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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Dinheiro e finanças"

Inquérito 0106

Locutor 121
Sexo masculino, 35 anos de idade, pais cariocas
Profissão: advogado
Zona residencial: Norte

Data do registro: 27 de setembro de 1972

Duração: 40 minutos

Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 Tá. Agora pronto, pode começar.
L
 Então, eu respondo o quê, sobre dinheiro, é?
D
 É.
L
 Bom ...
D
 Bom, o senhor acha que aplicar dinheiro atualmente é vantagem?
L
 Eu creio que sim, né, porque as pessoas que têm, eh, estão aplicando aí, né, é caderneta de poupança, é letras de câmbio, letras imobiliária e eles dizem que dão de juro e correção monetária mais ou menos três por cento ao mês.
D
 Hum, então é muito bom. E o senhor já aplicou alguma vez?
L
 Não, porque eu não tenho. (riso)
D
 O senhor sabe a diferença entre esses tipos de, de aplicação de dinheiro?
L
 Não, a diferença eu não sei não.
D
 Por que que algumas pessoas escolhem letras de câmbio e outras escolhem caderneta de poupança?
L
 É porque diz que a correção monetária às vezes, eh, pra uma dá mais do que pra outra. Agora, eu não sei explicar qual é a que dá mais e a outra que dá menos. Sei que dá mais ou menos uma base de três por cento ao mês.
D
 Mas sabe como é que se faz pra se aplicar? O que que é preciso fazer? Não tem um amigo, assim, alguém que já tivesse tido essa experiência, que você assim lembre?
L
 Não, eu a... apenas perguntei a uma das moças que, eh, que trabalham no banco do estado da Guanabara e ... Mas foi só por alto, ela me disse: ah, dá mais ou menos, eh, três por cento ao mês, dependendo da correção monetária, porque um mês é mais, o outro mês é menos. É isso que eu sei. Só pergun... (sup.)
D
 (sup.) Não tem assim uma burocracia assim pra pessoa chegar e aplicar esse dinheiro? Como é que faz?
L
 Ah, isso eu não cheguei a perguntar. (riso)
D
 Existe assim alguma, algum outro lugar onde se possa aplicar, que não seja caderneta? Estava muito em moda até há algum tempo atrás pelo menos.
L
 Ah! Bolsa de Valores, né?
D
 Hum, hum.
L
 Mas eu acho que no momento, eh, está dando medo, né? Que o pessoal andou perdendo um bocado de dinheiro, eles agora parece que diminuiu.
D
 Hum, hum.
L
 Eles agora estão aplicando mais em caderneta de poupança, eh ...
D
 E o senhor saberia me dizer como funciona a Bolsa?
L
 Não sei.
D
 E nem imagina?
L
 É uma ... Nem imagino. É uma, uma coisa tão complicada. (riso)
D
 O senhor sabe por que que as pessoas estão fugindo agora de aplicar dinheiro na Bolsa? Que que ocasionou isso?
L
 Ah, não sei. Não sei. Só se foi ... Não sei. Pode ter sido, eh, bom, queda da produção das companhias, eu acho que não, porque o Brasil anda exportando aí o, uma porção de, de produtos, quer dizer, deve ser sobra da produção das companhias (inint.) deve ser por isso, né?
D
 Mas isso teria causado o quê? O senhor diz que antes as pessoas aplicavam, aplicavam porque achavam (sup.)
L
 (sup.) É, que estavam, que estava dando lucro, né?
D
 Certo. E agora?
L
 Agora não estão aplicando é porque não está dando lucro. Então eles, com medo de perder o dinheiro, estão aplicando com certeza em ...
D
 E o senhor sabe esses nomes, assim, específicos, por exemplo, o fato de estar dando lucro ou não estar dando lucro, assim em termos de Bolsa, que a gente lê no jornal ou ouve no noticiário, não é, falando sobre isso.
L
 Eh, cotação?
D
 Sim, coisas assim.
L
 Isso parece até um dia de prova, que a gente esquece tudo. (risos)
D
 Mas o senhor sabe dizer então assim se existe assim algum momento especial pra gente comprar ação? Ou qualquer momento é bom?
