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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Profissões e Ofícios"

Inquérito 0109

Locutor 124
Sexo masculino, 26 anos de idade, pais cariocas
Profissão: advogado
Zona residencial: Suburbana

Data do registro: 28 de setembro de 1972

Duração: 40 minutos

Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 Qual a sua profissão?
L
 Advogado.
D
 Antes dessa escolha você pensou em outras profissões?
L
 Não.
D
 Há campo de trabalho pra você?
L
 Há. Sempre há, pra qualquer profissão.
D
 Você se especializou em alguma coisa dentro ...
L
 Não, não cheguei. Não tive oportunidade de especializar. Na nossa profissão a possibilidade de especialização está ligada diretamente à capacidade financeira do profissional. Sem isso ele não tem oportunidade de se especializar, salvo as raríssimas exceções que existem em qualquer profissão.
D
 Por que ligadas a, às possibilidades financeiras?
L
 Porque é uma profissão que exige um investimento muito alto do profissional. Então ele tem, ele obrigatoriamente terá que investir em si próprio no sentido de formar uma especialização, fazer uma série de cursos, eh, se submeter a realizar trabalhos apenas naquela área em que ele quer se especializar e deixar as outras pra outros especialistas na área.
D
 Então, a gente (inint.) a gente vê nos exames vestibulares procura mais pra umas e pra outras. Quais as profissões que você acha que estão mais em moda? E por que disso, da maior procura?
L
 Bom, mais em moda aí, que vocês querem dizer, acredito, seja aquela que, onde haja uma procura de profissional maior que oferta de profissional.
D
 Justamente.
L
 Bom, inicialmente há uma necessidade premente de técnicos, seja de nível médio, seja de nível superior. Técnicos, não importa aí a área em que vai trabalhar, decorrente evidentemente do desenvolvimento na área tecnicológica, há necessidade de se produzir determinados bens e não existe número suficiente de profissional, então procura-se formar, através dos meios de comunicação, eh, interesse do povo, pessoal que está justamente nessa idade, no sentido de procurar. Daí de se dizer: está em moda, porque está precisando, simplesmente por isso. A oferta é maior que a procura. Então, evidentemente, a procura se dirige toda pra aquele campo, toda. Isso eu acredito que seja o grande fator de existir profissão em moda. Simplesmente necessidade de mercado.
D
 Agora, e quanto à procura maior que a oferta?
L
 A procura maior que a oferta?
D
 Em que ramo se dá?
L
 Ela se dá, ela sempre se dá, sempre se dá, no caso da nossa profissão, da minha profissão. Há mais procura do que oferta. As faculdades de Direito estão aí cheias, formando milhares de profissionais por ano. Agora, mercado de trabalho, principalmente Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre são, e Brasília, nem tanto, mas já num grau bastante elevado, são os principais centros do país, então a, na nossa profissão, por exemplo, há uma procura maior que a oferta. Por quê? Não sei? Por que tanta gente escolhe Direito? Não sei por quê. Talvez ilusão. É possível.
D
 Em que outras isso também ocorre? Em que outras profissões além de Direito?
L
 Olha, eu não me detive nunca em procurar saber dentro das outras profissões. Depois que eu encaminhei minha vida pra isso, eu procurei apenas aquilo que cercasse o mercado de trabalho apenas relativo à minha profissão. Outras profissões eu não saberia explicar por quê. Ou se há realmente uma procura maior que a oferta. Não sei.
D
 Mas existe uma série de outras profissões, né?
L
 Provavelmente existirá. Provavelmente existirá. Economia, dizem, eu não sei exatamente até que ponto existe uma procura maior que a oferta. Talvez decorrente disso. Uns seis ou sete anos atrás, Economia era o que vocês chamaram agora de profissão da moda, inclusive ex-colegas meus de tempo de ginásio estiveram, foram alguns pro Uruguai, pra Argentina, pra, pro Paraguai, economistas formados aqui. Houve uma procura da, os países vizinhos, procura de economistas formados no Brasil. Então isso se alastrou. É uma procura muito grande. As faculdades de Economia também se encheram, como estão se enchendo as de Administração de Empresa. Provavelmente vão cair no mesmo círculo vicioso que caiu a, a profissão de advogado. Tem a mesma des... o mesmo índice de desvalorização profissional, justamente por formar muitos de pouca qualidade. E continua formando, e continua formando, enchendo escola, e enchendo escola, e soltando profissional na rua. Isso até saturar o mercado.
