Isso era o normal.
D
 Duas épocas do ano (sup.)
L
 (sup.) Duas épocas, isso mesmo (sup.)
D
 (sup.) E fora dessas provas não havia outras não? Só faziam duas provas?
L
 Ah, não, fazia provinha toda hora, fazia, eh, provinha toda hora, toda semana tinha provinha e: hoje vai ter que, hoje quem fizer a melhor nota ganha um caqui! Tinha uns negócios assim, mas isso era, era, isso existia como aliás existe sempre e fora isso tinha a prova do mês também, né? Eles tiravam uma média disso tudo e depois davam uma nota, né? Isso era mais ou menos assim.
D
 E outra coisa, nessas provas às vezes (sup.)
L
 (sup.) Bom, lá também, lá no externato São José, uma coisa que fica marcada também é que nós tínhamos que assistir a missa obrigatória também aos domingos, né? Mas eu pulava sempre dela, ia sempre com justificativa, aí eu entrei pra, pra, como é, como é o nome, heim? Eh, eu entrei para congregação mariana da, da, de Santa Teresinha pra não assistir missa lá, porque eu estava na congregação, na mesma hora, então não podia assistir missa lá, aí eu levei atestado, mas aí depois que eu levei o atestado eu não fui mais também, quer dizer, lá, mas eu ia sempre às outras missas mas em outros horário, quando eu queria, não, eh, ir à missa obrigatória à noite porque isso eu não, não, não gosto.
D
 Estudante sempre tem um, uma linguagem assim particular, né, no aspecto assim de vocabulário particular, em relação a professor, o professor que é de um jeito ou é de outro jeito, em relação a provas, por exemplo, certas coisas, algumas coisas que às vezes os estudantes fazem por exemplo quando não estudaram suficientemente a matéria e precisam ter uma boa nota.
L
 Não, ah, você diz é cola, né? Se ha... havia muita cola, é isso?
D
 Hum.
L
 Ah, às pamparras, né, a gente colava. Mas isso existia normal, todo mundo faz isso, a gente fazia essa colinha, cola de, cola de, de, de mão, na mão, isso todo mundo fazia, isso inegavelmente às pamparras (sup.)
D
 (sup.) E o relacionamento com os professores, como era, entre os alunos e os professores?
L
 No externato São José era, vamos dizer, o pior possível e, eh, nós tínhamos um bom relacionamento, relacionamento talvez com dois ou três professores, o resto não, não, não havia relacionamento, era uma distância muito alta entre nós e os professores. Mas isso, eh, isso de uma maneira geral, eh, eh, eh, foi também assim durante todo o restante mesmo no científico, mesmo em faculdade, de uma maneira geral, não estou dizendo que não houvesse exceções, mas de uma maneira geral sempre foi a pior possível.
D
 O senhor fez científico no Lafayette.
L
 Lafayette.
D
 Era muito diferente o tipo de, de (sup.)
L
 (sup.) Ah, completamente, foi uma mudança radical. No Lafayette, por exemplo, a gente pensa que o colégio de padre tem uma melhor, nós temos uma melhor formação, vamos dizer assim, também em matéria de, de, não digo formação, vamos dizer, moral nada disso, mas digo a, a formação, vamos dizer, educacional, na parte de, de, de instrução mesmo. E não é realmente. No colégio de padre ele, ele se preocupa às vezes com outras coisas que não, não, não têm a menor significado e no Lafayette, apesar de não ser um bom colégio, pelo menos não era naquela época, não sei hoje em dia como é que está, mas, eh, eh, eh, alguma coisa eu aprendi, eu, eu creio que eu aprendi melhor do que lá. Porque, não só porque o ambiente era melhor, havia mais liberdade, não havia às vezes puxar por determinadas matérias que não tinham significado nenhum, mas eu aprendi alguma coisa a mais, eu creio, no Lafayette do que lá no, no São José. No Lafayette também o