L
 Eu não sei dizer porque, eh, quando aparece às vezes na televisão, eh, um ministro ou qualquer diretor da Bolsa de Valores falando sobre isso, eu não costumo escutar, porque eu não gosto daquilo, não tenho dinheiro pra aplicar, quer dizer ... (riso) Eu gosto muito de ver filme na televisão. Quer dizer, essas coisas eu mudo logo pra outra, quer dizer que eu não sei.
D
 Mas o senhor saberia me dizer se pelo menos existe assim alguma diferença entre os tipos de ação?
L
 Ah, bom, tem, eh, aquela ação nominal, né, eh, ao portador. Está parecendo até direito comercial.
D
 E o que é essa ação ao portador? O que é isso?
L
 Bom, a ação ao portador acho que qualquer pessoa pode comprar, né? A nominal vem com o nome da pessoa. Eu dei isso em direito comercial, mas agora eu não ...
D
 Bom, o senhor não tem dinheiro pra investir, mas deve ter pelo menos um patrimônio pra segurar, não é? (risos) Como o senhor seguraria, assim, seguraria, garantiria um patrimônio, por exemplo, um carro, qualquer coisa assim?
L
 Bom, mas pra ter isso, precisa ter dinheiro pra comprar o carro, né?
D
 Bom, vamos supor que tivesse (inint.) que o senhor tivesse ganho por exemplo (sup.)
L
 (sup.) Ah, sim.
D
 (inint.) de família.
L
 Bom, se eu tivesse dinheiro, pra comprar um carro, que você diz?
D
 Não, eu digo se o senhor tivesse um carro e quisesse garantir esse carro.
L
 Bom, aí tinha que colocar no seguro, né?
D
 Quem faz o seguro? E o que é bom no seguro?
L
 Ah! Tem essa, as companhias especializadas e ...
D
 O que que ela vai garantir?
L
 Ela vai garantir o objeto.
D
 De que maneira? De que modo ela vai garantir? Por exemplo se o seu carro sofre um acidente qualquer, que que a companhia vai fazer em favor do seu carro?
L
 Ah, bom ... Olha, ela em primeiro lugar vai pagar o conserto.
D
 O senhor sabe que tipos de seguro são feitos hoje em dia?
L
 Eh, seguro ... Tem uma porção deles: seguro pessoal, seguro contra fogo e ...
D
 Contra amigos do alheio.
L
 Ah, é, contra roubo. (risos) Eu sei também que em carro tem seguro total, seguro parcial.
D
 Sim, e (inint.) qual seria a diferença entre seguro total e seguro parcial?
L
 Bom, o seguro total, eh, deve ser contra tudo, contra roubo, contra fogo, contra qualquer tipo de acidente. E seguro parcial deve estar, eh, condicionado a alguma coisa, né? Agora o, o que determina no, no contrato, eu não sei dizer.
D
 O senhor mora em casa própria?
L
 Moro. Casa de meus pais.
D
 E como é que foi comprada esta casa?
L
 Ah! (sup.)
D
 (sup.) Sabe? (sup.)
L
 (sup.) Acho que foi meu avô que comprou por ... Foi em mil novecentos e oito, se eu não me engano. Ele (sup.)
D
 (sup.) Mas não se lembra nunca de ter ouvido contar como é que foi isso? Quer dizer, ele tinha o dinheiro assim pra pagar?
L
 É. Não, ele veio de Portugal e ele tinha um, algumas terras lá em Portugal, então vendeu em Portugal e veio para cá, aí comprou esse terreno com uma casa. Pelo que eu sei custou quatrocentos mil réis. Agora soube até que o, o papel de venda era um papel de pão que eles escreveram. Não sei se tem mais alguma coisa. Ah, depois ele comprou uma outra parte também do mesmo proprietário, aí foi escrita também num, em outro papel de pão, que da... vendia a outra parte. Até que foi perdido esse papel e eles agora estão em dificuldades pra provar que a outra parte, eh, pertence também.
D
 E o que que eles estão fazendo?
L
 É, agora eles vão ad... vão ficar com, pelo usucapião, né? Pelo, o imposto que eles pagaram, eles pagaram do terreno todo, quer dizer, aquilo prova que aquilo pertencia ao terreno.
D
 E eles têm ao menos uma prova dessa parte do terreno que é deles?
L
 Não, eles não têm prova nenhuma, porque a prova que tinha eles perderam. Quer dizer, eles vão adqüirir pelo usucapião. Pelo imposto pago pela metragem do terreno. Mas ainda está em andamento o, o inventário que era do meu avô.