D
 Que profissionais você acha que caíram em decadência a partir da década de sessenta? Profissões (inint.)
L
 Bom, é muito difícil a gente dizer, porque o que cai de, o que cai em decadência não é a profissão, é o profissional.
D
 Certo, mas que profissionais que caíram?
L
 Bom, aí é o profissional em si, penso eu, o profissional individualmente. Ele, individualmente. Não a profissão ou, ou o ramo profissional que, que ele exerce, a atividade profissional que ele exerce. Eu acredito que essa não caia em decadência.
D
 Mas em virtude de uma, de uma certa evolução, entende, algumas profissões deixaram de existir. Alguns profissionais tiveram que procurar fazer outra coisa (sup.)
L
 (sup.) Eu não di... eu não digo que haja uma decadência da profissão ou do profissional, da atividade profissional. Eu acredito é que haja uma necessidade de aprimoramento dos conhecimentos dele. Tem que levar o conhecimento dele a mais além, e mais além daquilo que ele sabia. Agora propriamente a decadência da atividade eu não acredito que tenha havido.
D
 Mas que profissionais têm que se aprimorar?
L
 Todos, todo profissional liberal tem que ...
D
 Mas essas profissões liberais, quais são? (sup.)
L
 (sup.) Quais são? Todas elas.
D
 Então diz pra gente (sup.)
L
 (sup.) Quer que enumere todas? Economista, ele tem que viver atualizado. Diariamente surgem novas técnicas de economia. O advogado, as nossas leis mudam diariamen... mudam diariamente. Se o advogado não estiver atualizado ele, ele se acaba como profissional. Um engenheiro, um médico, um, um, um, um dentista, e as milhares de profissões que existem. Um administrador de empresa, embora seja uma função nova, criada há pouco tempo no nosso mercado de trabalho, ela já exige uma, uma, uma atualização constante, novas técnicas vão surgindo. O que nós temos hoje em dia é uma compilação de dados adquiridos há trinta, quarenta anos, baseado, mais ou menos baseado no sistema americano, no molde americano, que se pretende empregar aqui em administração de empresa. Então, se o administrador não acompanhar o progresso da administração de empresa, criação de novas técnicas em substituição àquelas que já existiam, ele se acaba, ele, ele, ele, por si, entra em decadência, não a atividade profissional dele. Eu não acredito que haja decadência em atividade profi... em atividade profissional.
D
 Você estava enumerando. Quando você começou você falou de economista, falou em administrador de empresas e outros profissionais liberais. A gente está interessada realmente que você diga os nomes das profissões (sup.)
L
 (sup.) O nome de todas?
D
 Quero que você fale de todas (sup.)
L
 (sup.) De todas elas (sup.)
D
 (sup.) Que você fale um bocadinho de cada uma.
L
 Tá, então eu vou, vou continuar a enumerar. A própria professora.
D
 Como é que você acha esse problema dos professo... com as professoras, atualmente?
L
 Acho que ela tem que, co... como qualquer um outro, ela tem que acompanhar o que surge de novo. Não adianta hoje em dia se, se, eh, deter, ou aplicar métodos de ensino que eram aplicados no nosso tempo de primário. Será que vai funcionar? Será que o ensino hoje não é diferente daquele que era na época que nossas professoras se formaram? Acredito que sim. Não estou por dentro do assunto, mas acredito que sim. Há necessidade de evolução, é natural do homem, não pode estagnar. Ele pára, ele próprio desaparece.
D
 Como é que você vê, por exemplo, o problema dos seus professores na faculdade? O que que você achava deles?