relacionamento também era melhor apesar do pessoal da turma ser muito pior, né? Lá o pessoal fazia gato e sapato de muitos professores. Ah, tinha professores terríveis, tinha um lá que já morreu, até morreu há pouco tempo atrás, há um mês, eu acho, ou dois atrás, professor, professor Caetano, muito conhecido, ele morreu com noventa e dois anos eu acho, professor de, de, lá ele era nosso professor de física mas ele foi professor que era da faculdade de, de Engenharia também, um homem era uma sumidade. Além disso era nosso ami... era, ele era, foi depois, passou a ser até meu amigo também que a, a minha esposa morava vizinha à dele, já tinha um melhor rela... relacionamento. Mas o pessoal fazia gato e sapato dele e ele também, eh, eh, eh, eh, chegava na hora da nota era uma mãe, mesmo quem não soubesse ele dava nota, a mais baixa era sete. E outros professores também, tinha um outro lá de ciências, o Camundongo, eu nem me lembro mais o nome dele certo, que era, tratavam só de Camundongo, que ele era baixinho, pequenininho. O pessoal lá, tinha um intervalo de aula na, antes, e antes da aula dele era o intervalo e sempre na, o dia de aula dele tinha feira, então o pessoal ia pra feira e comia e comprava milho, arroz, tomate e todo mundo fazia guerra na sala disso, inclusive de vez em quando caía até nele, tomate esborrachava na cara assim, pá, e ele com a maior calma ia lá pro lavatório, lavava, voltava como se não tivesse acontecido nada. Esse homem era um santo. E tinha um outro professor também tornou-se muito amigo da turma, nós fizemos até brincadeiras terríveis com ele, hoje em dia ele é juiz, é o Fonseca Passos, e, eh, ele era professor de história e ele foi até o paraninfo depois da nossa turma e ele então, nós brincamos muito, brincadeiras terríveis que a gente nem pode contar (inint.) até no dia do casamento. Mas ele teve, ele fez a besteira de convidar a turma toda pro casamento dele, não só pra ir ao casamento como ir pra casa. Mas que ele era muito amigo da nossa turma, especialmente, nós fazíamos uma, uma amizade muito grande, éramos uns trinta e poucos na turma, mas ... E, e também no final do ano, no último ano então de, de, de Lafayette, eu me metia sempre naquele problema de formatura e tal, tomei conta da formatura e nós fizemos uma viagem então, e isso marcou muito, a Minas Gerais. Conseguimos com o então governador de lá, que era o Juscelino, e conseguimos fazer uma viagem lá tu... a turma toda e ficamos, ficamos, se não me engano, acho que quase vinte dias lá em Belo Horizonte, fazendo viagens a Sabará, Ou... Ouro Preto e tal, ali por perto, com ônibus à disposição, tudo e matando aula, né, que era bom e, eh, justamente dali no ano seguinte é que o Juscelino passou a, a fazer a campanha dele pra presidente. Mas realmente é um homem muito simpático e, e até hoje ... Depois eu tive oportunidade de trabalhar perto, outra ocasião no (inint.) construção do edifício dele, mas isso já quando formado, não diretamente contratado por ele mas pela firma que trabalhava com a, com o edifício dele. E aquele amigo, um troço interessante agora, aquele amigo que eu disse que brigava por acento, J.S., o padrinho de casamento dele era, era o Juscelino e aliás o Juscelino vai muito na casa dele também. Agora mesmo quando eu estive lá ele, Juscelino, também estava lá, mas ... Que mais? Já falei ...
D
 Eh, em relação ao próprio ensino por exemplo a, a maneira dos professores darem aula à turma? Porque o senhor tem duas filhas com dez e doze anos, elas ainda estão na escola, o senhor sente muita diferença no, na maneira de dar aula delas (sup./inint.)