D
 E vocês estão fazendo isso como? Um inventário implica em contratar pessoas pra determinados serviços.
L
 É, está com um advogado, né? Agora eu não sei como é que está correndo, porque são quatro irmãos, então cada um dá uma opinião. Mas eu não, não gosto de estar muito interferindo, porque eles podem pensar que eu estou querendo puxar pro lado do meu pai. Então eu deixo lá a cargo deles. O próprio advogado é que está movimentando. Eu não ... Eu sei essas coisas porque ouço falar.
D
 E é essa a casa onde o senhor mora?
L
 É, a casa onde eu moro.
D
 Sempre morou ali?
L
 Sempre morei ali.
D
 Se o senhor quisesse comprar uma casa pro senhor ou então um apartamento (inint.) e não tivesse dinheiro? O senhor diz que não tem dinheiro. Como é que poderia com... comprar? Porque existem hoje os mecanismos, né, que permitem (sup./inint.)
L
 (sup.) Não. É. Não, eu comprei um apartamento pelo BNH, eh, Cooperativa dos Funcionários do Estado da Guanabara. E paga-se um tipo de aluguel, né? É mais ou menos quatrocentos cruzeiros. Esse apartamento é lá no Grajaú. São três quartos e mais o quarto de empregada e as outras dependências.
D
 Agora, o que foi que o senhor precisou fazer pra comprar esse apartamento pelo BNH?
L
 Não, a, o apartamento é feito pela cooperativa do estado, quer dizer, financiado pelo BNH.
D
 Sim.
L
 Eu apenas, eh, preenchi um questionário que eles me deram e mandaram escolher, eh, em três bairros. Aí eu escolhi os três, né, Grajaú, Vila Isabel e, eh, Méier. Eles foram fazendo e no sorteio caiu realm... a, eh, justamente no Grajaú. Aí ape... aí vem descontado já na, em folha.
D
 E não precisou apresentar nenhum papel, nenhum documento?
L
 Não, não precisou apresentar nada. Como eu era funcionário do estado e a cooperativa é do estado da Guanabara, então não precisou fazer nada. Só preencher o questionário e depois eles me deram o apartamento e vem já descontado em folha. Escuto dizer até que a gente leva a vida toda pra pagar e não acaba de pagar. (riso)
D
 Por quê?
L
 Eh, deve ser devido à correção monetária, né? Mas, isso é (sup.)
D
 (sup.) Mas a correção monetária é assim, é proporcional a alguma coisa? Como é que funciona? Aumenta assim de qualquer maneira ou varia?
L
 Eu acho que deve variar de acordo com o valor do imóvel, né? Mas agora eles deram até ... Houve uma reunião, eles disseram que o término do pagamento é quinze anos. Então eles aumentam de acordo ... Olha, aumenta o aluguel do imóvel de acordo com o aumento do salário mínimo. Agora mesmo foi aumentado, aumentou vinte por cento.
D
 Mas esse imóvel só pode ser pago em quinze anos ou pode ser reduzido?
L
 Não, pode ser reduzido. Pode ser até, pelo que eu soube, pode ser pago até duma vez só, ou pode ser aumentado pra vinte anos. Diminui o, a mensalidade e aumenta o prazo.
D
 E qual a vantagem pro comprador de pagar na hora, pagar tudo à vista?
L
 Bom, aí deixaria de pagar a correção monetária, né, e juros. Eu não sei. Deve ter juros também, juros e correção monetária. Então pagaria o preço do imóvel atual.
D
 E a diferença é muito grande?
L
 Eu não sei di... eu não sei dizer qual é o juro, qual é a correção monetária sobre o valor do imóvel.
D
 O senhor comprou e paga quatrocentos cruzeiros por mês, mas não precisou dar algum dinheiro logo não?
L
 Não, eh, no início, não, nós demos, eh, um valor, eh, vinte cruzeiros, me parece. Foi só pra preenchimento do, daquele questionário, um tipo de ficha. Foi só isso. E depois já vinha descontado no próprio, na própria folha de pagamento, no contracheque já trazia descontada.
D
 Não foi preciso dar um, um dinheiro grande?