L
 Parados no tempo e no espaço. Completamente ultrapassados. Ainda na, na fase do monólogo, em que mestre é aquele que senta numa cadeira, abre um livro em cima da mesa, lê o que está escrito ali, diz: senhores, a matéria está dada, boa noite e até amanhã. Nós, pra compensar isso, nós tivemos dois exemplos de atualização. Nossa turma era grande, quase cem alunos. Quer dizer, vocês imaginam cem alunos dentro de uma sala de aula o que que seja. Curso noturno ainda por cima, o pessoal já chega cansado. E esses dois professores, eles motivavam a turma, eles levavam a turma a assistir a aula, a entender a matéria. Por quê? Simplesmente porque eles se desviaram totalmente daquilo que era feito até então. E um deles, inclusive, moço ainda, ele não parava em "saula", quer dizer, em sala de aula, e era dinâmico. Andava, conversava, sentava, mudava de assunto, fazia um discurso sociológico, daqui a pouco voltava à materia novamente e foi levando assim e o nível da turma foi de oitenta por cento de aproveitamento. Um nível elevadíssimo, principalmente levando em consideração que era a turma mais fraca da faculdade. Teve um índice de oitenta por cento, índice raro, numa turma tão grande assim (pigarro/inint.) outras profissões (sup.)
D
 (sup.) Continuando com a enumeração ...
L
 Deixa eu ver se eu me lembro de mais alguma.
D
 Não, profissões assim que, que a gente lida constantemente, né? Por exemplo, se surge algum problema dentro de casa, ou se há uma doença, seja ela qual for, a gente recorre a outros profissionais, não?
L
 Eu não, eu não entendi bem a ...
D
 Por exemplo, você tem outras profissões, e inúmeras delas. Eu estou ten... querendo lembrar, mas sem dar o nome pra você, não é?
L
 Perfeito.
D
 Então assim, se há alguém doente dentro de casa você vai recorrer a uma série de profissionais, e esses profissionais diversificados, né, vão depender do tipo da doença (sup.)
L
 (sup.) Claro. Claro (sup.)
D
 (sup.) E se você tem um problema qualquer dentro de casa, se pifa seu gravador, seu, eh, sua televisão, então você recorre também a outros profissionais.
L
 Perfeito, então vou continuar. Vou falar do médico, está bom? (risos) A mesma coisa. As, o homem, a cada dia que passa, conhece mais a si mesmo, fisicamente e psiquicamente e, se o profissional não acompanhar, ele por si morre, não morre a atividade. Morre ele, desaparece ele, não desaparece a atividade. A mesma coisa o técnico. O gravador está funcionando direitinho, não é? Se não me engano é nacional até, não é? Está aí, há dez anos atrás a gente não fazia isso, comprava da Itália, eram os Geloso. Hoje em dia os técnicos brasileiros montam um gravador. Se quiserem fazer tão bem, eles fazem tão bem quanto o estrangeiro. Simplesmente porque evoluíram, continuaram a estudar, passaram a estudar, a trabalhar, a seguir todas as inovações que existem no ramo. Agora, este daqui ainda tem microfone? Tem um que não tem microfone, é embutido. Eh, tudo isso produto do estudo.
D
 Você estava falando do médico, né? Como é que você vê esse problema de médico no geral (inint.) as especializações?
L
 As especializações da medicina (sup.)
D
 (sup./inint.) da medicina, campo de trabalho.
L
 Campo de trabalho?
D
 Hum, hum. Dentro das especializações.
L
 Enorme. A meu ver é enorme. (sup.)
D
 (sup.) Tudo o que você sabe.
L
 Há necessidade, ninguém vive sem, sem médico. Por mais forte que seja o corpo, um dia ele dói, um dia a gente vai procurar o médico. E não adianta procurar um médico que a gente sabe que ainda está na homeopatia, né, ainda está mandando fazer remedinho, não é, na farmácia da Flora Medicinal. Hoje em dia isto está praticamente ... Não se aceita mais, pelo menos nos grandes centros, este tipo de medicina. Só na classe mais, intelectualmente mais baixa, ainda vai se encontrar necessidade, mais uma vez, de aprimoramento dos conhecimentos sobre a especialização de cada um. Surgem trabalhos novos, surgem trabalhos novos, eh, descobertas científicas, tem pesquisas (sup.)
D
 (sup.) Você acha que, eh, por exemplo, que especializações da medicina, eh, trariam mais lucro financeiro?
L
 Bom, eu só poderia dizer, responder uma pergunta dessa, por hipótese.
D
 Com a vida agitada aí da cidade ...