L
 (sup.) Ah, sim, a aula hoje. Não, não, não ... Total, total. Eu fico impressionado o seguinte: as, as minhas filhas, eu não, não, não estou dizendo isso porque sejam as minhas filhas não, mas isso a gente nota, elas, nem vão ouvir isso nem nada, não há problema nenhum, eu tenho que falar a verdade. Só que eu estou falando coisa até demais que muita gente não sabe, esse troço aí, estou falando de colar e tudo isso. Mas o problema é o seguinte, eh, eh, a gente nota muito maior interesse hoje em dia do próprio estudante em relação ao ensino, isso é que é importante. Eh, hoje já há talvez uma maior conscientização do estudante para o, o, vamos dizer assim, para a, a, a, para o estudo. Ele sente que tem que estudar pra ser alguém na vida. E isso eu vejo com as minhas filhas, elas querem estudar, elas, elas, ninguém precisa mandar, nunca, nunca eu mandei uma filha estudar, desde o primeiro ano primário, elas sempre chegavam, sentam, de manhã cedo, sentavam faziam (inint.) escrita, nunca houve uma intromissão nossa com relação aos estudos delas. Nem precisamos, porque elas sabem como estudar e, e realmente o que a gente nota é que elas estão estudando, estão aprendendo e também notamos um muito maior interesse dos professores, eh, alguns, eh, atualmente, em, em relação a, a, a elas, muito maior interesse. E, e também outra coisa também que influi muito, ah, ho... eh, o problema de livro, livro didático. Os livros didáticos hoje em dia são atraentes, dá gosto a gente ler, eu tenho pego livro didático de, de, de ciências, por exemplo, são, eh, uma maravilha (inint.) perfeito, aquele problema de resposta múltipla, múltipla escolha, né, tem muitos assim, são fabulosos. Eu mesmo leio e, e vejo o que que eu deixei muita coisa de aprender também porque não havia motivação, quer dizer, você pegava uns calhamaços danado que não tinham absolutamente nada ali dentro, você via que era uma decoreba do tamanho de um bonde e (inint.) hoje em dia já está mais resumido, o negócio está bem melhorado, quer dizer, melhorado por um lado, por outro lado tem muita coisa que eu nem sei mais como é que se faz, matemática por exemplo tem uma porção de sinais e de coisas que eu fico assim espantado, apesar de, de conhecer matemática, mas eu fico assim, quando ela me, eh, eu pego um livro delas: mas o que que é isso? Eu tenho que ver o que que é porque não é mais igual ao do meu tempo, completamente diferente, completamente (sup.)
D
 (sup.) O senhor falou em motivação, o senhor acha então que na, no seu tempo de científico, ginásio, as aulas não ...
L
 Não, não era só as aulas, as aulas, eh, não tinham motivação porque não havia também, como dizer, bons livros didáticos, não havia interesse e o próprio estudante também no meu tempo não queria nada, de uma maneira geral. Não, isso é verdade, ouviu? Hoje em dia, eh, eh, eu sinto isso, não só nas minhas filhas não, nas colegas delas, em outras relações, que o, a garotada, ela quer estudar, você sente já desde agora, minhas filhas já querem ser isso, elas já, poxa, com dez, doze anos elas dizem: eu quero ser médica. E acabou, não adianta você ficar dizendo: mas não é melhor (inint.) não, eu quero ser isso. E combina com a outra: olha, eu vou ser médica pediatra, você vai ser cirurgiã, a gente monta um consultório e (inint.) manda a clientela pra outra, elas, quer dizer, já estão pensando em ganhar dinheiro, coisa que eu nunca pensei, pelo menos é uma maneira de dizer, porque eu trabalho desde catorze anos, mas nun... nunca pensei em ganhar dinheiro efetivamente, vamos dizer assim, senão depois, talvez com dezoito anos, mas elas não, elas já pensam desde já, desde, em, em que que elas vão ser, é uma preocupação grande e, e, e além do mais sendo mulheres. Isso eu noto muito a diferença vou te explicar por quê. O, eh, porque no meu tempo era raro, no meu tempo que eu digo não de faculdade, que na faculdade já houve uma melhora, mas no meu tempo de, vamos dizer, de, de ginásio e de científico não havia tanta, tantas mulheres cursando curso superior, já uma mulher que quisesse ser médica, por exemplo, havia às vezes muita restrição de família e tal (inint.) ou em outras profissões. Hoje em dia não, na minha própria faculdade de Arquitetura tem mais mulheres do que homens e elas arranjam a maioria bons casamentos também lá dentro. Mas eh, eh, lá tem mais mulher do que homem, arquitetura, e muitas outras faculdades está acontecendo o mesmo problema. Então a mulher conseguiu realmente nesse campo se valorizar bastante, né? Acho que uma certa libertação, como você fala, mas no bom sentido, né?