L
 Ah, não. Bom, mas teve o seguinte, foi assim: antes da pessoa receber o imóvel, eles descontavam um, eh, apenas uma parcela pequena, era setenta cruzeiros. Depois que a pessoa receber o imóvel, eles passaram então a cobrar o, como se fosse o aluguel. Era trezentos e trinta, quer dizer, passou de setenta cruzeiros pra trezentos e trinta cruzeiros.
D
 E qualquer pessoa pode adquirir um imóvel desses?
L
 Qualquer funcionário do estado, né? Desde que tenha condições de, de pagar o apartamento. Que aquilo como é dividido em um, dois, três e três quartos com quarto de empregada, quer dizer, o funcionário que não tiver, eh, o ordenado de acordo ... Eles têm uma tabela que eles dão. Então o funcionário que ganha seiscentos cruzeiros só pode comprar de um quarto, oitocentos cruzeiros, de dois quartos, e assim vai sucessivamente.
D
 Mas existem outras possibilidades de comprar um apartamento sem a decisão deles, né? (sup.)
L
 (sup.) É (sup.)
D
 (sup.) Existem outras maneiras (sup.)
L
 (sup.) É. Tem (sup.)
D
 (sup.) Que a pessoa precisa dar um dinheiro grande imediatamente, né, e depois ficar pagando.
L
 Tem as companhias, eh, imobiliárias, né, que fazem isso também. Dá um, aquele sinal e depois tem aquelas prestações mensais. Na entrega da chave, dá mais uma parte, no, na assinatura do contrato dá mais outra parte grande.
D
 Agora, esse tipo de financiamento que o senhor estava falando só atinge a funcionários públicos ou existe algum tipo de financiamento pra operário também?
L
 Não. Bom, também tem pra operário, né? Tem a, eh, COHAB, né?
D
 Mas funciona do mesmo modo? Por exemplo (sup./inint.)
L
 (sup.) É, de... É, funcio... Acho que funciona do mesmo modo. Porque inclusive tem a, esse, essas favelas que eles estão tirando, estão fazendo esses apartamentos, essas casas aí pro subúrbio, é nessa, nesse tipo também. É o pagamento mensal. É mais ou menos o mesmo tipo.
D
 E quando se compra por exemplo um apartamento fora de, fora desse, desse (inint.) que o senhor falou, BNH, etc., a gente é obrigado, por exemplo, a, a dar uma quantia muito grande, não é, e assinar papéis. Como, o senhor sabe por exemplo como, como esse tipo de compra é realizada? Que tipo de papéis são esses que são, são emitidos pelo vendedor e assinados pelo consumidor?
L
 Eh ...
D
 Quando o senhor pode comprar tendo, né, o dinheiro logo todo, paga, não tem problema nenhum, né? Mas às vezes a pessoa só tem uma quantiazinha, então (inint.)
L
 (longo silêncio) Estou procurando é um nome. (risos)
D
 As pessoas que emprestam dinheiro estão sempre, estão sempre desinteressadas? Emprestar por emprestar?
L
 Não, elas visam o, o interesse, né? Os juros, né?
D
 De acordo com sua situação financeira, como se classificam as pessoas?
L
 Eh, tem me... eh, pobre, eh, o que eles chamam de classe pobre, classe média e classe rica, né?
D
 E quem tem mais ou menos dinheiro, como é que a gente chama normalmente? Quem tem dinheiro suficiente?
L
 É classe média. Não? É mais do que a classe média?
D
 Não, é mais ou menos sinônimo de classe média (inint.) há nomes especiais pra alguns tipos de pagamento, segundo o cargo do indivíduo ou a profissão? Por exemplo, um médico, o senhor falou aí que recebe um ordenado, etc., um médico a gente normalmente diz que recebe um ordenado?
L
 Ah ...
D
 Ele não tem assim um ordenado fixo, né?
L
 A senhora diz o, o médico particular, não o médico do estado, né? Porque o médico do estado tem um, um ordenado fixo, é, que é nível um, cargo universitário. Agora o particular, eles ganham muito bem. Ganham três ou quatro vezes mais do que no estado. Isso em qualquer situação, até dentista, professor.
D
 Agora o professor depende, né? Tem alguns por exemplo que trabalham por hora, então eles não recebem um, um ordenado fixo.