L
 Bom, hoje em dia existe a mania do psiquiatra, né, a mania do psiquiatra. Todo mundo tem problema há muito tempo, não é agora que a vida é agitada na cidade que o sujeito tem problema não. O homem tem problema desde que ele é homem. Desde que ele descobriu que ele pode evoluir, ele tem problema. Desde que ele descobriu que ele pode pensar, ele tem problema psíquico. Agora, é, é, é uma questão de modismo, né? Mais de vaidade do que de necessidade. E a profissão de psiquiatra, de analista, ou algo parecido, pro profissional que sabe explorar isso, é altamente lucrativo. Hoje em dia você não vai a um psiquiatra razoável por, que vá lhe cobrar menos de cem cruzeiros por sessão. Um razoável, não estou dizendo um bom não, um bom vai muito além. É uma profissão ultra-rendosa, ultra-rendosa.
D
 Certo. Além da, da, da psiquiatria, que, que outra ...
L
 Bom, eu me lembro muito pouco (sup.)
D
 (sup.) Você tem filho, não tem?
L
 Tenho.
D
 Então?
L
 Pediatria, você quer chegar à pediatria. Claro.
D
 Uma criança não pode passar sem ir ao médico, né?
L
 Não, não pode. Pelo menos no primeiro ano de vida. Ela precisa de pelo menos uma consulta por mês. Uma criança saudável, uma consulta por mês é o ideal. Apenas pra acompanhar o desenvolvimento da criança. A criança normal. A criança doente, então, eh, ou com problema pequeno que seja, ela requer uma, uma, eh, uma, uma, uma assistência mais permanente. Ou do ponto de vista profissional, do profissional, da lucratividade da profissão. Eu acho que já tem pediatra bastante, acho que já existe uma concorrência bastante que nivele mais ou menos os ganhos de cada um. Pelo menos, eh, depois que eu fui pai, então a gente começa a ouvir: Olha, procura doutor fulano, doutor beltrano. Então, todo mundo tem um pediatra. Todo mundo tem. Acho que não tem aqui ninguém que não conheça, pelo menos, pelo menos, um pediatra. Eu acho que já existe bastante e nivela bem. Acho que há uma, uma repartição muito boa, como há pro clínico, como há pro oftalmologista, como há pro gastroenterologista, esse nem tanto, nem tanto. É um pouquinho difícil a gente encontrar um especialista em gastroenterologia. Como há pra o ginecologista. Cada prédio que você encontra na cidade tem um ginecologista, pelo menos um. Como há pro dentista. Onde você encontra um ginecologista, você pode olhar que do lado tem dois dentistas. O negócio está mais ou menos dividido. A população está mais ou menos dividida entre, entre os que existem. Não creio que haja assim, em relação às demais especializações da medicina, a não ser a psiquiatria, a gastroenterologia, essas especialidades mais difíceis, mais difíceis de se encontrar, de se formar não sei qual o grau de dificuldade de uma ou de outra. Acho que fora disso existe, não existe um outro ramo que produza mais lucro. Acredito que o negócio está mais ou menos nivelado.
D
 Agora, será que você podia falar assim pra gente, pra gente, assim, sobre as possib... possibilidades da mão-de-obra? Os profissionais de mão-de-obra.
L
 Bom, falar sobre essa gente é um negócio meio difícil porque a gente precisava conhecer muito a fundo. É lógico que, partindo da necessidade, é preciso que haja necessidade pra haver o profissional. Sem necessidade de determinado profissional, ninguém necessitado, não vai haver o profissional. É uma gente de escora. Sem ele, sem a mão-de-obra especializada, muita coisa não se faria. Eu conheço muito pouco deles, da vida profissional deles, pra falar. Claro, a gente está minuto a minuto precisando dum mecânico porque o carro parou na esquina e você não entende nada de mecânica. Então telefona, pro... procura o primeiro mecânico. Ou a parede dali está meia bamba, chama o primeiro pedreiro. Entupiu lá o, a pia, né, vamos chamar o bombeiro hidráulico pra desentupir o negócio. Basicamente a vida profissional deles, pelo menos o que eu sei, que eu conheço, se resume a isso, a atendimento de uma necessidade premente, imediata, resolver um pequeno problema que surge pra gente, aí excetuando o, o pedreiro, o pessoal da construção civil, que esses já são mais ou menos estabilizados profissionalmente. Acaba uma obra hoje aqui, mas já está começando uma outra ali que ele conhece o pedreiro, veio junto da Paraíba com ele, então já vai pra lá, quando acabar. Então ele já tem mais ou menos um campo de trabalho, como acontece com a mão-de-obra especializada, especializada, nas indústrias, operário qualificado. Nível baixo, mas qualificado, ele opera em determinados setores da indústria gráfica, por exemplo. Ele é um linotipista, é um mecânico de manutenção. Então esses já têm mais ou menos a, a área de trabalho deles formada. É mais fácil tirar da gente que é profissional liberal o lugar do que tirar dum homem desse, da mão-de-obra especializada.