D
 O senhor sentiu muita diferença quando passou do científico pra faculdade?
L
 Bom, a, a gente não, não é bem sentir diferença não, a gente sente decepção, que é diferente. Porque eu realmente aprendi muita coisa não foi nem na, no, no, no ginásio nem no científico, foi no vestibular. Esse, sim, que eu levei muito a sério e, e eu fiz vestibular no COS, o curso COS naquela época ele era realmente um COS bom, que era com Carlos Otávio da Silva que era o diretor e lá realmente eu aprendi tudo e aprendi e fazia questão também de estudar muito e pra estudar eu não estudava em casa porque dormia. Então eu, geralmente eu tinha aula de manhã, eu, de tarde, depois do almoço, eu pegava o bonde do Alto da Boa Vista, saltava lá na curva do violão, dei... eh, deitava no gramado e começava a estudar e não podia dormir porque lá tinha mosquito e, e, e formiga pra burro, então eu tinha que ficar estudando mesmo, e ficava lá até seis horas, descia. Era, eh, eh, realmente eu consegui estudar bastante e ... Mas chegam... a gente chega muito entusiasmado na faculdade e nós vemos que lá há uma total deficiência de professores, quem você pensa que é bamba você vai ver não é nada disso e hoje em dia a gente confirma que realmente não é e, eh, deficiência de, de, de tudo. É uma decepção total, agora você encontra talvez em, vamos dizer, de oito ou, ou dez matérias que a gente tenha, talvez dois ou três professores realmente interessados, não só professor interessado, mas a escola fornecendo condições para que as aulas sejam dadas, né? Porque muitas vezes não é só o professor que tem interesse porque só ele sozinho não, não, não adianta, às vezes a matéria dele exige instalações e condições que na escola não oferece, então não adianta nada. Mas a gente sente muita decepção na faculdade e uma coisa que é importantíssima, porque a faculdade ela tem que deixar de ser teórica, eu não sei como é que está hoje em dia, porque eu só voltei à faculdade depois que eu fui, acabei urbanismo, fui pra dar, fazer uma conferência, eu não sei como ela está hoje em dia, mas a faculdade, ela tem que ser mais prática, eu acho, ela tem que deixar aquela parte muito teórica que não adianta nada, não adianta nada, eu acho que quem quer saber muita teoria é o camarada que talvez queira se especializar, eh, eh, vamos dizer, no, no, ser um pesquisador talvez ou queira ser um, um teórico ou queira ser um, vamos dizer, um, um, agora está na moda dizer, esqueci o nome. Mas quem queira partir pra vida prática, pra trabalhar, vamos dizer, no meu campo assim ou na construção ou projetando, ele não, ele tem que ter, eh, eh, eh, prática, desde o primeiro ano da faculdade, ele não pode ficar, eh, alheio a tudo, ficar lá assistindo aquelas aulinhas: a fórmula tal se deduz assim e pra chegar à fórmula tal chega assim. Pra que que interessa isso? A fórmula é aquela, essa ele tem que usar mas agora tem que usar é assim. Aí parte daqui pra cá e no canto é assim, e aqui, isso é que interessa, como chegou àquilo é um outro problema, isso aí não me interessa, entendeu? A gente tem que separar, eu acho, que essa parte prática, que isso é que, que, que realmente interessa. Teoria, teoria, tá, talvez alguma seja necessária, mas não aqui... eh, só a teoria que a gente vê do primeiro ao último ano de faculdade. A gente sai sem, sem saber no final nada, a gente vê que o que aprendeu lá a gente poderia ter ficado em casa e, e, e com um pouco de leitura a gente aprenderia muito mais ou então trabalhando na prática, essa é que é a verdade.
D
 (inint.) o problema da prática na faculdade (inint.) o problema dessa prática hoje aplicada ao ensino médio por exemplo (inint.)
L
 Olha, eu não sei o que é que você fala aplicado ao ensino médio, que prática é essa que você (inint.)
D
 A prática (sup.)
L
 (sup.) Você diz agora com, com a datilografia, é isso?