L
 Mas o, o professor tem um, um nível, né? E já no, no particular ele ganha pelo número de aulas, né? Parece que é isso, eh, e no estado ele não deve ganhar pelo número de aulas, ou é isso também? Eu não ... Isso é que eu não, não sei. Porque a professora primária não, a professora primária é um nível só. Quer dizer, não ganha mais do que aquilo. A não ser que dê dois, dois tempos, dois cursos que eles estão dando agora. Tem até um nome: dupla regência. É, dupla regência. Acertei. (risos) Então eles ganham o dobro.
D
 Em caso de viagem ao exterior, o nosso dinheiro vale?
L
 Não, tem que trocar, né? A, a, o, o dinheiro aceito é o dólar, né? Então tem que fazer o câmbio.
D
 E como é feito esse câmbio? Aonde a gente vai, como é que se paga?
L
 Eh, tem bancos que trocam, tem casas ban... eh, casas bancárias? Casas de câmbio.
D
 E qual o valor mais ou menos aproximado do dólar para o cruzeiro?
L
 Eu acho que está mais ou menos seis cruzeiros.
D
 Sempre é seis cruzeiros?
L
 Não, isso ... A tendência que eu acho é aumentar, né?
D
 Por quê?
L
 Eu não sei se é a desvalorização do cruzeiro ou se é a valoração (sic) do dólar. (riso) Me parece que é a desvalorização do cruzeiro.
D
 Então a desvalorização do cruzeiro é condicionada por que fatos?
L
 Eu escutei um professor de economia que estava dando uma aula, então eu escutei por alto ele dizendo que é, me parece que é de acordo com a exportação brasileira. Então a desvalorização da moeda dá um, um valor à exportação. Agora eu não, não, não me recordo como foi que ele, ele falou. Mas é mais ou menos isso. De acordo com a exportação. Ele tinha dito até que o, no tempo do, do presidente Juscelino, o valor do dinheiro tinha ficado num plano. Ele não, não diminuía, não desvalorizava, mas em compensação eles exportavam muito mais pra dar aquele valor. Eu não sei explicar. É, é negócio de economia.
D
 Não, mas não precisa explicar tecnicamente não. Mas dá alguma coisa que a gente entende, né?
L
 É.
D
 Porque as coisas aumentam, não é? Se a gente vai comprar uma coisa hoje ela custa um preço, amanhã custa outro, não é? Não é problema de saber a explicação técnica. Por exemplo quando a gente falou em salário mínimo, etc. Toda vez que aumenta o salário mínimo, que que acontece?
L
 Eh, aumentam as coisas também. É porque se por ... O, a pe... as pessoas compram ... Os in... as indústrias têm que aumentar o funcionário, o salário do funcionário, então eles aumentam o preço do produto que eles fabricam pra dar também o aumento ao funcionário. E isso acarreta, dá o, o aumento do produto no varejo, não é? Aí acaba ficando tudo a mesma coisa, que a pessoa recebe aquele aumento, aumenta a, o custo de vida, quer dizer, acaba ficando ...
D
 Mas é sempre assim, só aumentam os produtos quando aumenta realmente tudo ou ... Porque hoje por exemplo (inint.) que o leite vai aumentar. Aumentou o salário mínimo pra haver esse aumento de leite?
L
 Não, eu ... Aumentou, eh, me parece que aumentou quatro centavos no litro do leite. Eles dizem que é por, por causa do aumento da ração que dá pro gado, não sei. É, é um ... (riso)
D
 Por que que não aumenta só o salário (inint.) e as coisas ficam com o mesmo preço?
L
 É justamente por isso. Porque aumentando o salário, o, o produtor tem que aumentar os, os empregados dele, então pra não diminuir a, a receita do, do industrial, do produtor, en... eles aí aumentam o produto, eles, eles não querem tirar deles, né?
D
 Quer dizer, o senhor recebe di... Como é que o senhor recebe dinheiro sendo funcionário do estado? Eh, o senhor recebe dinheiro assim em mãos? De que forma o senhor recebe? O senhor põe esse dinheiro no (inint.) ou ele já vem automaticamente?
L
 Não, os funcionários do estado da Guanabara, eh, o dinheiro está sendo depositado no banco do estado da Guanabara. Então nós recebemos uma tabela no princípio do ano, pro ano todo. Então a gente sabe o dia que recebe em janeiro, o dia que recebe em março, vai até o fim do ano.
D
 E eles sempre cumprem isso?
L
 Eles sempre cum... É, sempre cumpriu. Foi o, o governo passado é que, o do Negrão de Lima, que fez isso e eles estão cumprindo.