D
 E sobre os profissionais de nível artístico?
L
 Profissionais de nível artístico?
D
 Os que fazem arte como profissão.
L
 Eu sei, eu sei. Mercado, mercado existe que há necessidade. Embora pra muitos seja quase que artigo de luxo, pra mim a arte é uma necessidade. Acho que a gente não, não pode, não deve viver só de trabalho, só de coisa séria. Embora a arte seja uma coisa séria pra quem é artista, pra nós, que estamos de fora, ela é um lenitivo. É uma fuga que nós temos por alguns minutos, ou horas, daquilo que constantemente nos rodeia, nos cerca, nos aperta. Então, pra nós, pra mim, não sou um consumidor de arte, não vivo em galerias artísticas, não vou a exposições, não sou um sujeito que tem um monte de discos, de fita, que vivo pregado numa televisão ou que saiba tudo sobre os grandes diretores e artistas de os grandes filmes de cinema. Não me considero um consumidor de arte. Ela entra em mim apenas porque ela aparece muito na minha vida, mas eu não procuro ... Já fui ao encontro dela e hoje em dia não vou mais, por uma série de fatores e ... Eu acho que, profissionalmente, desde que ele individualmente tenha valor, ele tenha algum valor artístico, tem campo pra ele, tem campo, bastante campo pro profissional de arte.
D
 Em todos os setores?
L
 Todos os setores da arte: pintura, escultura, eh, teatro, música e ... Acho que a gente poderia chamar de atividade artística.
D
 Um bom 'show' musical, um 'show' precisaria de que tipo de profissionais?
L
 Como assim?
D
 Um 'show', espetáculo, pra ser montado, precisaria de que tipo de profissionais?
L
 Bom, cenógrafo, vamos supor que seja um 'show' musicado, certo? Coreógrafo, compositor, cantores, bailarinos ou bailarinas, eh, diretores, contra-regra. Contra-regra aí já não, eu já não considero arte, eu considero técnica. É mais técnico que artístico. E músicos ...
D
 Que tipo de músicos?
L
 O suficiente pra formar uma orquestra: violinista, pianista, baterista, trumpetista, violonista, talvez contrabaixista, violoncelista, pistonista, saxofonista, ritmista, ritmista aí englobando agogô, pandeiro, maraca, esses instrumentos assim só de marcação de ritmo, tubadora e um organista talvez. O que mais? O maestro. (riso)
D
 Das artes qual a que você gosta mais?
L
 Teatro.
D
 Por quê?
L
 Bom, o teatro, eh, me despertou atenção desde o ginásio. Formou se no colégio um grupo dedicado ao teatro, e eu entrei nessa. Chegamos a encenar duas peças, foram duas peças que chegamos a encenar, mas por motivo de reprovação em massa o grupo foi desfeito pela direção do colégio e daí pra cá a única oportunidade que eu tive novamente de fazer foi há sete anos atrás. Um grupo de conhecidos estava montando uma peça infantil, pediram que eu ajudar, eu ajudei.
D
 Você fazia que tipo de atividade? Qual era o, a sua função?