D
 É, porque o ensino médio agora está (sup./inint.)
L
 (sup.) Eu sei. Não, o ensino médio ele quer dar datilografia, quer dar, vamos dizer, parte de trabalhos manuais pras mulheres, corte e costura e isso e tal, não é, mas isso, eh, vai capacitar, eh, vamos dizer, dentro do nível médio também de, de, de profissionalização, não dentro do nível superior. Eu, eu digo dentro da, da, da, da escola superior, essa é que, eh, realmente é importante que a gente sai de lá sem saber também nada e essa tem que se dedicar a, o problema. Não adianta formar dez mil engenheiros por ano se esses dez mil engenheiros vão sair sem saber nada. E não há condição também aqui fora de dar, vamos dizer, a, a, a, a, de ab... de absorção depois de... de... de... desses dez mil engenheiros porque eles não sabem bulufas, entendeu? Eles estão completamente alheios ao que se passa.
D
 É, parece que o, a preocupação com, com esse tipo de (sup.)
L
 (sup./fala à parte para circunstante) Não, é aí mesmo o telefone, aqui (sup.)
D
 (sup.) Com esse tipo de modificação do ensino médio é porque a maioria dos alunos não ia além do ensino médio.
L
 Ah, sei (sup.)
D
 (sup.) Então no ensino médio eles desistiam (sup.)
L
 (sup.) É, isso eu acho muito importante (sup.)
D
 (sup.) Então, como era um tipo de ensino muito livresco, se a gente pode chamar assim (sup.)
L
 (sup.) É (sup.)
D
 (sup.) Então eles ficavam completamente de... desamparados em termos de trabalho e tal (sup.)
L
 (sup.) Não, isso é um dos problemas, eu concordo com você e isso, ah, isso é realmente. Mas a, a faculdade, eh, também precisa fazer, sofrer essa modificação.
D
 E na própria faculdade, o sistema assim de aprovação, verificação de aprendizagem era mui... o senhor achou muito diferente do, do, do seu científico por exemplo?
L
 Não, porque também tinha duas provas, só havia uma grande modificação era dependência, né, essa sim.
D
 Dependência o que era?
L
 Dependência. Você passar pra o outro ano ficando dependente de uma outra cadeira, essa sim é que era a, a grande, vamos dizer assim, eh, eh, inovação que eu, que nós, que nós, nós tivemos assim, o resto não, não havia di... diferença alguma, porque era o mesmo problema de ter duas provas ou ter provas mensais, não, não havia nada assim de, de, de alteração. A segunda época também existia. O que, eh, sim, havia de inovação era segunda chamada, um troço gozado também (inint.) no primeiro ano de faculdade, eh, muitas vezes você não interessa comparecer à primeira chamada de prova, não sei se hoje em dia já, é feito assim, eh, a primeira chamada da prova, então você não vai à primeira chamada, leva um atestado médico e eles fazem uma segunda chamada. Mesmo porque às vezes tem uma prova hoje, outra prova amanhã, outra prova depois de amanhã, então você: puxa, não dá pé! Então eu vou na primeira, amanhã eu mato essa, vou na outra, está entendendo, levo uma justificativa praquela coisa. E a turma inteira combina às vezes ninguém ia, às vezes tinha um espírito de porco que ia sozinho, mas a grande, ninguém ia. Então, eh, mas isso era feito com tal sistemática, está entendendo, e quem dava o, o, o atestado médico era um colega nosso, que é muito conhecido hoje, é o, o Gil Brandão, ele é dono desse jornal, o Gil, então ele ficava na prancheta, ele entrava, na sala que ele estava ele ficava na prancheta e na porta tinha: atestado médico, só dou de tantas às tantas horas, (riso) façam fila. E a gente já tinha que levar tudo preenchido e ele assinava, ele nem via o que estava assinando, o que ele assinava, era médico. Então o negócio era aquela bagunça e o diretor da faculdade, um camarada muito inteligente, que foi o, o, era o Carvalho Neto, foi depois deputado, ele, realmente ele viu que aquilo era uma coisa ridícula, então resolveu acabar. Então bastava o aluno solicitar que ele já deferia, já não precisava mais o médico, eh, eh, eh, abonar o negócio. Isso é, é uma das coisas que aconteceram, a gente grava, né?