D
 Quer dizer que o senhor não precisa nem receber nenhum aviso de que (sup./inint.)
L
 (sup.) Não, não, nós vamos no banco (sup.)
D
 (sup.) No dia? (sup.)
L
 (sup.) No dia que está marcado na tabela, aí chega e pede o contracheque, eles dão o contracheque e a gente sabe os descontos, quanto recebe e ...
D
 Quais são esses descontos que a gente faz?
L
 No, no estado por exemplo tem o IASEG, que é o hospital, tem o IPEG, que é o instituto. No meu caso por exemplo tem a COASEG, que é o apartamento. E às vezes, quando se pede empréstimo no IPEG, também vem escrito IPEG: empréstimo, aí o, o desconto do empréstimo.
D
 E como, como é que é esse tipo de empréstimo do IPEG?
L
 Eh, existe ... Eu só conheço lá dois, dois códigos: eles chamam de código vinte e o código trinta. O código vinte é quarenta vezes o que a pessoa desconta. E o código trinta é o que eles chamam de emergência. Dá mais ou menos uma base de seiscentos cruzeiros. E o, o código vinte é descontado em onze meses, me parece, e o código trinta é descontado em vinte meses.
D
 E pode tomar qualquer quantia?
L
 Pode, desde que possa pagar, né? (riso) Já vem descontado automaticamente. E quando termina os onze meses ou os vinte meses aí cessa o desconto.
D
 E haveria, eh, possibilidade por exemplo, quando o senhor não pode saldar a dívida, haveria possibilidade de, de, de aumentar o prazo por exemplo?
L
 Não ... Mas aquilo já vem descontado no contracheque. A pessoa possa ou não possa, ele já vem descontado. E não adianta nem reclamar.
D
 E a pessoa só pode, eh, refazer um novo empréstimo depois que tiver terminado aquele ou pode em qualquer época?
L
 Não, me parece que o código trinta, esse que eles chamam de emergência, depois de feito, eh, três meses depois de feito um, pode fazer um outro. Parece que até três vezes, quer dizer, de três em três meses pode fazer um. Desde que a pessoa tenha condições de descontar e sobrar algum dinheiro pra viver, né?
D
 O senhor falou aí em, em IPEG.
L
 É, IPEG, Insti... (sup.)
D
 (sup.) IASEG (sup.)
L
 (sup.) É, IASE...
D
 Essas siglas correspondem a quê?
L
 Eh, IPEG é Instituto de Aposentadoria do Estado da Guanabara, IASEG é, é Instituto de Assistência aos Servidores do Estado da Guanabara.
D
 E esse outro que o senhor disse que tinha por causa (sup.)
L
 (sup.) COASEG? (sup.)
D
 (sup.) Por causa da compra do apartamento?
L
 É Cooperativa dos Funcionários do Estado da Guanabara.
D
 Agora, que outros descontos são normalmente feitos? Quer dizer, não sei se o senhor faz, mas às vezes a gente faz. Eu sei por exemplo que o meu ordenado da universidade des... já é ... Automaticamente eles me descontam.
L
 Ah, o imposto de renda? É, teve uma vez que eles descontaram. Mas só descontaram uma vez, pra senhora ver como o meu ordenado é tão alto, (riso) que eles só descontaram uma vez.
D
 Mas (sup.)
L
 (sup.) Foi, veio descontado, foi imposto de renda, veio descontado oito cruzeiros, dum atrasado que eu tinha que receber. Aí descontaram oito cruzeiros.
D
 Mas de qualquer maneira o senhor tem sempre que fazer, que pagar esses encargos. Mesmo sem descontar diretamente no seu ordenado, cada ano o senhor tem que ...
L
 Bom, eu faço o imposto de renda, mas não pago nada (sup.)
D
 (sup.) Sim, eu sei, mas faz, né?
L
 Faço o imposto de renda. Eh, uma pessoa faz pra mim, né, escreve. (riso)
D
 E pra que é feito esse imposto de renda? Qual a finalidade disso?
L
 O, o imposto de renda é pra ver o lucro, né? Eles, eh, eu não sei, eles dizem que ordenado é renda. Eu creio que não seje (sic), né? Acho que renda é juros de alguma coisa, é pessoa que tem imóvel alugado, recebe aquele dinheiro, aquilo eu acho que é renda, agora, o ordenado eu não creio que seje renda, mas eles acham que ordenado é renda, eu tenho que descontar do ordenado.