L
 Bom, no princípio, quando eu comecei, eu fiz toda a parte de contra-regra. Não é pra mim uma atividade artística, é técnica. E já nessa última experiência esse grupo pediu que eu ajudasse a ensaiar o pessoal, fazer a marcação, e distribuir mais ou menos o papel de acordo com cada um. No final das contas eu acabei trabalhando. Acabei aparecendo no palco porque um rapaz desistiu na véspera, então eu tive que me meter lá sem saber papel, sem saber nada. Só sabia daquilo que eu estava procurando ajudar aos demais. Esse grupo foi desfeito também, não houve continuidade e, de lá prá cá não tive como continuar, mas até hoje eu me sinto bastante ligado a, ao teatro. Mas é ligação não material, não física, ligação apenas pessoal. Eu gosto, eu procuro de todas as maneiras possíveis acompanhar o movimento, como é que andam as coisas, como é que não andam, embora vá muito pouco a teatro. Mas gosto muito de teatro.
D
 A mulher está se integrando cada vez mais assim em campos profissionais muitos deles até ocupados pelo homem. O que você acha dessa quebra de tabu profissional? E você acredita no desempenho da mulher, no bom desempenho da mulher?
L
 Acredito. Acredito e meus parabéns, meus parabéns às mulheres, não é? Eu acho que a mulher tem tanta capacidade profissional quanto o homem. Eu não vejo por que se fazer uma discriminação, eh, entre o homem e a mulher profissional, principalmente o profissional que depende do trabalho intelectual. Essa história de que o cérebro da mulher é menor, o do homem é maior, isso daí talvez fisicamente exista, essa diferença. Eu nunca, nunca cheguei a medir o meu e o dela. Não cheguei a medir pra ver se é direitinho, se é menor mesmo, mas o que me interessa é a capacidade profissional. O tabu que existia, que é quebrado, que se tem quebrado, é mais um resquício do patriarcado, né? Do início dos e... dos, das, dos, dos tempos que o homem conhece, que quem manda é o homem, e mulher, o lugar de mulher é na cozinha, dentro de casa. Isso é besteira. Acho que a mulher tem tanto direito dentro da sociedade quanto o homem. Se ela quer trabalhar, ela acha que precisa, que tem necessidade de trabalhar, ela deve trabalhar. E eu acho (sup.)
D
 (sup.) Quais eram as atividades que a mulher não exercia e que agora exerce? Você vê até mesmo na rua, né?
L
 As que ela exerce (sup.)
D
 (sup.) É, e não exerceria antes, exatamente em consequência (sup./inint.)
L
 (sup.) E não exercia antes? Bom, é basicamente, o que eu me lembre, acho que a primeira investida profissional da mulher foi justamente no campo da arte. Que eu me lembre, não sei. Na literatura, na pintura, na música. Se não me engano, foi aí que começou, que a mulher começou a ter, a ter interesses profissionais. E gradativamente me parece que depois, depois desta fase artística da mulher profissional, o primeiro escândalo que, que surgiu foi a mulher na medicina. Medicina era uma carreira destinada ao homem, somente ao homem. Me parece que foi esse o primeiro grande escândalo considera... da, da entrada da mulher na vida profissional, nas carreiras profissionais. Ela gradativamente vem ocupando diversas profissões. E já no princípio do século, falando em termos de Brasil, que a gente pode falar mais, começaram a surgir, contra a vontade dos papais, as primeiras mulheres em faculdade de Direito, embora a mulher já fosse professora. Eh, no campo da engenharia, me parece, é bem mais recente o interesse da mulher pela engenharia. Na med... medicina já é quase cem anos. Magistério deve ter bastante tempo, não sei ao certo. Direito, no Brasil, no princípio do século. A atividade artística continuou no teatro, evidentemente também já é bastante antigo a mulher de teatro. Na profissão, nas profissões, eh, mais técnicas, os técnicos, digamos assim, e generalizando, acredito que não seja também muito antigo não. Era um négócio, eh, quase que circunscrito ao homem. Hoje em dia, a gente vê mulher pedreira, motorista de taxi, trocador de ônibus. Eu ainda não vi maquinista de trem, nem motorista de ônibus e nem piloto de avião. Está quase chegando lá, né?
D
 E que tipo de profissões que você acha que são essencialmente, exclusivamente femininas?
L
 Nenhuma, nenhuma. Exclusivamente feminina?
D
 Hum, hum (sup.)
L
 (sup.) Profissão? (sup.)
D
 (sup.) Hum, hum. Nenhuma? (sup.)
L
 (sup.) Nenhuma.
D
 Todas as profissões exercidas pela mulher podem ser exercidas pelo homem?