D
 Agora outra coisa que interessa pra gente, o senhor se lembra do prédio onde funcionava o colégio Lafayette, eh, as instalações os nomes que tinham?
L
 Não, eu vou, eu posso falar melhor é do, do tempo de faculdade.
D
 Ou então isso.
L
 É, o tempo de faculdade nós funcionávamos no antigo hospício, que era ali na, ali naquele prédio, na reitoria, aonde é hoje a parte parece que de ciências econômicas, um troço assim, agora não sei bem não, não, não voltei lá depois mais que, que eu saí. Mas l'a era muito gozado, aquele prédio, porque, eh, ele, ali foi construído o antigo hospício sobre um antigo cemitério ali. Então, eh, e nós que tínhamos trabalhos principalmente na, eh, eh, tínhamos trabalhos que nós tínhamos às vezes que virar a noite, trabalho de arquitetura analítica, trabalhos de, eh [(fala de circunstante/ interrupção) (aqui eu estou é construindo)] Nós tínhamos trabalhos então que tínhamos que virar a noite principalmente de arquitetura analítica e depois, eh, trabalhos de prancheta afinal, né, e, eh, e virávamos mesmo a noite porque é o tal negócio, a gente tinha às vezes, eh, vinte dias pra fazer o trabalho, trabalho muitos, mas eram realmente trabalhos muito demorados, mas não, não, não quer dizer que esses vinte dias estivesem só sendo dedicados à arquitetura analítica porque no meio disso nós tínhamos outras provas, outras aulas, está entendendo, e, eh, e a maioria dos alunos, dos estudantes como eu era também, todo mundo, eh, se tinha vinte dias, nos dez primeiros dias ele não fazia nada e nos dez últimos dias é que virava, né? Então nós vínhamos nos últimos dias, nós dormíamos mesmo lá, nos quatro últimos dias, eh, todo mundo dormia lá, em cima de prancheta, no final e tal pra acabar todo o trabalho, né? E aí então nós fazíamos uma porção de brincadeiras por causa que o prédio era realmente mal-assombrado e hoje em dia eu não sei se o prédio era assombrado mesmo ou se era a nossa brincadeira que muita coisa a gente não sabia se era verdade ou era mentira, que o prédio era realmente terrível. Tanto que depois nós, a minha turma, eh, eu passei pra, nossa turma mais ou menos tomou conta da associação atlética e nós passamos a promover e, e iniciamos aqui no Rio até uma coisa, duas coisas que depois, eh, ficaram conhecidíssimas, uma era fazer a noite, a noite mal-assombrada, eh, que hoje em dia até o Magnatas fazem, aquele clube, mas nós é que iniciamos e fizemos quatro bailes assim, quatro bailes que realmente eram sensacionais, não é isso que é feito hoje em dia, e esses bailes nós tínhamos sempre, tivemos sempre a colaboração, aí sim é que foi muito bom, do, do diretor na época da faculdade e esses bailes eram promovidos no salão principal nosso, que era chamado maracanã, e mais ou menos uns dez dias antes, dias antes da festa ele, eh, interrompia as aulas no maracanã, que era um, um, um salão enorme, talvez tivesse aí uns seicentos metros quadrados, interrompia as aulas nesse salão mais pra fazermos a decoração. Não quer dizer que só fosse decorado esse salão, mas era todo o, o, o, o edifício decorado, desde a facha... desde a fachada lá embaixo, o 'hall' e o, o, o teatro de arena que nós, o ... Esse prédio talvez tenha, pouca gente conhece aqui no Rio, tem um, tem um teatro de arena e que não funciona praticamente, o teatro de arena até quem construiu foi o Carvalho Neto, que era o diretor na época e que depois passou a ser meu amigo e é até hoje, até hoje em dia, eu trabalhei depois com ele durante dez anos como deputado. Mas, eh, ne... bom, nesse teatro de arena então nós fazíamos evoluções de escola de samba, nós levávamos, ia a escola de samba pra lá, levávamos desfile de fantasia