D
 E o fator família, família grande, pequena, influi nesse desconto?
L
 No, no imposto de renda? Influi. E me parece que cada dependente, eh, tem um desconto de dois mil duzentos e cinqüenta, mais ou menos isso.
D
 E o senhor acha bom esse tipo de formulário que se faz pra imposto de renda ou há necessidade de se fazer um novo formulário (sup./inint.)
L
 (sup.) Bom, eu acho que eles estão aperfeiçoando. Eu acho que não é o máximo, né, porque eles andam aperfeiçoando, o ano que vem diz que já vem diferente, eles procuram aperfeiçoar, que é pra apanhar mais renda, né? (risos)
D
 Todas as pessoas sentem dificuldades em preencher o, esse formulário do imposto de renda e inclusive há, eh, companhias aí que (inint.) vamos dizer, um escritório só pra formulários de imposto de renda (inint.)
L
 É. Eu não sei, sabe? Lá no colégio, eh, eles estavam até lecionando, explicando como é que fazia o imposto de renda, disse que era fácil, né, mas eu, eu preferi dar a um rapaz lá pra fazer, dava menos trabalho.
D
 Nós falamos em descontos que às vezes são feitos, né, no ordenado da gente. Mas às vezes por exemplo, se a gente tem filhos, né, a gente tem um acréscimo, recebe algum dinheiro.
L
 Ah, ahn, o salário-família?
D
 É.
L
 Eh, no estado me parece que é vinte cruzeiros ou vinte e cinco cruzeiros por, por pessoa.
D
 Mas qualquer filho pode receber? Qualquer idade? Ou existe um limite?
L
 Eh, é até dezoito anos, eh, se estiver estudando é até vinte e um e o filho que for, eh, doente ou paralítico então recebe a vida toda.
D
 Mas o, o, o dinheiro, não vai variar segundo o salário que a pessoa recebe?
L
 Não. O salário-família é, é um salário fixo pra todos. Varia de acordo com o aumento. Por exemplo nós vamos ter dez por cento a partir de outubro, então o salário-família vai aumentar dez por cento também.
D
 E para a mulher por exemplo há ... O salário-família por exemplo é dado de qualquer maneira ou, ou, ou ele, eh, ele pode ser retirado (inint.) ele é dado sempre ou ele pode ser retirado?
L
 Isso é que eu, eu não ... No outro dia nós estávamos até falando sobre isso, porque um colega estava nesse, nesse caso. Tem um, um decreto-lei número cem, que é de mil novecentos e sessenta e nove, que é o estatuto dos funcionários do estado da Guanabara, o esta... eh, estatuto dos funcionários do estado da Guanabara. E ele diz sobre isso. Eu era até pra (riso) pra ver, pra falar com o colega e acabei que não vi. Mas isso é o que nós estávamos discutindo. Um colega disse que era até vinte e quatro anos, o outro colega disse que era definitivo, o outro disse que quando casasse que cessaria o desconto, ou, cessaria o desconto, não, cessaria o pagamento. Quer dizer, eu não sei, não estou bem ao certo, mas me parece que a, a moça, eh, leva mais tempo do que o rapaz. O rapaz me parece que é até dezoito anos e a moça é até vinte e um ou vinte e quatro anos. Agora se estiver estudando, o rapaz parece que vai até terminar os estudos, vinte e quatro anos, uma coisa assim, e a moça eu não sei se até vinte e quatro ou se é definitivo.
D
 O senhor disse que tem o seu dinheiro no banco do estado da Guanabara. Se o senhor não sabe, como é que o senhor faz pra controlar o dinheiro que o senhor tem no banco?
L
 É, tem o talão de cheque, né?
D
 Sim.
L
 Então conforme vai precisando, vai preenchendo o, o cheque, aí, do lado tem um, um canhoto, aí vamos e coloca a importância que tira do cheque, coloca no canhoto. Aí diminui, vê qual é o saldo.
D
 E se alguém não fizer isso e aí não souber de jeito nenhum quanto é que tem no banco, que é que ele faz?
L
 Não, aí pode ir no banco e pedir o, o saldo.
D
 E se quiser ir ver assim todos os pagamentos que fez, eles não dizem só o saldo, né? Eles mostram ...