L
 Tem uma que não. (riso)
D
 Qual é?
L
 Tem uma que não, que é a prostituição.
D
 Quem sabe no futuro, né?
L
 Bom, tem mais, tem mais, a vedete. Seria um negócio meio chato, mas se bem que já existe o travesti, mas não é tão vedete quanto a vedete, né?
D
 Agora, tem outros profissionais assim, por exemplo, que você lida normalmente, todos nós lidamos, quando a gente quer se embelezar um pouco, né, cuidar da aparência pessoal, não é?
L
 Não entendi.
D
 Os profissionais do dia a dia, que aju... que nos ajudam a nos vestir, nos arrumar, cuidam dos nossos cabelos, bigode, sapatos, roupas, etc.
L
 Eu não, eu não sei por que que seriam exclusivamente femininas.
D
 Não, já saiu do feminino. Quero que você fale dessas profissões, ou nomeie-as.
L
 Bom, começar pelo mais simples, pelo modista. Mais simples porque eu acredito que, dentro das profissões de atendimento exclusivo à mulher, praticamente exclusivo à mulher, eu acho que é a que existe o maior número de homens. Pelo menos os grandes, os grandes, os que se ouve mais são homens. Acho uma atividade profissional como outra qualquer. Sujeito quando começa a crescer, ele escolhe uma profissão. Escolher costureiro, um negócio meio depreciado, né? Eh, a pessoa, o profissional. Mas como profissional, é uma profissão como outra qualquer. Se ele se acha com talento pra ser costureiro, que vá ser costureiro, ser costureiro. É a mesma coisa o massagista, o maquiador, o, o pedicure, o cabelereiro. Eu entendo que, a partir do momento em que o indivíduo escolhe aquela profissão, se ele se acha com capacidade pra exercer bem a profissão, ele deve exercer. Agora, por dentro da profissão eu não conheço.
D
 Você vai a um cabelereiro?
L
 Vou ao barbeiro.
D
 Sim, e o que você faz lá? O que que há de material lá? O que que fazem com você lá?
L
 O meu barbeiro simplesmente me conta piada e corta o meu cabelo.
D
 Com o que que ele corta? O que que ela usa pra cortar?
L
 O meu cabelo é cortado com tesoura comum, com a tesoura denteada, não sei como se chama aquela tesoura, tem nome técnico, e navalha. Evidentemente, é, o pente é acessório complementar.
D
 As outras pessoas vão lá não só para cortar cabelo.
L
 Usa-se também o pincel de barba, usa-se colônia, creme de barbear, o amolador de navalha.
D
 Isso tudo pra quê? Pincel e na...
L
 Pra barba, pra barba, daí barbeiro. Deve ser.
D
 E no cabelereiro, você tem idéia assim do que que as mulheres fazem lá? Desde cortar o cabelo até as coisas mais variadas (inint.)
L
 Olha, eu não tenho idéia exatamente do que se passa ali dentro no exercício da profissão, mas não deve ser muito diferente de um salão de barbeiro não. Evidentemente há aqueles aparelhos mais sofisticados, não é, secador de cabelo e, e produtos de beleza, cosméticos em geral, tesourinhas pra unha, alicates pra cutícula, pinça pros cabelinhos, a depilação, os depiladores elétricos. Eh, isso dentro de um cabeleireiro.
D
 Mas as mulheres vão a um cabeleireiro não só para cortar cabelo (inint.) é muito raro uma mulher ir a um cabeleireiro só pra cortar o cabelo.
L
 Claro, claro que não, claro (sup.)
D
 (sup.) Pra que que ela vai?
L
 Que que deve existir dentro dum, dum salão?
D
 Não só de material não, mas realmente da coisa em si (inint.) as mulheres estão querendo sempre variar. Elas estão querendo sempre mudar.
L
 As famosas perucas de todos os tipos e cores, né, pra todas as raças. Os, os, os mestres do uso da peruca, né? Eles que sabem exatamente que tipo de peruca aquela mulher deve usar e a outra não deve usar. O material de corte, os pentes e laquês, essas coisas mais. Mas pra mim isso, isso é muito difícil saber se lembrar o que se usa dentro do salão. O negócio é, vai mais na base da presume-se que.