quando nem existia desfile de fantasia premiada de carnaval fazia, fazíamos, eh, eh, eh, a decoração toda, já falei, lá tinha e era fácil fazer porque cada arquiteto era metido a artista, cada um ajudava, ficavam realmente sensacionais as nossas, eh, decorações e dávamos prêmios também às melhores fantasias e tinha casos assim de camarada de motocicleta, raaaaa (imita ruído do motor), vestido com, eh, como um camarada degolado, e com, eh, eh, com, aqui um machado, assim em cima no lugar da cabeça, escorrendo sangue pela roupa toda e com a cabeça debaixo do braço, dirigindo a motocicleta. Aí parava, o (inint.) isso aconteceu várias vezes, não só essa situação mas como outras. Eh, bom, nós fizemos também não só a noite mal assombrada, que ficava um camarada por exemplo ... Nós tínhamos, eh, eh, uns corredores que era tudo em base da penumbra, né? E surgia garota assim, n'e, que, que enchia mesmo, os convites eram disputadíssimos e nós fazíamos um dinheirão. Tanto que, eh, praticamente ninguém tinha despesa de, de, de formatura por causa da arrecadação desses bailes, que éramos nós mesmos que tomávamos conta de bar e, eh, não, não, não havia despesa, praticamente, só de, de, de orquestra, isso nós contratávamos, eh, eram geralmente duas orquestras e também transporte de escola de samba, tudo isso. Mas isso é que marcou mais a minha passagem assim pela faculdade foram essas promoções sociais que a gente fazia que eram realmente sensacionais. Teve essa, teve uma outra que foi "Una noche", ai, nós iniciamos um ciclo também de "Uma noite". Uma noite no Japão, que foi a embaixada japonesa que fez, aí começou a aparecer depois disso "Uma noite" em tudo quanto é lugar, uma noite no Havaí, uma noite não sei o que por aí.
D
 Vocês fa... fizeram alguma vez peças de teatro nesse teatro de arena?
L
 Bom, que ocor... Não, a, a minha turma não, mas o, o, o, o, nós fizemos uma coisa muito importante, eu ia me esquecendo de falar, que foi o lançamento da bossa-nova (sup.)
D
 (sup.) Eu me lembro (sup.)
L
 (sup.) Foi feito pela nossa turma e foi o lançamento da bossa nova e quando foi a, a Elza Soares até se apresentou pela primeira vez, foi até gravado pela Odeon na época.
D
 Foi a estréia do João Gilberto, inclusive a Astrid Gilberto cantou pela primeira vez, que ela não era profissional ainda (sup.)
L
 (sup.) A Nara Leão também, a Nara Leão também e o teatro de arena estava cheio naquele dia e nós tínhamos um baile uma semana depois e até que foi muito bom porque foi uma boa promoção também de um baile lá. Mas não é só isso que falei, ia falar de um outro treco e acabei esquecendo, o lançamento da bossa nova, o baile, noite, agora esqueci.
D
 Recentemente foi feito um filme de curta metragem sobre o teatro de arena (sup.)
L
 (sup./inint.) ah, não, não, uma vez, houve peça sim, feita lá, uma só, mas essa peça durou eu acho que uma semana só e depois não houve outra experiência eu acho que teatral lá, eu acho que o teatro está abandonado hoje em dia, quer dizer, não há paralisia porque é um teatro de arena não tem conservação quase a fazer mas não é utilizado e é uma pena, né?
D
 Talvez porque os alunos de, de economia não se interessam tanto.
L
 Talvez, eu acho (sup./inint.)
D
 (sup.) Esse filme, esse, é um filme sobre o Qorpo Santo, sabe, "Eu sou vida não sou morte", o curta metragem foi feito, foi filmado lá no teatro, sabe? Ficou muito bonito porque é muito despojado, né (sup./inint.)
L
 (sup.) É, é exato.
D
 Está bom. Mais alguma coisa que o senhor ia dizer?
L
 Heim?
D
 Mais alguma coisa que o senhor queria dizer?
L
 Mais alguma coisa?
D
 É.
L

  Se me lembrasse assim? Não, não, está bom, a você eu agradeço (interrupção).