L
 Ah, mostram, é o extrato que eles chamam. É um papel que tem anotado todas as, os depósito e as retiradas.
D
 O senhor falou em talão de cheques. O senhor sabe, eh, assim, os tipos de cheques que existem?
L
 Cheque. Bom, no banco do, da Guanabara pa... tem o cheque-verde e tem um outro.
D
 Qual é a diferença que existe entre eles?
L
 Ah, o cheque-verde ele tem um valor, eh, eh, coberto pelo banco até duzentos cruzeiros.
D
 Hum.
L
 Agora, o outro eu não sei, o outro tem até casas comerciais que não aceitam, né? Pode ser até uma quantia mínima de cinqüenta, cem cruzeiros, a casa comercial não aceita.
D
 O Banco do Brasil agora também tem alguma coisa, né, parecida com isso.
L
 Tem o cheque-ouro, né?
D
 É.
L
 É, eu escutei falar sobre isso.
D
 Agora o cheque por exemplo, o senhor paga muitas coisas em dinheiro ou o senhor paga em cheque?
L
 A maioria eu pago em cheque.
D
 E que tipo de cheque o senhor fa... faz?
L
 Bom, eu, às vezes é o cheque nominal, escreve o nome da firma ou o nome da pessoa e às vezes é cheque ao portador.
D
 Agora há outros tipos de cheque, né? Que às vezes uns são emitidos pelo próprio banco. Esses aí são os normais, né, que a gente usa mais (sup.)
L
 (sup.) É.
D
 Não se lembra (inint.)
L
 Não me lembro.
D
 Queria saber uma coisa: quando a pessoa emite um cheque e esse cheque não tem (sup./inint.)
L
 (sup.) Não tem fundo?
D
 É, não tem fundo. Que que se faz? Que que acontece com a pessoa?
L
 Bom, a pessoa pode ser processada, né? Se o, o banco encaminhar à, à delegacia competente, a pessoa é processada. Mas se a pessoa for conhecida do banco, eh, o banco avisa, às vezes a pessoa erra por uma questão, um erro de conta. Comigo já aconteceu isso. Faltava um cruzeiro, o banco pagou o cheque. Aí telefonou pra minha casa dizendo que eu fosse cobrir o cheque. Mas pagou o cheque, não deixou de pagar. Era um erro de conta.
D
 Mas isso (sup.)
L
 (sup.) Mas (sup.)
D
 (sup.) Não impede que o senhor possa abrir um novo cheque depois e ... Não, não impede, a sua conta bancária fica certinha.
L
 Não, o banco do estado da Guanabara às vezes ele fecha a conta, né, do que eles chamam de cliente. Às vezes eles fecham a, cortam a conta, a pessoa não pode mais ter. Isso é, me parece ser até uma lei do, do Banco Central que fala sobre isso, né?
D
 Quer dizer que não se aplica só ao banco, àquele banco?
L
 É a todos os bancos (sup./inint.)
D
 (sup.) Mesmo dentro, mesmo dentro do, fora do estado? Ou será que essa lei é só dentro do estado?
L
 Bom, eu acho que é pra todo o, o país, né? Mas eu acho que ele indo prum outro estado, o outro estado não vai saber que ele fez essa transação, né? Há pouco tempo teve até um caso dum rapaz que era subgerente da Ultralar. Fez um cheque de vinte e sete cruzeiros e confundiram como se fosse duzentos e setenta. E os duzentos e setenta ele não tinha, mas tinha, pra cobrir, os vinte e sete cruzeiros. Esse rapaz foi preso, ficou preso durante um ano e meio por um erro judiciário. Depois foram ver que o rapaz estava certo. Foi até noticiado nos jornais, foi até o Jornal do Brasil que bateu muito, aí foram rever o processo e o cheque era de vinte e sete cruzeiros e não duzentos e setenta. E ele era subgerente da Ultralar.
D
 E que que o senhor acha (inint.) será que há possibilidade de transferir uma determinada conta pra outro banco?
L
 Eu acho que sim, até pra uma outra agência do próprio banco, né?
D
 E, e como isso seria feito? Que, que mei... que meio seria utilizado?
L

  Ele aí teria que abrir uma conta num outro banco e, bem, eu acho que aí seria um, um, uma transação interna entre os, os dois bancos.